O POETA E A MÁSCARA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Transfiguração”. Original de minha autoria para este poema. Fevereiro de 2023.

“Transfiguração”. JAS. 02-2023
POEMA – “O POETA E A MÁSCARA”
ENCONTREI UMA MÁSCARA Numa esquina Da minha vida, Pu-la no rosto Do poeta E ele não a Enjeitou. Ainda por cima Me disse: “Sou eu, sou, Como nas palavras Que digo Também meu corpo Mudou”. “NÃO ESPERAVAS Ver-me assim... É grande o teu Espanto, Vá, confessa! Ganhei um corpo De rosa, Tanta cor (A que apeteça), Um rosto Dissimulado Pra me curar Desta dor Sempre que ela Apareça A pedir o meu Cuidado”. “ADOPTEI Esta figura, Agora Mostro-me assim, As outras Nada te dizem, Com esta, Olhas pra mim”. “PALHAÇO É o que sou, Falo a Surdos e mudos Que não ouvem O que digo Nem respondem Ao que quero, Tratam-me como Mendigo Do que, afinal, Nem espero”. “VALHA-ME, POIS, Esta máscara, Assim rio Desta vida, Rio de ti E de mim, Da chegada Ou da partida, Dos abraços, Das palavras E, por fim, Da despedida”. “SOU PALHAÇO, É o que sou, Entretenho-me A cantar E se ouvires Este meu canto É poeta O seu autor, Por isso, tu Não t’importes, O que diz É, de certeza, Pra espantar Sua dor”. A MÁSCARA É o seu rosto, Colou-se-lhe Logo à pele Com a cola Do desgosto E por isso Já nem sabe Se esse rosto É o dele. ENCONTREI Uma máscara Vermelha No mercado Da minha vida, Ponho-lha sempre Que posso, À chegada E à partida, E se puder Não lha tiro Pra não lhe rasgar A alma Pois se o canto O liberta É a máscara Que o salva.