PERDER-TE…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: intervenção digital de JAS sobre “Portrait d’un Poète (Juliet)”, 1954, de Man Ray (Man Ray, Cent’anni di Libertà - 1890-1990. Venezia, Sodicart, 1990, p. 119). Homenagem a um Artista que admiro.
RENUNCIEI Para nunca Te perder, Mas neste Silêncio sofrido Vai declinando O que p’ra sempre Eu quis ter... VÊS, BERNARDO, Que destino? Que desassossego, O meu? Quis seguir O teu caminho E perdi-me... .......... Já não sou Eu! QUE DESENCONTRO Foi esse Desde o dia Em que te vi? Dei-te errados Sinais Cada dia Que vivi, Cavando Cada vez mais A solidão Que m’invade Desde quando Te perdi? VÁ, DIZ-ME Tudo o que Não sabes! Eu quero Mesmo saber P’ra te cantar Em poemas, Pois não te Quero perder! TU AMAS A poesia? Senti-la é Doce sofrer, Ela diz tudo Com nada, O seu canto É prazer, É melodia De fada Mesmo quando Faz doer! NO POEMA Eu até finjo, É poeta Quem o diz, Mesmo que sinta O que digo Nunca sou, Sem ti, Feliz! MAS POEMA É como a vida, Posso ouvir A tua alma Em desejos Com palavras. É o modo De te ter, É remédio Que me salva De na solidão Eu arder! ESTE CANTO É, pois, meu, Nem tu Mo podes Roubar, Se te dizem Que é p’ra ti É verdade... ........... De enganar! O VERSO É o meu beijo Nesse rosto Que perdi, É quente Como o desejo E resiste A quem te diz Que o poeta Não te ama, Porque desenha As palavras Com um pedaço De giz... O AMOR Em poesia Não é mesmo Deste mundo, Quem o ler Como utopia Vai mais longe Vai mais fundo E não cai Em afasia Nem vê O pobre poeta Como simples Vagabundo. EU NÃO GOSTO Da renúncia, Mas que posso Eu fazer? Se não cantar O que sinto Ainda te vou Perder!