ORIGEM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Voar no Céu de um Poema”. Original de minha autoria para este poema. Abril de 2021.

“Voar no Céu de um Poema”. Jas. 04-2021.
POEMA – “ORIGEM”
A SUA ARTE Nasceu contigo, Do mistério e do Silêncio Que te enchia a alma, A transbordar, Um inesperado Encanto Que o cativou, Para nunca Mais parar. FASCINADO Pelo teu olhar Profundo, O teu ímpeto Imparável, Fúrias Quentes, Cabelos negros Desgrenhados, À solta Sobre teu corpo Incerto, A arder... ................. Ele sentia-te, Mas não sabia Que fazer... NASCEU, ASSIM, No teu regaço, Em tormento, Aninhado Na bruma Densa E misteriosa Do encantamento. DEPOIS CRESCEU E quis a perfeição, Seduzir-te Através do vento Que te soprava Na alma, Palavras cálidas, Ritmadas À medida que te Ia perdendo No implacável Tempo Da renúncia. E TU COLHESTE A tormenta No dia-a-dia (Eu sei), Obsessão Martelante, Castigada Com palavras Repetidas E gastas À exaustão Até à fuga Para o nada, Cheia de tudo O que não tiveste, De tão sofrida E tão amada... MAS LEVASTE Contigo o poeta E muito mais, Grávida de palavras Não ditas, Olhares falhados, Imperceptíveis Sinais, Silêncios gritados, Quieta turbação, Lava oprimida No centro de um Vulcão Que te alimenta E consome Nessa tua inefável Solidão. E O POETA Capturou-te Dentro de si Para te libertar Com metódica Persistência Em poemas, Nuvens Cintilantes Que espalha No teu céu, Sobre ti, Para te refrescar A alma Incandescente. E EU, Seu confidente, Vejo-te Da minha Janela, ali, Só, A olhar O céu, As nuvens Brilhantes Do poeta, À espera Da chuva E dos trovões A troar Com raios de luz Sobre o teu Sempre inquieto Olhar... MAS UM DIA VIRÁ O tempo Do reencontro Sem clamor Nestes sofridos Poemas Onde o poeta Te reiventou Para o amor.

“Voar no Céu de um Poema”. Detalhe.
Félicitations!
Transcrevo, sensibilizado, o belíssimo comentário do meu amigo e conterrâneo Tó Zé Dias de Almeida: “Podes crer Poeta. Podes mesmo ter a certeza que… Um dia virá e nesse dia virá o tempo do reencontro… Podes sempre contar com a reinvenção do e para o amor porque foi para esse amor sem clamor que o caminho se abriu e foi por essas poéticas veredas que, “ab initio”, o Poeta trilhou, fascinado, o mistério da sua arte. Fácil? Nem tanto… Fúrias quentes nuns desgrenhados cabelos faziam parte do seu incerto pressentimento… Oh, se faziam, mas a desilusão e a desistência não rimavam com chuva, trovões, olhares inquietos e muito sofridos. Com metódica persistência o Poeta capturou-te e poeticamente te enredou “para te refrescar/A alma/ Incandescente.” De braço dado, com imperceptíveis sinais, para sempre te cativou para longe expulsando procelas tenebrosas e medonhas. João, vê nesta rápida e desinspirada paráfrase o modo do meu grandecíssimo gosto que em mim, nesta dominical manhã, o teu POEMA – ORIGEM despertou. Sobre o silêncio que tem havido da minha parte sobre os teus quadros, não lhe ligues… Deles hei de falar quando a inspiração me visitar…. Um abraço”
Gosto muito deste teu comentário, tão original, Tó Zé. Puseste o poema a falar de si próprio, a contar-se, a falar de si. Associaste-te ao poeta e poeticamente o comentaste com as suas próprias palavras. “Mise-en-abîme” reforçado por ti. Valorizaste muito, deste modo, o poema e por isso te fico grato. Obrigado. A pintura nasceu com a exigência de encontrar companhia neste percurso poético tão solitário. E que bela companhia! Vou em frente em sinestesia, desdobrando-me. O percurso torna-se, assim, mais fascinante, compensando, de algum modo, a dor da caminhada poética. Na verdade, a pintura tem uma leveza maior do que a poesia. A meta aqui é sempre o arco-íris, subir por ele acima e pôr-se lá no alto a observar o vale da nossa vida, aquela de que a poesia é um denso murmúrio. Um grande abraço e um excelente Domingo para ti.