Poesia-Pintura

MISTÉRIO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “La Cortigiana”
JAS 2023
(71x88, em papel de algodão
Hahnemuehle, 310gr, Artglass AR70
em mold. de madeira)
Original de minha autoria
Dezembro de 2025
"La Cortigiana" - JAS 2023

POEMA – “MISTÉRIO

QUE ROSTO
Tão belo,
O teu,
E que voz
Tão afinada
Que dá corpo
Ao teu canto
Nos momentos
De alegria,
Quando és
Por amante
Desejada,
Por quem em ti
Mais confia.

QUE CORPO
Tão perfeito,
Em movimento,
A dançar,
Que magia
No palco
Da fantasia
Quando te vejo
Voar.

QUE MÃOS
Tão criativas
Sempre
Entregues
Às tuas
Belas pinturas,
Com segura
Inspiração,
De todas
Entre as mais puras,
Por divina
Vocação.

QUE MUSAS 
Que nos encantam
Por tudo aquilo
Que são,
Por sua imensa
Beleza
E por tudo
O que nos dão.

MAS, TU,
O que sabes
Tu fazer?
Disse à musa
Que um dia
O encantou;
O que, de ti,
Podes dar?
Foi o que então
Perguntou.

NADA
Tens pra oferecer,
Nada tens
Na tua mão
Para os que apenas
Te amam
Sem saber
Por que razão?

SÃO MISTÉRIOS
Do amor
De que não
Se conhece
Razão
(Respondeu-lhe,
Fria, a musa),
São mistérios,
Isso são,
Enigmas
Que os poetas
Cantam
Com arte
E precisão.

ESTRANHO
Fenómeno
Da vida,
Mistério
Sem causa
Aparente,
Filho incerto
Do destino,
Entra na alma
Do amante,
Qual passageiro
Errante,
Poderoso
E genuíno.

CANTAR,
Dançar,
Pintar,
Nada disso
Já interessa,
Quando o amor
Bate à porta
Logo a aventura
Começa.

E COMEÇA
Sem aparente
Razão,
Nasce ali
E logo nasce
Intenso
Como paixão
Para que a vida
Renasça
Com a força
De um vulcão.

CATARSE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Perfil de um Poeta”
JAS 2025
Original de minha autoria
Dezembro de 2025

"Perfil de um Poeta" - JAS 2025

POEMA – “CATARSE”

SINTO A TUA FALTA
E como a sinto
Eu danço
E não descanso
Até cair exausto
No palco
De um poema.

OUÇO O ECO
Do teu silêncio
Apenas sussurrado
E, como o ouço,
O meu canto
É um pouco
Triste,
Desencantado.

MAS JÁ NÃO SINTO
O veludo
Da tua pele
E como não o
Sinto
Eu pinto-a
De cores intensas...
...........
Numa folha
De papel.

NÃO OUÇO
A tua melodia
E como não a
Ouço
Fico em silêncio
Para melhor
Te sentir
Cá dentro
Da fantasia.

FAZ-ME FALTA
A tua voz,
Faz-me falta
O teu sorriso
E por isso
Te recrio
E te levo
Ao paraíso.

DA TUA FALTA
Nasce em mim
A orquestra
Para uma sinfonia,
Andamentos
Sem fim,
Contrapontos do
Silêncio,
Corpos que
Dançam,
Luzes, cores,
Aromas, flores,
Uma bela
Cenografia
Neste palco
De palavras,
Neste palco
De magia.

E ASSIM NASCE
Este meu canto,
Do silêncio e
Da dor,
Na dança
E no amor,
Em poesia,
Nas palavras
Que lanço
Ao vento
Construindo
Estas pontes
Pra te ter
Por companhia.

VISITO-TE
De mil maneiras,
Procuro-te
Numa torre
De marfim
Enredado
Numa teia
Para melhor
Te sentir
Com a leveza
Da arte
E em forma
De sereia,
Naufragar
Nesses teus olhos
Ao som
De uma bela
Melopeia.

OS SEIOS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Mulher”.
Pintura de JAS (2025) sobre foto
artística de autor anónimo
e de minha propriedade.
Dezembro de 2025.
"Mulher". JAS 2025

POEMA – “OS SEIOS”

ERAM OS SEIOS
De uma mulher
A sua atracção
Fatal,
O que ela
Lhe dizia
Para ele
Era banal,
Mas a forma
Do seu peito
Era desenho
Perfeito
De um corpo
Sensual.

CONTOU-ME,
Em tarde
De melancolia,
Da arrebatada
Pulsão,
Quando ele
Nesse dia
A perdera
E ali mesmo
Vira morrer
Essa fatal
Atracção.

ERAM SEIOS
Generosos
(Disse-me,
Com certo brilho
Nos olhos,
Mas serena
Amargura)
Os dessa linda
Mulher,
Uma imensa
Alvura
Em formas tão
Sensuais...
............
Era a física
Mais pura
Dos corpos
Que se atraem
E seus embates
Fatais.

CONFESSOU,
Com olhar
Um pouco vago,
Que o seu corpo,
Insistente,
O convidava
A olhar,
Bem de frente,
Com a libido
A ferver...
..........
E, então,
Estremecia,
Ficava paralisado,
Não sabia
O que fazer.

MAS NADA MAIS
Ele queria
(Foi o que sempre
Lhe disse)
Do que vê-la
Em pose
De maternal
Sedução,
Alimento
Dessa sede
Tão faminta,
Dessa irresistível
Pulsão...

SENTIA-OS
Como fetiche,
Como se a vida
Lhe pedisse
Apenas um seu
Olhar,
Criança perdida
No mundo,
Náufrago
Em alto mar...

MAS, AGORA,
Já sem a visão
Que sempre
O atraíra
(Foi o que logo
Me disse),
Só sentia
Melancolia
E uma doce
Nostalgia
Desse corpo
Sedutor
Onde naufragara
Um dia,
Em busca de
Salvação...
................
Ou talvez mesmo
De amor.

MULHER-MÃE
Era destino
Que só nela
Se cumpria,
Fruto de uma longa
Solidão
Que se consumou
Nesse dia,
Como se tudo
Só fosse
Uma doce ilusão,
Um fruto
Da fantasia...
...............
Ou, então, fosse
Paixão!

O AZEVINHO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Azevinho om Bagas”
JAS 2025
Original de minha autoria
Novembro de 2025

POEMA – “O AZEVINHO”

NÃO SEI PORQUÊ,
Talvez seja
O destino,
As bagas
Lá apareceram
No azevinho
Que vi,
Um arbusto
Pequenino
Que pôs fim
Ao que sofri.

ERA MESMO UM
Azevinho,
Com as bagas
Vermelhinhas,
Daquelas
Que sempre quis,
Eram bagas
Como as minhas,
Que me faziam
Feliz.

FUI AO MERCADO
(Nem sei bem
Por que razão)
E logo vi
Um azevinho
Com bagas
Tão vermelhinhas
Que nem quis
Acreditar...
............
Estava mesmo
À minha espera
Para comigo
O levar?

COMPREI-O
À vendedora
E li-lhe o poema
Das bagas,
Das outras
Que eu cantei,
Quis mostrar-lhe
O meu encanto,
Falar-lhe
Daquele tempo
Em que por ele
Esperei.

LEVEI-O LOGO
Para o meu amado
Jardim
Era isso
Que ele esperava,
Ser cuidado
Só por mim...

E PLANTEI-O
Onde ele irá
Crescer,
Ao lado
Do azevinho
Que bagas
Nunca quis ter,
Ficando sempre
Sozinho
E não sei
Se a sofrer.

E ASSIM FELIZ
Fiquei
Encontrei as minhas
Bagas,
As que sempre
Procurei.

TARDE DEMAIS

Poema de João de João de Almeida Santos
Ilustração: “S/Título”
JAS 2025
Original de minha autoria
Novembro de 2025

POEMA – “TARDE DEMAIS”

TARDO A ENCONTRAR-TE
Porque não sei
Como procurar-te
Guiado
Por um poema,
Pois não sei
Onde o vento
O levará.

NÃO É A VONTADE,
Mas o destino
A marcar
Os passos
Que eu darei
Ou que nunca
Ousarei
Nas estreitas
Veredas
Da vida.
Ah, mas isso
Eu não sei,
É certeza
Proibida.

E TU SABES
Que não sei,
Mas sabes
Por onde andei
E onde
Eu me perdi
À procura do que
Não podia ter,
Até que te encontrei,
No fim
Desse caminho
Que já nem sei
Se trilhei
Ou se o abandonei
Antes de um qualquer
Começo....
...........
Ah, isso
Também não sei.

ÀS VEZES
Encontrava-te,
Encontros fugazes,
Onde o teu brilho
Me iluminava
Por dentro
E me cegava
Por fora.

MAS NÃO SABIA
Se te queria
Para nunca
Te ter,
Sentir saudades
Do perfume
Da aurora
Quando te reencontrasse
Na memória fresca
Dos afectos
Inacabados...
..................
Os mais perfeitos,
Os mais cantados.

SIM, DEIXO-ME IR
Nas mãos
Do destino,
Mas há sempre
Um sobressalto,
Repentino,
Quando o real
Me atropela
Por dentro
E tudo se torna
Estranhamente
Inóspito.

SE NÃO ME DEIXO IR
Viajo para outros
Lugares,
Tenho sempre
De viajar
À procura de mim,
De um espelho
Onde me veja
Por dentro
A olhar-te
Por fora,
À espera do próximo
Sobressalto...
.................
Que nunca demora.

COMO ME PERTURBA
Esse véu
Que te cobre
Quando te quero
Pintar
Com palavras,
Ver-te nua,
Com a alma
A tiritar,
Despida,
À mercê dos
Tumultos
Que te marcam
Como sulcos,
Cicatrizes
Ásperas
Da vida.

MAS EU PROCURO-TE
Com olhar
Atento,
Perscrutando
A alma
Que se aninha
Em ti
Para te proteger
Do risco da beleza
Exposta
Como fractura,
Aquela que os poetas
Cantam
Quando pressentem a
Liberdade
À beira
Da ruptura.

TALVEZ A NOITE
Também te sirva
De véu
E te cubra
As cicatrizes
Da vida,
Luz coada
Pela penumbra
Que te amacia
A alma
Encrespada
E te devolva
Como sonho
Intemporal
Onde te reinventarei
Como mulher
Desejada...
..........
Para além
Do bem
E do mal.

TARDO
A encontrar-te
No bulício
Dos dias
Até que no amanhecer
De um poema
Te reencontre
E te diga
Com o olhar,
Sem mais,
O que não posso
Dizer
Com estas palavras
Já gastas...
..................
Mas talvez já seja
Tarde demais.

VENTO DO DESERTO

O Regresso da Medusa
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “S/Título”
JAS 2025
Original de minha autoria
Novembro de 2025

"S/Título". JAS 2025

POEMA – “VENTO DO DESERTO”

IRROMPESTE
Como rosto
Esculpido
Com arte
Pelo vento
Num dia
De neblina
Um pouco frio
E cinzento.

EM TEUS CABELOS
Se reflectia
A beleza
Do teu rosto
E tu resistias
Ao vendaval
De palavras
Que o vento,
Teimosamente,
Ia soprando
 Sobre ti.

UM VÉU
Cobria-te
Levemente
Como tecido
De mensagem
Cifrada
Trazida
Pelo vento,
Pelo tempo
Desenhada.

MAS TU FUGIAS
Para dentro
De ti
E esculpias
Com tuas mãos
Outra mensagem,
Pó do deserto
Sobre véu
Em filigrana.

VINHA DO DESERTO,
O vento,
E trouxe consigo
A Medusa
Para petrificar
A tua imagem?

SIM, PORQUE TU,
Sem um espelho
Na alma
E olhar
Incerto,
Ias-te
Petrificando
Como escultura
Soprada
Pelos deuses
Do deserto.

ERAM RISCOS
A três dimensões
E desafiavam
As finas letras
Que eu ia
Desenhando
A preto e branco,
Mas com cor
E luz
Por dentro,
Para melhor
Te ver
E te tocar,
Docemente,
No fio
Do horizonte,
Onde, com elas,
Se cristalizava
O meu desejo
De ti,
Como lava
Ardente.

AH, ESSE ROSTO
Que o poema
Cantará
Fustigado
Pelo vento
Do deserto
Em fuga vã
Desse lugar
De onde
Nunca sairá...

ROSTO ESCULPIDO
Por ti,
Como Medusa
De ti própria,
Sem saber
Que quanto mais
Te desenhares,
Petrificada,
Mais te suspendes
Sobre estas mãos
Que, de longe,
Te acariciam
Com palavras
E te elevam
Ao Parnaso...
..............
O que me sobra
De ti,
Inelutável
Ocaso
De tudo
O que eu senti.

MUDA TUDO, TUDO MUDA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Encruzilhada”
JAS 2025
Original de minha autoria
Novembro de 2025

POEMA – “MUDA TUDO, TUDO MUDA”

MUDA O VENTO
E mudam também
As palavras,
O poeta
O dizia.
Sobre sinais
Era sábio,
Mas de vento,
Isso não,
Sobre o vento
Pouco sabia.

MUDA TAMBÉM
A vontade
E muda
De direcção,
Mudam
As cores
Com que a pinto
Pra temperar
A ambição.

O QUE CONTA
São os ciclos
Desta vida,
Os que o tempo
Desenhar
Pra cada nova
Partida
Num eterno
Movimento
Como o das ondas
Do mar.

HÁ ENCRUZILHADAS,
É preciso
Escolher
Para logo decidir,
Mas às vezes
Não podemos
E, então,
Ah, então,
O que fazemos?
Temos mesmo
De fingir.

MAS NÃO HÁ
Muito a fazer
Porque o vento,
Sempre o vento,
Sopra às vezes
Numa certa direcção
Para levar
As palavras
A voarem
De feição.

MUDAM OS TEMPOS
Muda o vento,
Muda a vontade
E a ambição
E até muda
A verdade
Quando é forte
A ilusão.

MAS AS CORES
Do arco-íris
(Essas, que belas
Que são)
Viajam sempre
Comigo,
Voam leves,
De feição,
Mesmo que alguém,
Por castigo,
Possa dizer-me
Que não.

AS CORES
Animam
A vida
E o desejo
De mudança
Pois transformam
O incerto
Em horizonte
D’esperança.

O COREÓGRAFO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Penché”
JAS 2025 
Original de minha autoria
Novembro de 2025

“Penché”. JAS 2025

POEMA – “O COREÓGRAFO”

SOU COREÓGRAFO
Da minha alma,
Desenho-me
No espaço
Com a suave
Melodia do teu
Silêncio,
Sempre embalado
Por essa música
Inaudível
Que soa sempre
Desse teu lado...

IMAGINO-TE,
Às vezes,
Num solo,
Em palco,
Numa noite
De luar,
Na praia
Da meia-lua,
Bailando
Ao som
Dos murmúrios
Intermitentes
Do mar.

 MAS O SILÊNCIO
É a tua
Sinfonia,
O teu canto
De sereia,
A melodia
Que ressoa
Nesse mar
Murmurejante
De linóleo
Onde te desenho
Em suave
Bailado,
A despedida
Que nunca 
Terá fim...
..............
Esse meu fado.

GOSTO DESTA DANÇA,
Contraponto
Dos sinais
Invisíveis
Com que pontuas
A tua assinalada
Ausência,
Um bailado
A solo
Com o som
Dos murmúrios
Do mar
E da minha poesia
Na praia
Da meia-lua,
Numa noite
De luar
E perfume
De maresia.

E EU CANTO-TE,
Mas neste meu
Canto
Eu conto-me
Como espelho
Onde podes
Rever
O passado
Desse futuro
Que nunca
Existirá.

AGORA, SOZINHO
Na praia 
Da meia-lua,
Acendo um sol
Com as minhas mãos
E procuro
O que nunca
Encontrarei,
A não ser
Sombras
De mim próprio,
A cantar,
Como se as notas
Musicais
Estivessem
Gravadas
Na areia branca
Da baixa-mar.

ESTE,
O que te celebra
Em arte,
Com poesia,
Já não é ele,
Mas o coreógrafo
Da sua melancolia.

AS BAGAS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Bagas no Jardim”
JAS 2025
Original de minha autoria
Outubro de 2025

“Bagas no Jardim”. JAS 2025

POEMA – “AS BAGAS”

AO RAIAR
De um certo dia
Desci logo
Ao jardim,
Havia algumas
Rosas,
Um azevinho
Sem bagas,
Três cameleiras
Frondosas
E tudo ali
Para mim...

VI DEUSA
Desnudada
Por entre verde
Folhagem,
Uvas frescas
De latada
E a deusa
Como imagem.

MAS AS BAGAS,
As bagas
Do azevinho,
Vermelhas,
Cor do meu sangue,
Não as tinha,
O pobrezinho,
Era arbusto
Exangue.

E EU TRISTE
Por as não ter
A fazer-me
Companhia
Quis um enxerto
Fazer
Com bagas
Como as queria.

PEDI AO JARDINEIRO
Que as trouxesse
Pra mim,
Pois sem elas
Era pobre
O meu amado
Jardim.

MAS O TEMPO,
Sempre o tempo,
Não as daria
Até o azevinho
Crescer,
Por isso, pus mãos
À obra
Para em versos
As ter...

EM VERSOS,
Também em cor,
Era assim
Que as teria,
Quisesse
O pintor
Pintá-las,
Ilustrar
A poesia.

BAGAS
E fantasia,
Ali prontas
Pra criar,
Não as tendo
O azevinho
Desenhei
Um novo arbusto
Para bagas
Ele me dar.

E ASSIM FIQUEI
Feliz
Por ter bagas
Vermelhinhas,
Não eram
Do azevinho,
Mas as bagas
Eram minhas.

A OFERTA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “A Montanha Encantada”
JAS 2022
(94x119, em papel de algodão, 310gr, 
e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70 em mold. de madeira)
Original de minha autoria
Outubro de 2025

“A Montanha Encantada”. JAS 2022

POEMA: “A OFERTA”

DO ESTRANHO
Encontro
Que aconteceu
Nesse dia
Quis libertar
Minha alma,
Junto ao mar,
À hora
Da maresia,
Quando a brisa
É mais calma,
Amiga
Da fantasia...
................
Mas só libertei
O meu corpo
Da opressão
Que sentia.

FICOU O CORPO
Sozinho,
À deriva, nesse dia,
Mas no regresso
Da praia
Encontrei-a
No caminho...
........
Milagre
Da fantasia!

LOGO LHE FIZ
Um poema
Pois a brisa
Já não chegava,
Pus palavras
A sorrir
Quando a alma
Regressava.

DEPOIS VIAJEI
Prà montanha,
Colhi frutos
Lá no alto
Pra lhos trazer
No cabaz,
Guardei-os junto
Do peito
Pra esse encontro
Fugaz,
Mas que eu queria
Perfeito.

“LEMBRAS-TE BEM
Dessa cesta
E dos frutos que
Trazia?”,
Perguntei-lhe
Nesse dia.
“Vinham todos
Da montanha,
Traziam consigo
Alegria”.

ESSES FRUTOS
Eram poemas
Que lhe queria
Ofertar,
Derramavam seus
Aromas
Em palavras de
Embalar.

NA CESTA
 Havia estrelas
Às centenas,
Vermelhinhas...
................
“Não viste nelas
Cintilas
Que voavam
Tão juntinhas?”

ERAM MIL CORES
E aromas
Que desses frutos
Brotavam,
Colavam-se
À minha alma
Porque por ela
Passavam.

“DEPOIS PARTISTE
Com eles,
Rápida,
Sem me olhar,
E eu por ali
Me fiquei,
Parado,
Sem saber
O que pensar”.

“SÓ À NOITE
Me disseste:
Obrigada,
Meu amigo,
Esses frutos
Que me deste,
São belos
E tão gostosos,
Mas não são
O teu abrigo”.

PRA SUPORTAR
A tristeza
Vali-me
Da poesia,
Escrevi versos
Em rima
Pois sempre
Neles ecoa
Uma bela melodia.

CUREI O CORPO,
Não a alma,
Porque ficou
Presa a ela
Desde o dia
Em que a vi,
Ninguém pode
Devolver-ma...
..............
Mas, assim,
Não a perdi.

SORRIR

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Sorriso”
JAS 2023
(49x82, papel de algodão,
310gr, e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70 em mold. de madeira)
Original de minha autoria
Outubro de 2025

“Sorriso”. JAS 2023

"Was bleibet aber,
stiften die Dichter"
"Mas o que permanece,
os poetas o fundam"

Hölderlin

POEMA – “SORRIR”

SE O TIVESSE
Comigo,
O mundo
De que preciso,
Trocava-o
Por um sorriso
Ou a ternura
De um olhar,
Olhos castanhos,
Olhos bonitos,
Perder-me neles,
A navegar...

MAS NÃO O TENHO
E pouco importa,
Também o mundo
Já não é meu
E não posso
Oferecê-lo
Como se fosse
O meu céu...

É GRANDE DEMAIS
Para mim,
Meu fugaz
Acontecer
Num tempo
Que não tem fim,
É maior
Que o meu querer
Porque o mundo
É assim.

AH, MAS POSSO
Oferecer
O mundo
Do meu olhar,
Posso sorrir,
Posso escrever
E pintar,
Posso esculpir
Aquele rosto
Que sempre
Quis cativar.

OFEREÇO-ME
A esse rosto
Com a minha
Fantasia,
É um modo
De o ter
À medida
Do desejo,
Em festa,
Epifania,
Assim,
Como ainda
O vejo.

SONHAR

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “S/Título”
JAS 2025
Original de minha autoria
Outubro de 2025

“S/Título”. JAS 2025

POEMA – “SONHAR”

SONHEI,
Um dia,
Que as palavras
Se gastaram,
Desataram,
Desfiaram,
Sobrando
Apenas fios
Para tecer
O silêncio
Com que ainda
Me falas.

SONHEI
Que a tinta
Perdeu cor,
Que não havia
Poemas
E que não era
Pintor.

SONHEI
Que não eras tu,
Que foi tudo
Uma ilusão,
Que no sonho
Estava nu,
Deserdado
De afeição.

SONHEI
Que não sabia
Onde estás,
O que fazes
E o que sonhas
Nas noites
Do teu luar,
O que vês
Nesses momentos
Fugazes
Em que olhas
Para ti,
Que não me ouves
Nem sentes
Porque estás
Tão longe daqui...

SONHEI
Que te procurei
No mundo
Da fantasia,
Onde as flores
Caminhavam,
Sabiam a maresia,
Tinham rostos
De mulher...
...........
Mas surdos
Ao que eu dizia.

NO SONHO
Fui à memória,
Que também
Perdeu a cor,
Ficou tudo
A preto e branco
E sonhei,
Sonhei, sim,
Que te perdi...
.................
E que da perda
Sobrou dor.

SONHANDO,
Procurei cor
Num outro
Lugar qualquer,
Mas só encontrei
O cinzento...
............
E por falta
De outras cores
Meus versos
Tão desbotados
Já nem iam
Com o vento.

FOSTE PRA ONDE
Que eu não te vejo?
Perguntei
Quando do sonho
Acordei.

SAÍSTE
De onde estavas
E agora resta
O desejo
De te cantar
Sem a cor
Com que antes
Eu te via
Pra que ouças
O silêncio
Com que ainda
Me chamas
Seja noite,
Seja dia.

GASTARAM-SE
As palavras,
Gastou-se tudo
Em meu redor,
Só ficou o teu
Cinzento,
A tinta
Com que pinto
O meu lamento
E me afundo
Na dor.

A PORTA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “A Porta”
JAS 2025
Original de minha autoria
Setembro de 2025

“A Porta”. JAS 2025

¡Qué trabajo nos cuesta  
traspasar los umbrales 
de todas las puertas!  
Vemos dentro una lámpara 
ciega  
o una niña que teme
las tormentas.  

La puerta es siempre la clave  
de la leyenda.  
Rosa de dos pétalos
 que el viento abre  
y cierra.

Federico García Lorca,
“Puerta Abierta”, 1921

POEMA – “A PORTA”

BATI LEVE,
Levemente,
A uma porta
Com a luz
Do meu jasmim,
Silêncio,
Foi o que ouvi,
Do princípio
Até ao fim.

ILUMINADA
Por jasmim
Numa cascata
De luz,
Esta porta
É mistério
Pra quem
O mistério
Seduz.

TALVEZ SEJA
Porta
De sacrário
Que guarde
Corpo
Intangível
De deusa
Do meu passado,
Entrada
De templo
Encantado,
Esse lugar
De mistério,
Esse lugar
Do sagrado.

SÓ SILÊNCIO
De catedral
Se ouve
Com seu eco
Em surdina
Que desafia
O poeta
A cantar
O que o eco
Ilumina.

AH, A VERTIGEM
Do oculto,
Celebrado
Por uma porta
Vestida
 De luz
Pelo imponente
Jasmim
Com essa cascata
Brilhante
Que brota
Do meu jardim
E que tanto
Me seduz.

FOSSE A PORTA
Transparente
E raios de sol
E de luz
Entrassem nela,
Vítrea
Como janela,
Dissipava-se
O mistério
Que a porta
Não revela.

MAS EU QUERO
Apenas pintar
Essa porta,
Ombreira
D’inspiração,
Porque não ouso
Passar
A fronteira
Que desvela
O mistério
Que há nela
Com esta minha
Canção.

LIVIDEZ

DIÁLOGO COM O PASSADO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Lividez”
JAS 2025
(Variante de “La Cortigiana”,
de 2023)
Original de minha autoria
Setembro de 2023

“Lividez”, JAS 2025 (variante de “La Cortigiana, de 2023)

POEMA – “LIVIDEZ – DIÁLOGO COM O PASSADO”

ESTAVA
Um pouco
Lívido
Esse teu rosto
(Pintado),
Caía tristeza
Sobre ti
Quando te via
Ao sol-posto
(A meu lado),
Na rua
Onde eu
Te conheci.

ERA TRISTE
Altivez?
Talvez fosse,
Talvez,
Porque olhavas
E não me vias
Quando passava
A teu lado,
Com a minha
Timidez,
Na rua
Do desencontro,
Já um pouco
Desolado...
........
Pela tua
Lividez.

TUAS MÃOS,
Ah, essas mãos,
Desenharam-te
Como pecado
Em porcelana,
Alma em fuga
Desta vida
Para um mundo
Onde parecias
Perdida.

SENTIAS-TE
Gueixa,
Lá dentro
De ti,
Na cidade
Proibida,
No dia
Em que perdi
O que me
Sobrara
Dessa tua
Incessante
Despedida?

PORQUE ESTAVA
Lívido
E triste
O teu rosto?
Não eras tu.
Inventaste
Esse perfil
Onde te revias
Na cidade
Proibida
Como eco
Sensual
Do meu remoto
Desejo
De te ter
Na minha vida?

PECADO
De quem ama,
Culpa
Mortal
Quando a divina
Beleza
 É sensualmente
Rasgada
E ferida
Por volúpia
Carnal?

COM QUE BÂTON
Pintaste
Essa alma
Inquieta
E incerta
Que aflora,
Intensa,
Como desafio,
Nessa boca
Sensual?

EMPUNHASTE-O,
Esse bâton,
Para desafiar,
Certeira,
Uma pulsão
Que não ousas
Depor
E que cobres
Com as cores
Vivas
De uma alma
Em sobressalto...
..............
Talvez ferida
De amor?

VEJO-TE, AGORA,
A fumar,
Lânguida,
Com esse bâton
Já gasto
A transbordar
De teus lábios
Carnudos,
Ao rubro,
Em preguiça
Abandonada,
Pronta
Para te dares,
Não a mim,
Mas sempre,
Sempre,
Ao olhar mágico
De tuas mãos
E da grafite
Com que desenhas
Milagres íntimos
Sobre rostos
Múltiplos
E fugidios.

ENTÃO PINTA-ME
Também
Com esse bâton
E leva-me
Contigo,
Livres,
Os dois,
A quebrar
Em mil pedaços
Essa porcelana
Do pecado
Com a beleza
Singela
Desse teu
Rosto doce
E meigo
Que acaricio
Com as palavras
Deste difícil
Poema
De reencontro
Com o passado.

LUZ

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Paraíso”
JAS 2022 (68x84, em papel de algodão,
310gr, e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70, em moldura de madeira)
Setembro de 2025

“LUZ”. JAS 2022

POEMA – “LUZ”

TANTA LUZ,
Meu Deus,
Esse teu céu,
Imenso mar,
Espelho
De todos
Os sonhos
Que dão asas
Pra voar.

O CÉU É BRANCO,
Cintilante,
Para te iluminar
E os teus olhos
Logo brilham,
Em viagem,
No meu mundo,
A voar.

QUANDO
Nos sonhos
Eu te vejo
Iluminada
Entro sempre
Numa porta
Branca
Que me leva
Ao paraíso,
Guiado
Por uma fada.

E, ENTÃO, VOO,
Deixando
Para trás
 O meu Jardim
Encantado,
Os bailéus
Da casa-mãe,
Desenhados
A rigor,
A quelha da minha
Infância
Que já anuncia
A viagem
De uma vida
D'errância
E tantas vezes
Com dor.

NOS SONHOS,
(Em todos eles)
Caio das nuvens
Brancas,
Como Ícaro,
Quase cego
De tanta luz,
No jardim
Onde tu vives
Sempre vestida
De cores
Como um manto
Que seduz.

É ESSA TUA LUZ
Cintilante
Que ilumina
O que me sobra
De ti,
Nos sonhos
Escritos,
Pintados,
Onde sempre
Eu te vi
E onde te vou
Visitando
Quando as saudades
Apertam
Por aquilo
Que perdi.

ETERNO RETORNO
Na vida
De um poeta
Sonhador,
Uma luz
Que se acende
Lá bem no alto
Do céu,
E o regresso
Ao jardim,
Esse céu
Que é só meu.

VER

Poema de João de Almeida Santos
Pintura: “La Peccatrice”
JAS 2023, apud Klimt
(57x88, em papel de algodão, 310gr,
e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70
em mold. de madeira)
Original de minha autoria
Setembro 2025

“La Peccatrice”. JAS 2023

POEMA – “VER”

QUANDO TE VEJO,
Vejo-te a cores,
Sinto aromas
E provo sabores
Na fantasia...

EU VEJO TRAÇOS
E vejo riscos
E tantas fugas
Prò infinito
Nos sete céus
Dessa magia
E eu logo digo
O que já sinto
A quem pergunta:
– É poesia.

AO LONGE,
O horizonte
Desses teus riscos,
Aqui, uma ponte
Desenhada
Que me leva
Ao pé de ti
Quando o rio
Já transborda
E eu sinto
Que me perdi.

QUANDO TE VEJO,
Eu vejo ruas,
Eu vejo praças
E catedrais,
Vejo desenhos
Nas tuas mãos,
Vejo vitrais
E vejo sóis
Em refracção
Que aquecem
A minha alma
Porque é bela
Esta visão.

E VEJO ROSTOS,
Vejo-te a ti
Nesses poemas
Que escrevi,
Sentir-te perto
Era o desejo,
Ver o teu céu
No horizonte,
Sentar-me logo
Neste meu banco
E ver-te bela
Sempre daqui.

VEJO MONTANHAS
E vejo cores,
Eu vejo casas
Por esses vales
E esses rios
Por onde corre
O fio d’água
Com que tu regas
O teu jardim
Pra nele nascerem
Os meus poemas
E a tua pele
Ser de cetim.

SINTO NO AR
O teu calor,
Cabelos negros
A esvoaçar
E sinto o vento
Nesse teu rosto
E altas ondas
No nosso mar
Mesmo que venhas
Já no sol-posto
Com os teus barcos
A navegar
Na imensidão
Onde se perde
O meu olhar. 

EU VEJO TELAS
E os teus pincéis,
Vejo a tinta
Na tua mão,
Vejo-te a ti,
Doce pintora,
Tão concentrada
Nesses quadros
Em construção.

VEJO QUADROS
E vejo letras,
Nessa pintura
Vejo sinais,
Eu vejo tudo
Neste pontão
Do nosso cais
E sou feliz
De assim te ver...
.............
E isso basta,
Não quero mais.

EU VEJO TUDO
À minha volta,
Mas não te vendo
Eu sinto dor,
Vem ter comigo
A este rio,
Passar a ponte
Prò outro lado,
Dar-me a mão
E um sorriso,
Fazer de mim
Um ser amado
Mesmo sem teres
A tua ponte,
Bela e leve,
Já desenhado,
Mas, mesmo assim,
Que eu possa ser
O teu pecado. EU VEJO TUDO À minha volta, Mas faz-me falta O teu sorriso, Mesmo que minta Nada mais quero Pois é só disso Que eu preciso.

SONHO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “S/Título”
JAS 2023 (original a cores
 e com o título “Epifania”: 
79x82, em papel de algodão,
310gr, e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70 em mold. de madeira)
Pintura de minha autoria
Agosto de 2025

“S/Título”. JAS 2023

POEMA – “SONHO”

SONHEI
Que numa tarde 
Fria
De outono
Te vi
Fixando
O vazio,
Ausente,
Um pouco 
Perdida,
Como quem
Já não sabe
O que sente,
Como exilada
Da vida.

NÃO ESTAVA
Rubro 
De vida
Esse teu rosto,
Mas de uma cor
Um pouco fria,
Como se uma
Moldura
Te engolisse
E apenas
Te mostrasse
Como retrato
De um tempo
Que voltar
Já não podia.

ROSTO
Que eu só 
Sentia
Interiormente
No que ele
Não me dizia
E na mudez
Gélida
De um olhar
Vago,
Em abalada,
À procura
Não sei 
De quê,
Talvez de nada.

EU SENTIA-TE
Como desejo
Onírico
De alma 
Vagante
À procura do que
Nunca 
Encontraria
Para além
De um corpo
Em fuga,
Já distante,
E memória
Dessa imagem
Que perdia.

DE TI, AFINAL,
Só me sobrou
Esse rosto,
Tudo o que
Me resta
Pra te sonhar
No longo
Intervalo
Entre mim
E uma vida
Pelo tempo
Devorada
Em que só já
Sobra o frio
Do silêncio...
............
E mais nada.

SILÊNCIO
Que se aninha
Cada vez mais
Dentro de mim,
Ameaçando
Emudecer-me
E tornar-me
Máscara
Gémea de ti,
Desenhada
Com palavras
Que já não
Encontrarei
Pois teu rosto
E teu rasto
Foi o que 
Eu já perdi...
..........
E é por isso
Que de ti
Já pouco sei.

TEMPO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Travessia”
JAS 2022 (93x118, em papel de algodão,
310gr, e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70 em mold. de madeira)
Agosto de 2025

“Travessia”. JAS 2022

POESIA – “TEMPO”

CHRONOS
É o tempo
Em que tudo
Esmaece,
É neblina
Que cobre
O passado,
É juiz
Do que acontece
E decide
O que merece
Nele ficar
Registado.

O TEMPO
É escultor,
O tempo
É alquimia
Extrai
O ouro
Da vida
Pra só dela
Conservar
O que ela
Potencia.

MAS TAMBÉM É
Bruma
Espessa
Que dissipa
Os perfis
Que a vida
Desenhou,
Um certo rosto
Que já não vês,
Um perfume
Que se esvai,
Uma musa
Que por ti
Num certo dia
Passou,
Mas que desse
Passado
Não sai.

INEXORÁVEL,
O tempo
Desgasta
A vontade
De visitar
O passado
Que já não
Te pode sorrir,
Que já não
Podes tocar,
Onde já não
Podes ir
E não podes
Resgatar.

E ATÉ O POEMA
Vacila
Nessa espessa
Neblina
Onde tudo
Se esbate,
Bruma
Que cobre
O caminho
Que a vida
Nos destina
Pra travar
Esse combate.

MAS SUBSISTE
A memória
Que regista
O presente
Sob forma
De passado
Projectando
No futuro
O que será
Preservado.

ENTÃO O POEMA
Resiste,
Então o poema
Canta
O desejo
De futuro
E recria
O que na vida
Aconteceu
De mais intenso
E mais puro.

É O TEMPO
Da poesia,
O tempo
Da liberdade,
Reconstrói-se
Como futuro
O que já só era
Saudade.

“Travessia”. Detalhe

VOAR

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Pássaro de Fogo”
JAS 2025
Original de minha autoria
Agosto de 2025

“Pássaro de Fogo”. JAS 2025

POEMA – “VOAR”

EU CANTO
E pinto
O meu destino,
Sonhos velados,
A minha vida,
Sonhos marcados
Por tudo aquilo
Que imagino
Nas noites frias
Da despedida.

PERDI A CHAVE
Do meu futuro
Já só me resta
A partida,
Por isso canto
E, como as aves,
Voo mais longe
E com mais cor
Porque no céu
Há mais azul
E nos meus sonhos
Já não há dor.

MAS HÁ SEGREDO
Não revelado
E se o dissesse
Não deveria,
Como poeta
E fingidor
Eu certamente
Até mentia.

E NÃO O DISSE,
Mas eu pequei
Com murmúrios
D’enamorado
Em poemas
Inocentes
Onde cantava
Esse meu fado
Com palavras
Luminescentes.

POR ISSO VOO
Sempre mais alto,
Trepo nas cores
Pra lá chegar,
O céu azul
Dá-me alento
Pra meus segredos
Nele guardar.

LEVO PALAVRAS
Comigo,
Procuro inspiração.
Levo cor,
O meu abrigo,
Levo a musa
E tudo o mais
E quando parto
Lá para cima
É sempre festa
Nesse meu cais.

LEVO-TE A TI
E desse jeito
Eu sou feliz
Lá bem no alto,
No azul do céu,
Onde respiro
Esse ar puro
E rarefeito,
Lá onde o mundo
É todo meu.

EU CANTO
E pinto
Pra exaltar
Esse teu rosto,
Iluminar
Em aguarela
Esse enleio
Do meu olhar
Pois se te vejo
Logo me vem
Esta vontade
De te pintar.

POR ISSO, CANTO
Por isso, voo,
Por isso subo
Lá para o alto
E dou-te asas
E o infinito,
Voar contigo
No céu azul
É um prazer...
............
E é bonito!

ILUSÃO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Bola de Cristal”
Original de minha autoria
Agosto de 2025

“Bola de Cristal”. JAS 2025

POEMA – “ILUSÃO”

A MUSA
Nunca existiu,
Dizia
O poeta
Fingidor,
Era apenas
Artifício
Pra simular
O amor.

E O POEMA
Também não,
São palavras
Ritmadas
Pra criar
A ilusão
De vidas
Que são
Criadas
Com alguma
Inspiração.

NADA EXISTE
A não ser
Como desejo
Que não se torna
Real,
Só nuvens
Que o vento
Leva
E já não voltam
Ao céu
Onde o poeta
Navega
E desenha
Com palavras
Tudo aquilo
Que perdeu.

O VENTO
É seu amigo
Leva palavras
Consigo
Pra simular
A vontade
D’estar sempre
Ao pé dela
Evitando
O castigo
De só a ver
Da janela.

É TUDO
Piedosa
Ilusão
De quem nunca
Partiu
Do lugar
Que habitou
Onde o amor
Mais não era
Do que aquilo
Que sonhou.

QUEM ÉS TU?

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Corpo”
Original de minha autoria,
baseado em foto em contraluz,
de autor anónimo
 (Colecção privada)
Agosto de 2025

“Corpo”. JAS 2025

POEMA – “QUEM ÉS TU?”

HÁ POESIA
No teu corpo
(Dizia o poeta),
Delicada
Geometria,
Contraponto
Expressivo
De uma quente
Melodia.

HÁ MÚSICA,
Pauta
Da beleza física
Que levita
Entre cores,
Aromas
E sons,
Em surdina,
Construindo
Enigmas
Que só o
Poeta
Pode decifrar,
Como quem
Te ilumina.

TENS A ALMA
Inscrita
No corpo,
Como eu
A tenho
Nas palavras
Com que construo
Os poemas
No discurso da
Beleza
Em que me vou
Enredando
Como em teia
Que me prende
E me liberta...
...........
Com leveza.

VEJO-TE
Num bailado
A solo,
Dançando
A despedida
E canto-te
Num poema
Ao ritmo do
Corpo
E da alma
Com que te
Vais retratando
Nas telas
Pintadas
Da vida.

E PEÇO-TE
Que não pares
Esse teu
Silencioso
Bailado
Até que eu
Te desenhe
Em palavras
Pra que nelas
Te revejas
Como num espelho
Encantado.

MAS, AFINAL,
Quem és tu?
(Perguntou
O poeta)
Tu, que tantos
Rostos tens
E me falas
Com o silêncio;
Tu, que danças
Em movimentos
Que apenas
Acontecem
Na alma
De um poeta;
Tu, cuja melodia
É a do vento
Que me responde
Com o eco
Dos poemas,
Vindo não sei
De onde?

NÃO SEI MESMO
Quem és...
Talvez a musa
Inventada
E constante
Que me aquece
A alma
Quando o calor
Das palavras
Desaparece
E ameaça
Tornar-se
 Gelo puro
E cortante.

QUEM ÉS TU,
Afinal?
Uma só com
Muitos rostos
Ou todos
Os rostos
Num só
Que se esfuma
Cada vez mais
Na bruma espessa
Do tempo,
Sem piedade
Nem dó?

SAUDADE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Musa”
JAS 2025
Original de minha autoria
Julho de 2025

“Musa”. JAS 2025

POEMA – “SAUDADE”

QUANDO TE SONHAVA
(Com palavras)
Encontrava-te
Sempre
Num acaso
Marcado
Pelo destino,
Olhava-te
E segurava
As tuas mãos
Nos riscos
Com que ias
Desenhando
Os teus rostos,
A traço sempre
Muito fino.

OLHAVA-TE
Nos olhos,
Em silêncio,
Timidamente,
Com esse brilho
Interior
Que nunca se vê,
Mas se pressente.

AH, COMO GOSTO
(Sempre gostei)
Desse teu rosto,
Linha de arte
Saída de ti,
 Desse olhar 
Cúmplice
Que me inebria
E me sorri.

DIZIA-TE
Palavras
(As do momento)
Sobre o sol
Que brilhava
Ou sobre a chuva
Que tardava,
Sobre as nuvens
Cinzentas
Que pintavam
O azul brilhante
Do céu
Ou sobre o vento
Que me soprava
Na alma
E me fazia sentir
Como quem
Contigo renasceu.

E SENTIA-TE
Sempre
Como quando
Te vi
Pela primeira vez,
Sem saber
Que fugiria contigo
Da rua proibida
Para este abrigo
Dos poemas
Onde agora,
Clandestino,
Sempre te revejo
Como em espelho
Mágico
E cristalino.

QUANDO TE PERDIA,
Chegava, rápida,
A saudade
Que já espreitava
Na esquina
Discreta
Desse teu olhar
De permanente
Despedida...

E POR ISSO
Te procurava
Na arte,
Nas palavras,
Nas curvas
Escritas da vida
Que estão 
Mais cheias
De poesia
Do que aquilo
Que nunca iria
Acontecer
A não ser
Como pura
Fantasia.

POEMA EM CONSTRUÇÃO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Trilhos”
Original de minha autoria
Julho de 2025

“Trilhos”. JAS 2025

POEMA – “POEMA EM CONSTRUÇÃO”

MEMÓRIA
Quente
Acordada
Por estímulo
Vagante
Na vida
Desordenada
De um tímido
Amante.

UMA LUZ,
Um som,
Uma aragem
Interior,
Um sobressalto,
Saudade,
Um sonho,
Um encontro
Inesperado
Numa rua
Da cidade.

O CRESCIMENTO
Interior
Na alma
De um poeta,
Uma pulsão
Que resiste
A ser secreta,
Um vai-e-vem
Que não pára
E se expõe
Como sagrado
Em ara.

CAPTÁ-LA
Com palavras
Em movimento,
É missão
Pô-la ao vento,
É música
Em surdina,
É ritmo,
É melodia,
Notas musicais
Mil vezes
Solfejadas
Em busca
De harmonia.

RISCOS E CORES
Desenhados
Com fios
De letras soltas,
Soltar a alma
Ao vento
Em terras
De utopia
Como ondas
Vivas,
Revoltas,
E cheiro
A maresia.

A COMPOSIÇÃO,
O trautear
De palavras
Aquecidas
Pela emoção,
Memória viva
Em busca
De catarse
Das cadeias
Da paixão.

OPERÁRIO
Em construção
É o que é
O poeta
E também
A sua vida,
Entre a penúria
Do real
E a sua
Compensação,
A riqueza infinita
Da beleza
Construída
Como sua
Salvação.

TEMPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Tempo”,
JAS 2025.
Original de minha autoria.
Julho de 2025.

“Tempo”. JAS 2025

POEMA – “TEMPO”

OS POETAS SÃO
Seres
Que vivem
Em solidão
Numa terra
De ninguém,
Foram-se
Todos dali
E quem se foi
Já não vem.

ELES VIVEM
Entre o passado
E o futuro,
Num tempo
Que não existe,
Pois se o passado
Passou
No presente
Já não persiste...
.............
E o futuro
Não chegou.

NUNCA
Se agarra
O tempo,
Ele foge
Para a frente
E também
Foge
Pra trás,
Mas se voarmos
Com ele
Alguma coisa
Nos traz.

TRAZ-NOS
O movimento,
A vertigem
Do futuro,
Sermos rápidos
Como o vento
Em busca
De porto
Seguro.

QUANDO
Voamos com ele
E o passado
Já tem forma
De futuro,
Com palavras
Se decanta
Pra criar
Um tempo novo
Que seja
Um tempo
Mais puro.

UM TEMPO
Que é só nosso
Liberto
Da negação
Onde a alma
Se constrói
Uma nova condição,
Recriando
O seu perfil
Nessa sua solidão.

É o TEMPO
Da poesia,
É o tempo
Da criação,
Se antes
Era só uma
A via, Com o tempo E as palavras Voamos Numa outra Direcção, Movidos Pela fantasia.

O BEIJO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "O Beijo".
Original de minha autoria
para este poema.
Seis de Julho: “Dia Internacional
do Beijo”. Poema inspirado em
"Lotte em Weimar. O Regresso 
da Bem-Amada" (1939), de
Thomas Mann, a obra que continuou
"Werther" (1774), de Goethe, e no
meu Romance "Via dei Portoghesi" 
(2019). Seis de Julho de 2025.

“O Beijo”. JAS 2025

LEITMOTIV

“O amor é o melhor na vida,
assim, no amor, o melhor é 
o beijo – Poesia do amor...”. 
“Beijo é alegria, procriação 
é luxúria”

Thomas Mann

INSPIRADO TAMBÉM EM :

Kafka

“Os beijos escritos
não chegam ao destino,
mas são bebidos pelos
fantasmas ao longo
do trajecto”

Shakespeare

“Se para te beijar devesse,
depois, ir para o inferno,
fá-lo-ia. Assim, poderia
vangloriar-me, com os diabos,
de ter visto o paraíso
sem nunca lá ter entrado”

Bernhardt

“O primeiro beijo não é dado
com a boca, mas com os olhos"

POEMA – “O BEIJO”

BEIJO FOI
O que nunca
Te dei
A não ser
Com o olhar;
O primeiro,
Esse beijo,
Dei-to, pois,
Sem te tocar.

E DEI-TE MAIS,
Com palavras,
Porque sempre
Desejada, mas
Quando olhar
Já não podia,
Foste embora,
Triste, 
Zangada,
E, assim,
Eu não te via.

FORAM BEIJOS
Que sonhei
Na triste rotina
Dos dias,
Desejos
Que enfrentei
Quando tu mais
Me fugias.

AGORA DOU-TE
Beijos
Escritos
Que se perdem
Pelo caminho,
Mas se o poema
Me falta
Fico ainda mais
Sozinho.

O BEIJO
É emoção,
É razão
Descontrolada,
Se não o dermos
A tempo
Pouco mais
Será que nada.

SEM BEIJO Não há amor, Sem amor Perde-se o beijo E perde a vida Sentido Quando dele Falta O desejo. POR ISSO O lanço Ao vento Pra que chegue Como brisa E suave melodia A quem de afecto Precisa Em forma De poesia. ESSE BEIJO Que me falta, De que nunca Fui capaz, Voa pra ti Em palavras Na sua forma Mais pura Para que no seu Trajecto Voe, voe A grande altura E fantasmas Não o bebam... ............. Seja beijo Que perdura. EU SEI Dos escolhos Da via, Dos perigos Que ele corre, Capturado Por fantasmas É um beijo Que me morre. MAS NESTE DIA Do beijo, Da poética Do amor, Eu te canto Em palavras Desenhadas Com a arte Do pintor. E PORQUE O dia é teu Ganha força, Intensidade, Mesmo que Fantasmas O bebam É um beijo De verdade. NÃO HÁ PALAVRAS Que bastem Pra repor O que não dei, Elas voam, Talvez não cheguem, Mas mesmo assim Eu tentei. É CERTO Que sempre O quis, Só que nunca To roubei, A culpa foi Desse tempo, Dos dias em que Te amei, Um tempo Em diferido, Sem presente Nem futuro, Talvez beijo Sem sentido Porque queria Do mais puro, Tangendo Eternidade Às portas Do Paraíso, Um beijo De divindade, Mas simples Como um sorriso. ESSE BEIJO Impossível Que não é do Foro humano Vou tentando Construí-lo Cada dia, Cada ano, Perdendo-me Pelo caminho Como sagrado Em profano.

RITUAIS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Fantasia”
JAS 2025
Original de minha autoria
Junho de 2025

“Fantasia”. JAS 2025

POEMA – “RITUAIS”

IMAGINEI 
Um templo
Revestido 
De vitrais,
Celebrei-te
Com palavras
E com luz
Em singelos
Rituais.

EVOQUEI
O tempo
Em que sempre
Nesse teu olhar
Esquivo
Eu me perdia,
Quando os silêncios
Sobravam
Como se fossem
Castigo,
Por tudo o que eu
Nunca faria.

AGORA É FUTURO
Imaginado
De voluntário
Amante,
Construído
Nas ruínas
De um passado
Que nem é
Muito distante.

É TUDO
O que me resta
Como alimento
Da alma,
Um fervilhar
De memórias,
Inscrições
Sensoriais,
Um silêncio
Que é profundo...
...........
E mais nada,
Nada mais.

RESTA
Um brilho
Coado,
Melancólico,
Cinzento,
O negro
Desses teus
Olhos
E teus cabelos
Ao vento.

TUDO FERVILHA
Na minha sofrida
Memória,
Delicada
Inscrição
De palavras
Com história
Partilhadas
Com paixão.

DOU-TE, ASSIM,
Nova vida
E renovo-me
Também eu,
Falo ao mundo
Comovido
Num poema
Que escrevi
Para te ser
Oferecido
Lá do alto
Do meu céu.

IMAGINEI
Esse templo
Para os meus
Rituais,
Quando regresso
Do meu Jardim
Encantado,
Sempre com algo
Mais,
Todo de cores
Bem vestido
E o corpo
Perfumado,
Mas por dentro
Melancólico
Por te ter
Assim perdido
Nesse tempo
Já passado.

GEOMETRIA DO AMOR

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Triângulos”
JAS 2025
Original de minha autoria
Junho de 2025

“Triângulos”. JAS 2025

Pinto quadros por letras, por sinais
Cesário Verde

POEMA – “GEOMETRIA DO AMOR”

FAZES POEMAS,
Ó poeta,
Como quem
Desenha
Triângulos
Perfeitos
Na geometria
Do canto:
O poeta
Refractário,
A musa
Que o seduz
E a melancolia
Que o leva
A cantar
Para acender
Uma luz...

PORQUÊ
Geometria
Perfeita
Se o amor não
É exacto,
Linear,
Traço puro
De uma sofrida
Emoção
Que só tu
Podes
Cantar
Na mais funda
Solidão?

É PORQUE
A geometria
Te permite
Desenhar
O seu perfil
Ideal,
O rosto
Dessa alma
Que habita
O teu jardim
De cristal?

ELEVA-TE
À perfeição,
Que já não é
Pecaminosa,
Distante
Dessa linha
Tão rugosa
Que descreve
O amor?

POR ISSO,
Quando desenhas
O amor
Como círculo
Perfeito
Ou ângulo do
Número sete
Não é afeição
Que descreves,
É perda,
É já dor
Que se repete.

POR MAIS FIGURAS
Que desenhes
Ou fugas
Que tu encetes,
Linhas
Lá bem no alto
Do céu,
Não encontrarás
O amor,
Mas a projecção
Geométrica
Dessa nudez
Interior
Que espelhas
No teu canto...
...........
Uma perda,
Uma dor,
O teu pranto.

NÃO HÁ AMOR
Num triângulo
Perfeito,
Geometria
Do espaço,
Linhas
Em fuga
De uma rua
Deserta
Que se movem
Em busca
Da perfeição,
Mas sempre
Pra parte
Incerta,
Já longe
Da emoção.

AH, MAS NA COR
Com que o pintas
Com palavras,
Como fonte
De calor
Com que te
Aqueces
A alma,
Nisso, sim,
Tu avistas
O amor
Na palavra
Que te salva.

NAS FACES
Desse cristal
O vês
Em triângulos
De cor
E luz,
Espelhos
Do seu rosto
Em refracção
Que te inspira
E te seduz
Quando pintas
A beleza
E lhe falas
Do destino
A que o poema
Conduz.

TEUS POEMAS
Serão, pois,
Triângulos
De cor
E luz
Que te iluminam
A alma
Onde a guardas
Escondida
Porque
Ainda te seduz...
...........
E não sai,
Já não sai
Da tua vida,
Silhueta
Em contraluz.

CONFIDÊNCIAS DE POETA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Auto-Retrato”
JAS 2025
Original de minha autoria
Junho de 2025

“Auto-Retrato”. JAS 2025

POEMA – “CONFIDÊNCIAS DE POETA”

AGORA POSSO 
Dizer-to,
Sou poeta
De corpo inteiro
(E que feliz
Eu me sinto!),
Ganhei chama
Pra te cantar
De alma cheia
(Sempre que,
Em mim,
Te pressinto),
Pra te chamar
Ao poema
E contigo
Reviver
Uma bela
Epopeia.

AGORA POSSO
Caminhar
Na rua
Do desencontro
Sem medo
De te perder
Numa esquina
Proibida,
Agora posso
Seguir
O que de belo
Encontrar
Nas voltas
Da tua vida...

E TAMBÉM POSSO
Desenhar-te
O perfil
Para te mostrar
Ao mundo,
Ser o rei
Da narrativa
Para nunca
Te perder,
Nem que seja
Um segundo,
Pois tenho
A alma cativa
Lá no fundo
Do meu ser...
.............
Lá no fundo.

SOU ARQUITECTO
Da minha vida,
Feiticeiro
De magias
Inventadas,
Oráculo do meu
Futuro
E poeta
Apaixonado,
Sou um livre
Sonhador,
Na palavra
E na cor
Por ti sempre
Fascinado.

AGORA QUE SOU
Poeta
De corpo inteiro,
Canto tudo
O que eu amo,
No presente
E no passado,
Momentos
De criação
Que o poema
Celebra
Ao trazer-te
Pela mão
Pra voar...
...........
A ti sempre
Abraçado.

AGUARELA DE PALAVRAS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “O Voo da Magnólia”
JAS 2021
(91x115, em papel de algodão,
310gr, e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70, mold. madeira)
Original de minha autoria.
Junho de 2025

“O Voo da Magnólia”. JAS 2021

POEMA – “AGUARELA DE PALAVRAS”

EU CANTO
Esses teus olhos,
Sua luz
E sua cor,
Translúcida
Como o mel;
O pintor,
Que é poeta,
Desenhou-os
Com um secreto
Pincel
Que era
(Como tu sabes)
Uma modesta
Caneta.

PALAVRAS
Leva-as
O vento,
Mas se beijam
Os teus olhos,
Sua cor
Imaculada,
Iluminam
O teu rosto
Como o sol
A madrugada.

AGUARELA
De palavras,
Galeria
De um só rosto,
O pintor
Que é poeta
Deixou
Nas nuvens
Do céu
Uma mensagem
Discreta
Desenhada
A teu gosto... TUA BOCA É carmesim Ao rubro Desta paixão, Teus olhos São energia Em intensa Combustão, Bem cá dentro, Em sintonia, No berço Da emoção,
Na raiz Do meu poema E da pintura Do voo Até à tua Janela, Eco Do teu silêncio Devolvido Em palavras Com as cores De uma aguarela”.

ANDORINHAS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Ninho em Construção”
Original de minha autoria
Junho de 2025

“Ninho em Construção”. JAS 2025

POEMA – “ANDORINHAS”

É PRIMAVERA,
Há cerejas
Pra colher
E cores vivas
Que deslumbram,
A natureza
Renasce,
Andam
Aromas no ar,
Andorinhas
Fazem ninhos
Porque é tempo
De criar.

FAZEM CASAS
Para os filhos
Nos telheiros,
Nos terraços,
Nos beirais,
São abraços
Maternais
Para o voo
(E tudo o mais)
Na imensidão
Dos céus
Que beijam
Esta montanha
Onde as vejo
Passar.

E EU
(Vejam lá)
Fui encontrar
Um ninho
Em construção
No terraço
Da Casa-Mãe
Sobre a luz
Que o ilumina:
Uma luz
Iluminada
Por vida
De andorinha
Como magia
De fada.

ESVOAÇAM
No terraço
Na azáfama
Do ninho
Que está
Em construção,
Um vai-e-vem
Sempre atento
Por um amor
Denodado
E cuidada
Precaução.

VEJO A VIDA
 Que nasce
Em azáfama
Maternal
Prà ventura
Que espera
Essas filhas
Voadoras
Em tempo
De primavera,
Esse tempo
Seminal.

E EU AQUI,
Seu vizinho,
A assistir
À labuta
Sem cansaço
E ao despontar
Do milagre
Na parede
Do terraço.

AINDA ME DIZEM
Que uma andorinha
Não faz
A primavera,
Mas estas fazem,
No terraço
E até na minha
Vida,
Fico leve
Como elas
E já nem sinto
O cansaço
De estar sempre
De partida.

VESTIDA DE CORES E DE LUZ

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Retrato”,
JAS 2022
(68X80, em papel de algodão, 
310gr, e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70, mold. de madeira).
Original de minha autoria.
Maio de 2025.

“O Retrato”. JAS 2022

POEMA: “VESTIDA DE CORES E DE LUZ”

VESTES CORES
Garridas
No palco
Do mundo
Em danças
De luz
Como quem grita
A beleza
Que levas
Dentro de ti...
..............
Beleza
Que me seduz,
Beleza
Que me sorri...

COBRES-TE DE TI
(Eu bem sei),
Agasalhas
A alma
E para mim
Sorris,
Repetindo
O teu rosto
Ao longo
Do tempo
Em tantos
Perfis.

DIZES-TE
Em arte,
Com aura,
Inspiração,
Num jogo
D’espelhos
Que me sabe
A sedução.

MAS DEPOIS
Regressas a ti
No fim
Desse sonho
Que te levou
Ao paraíso.
É a queda
De um anjo
Na rotina
Do viver
Onde lhe resta
A leveza
De um sorriso
Pra que possa
Renascer.

E EU SIGO-TE
E voo
Com poemas
Feridos
De cores vivas,
Ao rubro,
Versos roucos
De tanto te
Repetir
Cá de longe
Nesta triste
Melodia
Feita de
Murmúrios
De alma,
De doce
Melancolia
E de tentado 
Sorrir.

NÃO IMPORTA
Que a fuga
Para a boca
De cena
À procura
De autor
Que te conte
Ao mundo
Seja fuga
De ti própria
Para a luz
Da ribalta...
..............
Não m’importa,
Porque assim
 Já é luz
Que não me falta.

EU GOSTO
De te ver assim,
Luminosa,
Oficiante
Desse rito pagão
Que celebra
A arte
E a liberdade,
Qual pregão
A convocar
Para a festa
Da vida...
............
Para a festa
 Da saudade.

AH, COMO GOSTARIA
De te rever
Na praia
Da meia-lua,
No baile
Da meia-noite,
Em diálogo
Silencioso
Com luar
De lua cheia,
Cintilante,
A iluminar
Em pleno,
Lá de cima,
O teu rosto
De sereia,
A minha alma
De amante...

VOZES

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “A Voz”
Original de minha autoria
18 de Maio de 2025

“A VOZ”. JAS 2025

POEMA – “VOZES”

O POETA
Ouve vozes
E diz
De si para si
“Vozes de burro
Não chegam
Ao céu”;
Mas no meio
Dessas vozes
Há uma
Que lhe segreda:
“O caminho
A trilhar
Não é esse,
É o meu”.

FICA CONFUSO
O poeta
Pois gosta
Muito das vozes
Que vêm
Lá do alto
Do céu,
Que inspiram
Seus poemas
E nada
Lhe pedem
Em troca,
Nada lhe pedem
De seu.

ELE OUVE
A vozearia
Dos feirantes
Da verdade,
Por isso finge
Afasia
Porque neles
Não há
Vontade...
...........
Nem sequer
Biografia.

SOBE AO MONTE,
Desce ao vale,
Invoca a deusa,
Inspiração,
Mas nada encontra
Que o ajude
Na difícil
Decisão.

O QUE OUVE
São vozes
Que ao céu
Não chegarão.
Não são boas,
Essas vozes,
Porque nelas
Só encontra
Vã conversa
E altiva
Presunção.

MAS A VOZ
Que lhe sussurra
O caminho
A seguir,
Dizendo
Que vem do céu,
É a voz
Maliciosa
De um perfeito
 Filisteu.

E POR ISSO
Lhe responde
Em velada
Confissão:
“Eu não vou
Pelo teu caminho,
É melhor que vá
Sozinho
Numa outra
Direcção”.

E ASSIM O POETA
Cumpre
A missão
Que escolheu:
Segue
O caminho oposto
Ao da voz
Do Filisteu.

O JASMIM

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Rapsódia”
JAS 2025
Original de minha autoria
Maio de 2025

“Rapsódia”. JAS 2025

POEMA – “O JASMIM”

FLORESCEU O JASMIM,
Dele jorra poesia,
Embriaga,
O seu aroma,
Esparso
Pelo jardim,
E liberta
A fantasia.

DOU ÀS PALAVRAS
A cor
E o seu perfume
Ilumina,
Bate o sol
Nas suas pétalas,
É luz intensa
Que brilha
No poema que
Germina.

JÁ NÃO É SÓ
O loureiro,
Agora canto
O jasmim,
É tão vivo
O seu perfume
Que transborda
No jardim.

INUNDO-ME
Também eu
De palavras
Com perfume,
Canto a cor,
Invoco a musa
Para subir
Ao seu céu,
Do perfume
Levo o sabor
Que também é
Um pouco meu.

SOU ÍCARO
Lá no alto
E se o sol
Me incendeia
Por voar
Em altura
Proibida
Caio logo
Do poema
No chão frio
Desta vida.

PEÇO AJUDA
Ao jasmim,
Volto a subir
Com alegria,
Lá no alto
Eu renasço
E regressa
A poesia.

E VOLTO
A encontrar
O jasmim
Mesmo ao lado do
Loureiro,
Respiro fundo
Os aromas
E torno-me
Seu jardineiro.

E ASSIM EU VOU
Vivendo
No jardim 
Da minha vida
Em poemas
E pintura...
....................
E quando a tristeza
Regressa...
Que seja esta
A cura.

AS PALAVRAS ESCONDIDAS NOS TEUS RISCOS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “O Jardim e a Janela”
(JAS 05.2025)
Original de minha autoria
Maio de 2025

“O Terraço e a Janela”. JAS 2025

POEMA – “AS PALAVRAS ESCONDIDAS NOS TEUS RISCOS”

ENCONTRO-TE
Sempre
Num acaso
Marcado
Pelo destino,
Olho-te
De frente
Só com palavras
E afago
As tuas mãos
Nos traços
Com que desenhas
O infinito.

ÀS VEZES
Olho-te nos olhos,
Em silêncio,
Com palavras,
Sempre com
Palavras,
Em surdina,
Timidamente,
Com um brilho
Interior
Que não se vê,
Mas se pressente.

AH, COMO GOSTO
Desse teu rosto,
Linha de arte
Saída de ti,
Subtil,
Desse sorriso
Cúmplice,
Que inebria,
E do teu perfil,
Que alumia.

DIGO-TE
Palavras,
As do momento,
Sobre o sol
Ou sobre a chuva,
Sobre as nuvens,
Sobre o vento...

E SINTO-TE
Como quando
Te vi
Pela primeira vez
Do meu jardim
Sem te revelar
Que fugiria contigo
Da rua proibida
Para o abrigo
Da poesia
Onde te fui
Encontrar.

SE TE PERCO,
Chega, rápida,
A saudade
Que já espreitava,
Dorida,
Nesse teu olhar
De eterna
Despedida,
A sonhar.

ENTÃO ENVIO-TE
Sinais
E construo,
Palavra a palavra,
Um longo poema
Com coisas
Que parecem
Triviais.

SE NÃO FOSSE POEMA
Temeria o excesso
De palavras
E perder-te
De vez
Nas tuas fugas,
Nesses voos
Sobre as aguarelas
Com que agarras
Os céus
Da tua alma.

E EU FICASSE
Como folha branca
Caída,
No outono
Do meu afecto,
Do desejo
De sonhar,
E deixasse
De fazer riscos
À procura
De palavras
Que podiam
Nunca chegar...

MAS, POR ISSO,
Continuo
A procurar-te
Na arte,
Nas palavras,
Nas curvas
Apertadas da vida
Que estão cheias
De poesia
E de ti,
Daquilo que nunca
Será dito,
Mas vivido
Nesse intervalo
Onde as palavras
Se aninham
À espera do tempo
Que já se foi
E não volta
Nunca mais.

A PORTA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Minha Aldeia”,
JAS 2024.
Original de minha autoria,
oferecido à Junta de Freguesia,
juntamente com os 10 Retratos dos
Presidentes de Junta, desde 1948,
em 27 de Abril de 2025

“A Minha Aldeia”. JAS 2024

POEMA – “A PORTA”

OLHO A MONTANHA
Da minha porta
De granito
Amarelo
(O de sempre,
Muito belo,
Com cristais)
Sobre as telhas
Do sobranceiro
Telhado
Como se fosse
Janela
Do meu palácio
Encantado
(Que do sonho
É o cais).

DELA CONTEMPLO
A aldeia,
Mas é diferente
A visão,
Antes, eu via futuro,
Agora, vejo passado,
Mas é bela
A sensação
De a ter sempre
A meu lado.

ENTRE PASSADO
E futuro
Garantiu-me
Identidade,
Ficou quieta
À minha espera
Quando dela
Eu parti
Pra descobrir
A cidade.

A FRONTEIRA
Foi sempre
O azul profundo
Do céu,
Espelho
Da minha errância,
Um horizonte
Sem fim,
Projecção
Da fantasia,
Sem medida
Nem distância.

ELA É PORTO
De abrigo
E é lugar de
Partida,
É fronteira
Que atravesso,
É lugar
De despedida.

MAS HÁ SEMPRE
Um retorno,
Um regresso
Renovado
Onde posso
Renascer
Quando visito
A memória
Do que não
Quero perder.

DESTA PORTA
Vejo a aldeia
E logo viajo
Por ela,
Dou asas
À fantasia
Como se fosse
Janela
Donde voo
Com o vento
Soprado
Pela magia,
Por tudo aquilo
Qu’invento.

E DELA VOEI
Para o mundo
E o mundo veio
Até mim,
Mas quando passei
Esta porta
Já era um mundo
Sem fim...

POR ISSO
Regresso a ela.
Quando chego,
Logo amanhece,
Mas quando parto
Não entardece
Nem sinto
A despedida
Porque dela eu vejo
O mundo
Como a montanha
Da vida.

“A Montanha Encantada”, JAS 2022

A FONTE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “A Fonte”
Original de minha autoria
Abril de 2025

“A Fonte”. JAS 2025

POEMA – “A FONTE”

VENHO AGORA
De lá,
De alma cheia,
Venho
Dessa torrente
Gelada
Que corre
Pela encosta,
Em cascata
Ritmada,
Esse rio
A brotar
Lá do alto
Da montanha,
Sem nunca,
Mas mesmo nunca,
Parar
Quer eu venha
Ou não venha,
Com chuva
Ou a nevar.

MAS VENHO AGORA
De lá,
Trago-a sempre
Comigo,
A lembrar-me
Tempo antigo
E o rio
Que lá corre,
Ao fundo
Desse meu vale,
Ao fundo
Do meu abrigo.

ÁGUA FRIA,
Água antiga
Que me aquece
A alma,
Onde ficou
Registado
Esse frio seminal
Quando ela
Me visitava,
Essa alvura
Glacial.

FICOU-ME
Na memória
Como tempo
Juvenil
Que não volta
Nunca mais,
Verdes anos,
Inocente
Aventura
Quando à noite
Eu procurava
Os pardais
Aninhados
E com frio
Sob as telhas
Dos telheiros,
Sob as telhas
Dos feirais,
Inocente desafio.

OU A CAÇA
Aos coelhos
Sob a brancura
Da neve
Sem consequências
De mais
Porque nunca os
Encontrava
Nas caçadas
Inventadas,
Como a caça
Aos pardais.

E ESSES BONECOS
Tão brancos,
Toscas
Esculturas
De quem não sabe
Esculpir
Com a beleza
Da neve,
Essa forma
De sorrir
Tão cintilante
E tão leve.

TRAGO TUDO ISSO
Comigo
Quando visito
A fonte
À procura
Do passado
Que não volta
Nunca mais,
Mas ali
Eu sempre o sinto
Como se ela fosse
Desde sempre
O meu cais.

UM PASSADO
Inocente,
Animado
Pela neve,
Mas que hoje
É tão pesado
Como antes
Era leve.

TEMPO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Musa"
Original de minha autoria
Abril de 2025

“Musa”. JAS 04-2025

POEMA – “TEMPO”

OLHEI-TE NOS OLHOS
E eram negros,
Intensos
E tão profundos,
Toquei teus cabelos
Com o olhar,
Caminhei a teu lado
Nesse jardim
E, então, senti
Tão perto de mim
O teu corpo
A respirar
O acre perfume
Dessa ramagem
Do vasto jasmim...
..............
E logo aprendi
A sentir-te melhor
Com o meu olhar.

INEBRIOU-ME
O intenso
Aroma
Do belo jardim
E enredei-te
Num tão doce
Enleio
Que até parecia
Nunca mais ter fim.

BRILHARAM ALI,
Nesse meu jardim,
Tão docemente,
Duas horas inteiras,
Esses teus olhos...
.................
E neles me perdi.

ESTIVE NO CÉU
Ao lado de Deus
E lá vi dois sóis
Que não eram dele
(Uma luz intensa)
Porque eram teus.

MAS O TEMPO
Corre
Depressa demais
E é sempre assim,
Todos os dias
Se tornam iguais
Quando tu te vais
E, em nostalgia,
Eu fico no cais.
                                                            
VOLTEI A OLHAR-TE
Três horas seguidas
(Parecia verdade),
Mas era ilusão,
Porque tu partiste
Deixando-me só
E o que sobrou
Foi a solidão.

SUBIU A TRISTEZA
A saudade irrompeu
Colou-se-me
Ao rosto...
............
E como doeu!

SE EU NÃO TE VEJO
Sinto
Falta de ti,
Mas se te encontro
Logo te perco
Porque o tempo
Voa
E logo te leva
Pra longe dali.

TER-TE DEMAIS
Aumenta a saudade
E quando te vais
São negras
As nuvens
Da nossa cidade
E é muito triste
A tua partida
Lá do nosso cais
(É mesmo verdade).

MAS MESMO QUE TRISTE
Até sou feliz
E com estas mãos
Te vou escrevendo
O que quero dizer...
Mas o tempo
Volta de novo
 A correr
E cresce a vontade
De logo te ver
Mesmo que saiba
Que é nesse instante
Que te vou perder.

TENHO SAUDADES,
Saudades de ti,
Desse virar
Da nossa esquina,
Nessa mesma rua
Onde eu te vi,
Dessa janela
De onde espreitámos
O que do mundo
Sobrava pra nós...

EU JÁ NEM SEI
Que hei-de fazer,
Ter-te demais
É puro prazer,
Mas quando te vais
Fico a morrer.

NEM SEI
Que te diga
Ah, meu amor,
Quando tu me deixas
Já nem sinto dor
Tão grande 
A tristeza
De já não te ter
Pois logo partiste
Mesmo sem querer.

OLHEI-TE NOS OLHOS
Mas já não estavas
E o que eu vi
Foi a imagem
Que tu me mostravas
Quando sentias
Que era tão grande
Essa minha dor
E é mesmo por isso
Que aqui estou
A escrever-te
Este meu poema...
..................
Como prova de amor.

VOAR

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Pássaro de Fogo”
JAS 2025
Original de minha autoria
Abril de 2025

“Pássaro de Fogo”. JAS 2025

La palabra es 
un ala del silencio
Pablo Neruda

POEMA – “VOAR”

APETECE-ME VOAR
Sobre o seu silêncio
Com asas
Que são palavras
Em busca
Do parapeito
Da sua bonita
Janela
Onde eu possa
Pousar...
............
Nesse lugar
Que é só dela.

APETECE-ME VOAR
Sobre o silêncio
Sempre, sempre
Insinuado,
Pois na minha
Solidão
Logo cresce
A fantasia
E no voo
Das palavras
Vai um poema
Alado
Com a sua
Melodia.

E O VOO
Prossegue
Sempre
No azul profundo
Do céu
Até que eu sinta
O seu eco,
A ressonância
Em mim
De tudo aquilo
Que é seu.

COM AS ASAS,
Que são palavras
(Era Pablo
Que o dizia),
Voarei
Sobre o vale da
Sua vida
E lá de cima
Verei
O seu caminhar
Distraído.
Por isso,
Lhe mostrarei
Um caminho
Com sentido.

E, AGORA,
Que o pintei,
Também tenho
Um mensageiro
Que pode levar,
Com o vento,
Em viagem
Programada,
As cores
Com que a pinto
Pra que logo
As derrame
Na janela
Desejada.

MAS NÃO SERÁ
Preciso
Abri-la
Porque ele não
Entrará
Para não incendiar
O seu corpo
Com a minha
Fantasia,
Com o fogo
Que ele leva
Em forma
De poesia.

QUERO VOAR
Sobre o silêncio
Até à sua janela,
Mas se não
A encontrar
Crio outra
Mais bonita...
..............
Como se fosse
A dela.

É ESTE O MEU
Destino,
Pintar
Com cores
E palavras
Tudo aquilo
Que já não tenho,
Recriando
A minha vida
Como se fosse
Um desenho.

O POETA, A MUSA E O JARDIM

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “O Jardim”
Original de minha autoria
Março de 2025

“O Jardim”. JAS 2025

POEMA – “O POETA, A MUSA E O JARDIM”

ENCONTREI-TE
De novo
No meu jardim
Onde esta arte
Nasceu
E das cores
Que lá havia
E por dádiva
Dos céus
Ou brilho
Da tua estrela
Logo meu estro
Cresceu;
Subi, então,
Ao Parnaso
E teu rosto,
Por milagre,
Em palavras
Renasceu.

NESSE JARDIM
De mil azáleas
E de exuberante
Jasmim
Havia inebriantes
Aromas
E matizes
Num sem-fim.

HAVIA CORES
Em seda pura
Que brilhavam
Como se fossem
De exuberante
Pintura,
Havia verde,
Vermelho,
Amarelo
E lilás,
Todas as cores
Do meu gosto
Para com elas
Pintar,
Em moldura
De arco-íris,
A beleza
Do teu rosto.

A VIDA
Vem é daí,
É arco-íris
Que se pinta
Com a alma,
É alquimia,
É luz intensa
Que fascina,
É pauta
Onde escrevo
As notas
Da melodia
Que te canto
Em surdina.

INEBRIO-ME
Com as sete cores,
Vou atrás delas,
Imparável,
A voar,
E o mundo
Fica pra trás
Na vertigem
De te encontrar
Lá no alto,
Lá no céu,
Para contigo
Dançar
Um poema
Que é só teu.

ÉS COR,
És risco,
És traço,
És nuvem
Branca
Que se esfuma
No azul profundo
Do céu
Esse mar
Que eu navego
Como se fosse
Só meu.

VIESTE
Do jardim
Onde cresceste,
Trazias flores
Impressas
Nessa tua
Pele macia,
 Mas as cores
Eram tão vivas
Que nelas
Eu me perdia.

E DISSESTE
Com carinho,
Com esse olhar
Tão seguro,
Que me querias
E sentias
Com afecto
Do mais puro.

E, DEPOIS,
Lá regressaste
Ao jardim,
Levando-me
Pela mão,
Com brilho
No teu olhar...
E eu deixei-me ir
A teu lado
Tão feliz
E fascinado
Simplesmente
Por te amar.

TIMIDEZ

RETRATO DE UMA MUSA
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Timidez”, JAS 2023
(71x88, pintura digital, impressão 
giclée em papel de algodão, 310gr, 
e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70,
Mold. de madeira). Março de 2025

“Timidez”, JAS 2023

POESIA – “TIMIDEZ – Retrato de uma Musa”

NUM DIA
De primavera
(Ou d'inverno,
Já nem sei),
Cruzei-me
Com a timidez
Impressa
No seu rosto
De mulher
(Disfarçada
De altivez).

PÂNICO
De luz excessiva
E pavor da melodia
Que provocava
Os sentidos
De quem nunca
A ouvia.

A VOLÚPIA
(Proibida)
Que ameaça,
Incendiada,
Uma alma
Seduzida.

CRUZEI-ME
Com o mistério,
Ali mesmo
A meu lado,
Enigma puro
De quem se sente
Seguro
Num mundo
Por demais
Sinalizado.

DEPOIS VEIO
O silêncio,
Aquele que quase
Nem eco tem;
A palavra
Vai a caminho,
Mas o eco
Já não vem.

CRUZEI-ME
Com a recusa
Do corpo,
Envolto
Nesse cinzento
Fatal,
Com fuga
Já programada
À sedução
Sensual.

CRUZEI-ME
Com ela
Num dia de
Primavera
(Ou d'inverno,
Já nem sei)
E tudo
Me fascinou:
Mistério
E timidez,
Opacidade
Do corpo
E temor da
Melodia,
O silêncio
Reiterado
Dos que não
Sabem amar
Os que estão
Sempre a seu lado
E quem neles 
Sempre confia.

MAS NO FIM,
Na primavera
(Agora sim),
Encontrei
A poesia
Para com ela
Falar,
Para a ver
Em fantasia
E até com ela
Voar...

FIZ MINHAS
As palavras
Que eram suas,
Mas que se
Recusava
A dizer,
Ouvi ecos
Do silêncio
Quando me disse
“Olá!”,
Simulando
Aquiescer.

IMAGINEI-LHE
O corpo nu
A tiritar
Do afecto
Que não sentia,
Interpretei
O silêncio
No oráculo
Seminal
E compus versos
De amor
Nos dias
De ritual.

FOI ASSIM
Que a encontrei,
Ofereci-lhe
Essa palavra
Que ela nunca
Admitia,
Dita sequer
Uma vez,
Mas eu,
Com palavras
Proibidas,
Reconstruí
O afecto
De que sempre
Ela fugia,
Por excesso
De timidez.

O POETA-PINTOR

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Perfil de Musa”
JAS, 2023 (63x78, pintura digital, 
impressão giclée em papel de algodão, 
310gr, e verniz Hahnemuehle, 
Artglass AR70, em mold. de madeira)
NO DIA MUNDIA DA POESIA, 2025

“Perfil de Musa”, JAS 2023

POEMA – “O POETA-PINTOR”

O POETA BRINCAVA
Com suas palavras,
Cantava-a sempre
Quando não estava...

ERA UM POETA,
Era fingidor,
Não a desenhava,
Cantava-lhe
A cor.

MAS AS SUAS CORES
Eram só poemas,
Fazia pincel
Da sua caneta.
Enquanto poeta,
As letras riscava,
Mas a sua tinta
Já não era preta...
...............
Escolheu a cor,
Pintar a palavra.

POR ISSO COMPROU
Um belo pincel
E como pintor
Pintava, pintava,
Era a granel,
E a sua tela,
Que ele adorava,
Já não era só
O velho papel.

DESCOBRIU A COR,
Que o fascinou,
Dourado, vermelho
E tanto amarelo,
Tudo ele pintou,
Procurando sempre
O que era belo.

ATÉ QUE O ENCONTROU
Na cor dos
Seus olhos,
Era luz da pura
Que iluminava
O novo papel
Onde desenhou
O seu fino rosto
Com o seu pincel.

DEU CORPO À COR
Com que a dizia,
As suas palavras
Tornaram-se linhas
Desse seu perfil
Que ele desenhava
Com a poesia,
Em versos
Que eram muito
Mais de mil.

PINTAVA-LHE O ROSTO,
Pois os seus poemas
Já não lhe chegavam,
Pintor de palavras
De cor as compunha
E versos voavam
No azul do céu...
.................
“O que tu fazias,
Faço agora eu”,
Dissera-lhe um dia.

“PORQUE SOU POETA,
Deixaste-me só,
Entregue à palavra,
E, eu, tão pobre de ti,
Porque sou pintor
Pra me resgatar
Pintei-me de dor
E subi ao céu
E pus-me a voar.”

FUI AO ARCO-ÍRIS
A ver se te via
Atrás duma cor.
Pintei o teu rosto
Para um poema
Que hei-de escrever
Com todas as cores
Que trago comigo
Enquanto viver”.

O POETA BRINCAVA,
Mas era tão séria
Essa brincadeira
Que, perdido
Em palavras,
Encontrou a cor
E nos seus poemas
Dela fez bandeira.
Era um poeta
Mas também pintor.

CONFISSÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Epifania”, JAS 2023
(79x82, em papel de algodão, 310gr,
e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70,
mold. de madeira). Março de 2025

“Epifania”. JAS 2023

POEMA – “CONFISSÃO”

TARDO
A encontrar-te
Porque não sei
Como procurar-te
Levado
Por um poema.

NÃO É
A minha vontade,
Mas o destino
A marcar
Os passos
Que darei
Ou que nunca
Ousarei,
Nesta estreita,
Mas sedutora,
Vereda
Da minha vida.

E TU SABES
Que não sei,
Mas sabes
Por onde andei
A perder-me,
À procura do que
Não podia ter,
Para preservar
Afectos remotos
Que um dia 
Eu pudesse
 Reviver.

ÀS VEZES
Encontrava-te,
Encontros fugazes,
Onde o teu brilho
Cegava por fora
Mas iluminava
Por dentro.

MAS NÃO SEI
Se ainda te quero
Para nunca
Te ter,
Sentir saudades
Logo ao amanhecer
Do perfume
Da aurora,
Quando te reencontro
Na memória fresca
Dos afectos
Iluminados
Pelo raiar
Dos dias.

MAS EU GOSTO
Destes encontros,
De viajar
À procura
Do que em mim
Sobra de ti,
Itinerâncias
De um transeunte
Que se observa
Num espelho
Onde se vê
Por dentro
A olhar-te 
Por fora,
À espera
Do próximo
Estremecimento,
Que nunca,
Nunca demora.

AH, COMO ME ENCANTA
Esse véu
Que te cobre
Os cabelos negros
Quando te pinto
Com palavras
E te vejo nua
No meu espelho,
Com a alma
A tiritar,
À mercê
Dos imprevistos
Que te marcam
Como sulcos,
Cicatrizes ásperas
Da vida.

MAS EU PROCURO-TE
Com olhar
Comprometido
E acolhedor,
Perscrutando-te
A alma pura
Que se aninha
Em ti
Para te proteger
Do risco da beleza
Exposta
Como fractura,
A que vi quando,
Pela primeira vez,
Eu te sorri.

TALVEZ A PENUMBRA
Do sonho
Te sirva de véu
E te cubra
As cicatrizes da vida,
Te amacie a pele
Encrespada
E te devolva
Como mulher
Desejada...
................
Para além do bem
E do mal.

MAS EU NÃO SEI,
Tenho medo
Dos sobressaltos,
De ser atropelado
Na esquina
De um inocente
Jogo sedutor
Que me cative 
A alma já em fuga
Para o infinito,
Onde se cruzam,
Intermitentes,
Os nossos olhares.

TARDO A ENCONTRAR-TE
No bulício
Dos nossos dias
Reconstruídos
Com a fantasia
Até que no amanhecer
De um poema
Me cruze contigo
E te diga
Com olhar
Submisso
E melancólico:
Continuarei
A procurar-te
Onde já não estás,
Levado pelo destino
E pelo vento
Que passa.

MIRAGEM

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “A Outra Janela”
JAS 2025
Pintura de minha autoria.
Março de 2025

“A Outra Janela”. JAS 2025

POEMA – “MIRAGEM”

EU, DESTA JANELA,
Já não te vejo
Como na outra
Te via,
Há um caminho
A trilhar,
Uma miragem
Que exorta
A fantasia,
Mas não sei
Onde me pode
Levar...

SÓ SEI QUE
Parto,
Com o olhar,
De um jardim
Verdejante
Onde as camélias
Aludem
A um incerto
Destino
Que se adivinha
Errante...

DAQUI VEJO
Uma rua
Com uma forma
De rio,
Um traçado
Sinuoso
Por entre o casario,
Marcas
De passos remotos
Em granito
Amarelo,
Um longo caminho
De afectos,
Muito denso,
Mas singelo.

É OUTRA JANELA,
Virada
Para a montanha,
Onde se fixa
O olhar...
Mas dela,
A nascente,
Com o sol
A despontar,
Chega uma luz
Que encandeia
De tanto ela
Brilhar...

É A INTENSA
Luz do dia
Que me convida
A viver...
.........
Mas como
Poeta que sou,
Viro-me pra
Dentro mim
(Recorrente
Timidez)
Pra ver uma luz
Brilhar
Que me ilumine
De vez...
...........
E sem nunca
Me cegar.

ENTENDES?
O mundo,
Quando acorda,
A nascente,
E entardece,
A poente,
Muda de cor
E de luz,
Mas à noite
Vai-se embora
E eu vejo
O seu ocaso,
Seja por dentro
Ou por fora.

MAS, A TI,
Oh, a ti,
Eu vejo-te
Sempre a sul,
Entre nascente
E poente,
Vejo-te no horizonte,
Como estrela
Cadente,
A passar,
Iluminando
O caminho
Quando me ponho
A voar.

TUDO DEPENDE
Do olhar,
Bem sei.
Se não te vejo
Da janela
Sinto que voas
Comigo
Nas palavras
Com que,
Há muito,
Te celebro
E te digo.

MAS NÃO É
A tua,
Esta janela,
Porque nela
Te poderia ver
Lá do alto,
De um lugar
Que não é meu,
Porque aquela
Era janela
Que nunca
Me pertenceu.

EU CANTAVA-TE
Lá de baixo,
Desse meu lado
Da rua,
Por vezes,
Com alma cheia,
Outras,
Com alma nua,
Pra me poder
Vestir de ti,
Como se,
Assim vestida,
A alma
Não fosse minha,
Mas tua,
Pondo fim
À despedida.

MAS PERDI-TE,
Como sabes,
Porque não tinha
Escada
Para te alcançar...
E, agora,
Há camélias,
Por aqui,
Há flores
A encantar,
Um luminoso
Jardim
Que pode mesmo
Ser pra ti
Porque o posso
Regar.

E ATÉ HÁ
Uma escada...
..............
Mas só pra ver
Mais além
E voar
Com o olhar
Para uma ilha
Encantada,
Contigo
E mais ninguém.

MARÇO

Poema de João de Almeida Santos
Pintura: “Evocação de uma Magnólia”
JAS 2021 (98x126, em papel de algodão,
310gr, e verniz Hahnemuehle, Artglass
AR70, em mold. de madeira)
Original de minha autoria
Março de 2025

“Evocação de uma Magnólia”. JAS 2021

“MARÇO”

"MARÇO: um pouco chove
e logo deixa de chover:
volta a chover, pára,
ri o sol com a água.
Ora um céu celeste,
ora um ar escuro e negro:
ora tempestades d’inverno,
ora um ar de primavera.
Um pássaro com frio
espera que o sol espreite:
na terra ensopada suspiram
as violetas...
Catarina! Que queres mais?
Entende-me, meu amor!
Março, sabes, és tu,
e este pássaro sou eu"

“Arietta” (1898) do poeta
napolitano Salvatore di Giacomo,
(1860-1934).

POEMA – “MARÇO”

EU GOSTO DO MÊS
De arço
(Que está a começar),
Gosto do frio
Que sobra
(O inverno
A declinar)
E da neve
Que me chama
Quando a vejo
Lá no alto,
Lá no topo
Da montanha.

E GOSTO MUITO
Deste mês
Porque traz
A primavera
E a magnólia
Branca
Que acena
Ao passado
E ao tempo
Que aí vem.
...........
Auspicioso
Futuro
Saído
Da Terra-Mãe.

E ASSOMAM
As flores
E os cheiros
No jardim
E renasce
A natureza
Quando volta
Proserpina...
..........
E eu fico
Sempre feliz
De ver
O loureiro
Crescer,
Apontando
Para o céu
Como quem
O ilumina.

TAMBÉM VOLTA
A cameleira,
Anúncio
Do tempo novo
Com o branco
Cintilante
Que me fascina
O olhar
E anuncia
A magnólia
Que chega
Sempre
Despida
E me convida
A ficar.

AH, COMO EU GOSTO
De Março
Mês híbrido,
Mês meu,
Intervalo
Auspicioso
Do veloz
Tempo
Que passa,
Ponte
Que atravesso
Quando espero,
Confiante,
Que a natureza
Renasça.

AH, SIM,
Mas eu sou
Pássaro
Friorento,
Sempre, sempre
A suspirar,
Quando o sol
À minha alma
Insiste
Em não chegar...

MAS MARÇO
É ponte,
É transição,
É esperança,
É passado
E é futuro
E há sempre
Uma mulher
(Sentimento
Do mais puro)
Por quem o poeta
Espera
Às portas
Do seu desejo,
Às portas
Da Primavera.

ENSAIO POÉTICO

PARA UM DIA DE ANIVERSÁRIO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Fascínio”, JAS 2023
Original de minha autoria
(68x88, em papel de algodão, 310gr,
e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70
em mold. de madeira)
Fevereiro de 2025

“Fascínio”. JAS 2023

POEMA - "ENSAIO POÉTICO
Para um Dia de Aniversário"

HOJE NÃO VOU
À cidade,
Neste dia
Deste mês.
No fundo,
Era o que
Queria,
Mas eu disse
Aos meus amigos:
 "Vão vocês".

COMIGO
Não tem de ser,
Mas hoje
(Sei muito bem)
É o seu dia,
Por isso quero
Alertar:
“Esquecê-lo
Não convém,
É festa
Com autoria,
Não se deve
Desertar”.

É FESTA
Por todo o lado,
Há champanhe,
Bolo-rei,

É um dia
Abençoado
Pra brindar
Com poesia.
Eu faço o melhor
Que sei:
Ofereço
A melodia.

FICO EM CASA
(Não posso ir),
Mas sai poema
E também ilustração,

Dedico-os
À minha Amiga,
São prendas,
São sinais 
De afeição.


ADMIRO-LHE
A beleza

E a força
De vontade,
A vê-la no
Instagram
É a deusa

Da cidade.

FAZ ISTO
E mais aquilo,

Sempre, sempre,
A correr,

Esteve ali,
Já não está,
Tinha muito
Que fazer...

MAS QUE IMPORTA
O que faz
(Dizem-me
Os meus amigos),
Não é hoje
O seu dia?

Dá-lhe lá
Os parabéns

E festeja
Os seus anos,
Partilha
Da sua alegria.

ESTÁ BEM
(Respondo eu),
Vou festejar,
Vou fazer-lhe
Companhia,
Com ternura,
Cantando-lhe
Os parabéns

Com a minha poesia...
.............
E com uma bela
Pintura.

CARA AMIGA,
 Parabéns,

Que o seu dia
Seja brilhante,
Luminoso
Como o sol,

Pra de si
Sermos reféns

Como barco
De farol.

CANTE, DANCE
Com os amigos,
Acenda, à noite,
A lua,
Pum!,
Salta a rolha
Do espumante
E vão todos
Para a rua,

Será uma noite
Brilhante

Porque a festa
Será sua.

NOS ANOS
Da minha Amiga
É isto que mais
M’interessa,

Celebrar

A sua vida
Como futura
Promessa.

POR ISSO,
Aqui lhe deixo

Um abraço
De amizade.

Viva, viva,
Neste dia,
Festeje bem
Na cidade,
Festeje 
Com poesia.

A NEVE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Neve e a Montanha”
JAS 2025
Original de minha autoria
Fevereiro de 2025

“A Neve e a Montanha”, JAS 2025

POEMA – “A NEVE”

EU SINTO
A falta da neve
Como a falta
De um amor,
É saudade,
Melancolia
Que sofro
Como uma dor
Que outrora
Não sentia.

MESMO SE A VEJO
Ao longe,
Lá no alto
Da montanha,
E a tenho
Cá muito dentro
De mim,
Sua falta
É moinha
Que parece
Não ter fim.

ESCASSEIA
Ou já não vem
Ao encontro
No jardim
Ou nas ruas
Da minha aldeia
Como sempre
O fazia,
Era amor
De juventude,
Era assim
Que a sentia.

AMORES ANTIGOS
São pra sempre
(Os que foram
No passado),
Até que um dia
Revivam
E surjam ali
A teu lado,
Mesmo que seja
Assim...
.............
Num encontro
Inventado.

ERA SEGREDO
Da neve
Vir ter
Ao jardim,
 Comigo,
E eu crescia
E vivia
Num mundo
De fantasia
Que era o meu
Seguro abrigo...
............
Onde melhor
A sentia.

NÃO ERA
Turista de neve,
Fazia parte de mim,
Brincava sempre
Com ela
Nas ruas
Da minha aldeia
Ou, então
(era segredo),
No recanto
Do jardim.

MAS AGORA
O que me resta?
Ir à fonte glaciar
Trazer a neve
Comigo,
Vê-la descer
Lá do alto
Em forma de água
Gelada
A caminho
Do meu rio,
Neve pura,
Neve fria
(Não seca,
Mas já molhada)
Que me refresca
A alma
Como quando
Lá do céu
A neve 
Se oferecia
Como beijo
De uma fada.

O POETA E O ARCO-ÍRIS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Arco-Íris no Vale”
Original de minha autoria
Fevereiro de 2025

POEMA – “O POETA E O ARCO-ÍRIS”

DOS CAMINHOS
Serpejantes
Da montanha
Vêem-se
Silhuetas
De poetas
Lá no alto,
Lá no ar,
Sentados
Em arcos-íris
Sobre o vale
Da minha terra,
Agarrados
A palavras
E prontos
Pra desenhar
Os ecos
Da nossa serra.

TANTA LUZ
Nesse imenso
Mar
De gotículas
Coloridas,
Nesse céu
Bruxuleante
(Que já é
Um pouco meu),
Espelho
Dos meus sonhos
De amante
Que deu asas
Ao olhar
Onde a fantasia
Nasceu
Para poder
Navegar.

ÀS VEZES
É denso
O arco-íris
Que paira
Sobre o meu vale,
Subo nele
E entro
Na frescura
Colorida
Para me ver
Caminhar
Pelos sendeiros
Da vida.

LÁ DO ALTO
Vejo o vale,
Vejo a vida
Que se move,
Vejo a água
Da ribeira
Que corre
E  que cresce
Quando chove,
Dou asas
À fantasia
Para trazer
Ao meu vale
Tudo aquilo
Que me comove
E tem força
De magia.

ENTÃO, PINTO
A comoção
Com palavras
Cinzeladas
Em pauta
De melodia
Que provoca
Emoção
Em quem as ouve
Cantadas
Em plena
Harmonia
E desejo
D’evasão.

SÃO BELOS
Os arcos-íris
Que vejo
Cá no meu vale,
Iluminam
A memória
Dos tempos
Que já lá vão,
Quando a vida
Tenteava
Cada passo
Que ela dava
Em busca
Da perfeição.

E ASSIM VOU
Desenhando
Cada minuto
Que passa
Com a luz
Que vem do céu
Pois se ele
Já é de todos
Também é
Um pouco meu.

UM SONHO NA MINHA ALDEIA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: "Rua da Carreira"
JAS 2022
Original de minha autoria
Janeiro de 2025

“Rua da Carreira”. JAS 2022. Pintura digital, 68×70, impressão Giclée em papel de algodão (100% I 310gr) e verniz Hahnemuehle. Arglass AR70 em moldura de madeira.

POEMA – “UM SONHO NA MINHA ALDEIA”

SONHEI-TE
Esta noite
Numa rua
Da minha aldeia...
..............
Não sei porquê
(Os sonhos são
Sempre assim),
Caminhámos
Lado a lado
Sem dizer
Uma palavra,
Sem um olhar
De través,
Apenas
Pressentimento,
Cá bem no fundo
De mim,
Sentindo-te
Como tu és.

DUAS VEZES
Lá estive
A sentir-te
Nesse tempo
Diferido
Dos encontros
Intangíveis
Que se desfazem
Nas nuvens
Quando o céu
É proibido
Aos afectos
Impossíveis.

MAS VI-TE
Com nitidez
(Um pouco baça,
É certo)
No silêncio
Do meu sonho,
Em encantada
Alvura
A recordar
Tempo antigo
Quando a neve
Regressava,
Branca e pura,
E nela me via
Contigo.

FOI NA "RUA DA CARREIRA",
Em frente
Da minha casa,
Sendeiro da minha
Vida,
Onde me via
Passar
A caminho do futuro,
Minha porta
De partida
Onde sempre
Me procuro.

CAMINHÁMOS
Por pouco tempo,
Como na vida real,
Nem um olhar
Nos trocámos,
Tão fugaz foi
Este sonho,
Intenso,
Mas espectral.

MAS SE A VIDA
Também é sonho
E sem sonho
Pouco mais é
Do que nada,
Sonâmbulo
Me encontraste
Na rua
Da minha aldeia,
Nunca antes
Visitada.

E AQUI ESTOU EU
A sonhar-te
Outra vez
Nos versos
Com que te chamo,
Recordando que
Te vi
Neste lugar
Que eu amo.

É SEMPRE ASSIM,
Meu amor,
Quanto mais tu
Te esfumas
Na vida
Ou, então, mesmo
A sonhar,
Mais me cresce
Esta dor,
Que não consigo
Parar...
................
Procuro, então,
Combatê-la
Com armas
De sonhador,
Que me põem
A voar.

DE TANTO EU
Te sonhar
Acabei por
Te encontrar
Na terra
Onde nasci,
Onde a neve
Derretia
Quando o sol
Já despontava
E o manto
Da saudade
Logo de dor
Me cobria
Porque ela
Me faltava.

AGORA A NEVE
És tu,
Fugaz que foi
A passagem
No chão dorido
Da vida,
Como a brancura
De outrora
Que de saudades
Doía
Em cada fatal
Despedida,
Quando a dor
Mais me vestia.

MAS SE EM SONHO
De novo
Te encontrar
Talvez eu volte
A sentir
A cativante
Magia
Da neve
No teu olhar,
Como a da minha rua
Que não há sol
Que a derreta
Na penumbra
Da memória...
..............
Que no sonho
E no poema
É mesmo
Como a tua.

SONHO ou A PORTA DO TEMPO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Transparência”
Original de minha autoria
Janeiro de 2025

POEMA: “SONHO ou A PORTA DO TEMPO”

NUM DIA DE CHUVA,
Bateste levemente
À porta da minha
Memória,
Como quem chamava
Por mim,
Com aparente
 Empatia,
Soletrando
O meu nome
Em ritmo
De melodia
Com perfume
De jasmim.

ERA TRANSPARENTE,
A porta,
Reconheci
A tua boca,
O bâton púrpura
Dos teus lábios,
As linhas curvas
Do teu corpo...
E logo vi,
Com o olhar
Do desejo,
Que eras tu,
 Como se o visse
Despido,
Sensual, 
Tão inocentemente
Nu.

NÃO SEI SE
Me pressentiste,
Não sei,
A porta
Era um espelho
E através dela
Só se via
Do lado de cá,
Do lado
Da minha alma,
A que sempre
Te deseja,
Mas que nunca
Te terá.

ENTRASTE,
Por essa porta
Cheia de cor,
Que a chuva
Humedeceu,
Mas deixara-te
Com mais
Brilho...
...........
O da chuva
E o teu.

TAMBÉM TU
Eras transparente...
Olhei-te
E vi, em ti,
Um céu diferente
Que parecia
Oferecer-se
Ao desejo
Como nunca
Eu senti.

NA TRANSPARÊNCIA,
Despontou
O sol,
Subitamente,
Coado por
Neblina dourada
Que descia
Sobre mim
Pra que te visse
Brilhante,
Exaltada,
Com um brilho
De cetim.

ÀS VEZES,
O dourado
Ganhava tons de
Âmbar
E vestia-te 
O corpo nu
Na minha 
Intangível
Memória
Sempre quente...
.........
Como tu.

VIA COM NITIDEZ
Esse teu sorriso,
Belo
E cristalino,
Mas, quando te quis
Tocar,
Desceu
Sobre nós
Um vidro fino,
Baço e frio,
E eu verti
Lágrimas
De inconformada
Tristeza,
Filhas
De um profundo
Vazio.

AS LÁGRIMAS
Deslizaram
Pelo vidro
E tu tentaste
Agarrá-las
(Em vão)
Com todas
As cores
Que tinhas
Na palma
Da tua mão...

DE REPENTE,
Tornaste-te sol
E eu já só era
Um reflexo
(Eu bem sabia)
Dos teus
Raios filtrados
Por algumas
Nuvens brancas
Que iluminavam
A minha pobre
Fantasia.

MAS LOGO DESPERTEI.
Batera alguém
Levemente
À porta
Do meu quarto.
Corri a abri-la...
........
Ninguém!

REGRESSEI,
Rápido,
À minha memória
Para te reencontrar,
Mas tu já não
Estavas,
Sequer como reflexo,
A brilhar.

DEIXARA ABERTA
A porta do tempo,
Por onde tu
Desertaras,
Como sempre,
Pra parte incerta,
Para uma dessas ruas
Do destino
Que fica sempre
Deserta...

OS SONHOS
São sempre assim,
Tudo se esvai
Quando irrompe
A luz do dia,
Onde o sol
É o farol
Que sempre
Nos desperta
E nos aquece,
Mas também
Nos alumia.

O PASSADO E O PRESENTE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Natureza Morta”
Original de minha autoria
Janeiro de 2025
NaturezaMorta2025Final

“Natureza Morta”. JAS 2025

POEMA – “O PASSADO E O PRESENTE”

QUANDO O PASSADO
É presente
E mora mesmo
A teu lado,
Quando o tempo
Se pressente,
Mas um muro
Intransponível
Te mantém
Sempre isolado,
Esse tempo
Marca
O compasso
Da vida,
Memória
De uma partida
Que nunca
Se desejou.

CRIA
Angústia,
Desespero,
Inaudível
Ecoar,
Porque é passado,
Passou,
E já não pode
Voltar.

RESTA A FRESTA
Do imprevisto,
Do acaso
Que te faz
Estremecer
E quase abalroar,
Um passado
Que flui
Ali mesmo
A teu lado,
Mas já não podes
Tocar.

É VIVO
E é morto
Esse passado,
É fluxo
Intangível,
É escuro,
Ao lado de onde
Estás,
Sem presente
Nem futuro,
Onde as sombras
Não se movem
Nem prà frente
Nem pra trás.

A LUZ ESTÁ
Lá fora
E pode encandear
Com seu forte
Clarão
E tudo então
Se mistura
Lá no fundo
De ti mesmo,
Num imenso
Caldeirão.

POR VEZES,
O tempo
É como
O nada,
Pulveriza
A memória
E tudo
Perde sentido,
Como terra
Devastada.

AH, MAS ACONTECE
O acaso,
A visão
Do teu passado
Que caminha
A teu lado
E te convida
A cantar,
Ilusão
De que te ouçam
Nas ruínas
Desse muro
Derrubado
A sonhar.

QUANTAS VEZES
Acontece
O sonho
Te libertar...
............
E como é 
Tão bom
Sonhar
Sem saber
Que é um sonho
Até ao teu
Acordar.

E SE O SONHO
Comanda a vida
Também há-de
O passado
Comandar
Pra dar forma
Ao encontro
Desejado
Entre quem
Por ele
Sempre soube
Esperar.

ESTE É O SONHO
Que, um dia,
O poeta
Fascinou:
Reconstruir
O passado
Para viver
Encantado
Como sempre
Desejou,
Em sonho
Ou acordado,
No presente,
No futuro
Ou até no seu
Passado...
..........
No tempo
A que o destino
O votou.

NaturezaMorta2025FinalRec

CAMINHOS PARALELOS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Le Rouge et le Noir”
Original de minha autoria.
Janeiro de 2025
"Le Rouge et le Noir". JAS 2025

Le Rouge et le Noir

POEMA – “CAMINHOS PARALELOS”

VI-A UM POUCO
Triste
Naquele dia,
Eram muitos
E apressados
Os que na rua
Passavam
No dia
Dos namorados,
De minha tão leda
Memória,
Desses tempos
Já passados
Que não voltam
Nunca mais.

E TAMBÉM EU
Regressava
Por ali,
Num acaso
Circular,
Nesse dia
Luminoso
Em que eu a vi
Passar.

COINCIDÊNCIAS
Do lugar,
Tristeza
Triste,
A sua...
...........
De relance,
Vi-a passar
E fiquei
De alma
Nua
De só a poder
Abraçar,
De través,
Com o olhar,
Quando a vejo
Na rua.

O SEU DESTINO
E o meu
Seguem
Sempre por aí,
São caminhos
Paralelos
Que se encontram
No olhar
Num ponto
Do infinito,
São veredas
Impossíveis,
Caminhos
Do interdito.

OS ASTROS
Ou os deuses
Marcaram
Este meu penoso
Fado
E dele não posso
Sair,
Prisioneiro
De um passado
Que não é
Possível cerzir.

EXPIO, ASSIM,
Com dor
E tanta
Melancolia,
O fardo
Do impossível
Em forma de
Redenção:
Canto versos
Com melodia,
Poesia,
Salvação,
Na cidade
Da utopia
Para onde
Eu sempre vou
Com as estrofes
Na mão.

Le Rouge et le NoirRec

AS FONTES DE TIVOLI

Poema de João de Almeida Santos, 
inspirado no romance
"Via dei Portoghesi".
Ilustração: “S/Título”, JAS 2024.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2024.
O ECO2022

“S/Título”. JAS 2024

POEMA – “AS FONTES DE TIVOLI”

FOI NAS CEM FONTES
De Tivoli,
Nos jardins
De Villa D’Este,
Que bebeu
Da água pura
E com ela
Transformou
Sua vida
Atormentada
Numa bela
Aventura.

SEDUZIDO
E abandonado
Por musa bela
E forte
Que o tornara
Cativo,
Sem saber
Por que razão,
Perdeu o rumo,
Perdeu o norte,
Seu castigo,
E caiu
Em profunda
Solidão.

NÃO FOI SONHO
De amante
Perder-se
Em fantasia,
Foi fogo
Vivo e cortante
Onde viver
Não podia.

PARTIU, POIS,
Pra encontrar
Novo rumo,
Nova via,
Palavras,
Versos,
Estrofes,
Essa bela
Alquimia...
.............
Mas esse era
Percurso
Que nem ele
Bem conhecia.

PÔS-SE, CONTUDO,
A caminho,
Subiu logo
Ao monte,
Bebeu cem vezes
Da água,
Vagueando
Por ali
Para afogar
Sua mágoa
Nas fontes
De Tivoli.

NO LUNGOTEVERE,
Onde vivia,
Só via as pontes
Por onde ela
Passava
Ao encontro
Do destino
No outro lado
Do rio,
Como quem já
Não tem rumo
E vive
Em desvario.

SALVOU-O
A água pura
Que tinha sempre
Consigo,
Bebia quando
A via
Pra se resgatar
Do castigo,
Do fogo
Que o consumia,
Era água
De poeta,
A que vem
De Hippocrene,
Que alimenta 
As musas
E liberta
 A fantasia.

O ECO2022Rec

LINHAS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Linhas”, JAS 2020
Original de minha autoria
Dezembro de 2024
GeometriaFinal26

“Linhas”. JAS. 2020

POEMA – “LINHAS”

PROCURO,
Com apego,
A perfeição
Em cada verso
Que escrevo,
Movido
Por comoção.

E PERSIGO
A utopia,
Dando asas
Ao desejo
De plena
Harmonia
Nas palavras
Que escrevo
Com a minha
Fantasia.

É COMO A VIDA,
A poesia,
É incerto
Percurso
De linhas
Curvas,
Tortas
Ou sincopadas,
É procura
De formas
Que falem,
Com exactidão
De cristal,
Das mágoas
Sofridas
Em mágoas
Cantadas
Por inquieto
Jogral.

AS ESTROFES
São círculos
Que o poeta
Desenha
Com a alma,
Onde as letras
São linhas
À procura
De sentido
E em forma
De palavra.

MAS, POR VEZES,
Elas são
Emaranhados
Confusos
Que depressa
Se deslaçam,
Quais novelos
De fiar...

É CONSTANTE
Entretecer,
Um constante
Caminhar
Por linhas
Desencontradas,
Um luminoso
Viver
Em palavras
Inventadas.

E, ENTÃO,
Já no final,
Surge
O círculo
Perfeito
Que não se pode
Deslaçar,
É um eterno 
Retorno
Onde o fim
É sempre novo,
Mas um novo
Começar.

A POESIA
(Está bem
De ver)
Não é redonda
Como o círculo,
Não é...
..............
Mas é composta
Por linhas
Em movimento,
Já sopradas
Pelo vento
Em busca
D’exactidão,
Dom
Concedido
Somente
A quem sente
A sua dor
Como porta
De saída
Pra poética 
Evasão.

PALAVRAS
São linhas
Que se enlaçam
E deslaçam,
Frequente
Compulsão,
Sentimentos
Escritos
E desenhados
Com a alma
Em alvoroço
E com força
De vulcão.

ASSIM É A POESIA,
Levitação,
Almas inquietas
Em intensa
Propulsão,
Linhas
Que são palavras
Que resgatam
Os que sofrem
De perpétua
Comoção,
Os que as procuram
Em busca
De um milagre,
Em busca
De redenção.

Linhas

A SAUDADE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Melancolia”, JAS 2022
Original de minha autoria
Dezembro de 2024
JAS_Melancolia2023_12

“Melancolia”. JAS 2022. 80×88, em papel de algodão (310gr) e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70, em mold. de madeira

POEMA – “A SAUDADE”

NUM DIA
Cinzento
Da vida
Cruzei-me
Com a saudade,
Estava vestida
De negro
E não soube
Que fazer,
Perdido
Lá na cidade,
Nesse triste
Entardecer...

FINGI
Que não a via,
Mas olhei-a
De través,
Sem saber
Por que o fazia
Ou receio
De um revés.

MAS ELA
Entrou em mim
Porque de mim
Não saíra,
Memória
Incompleta
De algo
Que não partira.

É SAUDADE
Do que nunca
Aconteceu
E por isso
Atinge forte,
Como raio
E trovão,
Quem revive
O que viveu
Em sofrida
Solidão.

A SAUDADE
Aparece
Onde menos
Se espera,
Ela sempre
Acontece,
Redonda
Como esfera.

E É NOS DIAS
Cinzentos
Que ela
Sempre
Aparece
Disfarçada
De acaso...
.......
É assim
Que acontece,
É destino
A caminho
Do ocaso.

A SAUDADE,
Imprevisível
E forte,
Encandeia
Quem a sente,
Qual clarão
Em noite escura
Nos dias
Cinzentos
Da vida,
Sempre intensa,
Sempre impura,
Uma infinda
Despedida...
................
Que já nem o tempo
Cura.

QUANTO MAIS 
O tempo passa
Mais a saudade
Dura 
E cresce
Pois se o passado
Não cura
Para sempre
Permanece.

JAS_Melancolia2023_12Rec

A FIGUEIRA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Pasárgada”
JAS 2021
Original de minha autoria
Dezembro de 2024
Jas02Pasárgada2021

“Pasárgada”, JAS 2021, 108×138, impressão Giclée em papel de algodão (310gr) e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70, em mold, de madeira

POEMA – “A FIGUEIRA”

EU TINHA
Uma figueira
Lá onde está
O tão cantado
Loureiro.
Generosa
E fagueira
Dela fiquei
Prisioneiro
Ou até
Enamorado.

NA AURORA
Da minha vida
Dava figos
Ping’o mel
Que, deliciado,
Comia.
Crescendo, assim,
A seu lado
Era belo
O que sentia...
...........
Ser por ela
Acarinhado.

MAS UM DIA
Ela morreu.
Fiquei triste
E calado,
Sem saber
O que fazer...
..............
Mas logo plantei
Um loureiro
Mesmo ali
A seu lado
E fiz tudo
(Mesmo tudo)
Para por ele
Ser amado,
Para com ele
Eu crescer.

TORNEI-ME
Um bom
Jardineiro,
No afecto
Imaculado
Para ver se
Conseguia
Ficar de novo
Encantado.

E NÃO É QUE
Consegui!
Partira
À aventura,
Já sem figos
E doçura,
Mas foi tão forte
O que senti
Que ainda hoje
Perdura.

PERDER
Ou ganhar,
São estas
As leis da vida,
Perdi
A minha figueira,
Logo encontrei
Um amigo
No dia
Da despedida.

E ASSIM
Eu consegui
Recriar
O que perdi
Ao plantar
O loureiro,
Porque vê-lo
No jardim
(Também ele
É fagueiro)
Estimula
A fantasia:
Recrio
A velha figueira
Com um golpe
De magia,
É emoção
Verdadeira
Em forma
De poesia.
Jas02Pasárgada2021Rec

“Pasárgada”, JAS 2021. Detalhe

TREME A TERRA, QUANDO PASSA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Perfil de Mulher”,
JAS 2022. Original de minha autoria
(Colecção Privada). Dezembro de 2024
Silhueta2022_1505G

“Perfil de Mulher”, JAS 2022 – 94×114, impressão Giclée em papel de algodão, 310gr, e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70, em mold. de madeira (Colecção privada)

POEMA – “TREME A TERRA, QUANDO PASSA”

SINTO UM CERCO
Muito quente
Que me envolve
O corpo
Quando ela passa
Na rua,
Mas o silêncio
É frio,
Não responde
Ao chamamento
Quando eu a desafio
A mostrar-se
Um pouco nua.

TREME A TERRA
Quando passa,
Passos lentos,
A olhar,
Como alguém
Que se perdeu...
........
E sofro
Porque esvoaça
Nesse céu
Que não é meu.

SILÊNCIO
É a palavra
E diz mais
Do que parece,
Eu vejo,
Quando ela passa,
Silhueta
De mulher
Que se esgueira
Ao olhar...
.............
De quem olha
E não esquece,
De quem sabe
O que é amar.

E MESMO QUE SE
Esconda,
Que finja
Que não é ela
E na multidão
Se dilua,
Quem sempre
A vê
Da janela
Sempre a sente
Um pouco sua.

TREME A TERRA
Quando passa,
Mas não a sinto
Perdida
Pois se o cerco
É sempre quente
Quando passa
Dá-me vida.

NÃO É ACASO
(Não é),
Talvez seja
O destino
Ou desejo
Desigual,
Se a terra
Treme
Quando ela passa
Não é efeito
Banal
Pois também eu
Estremeço
Ao seu primeiro
Sinal.

TREME A TERRA
Quando passa,
Estremeço
Também eu,
É a vida,
Uma graça
Que vem
Lá de cima
Do céu.

PerfildeMulherRec

RITUAIS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Catedral”, JAS 2024
Original de minha autoria
Novembro de 2024
Catedral2024FINALSepia_5

“Catedral”. JAS 2024

POEMA – “RITUAIS”

NESSE DIA,
Imaginei
Um templo
Revestido de vitrais,
Celebrações
Em palavras
E singelos rituais...

EVOCAVA,
Assim,
O tempo
Em que sempre
Me perdia
Nesse seu olhar
Esquivo
Que quase tudo
Dizia,
Em que os silêncios
Sobravam
Como se fossem
Castigo
De pecados
Em que nunca
Me revia.

O QUE RESTOU
É alimento
Da alma,
É fervilhar
De memórias,
Inscrições
Sensoriais,
Silêncio
Profundo
A poético
Chamamento
E nada mais...
.........
Um poema,
A catedral,
Invocação
Em tormento,
Oficiar
Rituais.

FUTURO
Imaginado
De voluntário
Amante
Construído
Nas ruínas
De um passado
Que já é
Muito distante.

O QUE SOBRA
É um brilho
Coado,
Melancólico,
Cinzento,
O negro
De seus olhos
Inquietos
E de seus cabelos
Fartos,
Ao vento...

TUDO A FERVILHAR
Na minha sofrida
Memória,
Delicada recriação
Em palavras
Com história.

DOU-LHE, ASSIM,
Nova vida,
Renovo-me
Também eu,
Falo ao mundo
Comovido
De um tempo
Que é só meu.

IMAGINO
Esse templo
Sempre que
Regresso
Do meu Jardim
Encantado,
Vibrante de cores
E por fora
Perfumado,
Mas por dentro
Melancólico e
Sofrido
Por a ter,
Nesse tempo
Já passado,
Dolorosamente
Perdido...
Inscrições

“Inscrições”. JAS 2024

CONFISSÃO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Perfil de Musa”
Original de minha autoria
Novembro de 2024
JAS_Perfil09_2023

“Perfil de Musa”. JAS 2023; 63×78, em papel de algodão (310gr) e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70 em mold. de madeira

POEMA – “CONFISSÃO”

COMO SABES,
E sabes como
(Ou talvez não),
Sou poeta
E sou pintor
Para pintar
O teu rosto
(Talvez em vão),
Com os riscos
E as cores
Que persistem
Na memória
(Mas talvez aches
Que não).

QUANDO QUIS
Pintar
Teus olhos,
Teus cabelos
E essa boca
Que nunca
Ousei beijar
Descobri
Que não sabia
Por onde dever
Começar.

TINHAM-SE
Diluído
Na memória
Visual
Os traços
Desse teu rosto
Fatal
Que sempre
Me encantou...
............
E como eram
Teus olhos
Nesse tempo
Já passado
Que há
Tanto tempo
Passou.

MAS NÃO FAZ MAL
(Disse pra mim
Em segredo),
Pinto-te como
Ainda te vejo,
Com a alma
Incandescente,
Cabelos negros
E olhos
Da mesma cor,
Lábios vermelhos
Que desafiam
O beijo
Que não ouso,
Por pudor.

MESMO ASSIM
(Talvez por isso),
Sinto
Uma branca
Neblina
Que cai leve
Sobre teu rosto
E não o posso
Pintar
Com o rigor
Que desejo,
Pois só com
A alma
O vejo
Para o poder
Desenhar.

AH, SIM,
Com ela
Há nitidez,
Sinto-te
Como te via
E por isso
Sei pintar-te
Com rigor,
Com palavras,
Com poesia,
Lá onde mora
A dor.

JAS_Perfil09_2023-Rec

LUZ

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Paraíso”, JAS 2022
Original de minha autoria
Novembro de 2024
Paraíso

“Paraíso”. JAS 2022 – 68×84, papel de algodão (3210gr) e verniz Hahnemuehle, Artglass AR 70, em mold. de madeira

POEMA – “LUZ”

TANTA LUZ
Neste meu céu,
Esse imenso
E cintilante
Mar
Que um dia
Foi todo meu
E deu asas
Ao olhar,
Espelho
Dos sonhos
De amante
Onde a fantasia
Nasceu
Pra lá poder
Navegar.

ESPELHO
Branco
Que te ilumina
Na noite escura
E fria
Onde brilham
Os teus olhos,
Luar
Prateado
Desta minha
Fantasia.

E QUANDO
Nos sonhos
Te vejo
Iluminada,
Entro na porta
Branca
Que me leva
Ao paraíso...
.......
Levado
Por uma fada.

E VOO, VOO,
Deixando
Para trás
O meu jardim
Encantado,
Os bailéus
Da casa-mãe
Desenhados
A rigor,
A quelha da minha
Infância,
Manhãs brancas
De surpresa
Em puríssimo
Alvor.

NOS SONHOS,
(Em todos eles)
Caio das nuvens
Brancas
Como Ícaro,
Quase cego
Da sua luz
Até te encontrar
No jardim
Vestida de todas
As cores
Que povoam
As cidades
Dos poetas
E pintores
Com aromas
De jasmim.

É ESSA
Cintilante
Luz
Que ilumina
O que me sobra
De ti,
O que ainda
Me seduz
Nos sonhos
Em que te pinto
E que sempre
Me sorri.

É SONHO,
É tudo quanto
Me basta
E nada mais,
É tudo
O que eu preciso
Pra te sonhar
Comovido
À beira
Do nosso cais.

ParaísoRec

POEMA PARA UM ROSTO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Rosto para um Poema”
Original de minha autoria
Novembro de 2024
S:Título2024Pub

“S/Título”. JAS 2024

POEMA  – “POEMA PARA UM ROSTO”

EU CANTO
Esses teus olhos,
Ah, eu canto
A sua luz,
A sua cor
Transparente
Como mel.
Este pintor
Que é poeta
Desenhou-os
Com um secreto
Pincel
Que era, sim,
Uma caneta.

PALAVRAS
Leva-as
O vento
(Eu bem sei),
Mas coladas
À cor
Desses teus olhos
(Como eu os
Desenhei)
São asas
Que me livram
Do tormento.

AGUARELA
De palavras,
Quero dizer,
Galeria
De um rosto
Só,
O pintor que é
Poeta
Assim desata
Seu nó
E deixa
Mensagem
Discreta.

TUA BOCA
É de púrpura
(É, sim)
Como eu
Sempre a vi,
Ao rubro
De uma intensa
Paixão,
Energia
Para voar
Por aí
Em acesa
Combustão.

HÁ VIDRO
Que a separa?
Pois há,
Mas se murmurar
O teu nome
Essa tela
Que é poema
Será sempre
A minha ara
No fogo
Que me consome.

CRESCEM FLORES
A teus pés,
Pintei-as
De todas as cores
Colhidas
No meu Jardim,
Anunciam
Novos aromas
E outros tantos
Sabores
Pintados todos
Pra mim.

S:Título2024PubRec

TENTAÇÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Cristais”, JAS 2021
(67x89, papel de algodão, 310gr,
e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70,
mold. de madeira). Colecção privada.
Outubro de 2024.
Jas16Cristais2022

“Cristais”. JAS 2021

“¡Quién fuera como tú,
fruta, / todo pasión
sobre el campo!”

Final do poema de
Federico García Lorca
“Canción Oriental” (1920),
dedicado à Romã.

POEMA – “TENTAÇÃO”

INQUIETO,
Como sempre,
Vi-te por dentro
Depois de te ter
Cantado
Por fora,
Feliz,
Mas um pouco
Triste,
Assim...
Como quem chora!

CONTEMPLEI
Teus cristais,
Vi cintilar
Tua alma
E logo te pintei
Por dentro,
Sem mais,
Numa tarde
Leda e calma.

E CEDI À TENTAÇÃO
De te oferecer
Aos lábios
Da minha amada,
Ao compromisso
Fatal,
Pra que ficasse
Enleada
E, como Deusa
Do Olimpo,
Se tornasse
Imortal.

MAS ELA É
Concha fechada,
Seus cristais
São ouro negro,
É mistério
Bem guardado,
Silêncio
É o seu lema
Porque, dizem,
É dourado.

MAS PARA MIM
É romã...
.............
Quando a chamo
Ao meu canto
E a pinto
Com afã,
Alma cheia,
Cresce
No meu Jardim
Como em ilha
Encantada
Nasce o canto
Da sereia.

NUNCA TOCOU
Teus cristais
Nem os comeu
Como eu queria
Para, qual Hades
Do poema,
A ter
Eternamente
Cada noite
E cada dia.

POR ISSO TE PROCUREI,
Fruto
De tentação,
Alimento
Dos deuses,
De Kore
A eterna
Perdição.

TALVEZ ME ACENDAS
O estro
E a vontade
De rimar
Pois silêncio
Não é ouro
Se me falta
A sua voz
E não a posso
Cantar.

Jas16Cristais2022Rec

O JASMIM

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Rapsódia”
Original de minha autoria
Outubro de 2024
JAS_Rapsódia2024

“Rapsódia”. JAS. 10-2024

POEMA  –  “O JASMIM”

FLORESCEU
O meu jasmim,
Dele jorra
Poesia,
O seu aroma
Embriaga
E liberta
A fantasia.

DOU COR
Às minhas
Palavras,
O seu perfume
Ilumina,
Bate-lhe o sol
Na folhagem
E o poema
Germina...

JÁ NÃO É SÓ
O loureiro,
Agora canto
O jasmim,
É tão vivo
O seu perfume
Que o estro
Já cresce
Em mim.

INUNDO-ME,
Pois,
De palavras,
De aromas
E de cor,
Subo ao céu
De um poema
Com desejo
De o compor.

SOU ÍCARO
Lá no alto
E quando o sol
Bate forte
Caio em mim
Do poema
E no chão
Da minha alma
Fico perdido,
Sem norte.

LOGO INVOCO
O jasmim,
Para ganhar
Energia,
Volto a subir
Às alturas,
Renascer
Em poesia.

VEJO DE NOVO
O jasmim
Mesmo ao lado do
Loureiro,
Respiro fundo
O perfume
E torno-me
Seu jardineiro.

E ASSIM EU VOU
Vivendo
No jardim da
Minha vida
Onde as palavras
São cores
E os aromas
Melodia,
Os poemas
São canções,
Milagres
Da fantasia.

JAS_Rapsódia2024-Rec

ÀS VEZES

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “A Lua Desceu sobre Mim”
JAS 2024
Original de minha autoria
Outubro de 2024
JAS1AluaDesceuSobreMim

“A Lua Desceu sobre Mim”. JAS. 10- 2024

POEMA - "ÀS VEZES"
ÀS VEZES 
Tenho saudades
Do tempo
Que não vivi,
Dos encontros
Que falhei,
Das coisas
Que já não fiz
Ou que, fazendo,
Errei.

CONSTRUÍ-ME
Como quis,
À medida
Do desejo
E em cada passo
Que dava
Fazia nascer
Um passado
Que neste poema
Não vejo.

MAS TENHO MESMO
Saudades,
Que mais posso
Eu fazer?
Quem vive
Daquilo que faz
E dá uma voz
Ao que sente,
Vai construindo
O futuro
Pra libertar
O presente.

NÃO ME QUEIXO
Do passado,
Do que nele
Construí
E da vida
Que levei...
.............
Contra ventos
E marés
Muitas vezes
Eu falhei...

HUMANA
Imperfeição,
Quero dizer,
Porque se fosse
Perfeito
Não estaria
O poema
Pronto
Para nascer
Com palavras
Que resgatam
Do que não soube
Fazer.

É VERDADE,
Eu bem sei
Que um dia
Tropecei
E me perdi
No caminho,
Procurava,
Procurei,
Fazendo o percurso
Sozinho...
...........
Mas voltava
A tropeçar,
Até que um dia
Parei
Para não
Recomeçar...

MESMO ASSIM,
Recomecei
E voltei
A caminhar,
Mas não mais
Eu tropecei
Porque em palavras
Peguei
Pra me poder
Resgatar...
..........
Foi assim
Que me salvei.

SALVARAM-ME
Essas palavras
Compostas
Em poesia
Porque fiz
Do tropeçar
Matéria
De fantasia.

JAS1AluaDesceuSobreMimRec

AS BAGAS

Arietta
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “O Jardim”, JAS 2024
Original de autoria
Outubro de 2024
Pasárgada2024Corte2805

“O Jardim”. JAS 2024

POEMA - "AS BAGAS"
Arietta
AO RAIAR
De um belo dia
Visitei
O meu jardim...
Havia
Algumas rosas,
Um azevinho
Sem bagas,
Três cameleiras
Frondosas
E tudo ali
Para mim.

VI DEUSA
Desnudada
Por entre verde
Folhagem,
Uvas frescas
De latada
E o jardim
Como imagem.

MAS AS BAGAS,
As bagas do azevinho,
Vermelhas,
Cor do meu sangue,
Não as tinha,
O pobrezinho,
Era um arbusto
Exangue.

E EU, TRISTE
Por não as ter
A fazer-me
Companhia,
Quis um novo 
 Azevinho
Com bagas
Como as queria.

PEDI LOGO 
Ao jardineiro
Que o encontrasse
Pra mim,
Sem elas
Era mais pobre
O meu bonito 
Jardim.

MAS O TEMPO,
Ah, o tempo,
Não as traria
Até o azevinho
Crescer...
Por isso, pus mãos
À obra
Para em versos
As ter...

EM VERSOS...
Também em cor,
Era assim
Que as teria,
Quisesse
O meu pintor
Ilustrar 
A poesia.

BAGAS
Na fantasia,
Ali prontas
Para criar,
Não as tendo
O azevinho
Desenhei
Um novo arbusto
Para bagas
Ele me dar.

E ASSIM FIQUEI
Feliz
Por ter bagas
Vermelhinhas...
...........
Não sendo
Do azevinho,
Mas da minha
Fantasia,
Todas elas
Eram minhas,
As bagas
De minha cria.

Pasárgada2024Corte2805Rec

O SONHO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Jardim Espectral”
JAS 2024
Original de minha autoria
Setembro de 2024
JardimEspectral2024

“Jardim Espectral”. JAS 2024

"Estamos perto do acordar, 
quando sonhamos que sonhamos"
(Wir sind dem Aufwachen nah, wenn
 wir träumen, dass wir träumen)
Novalis

POEMA – “O SONHO”

SONHEI,
Um sonho estranho
(Não sei porquê,
Mas os sonhos
São assim),
Que numa tarde
De outono
Eu te vi,
Silenciosa,
Etérea,
Ali,
A meu lado,
Sob o loureiro
Do meu Jardim
Encantado.

NÃO ERA RUBRO
De vida cheia
O teu rosto,
Olhar incerto
Em forma pura,
Retrato
Em papel baço
Ou escultura...
.............
De travertino,
Distante
Destes versos
Que na alma
São reversos
De um sofrido
Destino.

E EU ALI,
Nesse jardim
Espectral,
A sofrer-te
Em suave
Melancolia
Por só poder
Pressentir
Em palavras
A tua alma,
Talvez em fuga,
Talvez vazia.

ROSTO
Impenetrável
Que só ouvia
Interiormente
No que, afinal
Não dizia,
Intermitente,
Mudez gélida
Como o mármore
Do teu rosto
Em travertino,
Olhar vago
À procura
Não sei de quê,
Talvez de nada
Ou das marcas
Do destino.

PRESSENTIA-TE
Sem ouvir
A tua voz.
Era apenas
Desejo
Onírico
De alma
Vagante
E uma silhueta,
Talvez errante,
Em tarde
Já tardia
Na espessa
Neblina
Que me cobria.

DE TI
Sobrou-me
Um rosto,
Tudo aquilo 
Que me resta
Pra te sonhar
Neste intervalo
Tardio
Entre mim
E a tua vida,
Um eterno
Desencontro
Já gravado
Como ferida.

ESSE PERFIL
Marmóreo
Prenunciava
Um glacial
Silêncio que,
 Ao acordar,
Me há-de
Emudecer,
Tornando-me
Máscara gémea
Desenhada
Com palavras
Que eu nunca
Encontrarei,
Por te perder...
O rasto
E os olhos
Negros,
Esses
Que sempre
Para ti
Eu celebrei
Porque sempre
Te quis ter.

JardimEspectral2024Rec

VOAR

João de Almeida Santos
Ilustração - “Voar”, JAS 2023
Original de minha autoria
Setembro de 2024
VoarFinal

“Voar”. JAS 2023 (71×88, papel de algodão, 310gr, e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70, em moldura de madeira).

POEMA – “VOAR”

EU CANTO E PINTO 
Tudo o que sinto,
Sonhos velados,
O meu destino,
Versos e cores,
Os meus brocados,
É poesia,
É desatino,
Vivo na vida 
Meus sonhos 
Cantados.

É ASSIM, 
É a vida,
É um lugar
 De partida,
É viagem,
Nada mais...
.............
E quando parto
Lá pra cima,
Azul do céu,
É festa rija
Lá no meu cais.

VOU COM AS AVES
Voo pra longe
E com mais cor
Porque no céu
Há mais azul
E nos meus sonhos
A vida
Tem mais sabor.

POR ISSO VOO
Sempre mais alto,
Trepo nas cores
Pra lá chegar,
O vento 
Dá-me alento
Para voar...
............
E lá em cima,
Junto das nuvens,
Os meus segredos
Posso guardar.

POR ISSO
Eu canto,
Por isso subo
Lá para o alto,
Nada mais vejo,
Nada mais ouço
E assim não vivo
Em sobressalto.

LEVO PALAVRAS
E levo cores,
Levo tudo
Do mesmo jeito
E logo sinto,
Azul e leve,
Ar rarefeito
E menos peso
Na minha alma
E menos frio
Cá no meu peito.

CHAMO A MUSA
Pra ir comigo
E dou-lhe asas
Para voar
No infinito
Do céu azul...
.............
E liberdade
Para sonhar.

VOO COM ELA
Sem um destino
Na imensidão...
................
E lá bem alto,
Já de mãos dadas,
Voamos juntos
Ao ritmo certo
E bem marcado
Da emoção.

VoarFinalRec

CONFISSÕES IMPROVÁVEIS
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “La Peccatrice”, JAS 2023
 Original de minha autoria
Setembro de 2024
LaPeccatrice2024Pub

“La Peccatrice”, JAS 2023 – 57×88, papel de algodão, 310gr, e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70, mold. madeira.

POEMA – “CONFISSÕES IMPROVÁVEIS”

RESISTO
(Como se vê) Ao cansaço De te recriar Aqui, No meu Jardim, Busca Incessante De palavras E de cores Que parece Não ter fim... ATÉ AS PALAVRAS Já nada querem
Dizer, Braços caídos, A esvaecer... E cores Rasgadas A desbotar Em cenários De abraços Feridos Para esquecer. CANSAÇO, Melancolia, Também prazer, Recriar-te com Palavras Em poesia Pra não sofrer, Desejo vivo De sentir A pulsação Da tua alma E com ela Reviver. MAS DE NADA VALE Pedir sinais, Que os manejas Com mestria, Talvez sageza, Ao sabor De teus caprichos Venais, Mas de inabalável Dureza. TALVEZ ANDES Perdida Com futilidades Da vida, Sem conhecer O que digo, Tão alheia Aos meus desejos Que até me sabe A castigo. NÃO FOSSEM As cores Reconstruídas Do arco-íris Que tenho No meu jardim A pintar o rio Da tua vida E talvez eu Navegasse Pra outra foz, Talvez No meu cais De partida Te desse O derradeiro Adeus De despedida Do pouco Que ainda Resta de nós. SIM, MAS VERIA Sempre a tua Réplica, Veria sempre O cintilar Dos teus sinais... ............... E, então, Ponho-me A viajar Em fantasia, A criar imagens Com a luz filtrada Dos meus vitrais, A ver pleno Onde há vazio... ............. E, assim, eu Já nem sinto Na minha alma Aquele frio Dos teus silêncios Glaciais.

LaPeccatrice2024PuReca

PALAVRAS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Fascínio”, JAS 2023
Original de minha autoria
Setembro de 2024
Fascínio09_2024_2

“Fascínio”, JAS 2023, 68×88, papel de algodão, 310gr, e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70, em mold. de madeira

POEMA – “PALAVRAS”

PARA QUE SERVE
O poema,
Meu amor?
“Para nada!”,
Dizes tu,
“São palavras
Que usas
Pra te sentires
Menos nu”.

MAS PALAVRAS
São como o vento
(Respondi-lhe
Com verdade),
Vão,
Voltam
E mudam
De intensidade,
Sopram forte
Ou de mansinho,
São volúveis,
Ilusão,
Vão para sul
Ou vão pra norte,
Encontram
O seu caminho,
Mas cruzam
O meu destino
Mesmo que eu diga
Que não.

SÃO INTANGÍVEIS,
São sinais,
Podem ferir
Como espada,
Às vezes,
Como silêncio,
Ou até
Um pouco mais,
Outras, pior,
Como nada,
Nem sequer
Como sinais.

AS MINHAS
Dizem sempre
O que sinto,
Parecendo
Não o dizer,
Mas, às vezes,
É proibido,
Outras simplesmente
Por não querer,
Mas se te escrevo
E até minto
(O que até bem
Pode ser)
É por ser forte
O desejo
De um dia
Eu te ter.

ESTE POEMA
Que te envio
Escrevi-o
Com o vento,
Mas nele eu
Também minto
E até o vermelho
É cinzento,
Pra esconder
Aquilo que eu
Já não sinto,
Pelo menos
No momento,
Pelo menos 
Até ver.

MAS É ESCRITA
Inocente
Que quer chegar
Ao destino,
Como o Sol
Vai a poente
Num poema
Cristalino.

SÃO PALAVRAS,
São sorrisos
E, às vezes,
 Fingimentos,
São murmúrios,
Sentimentos
Daquele que
Sempre te quer,
São o sonho
Do poeta
Quando a vida
Adormece
No rosto
De uma mulher.
Foto_Palavras2024

“S/Título”, JAS 2024

NEVERMORE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Sedução”, JAS 2024
Original de minha autoria
Setembro de 202
JAS_Sedução2024

“Sedução”. JAS 2024

POEMA – “NEVERMORE”

SE NUNCA MAIS
Te encontrar,
Mas disso
Eu tenho a certeza,
Melhor te devo
Guardar
Para não deixar
Morrer
A poética leveza,
A que liberta
A alma
E ajuda
A resistir
Fazendo forte
A fraqueza
E suave
O existir.

FICA COMIGO
A tristeza,
Sobrevém
Melancolia?
Tristeza
Não me faz bem,
Não é boa
Companhia.

SE NUNCA MAIS
Te encontrar,
Vou ter saudades
De ti,
Mesmo assim,
Na tua ausência,
Sou aquele
Que te sorri.

SORRIR FAZ BEM
À alma,
Liberta,
Engana a dor,
O sorriso também
Resgata
Da “doença”
Do amor.

DOENÇA,
Diz o poeta?
Não,
Não é bem isso,
Talvez seja
Perdição,
Ficar, assim,
Submisso,
Numa certa
Solidão...

REGRESSA,
"Doce
Melancolia",
Enche a alma
Do poeta,
Dá-lhe versos,
Poesia,
Essa fala
Tão discreta,
Palavras
E melodia,
A sua força
Secreta!

SE ASSIM FOR,
Eu Viverei
Na casa da poesia
Onde a tristeza
Em verso
É suave
E delicada,
É mais quente
Do que fria,
É doce,
Aveludada,
É saudade
Transformada
Em pura
Melancolia.

SOM11_2023REC

MELANCOLIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Melancolia”, JAS 2022.
Original de minha autoria.
Agosto de 2024.
JAS_Melancolia2023_12

“Melancolia”. JAS, 2022. 80×88, em papel de algodão (310gr) e verniz Hahnemuehle. Artglass AR70 em mold. de madeira.

POEMA – “MELANCOLIA”

EU PRECISO
De falar
Da melancolia
Que sinto,
Mas não sei
Bem o que seja...
.........
Talvez se
Em poesia
Vertida
Bem retratada
A veja.

TENTEI
Pintá-la
Num rosto
Para ver se
Conseguia
Ficou no rosto
Pintada
O melhor
Que eu sabia.

TER CERTEZAS
É coisa que eu
Não tenho
Nem a poesia
Mas dá,
Mas se sinto
Melancolia
Por algum motivo
Será.

NÃO É FÁCIL
Definir
Com rigor
A melancolia
Que sinto
E se a procurar
Num poema
Pode até parecer
Que minto...

BOM, FINJO,
Não minto,
Mas fingir
Pode bem ser,
Porque é
Melancolia
O que sinto
Se em perda
Eu viver.

TALVEZ
A melancolia
Seja perda,
Seja vazio
E tristeza,
Mas se a sofrermos
Em arte
Mais do que peso
É leveza.

O POETA
Tem razão,
Tristeza é
Doce
Melancolia
Se a sentirmos
Com palavras
Na pauta
Da poesia,
Quando a dor
De uma perda
Se torna leve
E constante
E a “sombra
Luminosa”
Do ausente
A nossa mais
“Fiel amante”.

JAS_Melancolia2023_12Rec

CIAO, MAMMA, TI MANDO UN BACIO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Mamma”
Original de minha autoria
18 de Agosto de 2024
Mãe2024_05

“Mamma”. JAS. 08-2024

POEMA - "CIAO, MAMMA, TI MANDO UN BACIO"
EU GOSTO
De viajar
Em palavras,
Gosto mesmo
De palavrar
E há números
Que são palavras
Que eu gosto
De cantar.

NÃO FALO
Do número três
Ou do sete,
Que são,
Para vidas
imperfeitas,
Sempre perfeitos
Demais,
Falo de vidas
Contadas
Com palavras
Desenhadas
De que os números
São sinais.

EU TENHO NÚMEROS
Tão cheios
De palavras
Com sentido
Que são vida
 Em movimento,
Sinais de tempo
Vivido,
Já levado
Pelo vento...

HÁ NÚMEROS
Que são palavras
E outros que
São flores,
Há números
Que são
Como beijos
E outros
Pintados a cores
Que evocam
Um passado
De que fomos
Escultores.

E HÁ O NÚMERO
De hoje
Que traz consigo
Um nome,
 Um poema
Que me fala,
Um abraço
Que me aquece,
Um regalo que
Me embala,
Uma imagem
De ternura
Que me sorri
E me cura
Das asperezas
Da vida,
Âncora bela
E segura.

É O NÚMERO
Que traz consigo
O nome
Que me conta
E me sustém,
Nome
Que guardo
Sempre comigo...
.......
O nome
De minha Mãe.

Mãe2024_05Rec

O ECO DO SILÊNCIO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Eco do Silêncio”,
 JAS 2023 (71x82, em papel de algodão,
310gr, e verniz Hahnemuehle; Artglass 
AR70 em moldura de madeira).
Original de minha autoria. 
Agosto de 2024.
SOM11_2023

“O Eco do Silêncio”. JAS 2023 – 71×82, em papel de algodão, 310gr, e verniz Hahnemuehle; Artglass AR70 em moldura de madeira.

POEMA – “O ECO DO SILÊNCIO”

AS PALAVRAS
São as asas
Do silêncio,
Dizia o poeta,
E bem,
Elas voam
Mas só voltam
Se seu eco
Voltar também.

O SILÊNCIO
Só tem eco
Se o poeta
Lho der
E o eco
Será sempre
Como um beijo
De mulher.

VÃO AS PALAVRAS,
Vem o eco
E o silêncio
Tem sentido,
Com palavras
Pinta seu rosto
Em perfil
Bem definido.

ASSIM É A FANTASIA
De poeta
Encantado,
A musa
Fica em silêncio
E ele
Em palavras
Enlaçado.

SÓ AS PALAVRAS
Resgatam
Da profunda
Melancolia,
Elas vão
E logo voltam
Como eco
Dessa pauta
Que se chama
Poesia.

SOM11_2023REC

DIÁLOGO IMPERFEITO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “La Cortigiana”, 
 JAS 2023 (71x88, papel de algodão,
310gr, e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70 em moldura de madeira). Original de minha autoria. Agosto de 2024.
La Cortigiana2023

“La Cortigiana”. Jas, 2023 (71×88, em papel de algodão, 310gr, e verniz Hahnemuehle, Arglass AR70 em moldura de madeira). Agosto de 2024.

POEMA – “DIÁLOGO IMPERFEITO”

PERGUNTA
O poeta
À musa:
Não acreditas
Em mim,
Pois não?
Tanto de mim
Neste excesso
De palavras
Para viajar
No tempo
Ao sabor
Da fantasia
E de uma doce
Ilusão...

PARECE
Um jogo,
Não é?
Mas é vida,
É sentida
E pensada,
É em palavras
Tecida
E em palavras
Consumada.

 NO FIM,
É o verbo...
.........
E quando
Te falo assim,
Com palavras
Arrumadas
Num diálogo
Imperfeito,
Volto
A passar
Por ti,
A olhar-te
Sem te ver,
Por fora,
Mas por dentro,
Na exactidão
Cristalina
Do momento.

OLHAR
Da alma,
Digo eu,
Sem ter
A certeza
Que verei
Com nitidez
A tua,
Que o tempo
Há muito
Embaciou...

DE NOVO
Te verei
Como nas
Despedidas
Ao entardecer,
Que foram
Tantas
E tão sentidas,
A doer...

PERCURSO
De vida
Inesperado
Nas margens
Do destino
Pelos deuses
Inexoravelmente
Traçado.

POR ISSO,
A tua
Será sempre
A imagem
Oracular,
Ritual,
Que sai
Da neblina
Onírica
Dos meus versos
De jogral.

MulherLeo2024Luz

O POETA E O TEMPO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “O Silêncio e o Tempo”
Original de minha autoria
Julho de 2024
Sil&Temp2024COR

“O Silêncio e o Tempo”. JAS. 07-2024

POEMA – “O POETA E O TEMPO”

O POETA
É um ser
Em solidão,
Vive na terra
De ninguém,
Todos se foram
De lá
E quem se foi
Já não vem.

ELE VIVE
Entre
O passado
E o futuro,
Um tempo
Que não existe
Porque se o passado
Passou
No presente
Não persiste.

O TEMPO
Voa
Em direcção
Ao futuro
E deixa
O presente
Pra trás,
Mas quando
Volta
Pra nós
Já é passado
Que traz.

NÃO É POSSÍVEL
Travá-lo,
Porque voa
Para a frente
E voa também
Para trás,
Mas se voarmos
Com ele
Não é só passado
Que traz.

O TEMPO
É devir,
É movimento,
É balanço,
É medida,
É a via
(Que é sempre
Indefinida)
Entre o que foi
E será
E como tudo
Na vida
O que trouxer
Se verá.
Sil&Temp2024CORRec

“O Silêncio e o Tempo”. Detalhe

A CARTA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Retrato”
JAS 2022
* 68x80, papel de algodão
- 310gr - e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70 em moldura
de madeira.
Original de minha autoria.
Julho de 2024.
JAS_ORetrato072024

“O Retrato”. JAS 2022.

POEMA – “A CARTA”

OLÁ, COMO ESTÁS?
Eu estou bem
E saudades
Não me faltam,
Não caio
Em negação,
Quando elas
Mais apertam
Subo ao Monte,
Lá no alto,
Em busca
D’inspiração.

NÃO PARECE,
Mas é bom
Ter muitas
Saudades de ti,
Quer dizer
Que há passado,
Esse tempo
Abençoado
Que contigo
Eu vivi.

POR ISSO, SIM,
Eu estou bem
De saudades,
Embora mal
De passado,
Com imaginação
Vou vivendo
Como te tendo
A meu lado.

E, OLHA,
Se nunca mais
Te encontrar
Passo
A inventar
Encontros
Que nunca
Hão-de ter fim,
Recrio
A tua alma,
Desenho-te
Só para mim.

NÃO ME FIXAREI
No teu corpo,
Ia doer,
Faz sempre mal,
Por isso vou
Projectar-te
Num ecrã
Que é mental.

COM A FORÇA
Do desejo
Recrio o tempo
Que foi,
Recrio
Esse passado,
Evito, assim,
O vazio
E revejo-me
A teu lado.

QUE MAIS POSSO
Eu fazer?
Perder-te
Como poeta?
Deixar
As saudades
Pra lá?
Repetir o abandono
E perder-te
Também cá?

AH, ISSO EU
Não farei,
Ganhei nova
Identidade,
Voltar atrás
Já não posso,
Não depende
Da vontade,
Por isso eu vou
Em frente
Pra cantar
A tua imagem
Como espelho
Da saudade.

ORetrato2024Pub

A VISITA

Poema de João de Almeida Santos
em nove andamentos.
Ilustração: “A Musa e o Jardim”.
Original de minha autoria.
Julho de 2024.
OJardim2024_2

“A Musa e o Jardim”. JAS. 07-2024

LEITMOTIV

“Ah, que inefável pureza!
Que candura imaculada!...
Dir-se-ia que a Natureza 
Nasceu esta madrugada!...”

Guerra Junqueiro, “Idílio”
(A Musa em Férias)
Musa, desce do alto da montanha
Onde aspiraste o aroma da poesia,
E deixa ao eco dos sagrados ermos
A última harmonia.

(...)

Desce. Virá um dia em que mais bela,
Mais alegre, mais cheia de harmonias,
Voltes a procurar a voz cadente
Dos teus primeiros dias.
 
Machado de Assis, “Última Folha”
(Crisálidas)

POEMA – “A VISITA”

I.
FUI VISITAR
O jardim
Num quente dia
De Verão
Às voltas
Com a memória,
Nem sei bem
Por que razão...
II.
E QUE VEJO
No jardim
Quando acabo
De chegar?
Vejo loureiro,
Vejo jasmim,
Vejo mil cores
Fabulosas,
Camélias
Brancas
E rosas,
Explosão
De alegria,
Um bailado
De aromas
Num jardim
Em euforia.
III.
AH, MAS À SOMBRA
Do loureiro
O insólito
Acontece:
Rosas trepam,
Dão-lhe cheiro,
Já nem loureiro
Parece.

IMITAM
O velho enlace
Da videira
Cardinal
E provocam-me
A rima
A cada passo
Que dão
Na subida
Lá pra cima,
Para o alto
Do arbusto,
Onde rosas
Lá não chegam
Nem sequer
A muito custo.
IV.
O ESTRO
Já é escasso,
Foi-se a musa,
Não a sinto,
Procuro-a,
Mas troco
O passo,
Fica difícil
O verso,
Impossível
O abraço.

NEM O JARDIM
Já me salva
Da funda
Melancolia,
Vou tentando
E não consigo
Já ver nele
O que eu via.
V.
E SE VOLTAREM
Aromas,
Mas faltar
A minha musa,
Mesmo assim
Há poesia?
Aromas
Atraem musas
E o poeta
Não sabia?
VI.
AH, ENTÃO 
Agora Que sinto Aromas Renascendo No jardim Talvez a musa Regresse Como aroma De jasmim E talvez ela Desperte Os versos Que eu conservo No mais Íntimo de mim.
VII.
O LOUREIRO
Já tem rosas,
A musa já
Regressou
E o estro
Do poeta
É fonte
Que não secou.
VIII.
VIVA A ARTE,
Viva o poeta
E os aromas
Do jardim,
Viva a musa
Que regressa
Com poemas
Para mim.

VIVA EU
E viva ela
 Quer a veja
No jardim
Ou a veja
Da janela,
O estro
Já regressou,
Rejubila
O poeta Graças ao Regresso Dela E ao que dela Lhe sobrou.
IX.
ASSIM RETOMA
O canto
E a vontade
De cantar,
As musas
São sedutoras
E o poeta
Tenta ser
Mas quando
As musas
O deixam
Já não sabe
Que fazer,
Por isso vai
Ao jardim
À procura
De aromas
Em busca
D’inspiração
Porque sabe
Que os aromas
São das musas
A mais forte
 Sedução.

OJardim2024_2Rec

O BEIJO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "O Beijo". Original
de minha autoria para este poema.
Seis de Julho: “Dia Internacional
do Beijo”. Inspirado em
"Lotte in Weimar" (1939), de
Thomas Mann, a obra que continuou
"Werther" (1774), de Goethe, e no
meu Romance "Via dei Portoghesi".
Seis de Julho de 2024.
O_Beijo060722Corte

“O Beijo”. JAS. 06-07-2024

LEITMOTIV

“O amor é o melhor na vida,
assim, no amor, o melhor é o beijo –
Poesia do amor...”. “Beijo
é alegria, procriação é luxúria”
Thomas Mann

INSPIRADO TAMBÉM EM:

“Os beijos escritos
não chegam ao destino,
mas são bebidos pelos
fantasmas ao longo
do trajecto”
Kafka
“Se para te beijar devesse,
depois, ir para o inferno,
fá-lo-ia. Assim, poderia
vangloriar-me, com os diabos,
de ter visto o paraíso
sem nunca lá ter entrado”
Shakespeare
“O primeiro beijo não é dado
com a boca, mas com os olhos”
Bernhardt

POEMA – “O BEIJO”

BEIJO FOI
O que nunca
Te dei
A não ser
Com o olhar...
O primeiro,
Esse beijo,
Dei-to, pois,
Sem te tocar.

E DEI-TE MAIS,
Com palavras,
Quando olhar
Já não podia,
Foste embora,
Apressada,
E, assim,
Eu não te via.

FORAM BEIJOS
Que sonhei
Na triste rotina
Dos dias,
Desejos
Que enfrentei
Quando tu mais
Me fugias.

AGORA DOU-TE
Beijos
Escritos
Que se perdem
No caminho,
Mas se o poema
Me falta
Fico ainda mais
Sozinho.

O BEIJO
É emoção,
É razão
Descontrolada,
Se não o dermos
A tempo
Pouco mais
Será que nada.

SEM BEIJO
Não há amor,
Sem amor
Perde-se o beijo
E perde sentido
A vida
Quando falta
O desejo...

POR ISSO
O lanço
Ao vento
Pra que chegue
Como brisa
E suave melodia
A quem de afecto
Precisa
Em modo
De poesia.

ESSE BEIJO
Que me faltou,
De que nunca
Fui capaz,
Voa pra ti
Em palavras
Na sua forma
Mais pura
Para que no seu
Trajecto
Voe, voe
A grande altura
E fantasmas
Não o bebam
Enquanto seu
Voo dura.

MAS SEI
Dos escolhos
Da via,
Dos perigos
Que ele corre,
Capturado
Por fantasmas
É um beijo
Que me morre.

O BEIJO
Que não te dei
Foi pecado
Original,
Ficou perdido
Na alma
Como chaga
Corporal

MAS NESTE DIA
Do beijo
Eu canto
A poética
Do amor
Pra me redimir
Dessa falta
Com palavras
Desenhadas
Com a arte
Do pintor.

E PORQUE
O dia é teu
Ganha força,
Intensidade,
Mesmo que
Fantasmas
O bebam
Este é
Um beijo meu,
É um beijo
De verdade.

NÃO HÁ PALAVRAS
Que bastem
Pra repor
O que não dei,
Elas voam,
Mas não chegam...
..............
E mesmo assim
Eu tentei.

É CERTO
Que sempre
O quis,
Só que nunca
To roubei,
A culpa foi
Desse tempo,
Dos dias em que
Te amei,
Um tempo
Em diferido,
Sem presente
Nem futuro,
Talvez beijo
Sem sentido
Porque queria
Do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas
Do Paraíso,
Um beijo
De divindade,
Mas simples
Como um sorriso.

ESSE BEIJO
Impossível
Que não é do
Foro humano
Vou tentando
Construí-lo
Cada dia,
Cada ano,
Perdendo-me
Pelo caminho
Como sagrado
Em profano.

O BeijoRec

O TEMPO E A PALAVRA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Palavras Deslaçadas”
Original de minha autoria
Poema inspirado numa 
pequena poesia de
Luciana Stegagno Picchio
Junho de 2024
Jas_Palavras2024Final3

“Palavras Deslaçadas”. JAS. 06-2024

(...) La vita che è stata   
un istante come un fumo  
scolora
e solo le parole creano il passato"
  
“Lotofagi”, 
In Luciana Stegagno Picchio, 
La Terra dei Lotofagi, Milano, 
Vanni Scheiwiller, 1993: 35

POEMA – “O TEMPO E A PALAVRA”

POR ESTRANHO
Que pareça
Já não me
Lembro
De ti,
Do teu corpo,
Do teu rosto,
Do que sempre
Neles vi,
Dos olhos
Negros,
Profundos
Que um dia
Abracei
E que no tempo
Perdi.

JÁ NÃO ME LEMBRO
De ti,
Apenas tenho
A imagem
Do que aos outros
Transmiti
Com palavras
Desenhadas
E do que nelas
Revi.

AGORA
És feita
De presentes
Vividos
Em ausência,
Em versos
Rimados
Ao sabor
Da melodia
Que trauteio
Em surdina
Nas quentes
Pautas
Desta minha
Fantasia.

OLHO-TE
Nos olhos
Quando desenho
A tua alma,
Não com riscos
Ou com cores,
Mas com palavras
Sofridas,
Já gastas,
Deslaçadas
Pelo tempo
Que passou,
Por emoções
Proibidas.

A VIDA QUE FOI
Esfumou-se
Num instante
Do passado
Já distante,
Esse tempo
Que perdi,
Mas com palavras
A trouxe
Pra reviver
Essa vida
Nos poemas
Que escrevi.

E É ASSIM
Que permaneces,
Em versos
Bem desenhada,
Hoje e sempre,
Sempre aqui,
A forma
De conservar
Esse tempo 
Que contigo
Eu vivi.
Jas_Palavras2024FinalRec

“Palavras Deslaçadas”. Detalhe

NUVEM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Travessia”, JAS 2022,
93x118, impressão Giclée
em papel de algodão e verniz
 Hahnemuehle (100% e 310gr),
Artglass AR70, mold. de madeira.
Original de minha autoria.
Junho de 2024.
Jas09ATravessia2022

“Travessia”. JAS 2022. 06-2024

POEMA – “NUVEM”

EM SOMBRA
Intangível
Se diluía
Esse corpo
Desejado,
Nuvem
No céu da
Fantasia,
A que ele
Mais queria
Ver-se sempre
Abraçado.

VIA
A silhueta
Esfumar-se
Lá no alto,
Soprada
Pelo vento,
E desenhava
Com palavras,
Por entre
Silêncios
E murmúrios
Sincopados,
O que dela
Lhe sobrara
No seu
Mais íntimo
Recanto:
A luz do seu
Corpo,
Seus olhos
Negros
Flamejados.

AS PALAVRAS
Atropelavam-se
Para correr
Atrás dela
No céu
Quente
Da sua
Fantasia
Em pautas
Para música
De câmara
Com a sua
Melodia.

INTIMIDADE,
Era o que ele,
Nessa ausência
Sofrida,
Nesse silêncio
Fatal,
Mais desejava
E sentia,
Como se fosse
Carnal.

“NÃO ACREDITAS
Nisto, pois não?”
Perguntava-lhe
Em surdina,
Com a alma.
“Tanto de mim,
Neste excesso
De palavras
Sobre ti,
Como lava
De vulcão
A deslizar
Num poema
Pela encosta
Íngreme
Do teu corpo...”

"LÁ NO ALTO,
Posso olhar-te
Sem te ver,
Por fora,
Mas por dentro,
Com a alma,
Ondes me cresces
Em palavras
Sem que saibas
Que outras vidas
Nascem 
Como fruto
Do desejo
Proibido
E do tormento,
Até que um dia
Elas te cheguem, 
Assim,
Inesperadas
E levadas
Pelo vento."
Jas09ATravessia2022Rec

“Travessia”. Detalhe.

IDENTIDADE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: "Eu - Nos Tempos de Roma"
Original de Pedro de Almeida Santos
18 de Junho de 2024
Jas2024_PAS

“Eu – Nos Tempos de Roma”. Por Pedro de Almeida Santos. 18.06.2024

POEMA – “IDENTIDADE”

EU SOU QUEM SOU,
Dizia Jahvé,
Mas eu,
Que também sou,
Sou aquele
Que, afinal,
Ainda não sabe
Quem é.

OU SABE,
Ao ter sido,
Pois cada um
É o que é
Pelo que foi
E será,
Pela vida
Que fizer,
Do que da vida
Fará.

PARA ALÉM
Do que eu sou,
É para fazer
Que existo,
Pois o simples
Existir
Não chega
Pra definir
Da vida
O seu registo.

O QUE FOR
Ver-se-á
No caminho
Que escolher...
.............
Mas, vagando
Pela vida,
Serei só
O que fizer?

MAS QUEM SOU EU,
Afinal?
Sou somente
O que já fui
Ou continuo
O caminho,
Com os outros
Ou sozinho,
Como desejo
Constante
De me encontrar
Por aí,
Sempre livre,
Sempre errante
Desde que
De mim eu saí?

SOU POETA?
Sou pintor?
Vivo feliz
Na cidade?
Sou
Cidadão
Do meu mundo
Com incerta
Identidade?

NÃO SEI,
Como dizia
O poeta,
Mas se só for
O que fiz
Não existo
Como tal,
Não sou mais
Que cena nua,
Desenho
Feito a giz
Por pintor
De qualquer rua,
Filho de arte
Banal.

EU EXISTO,
Ou não existo,
Para além
Do que já faço
E do que outros
Vêem fazer?
Só existo
Em seu olhar?
Sou aquilo
Que pareço
E nada mais
Posso ser,
Nada mais
Posso criar?

A VIDA É MAIS
Do que aquilo
Que pareces
E se não fores
O que és
Nunca ela
Te dará
O que, afinal,
Não mereces...

OS OLHOS
Dos outros
Teus espelhos
Sempre serão,
Ajeitas-te
Para lá fora
Ver
O que, afinal,
Pode ser
Uma pura ilusão,
Pois quando
Regressas a ti
Quebra-se
Esse espelho
E regressa
A solidão.

EU QUERO SER
O que sou
E também o que
Pareço
Mas para ser
O que quero
Só a mim
Eu obedeço.

SER E PARECER
A uma só vez
Eis a minha
Solução,
Mas se o parecer
Me domina
É melhor que
Diga não.

Inspiração15_10_2023Final_4-cópia

O LOUREIRO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Luz”
Original de minha autoria
Junho de 2024
Licht2024Trab1

“Luz”. JAS. 06-2024

POEMA – “O LOUREIRO”

CRESCEU MUITO
O Loureiro,
Cresceu, cresceu,
É assim,
Cresce por dentro
E por fora,
E cresce
Dentro de mim.

AGORA TEM LUZ
Por dentro,
Vem lá do alto,
Do céu,
Ilumina o Jardim
Que, antes,
Era só meu.

UM GIGANTE
À minha frente,
Apontando
Para o céu,
Eleva-se,
É imponente,
No jardim
Que já é seu.

QUANDO TENHO
De o podar
Dói-me a alma...
..............
Mas tem de ser,
Da poda
Ninguém se salva
Pra com ela
Renascer.

ARBUSTOS
Flores
Ou frutos,
Tudo muda
No Jardim,
Tudo está
Em movimento
E também eu
Me sinto assim
Quando sopra
Forte
O vento.

SÓ UMA COISA
Não muda
Pra que tudo
Possa mudar,
Não muda
A minha vontade
Nem a forma
De o cantar.
Licht2024Trab1Rec

“Luz”, Detalhe

O POETA E O SILÊNCIO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “A Melancolia do Poeta”
Original de minha autoria
Junho de 2024
Jas_Arte6Sepia4

“A Melancolia do Poeta”. JAS. 06-2024

POEMA – “O POETA E O SILÊNCIO”

TEM RAZÃO
O poeta que quer
Ser rei
Dos silêncios
E não ficar
Escravo
Das palavras
Que ela diz...

ESCUTAR
O silêncio
Da musa
É a missão
Do poeta,
O eco
Das palavras
Em surdina
Com que ele
O interpreta.

FÁCIL É TROCAR
As palavras,
Difícil é
Interpretar
Os silêncios
Em que a musa
Se instala
Sem saber
Se são recusa
Ou se são
A sua fala.

MAS ELE SOFRE,
Entre os silêncios
Expressos
E as palavras
Trocadas,
O acre sabor
Da pura
Melancolia,
O passado
Que passou
E que agora,
Com as palavras
Que tem,
Ele renova
E recria.

FOI NESSE
Intervalo
Entre as palavras
E os silêncios
Que um dia
Se abrigou
Quando por essas
Palavras
Trocadas
De afecto
Soçobrou.

MAS LEVANTOU-SE
Pra dos silêncios
Ser rei,
Recriando
O passado
Em poéticos
Rituais
Pra não ficar
Prisioneiro
De um tempo
Que não volta...
............
Nunca mais.

DOS SILÊNCIOS
Das suas musas
Ele é rei,
Ele é jogral,
Só ele
Os pode ouvir
Como ecos
Do seu canto
Nos dias
De ritual.

Jas_Arte6Sepia1Rec

AS BAGAS E O AZEVINHO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Bagas no Jardim”
Original de minha autoria
Junho de 2024
Pasárgada2024Corte2805

“Bagas no Jardim”. JAS. 06-2024

POEMA – “AS BAGAS E O AZEVINHO”

AO RAIAR
De um belo dia
Vi cinco rosas
Vermelhas
Num canto
Do meu jardim,
Mas também vi
Um azevinho
Sem bagas,
Pobrezinho,
Sem vermelho
Carmesim.

VI TAMBÉM
Esse loureiro
Que tenho
Lá no Jardim,
Arbusto muito
Frondoso
Com fortes
Raízes em mim.

VI A DEUSA
Desnudada
Por entre verde
Folhagem,
Vi as uvas
Da latada,
Marufo
E cardinal,
Vi cores,
Senti aromas
Nesse jardim
Matinal.

MAS NÃO TINHA
Bagas,
O azevinho,
Vermelhas,
Cor do meu sangue,
Estava ali
Tão sozinho,
Melancólico,
Exangue!

O LOUREIRO
Estava triste
Por não ter bagas
A fazer-lhe
Companhia
E por isso
Sugeriu-me
Que lhe fizesse
Um enxerto
Pra lhe dar cor,
Alegria.

ESTAVA TRISTE
Também eu
Por bagas
Que não havia,
Enxerto
Que não servia
Pra dar cor
Ao azevinho,
O rubor
Do carmesim...
................
Então,tornei-me
Pintor
Do que não tinha
O jardim.

PINTEI-O
Com mil bagas
Pra consolar
O poeta
Mas também
O seu loureiro...
................
Não as tinha,
O azevinho,
Passou a tê-las
O seu novo
Companheiro.

FEZ-SE PINTOR
O poeta
Para dar ao seu
Jardim
O que não tinha
Ou perdeu,
Pôs bagas
No azevinho
E o loureiro
Agradeceu.

Pasárgada2024Corte2805Rec

IDENTIDADES

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Outra Janela".
Original de minha autoria.
Maio de 2024.
JAS_Janelal052022PoePub

“A Outra Janela”. Jas. 05-2024

POEMA – “IDENTIDADES”

QUEM ÉS TU?
(Talvez um dia
Perguntes)
Eu sou aquele
Que canta
Pra ti,
Que te desenha
O perfil
Sem nunca
Te nomear,
Aquele que
Sempre
Te chama
Como quem gosta
De ouvir
O eco
Do seu cantar.

QUEM SOU EU?
(Insistirás...)
Ah, sou aquele
Que num dia
Inesperado
Te disse
Que era mais
Do que certeza
Gostar da tua
Beleza
Mas sem te
Comprometer
Porque o teu corpo
Não era
O que mais eu
Desejava
Vir algum dia
A ter.

MAS TU
(Agora,
Sou eu
Que pergunto),
Quem és tu,
Afinal?
Aquela que
Tem medo
De me olhar,
Que diz
Que não
Pode ser,
Que não me ousa
Dizer
Que tudo pode
Arriscar
Porque teme
As tempestades
Deste meu
Incerto mar?

MAS PORQUÊ
Estas perguntas
Que aludem
Ao que nunca
Aconteceu,
Tão longe
Que estamos
De ter
Caminho
Pra percorrer
Em busca
Do impossível
Ou do que nunca
Foi meu?

TALVEZ SEJA
Muito fácil
Responder
Se souberes
Que só tive
Uma razão
Pra te ter
Deste modo
Intangível
Que nunca
Ousaste
Entender...
..........
Porque parecia
Impossível...

UM POEMA,
Um canto
Em surdina,
Um arco-íris
Vertido
Numa bela
Aguarela,
Um modo
De te olhar
Sem sair
Do meu lugar...
.............
O de um poeta
À janela.

Inspiração20_11_2023Rec

A FONTE E A NEVE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Pasárgada II”, JAS 2022.
Museu da Guarda.
* Impressão Giclée, 119x119,
em papel de algodão e verniz
Hahnemuehle, Artglass AR70.
Maio de 2024.
Jas_pasargada2021_5

“Pasárgada II”. JAS 2022. 05-2024

POEMA – “A FONTE E A NEVE”

ERA MAIO
E subia
Lentamente
A montanha
A caminho
Dessa fonte
Seminal,
Um rio
De água pura
E fria,
Torrencial,
Cristalina,
A jorrar...
..........
Uma dádiva
Divina
Pra fruir
E ofertar.

SUBITAMENTE,
 O céu
Cobriu-se
Dessa neblina
Brilhante
Que anuncia
Neve
Lá no alto
Da Montanha.
Pressentem-na
Os que a têm
Em si,
Os que ela
Sempre inspira
E acompanha,
Como eu,
Que sempre
Em mim a senti.

ATRAÍDO
Por um íman
Invisível,
Mudei de rumo
E para o topo
Subi,
Tão grande
E tão constante
Era a sede
Desse branco
Sempre frio e
Cintilante
No seio do qual
Eu cresci.

SAUDOU-ME
Lá em cima,
Vinda
Do alto do céu,
Farrapos brancos
Caíam,
Feitos de fios
De véu,
Murmúrio
Da natureza
A insinuar
De mansinho
A sua discreta
Beleza.

DAVA-ME
As boas-vindas
E continuei,
Feliz,
A subir
Até à densa
Neblina
Do céu
E à esparsa
Brancura,
Esse véu
Tecido com
Leves farrapos
De seda,
Seda branca,
Seda pura
Que a natureza 
Me deu.

E COMO GOSTEI
De me ver
Envolvido
Nessa teia
Que abraça
Com neblina
E frio,
Com o branco
Que cintila,
Branco leve,
Branco macio
Que lembra
Noites de sonho
E me sabe
A desafio...

NADA MAIS
Eu pude ver
Que um palmo
De alvura
Mesmo ali
A meus pés,
Uma intensa
Brancura
Que anuncia
O infinito
Que está ali...
............
Mas não vês.

INSPIREI FUNDO
Esse branco
E esse frio,
Bebi da densa 
Neblina
Que me envolvia
Como abrigo
E regressei
À fonte
Com neve
Na alma
E já com água 
No corpo
Levei a montanha
Comigo.

Jas_pasargada2021_5Rec

REVELAÇÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Penché Arabesque”.
Original de minha autoria.
Maio de 2024.
Arabesque2024_05_7.jpgEscuro

“Penché Arabesque”. JAS. 05-2024

POEMA – “REVELAÇÃO”

EM BREVE
Eu te direi
O nome cifrado
Dela,
O da musa
Que me inspira
E que um dia
Pintei
Numa bela
Aguarela...

NESSE DIA
Falarei
Dos cabelos
Negros
E fartos
Que lhe dançam
Com o vento
Que sempre
Me sopra
Na alma
E nos versos
Que desenho
Nos nossos
Dias de festa,
Quando a folia
Acalma.

PINTAREI
Seus olhos
Negros,
Janelas abertas
Da alma
Quando me fita
E me diz,
Com gravidade
E leveza,
Que o amor
É coisa séria,
Profundo
Como raiz
E de uma rara
Beleza.

HEI-DE DIZER-TE
Por que razão
Ela esconde
Suas pernas
Esguias
E sedutoras,
Leves
Como penas
De colibri,
Que lembram
Os Arabesques
Da bailarina
Elegante
Que gosta
De me dançar
As mazurkas
Do Chopin...
.............
E que sempre
Me sorri.

SIM, UM DIA
Falo-te dela,
Do véu
Translúcido
Que sempre
Lhe cobre
O corpo,
Me inspira
E desafia
Quando tento
Desenhá-la
Com as cores
Da nostalgia.

TUDO
Num só poema,
O véu
Com que finjo
Que não é ela,
A cubro
De transparências
Ao modo de
Botticelli,
Com palavras
Desenhadas
A pintar
A sua vida
Como se ela
Só fosse
Uma longa
Despedida...

Arabesque2024_05_6.jpgEscuro

MÃE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Mãe”.
Original de minha autoria.
5 de Maio de 2024.
Domingo, Dia da Mãe.
Mãe2024_05COR

“Mãe”. JAS. o5-2024

POEMA – “MÃE”

GUARDO-TE
Desde sempre
Aqui,
Na galeria
Íntima
Dos afectos.

FIXEI-TE MELHOR
Naquele dia
E guardei
Na memória
Profunda
O teu rosto
Quando te vi
Um pouco perdida,
Por encanto,
A olhar-me
Como se fosse
A primeira vez.

UM BRILHO QUIETO
Em teus olhos,
Suspensa
Nas nuvens,
A suave paixão
Maternal,
Inefável,
Que não há palavras
Que cheguem
Para a contar
Com a alma,
De tão cheia
De mim estares,
Quase
A transbordar...

A AUSÊNCIA
Permanente,
Tão cortante
E insistente,
O preço que
Pagavas
Para que eu
Me tornasse
No que mais
Querias que fosse
Fazia crescer
Em ti
O encantamento
Que tinhas
Contigo
Desde o dia
Em que te nasci
E comigo
 Renasceste.

AQUI SEMPRE
A meu lado,
Esse teu rosto
Sedutor
Nunca me
Despertara
O desejo
De o cantar
Em palavras,
Em riscos
E cores,
Para além da
Memória
Remota
Do afecto,
Melodia
Em surdina,
Contraponto
Do silêncio.

PALAVRAS, SIM,
Esse olhar
Penetrante
Da alma,
Esse canto
Devotado
A tocar,
Em cada dia
Que passa,
As fronteiras
Intangíveis
Do sagrado.

FOI PRECISO
Aprender
Os delicados
Ofícios
Da arte
Para te poder
Celebrar
E dizer
De todas as formas
Que sei
O que não quero
Calar.

E AQUI ESTOU.
Esse dia
Haveria de
Chegar.
E chegou.

Mãe2024_05CORRec

DIA MUNDIAL DA DANÇA

"J'ARRIVE MADEMOISELLE...", JAS 2024

Pintura by João de Almeida Santos

JAS_Dançar -J'arrive, Mademoiselle...

“J’Arrive, Mademoiselle…”,  JAS 2024

LIBERDADE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Liberdade”
Originais de minha autoria
 Abril de 2024

Liberdade28042024_1jpg

“Liberdade”. JAS. 04-2024

POEMA – “LIBERDADE”

PERGUNTEI-TE,
Num dia
De sol:
“Voas comigo
Prà linha
Do horizonte?".
Deste-me a mão
E sorriste:
“Voo, sim,
Pois preciso
De ar puro
Lá bem no alto
Do Monte”.

E PARTIMOS.
Tu levaste
O arco-íris
Que tinhas
Dentro de ti
E eu as letras
Que tinha
Comigo,
Guardadas
Na minha alma,
O seu porto
De abrigo.

ENREDÁMOS
Todas as cores
Com linhas
De palavras
Deslaçadas,
Construímos
Asas em forma
De verso
E voámos
No céu
De um poema
Pintado todo
De azul...

ANDEI CONTIGO
Por lá
Anos a fio,
Vagueando
Ao sabor da
Inspiração,
Levados
Pela brisa
Que sopra fria
No Monte,
Mas afaga
O coração.

E COMO GOSTEI
De voar contigo,
Livres como
Pássaros
Sobre o vale
Onde te encontrei
Um dia
Construindo
Castelos
Na areia
Com a força
Da magia.

É ASSIM QUE EU
Te vejo,
Tecendo a vida
Com o sopro
Da tua alma
E as cores
Do arco-íris
Pintadas
Por tua mão
Como pauta
Colorida
Da nossa bela
Canção.

FOI ASSIM
Que nos dissemos
Nesse tempo,
Livres de amarras
Que não nos deixam
Voar,
Traçando
Com arte
Um destino
Marcado
Pela vontade
De fazer
Da nossa vida
Caminho
Da liberdade.
250424

“Liberdade”. JAS 2024. Detalhe da Pintura “Liberdade”

LIBERDADE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Pássaro de Fogo”
Original de minha autoria
25 de Abril de 2024

Uccello12

“Pássaro de Fogo”. JAS. 04-2024

POEMA – “LIBERDADE”

PERGUNTEI-TE,
Num dia
De sol:
“Voas comigo
Prà linha
Do horizonte?".
Deste-me a mão
E sorriste:
“Voo, sim,
Pois preciso
De ar puro
Lá bem no alto
Do Monte”.

E PARTIMOS.
Tu levaste
O arco-íris
Que tinhas
Dentro de ti
E eu as letras
Que tinha
Comigo,
Guardadas
Na minha alma,
O seu porto
De abrigo.

ENREDÁMOS
Todas as cores
Com linhas
De palavras
Deslaçadas,
Construímos
Asas em forma
De verso
E voámos
No céu
De um poema
Pintado todo
De azul...

ANDEI CONTIGO
Por lá
Anos a fio,
Vagueando
Ao sabor da
Inspiração,
Levados
Pela brisa
Que sopra fria
No Monte,
Mas afaga
O coração.

E COMO GOSTEI
De voar contigo,
Livres como
Pássaros
Sobre o vale
Onde te encontrei
Um dia
Construindo
Castelos
Na areia
Com a força
Da magia.

É ASSIM QUE EU
Te vejo,
Tecendo a vida
Com o sopro
Da tua alma
E as cores
Do arco-íris
Pintadas
Por tua mão
Como pauta
Colorida
Da nossa bela
Canção.

FOI ASSIM
Que nos dissemos
Nesse tempo,
Livres de amarras
Que não nos deixam
Voar,
Traçando
Com arte
Um destino
Marcado
Pela vontade
De fazer
Da nossa vida
Caminho
Da liberdade.
250424

“Liberdade”. JAS 2024. Detalhe da Pintura “Liberdade”

UM SONHO NA ALDEIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Rua da Carreira", 2022.
Original de minha autoria.
Abril de 2024.

Jas31RuadaCarreira2022COR

“Rua da Carreira”. JAS 2022. Pintura digital, 68×70 (c/mold). Impressão Giclée em papel de algodão (100% I 310gr) e verniz Hahnemuehle. Arglass AR70 em moldura de madeira. 

POEMA – “UM SONHO NA ALDEIA

"SONHEI-TE,
Esta noite,
Numa rua
Da minha aldeia...
..............
Não sei porquê
(É assim que
Os sonhos são),
Caminhámos
Paralelos
Sem dizer
Uma palavra,
Sem um olhar
De través,
Estranhos
Em solidão.

DUAS VEZES,
Duas vezes
Lá estive,
A sentir
O que sentia
Na rua
Da minha aldeia,
Nesse tempo
Diferido
Dos encontros
Intangíveis.

MAS VI-TE
Com nitidez
(Um pouco baça,
É certo)
No silêncio
Do meu sonho,
Cintilante
Como a neve,
A recordar
Tempo antigo
Quando ela,
Muito leve,
Vinha ter
Sempre comigo.

FOI NA RUA
Da Carreira
(A rua
Chama-se assim)
Em frente
Da minha casa,
Onde me vejo
Passar
Quando as saudades
Apertam
E eu tenho
De voltar.

SE A VIDA
É um sonho,
Como dizia
O poeta,
Também os sonhos
São vida,
Pois eu vi que,
Embalada,
E já um pouco
Perdida
Nesse teu
Caminhar
Ondulante,
Me sentiste,
Neste encontro,
Como sonhador
E amante.

E AQUI
Estou eu
A sonhar-te
Outra vez,
Com palavras
Que componho,
Porque te vi
Nesse sonho...
..........
Na rua da
Minha aldeia.

É SEMPRE ASSIM,
Quanto mais tu
Te esfumas
Mais cresce
Este desejo
De ti.
É por isso
Que te sonho,
Pra desenhar
O teu rosto
Como no sonho
Te vi.

E DE TANTO
Te sonhar
Acabei por
Te encontrar
Na terra
Onde nasci,
Na rua
Onde brinquei,
Onde a neve
Derretia
Quando o sol
Lá despontava
E logo a saudade
Irrompia.

AGORA A NEVE
És tu,
Alvura
Que recriei
Para nunca
Eu perder
O que de ti
Me sobrou,
Como a neve
Da minha rua
Que não há sol
Que a derreta
Na penumbra
Da memória
Que, em parte,
É também tua,
Embora seja
Secreta.

Jas31RuadaCarreira2022CORRec

A PORTA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Montanha”.
Original de minha autoria.
Abril de 2024.
Neve01_2024

“A Montanha”. JAS. 04-2024

POEMA – “A PORTA”

OLHO A MONTANHA
De uma porta
De granito
Amarelo,
Com cristais
(O de sempre,
Muito belo),
Como se fosse
A janela
Desse palácio
Encantado
Que do sonho
É o cais.

É A MONTANHA
De sempre,
A que vejo
Da minha porta,
Mas é muito
Diferente
O perfil
Desta visão:
Antes, era 
Futuro que via,
Agora, vejo
O passado,
Essa bela
Ilusão
De a ter tido
A meu lado.

ENTRE PASSADO
E futuro
Era a minha
Identidade,
Ficou quieta,
À espera,
Quando dela
Eu saí
Pra descobrir
A cidade.

SEU HORIZONTE
É o céu,
Abóbada
Sideral
Na fronteira
Da montanha,
Sinto-a
Dentro de mim
Como fonte
Seminal
Que sempre
Me acompanha.

ELA É PORTO
De abrigo
E é lugar de
Partida,
É, pois, mais
Do que porta
Ou mesmo
Do que janela,
É fronteira
Que passamos
Quando a vida
Em nós desponta,
Quando a vida
Se revela.

MAS HÁ
Eterno retorno,
Há regresso
Renovado
Para, assim,
Renascer,
Revisitar
O passado,
O que não
Quero esquecer.

ESTA PORTA
É magia,
Viajo sempre
Com ela,
Dá asas
À fantasia
E dá-me um
Forte alento
Como se fosse
Janela
De onde voo
Com o vento.

DELA VOEI
Para o mundo
E o mundo veio
Até ela,
Quando passei
Esta porta
Também desci 
Da janela.

POR ISSO REGRESSO
A ela,
Esse pilar
Do meu ser
Que da alma
É janela
De onde me posso
Rever.

QUANDO CHEGO,
Logo amanhece,
Quando parto, 
Já entardece,
Mas não sinto
A despedida
Porque dela
Vejo o mundo
Como a montanha
Da vida.
Neve01_2024Rec

“A Montanha”. Detalhe

AS PALAVRAS NO JARDIM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Jardim”.
Original de minha autoria.
Abril de 2024.
Oasis2024_1-cópia

“O Jardim”. JAS. 04-2024

POEMA: "AS PALAVRAS NO JARDIM"
ENCONTREI-AS,
As palavras,
No jardim
Da minha vida,
Aninhadas
No arbusto
Num quente
Dia de verão...
...........
Esperavam,
As palavras,
Por poética
Evasão?

NÃO PENSAVA
Encontrá-las
Nesse lugar
Encantado,
Onde o sol chega
Coado
Pela ramagem
Do arbusto
Em suave
Travessia,
Como esse filtro
Do tempo
Que me esculpe
A memória,
Mas acende
A fantasia.

FORAM TAMBÉM
As palavras
Coadas
Pelo tempo
Que passou
Ou pela densa
Folhagem
Do arbusto
Que por estranha
Magia
Nesse verão
Me fascinou?

EU NÃO SEI,
Mas o que sei
É que elas
Se encontravam
Nesse loureiro
Encantado
Pra serem
Lançadas
Ao vento
De regresso
Ao passado.

ERA A CASA
Onde as palavras
Viviam,
Suspensas,
Em solidão,
Aguardando
A chegada
De quem lhes
Marcasse
O destino
E as levasse
Pela mão...

PODIA SER
Um poeta
Ou então ser
Um pintor,
Pintá-las
Como oferta
Ou cantá-las
Por amor.

Oasis2024_1Rec

UM SONHO NO POEMA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Sonho”.
Original de minha autoria.
Março de 2024.
Sonho2024

“Sonho”. JAS. 03-2024

POEMA – “UM SONHO NO POEMA”

HOJE SONHEI-TE
A noite toda.
Tenho a certeza.
Sonhei,
Não dormi
E foi só
Pra te sonhar
Que eu logo
Adormeci.

E FOI ASSIM
Que te encontrei,
Fora do tempo
E nesse lugar
Onde nunca
Imaginei
Que te podia
Encontrar.

FALASTE-ME
De coisas íntimas,
Em onírica confissão,
Daquelas que
Me fazem
Estremecer
Quando  
Te sonho
Para te ver
E te escrevo
Ou te desenho
Para te ter...
..........
Em piedosa
Ilusão.

COISAS TUAS,
As que guardas
Nessa íntima
Prisão
Pra que desejos
Não se soltem
E te levem
A infausta
Perdição.

MAS FALASTE-ME
Com o corpo
Colado
Ao meu desejo
De ti
E eu senti
O teu calor
E um aroma
Fatal
Que me sabia
A perfume
De amor...
..........
Já em fase
Terminal.

MAS CONTINUEI
A sonhar-te,
De manhã,
Todo o dia,
Até agora que,
No poema,
Já é noite
Bem tardia...
.......
Do dia
De amanhã.

E ACORDEI
(No sonho)
E continuei
A sonhar-te
De tão intenso
E longo
O sonho ser,
A sentir-te
Para nunca mais
Te perder
Até renasceres
Em mim,
No sonho
E fora dele,
Quando se torna
Poema
Pra melhor
Te reviver...
......
Assim.

SIM, “SONHEI
Ter sonhado...”,
Disse o poeta
À musa. "Ter sonhado, O quê?” Perguntou-lhe ela. “Que havia sonhado Estar com você.” “Estar?”, Respondeu-lhe a musa, Sorrindo. “Ter estado, Que é tempo passado.” “Mas o sonho Não tem tempo, Manel, Porque é tempo Recriado”, Disse-lhe a musa Que, no sonho, Esteve sempre A seu lado.

Sonho2024Rec

TALVEZ

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Arbusto Encantado”.
Original de minha autoria.
Março de 2024.
Exp.LouCOR

“O Arbusto Encantado”. JAS. 03-2024

POEMA – “TALVEZ”

TALVEZ SEJA
Dos meus olhos,
Talvez seja,
Ou, então, seja
Dos teus,
Talvez seja
Porque sonho
Ou seja benção
de Deus.

TALVEZ SEJA
Do aroma
De flor
Do meu jardim,
Não sei bem
O que será,
O que sei
(Ah, isso sei)
É que há muito
É assim.

TALVEZ SEJA
Da água
Do nosso rio
Quando o navego
Por dentro
Ou da beleza
do Vale
Na montanha
Onde nasci,
Talvez seja
Do destino,
Desse dia
Em que te vi.

TALVEZ SEJA
Porque vivo
Em frente
De um loureiro,
Lá em baixo,
No jardim,
Ele que fala
E seduz
Quando olha
Para mim...
................
Mas, se não for,
Não importa
Porque à noite
Te pressinto
No perfume
Do jasmim.

TALVEZ SEJA
De o perfume
Inebriar
Como o teu
E, se for,
Vou-te sonhar
Nesse jardim
Que é meu,
Festa
De aromas
E cor
A celebrar
O encontro...
.............
Simplesmente
Por amor,
Uma dádiva
Do céu.

Exp.LouCORRec

SILÊNCIO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Som do Silêncio”, 
JAS 2023,72x82, em papel de algodão 
(100%-310gr) e verniz Hahnemuehle; 
Artglass AR70, em moldura de madeira. 
Poema e Pintura em exposição no Museu
 da Guarda até 07.04. Março de 2024.
Jas. OSomDoSilêncio2021

“O Som do Silêncio”. JAS 2023, 72×82, em papel de algodão (100%-310gr) e verniz Hahnemuehle; Artglass AR70, em moldura de madeira.

POEMA – “SILÊNCIO”

OUÇO A VOZ
Do silêncio
Que me cerca,
Adentro-me
Na multidão
E ele cresce
Por dentro,
Na alma
Me cresce
E, quase, quase,
Como grito
Sufocado...
.......................
Me ensurdece.

AH, É DEMAIS,
Este silêncio,
Esta voz inaudível
Caustica-me
A pele macia
Da memória
Dos afectos,
Uma moinha
Na alma,
Silvo
De vento
Cortante
Nas janelas
Destroçadas
Da emoção.

E EU FUJO
Para o ermo,
Lá em cima,
Na montanha,
À procura
Da solidão de
Eremita
Em busca
Da melodia
Do nome
Silenciado,
Aquele que nunca
Ousaste
Pronunciar,
Palavra em degredo,
Nome castigado
Que só o poema
Pode resgatar.

LÁ NO ALTO
(É sempre assim),
Ouço uma harpa
Dedilhada
Por ti,
Notas musicais
Que me fazem
Estremecer
E vejo riscos
Coloridos
Esvoaçando
No teu azul
De Lisboa
Em direcção
Ao infinito...

VEJO-TE SAIR
Da neblina
Cintilante
Do rio
Que te veste
A alma
E sacio-me de
Palavras
Soltas,
Em turbilhão,
Até que a inspiração
Chegue
E as componha
Num poema
De redenção
Que te cante
E que te conte
Às nuvens
E ao vento
Que passa...

NOMEIO-TE
E sussurro
Uma pequena
Palavra
Que nunca ousei
Pronunciar,
Mas que ouviste
Ressoar-te
Na alma
Mil vezes,
Em mil poemas
Sufocados.

O SILÊNCIO
É a tua fala
(Bem sei),
Mas eu não sairei
Deste poema
E do ermo reparador
Até que me ouças
E soletres
Finalmente
Esse nome
Com as cores
Da tua fantasia,
As cores vivas
Da emoção.

FICO PRISIONEIRO
De um poema
Em construção
Até ao resgate
Desse nome
Perdido
E silenciado
Na ilha remota
Da tua memória,
Âncora firme
Da minha própria
Salvação.

Jas. OSomDoSilêncio2021Rec

MARÇO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Neve e a Primavera”.
JAS 2022, 68x93, em papel de algodão
(100% - 310gr) e verniz Hahnemuehle.
Artglass AR70, em moldura de madeira.
Poema e Pintura em exposição no Museu
da Guarda até 7 de Abril. Março de 2024.
Jas13ANeveEaPrimavera2022

“A Neve e a Primavera”, JAS 2022, 68×93, em papel de algodão (100% – 310gr) e verniz Hahnemuehle. Artglass AR70, em moldura de madeira.

“POEMA – “MARÇO”

GOSTO DE MARÇO,
Entre a neve
E a primavera,
Entre o branco
E as flores,
A chegada
De Perséfone,
O mistério
Que me atrai
Nessa fronteira
Do tempo
Que ainda não
Passou.

GOSTO
Do Botticelli
Dos rostos
E dos corpos
Das três
Graças,
Feminis,
Volúpia de
Transparências,
Sensuais,
Primaveris.

GOSTO DO BRANCO
Da magnólia,
Dos seus farrapos,
E do branco frio
Da montanha,
Gosto
Dessa cor que
Que brilha
Nos meus olhos
E que sempre
Me acompanha.

GOSTO DE MARÇO
(Porque gosto),
Entrei nele
Contigo,
No signo do
Desencontro
Que se repete
Neste silêncio
Fatal,
Marcado
Contraponto
Desse tempo
Do meu canto,
Um “triste
Destino”
Que quase
Parece irreal.

PARA TI COLHIA,
Em Março,
Flores luminosas
E a inspiração
Crescia
Em estrofes
Desenhadas
Com a força
Da magia,
Fingindo sentir
O que dizer
Não podia,
Fosse só
Por duas horas
Ou fosse
Por todo um dia.

NO SIGNO
Do desencontro
Marcado como selo
Lá vou eu
Mais uma vez
Por aí,
Nem sei porquê,
Ou por falta de ti,
De braço dado
Com Botticelli,
Lá em cima,
Na Galleria,
Oráculo de arte
E templo
Da fantasia.

SINTO-TE PERTO,
Ah, eu sinto,
Depuro
A tua imagem
Em bissetriz
De mil rostos
Até se tornar
Ideia
De corpo ausente,
Dialéctica
Animada
De opostos.

DEPOIS REINVENTO-A
A cada instante,
Abraço-a
Com alma
De amante,
Pinto com
Palavras
O seu perfil
Ideal
E fixo-a
De novo
Neste meu
Jardim
De jogral.

AO ACORDAR,
No amanhecer
De cada poema
Verei que continuas
Em mim,
De olhos fechados
(Lembras-te?),
Como se fosses
Sonho do que
Nunca aconteceu
Naqueles dias
Passados.

ANDAREI
Por aí
(Os astros
O dirão),
Vagando
E pousando
O olhar
No pólen
Da beleza
Sensível
À procura
De seiva fresca
Para desenhar
Poemas
E dar vida
Ao impossível.

LÁ NO ALTO
Te encontrarei,
Imitação
Dos dias
Da criação,
A construir
Infinito,
Onde, num adeus
Já sem fronteiras
Nem cais
De partida,
Hás-de desenhar
Com a alma
As mil silhuetas
Ainda inacabadas...
..............
Ou talvez não!


MEU DEUS,
Como gosto de ti,
Em Março,
O mês da floração,
Quando a magia
Renasce
Para renovar
A vida
Com a força da
Paixão.

Jas13ANeveEaPrimavera2022REC

OCASO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Rasto de Luz” - JAS
2023 (83x83), papel de algodão e
 verniz Hahnemuehle (100% - 310gr),
Artglass AR70, em mold. de madeira.
Quadro e Poema (acrescido de dois 
versos na última estrofe) que
integram a Exposição “Luz no Vale”, aberta ao público no Museu da Guarda até ao dia 7 de Abril.
RastodeLuz_2023

“Rasto de Luz”. JAS 2023 (83×83), papel de algodão e verniz Hahnemuehle (100% – 310gr), Artglass AR70, em mold. de madeira. 

POEMA – “OCASO”

CAMINHAVA SÓ
No Paredão
E sentei-me,
À tardinha,
A olhar
A solidão,
O oceano
E o sol
Lá ao fundo
A brilhar
Sobre a linha
Do horizonte,
Em tempo de
Baixa-mar.

O SOL CRIARA
Um caminho
De luz,
Mar afora,
A entrar
Pelos olhos
Dentro
Nessa já
Tardia hora.

E CONVIDAVA-ME
A segui-lo
Com o olhar
Em gesto
De despedida,
Era hora
De sol-posto,
Era hora
De partida.

A LUZ INTENSA
Do sol,
Longo rasto
Luminoso,
Incendiava
O olhar
De tão forte
Ser a luz
A refractar-se
No mar.

FIXEI
Esse caminho
E ouvi
Da sua água
Um suave
Marulhar,
Murmúrio
Terno
Das ondas,
Melodia
Luminosa
Criada
Pra embalar.

ERGUI DE NOVO
O olhar
Para o sol
Que s’esvaía,
Respirei
E voltei
A respirar
Uma intensa
Maresia.

RUA DE LUZ
Marinha
A levar-me
Ao horizonte
Por círculo
De fogo
Aceso
Em urgente
Despedida,
Ocaso
Que anuncia
Noites
Passadas
De sonho,
Estranhas
Formas
De vida.

ASSIM ME PARECE
Ter sido
A história breve
Que contigo
Eu vivi,
A mesma faixa
De luz,
O mesmo círculo
De fogo
Que o horizonte
Engoliu,
O serpenteio
De corpos
No luminoso
Caminho
Que a ti
Me conduziu...

ATÉ QUE O SOL
Se pôs
Pra regressar
De manhã,
Metáfora
Luminosa
Do nosso encontro
Fugaz
Já tão perdido
No tempo,
Esse tempo
Tão voraz.

E O SOL
Lá regressou,
Mas vinha
De outro lado,
Sem suave
Marulhar,
Sem ondas
Pra navegar
Nesse brilho
Ondulante
Que um dia
Me encantou
A lembrar-me
O teu mar,
Esse ondear
Cativante
De quem não sei
Se me amou.

RastodeLuz_2023Rec

TEMPO

Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “La Peccatrice”, JAS 2023. Este poema integra um conjunto de sete que estão expostos, ao lado das pinturas que os ilustram, nas paredes das salas do Museu da Guarda que acolhem a minha Exposição individual “Luz no Vale”, de 51 pinturas, que está acessível ao público até 7 de Abril. Esta associação entre pinturas e poemas pretende ilustrar o processo sinestésico que adopto no meu trabalho criativo. Fevereiro de 2024.

LaPeccatrice2023

“La Peccatrice”, 2023. JAS. 02-2024

POEMA – “TEMPO”

QUE FARIA
Se te encontrasse,
Olhos nos olhos,
Numa margem
Deserta
Do nosso passado?

QUE TE DIRIA
Se te visse
Caminhar,
Airosa,
Mas circunspecta,
Ali mesmo
A meu lado,
Com esse rosto
Tão belo,
Tão brilhante,
Acetinado?

NÃO SEI,
Porque não sei
O que o tempo
Fez de nós,
Se petrificou
Nas encostas
Da memória
A tua tão bela
Imagem,
Ficando
Ainda mais sós
Nesta já longa
Viagem.

TALVEZ ENCONTRO
Impossível,
Porque o tempo
Transbordou
E apagou
As margens
Do rio que
Navegámos
Entre escolhos
Perigosos,
Rápidos
Sempre
Imprevistos
E como tu
Revoltosos.

MAS O RIO
Já não tem água
Nem murmúrios
De corpos
Por ela abaixo
A vagar
Até à foz
Quente do mar,
Melodia
Do desejo
A clamar
Por um simples
Lampejo
Pra iluminar
A viagem.

E SE UMA FOZ
Encontrasse
Seria de um rio
De palavras
Em turbilhão
A entrar
Nesse teu mar
Com a força
Da paixão.

MAS O NOSSO
Já é um barco
Fantasma
Sem foz
À vista
E sem mar,
Sem leito
Pra navegar,
Sem água
Nem margens
Para onde
Transbordar.

POR ISSO,
Se te encontrasse
Numa margem
Deserta
Desse tempo
Já perdido
Ou num porto
De abrigo
Do passado
Que persigo
Talvez eu
Estremecesse,
Mas seguiria
Caminho,
Com palavras
E com contigo,
Mesmo que fosse
Sozinho.

LaPeccatrice2023Rec

A JANELA

ILUSTRAÇÃO: "A JANELA", 2022 
Original de minha autoria. 
O poema de hoje integra um
conjunto de sete poemas que
estão expostos ao lado das
pinturas que os ilustram, nas
paredes das quatro salas do
Museu da Guarda que acolhem
a minha Exposição individual  
“Luz no Vale”, de 51 pinturas,
e que estará acessível ao público
entre 08.02 e 07.04.2024. Esta
associação entre  sete pinturas
e sete poemas pretende ilustrar
o processo sinestésico que adopto
no meu trabalho criativo.

Desejo-lhe um excelente domingo
e deixo-lhe aqui o convite
para que visite a Exposição.
Janela2024

“A Janela”, 2022. JAS. 02-2024

POEMA - "A JANELA"
NOS VIDROS
Desta janela
Se espelha
Todo o meu ser,
É neles que
Eu te revejo
Quando deixo
De te ver.

DA JANELA
Vejo o mundo
E o mundo
Vê a janela,
Debruçada
No parapeito
Olho o céu
E olho a rua
Para ver
Se passas nela.

NOS VIDROS
Desta janela
Há reflexos
Da vida,
Olho pra eles
Pensativa
Mas não me sinto
Perdida
Se puder
Falar contigo
Quando estás
De partida.

NESTES VIDROS
Da janela
Se espelha
Todo o teu ser
Quando passas
Nesta rua
E me sinto
Estremecer
Da falta que tu
Me fazes
Por ainda
Não te ter.

SE TE AFASTAS
Da janela
E vislumbro
Silhueta
Lá ao fundo,
Longe dela,
Eu sofro
Por te perder...
......
Na rua
E também nela.

VOA PRA LONGE
Essa tua
Silhueta
Que s’esgueira
Na esquina
Como se fosse
Cometa
A passar
Na minha rua,
Mas também eu
Me diluo
E me sinto
Um pouco nua
Na imagem
Transparente
Dos vidros
Desta janela
Como se fosse
Já tua.

FOSTE EMBORA
Do meu mundo
Onde eu
Te queria ter
Ao alcance
De um olhar
Para nunca
Te perder.

MAS NÃO DEIXEI
A janela,
Esperei sempre
Por ti,
Hora a hora,
Dia a dia,
Até que, por fim,
Eu te vi.

VI-TE
Da minha janela,
Desenhei-te
Com alma
E olhar
De devoção,
Pintei-te todo
A vermelho
Da cor da minha
Paixão...
................
Mas mesmo assim
Tu partiste
Sem me dar
A tua mão.

DA JANELA
Sempre te vejo
Mesmo ausente
Da nossa rua,
Nos vidros
Fica imagem,
Perfeita
Como a tua,
Mas é sempre
Transparente
E não lhe posso
Tocar,
Guardo-a, então,
Com ternura
Em meu inocente
Olhar.

E GOSTO
Da Primavera,
Confundir-te
Com aromas
Que me chegam
À janela,
Anunciando
A chegada
Do melhor
Que sinto nela.

A JANELA
Não tem cortinas
Pra te ver
Na nossa rua,
Ver-te chegar
E partir,
Ficando um pouco
Mais nua,
Querer que
Me vejas
Assim
Tão brilhante
Como a Lua.

AH, QUANTAS VEZES
Eu desci
Da janela
Para a rua,
Olhava de baixo
Pra cima,
Mas eu nela
Não me via
E, assim,
Não era tua.

O MEU MUNDO
É a janela,
O da rua
É o teu,
É dela que
Eu te revejo,
Na rua
Já não sou eu.

DA JANELA
Do meu mundo
Olho pra ti
Com calor,
Sem ela
Eu não te sinto,
Fica um muro,
Meu amor.

Janela2024REC

“CHÃO”

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Luz na Montanha”, 2021.
Original de minha autoria.

O Poema de hoje integra um conjunto
de sete que estarão expostos, ao
lado das pinturas que os ilustram,
nas paredes das quatro salas do
Museu da Guarda que acolherão a
minha Exposição individual “Luz no
Vale”, com 51 pinturas, que estará
acessível ao público entre 08.02,
(dia da inauguração às 18:00), e
07.04.2024. Esta associação entre
sete pinturas e sete poemas pretende
ilustrar o processo sinestésico
que adopto no meu trabalho criativo.

Desejo-lhe um excelente domingo
e deixo-lhe aqui o convite para
que se associe a nós no dia da
inauguração da Exposição. 02.2024
Luzna Montanha

“Luz na Montanha”. JAS, 2021. 02-2024

POEMA – “CHÃO”

DESCESTE,
Não sei bem
De onde.
Cravaste raízes
Profundas
Neste meu
Sagrado chão.

AO LONGE,
Lá na montanha,
Surge, do nada,
Incandescente,
Um clarão.
São os meus olhos
Que te iluminam...
...............
Ou talvez não.

NUNCA VI
Chover do céu
Tanta luz...
..........
E no chão
Que sempre piso
Tão delicada raiz
Que cresce
Dentro de mim
E, suave,
Me conduz
Como quando
Me sorris.

ESTA LUZ
Que lá do alto
Ilumina
É magia,
É milagre,
É fogo
Que me fascina
Neste meu
Entardecer...
............
Faz-me voar
Para ti
Apenas para
Te ver.

MAS NAS RAÍZES
Que crescem
Por dentro
E por fora
Como rendilhado
Neste meu chão
Seminal
Fica presa
A minha alma
Como se fosse
Prisão...
..................
Por pecado capital.

ELEVA-SE NELAS
A geometria
Perfeita de um
Monólito
Sideral
Para te invocar
Em ritual
De montanha
Onde possas
Renascer
Como a divindade
Da chama.

A MAGIA
Deste chão,
Despertada pela luz
Que vem lá
De cima,
Do alto,
Devolve-me
A liberdade,
Acende-me a fantasia,
Põe-me a alma
Em sobressalto
E o corpo
Em euforia...

ENTÃO, CANTO
Então, danço
Neste chão
Que é só meu,
Dou asas
À fantasia
E a fronteira é o céu.

Luzna MontanhaREC

ESCULPIR-TE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Aurífice”, 2022.
Pintura e Poema de minha autoria. 
Ambos integram a Exposição de Pintura 
e Poesia, “Luz no Vale”, cuja 
inauguração ocorrerá a 8 
de Fevereiro, às 18:00, no 
Museu da Guarda. Janeiro de 2024.
Jas15Oaurífice2022

“O Aurífice”. JAS. 2022

POEMA: “ESCULPIR-TE”

ENTRE O BRANCO
E O NEGRO
Quis esculpir-te
A alma
Na flor que,
Num acaso,
Encontrei
Perdida
No jardim
Da minha vida...

ATRÁS DE TI,
Ou em fuga
(Já nem sei),
Gastara
Todas as cores do
Arco-íris
Que tinha
Guardado
Dentro de mim.

SOBRARA
Uma marmórea
Pedra negra,
Espelho oracular
Onde me via
Escuro na alma
Por falta
De cores
Exuberantes
Que me protegessem
Do frio glacial
Da tua ausência,
Suportada
Nas longas
Intermitências
E contrapontos
De uma melodia
Inacabada.

SOPREI FORTE
Com a alma
Desnuda
E a flor
Pousou suavemente
Na pedra lisa
E brilhante
Da catedral,
Do oráculo
Vestal
Onde te queria
Celebrar
Como amante.

ESCULPI-TE
Como filigrana
De ouro preto
Sobre branco-pérola,
Aurífice da tua
Alma sedutora
No coração
Alvoraçado
Dessa flor
Onde guardei
O teu nome
Gravado em letras
Invisíveis.

DESENHEI
Alvas incrustações
Em filigrana
Como marcas
Indeléveis
Da arte
Que um dia
Me visitou
Para celebrar
A beleza
Do teu rosto.

E, AGORA,
A olhar para
O branco e o negro
Desse cântico
Desenhado
E esculpido,
Ofereço-te
Este poema
Sobre pintura
Imaculada
Onde te celebro
Com arte
Minimal,
Na forma
E na cor,
Sem fronteiras,
E onde
Te reinvento
Em fuga:
Um elegante
Fio branco
Que esvoaça,
Livre,
No marmóreo céu
Do teu altar.

A ÂNCORA,
A sul,
Desliza
Suavemente
Sobre ti
E dilui-se,
Como eu,
Na negra
Vastidão...

EVOCO-TE, ASSIM,
A branco e negro
Sobre a flor
Que um dia
Encontrei
Perdida
No meu Jardim
Encantado
Quando visitava
O impossível...
...............
À tua procura.

Jas15Oaurífice2022Rec

ONDAS REVOLTAS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Thálassa”, 2024.
Original de minha autoria
para este Poema.
Janeiro de 2024.
MILVA_2024_6

“Thálassa”. JAS. 01-2024

POEMA – “ONDAS REVOLTAS”

ONDAS REVOLTAS
Embatem
Com harmónico
Estrondo
Nos rochedos
Esculpidos
Da praia
Da meia-lua.

DO ALTO DA TOSCA
Escadaria
Fixo o horizonte
E vejo-me
A surfar
As ondas
Desse teu mar,
Em fuga
E sem destino
Marcado...
..............
Simplesmente,
A vagar.

SINTO NA PELE
A espuma branca
Que se dispersa
Em mil gotículas
Sobre a areia fina
Da praia,
Alvura
Cintilante
Que me encandeia
E me põe
À deriva
Nas águas
Mornas
Do mar.

DEPOIS SINTO
Um leve
E curto
Marulhar,
Sinto paz,
Uma melodia
Na alma,
Azul
Que se desprende
De ti,
Me pinta todo
Por dentro
E me convida
A cantar.

REGRESSAM
De novo,
Tonitruantes,
As ondas
E esta fúria
Impetuosa
Do mar
Tempera-me
A vontade
De contigo
Navegar.

MAS SINTO-ME
Frágil
Na praia
Da meia-lua,
A força
Cadenciada
Das ondas
Atrai-me como
O canto
Das sereias
E eu sinto-me
Levitar.

DE NOVO
Ondas brancas,
Fervilhando
Contra rochas,
Esculpindo,
Maresia,
Gotículas
Que pairam
No ar
E me refrescam
A alma,
Morrinha
Difusa
Que me rega
A pele já
Tão seca de ti...
.............
E me ajuda a
Renascer.

E EU,
Sentado ali,
A meditar
Sobre ti,
A ouvir o canto
Da Milva
Sobre o mar,
Thálassa...
Thálassa,
E com ela
Ensaiando
Um tímido
Trautear...

PARÃ... PARÃ...
PARÃ...
.............
Neste teu mar
O barco invisível
Do tempo
Ali mesmo
A flutuar
E o meu destino
É azul
E as ondas
Batem nas rochas
Sem parar
E eu,
Já seduzido
Pelo som
Encantatório,
Sinto o meu corpo
A tremer,
Mas sinto a alma
A vagar...
......................
Na praia da meia-lua.

MILVA_2024_6Rec

POEMA PARA UM ROSTO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Fascínio”, 2023.
Original de minha autoria,
brevemente em exposição
no Museu da Guarda. Janeiro de 2024.
FascínioPoema2024

“Fascínio”, 2023. JAS, pintura digital, 68×88, impressão Giclée em papel de algodão (e verniz) Hahnemuehle (310gr), Artglass AR70 em moldura de madeira. 

POEMA – “POEMA PARA UM ROSTO”

AH, ESSES TEUS OLHOS
Exortam-me,
Mas não ouço palavras,
Não ouço sons
E até pressinto
Um impulso hesitante,
Um leve espanto contido
Que te suspende
E mantém
Nesse impasse
Tão sofrido.

DOCE MISTÉRIO,
Sinais intensos,
Os teus,
Que falam
Sem te dizer
E capturam 
O olhar Até, por fim, Me perder. ESSE TEU ROSTO Intenso, Esses olhos Fascinantes Perturbam, Têm um estranho Poder Porque invocam Nome incerto, O chamam Sem o dizer. SE TE OLHO, Tu seduzes E eu fico
Expectante, Suspenso Entre o calor Do desejo E o frio Do impossível, No limiar Deste meu lado Tão frágil, Deste lado Tão sensível. QUERES FALAR, Mas dos lábios Sai silêncio, Talvez suspiro Ou um leve Balbucio, Receias denunciar O que não tens Pra dizer Em contido desafio. CALASTE Com medo De perder O que nunca Agarraste Com as mãos Puras Do desejo... TEUS LÁBIOS Sussurram, Desenham palavras Sem som E suspendem O encontro Adiado, Como esse beijo Que não ousaste Inventar Com as cores Da tua alma, Esse beijo Sufocado. NOS TEUS CABELOS Enovela-se-me A alma, No teu mistério Caio tão fundo Que já nem posso Esbracejar, Agarrar-me Às paredes macias Do desejo, Por elas acima Trepar À procura Do que nunca Chegará, Forte que seja O ensejo.
ESSE MISTÉRIO
E esse sedutor
Olhar Onde afundo As raízes Da alma Consomem-me A energia Para, em sonho, Eu contigo Navegar. VEJO-TE Fixar o vazio, Mais além Do horizonte, Melancolia Em estado puro, Valsa lenta Dentro de ti, Que balbucias A vida, Incapaz De a gritar Aos que não Querem ouvir A palavra Proibida. AH, SIM, Mas eu gosto Dessa tua solidão E viajo contigo Até ao lado mais Esconso Da tua alma Para depois o pintar Com todas As palavras Que tiver comigo, Até que um dia Me abandonem, Exaustas de tanto Clamarem Por ti, Cansadas de tão Inútil castigo.

FascínioPoema2024Rec

FascínioPoema2024

“Fascínio”, 2023. JAS, pintura digital, 68×88, impressão Giclée em papel de algodão (e verniz) Hahnemuehle (310gr), Artglass AR70 em moldura de madeira. 

POEMA – “POEMA PARA UM ROSTO”

AH, ESSES TEUS OLHOS
Exortam-me,
Mas não ouço palavras,
Não ouço sons
E pressinto
Um impulso hesitante,
Um leve espanto contido
Que te suspende
E mantém
Nesse impasse
Tão sofrido.

DOCE MISTÉRIO,
Sinais intensos,
Os teus,
Que falam
Sem te dizer
E capturam o olhar
Até, por fim,
Me perder.

ESSE TEU ROSTO
Intenso,
Esses olhos
Fascinantes
Perturbam,
Têm um estranho
Poder
Porque invocam
Nome incerto,
O chamam
Sem o dizer.

SE TE OLHO,
Tu seduzes
E eu fico expectante,
Suspenso
Entre o calor
Do desejo
E o frio
Do impossível,
No limiar
Deste meu lado
Tão frágil,
Deste lado
Tão sensível.

QUERES FALAR,
Mas dos lábios
Sai silêncio,
Talvez suspiro
Ou um leve
Balbucio,
Receias denunciar
O que não tens
Pra dizer
Em contido desafio.

CALASTE
Com medo
De perder
O que nunca
Agarraste
Com as mãos
Puras
Do desejo...

TEUS LÁBIOS
Sussurram,
Desenham palavras
Sem som
E suspendem
O encontro
Adiado,
Como esse beijo
Que não ousaste
Inventar
Com as cores
Da tua alma,
Esse beijo
Sufocado.

NOS TEUS CABELOS
Enovela-se-me
A alma,
No teu mistério
Caio tão fundo
Que já nem posso
Esbracejar,
Agarrar-me
Às paredes macias
Do desejo,
Por elas acima
Trepar
À procura
Do que nunca
Chegará,
Forte que seja
O ensejo.

ESSE SEDUTOR
Olhar,
Esse mistério
Onde afundo
As raízes
Da alma
Consomem-me
A energia
Para, em sonho,
Eu contigo
Navegar.

VEJO-TE
Fixar o vazio,
Mais além
Do horizonte,
Melancolia
Em estado puro,
Valsa lenta
Dentro de ti,
Que balbucias
A vida,
Incapaz
De a gritar
Aos que não
Querem ouvir
A palavra
Proibida.

AH, SIM,
Mas eu gosto
Dessa tua solidão
E viajo contigo
Até ao lado mais
Esconso
Da tua alma
Para depois o pintar
Com todas
As palavras
Que tiver comigo,
Até que um dia
Me abandonem,
Exaustas de tanto
Clamarem
Por ti,
Cansadas de tão
Inútil castigo.

FascínioPoema2024Rec

O JARDINEIRO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Confissões no Jardim”, 2023.
Original de minha autoria.
Impressão Giclée em papel de algodão
e verniz Hahnemuehle, 88x71,
Arglass AR70 em moldura de madeira.
Janeiro de 2024.
ConfissõesNoJardim2023

“Confissões no Jardim”, 2023. JAS. 01-2024. Impressão Giclée em papel de algodão e verniz Hahnemuehle, 88×71, Arglass AR70 em moldura de madeira.

POEMA – “O JARDINEIRO”

TORNEI-ME
Bom jardineiro,
Com letras
Faço flores
E com rosas
Eu pinto versos,
Com camélias
Invento amores,
A deusa
Dos sonhadores
Aguça-me
A fantasia,
Nascem poemas
A rodos
No jardim da poesia.

O QUE VALE
Amor-perfeito?
Um verso
Que sai do peito?
Os versos
São como as cores,
São delicados
Sabores
Que amaciam a alma
Quando ela
Fica em ferida,
São remédios
Que nos curam,
Que tornam
Mais doce a vida.

POR ISSO VOU
Ao jardim
Inebriar-me
De flores,
Saem versos
Só pra mim
Com palavras
Que são cores.

OLHOS-AS
Com atenção,
Fixo-as
Com o olhar,
Toco nelas
Com a mão,
Fico ali a meditar
No que vai
Acontecer
Em tempo de
Floração,
Com elas
A germinar...

NADA MAIS
Quero saber,
Só de cores
Pra me curar
Do que mais
Me faz sofrer.

MAS AS FLORES
Não duram
Sempre,
São mortais,
Ao ritmo
Da natureza,
Cada uma
Tem seu tempo
Pra resolver
A tristeza.

NAS FLORES
Vejo beleza,
Nas palavras
A matriz,
Em cada flor
Pureza
E em todos
Os perfis,
Até a tristeza
É bela...
............
Como quando
Me sorris.

POR ISSO SOU
Jardineiro,
Com flores
Aprendo sempre,
É saber
Sempre certeiro
Pois natureza
Não mente.

DAS FLORES
Eu faço versos,
Com letras
Pinto flores,
Faço rima
No jardim
E lá crescem
Meus amores...
..............
E as palavras
Curam dores
Que o poema
Sublima,
São como as cores
Dos meus olhos
Que iluminam
A rima.

POR ISSO SOU
Jardineiro
Da palavra colorida,
Crio perfumes
Em verso
Pra dar leveza
À vida.

ConfissõesNoJardim2023Rec

CANETA DE CRISTAL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Parousía"
Original de minha autoria.
31 de Dezembro de 2023
Jas_Arte7

“Parousía”. JAS. 31.12.2023

POEMA – “CANETA DE CRISTAL”

E COM CANETA
De cristal
E a dádiva
De Athena
Pôs-se a compor
Com palavras
Para cumprir
Sua pena.

VALEU-LHE
A poesia,
A lamparina
Acendeu
E com o mais
Puro azeite
Em versos
Tudo ardeu.

SOZINHO
Na biblioteca,
Arrasado
De paixão,
Entregou-se
À poesia,
Libertou
A sua alma
Das grades
Dessa prisão.

NO TEAR
Ele teceu
Um manto
Com sua pena
E voou lá
Pràs alturas
Bafejado
Por Athena.

FOI COMO PRECE
Cantada
No altar
Da emoção,
Acendeu-se-lhe
A alma,
Toldada ficou
A razão.

NÃO É ASSIM
O amor,
Um foco intenso
Que cega?
Ardem palavras
Em dor
Porque é total
A entrega.

E FOI ASSIM
Que venceu
Uma dor
Que o oprimia,
Sem versos
E sem a deusa
Era templo
Que ruía.

Jas_Arte7Rec

REFLEXOS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Montanha Encantada”,
JAS, 2022 - Impressão Giclée em papel
de algodão (100% - 310gr) e verniz
Hahnemuehle, 94x119, Artglass
em moldura de madeira.
Dezembro de 2023.
Jas36AMontanhaEncantada2022

“A Montanha Encantada”, 2022. JAS. 12-2023

“Tu prima m’inviasti verso Parnaso
a ber ne le sue grotte, e prima
appresso Dio m’alluminasti”.

Dante Alighieri, Purgatorio.
Canto XXII.

POEMA – “REFLEXOS”

PERDI-TE
Porque nunca
Te encontrei...
Numa rua,
Numa praça,
Num café.
Em lado nenhum.
Não sei.

AH, MAS ENCONTREI-TE
No Parnaso
(Agora me recordo),
Lá em cima,
Intangível,
Sem poder
Tocar-te
A não ser com
Palavras
Em forma de poema
Sensível às cores
Vivas
Da tua alma.

DE REPENTE,
Vestiste-me
Com elas,
As palavras,
E eu senti-me
Quente,
Afagado,
No meu canto.

SIM, ENCONTREI-TE
No Parnaso,
Lá em cima,
No Monte.
Através de ti
Eu vi a costa
E vi o mar
E o meu mundo
Interior,
Com nitidez,
Num sonho
Em azul...
.........
A tua cor.

DEPOIS VEIO
A neblina
Cintilante...
Cobria-te
Para te revestir
E refrescar
A alma
Com chuva
Miudinha...
...........
De palavras
Húmidas
Caídas do céu
Da minha fantasia.

EU NÃO ERA MAIS
Do que espelho
Que te devolvia
A imagem
Contra a
Petrificação
Que espreita sempre
Nos olhares
Indiscretos.
Mas tu não me vias.
Em mim,
Especulavas,
Dizias...

E DE TANTO TE
Veres
E dizeres
Decidiste declinar
O espelho que
Começava
A embaciar
A tua imagem.

E NÃO ERA DA
Neblina
Que te envolvia,
Mas dos desenhos
Que tuas mãos
Esboçavam
Timidamente
Nesse espelho
Já húmido
De ti.

E DESPEDISTE-TE
Do Monte.
Desceste para ti
Vertiginosamente,
Em desconforto,
Sob os olhares
Das mil górgones
Que sempre ameaçam
Petrificar-te.
E sucumbiste.
Ou talvez não...

NO MONTE,
O espelho disse,
De si para si:
“De tanto te veres
Em mim,
Ficou-me, de ti,
O repetido reflexo;
E sabes o que
Brotava
Quando te olhavas
Com palavras
Na minha superfície?
Beleza.
Toda a que
Me sobrou
Quando, triste,
Desceste o Monte.”

“MAS ESTA NÃO
Petrificará,
Porque ficou
Guardada
No meu corpo
Vítreo
Onde todos
Se revêem
Sem saber
Que no reflexo
Levam, gravada
Em transparência,
A tua imagem...
..........
Um pouco
Embaciada.”

“E EU POR CÁ
Fiquei,
Espelho do mundo,
A olhar para
O escuro espaço
Sideral
À espera
Que um cometa
Me alumie o caminho
Para te devolver
A imagem
Como teu reflexo
Original...”

Jas36AMontanhaEncantada2022Rec

EU TENHO SAUDADES

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Teus Olhos”, 2022.
Original de minha autoria -
Impressão Giclée, papel de algodão,
100% de 310gr, e verniz
Hahnemuehle, Artglass AR70,
em moldura de madeira - 67X89.
Dezembro de 2023.
Jas14TeusOlhos2022_2023

“Teus Olhos”. JAS. 2022. Impressão Giclée, papel de algodão (100% e de 310gr) e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70, em moldura de madeira – 67X89.

POEMA – “EU TENHO SAUDADES”

EU TENHO SAUDADES
Dos teus belos olhos,
Viajo com eles
Nestes meus poemas
Pra te alcançar
Quando fico só
E com nostalgia
Desse nosso mar
Onde o afecto cabia
Sem se esgotar.

EU TENHO SAUDADES
Quando te encontro
Nestes meus sonhos
A olhos abertos,
Porque eu já sei
Que tens de partir
E que o nosso tempo
É sempre escasso
Para te sorrir.

EU TENHO SAUDADES,
Saudades de ti,
Quando te digo,
Com certas palavras, 
O que já pressinto...
..................
Que fico sozinho
Mesmo que a sonhar.

EU TENHO SAUDADES
Quando caminho
Junto a teu lado
Horas a fio
Neste meu jardim,
Te digo o que penso
Acerca de nós...
.................
Que o desencontro
Nunca terá fim...

EU TENHO SAUDADES,
Saudades de ti,
Quando te canto
Nestes meus poemas
Ou então gracejo
Pra te ver sorrir
Quando eu suspiro
Pela falta que fazes
Se não te olhar
Ou não te ouvir.

EU TENHO SAUDADES,
Saudades de ti,
Nem sei como vivo
Aqui a teu lado
Que quase te sinto
Quando tu respiras
O ar que me sopra
Cá dentro de mim
Onde tu existes
Como densa bruma
Deste meu jardim.

EU TENHIO SAUDADES,
Saudades de ti,
E sei o porquê
Deste meu sufoco...
...................
Porque sempre me foges
E não me nomeias
Por qualquer razão,
Mesmo que te diga
E que te repita
Que se o fizeres
Não será em vão.

COM TANTA SAUDADE,
Sou, afinal, feliz
Em cada momento,
Mesmo longe de ti,
A alma em tormento
Levada pelo vento
Pra longe daqui.

MAS TENHO SAUDADES
Desses teus olhos
Que vejo assim,
Porque me dizem que, 
Longe que estejas, Estás perto de mim.

Jas14TeusOlhos2022_2023-cópia

DESTINO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Voo da Rosa”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2023.
OVoodaRosa2023Pub

“O Voo da Rosa”. JAS. 12-2023

POEMA – “DESTINO”

RENUNCIEI
Para nunca
Te perder,
Mas neste
Silêncio sofrido
Vai declinando,
Traído,
O que pra sempre
Eu quis ter.

VÊS, BERNARDO,
Que destino?
Que desassossego,
O meu?
Quis seguir
O teu caminho
E, de tanto
Caminhar,
Perdi-me...
..............
Já não sou eu.

QUE DESENCONTRO
Foi esse
Desde o dia
Em que a vi?
Dei-lhe errados
Sinais,
Cavando
Cada vez mais
Esta funda
Solidão
Que nasceu
Quando a perdi...

VÁ, DIZ-ME
Tudo o que
Não sabes
(É a ela
Que eu peço),
Eu quero
Mesmo saber
Pra te cantar
Em poemas
E assim não
Te perder.

TU AMAS
A poesia?
Senti-la é
Doce sofrer,
Ela diz tudo
Com nada
E seu canto
É prazer,
É como o voo
Da rosa,
É melodia
De fada
Mesmo quando
Faz doer.

NO POEMA
Eu até finjo,
É poeta
Quem o diz,
Mesmo que sinta
O que digo
Nunca sou,
Sem ti,
Feliz.

MAS POEMA
É como a vida,
Posso ouvir
A tua alma
Em desejos
Com palavras...
........
É o modo
De te ter,
É remédio
Que me salva
De na solidão
Me perder.

ESTE CANTO
É, pois, meu,
Nem tu
Mo podes
Roubar,
Se dizem
Que é só pra ti...
..........
É verdade
De enganar.

MAS O VERSO
É o meu beijo
Nesse rosto
Que perdi,
É quente
Como o desejo
E resiste
A quem te diz
Que o poeta
Não te ama,
Porque desenha
As palavras
Com um pedaço
De giz...

O AMOR
Em poesia
Não é, afinal,
Deste mundo,
Quem o ler
Como utopia
Vai mais longe,
Vai mais fundo,
Nem vê
O pobre poeta
Como simples
Vagabundo...

EU NÃO GOSTO
Da renúncia,
Mas que posso
Eu fazer?
Se não cantar
O que sinto
É mais profunda
A perda,
Não há modo
De te ter...

OVoodaRosa2023PubRec

APARIÇÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Epifania”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2023.
JAS_Epifania2023Pub3

“Epifania”. JAS. 12-2023

POEMA – “APARIÇÃO”

EU VI UM ANJO DESCER
Docemente
Sobre mim,
Era rosto
Imaculado
Em momento
Inesperado
Que parecia
Não ter fim...

VINHA ELE
Lá de tão alto
Que nem eu
O pressentia,
Tive então
Um sobressalto
Porque em mim,
Pobre mortal,
Esse anjo
Não cabia.

SUA LUZ 
Era intensa,
Ofuscava
O olhar,
O seu brilho
Deslumbrava,
Arte pura,
Sedução,
Vontade
De o cantar.

MAS NÃO SEI 
Se era anjo
Ou se era
Uma mulher,
O seu rosto
Era belo,
 Não era um
Rosto qualquer...

POR ISSO ME FASCINOU,
Porque ao vê-lo
Descer
Do trono
Onde reinava,
Quase, quase
Me cegou
Com a luz
Que emanava....
..........
Mas levou-me
Ao Parnaso
Onde a arte
Lhe sobrava.

FIXEI-O, ENTÃO,
Num quadro
De memória,
Traços leves,
Cores intensas
Que cativam
O olhar,
Pintei-lhe
O cabelo
De negro,
Dei-lhe rosto
De mulher,
Como se fosse
Avatar
Que tomou
Conta de mim
Para sempre
Me lembrar
Que não era
Querubim.

MAS QUE EU VI 
Um anjo,
Ah, eu vi
Entrar bem
Dentro de mim
Sob forma
De mulher,
Porque anjo
Imaculado
Não cabe
No meu jardim
Faça eu
O que fizer.

FOI MISTÉRIO
Nesse oráculo
Da vida
Onde eu o
Tento ler
Em sinais
Que não terminam
Num dia
De despedida
Que eu não
Deseje ter.

EU VI UM ANJO DESCER
Neste vale
Da minha vida
E ele fez-me
Crescer,
Recomeçar
A partida,
Outra forma
De viver.

E COM POEMAS
Em viagem
Eu parti
Para com eles
Voar
Em cada palavra
Que digo,
Em cada verso
Que sinto
Na hora de celebrar.

JAS_Epifania2023Pub3-cópia

METAMORFOSE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Solidão da Camélia”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2023.
Jas_Camélia2023_4.jpgLuz

“A Solidão da Camélia”. JAS. 11-2023

POEMA – “METAMORFOSE”

CAMINHAVA
Docemente,
Irreal,
Sobre as cores
Que eu lhe dei...
Na minha alma
Era flor
Que eu sempre
Cultivei,
Alimento
Dos meus olhos,
Melodia
Dos poemas
Que para si
Cantarei.

CAMÉLIA
É o nome
Da flor
Que um dia
Encontrei
Em profunda
Solidão...
A alvura luminosa
Era tão densa
E brilhante
Que quase a tomei
Na palma
Da minha mão.

QUIS TRAZÊ-LA
Para o poema
E disse-me
Logo que sim,
Ficaria mais serena,
Estando perto
De mim.

FALEI COM ELA,
Dei-lhe palavras
E cor,
Pois solidão
É castigo,
E ela, brancura
Divina,
Não merecendo
Essa dor
Acolheu
O meu abrigo.

CAMINHÁMOS
Numa ponte
Prà outra margem
Da vida,
Foram passos
De liberdade,
Não foram
De despedida.

ESSA PONTE
De papel
Era um arco-íris
Saído do meu
Pincel
Que a devolvia
Ao jardim,
Onde a cor
É alimento,
É como favo
De mel,
De meus olhos
O sustento,
Porque a arte
É assim.

VI NELA
Essa mulher
Dos meus sonhos,
Recriei-a
Com afeição,
Pintei-a
Em movimento,
Qui-la livre
No meu chão
De onde
Se elevou
Quando eu
Lhe dei a mão,
Nesse preciso
Momento.

É ESTRANHO
O movimento
Que não a afasta
De mim,
Ela vive
Em quietude
Porque se oferece
Assim:
Transforma
A solidão
Em poética
Virtude.

A SOLIDÃO
Em flor
Pode ser
Libertação
Se lhe dermos
Muita cor
Com a força da
Paixão.

Jas_Camélia2023_4.jpgLuz-cópia

SILÊNCIO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Som do Silêncio”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2023.
SOM11_2023

“O Som do Silêncio”. JAS. 11-2023

POEMA – “SILÊNCIO”

OUÇO A VOZ
Do silêncio
Que me cerca,
Adentro-me
Na multidão
E ele cresce
Por dentro,
Na alma
Me cresce
E, quase, quase,
Como grito
Sufocado...
..............
Me ensurdece.

AH, É DEMAIS,
Este silêncio,
Esta voz inaudível
Caustica-me
A pele macia
Da memória
Dos afectos,
Uma moinha
Na alma,
Silvo
De vento
Cortante
Nas janelas
Destroçadas
Da emoção.

E EU FUJO
Para o ermo,
Lá em cima,
Na montanha,
À procura
Da solidão de
Eremita
Em busca
Da melodia
Do nome
Silenciado,
Aquele que nunca
Ousaste
Pronunciar,
Palavra em degredo,
Nome castigado
Que só o poema
Pode resgatar.

LÁ NO ALTO
(É sempre assim),
Ouço uma harpa
Dedilhada
Por ti,
Notas musicais
Que me fazem
Estremecer
E vejo riscos
Coloridos
Esvoaçando
No teu azul
De Lisboa
Em direcção
Ao infinito...

VEJO-TE SAIR
Da neblina
Cintilante
Do rio
Que te veste
A alma
E sacio-me de
Palavras
Soltas,
Em turbilhão,
Até que a inspiração
Chegue
E as componha
Num poema
De redenção
Que te cante
E que te conte
Às nuvens
E ao vento
Que passa...

NOMEIO-TE
E sussurro
Uma pequena
Palavra
Que nunca ousei
Pronunciar,
Mas que ouviste
Ressoar-te
Na alma
Mil vezes,
Em mil poemas
Sufocados.

O SILÊNCIO
É a tua fala
(Bem sei),
Mas eu não sairei
Deste poema
E do ermo reparador
Até que me ouças
E soletres
Finalmente
Esse nome
Com as cores
Da tua fantasia,
As cores vivas
Da emoção.

FICO PRISIONEIRO
De um poema
Em construção
Até ao resgate
Desse nome
Perdido
E silenciado
Na ilha remota
Da tua memória,
Âncora firme
Da minha própria
Salvação.

O SomDoSilêncio2023

ALMA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Melancolia”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2023.
Melancolia2023

“Melancolia”. JAS. 11-2023

POEMA - "ALMA"
FRIA
É a montanha
Onde nasci
Para o destino
Granítico
Da minha vida.

O CALOR
Habita
Outras paisagens
Mais a sul,
Onde nasce
A poesia
Para aquecer
Com flocos
De palavras
A minha alma
Granítica
E vadia...

MELANCOLIA,
Sim, melancolia...
........
É longo
E frio
O caminho
Dos que amam
No deserto,
Como gelo
Na noite,
O claro de lua
Iluminando
A alma nua
Em desespero,
Tendo areia
E vento
Como tempero.

MAS É QUENTE
A memória
Porque não mente
E é cortante,
Faz brotar
Sangue
Que escorre
Das artérias
Que irrigam
A alma.

ALMA FERIDA
Que o altar
Das celebrações
Não acolhe
Nessa distância
Desmedida
De uma fuga
Inesperada
E depois
Insistentemente
Ressentida
No eco
De um silêncio
Repetido.

OH, COMO É DURO
Vê-lo perdido,
Esse rosto
Melancólico,
No meio da floresta
Desordenada
De cores,
Esbracejando,
No seu irresistível
Ímpeto,
Em girândolas
Ou estilhaços
De fantasia
Em perigo
De cromática
Autofagia,
Em busca do
Tempo perdido!

VOA, VOA
A águia
Com seus riscos,
Mas o poeta
Adentra-se
Nas palavras,
Procurando,
Voar
Com outras asas
Que encontre
Em si,
Sem saber bem
Para onde
Viajar,
Perdido o infinito
Que lhe roubaram
Dessas mãos
Tão generosas
De traços,
De cores
Ou de rostos...

AMARGAS SÃO
As recordações
Como o gelo
Quente
Que não mente
E não derrete
Ao sol,
No poente,
Quando o verso
Declina
No horizonte marinho
Ali a seu lado
Porque à vida
E ao poema
Sempre
Reconduzem
As imagens,
Mesmo sem cor.

PROPÍCIA
Desperta
A manhã,
Sem ti,
Meu amor...

Melancolia2023Rec

O POETA E A DOR

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Janus”
Original de minha autoria.
Novembro de 2023.
JAS11_2023Poesia-cópia

“Janus”. JAS. 11-2023

POEMA  - "O POETA E A DOR"
O POETA É UM REFÉM
Em permanente
Toada,
Ferve-lhe o sangue
Na alma,
Dor profunda,
Delicada,
Sempre igual,
Sempre diferente,
Ele vai fingindo
Que a sente...
............
Em palavras
Desenhada.

É INTENSA 
A toada
E é forte
O que sente
Ou é uma dor
Simulada?
O poeta
Nunca mente
Pois sua fala
É cifrada.

É DOR
Que ele finge
Poeticamente
Sentir
Para melhor
A dizer,
Para melhor
Seduzir
Ou é real evasão
Do que nele
Está cavado
Como autêntica
Prisão
Ou o preço 
De um pecado?

É REAL
Ou aparente?
É profunda
Essa dor
Que ele diz
Que sempre
Sente,
Muitas vezes
Por amor?

É SENTIR
De cada dia
Ou é ferida
Congelada?
De tudo
O que ele diz
O que sente
É quase nada?

NÃO, ELE SENTE
Em cada dia
Uma ferida
Sublimada
Em forma
De poesia
Que se torna
Cicatriz
Que nunca fica
Curada.
Fica-lhe a marca
No corpo
E na alma
Desenhada.

É ESTE O SEU DESTINO,
Fingir que sente
O que sente
Em fala
Que é cifrada,
É por isso
Que ele canta
Pra sentir
Que no seu canto
É a alma
Libertada.

JAS11_2023Poesia-cópia 2

O QUE EU TE DISSE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Musa em Flor”
Original de minha autoria.
Outubro de 2023.
JASMusa2023_2

“Musa em Flor”. JAS. 10-2023

POEMA – “O QUE EU TE DISSE”

DISSE-TE NUM DIA
De profunda
Melancolia:
- Voaria contigo
Para os confins
Do tempo
Montado
Num risco
Com asas azuis
Que voasse
Para lá das nuvens,
Onde escreveria
O teu nome
Com palavras
De um poema.

DISSE-TE QUE
Teus cabelos
São moldura,
São novelos
Desfiados
Que te cobrem
Esse rosto,
Colo abaixo,
E se alongam
Até mim
Como raízes
Do meu olhar.

CORPO DE MUSA
Em flor,
Subtil geometria
Para onde converge
O meu olhar
À procura
De infinito
Nos traços
Desse teu rosto
Velado.

ALI AO LADO
Desse jardim
Onde sempre
Renasces,
Vejo casas
Alinhadas,
Ruas
Convergentes
Ao olhar,
Cores intensas
E dispersas
(Cores quentes)
Fontes,
Água,
Fugas,
Sempre fugas,
Em levitação,
Que anulam
As crispadas
Esquinas da vida
Com a beleza
De um risco
Traçado
Ou dito
Em silêncio.

VEJO-TE NUM FIO
De água,
Boca inundada
A transbordar
Dessa torrente
Líquida
Que cai
Em silêncio
De um pincel
Que tuas mãos
Deixam deslizar
Na brancura
De uma folha
Virgem
Que o vento
Soprou
Para uma mesa
Nua,
Apenas beijada
Por esse raio
De luz
Que te ilumina
E acende
A imaginação
(E que tanto
Me seduz).

AH, COMO GOSTARIA
De saltar
Para dentro
Dos teus desenhos,
Deslizar pelos
Teus dedos
E voar
À procura
Do que perdi
Ou nunca
Encontrei
E sentir
Essa leveza
Densa
Que nunca tive,
Mas sempre sonhei.

VESTIR-ME DE CORES,
Alinhar-me com
Traços dispersos
Para passear
Contigo
Nas pupilas
Dos teus olhos,
Desenhando
O teu corpo
Como se escrevesse
Um poema...
.............
Com as cores
Da tua alma
Solitária.

AH, PUDESSE EU
Pintar-te
Com palavras,
Dizer-te em cores,
Abraçar-te
Agarrado
A um risco
Que saísse
Do meu olhar,
À procura
De ti,
No céu do desejo...

EU QUERO ALCANÇAR
Essa fronteira,
Deslizando
Por teus dedos
E evadir-me
Para esse novelo
Desfiado
Que envolve,
Como moldura,
O teu rosto
E o teu olhar
Sempre em fuga
Para o infinito...

JASMusa2023_2-cópia

COLISÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Inspiração”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2023.
Inspiração15_10_2023Final_5

“Inspiração”. JAS. 10-2023

POEMA – “COLISÃO”

NAQUELE DIA
Caíste em mim
Como meteorito,
Embate espectral
Neste meu chão,
Abriste
Sulco profundo
Na minha alma,
Mas não doeu,
Essa abrupta
Colisão.
Foi simplesmente
Fatal.

A VELOCIDADE
Cegou-me,
Um clarão,
Ondas e
Vibrações
Abanaram-me
As raízes
(É sempre assim),
Estremeci
E começou
Um bailado
Que nunca mais
Terá fim.

PROCUREI-TE
Nessa cratera
Cavada na minha
Alma
E, passada
A tempestade,
Vi fragmentos
De ti,
Minerais
Por lapidar...
............
Como dunas
Abandonadas
Ao vento
Aqui bem perto
Do mar.

NESSA CRATERA
Profunda
Encontrei
Um brilho
Estranho
Que me pôs
A levitar,
Luz intensa
E cintilante
Na linha
Do meu olhar.

NUNCA MAIS
De lá saí
E com mãos
De alma pura
Peguei
Subitamente
Em ti...

ESCALDAVAS
De brilho
Em profusão,
Mistério
De uma beleza
Diferente
Que nascia
Desta estranha
Colisão.

FIZ DE TI
A minha bola
De cristal,
Li nela
A história de um
Encanto
Que trespassou
Como raio
A minha fronteira
Vital.

LEIO-ME A ALMA
Na superfície
Dourada
Do teu corpo
Incandescente,
Em tímida
Exibição,
Que me ilumina
O olhar
E me domina
Por dentro
Em permanente
Tensão.

RASTO CÓSMICO,
Atracção fatal
Que me suspende
A vida
E me põe
A levitar,
Subindo sempre
Mais alto
Sobre paisagem
Lunar.

AH, SIM,
És razão de culto,
De arte,
Encantamento,
Deusa
Celebrada
Neste canto
Que criei,
Advento,
O meu chão,
Palavras
Cifradas
Que falam
Por mim
Com paixão,
Via mestra,
Via quente
Da mais bela
E, de todas,
A mais sofrida
Evasão.

Inspiração15_10_2023Final_4Rec

POR UM SORRISO…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Sorriso”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2023.
ALorga10_2023

“Sorriso”. JAS. 10-2023

POEMA – “POR UM SORRISO…”

SE O TIVESSE
Comigo,
O mundo,
Trocava-o
Por um sorriso,
Pela ternura
Do teu olhar,
Esses teus olhos
Negros
Onde me perco...
...........
A navegar.

MAS É CERTO
Que os não terei,
Foi promessa
Para a vida,
Promessa
De despedida...
............
Eu bem sei.

NÃO IMPORTA,
Também o mundo
Não é meu
Para to oferecer,
É grande demais
Para mim,
Pra tão fugaz
Acontecer
Na travessia
Do tempo que flui
E não tem fim.

AH, MAS POSSO
Dar-te o mundo
Do meu olhar,
A incandescer,
E os frutos
Da minha arte,
A renascer,
Recriar-te
Em ausência,
Como diz
A Yourcenar...
................
E então ficarás
Mais bela
Do que tu mesma,
A olhar...
............
E a sorrir,
Num desenho
De palavras
Onde te posso
Esculpir.

MAS ESSE SORRISO
E esse olhar
Fugidio
Que exibes
Numa rua deserta
Da minha vida
Não os terei
Pra te poder
Contemplar
E te ter
Como só eu sei...
...........
E por isso
Te pinto
E te canto
Pra comigo
Te levar
Como sempre
Desejei.

GANHO-TE
Em fantasia,
Este modo
De te ter
Cada noite em
Cada dia,
À medida
Do desejo,
Em festa,
Epifania...
.............
É, assim,
Que te revejo.

ALorga10CorRec

RAPSÓDIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Teus Olhos”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2023.
TeusOlhos2023_01_10

“Teus Olhos”. JAS. 10-2023

POEMA – “RAPSÓDIA”

SIM, EU CANTO
Esses teus olhos,
A luz,
O brilho,
A cor,
Translúcida
Como mel.
O pintor,
Que é poeta,
Desenhou-os
Com um secreto
Pincel
Que era, sim...
...........
Uma caneta.

É VERDADE,
Palavras
Leva-as
O vento,
Mas, banhadas
Pela cor
Desses teus olhos
Tão belos,
São sedutor
Chamamento.

AGUARELA
De palavras,
Quero dizer,
Galeria
De um rosto só.
Este pintor 
Que é poeta
Deixa mensagem
Discreta
Pra desatar
O seu nó...

TUA BOCA
Não é púrpura,
Ao rubro,
Como eu
Sempre a quis,
Da cor
Dessa paixão
Em intensa
Combustão
Que do amor
É motriz.

HÁ VIDRO FRIO
Que da minha
A separa...
Mas se murmurar
O teu nome
Essa tela
Que é poema
Transforma-se
Logo em ara
Onde a chama
Se consome.

E CRESCEM
Flores
A teus pés...
Pintei-as
De todas as cores
Que encontrei
No Jardim,
Anunciam
Novos aromas
E outros tantos
Sabores
Pintados todos
Por mim.

EU CANTO A LUZ
Dos teus olhos
Com palavras
E com cor,
Porque é esta
A melodia
Que tu conheces
Melhor...

TeusOlhos2023_10Rec

LAMENTO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Palácio das Artes
no Monte Parnaso”.
Original de minha autoria.
Setembro de 2023.
PalacioArtes2023_09jpg

“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. JAS. 09-2023

POEMA – “LAMENTO”

SINTO-ME SÍSIFO,
Cansado
De carregar
Palavras
De evasão
Lá para o cimo
Do Monte,
O lugar
Da redenção.

PALAVRAS
Com gravitas, 
O meu abrigo,
Palavras com
Com peso,
Sofridas,
O meu castigo.

SINTO-ME CONDENADO
A transportar
Sentimentos
Lá para o alto,
Agarrados
Às palavras
E agarrados a mim,
E logo trazidos
De volta
Neste processo
Sem fim.

REGRESSO
Com menos peso,
É verdade,
Alguns ficam
Por lá
(Talvez metade),
Disfarçados
De palavras,
Outros levados
Pelo vento.

LÁ NO ALTO
(E no meu peito),
O silêncio
Ouve-se mais
Porque o ar é
Rarefeito
E não há outros
Sinais
Nem há som
Que o sustenha...
..............
Procuro, então,
Libertar-me
E canto,
Canto
Com o ar puro
Da Montanha.

CANSA-ME
Este ir e voltar,
Mas nunca
Desespero
Porque nada mais
Eu espero
Ou sequer
Posso fazer...
................
Estou condenado
À viagem
Para nunca
A perder.

CAMINHO
Numa estrada
De luz,
É verdade,
E os meus pés
São asas
De fantasia
Que voam
Ao seu encontro
Por um golpe
De magia...

EU SINTO, SIM,
O cansaço
De tanto assim
Caminhar,
Mas sei muito bem
O que faço
Simplesmente
Por amar.

QUEM ME MARCOU 
Tal destino,
Quem o marcou
Afinal?
Foram os deuses
Do Olimpo
Ou foi 
A visita da musa
Naquele dia 
Fatal?

PalacioArtes2023_09jpgRec

REMINISCÊNCIAS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Epifania”.
Original de minha autoria.
Setembro de 2023.
JAS_Epifania2023_1

“Epifania”. JAS. 09-2023

POEMA – “REMINISCÊNCIAS”

OLHANDO-TE,
O teu rosto
Lembra-me
A Primavera
De Botticelli.
Reminiscências
Da Galleria,
Em tempos
De alegre 
E toscana
Epifania.

MAS AGORA
Sinto-me
Como vela
Que te alumia
O caminho,
Com candor,
Que arde
Por dentro
Em palavras,
Sozinho,
Pra preservar
O efémero
Desse teu olhar
Sedutor.

ALUMIO-TE
Enquanto esvaeço
Até mais não ser
Que resíduo
De palavras
Do poema
Que te ofereço:
Luminoso 
Renascer.

MAS NÃO SEI
Se vês esta luz
Ou se apenas
A imagino,
Se tens caminho
Ou sendeiro
Pra trilhar
Ou se é meu 
Desejo
Derradeiro
De, assim,
Te preservar.

EFÉMERO
Sou eu
Porque vou ardendo
Por dentro
E te atraio
De mansinho,
Qual borboleta
Perdida,
Porque não quero
Que ardas
Na chama
Da minha vida
Pra que não
Fique sozinho.

É PERIGOSA
A luz da vela
Quando na noite
Escura
O seu clarão
Sobressai,
Liberta calor
Em chama ardente,
Brilho intenso
E fulgente,
Esse brilho
Que atrai.

MAS A MINHA
Canção
Preserva
O efémero
Do teu sedutor
Olhar,
Enquanto ardo
Por dentro
Animado
Pelo desejo
De teu rosto
Iluminar.

POETA, 
Sou como fénix
Renascida,
Regresso sempre
À vida
Em cada verso
Que crio
E com ele
E com palavras
Retomo 
O meu caminho. 
E é, então, 
Que sorrio...

O POETA
Faz versos
Como quem morre,
Mas renasce
Em cada dia
Nas vidas
Que, em palavras
Sofridas,
Ele com arte
Recria...

REMINISCÊNCIAS...
...............
Se perguntasses
Por que razão
Eu te canto
E te ilumino
Era o que eu
Te diria,
Quentes 
Recordações 
Dos tempos 
De vibrante 
Epifania.

JAS_Musa2023_09_1.jpgRec

O TEU ROSTO É UM POEMA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Rosto”.
Original de minha autoria.
Setembro de 2023.
Fascínio2023_4

“O Rosto”. JAS. 09-2023

POEMA – “O TEU ROSTO É UM POEMA”

O TEU ROSTO
É um poema,
Pintei-o
E nada mais.
As cores
Que te vestem
A alma
Brilham lá
Como corais...
...............
E eu, encerrado
Em palavras,
Ofereço-te
Uma moldura
Toda feita
De cristais.

ASSIM TE TENHO,
Te contemplo
E te desenho,
Assim te vejo
E te recrio
À medida
Do desejo.
Assim sorrio...
................
E assim te sonho
Com estas mãos
Que te deslizam
Na alma
Em busca
Do imortal,
Com estes riscos
Com estas cores
E com palavras
Na geometria
Do meu espaço
Vital.

CONSTRUO
Uma utopia
Levitando
No real,
Escolho bem
A minha via
Com asas
De fantasia
E pinto-te
Com luz divina
Coada
Por um vitral.

Fascínio2023_4Rec

PERGUNTA O POETA À MUSA… (II)

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Perfil 
de uma Musa”(II). 
Original de minha autoria.
Setembro de 2023.
JAS_Perfil09_2023

“Perfil de uma Musa” (II). JAS. 09-2023

POEMA – “PERGUNTA O POETA À MUSA…” (II)

E O POETA PERGUNTOU:
- Mas se o amor
É mistério
(Como dizes),
É viagem em alto mar,
Se há sempre
Tempestades
E risco de naufragar,
Por onde andas,
Ó musa,
Que o poeta, 
Vagando
Nas “imperiosas
Ondas” Do teu mar, Te vai sempre Procurando Pra mais uma vez Te cantar? - NO MEU LONGO Vaguear Por roteiros De poeta (É essa a minha Missão), Sempre ouço O seu cantar Nesse inútil afã (Qual piedosa Ilusão) De me querer Encontrar. - MAS QUE DESTINO É o teu, Ó musa do alto Mar, Não proteges O meu barco Neste infindo E incerto Navegar? - EU DEIXO A VIDA Correr (Já uma vez Eu to disse), Mas sou fonte D’inspiração, Assim cumpro O meu destino, O que os deuses Me marcaram Em decreto Que é divino E regra da tua Canção. - PALAVRAS LEVA-AS O vento, Ó musa Dos meus pecados, Mas o vento Sopra no barco Que leva Ao alto mar Onde componho O meu canto E me sinto A naufragar. - INSPIRA-TE No meu silêncio, No sussurro Inaudível Da minha velada Voz Se te encontrares À deriva Nas águas revoltas Do mar Sem bússola Nem perspectiva Na arte De navegar. - E É ESSA A salvação? Em teu silêncio Cai a verdade, A que ouves Nas palavras Que devolvem O meu eco Com sabor A eternidade? POIS “EU, Uma reminiscência Da terra”, Naufrago Sempre em ti Nesse mar do teu Silêncio Onde navego à deriva No meu “barco Solitário”, Que de palavras É feito, As tábuas Do meu calvário... AH, SIM, Mas feito Com remos De fantasia Que me resgatam Do mar Quando me ponho A cantar E encho todo O meu peito Com a tua maresia Para assim me salvar...

JAS_Perfil09_2023Rec

PERGUNTA O POETA À MUSA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Perfil de uma Musa”.
Original de minha autoria.
Agosto de 2023.
JAS_Perfil2023COR

“Perfil de uma Musa”. JAS. 08-2023

POEMA – “PERGUNTA O POETA À MUSA…”

PERGUNTOU O POETA
À sua musa
Amada:
- O que sabes tu
Fazer?
Ao que ela
Respondeu:
- Nada,
Foi meu destino,
Ao nascer.

ENTÃO, COMO É
O teu viver?
E ela, serena,
Lhe respondeu:
- Eu deixo a vida
Correr...

- E NÃO CORRES,
Com a vida?
Perguntou, de novo,
O poeta.
- Não, porque é sempre
Em subida...

O POETA
Lembrou-se,
Então,
Da cantora
Da suave
Melodia,
Da pintora
De cores quentes
E da bela
Bailarina,
Lembrou-se
Da emoção
Que sentia
Quando em surdina
Ouvia
As quentes
Tonalidades
Que o faziam
Vibrar
Ou do palco
Onde via,
Como riscos
Numa tela,
Aqueles corpos
Voar...

INCONFORMADO,
Logo o poeta
Insistiu:
- Porque vibro eu
Com elas,
Mas só a ti
Posso amar?
Ao que ela
Respondeu:
- Porque o amor
Não se aprende
Nem se pode
Ensinar,
É simplesmente
Mistério
Ou incerto navegar
Entre vagas
Altaneiras
Em pleno alto mar
Onde há sempre
Tempestades
E risco de
Naufragar.

JAS_Perfil2023CORRec

É ESTRANHO, NÃO É?

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Um Arbusto no Jardim”.
Original de minha autoria.
Agosto de 2023
JAS_UmArbusto no Jardim

“Um Arbusto no Jardim”. JAS. 08-2023

POEMA – “É ESTRANHO, NÃO É?”

É FREQUENTE
Sonhar-te
Em ambiente idílico,
Natural,
Mas se nada tens
De romântico
E te cobres
De mistério,
Porque te sonho,
Assim,
Deste modo
Tão banal?

MAS É AQUI
Que te vejo,
Onde o céu
Parece um lago
E as grades
Do terraço são,
À vista
Do casario
Que me veste
O olhar,
A minha libertação,
As janelas
Sobranceiras
Onde gosto
De cantar.

É AQUI QUE
Eu te tenho,
É aqui que eu
Te sonho,
Que te canto
E me demoro,
Nas palavras,
A pintar,
É aqui que
Sobrevivo,
Onde mais eu
Me liberto
Do castigo,
Navegando
Em alto mar.

PINTO E CANTO
O lugar
Onde te vejo,
O lugar
Onde te quero,
O lugar onde
Te sinto,
Mesmo quando
Desespero.

ESTRANHO, NÃO É?
É um sítio
Onde só vives
Sob forma
De arbusto,
Onde te respiro
O perfume
Quando adormeço
Ao relento,
Te sonho
Com as estrelas
E viajo
Com o vento...

SINTO-TE PERTO
Quando te canto
E me liberto,
Me aninho
Na ideia que
De ti
Eu consigo figurar
E onde mais
Me abandono
Pra, depois,
Te procurar...

PERCO-ME, SIM,
Nestas cores,
Nestas palavras,
Nesta minha
Fantasia,
Enquanto tu
Te perdes
Num silêncio
Programado,
Tal como eu,
Afinal,
Nesta minha
Teimosia,
Meu destino
E meu fado,
Tão sofrida
Nostalgia.

JAS_UmArbusto no JardimRec

OS SEIOS 
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Corpo”.
Original de minha autoria
sobre fotografia em contraluz,
de anónimo, da minha colecção
privada. Agosto de 2023.
Corpo2022_10_15LUZ

“Corpo”. JAS. 08-2023

POEMA - "OS SEIOS"
ERAM OS SEIOS
Dessa mulher
A sua atracção
Fatal,
O que ela lhe dizia
Para ele
Era banal,
Mas a forma
Do seu peito
Era desenho
Perfeito
De um corpo
Sensual.

CONTOU-ME,
Em tarde
De melancolia,
Da arrebatada
Paixão,
Quando nesse dia
A perdera
E ali mesmo
Morrera
Essa fatal
Atracção.

ERAM SEIOS
Generosos
(Disse-me,
Com certo brilho
Nos olhos,
Mas serena
Amargura)
Os desta linda
Mulher,
Uma imensa
Alvura
Em formas tão
Sensuais...
............
Era a física
Dos corpos
Que se atraem
Em seus embates
Fatais.

CONFESSOU,
Com olhar
Um pouco vago,
Que o seu corpo,
Insistente,
O convidava
A olhar,
Bem de frente,
Com a libido
A ferver...
........
E, então,
Estremecia,
Ficava paralisado,
Não sabia
O que fazer.

MAS NADA MAIS
Ele queria
(Foi o que sempre
Lhe disse)
Do que vê-la
Em pose
De maternal
Sedução,
Alimento
Dessa sede
Tão faminta,
Dessa irresistível
Pulsão...

SENTIA-OS
Como fetiche,
Como se a vida
Lhe pedisse
Apenas um seu
Olhar,
Criança perdida
No mundo,
Náufrago
Em alto mar...

MAS, AGORA,
Já sem a visão
Que desde sempre
O atraíra
(Foi o que logo
Me disse),
Só sentia
Melancolia
E uma doce nostalgia
Desse corpo
Sedutor
Onde naufragara
Um dia
Em busca de
Salvação
Ou talvez mesmo
De amor.

MULHER-MÃE
Era destino
Que só nela
Se cumpria,
Fruto de uma longa
Solidão
Que se consumou
Nesse dia,
Como se tudo
Só fosse
Uma doce ilusão,
Fruto da fantasia.

Corpo2022_10_15LUZRec

 

O SILÊNCIO E O TEMPO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Renascer”.
Original de minha autoria.
Agosto de 2023.
JasSil&Temp2023_2

“Renascer”. JAS. 08-2023

POEMA – “O SILÊNCIO E O TEMPO”

O QUE, É, AFINAL,
O silêncio?
É nada,
Por ausência
Da palavra,
Do corpo e do olhar
Na memória
E no espaço
Onde não têm
Lugar?

É INDIFERENÇA?
É castigo
Ressentido?
É a alma
Em negação
Do que lhe foi
Proibido?
É retiro
Ideal
Ou o nada
Em gestação
Com a perda
De sentido?
O que é ele
Afinal?

É UM NADA
Que tudo
Te quer dizer,
Uma mensagem
Cifrada
Que te convida
A sofrer?

COMO TODAS
As mensagens,
O silêncio
É sofrido
Quando for
Interpretado,
Mas se não
Acontecer
Será somente
Vivido
Como pura
Negação,
Como acto
Fracassado.

EXPRESSÃO
Pelo silêncio,
O que quer isso
Dizer?
Que alguém
Já não existe,
Que nada há
A fazer
Quando a ausência
Persiste?

IR EM FRENTE
Sem passado
Como tempo
Não vivido,
Ver na vida
O pecado
Que é preciso
Esquecer
Para não ficar
Refém
De um falhado
Acontecer?

DIGAS SIM
Ou digas não
Ficou tudo lá
Gravado
Pois foi tempo
Partilhado,
Um tempo
De comunhão,
Ainda que
Fracassado
Quando alguém
Ficou cansado
E decidiu
Dizer não.

MAS O MEU
(Quero que saibas)
Vou buscá-lo
Com palavras,
Entrego-me
À poesia
Para o levar
Ao futuro,
Aos que sentem
Nesta arte
O tempo
Da utopia,
Onde o passado
É mais puro.

NÃO O ENJEITO,
Portanto,
Não pratico
Exorcismo
Que avive
A negação,
Ficando assim
Como está,
Um tempo
Sem solução...

O TEMPO
É escultor
Do que houve
No passado,
Mas também ele
É moldado
Por desejo
E vontade
De o sentir
Recriado
Como dom
De liberdade.

NÃO SE CONSTRÓI
Uma vida
Com silêncio
Ressentido,
Mas com palavras
Que acolham
O tempo
Que já se foi,
Pra que seja
Revivido
E deste modo
Fruído
Quando ele
Já menos dói.

OSilêncioeoTempo2023PubRec

ROSTO PROIBIDO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Deusa das Camélias”. Original de minha autoria. Julho de 2023.
DeusadasCamelias2023_07

“Deusa das Camélias”. JAS, 2021 – 85×91, em papel de algodão e verniz Hahnemuehle, 310gr, Artglass AR70 em moldura de madeira. 07-2023.

POEMA – “ROSTO PROIBIDO”

QUIS DESENHAR
O seu rosto,
Pintar-lhe
A alma
Com as cores vivas
Que ainda tinha
Consigo,
Trazê-la
Ao presente
Como se não
Houvesse
Passado,
Reinventar-se
Com a força
Do desejo,
Pondo o tempo
Do seu lado.

A SUA IMAGEM
Habitara-lhe
A memória
Desde que ele
A perdeu,
Resistira Ao frio cinzel Do tempo Com a beleza Que a deusa Lhe concedeu. QUIS ENTREGAR A alma A esse tão belo Rosto Que prà vida O cativou, Mas o destino Não quis E foi por vontade Dos deuses Que partiu E a deixou. MAS PINTOU-A Para si, Pra dar notícia Ao mundo Da beleza Que ainda O comovia, Fixá-la
Pra sempre No tempo, Entregá-la ao Futuro,
Assim, Como ele a via. MAS ELA Não permitiu, Cumprindo O infausto Destino Uma vez mais,
Esse mesmo Que marcara As suas vidas Com indeléveis Sinais. E ASSIM Se consumou O triunfo Do tempo Sobre o tempo Do desejo, O inexorável
Destino...
............. Na vida Ele mais não fora Que um errante Peregrino.

DeusadasCamelias2023_07Rec

ÀS VEZES

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Caminhos”.
Original de minha autoria.
Julho de 2023.
Folhagem

“Caminhos”. JAS. 07-2023

POEMA  – “ÀS VEZES”

ÀS VEZES TENHO
Saudades
Do tempo
Que não vivi,
Dos encontros
Que falhei,
Das coisas
Que eu não fiz
Ou que, fazendo,
Errei.

CONSTRUÍ-ME
Como quis,
À medida
Do desejo,
Em cada passo
Que dava 
Fazia nascer
Um passado
Que neste poema
Não vejo.

MAS TENHO MESMO
Saudades,
Que mais posso
Eu fazer?
Quem vive
Daquilo que faz
E dá uma voz
Ao que sente,
Vai construindo
O futuro
Pra libertar
O presente.

NÃO ME QUEIXO
Do passado,
Do que nele
Construí
E da vida
Que levei...
..........
Com ventos
E tempestades
Muitas vezes,
 Sim, falhei...

HUMANA
Imperfeição,
Quero dizer,
Porque se fosse
Perfeito
Não estaria
O poema
Pronto
Para nascer
Com palavras
Que resgatam
Do que não soube
Fazer.

É VERDADE,
Bem sei
Que um dia
Tropecei
E me perdi
No caminho;
Procurava,
Procurei,
Fazendo
O percurso
Sozinho,
Mas voltava
A tropeçar,
Até que um dia
Parei...
........
Para não
Recomeçar.

MESMO ASSIM
Recomecei
E voltei
A caminhar,
Mas não mais
Eu tropecei
Porque em palavras
Peguei
Para me poder
Salvar...
..........
Foi assim
Que me salvei.

SALVARAM-ME
Essas palavras
Compostas
Em poesia
Porque fiz
Do tropeçar
Matéria
De fantasia.

FolhagemRec

ESTRANHA ENCRUZILHADA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração – “A Rua”.
Original de minha autoria.
Julho de 2023.
Jas03A RUA2022_2023

“A Rua”. JAS (104×118, em papel de algodão e verniz Hahnemühle, 310gr, 2022)

POEMA – “ESTRANHA ENCRUZILHADA”

CRUZEI-ME COM ELA
Numa esquina
Da vida,
Nessa rua
Onde inventei
Uma estranha
Despedida.

NÃO A VI,
Como a via
Da janela
Sobranceira
Quando passava
Na rua
Abraçada À beleza Como rosa Perfumada De uma viçosa Roseira. AGORA, Se eu a vi, Foi duma janela Vidrada Que me devolveu A imagem Como num espelho De fada. MAS SEGUI-LHE A silhueta,
Embaciada Com o meu sopro De alma, E pensei Que não ia Por ali, No meio Da multidão, Que não a via, Por falta De nitidez Do meu campo De visão, Nessa rua paralela Onde sempre Imaginamos O que já Não vemos nela. ANÓNIMO Me assumi, Peregrino, Como a gente Que se cruza No caminho Sem se jogar O destino. MAS VERTI Lágrimas secas, Das que Não saem de nós, Não banham O nosso rosto, Dor íntima, Já sem voz Para cantar Esse rio De que ela era A foz. QUE ESTRANHA Sensação, Caminhar A seu lado, Perdido Num horizonte Que se esfuma E se dissolve Como espuma Que morre Na areia branca Da praia... ENTÃO ENCONTREI
Estas palavras Escritas na água Remexida Pelo vento, Também elas Esmorecendo Na praia De um lamento Como onda Noutra rima De um poema Simulado Para dar voz Ao silêncio, Para a ter A meu lado. E OLHEI, Mas sem a ver, Imaginando-a Regressada Dos confins De uma memória Invocada Para logo Me acolher. E GOSTEI Que me visse Sem olhar (Achava eu), Pensando Que não pressentia Sequer O anónimo Que a seguia Para logo A perder. TUDO TÃO Estranho, Que até este poema Espanta Por contar O que nunca Aconteceu Com a nostalgia De quem sente O que canta... ............ Mesmo aquilo Que perdeu.

Jas03A RUA2022_2023Rec

RUA DESERTA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Mulher com Turbante"
Original de minha autoria.
Julho de 2023.
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“Mulher com Turbante”. JAS. 07-2023

POEMA – “RUA DESERTA”

ENCONTREI-A 
Por ali,
Ao cair da tarde,
Numa rua deserta
Da minha cidade,
Como se o destino
Tivesse marcado
Um feliz encontro
Pra me resgatar
De tanta saudade.

OLHEI-A
Nos olhos
E estremeci,
Era um brilho
Intenso
E nele me perdi...

LI-LHE
Um poema de amor,
Abracei-a
Com a voz,
Ondulei-me
Nos seus olhos
Como barco
Numa foz.

MAS FOI SUAVE,
A viagem,
E curta,
Como sempre
Ela quer,
Por isso
Logo a saudade
Entrou forte,
A doer.

DÓI SEMPRE
Quando a deixo,
Cai  silêncio
Sobre mim,
Revejo-a, pois,
Na memória,
Reencontro-a,
É verdade,
E tem mesmo
De ser assim
Quando a tristeza
Me invade.

É A MAIS BELA
De todos os lados,
Do lado das mãos
Ou da suave voz,
Do lado dos olhos,
A luz qu’ilumina,
Do lado da boca,
Tão sensual,
Do lado do corpo,
A pele tão macia,
Os véus que a cobrem
Para me travar...
....................
Mas cresce o mistério
E a tentação
E cresce o desejo
De a abraçar,
Tirar-lhe os véus,
Unirmos os corpos
Para dar fogo
À  minha paixão.

EU TENHO SAUDADES,
Sinto a sua falta
Sempre que a deixo
E vou por ali,
Por isso lhe escrevo,
Lhe digo
O que digo
Neste meu poema,
Ou noutro qualquer,
Mas, agora, sozinho,
Como em castigo,
Sinto-a bem perto
Como minha musa
E também a sofro
Por já não a ter.

MAS TENHO-A AQUI
Bem dentro
De mim
(Tenho a certeza),
Não há outro modo,
Mas é belo assim
(A pura beleza),
Renascer com ela
Neste mesmo
Instante,
Um absoluto
Em que eu mergulho,
Mas que para mim
Nunca é bastante.

JAS_Rosto2022_11_13jpgRec 

O BEIJO

Poema de João De Almeida Santos.
Ilustração: "O Beijo". Original 
de minha autoria para este poema.
Seis de Julho: “Dia Internacional 
do Beijo”, que celebro, com este 
poema, todos os anos. Inspirado 
em"Lotte in Weimar" (1939), de
Thomas Mann, a obra que continuou 
"Werther" (1774), de Goethe, e no 
meu  romance "Via dei Portoghesi".
O_Beijo060722

“O Beijo”. JAS. 06.07.2023

LEITMOTIV

“O amor é o melhor na vida, assim,
no amor, o melhor é o beijo –
Poesia do amor...”. “Beijo
é alegria, procriação é luxúria”
Thomas Mann
INSPIRADO TAMBÉM EM:
 “Os beijos escritos
não chegam ao destino,
Mas são bebidos pelos
fantasmas ao longo
do trajecto” 
Kafka

“Se para te beijar devesse,
depois, ir para o inferno,
fá-lo-ia. Assim, poderia
vangloriar-me, com os diabos,
de ter visto o paraíso
sem nunca lá ter entrado.
Shakespeare

“O primeiro beijo não é dado
com a boca, mas com os olhos”
Bernhardt

POEMA – “O BEIJO”

BEIJO FOI
O que nunca
Te dei
A não ser
Com o olhar,
O primeiro,
Esse beijo,
Dei-to, pois,
Sem te tocar.

E DEI-TE MAIS,
Com palavras,
Quando olhar
Já não podia...
............
Foste embora,
Não estavas,
E, por isso,
Não te via.

FORAM BEIJOS
Que sonhei
Na rotina
Dos meus dias
E desejos
Que enfrentei
Quando tu mais
Me fugias.

EU DOU-TE BEIJOS
Escritos
Que se perdem
No caminho...
.............
E se o poema
Me falta
Fico ainda mais
Sozinho.

O BEIJO
É emoção,
É razão
Descontrolada,
Se não o dermos
A tempo
Pouco mais
Será que nada.

SEM BEIJO
Não há amor,
Sem amor
Perde-se o beijo,
A vida perde
Sentido
Quando falta
O desejo,
Por isso o lanço
Ao vento
Pra que atinja
Como brisa
E suave melodia
Essa alma
Que precisa
De afecto
Em poesia.

ESSE BEIJO
Que me falta,
De que nunca
Fui capaz,
Voa pra ti
Em palavras
Na sua forma
Mais pura
Para que no
Seu trajecto
Voe, voe
A grande altura
E fantasmas
Não o bebam
Enquanto o seu
Voo dura.

MAS SEI
Dos escolhos
Da via,
Dos perigos
Que ele corre,
Capturado
Por fantasmas
É beijo
Que já me morre.

NO DIA DO BEIJO
Canto em voz alta
A poética do amor
Pra me redimir
Dessa falta
Com palavras
Desenhadas
Com a arte
Do pintor.

E PORQUE O DIA
É teu
Ganha força,
Intensidade,
Mesmo que
Fantasmas
O bebam
É um beijo
De verdade.

O BEIJO
Que não te dei
Foi pecado
Original,
Hei-de sofrê-lo
Pra sempre
Como chaga
Corporal.

NÃO HÁ PALAVRAS
Que bastem
Pra repor
O que não dei,
Elas voam,
Mas não chegam...
..............
E mesmo assim
Eu tentei.

É CERTO QUE SEMPRE
O quis,
Só que nunca
To roubei,
A culpa foi
Desse tempo,
Dos dias em que
Te amei,
Um tempo
Em diferido,
Sem presente
Nem futuro,
Talvez beijo
Sem sentido
Porque queria
Do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas
Do Paraíso,
Um beijo
De divindade,
Mas simples
Como um sorriso.

ESSE BEIJO
Impossível
Que não é do
Foro humano
Vou tentando
Construí-lo
Cada dia,
Cada ano,
Perdendo-me
Pelo caminho
Como sagrado
Em profano.

O BeijoRec
"TORRE DE MARFIM"
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Nostalgia”.
Original de minha autoria.
Julho de 2023.
JAS_Nostalgia_2023

“Nostalgia”. JAS. 07-2023

 
SINTO A TUA FALTA,
Eu sinto,
Por isso, canto,
Por isso, danço
Até cair exausto
No palco
De um poema.

SINTO O TEU SILÊNCIO,
Que já nem
Murmúrio é,
Sinto um vazio
Profundo
De que o meu canto
Faz eco,
Um sofrido
Contraponto
Que da nostalgia
Dá fé.

RECORDO,
E ainda sinto,
O teu veludo
De pele
E, por isso,
Eu o pinto
Numa folha
De papel.

NÃO OUÇO BEM
Essa tua melodia
E logo fico
Em silêncio
Para melhor
Te ouvir...
............
Com a minha
Fantasia.

FAZ-ME FALTA
A tua voz,
Faz-me falta
O teu sorriso
E como te quero
Ouvir
E como te quero
Olhar
Desenho-te
Nos meus poemas
Pois é disso
Que eu preciso
Para em ti
Naufragar.

NA TUA AUSÊNCIA
Vejo corpos
Que dançam
Abraçados
Ao sabor da
Fantasia
Em andamentos
Sem fim,
Vejo luzes,
Vejo cores,
Vejo-te a ti,
Vejo, sim.

EM CADA DIA
Que passa,
Sinto aromas
De flores
Que me fazem
Companhia
Neste palco
Onde sinto
No meu corpo
O poder 
Libertador
Da poética magia.

REVIVO-TE
No canto e
Na cor,
Na dança
E no amor
Dito em palavras
Que sempre lanço
Ao vento,
Viajo em poesia
Construindo
Belas pontes
Entre as margens
Invisíveis
Desta minha
Utopia,
Feita, sim,
De sentimento.

TUDO RECRIO
Pra te reencontrar
À distância
De um poema,
Cantar-te
Com a alma,
Dançar
Com palavras,
Chamar-te
Em surdina
Na esperança
Que me ouças, 
Encantada,
Num intervalo
Feliz
Dessa vida
Mastigada
Pelo peso
Da rotina.

VISITO-TE, ASSIM,
Em viagem,
Em sonhos
Sonhados
Pelo desejo
De te ter,
Procuro-te
Cá do alto
Desta torre
De marfim
Para te ver,
Na teia
Que a arte tece,
O mais belo
Camarim
Onde a vida
Acontece.

JAS_Nostalgia_2023Rec

POETAR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Confissões no Jardim”.
Original de minha autoria.
Junho de 2023.
Coonfissões062023

“Confissões no Jardim”. JAS. 06-2023

POEMA – “POETAR”

EU GOSTO
De poetar
Mesmo em rima
Interpolada
Porque uma vida
Sem rima
Não é vida,
Não é nada.

POESIA
É coisa séria,
Se canto
É só por isso,
Mas não sei
Lá muito bem
Se é estro
Ou é feitiço.

MESMO ASSIM
Cá vou rimando,
Tenho mesmo
De o fazer,
Cantar tudo
O que sinto
É um doce
Reviver,
É um renovado
Olá
A quem não posso
falar,
É uma forma
De dizer
O que não posso
Calar.

PARA MIM
É coisa séria,
Não sei se
Pra ela o é,
Eu sinto-me
Como matéria
De que o poema
Dá fé.

DIGO TUDO
O que não posso
Se um dia
Lhe falar,
Mas não sei
Se ela ouve
Este meu
Triste rimar.

SÃO POEMAS
De primeira
Pra poeta
Popular,
Não são cultos,
Não senhor,
São um modo
De abraçar.

É VERDADE,
Eu vivo dela,
Da palavra
Que me anima,
Fito sempre
Uma estrela
E parto logo
Prà rima.

COM RIMA
Finjo melhor,
Brinco
Com o que sinto
No peito,
Dou mais música
Ao poema
E, assim,
Ponho-me a jeito,
Digo sempre
O que não devo,
Mas finjo
Que me atrevo
A dizer o que
Não sinto.
É a vida
De poeta:
Digo a verdade,
Mas minto.

Coonfissões062023Rec

IDENTIDADE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Auto-Retrato”.
Original de minha autoria.
18 de Junho de 2023.
Jas_Arte8_Pub

“Auto-Retrato”. JAS. 18-06-2023

POEMA – “IDENTIDADE”

EU SOU QUEM SOU,
Dizia Jahvé,
Mas eu,
Que também sou,
Sou aquele
Que, afinal,
Ainda não sabe
Quem é.

OU SABE,
Ao ter sido,
Pois cada um
É o que é
Pelo que foi
E será,
Pela vida
Que fizer, 
Do que da vida
Fará.

PARA ALÉM
Do que eu sou,
É para fazer
Que existo,
Pois o simples
Existir
Não chega
Pra definir
Da vida
O seu registo.

O QUE FOR
Ver-se-á
No caminho
Que escolher...
............
Mas, vagando
Pela vida,
Será só
O que fizer?

E EU,
Quem sou eu,
Afinal?
Sou aquilo
Que fui
Ou continuo
O caminho,
Com os outros
Ou sozinho,
Como desejo
Constante
De me encontrar
Por aí,
Sempre livre,
Sempre errante
Desde que
De mim eu saí?

SOU POETA?
Sou pintor?
Vivo feliz
Na cidade?
Sou
Cidadão
Do meu mundo
Com incerta
Identidade?

NÃO SEI,
Como dizia
O poeta,
Pois se só for
O que fiz
Não existo
Como tal,
Não sou mais
Que cena nua,
Desenho
Feito a giz
Por pintor
Da minha rua,
Filho de arte
Banal.

MAS EU EXISTO,
Ou não,
Para além
Do que faço
E do que
Me vêem fazer?
Só existo
Em seu olhar?
Sou aquilo
Que pareço
E nada mais
Posso ser,
Nada mais
Posso criar?

A VIDA É MAIS
Do que aquilo
Que pareces
E se não fores
O que és
Nunca ela
Te dará
O que, afinal,
Não mereces...

OS OLHOS
Dos outros
Teus espelhos
 Serão,
Ajeitas-te
Para lá fora
Ver
O que, afinal,
Pode ser
Uma pura ilusão,
Pois quando
Regressas a ti
Quebra-se
O teu espelho
E volta a solidão.

EU QUERO SER
O que sou
E também o que
Pareço
Mas para ser
O que quero
É a mim que
Obedeço.

SER E PARECER
De uma só vez
Eis a minha
Solução
Mas se o parecer
Te domina
É melhor que
Digas não.

Jas_Arte8_PubREC

O JARDIM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Folhas Caídas”.
Original de minha autoria.
Junho de 2023.
JAS_Folhas Caidas_062023

“Folhas Caídas”. JAS. 06-2023

POEMA - "O JARDIM"
ENCONTREI-TE
Nesse jardim
Onde nasci
Para a arte
Das cores
Que Athena
Me deu
E, por dádiva
Dos céus
Ou brilho
Da tua estrela,
Logo meu estro
Cresceu...

NESSE JARDIM
De mil azáleas,
Jasmins,
Aromas
E matizes sem fim,
Era intenso
O perfume
Que me bulia
Na alma
E dentro de mim
Brilhavam
Essas cores
Em seda pura,
Fascínio
Irresistível
De luxuriante
Pintura.

VERDE,
Rosa,
Vermelho
Ou lilás
São cores
Vivas
Do meu gosto
E nelas
Vejo pintada
Em moldura
De arco-íris
A beleza
Do teu rosto,
Do luminoso
Levante
Ao crepúsculo
Do sol-posto.

A VIDA
Que vem daí
É arco-íris
Que teço
Com a alma
No jardim,
É quadro
Que pinto
E canto,
Luz intensa,
Alquimia,
É pauta
Onde inscrevo
Os traços
Do teu encanto,
Numa feliz
Liturgia.

CONFUNDO-TE
Com sete cores,
Vou atrás delas,
Imparável
Correria,
E o mundo
Fica para trás
Na vertigem
De voar
Lá para o alto
Do céu
Ao som
Desta nossa
Sinfonia.

ÉS COR,
Perfume,
És som,
És risco
Ou traço,
Eu sei lá...
..............
Sempre a voar
Com a luz
Do teu olhar
Nessa arte
Que seduz
Como o murmúrio
Do mar.

QUANDO TE VI
No jardim
Trazias flores
Impressas
No corpo,
Em pele macia,
E as cores
Eram tão vivas
Que nelas
Eu me perdia
Pois disseste
Com carinho
E um olhar
Tão seguro
Que me querias
Com afecto
Que fosse, sim,
Do mais puro...

CAMINHASTE,
Depois,
Nesse luxuriante
Jardim,
Levando-me
Pela mão
Com brilho
No teu olhar
E eu,
Com submisso
Prazer,
Deixei-me ir
Com ternura,
Simplesmente
Por te amar.

JAS_Folhas Caidas_062023Rec

REGRESSO

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Ícone”.
Original de minha autoria
sobre esboço de 
Leonardo da Vinci.
Junho de 2023.
MulherLeo2023_7

“Ícone”. JAS. 06-2023

POEMA: “REGRESSO”

POR VEZES
É insistente
O tempo
Vivo
Da memória...

REGRESSA
Como passado,
Insinua-se
Como futuro,
Incerto,
Mas desejado,
E não é tempo
Presente
Porque flui,
Intangível,
Sempre, sempre,
Noutro lado.

IMPÕE-SE
À memória,
Aviva,
Desperta,
Aquece,
É desejo,
Acontece,
É vontade,
É real,
Porque o tempo 
É inelutável,
Impiedoso
E fatal.

O BELO
Que um dia
Me tocou
E seduziu
Regressa,
Agora,
Desmedido,
Incendeia-me
A alma
Como se a
Despedida
Não tivesse
Acontecido...

CHEGA JÁ TARDE,
Mas chega,
Como chegam
Os fantasmas
Que vivem
Das viagens
De fantasia
Ao mais remoto
Passado,
Em forma
De poesia,
A redenção 
Do pecado.

 HÁ UMA IMAGEM
Que persiste,
Que se projecta
No ar
Como matriz
Do meu ser
Ou ícone
Do meu altar.

SILENCIOSA,
Permaneceu
Lá no fundo
Da memória
Em aparente
Letargia,
Tocando-me
A alma
Em forma de
 Nostalgia.

É IMAGEM
De perda
Que nunca
Se consumou
Na alma
Errante
De poeta
Que o tempo
Não calou...

E AQUI
Estou eu
A cantar-te,
Com saudade,
Perdido
No tempo
Da nossa fria
Cidade
Onde o vento
Nos parou,
Esculpindo-me
Na alma
A marca
De um tempo
Quente, 
Mas que nunca 
Mais voltou.

MulherLeo2023_Rec

OLHAR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Teu Rosto”.
Original de minha autoria.
Maio de 2023.
JAS_OLHAR_052023_PUB5

“Teu Rosto”. JAS.05-2023

POEMA – “OLHAR”

QUE ME DIZES,
Tão frontal,
Olhar fixo,
Penetrante,
É chamamento,
Sinal?

NO SILÊNCIO,
A tua voz
É murmúrio,
Melodia
Seminal,
Sinto-a
Cá dentro
De mim
Como ponto
Cardeal.

E SÃO BELOS
Os teus olhos,
Sabem-me
Sempre
A mar,
São ondas
Do teu encanto
Como cristais
A brilhar.

NÃO É AZUL
Sua cor
Mas de sol
Que ilumina,
Olhas pra mim,
Meu amor,
Quando navego
À bolina.

ÉS SEREIA,
Vou-te ouvindo
Em sinfonia
De cor,
Melodia
Que me aquece
Como fonte
De calor.

CABELOS
Castanhos,
Sopra aragem
Sobre ti,
Um suave
Respirar,
E eu tão
Longe daqui
Como a montanha
Do mar.

QUE PROCURAM
Os teus olhos?
Tua boca
Balbucia
Palavras
Que me resistem
Quando nelas
Eu já sinto
O que nunca
Te diria...

DIZES, SIM,
Que não me
Sentes?
Dizes que
Do poema
Não és?
De saudades
Esmoreço
Se não te vejo
Chegar
Quando chegam
As marés.

OLHOS
Húmidos
Que fascinam,
Uma boca
Que seduz,
Teus cabelos
Desafiam
E eu,
Poeta d’outono,
Na mais pura
Contraluz.

OLHAS-ME, POIS,
Inquieta,
Sem estar
À tua frente,
Numa dorida
Distância
Que no silêncio
Se sente
E por isso
Eu te digo
Que o teu olhar
Não me mente...

JAS_OLHAR_052023_PUB2Rec

A PORTA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Porta”.
Original de minha autoria.
Maio de 2023.

JAS_Porta2023_Cor

POEMA – “A PORTA”

OLHO A MONTANHA
Da porta
E o granito
Amarelo
Com inúmeros
Cristais,
Olho o ocre
De um telhado
Como se estivesse
À janela
De um palácio
Encantado
Que do sonho
Fosse cais.

CONTEMPLO
A linha do horizonte,
Mas é diferente
A visão:
Antes, eu via futuro,
Agora, vejo passado,
Essa tão bela
Ilusão
De a ter sempre
A meu lado.

ENTRE PASSADO
E FUTURO,
É a minha
Identidade,
Ficou quieta
À minha espera
Quando dela
Eu parti
Ao encontro
Da cidade.

ELA É PORTO
De abrigo
E é lugar de
Partida,
É, pois, mais
Que uma porta,
É fronteira
Que eu passo
No desafio
Da vida.

E É ETERNO
Retorno,
Um regresso
Renovado
Onde posso
Renascer
Quando visito
A memória
Do que não
Quero perder,
Vendo a vida
Desse lado.

ESTA PORTA
É magia,
Viajo sempre
Por ela
Porque é uma
Janela
De onde voa
A fantasia.

DELA ALCANCEI
O mundo
E o mundo veio
Até mim,
Ao passar por
Esta porta
Sinto o meu
Horizonte
Como fronteira
Sem fim...

POR ISSO REGRESSO
A ela,
Esse pilar
Do meu ser,
Quando chego,
Logo amanhece,
E quando estou
De partida
Sinto que
O mundo
Acontece
Como a montanha
Da vida.

JAS_Porta2023_CorRec

 

ORÁCULO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Luz”. 
Original de minha autoria.
 Maio de 2023.
Oraculo2023

“Luz”. JAS. 05-2023

POEMA – “ORÁCULO”

NO ORÁCULO
Há uma árvore
Iluminada
Nos dias de ritual.
Essa árvore és tu
E eu a luz
Que alumia
Com o ceptro
De cristal
Do templo sagrado
De Athena,
Da arte
A catedral.

ÀS VEZES BRILHAS,
Sim,
Incendeias-me
O estro
No poema
Em construção,
Outras convocas
A sombra
E o silêncio,
A árvore
Entristece
E também eu
Me apago
Em infausta
Comoção.

É BELA A ÁRVORE,
Mas não dá frutos,
Só beleza 
Luminosa
E fugidia
Quando em dias
De ritual
Te canto
Com vigor
E fantasia
E o brilho
Dos teus olhos
Me acende
Esta paixão
Como pura
Energia.

SE NÃO TE VEJO,
Apago-me
Em submissa
Tristeza,
Falta-me o teu
Olhar,
De cada poema
A luz,
Do afecto
A Incerteza.

FLUI O TEMPO,
Gasta-se a vida,
Fogem de nós
As palavras,
O olhar
Empalidece,
Esmorece
A alegria,
O oráculo
Já não acolhe
O meu canto
E, depois,
Ah, depois,
Regressa
A rotina
De cada dia...

MAS A DEUSA
Aguarda-me
Impaciente
E eu hesito
Em chamar-te
Ao ritual
Com medo
Que não me ouças
E eu perca,
Do oráculo,
A magia
Do seu ceptro
De cristal...

MAS EU TENHO-TE
Dentro de mim
E convoco-te
Ao poema
Para acender,
Com a luz
Do teu olhar,
A árvore
Inspiradora,
Enquanto o canto
Durar.

NÃO RECUSES
O chamamento,
Não apagues
Essa luz
Que quer sempre
Renascer,
Deixa que eu
Te cante
E celebre
Em cada amanhecer,
Te acenda
Na fantasia
Nem que seja
Por um instante
Ou na voragem
De um dia.
Oraculo2023Rec

“Luz”. Detalhe

PERFIL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Espanto”
(2021, 91x115, em papel
de algodão Hahnemuehle, 310 gr).
Original de minha autoria.
Maio de 2023
Jas_Espanto2023

“Espanto”. JAS. (2021, 91×115, em papel de algodão Hahnemuehle, 310 gr). 05-2023

POEMA – “PERFIL”

AS LINHAS
Do teu perfil,
Tão singelas
Ao olhar,
Lembram-me
A tua voz
Quando te
Ouvia falar.

POETA,
Logo pintava
Essa tua silhueta
Com um secreto
Pincel,
Os traços eram
Palavras
Desenhadas
A caneta
Na brancura
Do papel.

PALAVRAS
Leva-as
O vento
(Era o que eu
Te dizia),
Mas ditas
Por um poeta
Gentil
(E eu nunca te
Mentia)
Ficam gravadas
Na alma
Se pintar
O teu perfil.

CRESCESTE
Como camélia,
Flor branca
Nas folhagens
Do Jardim,
E sempre que
Tu me olhas
Iluminas
De alvura,
Brilho intenso,
Cintilante,
Essa imagem
Que perdura
Mesmo quando
Estás distante,
Mas sempre
Tão perto
De mim...

PORQUE VIVES
No Jardim
Em ciclo
De natureza,
Regressas
Em cada ano
Para afastar
A tristeza...

DEPOIS PARTES,
Mas fica sempre
O teu perfil
Que me fala
Ao olhar...
..........
A ausência
Já não pesa
E as saudades
Esmorecem
Porque tenho
A certeza
Que um dia
Vais voltar.

Jas_Espanto2023Rec

OÁSIS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Sonho”.
Original de minha autoria.
Abril de 2023.
Sonho2023_3004

“Sonho”. JAS. 04-2023

POEMA – “OÁSIS”

SONHEI-TE.
Atravessava o deserto
Há muito,
Nada via
À minha frente,
Areia, só areia
No caminho...
.............
E uma miragem
Ardente.

NEM SABIA SE
Encontraria
Um oásis
Onde molhar
As palavras
E os lábios
Já gretados
Da aridez
Do deserto.

MAS HOJE SONHEI-TE,
De novo,
E reencontrei
O oásis perdido...
....................
Nas pupilas dos teus
Olhos.

TIVE-TE ASSIM
A meu lado,
Ofereci-te
Uma história
Onde conto
Como te perdi
E te conservei
No meu fio
De memória.

FALÁMOS DE ARTE,
Imagina,
E de como a vida
Nela se resolve
E se lê
Quando na força
Do sonho
Se confia
E absolutamente
Se crê.

SONHEI-TE
Esta noite
E acordei de ti
Embriagado,
Mesmo sem te ter
Comigo,
Ali mesmo,
A meu lado.

AH, HABITUEI-ME
A estar contigo
Em sonho
E em palavras,
A dizer-te
Em poemas,
A ouvir
O teu silêncio,
A procurar-te
Com o vento
Que te sopra
Na alma
Meus poéticos
Murmúrios...

TENHO-TE
Em palavras
Um pouco
Já gastas
E nem sei
O que seria
Encontrar-te,
Olhar de perto
Teus olhos
Negros
E profundos,
Sentir
O teu perfume,
Perdido
No mistério
Insondável
De tão enigmático
Rosto.

TALVEZ TE VOLTASSE
A perder,
Nesse instante,
Nesse dia,
Por excesso de ti
Ou por só já
Te reconhecer
Nas estrofes
Da minha confessada
E melancólica
Nostalgia.

Sonho2023_3004Rec

LIBERDADE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Liberdade”.
Original de minha autoria.
23 de Abril de 2023.
2023liberdade25042022

“Liberdade”. JAS. 04-2023

POEMA – “LIBERDADE”

PERGUNTEI-TE,
Num dia
De sol:
“Voas comigo
Prà linha
Do horizonte?".
Deste-me a mão
E sorriste:
“Voo, sim,
Pois preciso
De ar puro
Lá bem no alto
Do Monte”.

E PARTIMOS.
Tu levaste
O arco-íris
Que tinhas
Dentro de ti
E eu as letras
Que tinha
Comigo,
Guardadas
Na alma,
 Seu porto
De abrigo.

ENREDÁMOS
Todas as cores
Com linhas
De palavras
Deslaçadas,
Construímos
Asas em forma
De verso
E voámos
No céu
De um poema
Pintado todo
De azul...

ANDEI CONTIGO
Por lá
Anos a fio,
Vagueando
Ao sabor da
Inspiração,
Levados
Pela brisa
Que sopra fria
No Monte,
Mas afaga
O coração.

E COMO GOSTEI
De voar contigo,
Livres como
Pássaros
Sobre o vale
Onde te encontrei
Um dia,
Construindo
Castelos
Na areia
Com a força
Da magia.

É ASSIM QUE EU
Te vejo,
Tecendo a vida
Com sopro
De alma
E as cores
Do arco-íris
Pintadas
Por tua mão
Como pauta
Colorida
Da nossa bela
Canção.

FOI ASSIM
Que nos dissemos
Nesse tempo,
Livres de amarras
Que não nos deixam
Voar,
Traçando
Em arte
Um destino
Marcado
Pela vontade
De fazer
Da nossa vida
Caminho
De liberdade.

Lib_Detalhe

INESPERADO ENCONTRO

Poema de João de Almeida Santos
inspirado no romance
“Via dei Portoghesi”.
Ilustração: “Piazza Navona”.
Original de minha autoria.
Abril de 2023.
Navona2_2023

“Piazza Navona”. JAS. 04-2023

POEMA – “INESPERADO ENCONTRO”

CHEGASTE SÓ,
Em silêncio,
Austera,
Rosto crispado,
Ficaste, triste,
À espera
Que te servissem
Gelado...
............
Era outono
Profundo
E os sinos
De Sant’Agnese
Tocavam ali,
A meu lado.

VI-TE DISCRETA
Chegar
A esse bar
Onde estava,
Mudei logo
De lugar,
E, ao ver-te,
Estranhava,
Eras ilha
No meu mar,
Mas o brilho
Dos teus olhos
Fascinava,
Não deixava
Navegar.

E DE NOVO
Estremeci
Desse olhar
Tão penetrante
Que, sem me ver,
Me fitava
Como olhar
De amante.

QUIS DESENHAR
Essa tua silhueta,
Tremeram
As mãos do pintor,
Voltou a voz
Do poeta.
Com palavras
E com dor
Voltei a ser
O que era:
Artista
Com vocação
De asceta.

ESFUMOU-SE
No olhar
A beleza
Do teu rosto
E não pude
Desenhar
Esse perfil
De que gosto.

FICOU-ME
A poesia
Com as palavras
Que tinha,
Com elas,
Eu bem sabia,
Pintava quadros
Em tela
E pautas
Com melodia.

DEPOIS, PARTISTE
E ombro a ombro
Caminhámos,
Estranhos
Numa só via
Por onde nunca
Passámos.

E ASSIM EU VOU
Sonhando
Histórias da utopia,
Terão fim,
Só não sei quando,
Até chegar esse dia.

Navona2_2023Rec

REENCONTRO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Magnólia Branca”.
Original de minha autoria.
Abril de 2023.
Magnolia2023Branco

“Magnólia Branca”. JAS. 04-2023

POEMA - REENCONTRO
ELA FASCINA-ME
Como a magnólia
Branca,
Em Março,
Lá no alto
Da Montanha,
Ali, a meu lado,
Mistério
Da natureza
No meu Jardim
Encantado.

BRANCO SOLTO
Em farrapos
Delicados
Que me libertam
Do silêncio
Invernal
E convidam
A voar
Suspenso
Num rio de luz
Desenhado
Num poema
Onde a possa
Cantar.

E RESPIRO
Com as cores
Que ela
Em silêncio
Compõe
Sobre folhas
 De papel
Em forma de
Aguarela
Ou pintadas
A pastel,
Rápida
E certeira,
Como Hermes
E Athena,
Perfeita
Geometria
Que a alma 
Me serena
Em suave
Liturgia.

É BELISSIMA
E gosto
De a olhar
Cá de baixo,
Da gruta
Luminosa
Das minhas
Metáforas,
Quieto,
Em sintonia
Com seu sorriso
Doce 
Como um beijo
De criança.

ELA É MAGNÓLIA
Branca
Que me atrai
Para encontros
Fatais
Com palavras
Rebeldes,
Vitais,
Lá no alto
Desse azul
Infinito
Onde sinto
Que à beleza
Proibida
Falta a palavra
 Sentida 
Que um dia
Se perdeu.

POR ISSO,
Nestes meus versos
Regressa
O que há muito
Vou sentindo
Como longa
Melancolia
Na forma 
De uma sofrida
E tantas vezes
 Cantada
Forte e doce
Nostalgia.

Magnolia2023BrancoRec

SINESTESIA

Entre Riscos
e Palavras
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Voo da Magnólia”-
91x115, em papel de algodão
Hahnemühle. JAS, 2021.
Abril de 2023.
JasMag210321_Pub - cópia

“O Voo da Magnólia”. JAS, 2021. 91×115, em papel de algodão Hahnemühle. 

POEMA – “SINESTESIA – Entre Riscos e Palavras”

RISCOS E CORES
Saem espontâneos
De minhas mãos,
Voando
Para dentro
Da estrofe,
Celebração
Da beleza
Em tempo de
Primavera.

BELEZA
Que se expande
Em poemas
Filhos
De um encontro
Fatal
Que fez nascer
O poeta.

DEPOIS, AH,
Depois,
Mais encontros
Em verso
E versos
Em cor
E traços
E ruas
Ou praças
E amor
Em corpos
Desenhados
À procura
Do céu,
Movidos
Pelo desejo.

CRESCEM
Juntos,
Os riscos
E as palavras,
Entrelaçados
Em fugazes
Diálogos
Atirados
Às nuvens.

DEPOIS,VOAM
No espaço
Onde o poema
Pousa
Em equilíbrio
Precário
Sobre um ténue
Risco
Desenhado
No azul
Que se esfuma,
Lento,
No fio do
Horizonte.

PERDERAM-SE
No real?
Encontram-se
Nas nuvens,
Espaço
Em forma
De elipse
E cores
Em fuga
Que deslizam
Para o infinito.

PINTOR, SALTO
Para cima
De um risco
E nele voo
Colado ao azul
Do céu
Com o poeta,
Esse outro
De mim.

E PERDEMO-NOS
Nas nuvens,
Enlaçados
Em raios
De Luz
À procura
De formas
Que projectem
O olhar
E a inquietude
Da alma.

SÃO ENCONTROS
Imaginados
Que nos elevam
Ao céu
Da inspiração
Para recriar
O que deles
Nos sobrar.

AH, SE TUDO FOSSE
Harmonia
Cá em baixo
No vale
Da nossa vida
Não haveria
Dor
Nem riscos
Nem cor
Nem poeta
Ou pintor
Não haveria
Palavras
Nem resgate
De almas
Em constante
Sobressalto.­­­­..

JasMag210321_PubRec

SONHEI-TE COM PALAVRAS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Rubor”
Original de minha autoria.
Março de 2023.
RUBOR2023

“Rubor”. JAS. 03-2023

POEMA – “SONHEI-TE COM PALAVRAS”

ESTA NOITE EU
Sonhei-te
Num poema,
Que no sonho
Não te encontrava,
Socorri-me
De palavras
Pra melhor
Te evocar,
Fantasia
Não faltava, Tinha mesmo De cantar. JÁ PASSARA Tanto tempo Que partira Do nordeste, Da terra Da utopia Onde um dia Te encontrei Perdida nesse Teu mundo, Ambiente Um pouco agreste, Um poço quase Sem fundo. COMO SE NA VASTIDÃO Do espaço Entre o sonho E a vida Já não houvesse Lugar Nem pra uma Despedida. QUE ESTRANHO Este sonho Em palavras, Não sabia Se sonhava Ou se compunha Um hino À alegria Por assim Te encontrar, Pois julgava-te
Perdida No poço Feito de sombra Onde eu sempre Te via, Onde te ia Buscar. QUE BOM FOI Ter-te sonhado, Recriar O que perdi, Virar tudo Do avesso, Reviver O teu sorriso E ficar-me por ali. ESTA NOITE Eu sonhei-te E gosto De o dizer, Foi como ter-te A meu lado, Como não mais Te perder. AH, QUE SONHO Eu sonhei, Com todas aquelas Palavras Onde logo te Encontrei, Ficaste colada A meu corpo Mesmo quando Acordei, Senti-te Dentro de mim, Uma brisa perfumada Que nunca mais Tinha fim... MAS DEPOIS Desapareceste No poço fundo Do tempo, Tua imagem Esbateu-se Na minha retina Já gasta, Tua voz era Silêncio De um som Que não ouvia, Teu olhar Foi desviado Para nunca Mais me ver, Braços caídos No corpo Para não me Abraçarem Nem que fosse Na memória Do que da vida Sobrasse, Do que resta Do teu querer. FOI ASSIM QUE Te sonhei, Ver-te um pouco Perdida, Comigo sozinho No cais, Tua alma Adormecida Em sonhos
Que pra ti eram
Mais do mesmo, Sempre iguais. ESTA NOITE Eu sonhei-te Em palavras Porque estás Longe de mim, Não foi por Vontade minha, Foi a vida Que o quis Porque a vida É assim...

RUBOR2023Rec

“MARÇO”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Neve e a Primavera”
(Pintura em papel de algodão e
verniz Hahnemuehle, 68x93, 2022).
Original de minha autoria.
Março de 2023.
ANeveeaPrimavera2023

“A Neve e a Primavera”. JAS2022. 03-2023

POEMA – “MARÇO”

GOSTO DE MARÇO,
Entre a neve
E a primavera,
Entre o branco
E as flores,
A chegada
De Perséfone,
O mistério
Que me atrai
Nessa fronteira
Do tempo
Que ainda não
Passou.

GOSTO DO BOTTICELLI,
Dos rostos
E dos corpos
Das três
Graças,
Feminis,
Volúpia de
Transparências,
Sensuais,
Primaveris.

GOSTO DO BRANCO
Da magnólia,
Dos seus farrapos,
E do branco frio
Da montanha,
Gosto
Dessa cor que
Que brilha
Nos meus olhos
E que sempre
Me acompanha.

GOSTO DE MARÇO
(Porque gosto),
Entrei nele
Contigo,
No signo do
Desencontro
Que se repete
Neste silêncio
Fatal,
Marcado
Contraponto
Desse tempo
Do meu canto,
Um “triste
Destino”
Que quase
Parece irreal.

PARA TI COLHIA,
Em Março,
Flores luminosas
E a inspiração
Crescia
Em estrofes
Desenhadas
Com  a força
Da magia,
Fingindo sentir
O que dizer
Não podia,
Fosse só
Por duas horas
Ou fosse
Por todo um dia.

NO SIGNO
Do desencontro
Marcado como selo
Lá vou eu
Mais uma vez
Por aí,
Nem sei porquê,
Ou por falta de ti,
De braço dado
Com Botticelli,
Lá em cima,
Na Galleria,
Oráculo de arte
E templo
Da fantasia.

SINTO-TE PERTO,
Ah, eu sinto,
Depuro
A tua imagem
Em bissetriz
De mil rostos
Até se tornar
Ideia
De corpo ausente,
Dialéctica
Animada
De opostos.

DEPOIS REINVENTO-A
A cada instante,
Abraço-a
Com alma
De amante,
Pinto com
Palavras
O seu perfil
Ideal
E fixo-a
De novo
Neste meu
Jardim
De jogral.

AO ACORDAR,
No amanhecer
De cada poema
Verei que continuas
Em mim,
De olhos fechados
(Lembras-te?),
Como se fosses
Sonho do que
Nunca aconteceu
Naqueles dias
Passados.

ANDAREI
Por aí
(Os astros o dirão),
Vagando
E pousando
O olhar
No pólen
Da beleza
Sensível
À procura
De seiva fresca
Para desenhar
Poemas
E dar vida
Ao impossível.

LÁ NO ALTO
Te encontrarei,
Imitação
Dos dias
Da criação,
A construir infinito,
Onde, num adeus
Já sem fronteiras
Nem cais de partida,
Hás-de desenhar
Com a alma
As mil silhuetas
Ainda inacabadas...
...............
Ou talvez não!

MEU DEUS,
Como gosto de ti,
Em Março,
O mês da floração,
Quando a magia
Renasce
Para renovar
A vida,
Com a força da
Paixão.

ANeveeaPrimavera2023Rec

MARMELADA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “ A Dança da Combustão”.
Original de minha autoria.
Março de 2023.
Combustão2023_0802

“A Dança da Combustão”. JAS. 03-2023

POEMA – “MARMELADA”

COMO GOSTO
Da tua marmelada,
Doce e acre
Como tu,
Sintonia
No sabor
Que me embriaga
Os sentidos
Como seiva
Do teu corpo.

GOSTO DA METAFÍSICA
De confeitaria
Porque me adoça
A alma,
Excelsos 
Sabores Produzidos Com magia Nas tuas tardes De calma... SOU GULOSO, Como sabes, E como é doce E macia Esta tua Marmelada, Sinto-a Como alquimia, Como pura arte De fada. COMO, COMO, Sem parar, Sabe-me sempre Ao brilho Desses teus olhos, À espuma branca Do mar, Ao perfume Do teu corpo, Onde hei-de Naufragar. NESTA TUA Marmelada, Eu vejo-te Artesanal, Com os marmelos Nas mãos, Sabores Em harmonia, Receita conventual, Polpa moldada Por ti Com segura Maestria Na dança Da combustão, Cor intensa, Iguaria De frutos Abençoados Em doce Composição. TALVEZ A TENHAS Criado Em tempo De quietude Ou mesmo de Solidão (Que às vezes É virtude), Quando esvaece Esse lado Mais agreste E mais crispado Que te oculta A beleza Dos momentos De paixão. AH, ESSA TUA Marmelada É leve, É pura, Há pássaros Que te voam Na alma, Que dançam no Calor da Combustão, Um bailado Divinal Com frutos De perdição. VAI FICAR-ME Sempre vivo O sabor Por ti criado, Carícia Da fantasia, Dádiva, Prazer, Harmonia, Quase pecado,  A vida Como reino Da magia Por deuses Iluminado.

Combustão2023_0802Rec

TEU CORPO NUMA CATEDRAL DE PALAVRAS

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Luz”.
Inspirada em Man Ray:
"Electricité:
Salle de Bains", 1931.
Original de minha
autoria. Março de 2023.
Corpo2023_03.03 copiar

“Luz”. JAS. 03-2023

POEMA – “TEU CORPO NUMA CATEDRAL DE PALAVRAS”

VEJO-TE
Desenhada
A sépia,
Nua,
Numa catedral
De palavras
E ecoa
Sobre mim,
Entre altas
Colunas
Argênteas,
O silêncio
De uma poética
Do pleno
E do vazio
Que me interpela
Como metáfora.

TEU ROSTO
Esculpido
Por sons
Inaudíveis
É a imagem
Perfeita
Para o oráculo
De Athena,
A deusa
Que, em ti,
Inspira
A melancolia
De meus poéticos
Murmúrios.

UMA DESCARGA
Intensa
De riscos
E de luz
Caiu sobre ti
(Lembras-te
do Man Ray?),
Estampando-te
Numa folha
Nua,
Onde expôs
Esse teu corpo
Aos ecos
Do silêncio
Para que o ouça
Com a alma.

SÃO RAIOS DE LUZ,
São palavras
Ou serão
Os fantasmas
De Kafka
Que acariciam
Com sofreguidão
Esse corpo
Que já saiu
De ti
E se perde,
Levado
Por eles,
Levitando
Sobre um caminho
Que trilha,
Sem saber,
Ao sabor
Do vento
E de incerto
Destino.

E EU A VÊ-LO
Levitar
Para lugar
Nenhum
E a segui-lo
(Não sei porquê)
Com este rasto
De palavras,
Ponte
Sobre um imenso
Vazio
Que une
O desejo
E o impossível.

NÃO OUVES
A minha
Voz
Interior
Que responde
Aos ecos
Do teu silêncio
E te chama?
Não vês
Que te procuro
Sempre,
Derramando
Riscos
E palavras
Sobre um destino
A que nunca
Chegaremos?

NÃO! BEM SEI
Que não vês,
Bem sei
Que não ouves,
Talvez porque
Os fantasmas
Bebem
Os meus murmúrios
Escritos
Ao longo
Do trajecto.
Se visses
E ouvisses
Eu não estaria
Aqui
À procura
Da sublime
Redenção.
Sem pecado.

Corpo2023_03.03 copiarRec

A VELHA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Pintora e
o Tempo”. Original de
minha autoria.
Poema inspirado numa frase 
atribuída a Clint Eastwood: 
"Don't Let The Old Man In".
Fevereiro de 2023.
JAS_Pintora_Pub_2602_1

“A Poetisa e o Tempo”. JAS. 02-2023

POEMA – “A VELHA”

DISSESTE-ME UM DIA:
“Não deixo
A velha entrar,
Da arte,
É o segredo,
Pois se a intrusa
Chegar
Vai o estro
Declinar
E eu entro
Em degredo”.

E ATÉ PODE SER
 Teimosa,
Bater à porta
As vezes que ela
Quiser,
Mas eu nunca 
Abrirei,
Nem quando o sol
Se puser.

É ARTE
A minha vida,
E é cedo demais,
É cedo,
Pra ver
A velha cantar
O fado
Da despedida. 

QUANDO O TEMPO
Te captura
Com a tenaz
Da velhice,
Pode tornar-se
Sombrio
E caíres
Em solidão,
Morte lenta,
Indiferença,
Uma implacável
Descrença
E não haver
Redenção.

A PENUMBRA
É sempre lenta
E dói,
O tempo
Não te socorre,
Na sombra
Ele corrói
E quando os olhos
Não choram
É o futuro
Que morre.

A VIDA
É movimento,
Poesia,
É canto,
É choro,
É melodia,
Namoro,
É ver pássaros
Voar,
É sentir “vento
No rosto”,
É receber
E é dar,
É construir
O futuro
Para nele
Viajar
Com asas
De fantasia
Para nos céus
Navegar.

MAS A VELHA
Está cansada,
Já só pensa
No passado,
Nada mais
Lhe dá prazer,
Só vê na vida
Doença,
Só vê na vida
Pecado,
Já nem sabe
O que é viver.

FICO VELHA
Como ela
Se a deixo
Em casa
Entrar,
Recuso 
A atimia,
Pois há vida
Pra fruir,
Há futuro
Em cada dia
E há tanto
Para dar...

E QUANDO
Um dia
Partir
Para nunca
Mais voltar,
Parto jovem,
Com a vida,
E deixo
A velha ficar.

JAS_Pintora_Pub_2602Rec

TEMPO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Musa”.
Original de minha autoria,
Apud Gustav Klimt
(Jovem Mulher, 1885).
Fevereiro de 2023.
JAS_Klimt2023Sepia

“Musa”. JAS. 02-2023

POEMA – “TEMPO”

QUE FARIA
Se te encontrasse,
Olhos nos olhos,
Numa margem
Deserta
Do nosso passado?
Que te diria
Se te visse
Caminhar,
Airosa,
Mas circunspecta,
Ali mesmo
A meu lado,
Com esse rosto
Tão belo,
Tão brilhante,
Acetinado?

NÃO SEI,
Porque não sei
O que o tempo
Fez de nós,
Se petrificou
Nas encostas
Da memória
A tua tão bela
Imagem,
Ficando
Ainda mais sós
Nesta já longa
Viagem.

TALVEZ ENCONTRO
Impossível,
Porque o tempo
Transbordou
E apagou
As margens
Do rio que
Navegámos
Entre escolhos
Perigosos,
Rápidos
Sempre, sempre
Imprevistos
E como tu
Revoltosos.

MAS O RIO
Já não tem água
Nem murmúrios
De corpos
Por ela abaixo
A vagar
Até à foz
Quente do mar,
Melodia
Do desejo
A clamar
Por um simples
Lampejo
Pra iluminar
A viagem.

E SE UMA FOZ
Encontrasse
Seria de um rio
De palavras
Em turbilhão
A entrar
Nesse teu mar
Com a força
Da paixão.

MAS O NOSSO
Já é um barco
Fantasma
Sem foz
À vista
E sem mar,
Sem leito
Pra navegar,
Sem água
Nem margens
Para onde
Transbordar.

POR ISSO,
Se te encontrasse
Numa margem
Deserta
Desse tempo
Já perdido
Ou num porto
De abrigo
Do passado
Que persigo
Talvez eu
Estremecesse,
Mas seguiria
Caminho,
Com palavras
E com contigo,
Mesmo que fosse
Sozinho.

JAS_Klimt2023SepiaRec

O POETA E A MÁSCARA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Transfiguração”.
Original de minha autoria
para este poema.
Fevereiro de 2023.
Transfiguração3

“Transfiguração”. JAS. 02-2023

POEMA – “O POETA E A MÁSCARA”

ENCONTREI UMA MÁSCARA
Numa esquina
Da minha vida,
Pu-la no rosto
Do poeta
E ele não a
Enjeitou.
Ainda por cima
Me disse:
“Sou eu, sou,
Como nas palavras
Que digo
Também meu corpo
Mudou”.

“NÃO ESPERAVAS
Ver-me assim...
É grande o teu
Espanto,
Vá, confessa!
Ganhei um corpo
De rosa,
Tanta cor
(A que apeteça),
Um rosto
Dissimulado
Pra me curar
Desta dor
Sempre que ela
Apareça
A pedir o meu
Cuidado”.

“ADOPTEI
Esta figura,
Agora
Mostro-me assim,
As outras
Nada te dizem,
Com esta,
Olhas pra mim”.

“PALHAÇO
É o que sou,
Falo a
Surdos e mudos
Que não ouvem
O que digo
Nem respondem
Ao que quero,
Tratam-me como
Mendigo
Do que, afinal,
Nem espero”.

“VALHA-ME, POIS,
Esta máscara,
Assim rio
Desta vida,
Rio de ti
E de mim,
Da chegada
Ou da partida,
Dos abraços,
Das palavras
E, por fim,
Da despedida”.

“SOU PALHAÇO,
É o que sou,
Entretenho-me
A cantar
E se ouvires
Este meu canto
É poeta
O seu autor,
Por isso, tu
Não t’importes,
O que diz
É, de certeza,
Pra espantar
Sua dor”.

A MÁSCARA
É o seu rosto,
Colou-se-lhe
Logo à pele
Com a cola
Do desgosto
E por isso
Já nem sabe
Se esse rosto
É o dele.

ENCONTREI 
Uma máscara
Vermelha
No mercado
Da minha vida,
Ponho-lha sempre
Que posso,
À chegada
E à partida,
E se puder
Não lha tiro
Pra não lhe rasgar
A alma
Pois se o canto
O liberta
É a máscara
Que o salva.

TransfiguraçãoRec

OCASO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Rasto de Luz”.
Original de minha autoria.
Fevereiro de 2023.
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“Rasto de Luz”. JAS. 02-2023

POEMA – “OCASO”

CAMINHAVA SÓ
No paredão
E sentei-me,
À tardinha,
A olhar 
A solidão,
O oceano
E o sol
Lá ao fundo
A brilhar
Sobre a linha
Do horizonte,
Em tempo de
Baixa-mar.

O SOL CRIARA
Um caminho
De luz,
Mar fora,
A entrar
P'los olhos
Dentro
Nessa já
Tardia hora.

E CONVIDAVA-ME
A segui-lo
Com o olhar
Em gesto
De despedida.
Era hora
De sol-posto,
Era hora
De partida.

A LUZ INTENSA
Do sol,
Longo rasto
Luminoso,
Incendiava
O olhar
De tão forte
Ser a luz
A refractar-se
No mar.

FIXEI
Esse caminho
E ouvi
Da sua água
Um suave
Marulhar,
Murmúrio
Terno
Das ondas,
Melodia
Luminosa
Criada
Para embalar.

ERGUI DE NOVO
O olhar
Para o sol
Que s’esvaía,
Respirei
E voltei 
A respirar
Uma intensa
Maresia.

RUA DE LUZ
Marinha
A levar-me
Ao horizonte
Por círculo
De fogo
Aceso
Em urgente
Despedida,
Ocaso
Que anuncia
Noites 
Passadas
De sonho, 
Estranhas
Formas
De vida.

ASSIM ME PARECE
Ter sido
A história breve
Que contigo
Eu vivi,
A mesma faixa
De luz,
O mesmo círculo
De fogo
Que o horizonte
Engoliu,
O serpenteio
De corpos
No luminoso
Caminho
Que a ti
Me conduziu...

ATÉ QUE O SOL
Se pôs
Pra regressar
De manhã,
Metáfora
Luminosa
Do nosso encontro
Fugaz
Já tão perdido
No tempo,
Esse tempo
Tão voraz.

E O SOL
Lá regressou,
Mas vinha
De outro lado,
Sem suave
Marulhar,
Sem ondas
Pra navegar
Nesse brilho
Ondulante
Que um dia
Me encantou
A lembrar-me
O teu mar,
Esse ondear
Cativante.

EstradadeLuz4_2023Rec

POEMA PARA UM ROSTO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “S/Título”.
Original de minha autoria.
Janeiro de 2023.
JAS7_Baton2023jpg

“S/Título”. JAS. 01-2023

POEMA – “POEMA PARA UM ROSTO”

ESTÁ LÍVIDO
O teu rosto,
Será sinal
De pecado?
É alvura
Inocente,
É espanto,
É súplica
Penitente
Esse olhar
Que me acende
A alma
E me faz sentir
A teu lado?

É SANGUE,
É vinho
Consagrado
Esse rio
Que desliza
E te enlaça,
Volúpia
Ardente,
Que abraça,
Intensa
Torrente
De púrpura
Sobre teus
Cabelos de seda?

AH, FORAM
Estas mãos
Lascivas
Que te pintaram
Como pecado
De porcelana,
Em brancura
Irreal,
Alma tingida
De cal
E em fuga
Desta vida
Para um mundo
Venal
Onde te sentes
Perdida.

PORQUÊ ESSE
Sangue
Ou vinho
Mosto,
Doce e quente,
Espesso
Como libido
Ardente
A brotar
Da tua alma?

ASSIM, SENTES-TE
Gueixa
Lá dentro
De ti,
Na cidade
Proibida,
Desde que eu
Te perdi,
Ao torno da arte
Recriada
Como imagem
Em fina 
Porcelana
Moldada.

INVENTÁMOS,
Eu e tu,
Em tempos
D’epifania,
Esse perfil
Em que te vias
Na cidade
Proibida,
Eco do meu 
Secreto desejo De te ter, Nua, despida. PECADO Em porcelana, A lividez De quem ama E sublima Quando a divina Beleza É rasgada Por intensa Volúpia carnal. MAS É BARRO, Frágil Como o  amor, Como tudo O que vive Envolto Pelo manto Diáfano Do pudor. É PÚRPURA Essa alma Inquieta E incerta Que aflora, Intensa, Como desafio, Na tua boca Sensual... MAS AGORA Imagino-te Já liberta Desse rosto De porcelana, Alma quente, Corpo fremente, Magia Que brota, Insistente, Desta minha Fantasia. E VEJO-TE A fumar, Lânguida, Com esse bâton Já gasto A transbordar De teus lábios Carnudos, Ao rubro, Em insinuante Preguiça De abandono, Pronta Para te dares Com o corpo, Não a mim, Mas ao olhar Mágico Que recria Milagres íntimos Sobre a tua alma Tão incerta E fugidia. ENTÃO QUEBRO Em mil pedaços Essa porcelana E recrio a beleza Singela De um rosto Que me sorri Sempre que O acaricio Com as palavras Dos poemas Com que te vou Celebrando Nos dias incertos Da minha vida.

JAS7_Baton2023jpgRec

NEVA-ME NA ALMA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Montanha e a Neve”.
Original de minha autoria.
Janeiro de 2023.
Neve2023Pub2Reduzido

“A Montanha e a Neve”. JAS. 01-2023

POEMA – “NEVA-ME NA ALMA”

ESPEREI POR ELA,
A bela adormecida,
Na montanha,
Nesse dia,
Lá no alto,
Branca e fria,
Finos
Farrapos
De seda
A vestir-me
A fantasia.

ESSE BRILHO
Cintilante
Que sempre
Desce
Do céu
E engole o
Horizonte
Pra me cobrir
Como véu...

A CHUVA MIUDINHA
Caía
E as finas
Gotas geladas
Pareciam
Farrapinhos
A descer
Das cumeadas.

ERA A MINHA 
Fantasia
Que na alma
Me fazia
Esse intenso
Nevar
De tão forte
Ser o desejo,
De sempre
Com ele sonhar.

ESPEREI
Pela tarde,
Pelo brilho
Envolvente
E a brancura cintilante Que sempre Desce do alto E me abraça Como amante. MAS NÃO, De manhã O céu Era azul e Transparente E a esp'rança Findou ali, Com o sol A despontar Quando triste Eu parti, Saudades De com a neve Brincar, Dos bonecos Que com ela Estava sempre A moldar. DISSE ADEUS À montanha, Mas prometi Lá voltar, O desejo É intenso, Mas não quero Que só na alma M'esteja Sempre a nevar.

Neve2023Pub2ReduzidoRec

A TURBA

Conversas com Manuel Bandeira
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Palácio das Artes
na Ilha da Utopia”.
Original de minha autoria.
Janeiro de 2023.
PalacioArtes2023Pub1501

“Palácio das Artes na Ilha da Utopia”. JAS. 01-2023

POEMA – “A TURBA”

AH, MANEL,
Cedo demais
Eu cantei,
Dei vivas
À liberdade
Nas ruas e
Nas praças
Da cidade
Quando o tumulto
Da turba
Já se fazia
Ouvir
Nas catacumbas
Da vida,
Nesses lugares
Perigosos
Onde não
Podes sorrir,
Onde a cor
É proibida.

ERAM HORDAS
Revoltosas,
Caíram
Pesadas na praça,
Destruíram
A calçada,
Esse sagrado
Lugar
Onde estávamos
A ver
A nossa banda
Passar.

NÃO SAIO DAQUI,
Manel,
É melhor viver
De brisa,
Ao lado da
Anarina,
A fúria dos
Invasores
Não me deixa
Respirar,
Metralha
Os meus sentidos,
Já nem consigo
Voar.

CÁ NA ILHA,
Manel,
Há sempre
Uma brisa fresca,
Mulheres lindas
A sorrir,
Há flores,
Há rios
E também mar,
Há pintores
De tinta fresca
Que estão sempre
A pintar,
Há poetas,
Trovadores,
Há baladas
De embalar,
Há alegria
Sem fim
E música
Para dançar.

E POR ISSO
Eu cá fico.
Há muito frio
No ar,
Há muita arte
Perdida
Que temos
De recriar.

PROCURO, POIS,
A magia
Para celebrar
A vida
Em nome
Da liberdade
Com as cores
Da nossa ilha
Cantadas
Em poesia,
Que é canto
De verdade.

NA ILHA
Prossegue
O sonho
Em serena
Acalmia,
Por isso daqui
Não saio
Para cantar
E dançar
A valsa
Da liberdade
No palco
Da fantasia.

PalacioArtes2023Pub1501Rec

A VIAGEM

Conversas com Manuel Bandeira
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “S/Título”
Original de minha autoria.
Janeiro de 2023.
S:Título2022

“S/Título”. JAS. 01-2023

POEMA – “A VIAGEM”

MANEL,
Tenho história
Pra contar,
O homem
Foi pròs steites,
Tinha pressa,
Desespero,
Tinha, pois,
De viajar...

É OUTRO MUNDO
O nordeste,
A vida é dura,
Pois é,
Mas tem muita
Brisa fresca,
À Anarina
Disseste,
Não faz de ti
Jacaré.

MAS VOLTÁMOS
Ao planalto,
Foi o povão
Que o quis,
O outro
Ficou irado,
Queria fogo
No país.

PLANALTO
Não é ilha
Nem sequer
É utopia
Como em terras
Do Piauí,
É barco
De grande porte
Onde agora
Viajamos
Com bússola
Que aponta
O norte,
Mas sem as
Belezas daqui.

FALTAM LÁ
(Eu bem sei)
As mulheres lindas
Da ilha
(Embora amigo
Do rei)
E não há um
Burro brabo
Nem pau-sebo
Pra subir...
...............
Ah, mas o outro
Já se foi
E voltámos
A sorrir.

ESTOU FELIZ,
Eu confesso,
E a Pasárgada
Voltarei,
Ao mar calmo
Da nossa terra,
A que, livre
Como o vento,
Sempre escolheu
O seu rei
Para não fazer
A guerra.

AGORA
Já somos livres
E não sibilam
No ar
Silvos de armas
Perigosas
Que nunca
Quisemos
Ouvir
Nesse fúlgido
Jardim
Onde as rosas
Estão sempre
A florir.
S:Título2022RTec

“S/Título”. Detalhe

ÊXTASE

Poema de João de Almeida Santos
Inspirado em “Le Phenomène Futur”,
de Stéphane Mallarmé.
Ilustração: “O Sonho”.
Original de minha autoria.
Um de Janeiro de 2023.
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“O Sonho”. JAS. 01-2023

POEMA – “ÊXTASE”

QUANDO TE SONHO
Eu vejo sempre
Esse teu corpo
Maduro
Num tempo
Que já passou,
Êxtase de ouro puro,
Riqueza
Que já findou.

TEUS CABELOS
Negros
São moldura viva
De um rosto
Que ilumina
A nudez cruenta
De teus lábios...
.............
E me seduz.

É VÃO O VESTIDO
Que te desenha
O perfil,
Teu corpo nu
É mais leve,
Como vento,
É macio,
É veludo,
Levita
Em perpétuo
Movimento.

TEUS OLHOS SÃO
Pedras raras
Em refracção,
Vitrais
Iluminados,
Liturgia,
Oração.

MAS TEU OLHAR
É reflexo intenso
Da tua carne
Viçosa,
Fremente,
E põe-me
Sempre febril,
Agitado
E ardente.

SEIOS NUS...
Ah, teus seios
Eriçados,
A transbordar
De leite eterno,
Halos
Apontados ao céu,
E eu, criança,
Aninhado
No teu ventre,
Como em
Ventre materno,
Num tempo
Que é só meu.

TUAS PERNAS
Macias e quentes
Sabem ao sal
Do primeiro mar
Onde navegámos
Ao sabor
Do desejo
Em ondas
Alterosas
De tanto em ti
Eu pecar.

TUDO SONHO
E volto a sonhar,
Já desperto,
Com o sol
Nas pupilas
Fascinadas,
A brilhar.

E SINTO-ME AINDA
Em teu colo,
Sorvendo
A branca
Eternidade
Que brota
Abundante de ti,
Com o mundo
Para lá da
Vaga alta da
Montanha
Onde os deuses
Me devolvem
O que de ti
Eu perdi.

Jas_Chorar2022_2

SINFONIA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Rapsódia”.
Original de minha autoria.
25 de Dezembro de 2022.
JAS_Rapsódia12_22

“Rapsódia”. JAS. 12-2022

POEMA – “SINFONIA”

ENCONTREI-AS,
As palavras,
Dispersas  
No meu jardim
Sob frondoso
Arbusto
Num dia quente
 De verão.
Aguardavam
Que chegasse
Pra insólita
Missão.

EU NADA SABIA
Delas,
Nesse lugar
Encantado
Onde o sol chega
Intenso,
Mas por ramagem
Coado.

FORAM TAMBÉM
As palavras
Lapidadas
Pelo tempo
Que passa
Na folhagem
Do arbusto?

A FOLHAGEM
É como o tempo,
Coa a força
Do sol
Quando ele é
Mais queimante,
Quando o verão
Aperta mais,
Quando a terra
Nos oferece
Os seus frutos
E o mais.

O QUE ELAS
Mais queriam
Era asas
De fantasia
Pra serem
Lançadas
Ao vento,
Mensageiras
Devotadas,
A liturgia
Do tempo.

QUANDO CHEGUEI
Estavam
Em sobressalto,
A vaguear
Por ali,
A trepar nas
Cameleiras,
Nas hortênsias,
No jasmim,
Nas magnólias
E roseiras,
Esse outro lado
De mim.

AGUARDAVAM
O maestro
Para uma prova
De orquestra
Com ritmo
Bem entoado
Ao sabor
Desses aromas
Do meu jardim
Encantado.

FEZ-SE SILÊNCIO,
Então,
Eu levantei
A batuta
De maestro
Inspirado
E logo o poema
Nasceu,
Sinfonia
De palavras,
Nesse templo
Consagrado.

VIERAM
Mil borboletas
Pintadas
De vivas cores
A ouvir
A melodia,
A toada dos
Meus versos,
Uma bela
Sinfonia.

E, HOJE, 
No inverno
Deste dia,
E nos deuses
Inspirado,
Aqui as lanço
Ao vento
Para cumprir
Seu desejo
E para cumprir
O meu fado.

AH, SE NÃO HOUVESSE
Palavras,
Que destino
O meu seria,
Como recriar
O passado,
Esse tempo
Em que sentia
As dores frias  
Do pecado?

FELIZMENTE HAVIA
Riscos,
Havia cores
E melodia,
Havia
Flores
E aromas
Pra pintar
O que sentia
No mais profundo
De mim,
Com arte,
Com poesia,
E tudo o mais
Que havia
Na magia
Do Jardim.
JAS_Rapsódia12_22Rec

“Rapsódia”. Detalhe

O ECO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Montanha”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2022.
Desejo12_2022psdTrab

“A Montanha”. JAS. 12-2022

POEMA – “O ECO”

QUE ESTRANHO,
Este sonho,
Ver-te só,
Perdida
Na vastidão
Da montanha,
A vaguear,
Perfil de mulher
Que tenteia
À procura do eco
Libertador
Que tarda sempre
A chegar.

PROCURAS,
Ó deusa
Dos meus sonhos 
Revelados,
A melodia
Lá no alto
Como eco
Ou como brisa
Que te há-de
Inspirar,
A que um dia
Se cobriu de
De uma espessa
Neblina
Sem farol
Pra na arte
Navegar?

EU SEI
Que te procuras
Do lado de lá
Da rotina
Que nunca
Te abandona
E te oprime
Como fado
Ou como sina.

ÉS IMAGEM
Da beleza
Que sofre
Dentro de si
A mais funda
Solidão
Lá no alto
Do desejo,
Com vida
Em gestação.

É PURO SONHO,
Bem sei,
Mas os sonhos
Anunciam
Fantasia,
A que sempre
Procuramos
Nos lugares
Que visitamos
Pra que ela
Nos seduza
Com a sua 
Melodia.

E O MUNDO
Vem logo atrás
E entra
Pela porta
Ou mesmo pela 
Janela
Para pintarmos
A vida
Como se a vida 
Fosse
Uma bela 
Aguarela.

NESSE DIA
Subiste
À montanha,
Sozinha,
Com a criança
No ventre
A clamar
Para o vale
Que o mundo
Ia chegar
Com a forma
De um eco
E com intenso
Vibrar...

E CHEGOU
Como eco
Do desejo
Ou do sonho
Que inventaste
Para quebrar
A rotina
E pintar
A tua alma
Numa tela
Que encontraste
Perdida 
Na neblina.

ELE CHEGA SEMPRE,
O mundo,
Não sabemos
É como chega,
Se é tela
Ou papel,
Se é pauta
Ou é pedra
Onde esculpir
O desejo
Com aquilo
Que nos sobra
Do que perdemos
Um dia,
Do que fomos
Ou até do que
Seremos
Nos voos
Da fantasia.

Desejo12_2022psdTrabRec

SOLIPSISMO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Parousía”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2022.
Jas_Arte7

“Parousía”. JAS. 12-2022

POEMA – “SOLIPSISMO”

PROCURO
Reinventar-me
Sobre os escombros
De uma cidade
Invisível,
Perdida
Num tempo
Que não é meu.

OS DEUSES
São meus amigos,
Sustêm
A vertigem
Com que me pinto,
Alma inquieta
De poeta
Ou de pintor
Invocativo
Do que sinto,
Em traços,
Em cores
Ou em palavras
Que resistem
Na fronteira
Das rugosas vielas
Da vida,
Tão banal e
Rotineira,
Lugar de uma
Eterna
Despedida.

E COM ELES VOO
Por dentro
De mim,
Enlevado,
Para além
Do agreste
E estreito
Sendeiro
Que encolhe
A liberdade
Nas ruínas
Do passado...
.............
Pra não ficar
Prisioneiro.

VEJO-ME, AGORA,
Triste por fora,
Mas sinto-me
Quente por dentro,
A transbordar,
Ao rubro,
Em viagem
Ao centro
De um magma
A flamejar
Que me alimenta
O desejo
Em eclosão,
Que se acende
Em cores vivas
No mar
Encrespado
Da minha
Imaginação.

QUE SONHO,
Nesta viagem?
Que entro no meu
Mundo
Mais recôndito
Por uma nesga
Escondida
Nas muralhas subtis
Da minha alma,
A sonhar,
E que viajo
Sob um azul
Que me cobre
Como véu
O desejo de voar...

E ENTÃO VOO
E sigo
O luminoso
Caminho
Que se acende
Nos meus olhos,
A brilhar,
E me leva
Aos céus
Da fantasia...
...........
Para te
Reencontrar.

Jas_Arte7Rec

ENTRE RISCOS E PALAVRAS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Voo da Magnólia”.
Original de minha autoria
(91x115, em papel de algodão
Hahnemuehle, 2021).
Dezembro de 2022.
JasMag210321_Pub - cópia

“O Voo da Magnólia”. JAS. 2021.

POEMA – “ENTRE RISCOS E PALAVRAS”

MOVIDO
Pela musa fugidia,
Riscos e cor
Saem
Das mãos
Do pintor
Voando para o
Poema
Onde o verso
E a estrofe
São a sua melodia.

SÃO ENCONTROS
Em ruas
E praças
Lá no alto
Da emoção,
São cores
E traços
De união,
 São abraços
E são rostos
Esboçados,
É sentir
Muito lá fundo Em poemas Figurados. CRESCEM JUNTOS Os riscos E as palavras Enlaçados Em fugaz Sinestesia, Lançados Às nuvens No céu Do desejo, Em voo De fantasia. RISCOS Sobre cores, Palavras Com sabores, Melodia Com a alma Desenhada, Amores Caídos No poço fundo Do nada. MAS VOAM, Oh, se voam, No espaço Onde o verso Pousa Em equilíbrio Precário Sobre um ténue Risco Preso ao azul Que se esfuma, Lento, Por entre Seus dedos Famintos... ........... Como se fosse
Espuma. PERDEM-SE No real, Mas encontram-se Nas nuvens, No espaço Sideral. E ELA, A musa fugidia, Belíssima, É rápida A saltar Para cima De um risco E nele voar Colada ao azul, Com o poeta Cá em baixo A murmurar: - "Deus meu, Como se pode Não amar!" ELA RESPIRA Nas nuvens, Em raios De luz Enlaçada, Voando No horizonte À procura... ........ De nada. E LÁ REGRESSA, Uma vez mais, Dorida, Em eterno retorno, Ao cais, O seu ponto De partida. SÃO ETÉREOS Os encontros Que acontecem No céu Da inspiração E o poeta Desenha Com palavras Coloridas O que sobrou Do que lá Aconteceu... ....... Em vão. AH, SE ELE A encontrasse No tempo certo Fora do poema, A tiritar De emoção, Não haveria Cor, Não haveria Riscos, Nem dor, Nem chão Que alimentasse As palavras Com que o poeta Corre Atrás do infinito Onde nunca Há-de chegar, A não ser Com as linhas Em fuga Que lhe saem Da alma E do olhar...

JasMag210321_PubRec

O POETA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Poeta 
no seu Jardim Encantado”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2022.
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“Poeta no seu Jardim Encantado”. JAS. 11-2022

POEMA – “O POETA”

O POETA
Perdeu a musa
Porque alguém
Lha levou,
Conta, por isso,
Histórias
Que para si
Inventou.

RENASCE
Na fantasia
Essa musa
Que já teve
E desenha
Em palavras
Sua figura
De neve.

MAS ELA DERRETE
Ao sol
Com esse brilho
Fatal
E o poeta,
Desnudado,
Sai do trilho,
Perde o rumo,
Cai em tristeza,
Calado,
Em seu pobre
Ritual.

VOLTA COM ELA
Ao poema,
Quer trazê-la
Ao regaço,
Com melodia
A chama
Lá de cima
Do terraço
Pra se curar
Do seu drama.

MAS ELA
Não lhe responde,
Fica muda,
Olhar baço,
E ele, com alma
Vazia,
Lá vagueia
No jardim,
Respirando
O aroma
Do seu eterno
Jasmim.

E ASSIM ELE RESISTE
De poema
Em poema
Construindo
O futuro,
Alimentando
A alma
De um vaguear
Do mais puro
Onde a palavra
Liberta
Desse vazio
Escuro
Quando a solidão
Mais aperta.

LIBERTA, SIM,
Da pressão
Que o poeta
Sente no peito,
É liberdade
A valer
E por isso
É mais que jeito,
Não é flor,
É jardim,
O seu abrigo
Perfeito,
Clama
Por fantasia
E ouve a voz
Do passado,
Não é mar,
É maresia,
Da vida
É mais que
Fado,
Não é prosa,
É poesia
O que canta
Nesse jardim
Recamado.

DEBRUÇADO
Na janela,
Em seus vidros
A revê
E com espanto
Pergunta:
- A que vejo
É mesmo ela?
Mas nisso 
Já ele nem crê,
Pois a musa
Do poema
É a sua aguarela,
Pintura 
Que sempre vê.

Jas_O Jardim2022_11_27Rec

O VÉU

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Musa”.
Composição minha sobre
desenho de Gustav Klimt
(1885, Zwei Studien 
einer jungen Frau).
Novembro de 2022.
JAS_Klimt11_2022Pub20_1

“Musa”. JAS. 11-2022

POEMA – “O VÉU”

FOI UM RAIO 
Fulminante,
Havia sombras 
No Céu,
Atingiu-me 
Nesse instante,
Fiquei preso 
A um Véu
Invisível 
Ao olhar,
Feito de 
Seda fina
Que ninguém 
Pode rasgar.

UM CLARÃO
Foi o que vi
Lá bem no alto
Do céu,
Temi que fosse
Castigo,
Pois a terra
Até tremeu,
Mas era de seda
O abrigo,
Refúgio 
Que era só meu.

NESSE INSTANTE
Te inventei,
Julgando saber
O que queria,
Esculpir-me
A teu lado
Nesse véu
Onde vivia.

COBRIA
Todo o meu corpo
Era prisão
Que não via,
Feito de fios
De seda,
O véu
Era o que
Sempre sentia.

FOI INTENSO
O momento
Em que inventei
O caminho,
Fui levado 
Pelo vento
Pra não me sentir
Sozinho.

COMO ERA MACIO
O véu,
Desenhava
Os movimentos
E quando olhava
O céu
Voava
Por uns momentos
E então eu lá subia
Para ver
Se te alcançava,
Mas de tanto
Te olhar
Já nem o céu
Me chegava...

FOI DESSE CLARÃO
Que saiu
O meu encanto
De vida
Que resiste
Às tempestades
Como a paixão
Proibida.

E ASSIM EU VOU
Tecendo
A malha do 
Meu viver,
Vivo em exaltação
Simplesmente
Por te querer.

JAS_Klimt2022_11_FinalRec

VENTO DO DESERTO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “S/Título”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2022.
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“S/Título”. Jas. 11-2022

POEMA – “VENTO DO DESERTO”

IRROMPESTE
No meu poema
Como Rosto
Esculpido
Em pedra lisa,
Num dia
De encruzilhada
Entre o que foi
E o que será.

TEU ROSTO
Marmóreo
Resiste,
Impenitente,
Ao vendaval
De palavras
Que o vento,
Insistente,
Vai soprando
Sobre ti.

SCIROCCO,
Vento espesso,
Areia
Quente
Vinda de longe,
De um deserto
De palavras
Que não tem
Fim...

MAS É MACIO
O turbante
Que te cobre
Suavemente
Como tecido
De mensagem
Cifrada
De quem te chama
E te sente
Como deusa
Ou como fada.

E TU ESCULPES
Com tuas mãos
Essa mensagem
Que pousou
Levemente
Sobre ti,
Pó do deserto,
Palavras
Sem oásis
À vista,
Aridez,
Areia fina
Vinda do céu...

SAIU UM GÉNIO
Da lamparina
E o vento
Trouxe consigo
A Medusa
Para te petrificar?

É, SIM, AREIA FINA
A que te marca
O perfil
Neste longo
Poema
Que, eu,
Do lado de cá
De onde o vento
Sopra,
Vou construindo
Dentro de mim,
Com estas letras
(Os meus riscos
De areia),
Iluminado
Pelos mil espelhos
Do caleidoscópio
Onde observo
O teu luminoso,
E lento
Entardecer.

MAS OS TEUS
São riscos
A três dimensões
E assim te afago
De longe
Com estas mãos
De poeta triste
Em busca
De um rosto
Que dê forma
Ao desejo.

TALVEZ SEJAS
Pedra esculpida,
Medusa
De ti própria,
Sem saber
Que quanto mais
Te desenhares
Com areia fina
Do deserto
Mais poderás
Subir
Ao Olimpo
E levitar
Sobre estas mãos
Que, de longe,
Vão acariciando
Com palavras
Esse teu rosto
De pedra,
Em busca
De redenção.

JAS_Rosto2022_11Rec

RIO DE PALAVRAS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Cascata”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2022.
JAS_Cascata11_2022

“Cascata”. JAS. 11-2022

POEMA – “RIO DE PALAVRAS”

NO MEU JARDIM
De cristal
Fluía,
Torrencial,
Entre Rosas
(Em “arabesque”),
Magnólias,
Camélias
E um Arbusto
(Que tu me deste),
Um Rio
De Palavras
Para uma foz
Onde nunca haveria 
De chegar
(Nem sequer
Com um de nós).

METÁFORAS
Líquidas,
Revoltas,
Corriam
Vertiginosas
Em seu leito
Até embaterem
Em feixes de riscos,
Ilhas de cores,
Traços dispersos,
Fugas,
Amores
(Ditos em versos,
A meu jeito).

E TRANSBORDARAM
Do leito
Para as margens,
Espraiando-se
Em liberdade
E sem destino,
Atraídas
Pelo perfume
Difuso
E subtil
De novas cores
Que se desprendiam,
Intensas,
Do pincel de seda
Com que esboçavas
Um novo leito
Por onde o rio
Correr,
Suavemente,
Como murmúrio
Líquido
De palavras
Inventadas
Num qualquer
Alvorecer...

MAS O PERFUME
Foi levado 
Pelo vento
Que te soprava 
Forte
Na alma
Para incertas 
Paragens
Onde cantar
Eu não podia.

AH, COMO É FLUIDA
A vida
E imprevista
A despedida
De um rio
Que sai de nós,
A vagar,
À procura
De foz
Onde possa
E onde queira
Suavemente
Chegar.

MAS NO MEU JARDIM
De cristal
Flui ainda,
Intenso,
Esse rio,
Com seu caudal
De palavras,
À procura
De leito macio
Por onde possa
Livremente
Navegar
E de suaves
Margens
Inundadas
De cores vivas,
 Luminosas,
Para onde
Transbordar.

O MEU RIO 
De palavras 
Corre de novo, 
Corre sim,
Pra foz incerta,
Sem parar,
Pois errante
Na neblina
Da vida
É teu próprio
Caminhar.

JAS_Cascata11_2022R

O TERRAÇO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Terraço”.
Original de minha autoria (2022, 
119x119, Mold/madeira/artglass, papel Hahnemuehle, 100% algodão). Outubro de 2022.
O Terraço2022

“O Terraço”. JAS. 2022 (119×119, papel Hahnemuehle, 100% algodão).

POEMA – “O TERRAÇO”

É DAQUI,
Deste terraço,
Que eu te vejo
Com a forma
Intangível
Do desejo.

SILÊNCIO,
Essa tua melodia,
Nuvens,
Espelho 
Da tua alma, Um lustre Que ilumina, Céu dourado, Utopia, Minha sina, Meu pecado, O que em ti Eu sempre via. MAS É DAQUI Que te sonho, Uma fresta Para o céu, Um olhar Que não tem fim, É daqui Que eu te quero Sem limites No poema E perfume No jardim... COM PALAVRAS Te olho sempre De frente E tão altiva Te vejo, És arbusto Que me sente Pois em ti Cai o desejo. É DAQUI Que eu não saio Quando parto Para longe, É aqui Que eu te tenho Nas raízes Do que sou, É pois aqui Que te quero Esteja ou não Onde estou. VER-TE Sem te tocar, Beijar-te Com os olhos Numa noite De luar, Dormir contigo Ao relento Para melhor Te sonhar... VÊS Como é simples E não Pecaminoso Gostar Assim tanto De ti? A mim basta, Neste encanto, Ficar-me, Simplesmente... .............. Simplesmente, Por aqui...

O Terraço2022Rec

OLHAR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Olhar”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2022.

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“Olhar”. JAS. 10-2022


POEMA – “OLHAR”

QUE ME DIZES,

Tão frontal,
Olhar inquieto,

D’espanto?
É chamamento,

Sinal,
É resposta

Ao meu canto?

A TUA VOZ

É murmúrio,

Melodia,
É música,
É sinfonia,
É orquestra
A tocar...

E são belos 

Os teus olhos,

Porque me sabem

A... mar,

São ondas

Na minha alma

Por onde
Vou navegar.

NÃO É AZUL

Sua cor,

Mas de sol

Que ilumina,

Olhas pra mim,

Meu amor,

Se te navego
À bolina?

CABELOS

Desalinhados,

Sopra o vento

Sobre ti
E em seu intenso
Soprar

Ficas tão longe
Daqui 

Como a montanha

Do mar.

QUE PROCURAM

Os teus olhos?

Tua boca balbucia

Palavras

Que ao silêncio

Se votam
Até que a alma
Sorria...

QUANDO NELAS

Leio a pergunta

Que nunca,

Ousando,
Faria,
Dizes, sim,
Que tu não sentes
O que eu
Nunca te diria?

DIZES QUE
 NO
Poema
Já saudade
Tu não és,
Algo que devo
Esquecer
...
.............
Se não vierem
Marés

Onde te sinta
Crescer?

TEUS OLHOS

Húmidos

Fascinam,

Uma boca que seduz,

Teus cabelos

Desalinham

E eu,
Poeta d’outono,

Na mais pura

Contraluz...

OLHAS-ME, POIS,

Inquieta,

Sem estar

À tua frente,

Uma dorida
Distância

Que no silêncio
Se sente,
Mas por isso

Eu te digo

Que o teu olhar

Não me mente.

QUE ME DIZEM

Os teus olhos
Hoje, assim,
Tão de repente?

JAS_OLHAR2310_1Rec

ENCONTROS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Onírica Nudez”
Original de minha autoria (sobre
foto, anónima, em contraluz, da
minha colecção privada). Outubro de 2022.
Corpo2022_10_16

“Onírica Nudez”. JAS. 10-2022

POEMA – “ENCONTROS”

TARDO A ENCONTRAR-TE
Porque já não sei
Como procurar-te
Levado
Por um poema...

NÃO É VONTADE
Decidida,
Mas destino que marca
Os passos que
Darei
Na estreita
Vereda da vida...
...............
Ou aqueles que
Eu nunca ousarei...

E TU SABES
Que não sei,
Mas sabes
Por onde andei
E por onde
Me perdi
À procura
Do que não
Queria ter
Para preservar
O que o tempo
(Ah, sempre o tempo)
Haveria de 
Esculpir
E em meus
Poemas
Guardar.

UM DIA
Encontrei-te
No fim de um caminho
Que já nem sei
Se trilhei
Antes de qualquer
Início
Ou se o abandonei
Como se fora
Vereda fatal
De um tentador
Precipício...

ÀS VEZES,
Reencontrava-te, sim.
Encontros fugazes,
Onde o teu brilho
Começava a cegar
Por fora,
Mas a iluminar
Por dentro...
..............
Para te poder
Cantar.

MAS JÁ NÃO SEI
Se te hei-de querer
Para nunca
Te ter,
Sentir saudades
Ao amanhecer
Do teu perfume
Na memória fresca
Dos afectos
Indefinidos,
Os mais perfeitos
E sentidos.

SIM, DEIXO-ME IR
Nas mãos lentas 
Do destino,
Mas há sempre
Um sobressalto
Quando o real
Nos atropela
Por dentro
E tudo se torna
Inóspito...
.........
Por fora.

SE NÃO ME DEIXO IR
Viajo para outros
Lugares,
Tenho sempre
De viajar
À procura de mim,
Dum espelho onde
Me veja por dentro
A olhar-te
Por fora,
À espera do próximo
Sobressalto...
.................
Que nunca demora.

AH, COMO ME FALTA
Esse véu
Que te dissimula
O rosto
Quando te quero
Pintar com palavras
E logo te vejo
Nua,
Com a alma
A tiritar...

MAS EU CONTINUO
A procurar-te
Com disfarçado
E tímido olhar
(Como quem
Não te quer),
Perscrutando-te,
Na memória,
A alma pura
Que se aninha
Em ti
Para te proteger
Do risco da beleza
Exposta
Como fractura,
Aquela que os poetas
Cantam
Quando sentem a
Liberdade
Por perto.

TALVEZ A NOITE
Te sirva de véu
E te cubra as cicatrizes
Da vida,
Luz coada
Pela penumbra
Que te amacie
A pele
Encrespada e
Te devolva como
Sonho
Acetinado
Onde te reinventarei
Como mulher
Desejada...
.................
Para além do bem
E do mal.

MAS EU NÃO SEI,
Tenho medo
Dos sobressaltos,
De ser atropelado
Na esquina de um
Inocente
Jogo sedutor
Que te cative a
Alma em fuga
Para o infinito
Que se cruza
Nos nossos olhares...
..............
Cada vez mais
Intermitentes.

E AGORA TARDO
Outra vez
A reencontrar-te
No bulício dos
Meus dias
Até que no amanhecer
De um poema
Perfumado
Te surpreenda
De novo
Simplesmente nua
E te diga,
Com olhar submisso:
"Esta visão matinal
É o sonho revelado
De um poeta-pintor
Que nunca ousou
Desenhar-te
Como prova
(Não provada)
De seu tão incerto
(E obstinado)
Amor..."

Corpo2022_10_16Rec

FUI CONTIGO PRA PASÁRGADA

Poema de João de Almeida Santos. Recriação do diálogo com o poeta brasileiro e nordestino Manuel Bandeira (Poemas: “Vou-me embora pra Pasárgada” e “Brisa”), quatro anos depois da primeira publicação, em Novembro de 2018. Ilustração: “Pasárgada II”. Original de minha autoria (119×119, c/mold., 2022). Outubro de 2022.

Pasarg2

“Pasárgada II”. JAS, 2022 (119×119).

POEMA – “FUI CONTIGO PRA PASÁRGADA”

FUI CONTIGO
Pra Pasárgada,
Para o teu mundo,
Irmão,
Eu não me sentia
Livre,
Faltava
Inspiração
Porque a brisa
Do nordeste
Ficou lá
No Maranhão.

NÃO TENHAS,
Manel,
Saudades,
Nostalgia do futuro,
Temos passado
Que baste
E foi, sim,
Foi muito duro.

FUI CONTIGO
Pra Pasárgada,
Não quis
Ficar por aqui
Porque a brisa
Do nordeste
Não passou
Do Piauí.

PRA PASÁRGADA
Eu quis ir,
Prà terra da
Liberdade,
Por aqui
Já me faltavam
As cores vivas
Da verdade.

EU GOSTO DE TI,
Ó poeta
Do reino
Da utopia,
O teu tempo
É o futuro e
Lá se faz
Poesia,
Se pinta,
Se canta
E se dança
Porque o ar
É do mais puro
E cheira
A maresia.

NÃO GOSTAVA
D’estar aqui,
O ruído
Era demais,
Esta terra
Já não servia
E lá partimos
Do cais...

FUI CONTIGO
No teu barco,
À procura
De mar calmo,
Céu sereno
E tudo o mais,
Navegando
No azul,
Peixes voando
No mar,
No horizonte
Uma ilha,
Mulheres lindas
A acenar...

EM PASÁRGADA
Fui feliz
Cantei e
Dancei
Até alta
Madrugada,
O corpo
Deixava-se ir
Com alma
Apaixonada
Em regaço
De mulher
E ao ritmo
De balada.

POR AQUI
Era grande
O ruído,
Com armas
A crepitar,
Matavam poemas
Com gritos,
Já não se podia
Cantar...

FUI CONTIGO
Pra Pasárgada,
Meu mestre
De poesia,
Lá cantei
Os teus poemas
Fosse noite
Ou fosse dia...

AGORA QUERO 
Ficar,
A esperança regressou,
Quero contigo
Cantar
O que o vento
Me levou.

MAS NÃO SEI
Se o vento traz
Céu sereno
Às canções,
Por isso contigo
Rezo
Minhas pobres 
Orações
Pra que a brisa
Chegue aqui
E não fique
Lá retida
Nas terras do
Piauí.

Pasarg2Rec

PRESSENTIMENTO

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Travessia”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2022.
Jas09ATravessia2022

“Travessia”. JAS. 10-2022

POEMA – “PRESSENTIMENTO”

MAIS UMA VEZ,
Ao entardecer,
Te pressenti,
Numa rua de Lisboa...
....................
Mas não te vi.

AH, ESTA LISBOA
Que amas...
..................
Uma silhueta fria
Na cidade,
Uma travessia,
Um homem
Que passa,
Perdido
Em memórias
Que se esfumam
No tempo
E deixam
A alma vazia.

DEUS EX MACHINA
Que desce
No caos
Em que a vida
Se tornou,
Nos afectos
E na dor...
...............
Para pôr ordem
Nas desordens
Do amor...

CAÍSTE-ME,
Como num palco
Ou numa encruzilhada
Improvável,
Quando vinha
Da imensa planície
Onde os deuses
Se anunciam
No horizonte
A cada amanhecer...

UM SÚBITO CLARÃO,
Um sobressalto...
E eu estremeci.
Irrompeste,
Intempestiva,
Das brumas
Da memória...
..........
Mas apenas
Te pressenti.

INCAUTO,
Aproximei-me
Do teu mundo,
Sem saber?
Foi o destino,
Adormecido
Que andava
De nunca,
Mas mesmo nunca,
Te rever?

ESTRANHOS
Desencontros
Que desabam
Sobre nós,
Com os astros
A governarem
O labirinto
Insondável
Das nossas vidas.

SILHUETA FUGIDIA,
É o que és,
Nesta longa
Travessia,
Neste ver-te
De través,
Nesta minha 
Liturgia.

VI UM NÚMERO,
A única certeza
Que tenho,
Mas incerto
Como todos
Os números
Deste "mundo
Inumerável".

INCERTO, SIM,
Porque tu
Não és número
Que me dê
Certezas,
Para além da dor...
..............
És mais quatro
Do que sete,
Meu amor.

TALVEZ TENHA SIDO
A minha fértil
Imaginação,
Já um pouco doentia,
A cruzar-se 
Contigo
Num inesperado
Lance de magia.

 MAS NEM SEI
Se é por ali
Que tu andas,
Porque de ti
Nada sei,
Só o que me sobrou
Daquele tempo
E do tempo
Que criei
Para nunca 
Te perder,
A história
Que te conta
Para nela
Renascer.

QUE ESTRANHOS
Lugares de
Desencontro,
No meio da multidão,
Um instante
Que irrompe
Quente
Como lava
De vulcão,
Um regresso
Improvável
Cada vez mais
Espectral
Em película subtil
E transparente
De memória
Outonal!

AH, COMO NO FIM
Deste poema
Sofro a falta
Desse olhar
A iluminar-me
A alma
De ternura,
Mas nem o sol
Se descobre,
O acende
E o inunda
De beleza
Da mais pura...
Jas09ATravessia2022Rec

“Travessia”. Detalhe.

RENÚNCIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Poesia”.
Original de minha autoria.
Setembro de 2022.
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“Poesia”. JAS. 09-2022

POEMA – “RENÚNCIA”

RENUNCIEI
Para nunca
Te perder,
Mas nesta
Distância sofrida
Vai lentamente
Declinando
O que pra sempre
Eu quis ter.

VÊS, BERNARDO,
Que destino?
Que desassossego
O meu?
Quis seguir
O teu caminho...
.........
Perdi-me,
Já não sou
Eu.

TU AMAS
A poesia
(Bem sei),
Mas não te ajeitas
Com ela,
Senti-la é
Doce sofrer,
Entras na porta
Da vida,
Não a vives
À janela
Como quem
Só sabe ver.

ELA DIZ TUDO
Com nada,
O seu canto
É prazer,
É melodia
De fada,
Se a sofres
Docemente
Já não a sentes
Doer,
Sua dor
É quase nada,
Nela podes
Reviver.

NO POEMA
Eu até finjo,
É poeta
Quem o diz,
Mas se sentir
O que digo
Talvez até seja
Feliz,
Pois poema
É como a vida,
Posso ouvir
A minha alma,
Seus desejos,
Com palavras,
É um modo
De me ter,
É remédio
Que me salva
De em solidão
Me perder.

ESTE CANTO
É, pois, meu,
Nem tu
Mo podes
Roubar,
Se disserem
Que é pra ti
É verdade...
............
De enganar.

O VERSO
É o meu beijo
Nesse rosto
Que perdi,
É quente
Como o desejo
E resiste
A quem te diz
Que o poeta
Já não ama
Porque as palavras
Desenha
Com um pedaço
De giz.

AH, O AMOR
Em poesia
Vai mais longe,
Mergulha
Na utopia,
Vai mais fundo,
É doce
Melancolia,
Com palavras
Aquece a alma
E faz delas
O seu mundo
Aquele que
Sempre o salva
Porque só nelas
Confia.

EU NÃO GOSTO
Da renúncia,
Mas que posso
Eu fazer?
Se não cantar
O que sinto
Depois de tudo
Perder
É certo que desatino
Perco o norte
E a noção
Fica quase tudo
Igual,
É da vida
Deserção.

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SONHO

Poema Triste
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Um Sonho no Jardim”.
Original de minha autoria.
Setembro de 2022.
UmSonhonoJardim

“Um Sonho no Jardim”. JAS. 09-2022

POEMA – “SONHO”

SONHEI
Que as palavras
Se gastaram,
Desfiaram,
Desataram,
Sobrando fios
Para tecer
O silêncio.

SONHEI
Que a tinta
Perdeu cor,
Que já não havia
Poemas
E que não era
Pintor.

SONHEI
Que não eras tu,
Que foi tudo
Ilusão,
Os encontros,
O teu nome
E as marcas
De paixão. SONHEI Que te procurei No mundo Da fantasia Onde as flores Caminhavam, Sabiam a maresia, Tinham rostos De mulher... ............ Mas surdos Ao que dizia. SONHEI Que não sabia Onde estás, O que fazes E o que sonhas Nas noites Do teu luar, O que vês Nesses momentos Fugazes Em que olhas Para ti. SONHEI Que já não me lês, Que não ouves A melodia Num lugar
Que não alcanço
Com a minha
Fantasia. NO SONHO, Fui à memória, Que também Perdeu a cor. Ficou tudo A preto e branco E nela já não Te via... ............. Foste embora, Meu amor! SONHANDO, Procurei cor Num outro Lugar qualquer, Mas só encontrei O cinzento E por falta De vermelho Meus versos Tão desbotados Já nem iam Com o vento... “FOSTE EMBORA Para onde Que eu não sei Onde estás?”, Perguntei, Quando do sonho Acordei. SAÍSTE De onde estavas E agora resta O desejo De te cantar Sem palavras Pra que ouças O silêncio Com que antes Me chamavas... MAS NÃO ME CHEGAM Sinais, Vivo num poço Profundo E nele Eu vou caindo (Cada vez mais) Como um triste Vagabundo. O SOL TAMBÉM Já se foi As sombras Tomaram conta De mim, Meus dias São sempre Iguais, Sinto um vazio Sem fim... AH, MAS PINTO, Agora pinto, É hora de Redenção, Tenho cores, Tenho aromas E regressa A emoção, Há flores Por todo o lado, Volto outra vez
A sonhar,
Tenho luz, Tenho um destino E já navego Em alto mar... OH, SIM, Eu tenho tudo, Quase tudo, E retomo O meu caminho... .......... Mas perdi A minha Musa, A fonte D’inspiração. Foi-se embora Com o vento E em meu triste Pensamento Nem me sobrou Ilusão. TENHO TUDO, Talvez tenha, Mas gastaram-se As palavras, Gastou-se tudo, Afinal...
.............. Só ficou o teu Cinzento, A tinta com que Me lavras O peito E me afundas Nesta dor, A que canto Em surdina Para ouvires O silêncio Com que te pinto Sem cor.
JardimEspectralRec

“Jardim Espectral”. Detalhe

A CARTA

Por João de Almeida Santos.
Ilustração: “Melancolia”,
JAS2022.
Setembro de 2022.
Jas27Melancolia2022

“Melancolia”. JAS. 09-2022

POEMA – “A CARTA”

DIZEM-ME
Que vagueias
Por aí,
Incerta,
À procura de ti,
Sem saber
Que te vais
Perdendo
Nas rotinas
Inventadas
Dos teus dias.

SENSÍVEL
À incerteza
Do teu caminhar,
Inundei-te
Com rios
De palavras
Quentes e
Sedutoras,
Setas falhadas
Ao coração
Do silêncio
Que te cobre
O rosto
Como véu
Translúcido...
................
Para te resgatar.

SEI QUE VIAJAS
Cada vez mais
Para dentro de ti,
Aninhando-te
Nessa melancolia
Sem fundo
Que sempre
Me cativou.

E DIZEM-ME
Que quanto mais
Te resguardas
Na sombra
De ti mesma
Mais procuras
Ver tudo
Sem ser vista,
Seguindo,
Invisível,
O meu rasto
Desenhado
Com palavras
Ao longe
Na neblina
Que se esfuma
E dilui
Lentamente
No frio
Horizonte
Da Montanha
Sagrada.

E ATÉ O VENTO
Amigo
Que sopra
Lá do alto
Me segreda:
“Curiosa de ti,
Abre
De par em par
As janelas
Das tuas estrofes,
Ar puro
Que respira,
Esse canto
De sereia
Que finge
Não ouvir,
E procura
Decifrar
As tuas ondulações
De alma
No muro
Das lamentações
Poéticas”.

EU SEI BEM
Que te cobres
Com o véu
Escuro
Do silêncio
Para te resguardares
Do olhar
Indiscreto da vida
Sobre ti.

MAS A VIDA,
Meu amor,
É fugaz,
O tempo passa
E deixa marcas
Indeléveis,
Sulcos profundos
Que só o futuro
Desvelará
Porque o passado
Fica inscrito
Num destino
Que só conhecerás
Ao virar
Da esquina da
Tua vida,
Onde só o passado
Brilhará
(Ou não)
Como futuro.

AH, SIM,
O reencontro
Acontecerá
Nesse momento,
Quando eu
Já só for
Um sinal
Impresso,
A branco e negro,
Uma vaga memória
Escrita
Perante teus olhos
Húmidos
De me terem
Perdido
Sem saber
Porquê...
................
Ou simplesmente
Como inútil
Expiação
De um pecado
Que nunca
Aconteceu.

ESTAREI LÁ,
Sim,
Nesse destino
À tua espera
Para te dar
Conforto,
Aninhado
Nas palavras
Que ainda
Não sabes
Declinar,
As mesmas
Em que vou
Viajando,
Invisível,
Por dentro
De ti
À procura
Da eternidade
Possível,
Tua e minha
Salvação
Da voragem
Do tempo.

Jas27Melancolia2022Rec

A OFERTA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Fantasia".
Original de minha autoria.
Setembro de 2022.
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“Fantasia”. JAS. 09-2022

POEMA – “A OFERTA”

DESSE ENCONTRO
Fatal
Em tão cinzento 
Dia
Quis libertar
O meu corpo
Sem saber se
Conseguia...
...........
Fui correr
Junto à praia
À hora da maresia...

CORRI, SALTEI
Dancei,
Respirei
Com essa brisa
Do mar,
Libertei-me
Desse aperto
Que me ia
Sufocar.

FIQUEI LIVRE,
Mas sozinho,
À deriva,
Nesse dia,
Mas no regresso
Da praia
Encontrei-te
No caminho...
.........
Milagres
Da fantasia.

LOGO TE FIZ
Um poema
Pois correr
Já não chegava,
Pus palavras
A sorrir
Quando a alma
Regressava
Pra te poder
Seduzir.

PARTI COM ELA
Prà Montanha,
Quis trazer-ta
Num cabaz...
............
Colhi frutos
Lá no alto
Guardei-os
Todos no peito
Pra esse encontro
Fugaz
Que eu queria
O mais perfeito
Se disso fosse
Capaz.

LEMBRAS-TE
Dessa cesta

E dos frutos que
Trazia?

Vinham todos
Da Montanha,

Eram frutos
De alegria,
Poemas
Que derramavam
Aromas 

Em palavras de
Embalar
E contavam
Mil histórias

Que te fariam
Sorrir...
...........

Era oferta
Singela 

De quem te
Queria sentir.

NA CESTA HAVIA
Estrelas
Às centenas,
Vermelhinhas...
..............
Não viste nelas
Cintilas

Que voavam
Tão juntinhas?

ERAM MIL CORES
E aromas
Que desses frutos
Brotavam,

Colavam-se
À minha pele,

Mas era por ti
Que passavam.

MAS PARTISTE
Com essa cesta
Ao colo,

Rápida,
Sem me olhar...
.............

Não esperava
Protocolo

(Como sabes),
Mas foi grande
O meu espanto
Desse teu
Estranho ar.

SÓ À NOITE
Me disseste
“Obrigada,
Meu amigo,

Estes frutos
Que me deste
São belos
E tão gostosos,
Mas não são
O teu abrigo”.

PRA ME CURAR
Da desfeita
E resistir 
À tristeza
Fui correr Em poesia, Pois soa sempre Em meus versos, Contraponto
Da frieza,
Uma quente Melodia. LIBERTEI O CORPO Outra vez, Mas a alma (Como vês) Ficou sempre Presa a ti, Ninguém pode Devolver-ma, Mas, assim...
............. Não te perdi.
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“Fantasia”. Detalhe

O PAVÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Azul no Parque”.
Quadro n.º 1 (2021, 92x123; 
não exposto) do 
Catálogo da Exposição
“Luz na Montanha”,
aberta ao público até 25.09,
no Centro Cultural de Cascais.
Agosto de 2022.
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“Azul no Parque”. Quadro n.º 1 (2021, 92×123; não exposto) do Catálogo da Exposição “Luz na Montanha”, aberta ao público até 25.09, no Centro Cultural de Cascais.

POEMA – “O PAVÃO”

FUI AO PARQUE
Do Marechal
Logo ao amanhecer
(Melancolia
De outono)
À procura do pavão,
Eram muitas
As saudades...
Já passara mais
De um verão.

ENCONTREI-O
Por ali,
Sozinho,
Talvez triste
Como eu,
E vi nele,
Ao caminhar,
As cores
Que sempre
Invoco
Neste incerto
Vaguear.

PORQUE É
Tão belo
O pavão?
Soberbo
Em sua pose,
Captura-me
Os sentidos
Com a vertigem
Da cor
E logo sinto
O poder Desse grande
Sedutor. ALTANEIRO, O pavão Fascina-me O olhar Com a beleza Cativante Do solene Caminhar. O SEU PORTE Austero É grave E até quase Marcial, Celebra-se Como filho De arte Viva Sempre em pose Triunfal.  SEGUI-O, Nesse dia, Parque fora, No silêncio Luminoso Da manhã...
............. Folhas caídas No chão Acolhiam O nostálgico Passeio Do poeta E do pavão... NESSE JARDIM De remota   Evocação A beleza Despontava Em seu ritmo Natural, Passos lentos
E medidos, Desenhados Em perfil, Pose austera, Altivez.... ............. Momentos De um ritual. CAMINHEI COM ELE Horas a fio, Lado a lado, Sem destino, Revendo As cores que Um dia Me emprestou Pra levar À tua arte (Em jogo De sedução) Fragmentos De arco-íris Que derramei No teu chão. JÁ NO ALTO De um muro, Oráculo, Arte pura, Aparição, Perguntei-lhe Qual a cor Da tua alma E ele mostrou-me Esse azul Tão luminoso Onde sempre Se esfumam Os traços Da tua mão... ........ E logo, E por encanto, Eu vi Espelhado O teu rosto Nas cores vivas Do pavão.

AzulR

A AGUARELA

Poema de João de Almeida Santos
inspirado no poema de
Manuel Bandeira
“Tema e Variações”.
Ilustração: “O Retrato”
(n.º 24; 68x80).
Pintura que integra
a Exposição “Luz na Montanha”,
aberta ao público até 25.09,
no Centro Cultural de Cascais.
Agosto de 2022.
O Retrato2022Corte

“O Retrato”. JAS. 2022. (n. 24. 68×80). Pintura que integra a Exposição “Luz na Montanha”, aberta ao público até 25 de Setembro, no Centro Cultural de Cascais.

POEMA – “A AGUARELA”

SONHASTE, MANEL,
Que havias sonhado
Estar à janela,
Sonhando a cores
Que estavas com ela.

TAMBÉM EU SONHEI
Que tinha sonhado
E que no sonho
A tinha encontrado,
Passando por ela,
Ali, lado a lado.

MAS LOGO ACORDEI
Do primeiro sonho.
Sonhando, eu vira
O seu belo rosto
Numa aguarela
Pintada a cores
Que tinha guardado
Para uma tela.

SONHEI, OUTRA VEZ,
Que era pintor,
Mas que sempre
Pintava
Esse seu rosto
A uma só cor.

DIZIA, SONHANDO,
Que não podia ser.
De tão expressivo,
Era um arco-íris
Ao amanhecer,
Um belo sorriso
Para o mundo ver.

MAS EU SÓ O VIA
Com a minha cor.
De seda tecido,
Ele me seduzia
No sonho sonhado
Onde sempre a via
Ali, a meu lado.

NÃO QUERIA ACORDAR
Do sonho feliz
E nele fiquei
De olhos fechados
Porque nessa cor
Fiquei enleado
Com todo o meu ser...
................
Talvez por amor.

NO SONHO OLHEI
Para o meu espelho
E logo eu vi
Que essa minha cor
Era o vermelho.

NO ÚLTIMO SONHO
Voltei a sonhar
Que tinha sonhado
Que o encontrei,
Esse rosto amado,
E logo lhe disse,
Neste novo sonho,
Que a tinha sonhado.

DISSE-ME QUE NÃO,
Que nunca me vira
Sequer acordado...
E logo acordei
Desse pesadelo.
Foi assim que vi
Que tinha sonhado
E que ela
Já lá não estava
Ali, a meu lado.

QUIS ADORMECER
Para a encontrar,
Mas não consegui
Sonhar que a via,
Pôr os olhos nela,
Viver o meu sonho
Como alquimia,
Porque, acordado,
Logo descobri
Na minha parede
Aquela aguarela
Que do sonho
Passado
Eu já conhecia...
................
Era o rosto dela.

O Retrato2022CorteR

ESTRANHA ENCRUZILHADA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Rua” (2022; 104x118).
Pintura que integra
a minha Exposição “Luz na Montanha”,
aberta ao público até 25.09, no
Centro Cultural de Cascais.
Agosto de 2022.
JAS_A RUA

“A Rua”. JAS. 2022. 104×118

POEMA – “ESTRANHA ENCRUZILHADA”

CRUZEI-ME CONTIGO
Numa esquina
Da vida,
Nesta rua
Onde inventei
Uma estranha
Despedida.

NÃO TE VI
Como te via
Da janela
Sobranceira
Quando passavas
Na rua
Abraçada
À beleza,
Teu perfeito
Avatar,
Quadro vivo
De ti
Que o tempo
Quis desenhar.

SE TE REVI
(Mas não sei),
Foi numa janela
Vidrada
Que me devolveu
A imagem
Reflectida
Como num espelho
De fada.

E, ASSIM, ESTREMECI.
Pressenti-te
Fugidia,
Nesse acaso
Do destino,
A meu oblíquo
Olhar
Em nova
Encruzilhada
Deste incerto
Caminhar.

DEPOIS SEGUI
Com a alma
Em alvoroço
Essa tua silhueta
Embaciada,
No meio
Da multidão...
...........
Não via bem
O perfil
Por falta
De nitidez
Do meu campo
De visão.

ANÓNIMO
Me assumi
Como essa gente
Comum
Que se cruza
No caminho
Sem jogar
O seu destino
Num encontro
Casual.

QUE ESTRANHA
Sensação,
Caminhar
Lado a lado
Com uma vaga
Silhueta,
Fixado
Num horizonte
Que se esfuma
E desfaz
Como espuma
Em areia
A marcar uma
Fronteira
Traçada
Pelas marés.

ATÉ QUE CHEGUEI
Às palavras
Escritas na água
Da praia
Remexida
Pelo vento,
Derramando
Na areia
Um murmúrio,
Um lamento,
Um poema
Simulado
Para dar voz
Ao poeta
Que sofre
Do seu pecado.

MAS GOSTEI
Do olhar
Oblíquo
Com que te vi
Na janela
De vidros baços,
Fumados,
Apenas imaginando
Que aquela silhueta
Era tua,
Regressada
Dos confins
Dessa remota
Memória
Dos felizes
Desencontros
Que tinha
Na outra rua.

E GOSTEI
Que me visses
Sem olhar,
Pressentindo-me
Apenas,
Anónimo
A seguir o teu
Caminho
Para logo
Se perder
Nas veredas
Do destino.

TUDO TÃO ONDULANTE
E tão normal,
Estranhamente
Banal,
Que até o poema
Espanta
Por cantar
O que nunca
Aconteceu
A não ser
Na fantasia
De quem com ele
Renasceu.

CRUZEI-ME CONTIGO
Ao lusco-fusco
De um estranho
Entardecer,
Numa encruzilhada
Da rua
Que um dia
Inventei
Pra desenhar
O caminho
Onde te ia
Perder.

É A VIDA
De um poeta
Que se alimenta
Da dor.
Se não a sente,
Procura,
Nem que seja
No amor.
JAS_A RUARec

“A Rua”. Detalhe

SONHEI-TE, NAQUELA NOITE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Teus Olhos”.
Pintura em Exposição
no Centro Cultural de Cascais,
nº. 14, 66x89, 2022.
Original de minha autoria.
Agosto de 2022
Jas14TeusOlhos2022

“Teus Olhos”. JAS – 2022 – 66×89. N.º 14 em exposição no CCC.

POEMA – “SONHEI-TE, NAQUELA NOITE”

SONHEI-TE,
Naquela noite.
Atravessava o deserto,
Há muito,
Sem nada no horizonte,
Areia, só areia
No meio
Do meu caminho
E uma neblina quente,
Lá ao fundo,
Na fronteira
De quem o percorre
Sozinho.

NEM SABIA
Se na longa
Caminhada
Encontraria
Um oásis
E uma fonte
De água pura
Onde molhar
Os lábios e a alma
Já gretados
De tanta aridez
E secura.

MAS HOJE VOLTEI
A sonhar-te.
Passara essa fronteira
E encontrara
O oásis...
...............
Nas pupilas
Dos teus olhos.

SACIEI-ME EM TI,
Sereno
Como nunca
Estivera
Desde que te conheci.
Ofereci-te
A história
De papel
Onde te conto
E me conto
À exaustão,
No limiar
Do impossível
E dessa insólita
Paixão,
Com réstia
De esperança
De não ter de
Regressar
À torreira
Do deserto,
A essa cáustica
Erosão.

FALÁMOS DE ARTE
(Imagina),
Do seu poder
Curativo,
De como a vida
Se lê
E resolve
Quando é forte
O motivo.

ABANDONEI-ME
Nos teus braços
Irreais,
Perdi-me
Em misteriosos
Sinais
E em quentes
Memórias
De ternura
E caminhámos
Sobre nuvens
De cintilante
Alvura.

SONHEI-TE
Esta noite.
E, sabes?
Acordei de ti
Embriagado
De felicidade,
Uma doce
Tontura
Com sabor
A liberdade.

HABITUEI-ME
A estar contigo
Em sonho,
A dizer-te
Em poemas,
A interpelar-te
De longe,
A ouvir o teu eco
Ressoar-me
Na alma,
Melodia
Do amanhecer.

APRENDI
A ouvir
O teu silêncio,
Essa fronteira
Inultrapassável
A não ser
Pelo vento
Que passa
E te cicia os
Meus poéticos
Murmúrios.

TENHO-TE
Em mim
E já nem sei
O que seria
Encontrar-te
Fora do meu
Íntimo,
Olhar de perto
Esses teus olhos
Profundos
E cintilantes,
Embriagar-me
(Já de partida)
Com teu perfume
E naufragar
Nesse mar
Insondável
Da tua vida.

TALVEZ TE PERDESSE,
Nesse instante,
Por excesso de ti.
Mas não quero
Perder-te,
Sentir de novo
O que nesse dia
Tão cinzento
Eu já senti.  
Jas14TeusOlhos2022Rec

“Teus Olhos”. Detalhe.

TEMPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Perfil de Mulher”, 
2022, 94X114.
Pintura em exposição no
Centro Cultural de Cascais
até 25 de Setembro.
Original de minha autoria.
Julho de 2022.
17Perfil de Mulher2022

“Perfil de Mulher”. JAS. 2022. 94×114. Pintura em exposição no Centro Cultural de Cascais.

POEMA – “TEMPO”

É TEMPO DE RECOMEÇO
Ao olhar
O teu perfil?
O que ontem
Eu já era
É o que hoje eu sou,
O afecto
Pediu tempo,
Mas o tempo resistiu
Ao que a vontade
Tentou.
É tempo
De recomeço
Quando o tempo
Não passou?

EM CADA MOMENTO
Procuro
O tempo
Que, no passado,
Eu, poeta,
Não cumpri
Porque sempre
Reinvento
Tudo aquilo
Que perdi,
Num poema
Ou em pintura
Para saber
Quem eu sou
Antes de lá
Me perder,
Nos lugares
Pra onde vou.

ENTRE O HOJE
E o ontem
Há algo
Que já mudou?
Fui ao baú
Das memórias
E vi logo
O que sobrou:
A imagem 
Bem precisa
Desse tempo
Que passou.

TUDO MUDA
Amanhã,
Quando, tenso,
Eu passar
Na curva
Do teu caminho?
Encontro o que antes
Nunca vi?
Mulher com futuro
No olhar
E que sempre
Me sorri,
A repetir com carinho
Um terno
E tão antigo “Olá!”,
Cabelos negros
Ao vento,
Corpo esguio
Em movimento,
Resolvendo um passado
Que nunca mais
Voltará?

NÃO, TEUS OLHOS
São uma janela
Fechada,
O tempo
Passa por ti
Sem destino,
É ritmo
Sem melodia,
Caminho
Sem fim
À vista
Que percorro
Dia-a-dia
Na vertigem
De um passado
Que cedo
Cristalizou,
Mais tristeza
Que alegria
Como peso
Do meu fado
Só liberto em
Poesia
Do tempo que
Não passou.

E TEM TEMPO,
A poesia?
Talvez tenha
(Eu não sei),
Com ela voo
No céu,
Sem limites
Nem fronteiras,
Num tempo que é
Só meu.

AH, SIM,
A poesia tem tempo, 
É tempo de salvação,
Perdi-te,
Mas eu não queria
Passado
De negação.

É TEMPO
De recomeço?
Sopra vento 
De feição?
Sou feliz em poesia
Pois escrevo
O meu poema
Na pauta
De uma canção.

NÃO É O TEMPO
Que salva,
Mas as palavras
Que digo
Enquanto fores
Alimento
Desta minha 
Inspiração
Porque é assim
Que te canto:
Da dor
Sai alegria
Que cura
Da solidão.

17Perfil de Mulher2022Rec

EXPOSIÇÃO DE JOÃO DE ALMEIDA SANTOS

Inauguração a 23.07

CENTRO CULTURAL DE CASCAIS

De 23.07 a 25.09.2022
L&ClaraZanini

“O TERRAÇO” em observação

FOI ONTEM, 23 de Julho, entre as 18:00 e as 20:00, a inauguração da minha Exposição individual “Luz na Montanha”, no Centro Cultural de Cascais. Presentes cerca de 70 amigos que quiseram partilhar este momento comigo. O meu obrigado a todos. Tive oportunidade de dirigir algumas palavras aos presentes e de ler o poema “A Janela” junto do quadro com o mesmo nome, dando assim testemunho directo da íntima conexão entre a poesia e a pintura.

QUERO AGRADECER publicamente ao Senhor Presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, ao Senhor Presidente do Conselho Directivo da Fundação D. Luís, Prof. Salvato Teles de Menezes, e à Senhora Coordenadora do CCC, Arquitecta Isabel de Alvarenga, a oportunidade de realizar, no prestigiado Centro Cultural de Cascais, esta minha Exposição. Estando o meu trabalho plástico intimamente ligado à poesia, entendeu-se fazer também a apresentação do meu livro de poesia (João de Almeida Santos, Poesia, Lisboa, Buy The Book, 2021) durante a Exposição, precisamente um dia antes do encerramento, ou seja, no dia 24 de Setembro. A apresentação será feita pela Professora Annabela Rita, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

ESTA EXPOSIÇÃO representa o ponto de chegada de um longo processo de trabalho diário dedicado à poesia e à pintura, que foi sendo divulgado através do meu site todos os Domingos e durante anos, sem interrupção.

A MINHA PROPOSTA consolidou-se como exercício de convergência entre a poesia e a pintura, onde o ponto de partida da pintura é a própria poesia. Adoptei a sinestesia, ou seja, a convergência de duas artes em torno de um tema ou de uma história, de forma sistemática, e assim fui caminhando até chegar aqui, a esta primeira Exposição, e à publicação de um livro de poesia, que exibe algumas (14) ilustrações demonstrativas da profunda relação entre a poesia e a pintura. O livro também está em exposição na segunda sala, 3 exemplares, numa vitrine, e também é consultável num volume disponibilizado para tal. Na verdade, a cada quadro (32, visto que os programados 37 seriam excessivos para o espaço disponível) corresponde um poema.

TODOS OS QUADROS expostos podem ser adquiridos, à excepção dos números 20 (“Março”), 30 (“Ketrof”, exposto só no catalogo), 35 (“Romã”) e 37 (“Magia”). A Exposição tem um Catálogo – que contém um texto do Prof. Salvato Teles de Menezes, dois textos meus sobre a minha pintura e a reprodução de 37 quadros – que pode ser adquirido no Centro Cultural de Cascais (valor: 7 euros).

PUBLICO AQUI várias fotografias do evento. Outras se seguirão durante o dia de hoje. Fotos de Ronald van Middendorp.

Intervenção2

Durante a minha intervenção na abertura da Exposição.


IntervençãoCorte

Outro momento da minha intervenção, dirigindo-me à Senhora Arquitecta Isabel de Alvarenga, Coordenadora do CCC

 

Image-1-3

Chegada à Exposição


Olga&João1

Comentando “Teus Olhos” com uma Amiga


Sala1

Quadros na Sala 1: “Pasárgada”, “Luz na Montanha”, “Rua do meu Jardim”, “Pasárgada II”, “A Montanha Encantada” e “Deusa das Camélias”


Texto

Texto “Sinestesia”, entre as Salas 1 e 2, e quadro “Pasárgada”


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“Perfil de Mulher”


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“Teu Olhar”.


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O Autor


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“Paraíso”


O Desejo

“O Desejo”


FachadaSite

Fachada do CCC com o Cartaz da Exposição “Luz na Montanha”

#Jas@07-2022

EXPOSIÇÃO DE JOÃO DE ALMEIDA SANTOS

Centro Cultural de Cascais
23 de Julho - 25 de Setembro
Inauguração: 23.07, 18:00
CapaCatalogo

CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO – CAPA

SINESTESIA

“LUZ NA MONTANHA” é o título desta minha Exposição. É o título de um quadro que a integra, mas é também uma alusão ao ambiente natural que me inspira na pintura e na poesia.

Em exposição estarão as 37 obras aqui reproduzidas e que foram criadas em diálogo com a poesia. Elas são, pois, parte do processo sinestésico que adoptei na experiência estética.

Com riscos e cores, procuro dar forma plástica ao discurso poético e à matéria de que se alimenta: esse fluxo torrencial de pulsões existenciais que interpelam, estimulam e desafiam o poeta. A pintura continua o discurso poético por outros meios que, depois, seguem a sua própria gramática. Trata-se de paisagens interiores, pintadas, num primeiro andamento, com palavras em registo melódico, mas, depois, recriadas e figuradas em expressão cromática quente e intensa.

Uma dialéctica que torna a experiência estética mais rica e complexa, mas ao mesmo tempo mais leve e sedutora. Fragmentos cromáticos de um originário discurso poético que o projectam para fora de si e o oferecem ao olhar no interior de uma nova gramática. Como um magnetismo que atrai a palavra e a converte em cor, propondo-a, já transfigurada, ao olhar de quem frui.

O processo sinestésico permite, depois, um novo regresso ao poema, já com a alma cheia de cor, banhando e iluminando os versos e as estrofes com o brilho cromático das pinturas. E assim se sobe a um novo patamar a partir do qual se inunda de sentido a pintura.

Na verdade, nem a pintura ilustra o poema nem o poema descreve a pintura, mas ambos dão origem a um diálogo virtuoso que se eleva dialecticamente, através da sinestesia, em planos superiores mais complexos e exigentes. A densidade do poema é convertida em leveza na pintura e a leveza da pintura é densificada pela semântica poética.

É isto que eu pretendo, independentemente da interpelação e do chamamento a que ambas as artes estão necessariamente votadas. Se ambas respondem, na sua génese, a um originário impulso dionisíaco, para o dizer com Nietzsche, elas também têm como vocação a interpelação, procurando seduzir e chamar à experiência estética os que se cruzam com elas.

No essencial, foram estas as razões que me moveram nas 37 propostas que exponho.

João de Almeida Santos

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ENCANTAMENTO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “La Diseuse”
Original de minha autoria
Julho de 2022
LaDiseuse_07_2022Cor

“La Diseuse”. JAS. 07-2022

POEMA – “ENCANTAMENTO”

SÃO ECOS
Da tua alma
Estas cores
Intensas
Com que te
Pintas
E te revelas
Nestes dias
De tão incerto
Encantamento.

CONVIDAS-ME
A ler-te
Nas cores
Quentes
Com que
Teus olhos
E tua boca
Me convocam
E aguardas, Expectante, Que pinte A tua alma Com a devoção De poeta De alma Errante E com palavras Ambiguamente Certeiras Que saiam Do fundo Desta timidez Em sobressalto Que eu, Inseguro, Sinto Cada vez que Te vejo Lá no alto. SÃO CASTANHOS Os teus cabelos, Mas a tua alma, A que eu leio Em teu rosto, Está impressa Como coroa De cor Efémera, A das giestas Floridas Na primavera Dos nossos Fugazes Reencontros. A TUA BOCA Sensual, Lábios Ao rubro, Carnal, Oferece-se Ao beijo Das minhas Palavras Nestes poemas Lançados Ao vento... ÉS BELA Como eles, Estes dias Do eterno retorno Em que me Deixas Abraçar-te Com palavras De ousado Desafio No meu regresso A ti, Ó deusa Tão ausente Do meu viver. MAS EU VEJO No reencontro Feliz Uma leve Tristeza Que em teu Rosto Aflora Em contido Espanto, Nessa hora Em que te sinto Quase como Choro De não te ter. É OLHAR Que roga, Boca suspensa Da pergunta Que não ousa Sair sequer Como murmúrio De teus lábios... AH, ENTÃO, Pergunta, Sim, pergunta, Pra que eu Te diga, Cá de longe, Sem hesitar, As minhas Certezas Sobre ti Sob o fascínio Desse teu Cintilante Olhar. E DIR-TE-EI Que os astros (Sim, os astros) Estão alinhados Sobre nós, Suspensos De teus riscos e Das minhas palavras, Das nossas cores, Dos sinais que, Como sóis, Iluminam, Ardentes, A nossa vereda Tão estreita Sobre o precipício Fatal Da arte. POR ISSO, Com o poema Te seguirei Mesmo que Um dia (Que nunca virá) Se esfumem No horizonte As tuas cores E te perca ali, Na rua Do desencontro, Onde eu Te conheci, E meu rosto Escureça Sob as negras Nuvens Dos destinos Não cumpridos. MESMO ASSIM, Continuarei Em busca Dos mil rostos Da tua Metamorfose, Essa que sinto E pressinto Como beleza Oferecida No teu olhar Cintilante, Na tua boca Suspensa De tanta Incerteza Nesse imenso mar Onde se ouve O canto Das sereias. PROCURAREI Então, Mais rostos, Mais cor, Mais riscos, Com dor, Usarei palavras, Sinais, Desenhar-te-ei Cada vez mais, Com meus poemas Irei ao cais Ao pé do rio Saber se vais À outra margem Da nossa vida... ............. Talvez cantar, Nem sei Que mais... TANTO BRILHO No teu olhar, Ó deusa Do meu destino, Sempre a navegar...

LaDiseuse_16052022CorRec

A PINTORA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Olhar”
Original de minha autoria
Julho de 2022
A Pintora2022_0907

“Olhar”. JAS. 07-2022

POEMA – “A PINTORA”

QUANDO TE VEJO,
Vejo-te a cores,
Sinto aromas,
Provo sabores
Na fantasia
E vejo traços
E tantas fugas
Pró infinito
Nos sete céus
Dessa magia...
..............
E eu respondo
Sobre o que sinto
Se me perguntas:
- Epifania!

AO LONGE,
O horizonte
Do teu olhar
Aqui ao perto
Uma ponte
Desenhada
Que me leva
Ao pé de ti
Quando o rio
Me transborda
E eu sinto
Que me perdi.

QUANDO TE VEJO,
Eu vejo ruas,
Eu vejo praças
E catedrais,
Vejo figuras
A levitar,
Vejo vitrais
E vejo sóis
Em refracção
Que aquecem
A minha alma
Quando me olhas
E estremeço
De emoção.

VEJO TEU ROSTO,
Vejo-te a ti
Nesses poemas
Que escrevi,
Sentir-te perto
É o desejo,
Ver o teu céu
No horizonte,
A utopia...
.........
E eu ando
É por aqui
Sempre à procura
Da tua doce
Companhia.

VEJO MONTANHAS
E vejo cores
A brilhar
No horizonte,
Eu vejo casas
Nesses vales
E esses rios
Por onde corre
A água pura
Com que eu rego
O meu jardim
Pra que germinem
Os meus poemas
E te desenhe
Só para mim.

SINTO NO AR
O teu perfume
Cabelos soltos
A esvoaçar
E sinto o vento
Nesse teu rosto
E altas vagas
No nosso mar
Mesmo que chegues
Já no sol-posto
Com o teu barco
A navegar
Nesse horizonte
Onde se perde
O meu olhar.

EU VEJO TELAS
E teus pincéis
Eu vejo tinta
Na tua mão,
Vejo-te a ti,
Doce pintora,
Tão concentrada
Em mil desenhos
Em construção.

VEJO QUADROS
E vejo letras,
Nessa pintura
Vejo sinais
E sou feliz
De assim te ver
Porque te vejo
Neste pontão
Do nosso cais...
............
E tudo isso
É o que vejo
E o que basta
Pois não preciso
De muito mais.

EU VEJO TUDO
(A deusa ajuda),
Mas não te vendo
É grande a dor...
Vem ter comigo
A este rio
Passar a ponte
Pro outro lado
Dar-me a mão
E um sorriso,
Fazer de mim
Um desejado
Mesmo sem teres
A tua ponte
Bela e leve
Já desenhado.

EU VEJO TUDO,
É uma certeza,
Mas faz-me falta
O teu sorriso...
...............
Mesmo que minta
Nada mais quero
Pois é só disso
Que eu preciso.

A Pintora2022_0907Rec

O BEIJO

Poema de João De Almeida Santos. 
Ilustração: "O Beijo". Original 
de minha autoria para este poema.
Dia Internacional do Beijo - 
- Seis de Julho, dia que celebro, 
com um poema, todos os anos.  
Inspirado em "Lotte in Weimar"  
(1939), de "Thomas Mann, a obra
que continuou "Werther" (1774),
de Goethe, e no meu  romance
"Via dei Portoghesi".
O_Beijo060722

“O Beijo”. JAS. 07-2022

LEITMOTIV

“O amor é o melhor na vida, assim,
no amor, o melhor é o beijo –
Poesia do amor...”. “Beijo
é alegria, procriação é luxúria”


Thomas Mann
 Inspirado também em:
 “Os beijos escritos 
não chegam ao destino,

mas são bebidos pelos
fantasmas ao longo
do trajecto”


Kafka 
“Se para te beijar devesse, 
depois, ir para o inferno,
fá-lo-ia.
Assim, poderia
vangloriar-me, com os diabos,
de ter visto o paraíso

sem nunca lá ter entrado”

Shakespeare
 “O primeiro beijo não é dado 
com a boca, mas com os olhos”

Bernhardt

POEMA – O BEIJO

BEIJO FOI
O que nunca
Te dei
A não ser
Com o olhar,
O primeiro,
Esse beijo,
Dei-to, pois,
Sem te tocar.

E DEI-TE MAIS,
Com palavras,
Quando olhar
Já não podia...
............
Foste embora
Para longe
E eu, triste,
Não te via.

FORAM BEIJOS
Que sonhei
Na rotina
Dos meus dias
E desejos
Que enfrentei
Quando tu mais
Me fugias.

MAS DOU-TE BEIJOS
Escritos
Que se perdem
No caminho
E se o poema
Me falta
Fico ainda mais
Sozinho.

O BEIJO
É emoção,
É razão
Descontrolada,
Se não for dado
A tempo
Pouco mais
Será que nada.

SEM BEIJO
Não há amor,
Sem amor
Perde-se o beijo,
A vida perde
Sentido
Se me faltar
O desejo
De na alma
Te beijar
Por assim te ter
Perdido.

AQUI O LANÇO
Ao vento
Pra que atinja
Como brisa
E suave melodia
Esse rosto
Que precisa
De afecto
Em poesia.

ESSE BEIJO
Que me falta,
De que nunca
Fui capaz,
Voa pra ti
Em palavras
Na sua forma
Mais pura
Para que
Em seu trajecto
Voe, voe
A grande altura...
.............
Que fantasmas
Não o bebam
Enquanto
Seu voo dura.

MAS SEI
Dos escolhos
Da via,
Dos perigos
Que ele corre,
Capturado
Por fantasmas
É mensagem
Que me morre.

NO DIA DO BEIJO
É hora
De te cantar
Em voz alta
A poética do amor
Pra me redimir
Dessa falta
Com palavras
De poeta
Desenhadas
Para ti
Com mestria
De pintor.

E PORQUE O DIA
É teu
Ganha força,
Intensidade,
Mesmo que fantasmas
O bebam
É um beijo
De verdade.

O BEIJO
Que não te dei
Foi pecado
Original,
Hei-de sofrê-lo
Pra sempre
Como chaga
Corporal.

NÃO HÁ PALAVRAS
Que bastem
Pra repor
O que não dei,
Elas voam,
Mas não chegam,
E mesmo assim
Eu tentei.

É CERTO QUE SEMPRE
O quis,
Só que nunca
To roubei,
A culpa foi
Desse tempo,
Dos dias em que
Te amei,
Um tempo
Em diferido
Sem presente
Nem futuro,
Talvez beijo
Sem sentido
Porque queria
Do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas
Do Paraíso,
Um beijo
De divindade,
Mas simples
Como um sorriso.

ESSE BEIJO
Impossível
Que não é do
Foro humano
Vou tentando
Construí-lo
Cada dia,
Cada ano,
Perdendo-me
Pelo caminho
Como sagrado
Em profano.

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SEM REMÉDIO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Afrodite”.
Original de minha autoria.
Julho de 2022.
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“Afrodite”. Jas. 07-2022

POEMA – “SEM REMÉDIO”

“VOU TOMAR
OS MEUS REMÉDIOS...”
..............
Palavras
De antigamente
Que ela gostava
De usar
Quando se via
Doente
Com maleitas
Que não tinha,
Em que não acreditava,
Mas que a ele
Muito doíam
Sempre que delas
Falava.

NÃO ERAM SUAS
As maleitas
Que exibia,
Fingindo ser
Alma gémea
De quem com elas
Sofria.

ENTRE UMA COISA
E OUTRA
Era assim 
Que ele a via,
Aprendera
A sofrê-la,
Lentamente,
Cada dia,
Como se as dores
Fossem dele
Num jogo
De aparência
Com sabor
A fantasia,
Porque assim era
Feliz,
Regressava
À inocência
Quando nela
Se perdia.

INOCÊNCIA
Que perdera
Um dia na sua vida,
Vira a ternura
Morrer
Num olhar
De despedida.

PRECONCEITO
E submissão
Mataram
O que nascia,
Transformando
Em solidão
A beleza
De um dia.

SOLIDÃO TRISTE,
Quase eterna,
Que nunca mais
O largou,
Sem remédios
Para ela
Quase, quase
Sufocou...

CAMINHA AGORA
EM TRISTEZA
Com passo lento
E pesado,
Transportando
O mundo às costas
Como fardo
De pecado,
Mas tenta sempre
Vencê-la
Com as palavras
Que tem,
Versos, rimas,
Sons e letras
Que o vento leva
Consigo...
.............
Para a terra
De ninguém.

NÃO PODE
Nem quer dizê-la
Essa dor
Que o devora,
Prefere, pois,
Combatê-la
Com as palavras
De outrora...

"VOU TOMAR
OS MEUS REMÉDIOS..."
Saudades de a
Ouvir,
Vontade
De a encontrar Pra nunca mais A perder, Contemplar Seus olhos Negros, Ser feliz Só de a ver, De a ter Por companhia Nem que seja Em aguarela Que pinte Em cada dia. BOCA, OLHOS, CABELOS, Esse rosto que Não esquece, Imagem De uma mulher Que, ausente, O entristece Até ao fundo Da alma... ....... Solidão, Melancolia, Dessa dor Ninguém o salva, Vai sofrê-la Noite e dia. ERA ASSIM QUE A SENTIA, Esse alguém que O não amou E que sempre Lhe fugia Embora fingisse Que não Por saber Que lhe doía. MAS FOI ELE Que lhe mentiu Quando lhe disse Em vão Que já não queria Vê-la, Não a ter ali Por perto, Estar sempre longe Dela, Coração A descoberto, Não lhe ficar Amarrado, Inventando Outra mulher Com quem ir A todo o lado. MAS ERA FOGO De vista, Vontade De a esquecer, Divagava Em palavras Pra deixar De a sofrer. A OUTRA NÃO A sentia, Era coisa De momento, Sem grande Profundidade...
.............. O que mais ele Queria dela Era só Cumplicidade. MAS ERA FUGAZ Momento, Depressa ela O cercava, Capturando-lhe O alento Sempre que a Encontrava.
E FICAVA SUBMISSO, Vergado Ao que dizia, Nela só via Verdade Mesmo quando  Lhe mentia. "VOU TOMAR OS MEUS REMÉDIOS”, Era a sua Melodia E ele ficava Dorido Com maleitas Que não via, Mas até disso Gostava, Era prazer Negativo Sentir-se Tão perto dela Mesmo sem haver Motivo. “VOU TOMAR OS MEUS REMÉDIOS...” E ele não se Importava Porque a sentia Doente Mesmo quando Não estava. E ASSIM Ia vivendo, Sofrendo Em cada dia. Não sabia O que fazer... .............. Só sabia O que sentia.

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“LUZ NA MONTANHA”

Exposição individual de
JOÃO DE ALMEIDA SANTOS
FUNDAÇÃO D. LUÍS
CENTRO CULTURAL DE CASCAIS
Aven. Rei Humberto II de Itália 2550-642 Cascais

Inauguração a 23 de Julho, às 18:30.
A Exposição estará aberta ao público
até ao dia 25 de Setembro de 2022 e
mostra 37 obras do Autor.
EvocaçãodeumaMagnólia

JAS, “Evocação de uma Magnólia”, 2021. Imagem da capa do Catálogo, disponível em breve.

“LUZ NA MONTANHA” é o título de uma minha Exposição individual que a Fundação D. Luís/Centro Cultural de Cascais acolhe e promove entre 23 de Julho e 25 de Setembro de 2022. O título é o de um quadro que integra a Exposição, mas é também uma alusão ao ambiente natural que me inspira na pintura e na poesia.

Em exposição estarão 37 obras de média dimensão que foram criadas em diálogo permanente com a poesia. Elas são, pois, parte do processo sinestésico que adoptei na experiência estética. Com riscos e cores, procuro dar forma plástica ao discurso poético e à matéria de que se alimenta: esse fluxo torrencial de pulsões existenciais que interpelam, estimulam e desafiam o poeta. Como se a pintura continuasse o discurso poético por outros meios, que, depois, seguem a sua própria gramática. Trata-se de paisagens interiores, pintadas, num primeiro andamento, com palavras em registo melódico, mas, depois, recriadas e figuradas fisicamente em vibração cromática quente e intensa. Uma dialéctica que torna a experiência estética mais rica e complexa, mas ao mesmo tempo mais leve e sedutora. Fragmentos cromáticos de um originário discurso poético, poder-se-ia dizer, mas que não ficam confinados no seu interior porque o projectam para fora de si e o oferecem fisicamente ao olhar no interior de uma nova gramática. Como um magnetismo que atrai a palavra e a converte alegremente em cor e em riscos, oferecendo-a, já transfigurada, ao olhar de quem frui. O processo sinestésico permite, depois, um novo regresso ao poema, já com a alma cheia de cor, banhando e iluminando os versos e as estrofes com o brilho cromático das pinturas. E assim se sobe a um novo patamar a partir do qual também se inunda de sentido a pintura. Na verdade, nem a pintura ilustra o poema nem o poema descreve a pintura, mas ambos dão origem a um diálogo virtuoso que se eleva dialecticamente, através da sinestesia, em planos mais complexos e exigentes. A densidade do poema é convertida em leveza na pintura e a leveza da pintura é densificada pela semântica poética. É isto que eu pretendo, independentemente da interpelação e do chamamento a que ambas as artes estão necessariamente votadas. Se ambas respondem, na sua génese, a um originário impulso dionisíaco, para o dizer com Nietzsche, elas também têm como vocação a interpelação, procurando seduzir e chamar à experiência estética os que se cruzam com elas. No essencial, é isto que me move nas minhas propostas.

João de Almeida Santos

NA BRUMA DA MEMÓRIA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Magia”
Original de minha autoria
Junho de 2021
MagiaPublicado1706_2022

“Magia”. Jas. 06-2022

POEMA – “NA BRUMA DA MEMÓRIA”

QUERIA LEVAR-TE
Uma rosa
Branca
Aos sete céus
Do meu afecto,
Desci fundo
Na memória
Onde ainda te
Guardava
Como se fosse
Teu tecto.

PROCUREI-TE
Na bruma
Espessa
Que caía
Sobre mim
E quase não te
Encontrei,
O tempo gastara
O passado,
Ficou uma saudade
Sem fim.

PERDERA-TE
O rasto
E o perfil,
Até teu nome
Perdeu cor,
Teu olhar
Só luzia
Intermitente
Numa neblina
De dor.

NO MEIO DA NEBLINA
Esfumava-se
O teu rosto
De tanto eu
Te perder,
Era incerto
O cintilar
De teus olhos
Na vontade
De te ver.

ERAS BRUMA
Indefinida
Nos sete céus
Onde te quis
Encontrar,
Mas sobraste
Como imagem...
..............
A que eu soube
Desenhar.

PERDI-TE A VOZ
E a tua
Melodia,
Quase tudo,
Meu amor...
...............
Ah, mas, no fim,
Não te perdia...
Ficou-me de ti
O sabor.

PORQUE JÁ ERAS
Imagem
Que me sobrou
Desse afecto
Que por ti
Sempre senti,
Construção
De arquitecto
Para nunca
Te perder
Desde o dia
Em que te vi.

E VOLTEI
(Eu volto sempre),
É desejo
De te ver,
Dar-te corpo
Nas palavras
Com que te quero
Dizer
Ainda que
Do poema
E dos céus
Do meu afecto
Acabe por
Te perder.

AGORA, DESENHO-TE
Com palavras e
Com cores,
Com paisagens
Que tenho dentro
De mim,
Com rostos,
Com aromas
E flores
Deste bendito
Jardim,
Um passeio
Com pavões,
Uma delicada
Utopia,
Gritos de alma,
Emoções..
...............
Pra te recriar
Com magia
E contigo
Caminhar
No alto
Da fantasia
Onde vive
Essa imagem
Que desejo
Encontrar.

VOO, POIS,
Com uma rosa,
Vestido como
Arcanjo,
Pra te ver
Ali ao perto,
Olhos negros,
Cintilantes,
Mas um pouco fugidios
Ao jogo da sedução
Numa noite
De luar...
............
Ou talvez
De perdição.

É UMA ROSA
De brancura
Transparente
Pra que sintas
Lá bem alto
O aroma
Desta minha fantasia.
Talvez assim
Te encontre
Envolta na neblina
Que nunca
Se dissipou
(Mas agora
Cristalina)
Desde aquele
Incerto dia
Em que o nosso
Olhar se cruzou.
MagiaPublicado1706_2022Rec

“Magia”. Detalhe

MEMÓRIA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração - "Magia"
Original de minha autoria
Junho de 2022
MagiaPublicado1706_2022

“Magia”. Jas. 06-2022

POEMA  – “MEMÓRIA”

FUI AO BAÚ
Das memórias
De mais intenso
Afecto,
Voando em
Fantasia
Pra te escrever
Um poema
Com arte
De vate inspirado
Por poética
Magia.

ENCONTREI
Teu rosto
Triste
(Mas cativante)
E quis enganar
A saudade
Num jogo
De sedução
Como se fosses
A deusa
Das cidades
Que invento
Em cada minha
Canção.

NESSE DIA
Em que te vi
Na fita
Da minha memória
Quis trazer-te
Ao luminoso
Mundo da arte,
Caminho
De liberdade,
Utopia de quem
Parte
Em busca
Do tempo perdido.

ERA TRISTE,
Mas era belo
Esse teu rosto.
Desenhei-o
Em tensão,
Cravei palavras
E cores
No meu peito,
Lentamente,
Com a mão,
Centrei-as
No lado esquerdo,
Onde bate
A emoção,
Mas quando
Me olhei
Ao espelho...
............
O que vi foi
Solidão.

PEDI AJUDA
Ao vento
Que levasse
O meu poema
Até à tua janela
Pra te lembrar
O que sinto...
................
Que ele pousasse
Nela
Como se fosse
O destino
A bater
À tua porta...

E OUVISTE
A melodia
Que soava
Para ti
Pois logo vieste
À janela
A recolher
As palavras
Que o vento
Te levou
E eu senti
Que renascia
Na fita
Da tua memória...
..............
Quando o vento
Regressou.

MagiaPublicado1706_2022Rec

 

EM CERTOS DIAS…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Beija-Flor em Magnólia Branca”. 
Original de minha autoria para este poema. 
Junho de 2022.
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“Beija-Flor em Magnólia Branca”. JAS. 06-2022

POEMA – “EM CERTOS DIAS…”

EM CERTOS DIAS,
Teu macio rosto 
De veludo
Alterna
Entre suave doçura e
Vincos marcados
Como sulcos,
Aspereza de
Sensualidade
Sustida 
À flor da pele
Para que não
Transbordes
Em excesso
De ti.

COMO SE FOSSES DUAS
MULHERES,
As faces de Janus,
Decidida
E evasiva,
Passado e futuro,
Espartilho
Que quase anula
O teu fértil
Húmus anímico
Que remotamente 
Te inspira,
Desde a raiz.

MAS TU ÉS UMA SÓ,
Aquela que
Ficou
Sentada
Na soleira da tua
Alma
Quando, em solidão,
Saíste, decidida,
 Para a rua
Da tua vida
À conquista
Do mundo...

ACORDA, MULHER,
Vai à procura
De ti
Na fronteira
Do teu destino,
Olha o mundo
Da janela,
Mas sai
Pela porta da tua
Alma
De braço dado
Com o sol que 
Tantas vezes 
Te ilumina
O olhar
Com as cores
Do arco-íris.

HÁ TANTAS MAGNÓLIAS
(Como tu)
No meio do caminho
Da tua vida
Que basta olhá-las
Pra que ela
Te sorria.

AH, NÃO SABES
Quanta metafísica
Há numa magnólia
Branca!
Fala-lhe com os teus
Olhos,
Acende-a com
Teu sopro quente,
Acaricia-a com
Mãos macias
E verás que ela
Te apontará o caminho
Do reencontro
Contigo
Na brancura
De suas pétalas.

E VERÁS TAMBÉM
Que tu vives
(Como eu)
Num intervalo entre ti
E o mundo
De onde te podes
Reconhecer 
No regresso
À tua soleira vital,
Para repartires
Aconchegada,
Contigo no regaço.

NA FRONTEIRA
- Sabias? -
Vemos melhor
Para dentro
e para fora
De nós,
Vemos 
Os demónios 
E os anjos...

VÁ, CANTA A VIDA
Com teus olhos,
Demora-te um pouco
Na janela sobranceira
Do teu íntimo
A ver passar
Aquela que já
Não queres ser
Porque apaga
O rasto do teu
Acontecer...
....................
E sai com o vento
Pela porta do
Teu destino.

E VAI AO JARDIM
Falar com as magnólias
E come chocolates
E canta
E dança
E grita se for preciso
Até que o eco
Te devolva
Identidade
E teus olhos
Se cubram
Daquele verde
Que nasce nas
Encostas,
Nos verões
Das nossas vidas,
Quando o sol
Já brilha no horizonte...

MAS BRILHA?
- Perguntarás.
E eu digo-te 
Que sim
Se o brilho 
Se acender também
No teu inquieto
Olhar!
MagnoliaRec

“Beija-Flor em Magnólia Branca”. Detalhe.

O BENFEITOR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Um Homem das Arábias”.
Original de minha autoria 
para este poema. Junho de 2022.
JAS_HomemDasArabias12062022

“Um Homem das Arábias”. JAS. 06-2022

POEMA – “O BENFEITOR”

COMO TE VEJO,
Ó benfeitor,
Filho dilecto
 Da tua Ilha,
Nosso Jardim.
Há mil quadros,
Rara beleza,
Espelhos do teu
Amor,
Todos pra mim,
Aqui tão perto,
À minha beira.
Sinto-me rico
De tanta cor
No ouro luzente 
Das molduras  
De Madeira.

COMO TE SINTO,
Meu benfeitor,
Sempre de negro,
Artista grande
Que nem Dali,
Noites d’Inverno
Onde o preto
É a beleza
E o dinheiro
(Que foi pra ti)
O meu Inferno.

VERMELHO E NEGRO,
Como Stendhal
Ou Julião
(Tens o Sarmento...)
A palpitar
Do coração (Sem um lamento). A TUA VIDA É um Natal, Com tantas prendas Dos teus banqueiros, Mas a minha É tempestade Com aguaceiros, Sempre a pagar... .......... É natural. DA ARTE TU ÉS O Mago, A colecção Vai aumentar, Banqueiro dá, Finge Qu'empresta, É aos milhões, Mas logo chega O meu castigo... .............. É sempre assim, Sempre a cobrar (Põe-me mendigo) O que pra ti São só tostões. EU GOSTO D’ARTE Da que eu faço, Sem a vender Nem a comprar, Mas vou ao banco (Vou muitas vezes), Acerto o passo, Eu tenho contas Para pagar. O MEU PAÍS É muito culto, Jeff Koons, Lucio Fontana, Henri Michaux, Mas no balcão (Não sei porquê) O meu banqueiro É um sacana... ................ Foi sempre assim, Vem do avô. ANSELM KIEFER, Gerhard Richter. Frank Stella... É muito bom! Pois tem de ser. Se o banqueiro Olha pra ela (Prà colecção), Fica pasmado Com tanta arte E dá-lhe tudo Por gratidão. E DUBUFFET, Não gostas dele,
Ó fruidor? Piero Manzoni, George Segal, Chamberlain,
Morris Louis... É a beleza Da colecção Feita pra ti. Não percebeste? Chegas e vês Gostas e pagas, És devedor. Não rogues, pois, Crente da arte, As tuas pragas Ao benfeitor. GOSTO DE TI, Da tua arte, Ficou humana A nossa banca, Mas sem milhões. Que nos importa? Temos beleza, Temos amor Temos as contas Aos trambolhões, Temos-te a ti, Tão generoso...
................. São os banqueiros Os aldabrões. MAS QUE M’IMPORTA, Ó benfeitor, Fizeste bem Mais uma vez, Pois ajudaste Os teus banqueiros... .............. Tinham excesso De liquidez. GERALD LAING, Alain Jacquet Pauline Boty... ............... Bem acertaste, Ó benfeitor, A liquidez Ficou pra ti.

JAS_HomemdasArabias_062022Rec

ENLACE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração - “Pasárgada”
Original de minha autoria
Junho de 2022
PasárgadaFinal040421

“Pasárgada”. Jas. 06-2022

POEMA – “ENLACE”

ERA UMA VEZ
Uma videira
De seu nome Cardinal
Que vivia na Latada
Que me cobre
O Jardim
E me protege do sol
Nas quentes tardes
De Verão.

SEM APARENTE
Razão,
Enrolou-se
Nos seus ramos,
Numa certa
Madrugada,
E trepou
Loureiro acima
Como amante
Apaixonada.

QUANDO CHEGUEI
E a vi tão lá
No alto,
Na ramagem
Enrolada,
Subindo
Por ele acima,
Trepando
Pela pernada,
À procura
De carinho
Ou até mesmo
De nada...
...............
Foi tão grande
O meu espanto
Que parti
Para o poema
Pra cantar
Essa videira
Que ficou
Apaixonada.

LOUREIRO COM UVAS...
Aconteceu
No Jardim,
Neste lugar delicado
Repleto de carmim,
De poeta,
O recanto,
Lugar d'inspiração
Com aroma
De jasmim,
De surpresa
E de espanto.

ERAM UVAS
Ou palavras?
Arbusto
Ou poesia?
Eu fiquei
Muito confuso
Da estranha
Alquimia
Nessa tarde
Inesperada
E perguntei
Ao loureiro:
Aqui anda
Mão de fada?

OH, LOUREIRO
Com tantas uvas...
Tinha de ser
Mesmo assim
No recanto e
Nesse dia?
Uma videira-em-verso
Num só passe
De magia?

MAS ERAM UVAS
E palavras,
Era arbusto
E poesia
E poeta me
Tornei
Pra dar asas
Ao encanto
Pois nascera
Um novo dia,
Aquele que
Um dia
Sonhei.
PasárgadaFinal040421Rec

“Pasárgada”. Detalhe

A PORTA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Porta”. Original de
minha autoria. Maio de 2022.
JAS_Porta2022

“A Porta”. Jas. 05-2022

POEMA – “A PORTA”

¡Qué trabajo nos cuesta / traspasar 
los umbrales / de todas las puertas! / 
Vemos dentro una lámpara /
ciega / o una niña que teme / 
las tormentas. 
La puerta es siempre la clave / 
de la leyenda. / 
Rosa de dos pétalos
/ que el viento abre / y cierra.

Federico García Lorca, 
Puerta Abierta, 1921
ILUMINADA
Em generosa
Cascata
De cores,
Nesta porta
Fria e nua
Há mistério
Que oculta
O outro lado
Da rua...
..........
O lado
Dos sonhadores.
MAS NÃO SEI
Se é porta
De rua,
Se me leva
A tua casa
Ou se abre
Para o mundo,
Se é porta
De sacrário
Que guarda
Corpo
De deusa,
Acesso
A templo
Sagrado,
Lugar de ecos
De um poema
Sufocado.
BATO LEVE,
Levemente,
Como quem
Chama
Por ti
Com as cores
Do meu jasmim...
Silêncio
É o que ouço
Do princípio
Até ao fim.
AH, A VERTIGEM
Do mistério
Que barra
O passo
Do lado de cá
Do desejo...
................
Por isso o pinto
De cores
Do generoso
Jasmim,
Uma profusa
Cascata
Que brota sempre
Das fontes
Do meu amado
Jardim.
FOSSE ELA,
Transparente,
Como a minha
Janela,
Raios de sol,
Feixes de luz
A entrarem
Dentro dela
Como seiva
Na raiz...
..............
Ah como seria
Tão belo,
Como seria
Feliz!
HÁ UM SILÊNCIO
Frio
Do lado de lá
Dessa porta
E tropeço
No vazio
Que não me deixa
Passar.
MAS A PORTA
É ombreira
De mistério
E fascina
O olhar,
É fonte
D’inspiração
Que me leva
A cantar
A vida
Imaginada
De uma tão doce
Ilusão.
POR ISSO
Eu a componho
Sob forma
De poema
Que logo lanço
Ao ar,
Fingindo que
Sofro o que
Sinto
Em palavras
Que não tenho
Para mais tarde
Te dar.
NO POEMA,
Eu pinto
Dessa porta
A soleira
Porque não posso
Passar
Esse lado
Da fronteira
Que encerra
O mistério
Do outro lado
De ti...
.............
O lado escuro
Da vida,
Que sempre
Desconheci.
AH, ESSA PORTA,
Lugar
De invocação,
Na memória
Permanece
Porque é nela
Que mais sinto
O fascínio
Do oculto
Que inspira
E entretece
O poema
Na canção.
JAS_Porta2022Rec

“A Porta”. Detalhe

A OUTRA JANELA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Outra Janela”.
Original de minha autoria
para este poema. Maio de 2022.
JAS_Janelal052022PoePub

“A Outra Janela”. Jas. 05-2022

POEMA – “A OUTRA JANELA”

DAQUELA JANELA
Já não te vejo,
Mas se visse
O que diria?
Um destino,
Um caminho
Que não sei
Onde me leva
Nesta incerta
Travessia...
SÓ SEI QUE
Parto
Com o olhar
E uma discreta
Dor
Para destino
Ignoto...
...........
Mas por isso
Sedutor.
HÁ SEMPRE
Outra janela
Dentro de nós,
Vê-se
O mundo
Através dela
Para não ficarmos
Sós.
VIAJAR
Ao sabor do vento,
Sentir-se
Um pouco
Vagabundo,
Amigo da evasão,
Perder-se, sim,
Neste mundo
Como alguém
Que não tem chão.
OUTRA JANELA
Sobre a rua,
Sobre um rio,
Sobre o mar
Ou traçado virtuoso
Para meu vale
Abraçar;
Marcas
De passos remotos
Escritos
Na água fria
Ou recanto
Sem passado
Num futuro
Desejado
Como pura utopia;
Um trilho
A desbravar:
Encontrar-te
Lá no fim
Do meu longo
Caminhar...
SIM, OUTRA JANELA,
A que a musa
Desenhou
Pra que eu
Te visse
Nela,
Na montanha
Ou no mar,
Numa praça
Da aldeia,
Numa rua
Em qualquer
Outro lugar...
OUTRA, SIM,
De onde veja
O teu rosto
Assomar
Quando o sol
Me acende
A alma
De tanto no alto
Brilhar.
O MUNDO
Quando acorda,
A nascente,
E entardece,
A poente,
Muda de cor
E de luz
E vê-se
De uma janela
Como algo
Que reluz.
E EU, A TI,
Com esta luz
Interior,
Com outra janela
Na alma,
Vejo-te sempre
A sul,
Antes do
Entardecer,
No infinito
Azul,
Nesse céu
Onde gosto
De te ver.
EU CANTO-TE
Aqui,
Do alto
Desta janela,
Deste meu lado
Da rua
Com alma
Cheia,
Mas nua,
Pra que me vista
De ti...
HÁ SEMPRE
Outra janela
Por onde te possa
Olhar,
A que é feita
De palavras
Lá no alto
Da montanha
Ou no embalo
Do mar...
.............
Onde o poeta
Quiser,
Onde sentir
Que é nela
Que mais te pode
Encontrar.
JAS_Janelal052022PoePubRec

“A Outra Janela”. Detalhe

O ESPELHO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Perfil de Mulher”.
Original de minha autoria.
Maio de 2022.
Silhueta2022_1505H

“Perfil de Mulher”. Jas. 05-2022

POEMA – O ESPELHO

“Tu prima m’inviasti verso Parnaso
a ber ne le sue grotte, e prima
appresso Dio m’alluminasti”.

Dante Alighieri. Purgatorio. Canto XXII.
ENCONTREI-TE
No Parnaso,
Lá em cima,
Intangível,
Sem te poder
Tocar
A não ser com
As palavras
De um poema
Sensível às cores
Da tua alma.
E VESTI-ME
Com elas,
As palavras,
E senti-me
Quente,
Afagado
No meu canto
Porque tu as
Escutavas.
SIM, ENCONTREI-TE
Lá em cima
No Monte.
Em ti
Eu via a costa
E via o mar
No horizonte
Com nitidez
E via
O meu mundo
Interior
Em sonhos
De azul,
A tua cor,
Em toda a sua
Nudez.
A NEBLINA
Cobria-te
O corpo,
Como Graça de
Botticelli,
Pra te refrescar
A alma,
Morrinha
Lenta e fina
De palavras
Húmidas
Caídas
Lá do alto
Do meu céu
De nuvens brancas...
.........
Sobre ti.
EU ERA
Espelho
Que te devolvia
Fantasia
Contra a
Petrificação
Fatal
Que espreitava
Nos olhares
Indiscretos
Do teu círculo
Vital.
MAS TU
Não sabias.
SUBITAMENTE,
Decidiste declinar
O espelho
Porque,
Dizias,
Começava
A embaciar-te
A alma.
E NÃO ERA DA
NEBLINA
Que te envolvia,
Mas dos desenhos
Que tuas mãos
Esboçavam
Timidamente
Nesse espelho
Já tão húmido
De ti.
E DEIXASTE
O Monte.
Desceste
Apressadamente,
Sob os olhares
Das mil górgones
Que sempre
Ameaçam
Petrificar
Os que vivem
No vale.
E sucumbiste.
Ou talvez não...
NO MONTE,
Disse
De mim
Para mim:
De tanto te reveres
No espelho,
Ficou-me, de ti,
O cintilante 
Reflexo.
E sabes o que se
Vê
Na minha superfície
Plana?
Beleza.
Toda a que me sobrou
Quando,
Em tristeza,
Desceste o Monte.
MAS ESTA NÃO
PETRIFICARÁ
Porque ficou
Guardada
No meu corpo
Vítreo
Onde todos
Se revêem
Sem saber
Que no reflexo
Levam, gravada
Em transparência,
A tua imagem...
...................
Embaciada.
E POR CÁ FIQUEI,
Espelho do mundo,
A olhar para
O escuro espaço
Sideral
À espera que um
Cometa
Me alumie
O caminho
Para te devolver
O teu reflexo
Original
E prosseguir
A caminhada
Solitária
A que me votaste.

Silhueta2022_1505HRec

VEJO-TE NO POEMA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Ponto Cardeal”.
Original de minha autoria.
Maio de 2022.
Cesto2022

“Ponto Cardeal”. Jas. 05-2022

POEMA – “VEJO-TE NO POEMA”

VEJO UMA ESFERA
Tingida
De cores
Que me faz
Vibrar
Os sentidos,
Mas há um
Silêncio
Frio
Que me chega
Lá de longe...
...........
Então parto
Para o poema,
Refúgio
Dos meus pecados,
Onde vivo
Como monge.
MAS TREME O CHÃO
No poema
Quando passas
Na estrofe,
Rápida como o vento
Que tudo o resto
Varreu
E em silêncio
Esvoaças
Num círculo
Que é só meu.
MEU SILÊNCIO
É composto
De palavras,
Diz muito mais
Do que quer
E se o poema
Te abriga
Nascem desenhos
Perfeitos
Do teu perfil
De mulher.
MESMO QUE TE ESCONDAS
Ou finjas
Que não és tu,
Te diluas na estrofe
Onde sempre
Fico nu,
Sinto sempre
Esse teu rasto,
Invisível
Como tu.
E TREME A TERRA
Quando passas
No desenho
Que te ofereço,
Mas não te vejo
Tremida.
O traço
Não é banal
(Como sabes),
É nele que eu
Te dou vida.
É FORTE
O meu desejo
De um encontro
Virtual,
Invocar-te
Num poema
Como musa
Ideal
E mesmo que
Os versos
Tremam
Serás sempre,
De certeza,
O meu ponto
Cardeal.

Cesto2022Rec

ÍCARO DO TEU SOL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Paraíso”.
Original de minha autoria.
Maio de 2022.
Jas_Azul22Final

“Paraíso”. Jas. 05-2022

POEMA – “ÍCARO DO TEU SOL”

TANTA LUZ,
Meu Deus!
Vejo o brilho
Intenso
De um azul
Que incendeia.
É o teu céu,
Esse imenso mar,
O espelho
Refrangente
Dos meus sonhos
Que dá asas
Ao olhar.
O MEU É BRANCO
E cintilante
Para te iluminar
E lá brilham
Os teus olhos,
Estrelas
De navegar.
E QUANDO
Nos sonhos
Te vejo
Iluminada,
Divinal,
Entro sempre
Na porta
Branca
Que me leva
Ao paraíso
Levado por uma
Fada
Em quadriga
Sideral.
E VOAMOS,
Voamos,
Deixando
Para trás
O meu Jardim
Encantado,
Os bailéus
Da Casa-Mãe
Desenhados
A rigor,
A quelha da minha
Infância,
Manhãs brancas,
Cintilantes,
De imenso
E fascinante
Alvor.
NOS SONHOS,
(Em todos eles)
Caio das nuvens
Brancas
Como Ícaro
Do teu sol,
Quase cego
Dessa luz,
Sobre as flores
Do Jardim,
O meu eterno
Farol.
 MAS A LUZ
Reacende-me
E ilumina
O que me sobra
De ti,
Em sonhos
Escritos
Ou pintados
A pastel,
E, assim, 
Resisto
À voragem
Do tempo
Com palavras
Desenhadas,
Fazendo da alma
Pincel.

Jas_Azul22Luz

LIBERDADE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Liberdade”.
Original de minha autoria.
24 de Abril de 2022.
Liberdade25042022

“Liberdade”. Jas. 04-2022

POEMA – “LIBERDADE”

PERGUNTEI-TE,
Num dia
De sol:
“Voas comigo
Prà linha
Do horizonte?".
Deste-me a mão
E sorriste:
“Voo, sim,
Pois preciso
De ar puro
Lá bem no alto
Do Monte”.
E PARTIMOS.
Tu levaste
O arco-íris
Que tinhas
Dentro de ti
E eu as letras
Que tinha
Comigo,
Guardadas
Nesta alma
Solitária
Feita seu porto
De abrigo.
ENREDÁMOS
Todas as cores
Com linhas
De palavras
Deslaçadas,
Construímos
Asas em forma
De verso
E voámos
No céu
De um poema
Pintado todo
De azul...
ANDEI CONTIGO
Por lá
Anos a fio,
Vagueando
Ao sabor da
Inspiração,
Levados
Pela brisa
Que sopra fria
No Monte,
Mas afaga
O coração.
E COMO GOSTEI
De voar contigo,
Livres como
Pássaros
Sobre o vale
Onde te encontrei
Um dia,
Construindo
Castelos
Na areia
Com a força
Da fantasia.
É ASSIM QUE EU
Te vejo,
Tecendo a vida
Com sopro
De alma
E as cores
Do arco-íris
Pintadas
Por tua mão
Como pauta
Colorida
Dessa doce
Melodia
Da nossa bela
Canção.
FOI ASSIM
Que nos dissemos
Nesse tempo,
Livres de amarras
Que não nos deixam
Voar,
Traçando
Em arte
Um destino
Marcado
Pela vontade
De fazer
Da nossa vida
Caminho
De liberdade.
Liberdade25042022Rec

“Liberdade”. Detalhe

ESMORECER

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Teus Olhos".
Original de minha autoria.
Leitmotiv de K. Kavafis
(Poemas: "Cinzentos"
e "Dias de 1903").
Abril de 2022.
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“Teus Olhos”. JAS. 04-2022

LEITMOTIV

“Ter-se-ão desfeado (...) 
os olhos cinzentos;/
Ter-se-á estragado o belo rosto.
Memória minha, guarda-os
tu como eram./
E, memória, o que podes
deste meu amor,/
o que podes traz-me
de volta esta noite."
.............................
"Não voltei a encontrá-los –
esses tão depressa perdidos.../
Esses olhos poéticos,
Esse pálido/
rosto... no anoitecer da rua...
(...)
e que depois com ansiedade queria."

(Kavafis, K., Poemas e Prosas.
Lisboa: Relógio d’Água, 69-71)

POEMA – “ESMORECER”

JÁ GASTEI
Todos os poemas
Cantando
O que nunca
Te ouvi,
Já me fogem
As palavras
E fico mais
Pobre de ti.

JÁ NEM SEI
Se é silêncio
Ou são notas
Dissonantes
Com que desenhas
A pauta
Dos melómanos
Amantes.

NEM PALAVRAS,
Nem cores,
Talvez notas
Invisíveis
Nessa pauta
Desenhada
Do silêncio
Com que falas...
.............
Talvez nada.

AH, NEM EU
Já saberei
Nomear-te
Na hora
Da despedida,
No encontro
Que nunca
Marcaremos
Nessa baça
Encruzilhada
Onde sempre
Te perdi
Numa incerta
Caminhada.

PRA QUE SERVE
A poesia
Se não a
Sentes
Por dentro?
Pra que serve
A pintura
Se não a contemplas
Com alma?
Pra que serve
Gritar
Se não ouves
Com o peito?
Pra que sirvo eu,
Poeta-pintor,
Se não te vejo
Por fora,
Mesmo que te pinte
E te cante
Por dentro?

PARA NADA,
A não ser
Para celebrar
O futuro
De um passado
Que logo esmoreceu
Para nunca
Lá chegar,
Perder-se
Na rotina
Dos ecos
Silenciosos
Da alma,
Enganar-se
Com desencontros
Inventados,
Ir por aí
Sem saber
Pra onde vou,
Desaparecendo
Na montra
Dos meus inúteis
Passeios
Pela arte
Que desenterrei
Das vísceras
E de teus sofridos
Enleios,
Fazendo a minha 
Parte.

AO MENOS DANÇO
Em pas de deux
Com poemas
Desenhados,
Enredado
Nos mil fios
Da fértil
Fantasia
De um poeta
Que levita
Sobre escombros
 De um palco
Que nunca construiu
Sobre as pedras
Da sua poesia.

É A DANÇA
Da solidão,
Contigo
Suspensa
Nos fios
Da teia
Em que vou
Enredando
A minha vida,
Até tombar exausto,
Ao cair do pano
(E do poema)...
...........
Que tarda,
Sim, que tarda,
Para iludir
O derradeiro
Momento
De uma longa
E interminável
Despedida.
Jas_TeusOlhosPub042022_1.jpgRec

“Teus Olhos”. Detalhe

NEVE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Neve e a Primavera”.
Original de minha autoria.
Abril de 2022. E uma bela canção de Milva, "Catarì", sobre Poema de Salvatore di Giacomo (Letra em napolitano e português,
no fim do Poema). Link: https://www.youtube.com/watch?v=8LOYOOPmBzI
Neve1

“A Neve e a Primavera”: Jas. 04-2022

POEMA – “NEVE”

SE ME PERGUNTASSES
PELA NEVE,
Que te
Responderia?
“Tenho-a pura
Na alma,
Sinto-a quente
Por dentro,
É vida,
É energia”.

ENTRA A NEVE
NA PRIMAVERA,
Cai suave 
Lá do alto
E alimenta-me
O jardim,
Rega-me fundo
A alma
(Sem sobressalto)
E entra, suave,
Em mim.

DELA CONSERVO
A brancura
Fria
Do manto
Que me ilumina
Por dentro,
Magia do seu
Encanto,
Beleza
Que me fascina
E celebro
No meu canto.

E QUANDO O INVERNO
Me deixa
Nascem cores e
Voam riscos,
Expandem-se
Mil perfumes
No sagrado do
Do meu chão,
Tudo brota 
Para mim
E em grande
Profusão
Na frescura 
Do jardim.

MAS EU PERMANEÇO
NA NEVE
E a neve fala-me
Assim:
"Corpo frio,
Alma quente,
Banho-te
Como rio
Que nasce
Dentro de mim
Pra que a arte
Germine
Como uma bela  
Semente
Que desponta
No jardim".

EXPLODEM OS MEUS
RISCOS
Em girândolas
De cor,
É festa
Na minha aldeia,
É intenso
O clamor,
Crepitam foguetes
No ar
E nós, felizes,
Gritamos: 
“Girândolas
Na nossa festa
Nunca nos hão-de
Faltar...”

SE ME PERGUNTARES
PELA NEVE
Eu ouço-te
A voz
Cá em cima,
Respiro ar
Da montanha
E respondo-te
Em rima,
Devolvo
Inspiração
Que da arte
É a vida,
Um poema
Ou canção
Que não é
De despedida,
Mas de feliz
Liberdade
Da palavra
Proibida.
Neve1Rec

“A Neve a a Primavera”. Detalhe

A LETRA DO POEMA DE SALVATORE DI GIACOMO:

"Marzo: nu poco chiove  
e n’ato ppoco stracqua:  
torna a chiovere, schiove,  
ride ’o sole cu ll’acqua. 
Mo nu cielo celeste,  
mo n’aria cupa e nera:  
mo d’ ’o vierno ’e tempeste,  
mo n’aria ’e primmavera.  
N’auciello freddigliuso  
aspetta ch’esce ’o sole:  
ncopp’ ’o tturreno nfuso  
suspireno ’e vviole...  
Catarì!… Che buo’cchiù?  
Ntienneme, core mio!  
Marzo, tu ’o ssaie, si’ tu, 
e st’auciello songo io".

"Março: um pouco chove
e logo deixa de chover: 
volta a chover, pára,  
ri o sol com a água.  
Ora um céu celeste,  
ora um ar escuro e negro:  
ora tempestades d’inverno,  
ora um ar de primavera.  
Um pássaro com frio  
Espera que espreite o sol:  
na terra ensopada suspiram as violetas...  
Catarina! Que queres mais?  
Entende-me, meu amor!  
Março, sabes, és tu,  
e aquele pássaro sou eu".

NOTA - "Marzo" (ou "Catarì").
“Arietta” (1898) do poeta napolitano Salvatore di Giacomo, 1860-1934, em dialecto napolitano. Ouça MILVA em: https://www.youtube.com/watch?v=lMKDSnJEadc).

POEMA PARA UM ROSTO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “O Retrato”.
Original de minha autoria
Abril de 2022
ORetrato2022Pub5

“O Retrato”. Jas. 04-2022

POEMA – “POEMA PARA UM ROSTO”

ENCONTREI-TE,
Por acaso,
Na rua
Da galeria.
Foi Athena,
Foi destino?
.............
Há muito que
Não te via.

E VI-TE
Em contraluz,
O sol batia
De frente
Como tudo
O que seduz
E que me turba
A mente.

EU JÁ NEM SEI
O teu nome
Nem se a deusa
Te mandou,
Mas as cores
Desse teu rosto
Brilham,
Brilham
Como a luz
Que um dia
Me beijou
Num incerto
Mês de Agosto.

RETOQUEI-TE
Com as cores
Com que me
Pinto,
Dei-te mais vida,
Foste musa
Do meu cantar,
Levei-te comigo
À montanha,
Fiz do teu
Corpo
Encanto do meu
Olhar.

E CANTO-TE
Nos meus poemas,
Teu olhar
É como o meu,
Tu falas-me com
O teu rosto,
Eu respondo-te
Com arte,
A que o destino
Me deu.

ÉS GIESTA
Da montanha,
Arbusto
Do meu jardim,
Olho-te
Neste lugar
Onde cresceste
Pra mim.

ÉS ÂNCORA
Da minha arte,
Nunca te hei-de
Perder,
Se eu parto
Para o monte
Volto ao
Anoitecer,
Depois durmo
Ao relento
Sob teu olhar
Demorado,
Porta aberta
Prà montanha,
Sonhar-te, ali,
A meu lado...
..........
E logo que
Amanhece
É sonho que
Me acompanha,
É sentir-me
Iluminado,
Rio de luz
Que me banha.

A MINHA MUSA
É retrato
Que encontrei
Na galeria,
Olho para ele
Como poeta
Que sou,
Cantá-lo
Dá-me alegria,
É poética
Magia,
É vida o que
Lhe dou.
ORetrato2022Pub2Rec

“O Retrato”. Detalhe

CANTA, POETA, CANTA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: "Perfil de um Poeta"
Originais de minha autoria
Março de 2022
Jas_AutoR2022_Fim

“Perfil de um Poeta”. Jas. 03-2022

POEMA – “CANTA, POETA, CANTA”

“Ora al nuovo sole
si affidano i nuovi germogli”
Virgílio.
CANTA, POETA, CANTA
Até que a musa
Te ouça,
Nem que a palavra
Te doa
E a alma
Estremeça.

CANTA, POETA, CANTA
Que o teu poema
Tem dor
Que te baste,
Mas tem cor
Que alumia
E tem sabor
A cerejas,
Que as dá
A Primavera.

SE NO CANTAR
Tu quiseres
Atingir o infinito,
Agarra
No teu pincel,
Salta pra cima
Dum risco,
Dá-te asas
De azul
E voa
Nesse teu céu
Até que a musa
Te veja,
Te pinte
Numa cereja
E murmure
O teu nome
Quando se tinge
De cor.

CANTA, POETA, CANTA
Que o teu cantar
Te embala
Como água
Cristalina
Que corre
Lesta
No rio
Que nasce
Dentro de ti.

CANTA, POETA, CANTA
Que contigo
Cantarei
A alvorada
Do dia,
Se chorares,
Eu chorarei,
Por não sentir
Alegria,
Se sorrires
Eu pintarei
As cores
Do teu sorriso
E para ti
Dançarei
Uma valsa
De Strauss
Às portas
Do Paraíso.

CANTA, POETA, CANTA,
Para ti
E para o mundo
Que o teu cantar
Enobrece
Quem ouvir
A tua prece,
Quem sentir
O teu lamento
Que, de ser
Já tão profundo,
Não o leva
Nem o vento
Pois ele em ti
Entardece.

E SE O VENTO
O levar
Vai procurá-la
A ela,
Voa lento
Sobre a rua
E pousa
No parapeito
Da sua bela
Janela.

CANTA, POETA, CANTA,
Que um dia
Há-de ouvir,
Deixa que o
Tempo passe
E a razão
Se esclareça,
Confia, pois, 
No porvir
Sem que teu estro
Esmoreça.

NÃO CHORES, POETA,
Não,
Neste teu
Entardecer,
Tens arte
Na tua alma,
Inspiração a crescer
E mesmo que ela
Não ouça
É um modo
De a ter.

Jas_AutoR2022R

A FESTA DA MÚSICA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Doce Ciúme”.
Original de minha autoria.
Março de 2022.
VoarFinal_1

“Doce Ciúme”. Jas. 03.2022

POEMA  – A FESTA DA MÚSICA

CERTOS DIAS,
Quando a música
Me atrai
(Irresistível
Pulsão),
Entro em alvoroço
E até sinto
Alguma dor,
Doce ciúme
De amor,
Quase rebelião
Pelo silêncio
Que faz eco
A meus versos
Diletantes,
A solitária
Paixão.

DOCE CIÚME
Do turbilhão
Interior
Que seu ritmo
Produz,
Dos arrepios
Que faz
E do veludo
De alma
Que a música
Me traz.

CANTA-SE
Do lado de lá,
Sinto
Calor intenso,
Ovações,
Danças
Extenuantes
E expressivos
Sinais,
Corpos
Em êxtase
De tão intenso
Prazer
Em festivos
Rituais.

É FESTA, SIM,
E é baile,
É um tremor
Corporal
Que me liberta
A alma
Deste mundo
Tão banal.

É LIBERDADE
Em forma de
Emoção,
É rito,
É vibração,
Ondas
Que me projectam
 No ar
E transportam
O meu corpo
Para, feliz,
Levitar.

É LIBAÇÃO,
Bebida
Contagiante,
Bebedeira
Sensual,
É, como apelo
De amante,
 Um poema
Corporal.

MAS EU SÓ SINTO
Silêncio
Do lado de cá
Dos meus versos,
É ausência
Permanente
E sem recurso,
Melodia
Do silêncio
Em poético
Discurso.

INTERPELO
Não sei quem
No poético 
Instante,
Sabendo que
Há alguém
Que não ouve
E que não sente
Este canto
Diletante.

DOU COR
Às minhas palavras
E ponho-me
Sempre a pintar
Pra que as ouçam
Com alma,
Mas também
Com o olhar.

QUAL QUÊ?
(Penso eu)
É só fantasia
A fervilhar
De emoção
No silêncio
De um recanto
Como se fosse
Oração
Que redime
De uma vida
Devorada
Com paixão.

SINTO CIÚME,
Quase inveja,
De uma festa
Onde o corpo
Vibra,
Onde a palavra
É som
Que me convida
A dançar
E segreda
Ao ouvido
O que ele
Traga consigo
Para me arrebatar.

MAS SOFRO
De melancolia
Do lado de cá
Dos meus versos,
Vejo danças,
Vejo corpos 
Aquecidos
Ao som
De uma guitarra,
Ouço o timbre
De uma voz
Que me prende
Os sentidos,
Ouço ecos lá
Ao longe,
Na memória
Já perdidos...
..............
E recolho-me
Em solidão
Para compor
Com palavras
Meu silêncio
Pontuado
Nos versos
De uma canção.
VoarFinal_1Rec

“Doce Ciúme”. Detalhe

O JARDIM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Chakra”.
Original de minha autoria.
Março de 2022.
Chakra2022

“Chakra”. Jas. 03-2022

POEMA – “O JARDIM”

NAQUELE DIA
EU vi um estranho
Enlace 
No jardim
Onde nasci
Para a arte
Com que a deusa
Me prendou,
Uma dádiva
Dos céus
Ou o brilho
De uma estrela
Que sempre
Me ilumina
Nesse mágico
Lugar 
Onde a vocação
Despertou.

NESSE JARDIM
De mil azáleas
E do meu vasto
Jasmim,
De perfumes
E matizes
Que tomam conta
De mim
Há cores
Que brilham
Em fundo
De seda pura,
Luxuriante
Pintura e
Exótica magia,
Desafio
Permanente
A poética
Ousadia.

VERDE,
Azul,
Vermelho,
Amarelo
Ou lilás
São cores vivas
Que me vestem
O olhar,
Nelas vejo
O arco-íris
Que nasce
Dentro de mim
Quando me
Ponho a sonhar.

É ARCO-ÍRIS,
É sim,
O que teço
Com a alma
No Encantado
Jardim,
É quadro
Que pinto
Com cores
E com palavras,
É luz intensa,
Embriaguez,
Alquimia,
Acre perfume
De jasmim,
Minha secreta
Magia.

PERCO-ME
Nas sete cores,
Vou atrás delas,
Imparável
Correria,
Vertigem
De voo livre
No céu,
Redentora
Catarsia
De quem sempre
Se perdeu.

SÃO CORES,
São riscos,
São traços,
Palavras
Que me procuram,
É tudo
E é mais 
Do que a luz
Do meu olhar
Nesta arte
Que me leva
Como alta
Vaga do mar.

REGRESSO SEMPRE
Ao Jardim
Onde cresci,
Levo flores
Impressas
No corpo,
São cores
São quentes,
São vivas,
Até ardentes
Em demasia,
E nelas  
Eu me diluo
Levado pelo poder
Desta minha
Fantasia.
Chakra2022Rec

“Chakra”. Detalhe

O REGRESSO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Talismã”.
Original de minha autoria.
Março de 2022.
JAS_Talisma2022Pub

“Talismã”. Jas. 03-2022

POEMA – “O REGRESSO”

DISSESTE-ME
Que partias,
Que o coração
Em tormento
Já te pulava
No peito...
.............
E que ficar
Não podias...

“TENHO DE PARTIR,
Não me sinto
Muito bem,
É distante daqui
(Bem sei),
Como as memórias
D’infância
E o olhar
De minha Mãe."

“MAS OUÇO-AS 
Lá longe,
Ouço bem As amigas De outrora Que fogem Das bombas Na hora, Mas lembram Hordas antigas Nas ruas do Meu país.” DISSESTE-ME,SIM, Que andavam Por lá Perdidas Na tragédia Consumada, Na procura Impotente Dessa paz Que foi Roubada. “EU GOSTO Das praias De areia branca, Gosto das praças E das ruas Do teu país, Mas é mais forte A raiz, O apelo Que o vento Me traz Do sagrado Chão natal, Poderoso Chamamento, Alvorada Marcial.” “GOSTO DA PRAIA, Oh, se gosto (Acredita), Mas já não a posso Sentir Porque me pula De dor O meu pobre Coração E me leva De regresso Às origens, Ao sagrado Do meu chão.” “JÁ NEM ADORMEÇO Ao som Das meigas ondas Do mar, O cheiro a maresia É vaga Recordação E a paz Em que vivia Eu já não
A posso ter Porque é forte O sobressalto Logo ao Amanhecer.” “ENEVOA-SE A memória, Há muito ruído No ar, Crepitam armas No solo Da minha infância, No abrigo Do meu lar.” “VOU-ME EMBORA, Vou lutar Para o meu solo Materno E se um dia, Caída No chão Sagrado E eterno, Eu não voltar Só te peço Que me cantes Em voz alta, Com alegria (A que agora
Me falta), Num poema Desenhado À beira Do nosso mar.” VAI SIM, Minha Amiga, A paz Há-de voltar E, numa tarde De verão Em tempo de Preia-mar, Sentar-me-ei Contigo n’areia Pra esse poema Cantar.
JAS_Talisma2022PubRec

“Talismã”. Detalhe

VEM COMIGO…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Exaltação”.
Original de minha autoria
sobre foto (de autor 
anónimo) em contraluz. (Quadro da minha colecção privada). Fevereiro de 2022.
Corpo2022_11

“Exaltação”. Jas. 02-2022

POEMA – “VEM COMIGO…”

EU CANTO
E pinto
O meu destino,
Sonhos velados,
Minha vida,
Meu desatino... 

PERDI A CHAVE
Do meu futuro
E só me resta
A despedida, 
Por isso canto
Com as aves,
Voo mais longe
E com mais cor
Porque no céu
Há mais azul
E em meus sonhos
Tens mais sabor.

HÁ UM SEGREDO
Não revelado,
Dizê-lo
Eu não podia
Porque cantá-lo
Era pecado
E certamente
Mentiria.

E NÃO O DISSE,
Mas eu pequei
Com murmúrio
Apaixonado
Em poemas
Inocentes
Que levaram
O meu canto
A ouvidos
Impudentes
Que estão
Por todo o lado.

POR ISSO VOO
Sempre mais longe
Trepo nas cores
Pra lá chegar,
O céu azul
Dá-me alento
Para mais alto
Voar
E meus segredos
Pôr a reparo
Dos vigilantes
Do meu cantar.

LEVO PALAVRAS
Comigo,
Procuro inspiração.
Levo cor,
O meu abrigo,
Levo musas
E tudo o mais
E quando parto
Lá pra cima
É sempre festa
Neste meu cais.

EU CANTO
E PINTO
Por tudo isto,
Pra resgatar
O meu pecado
De exaltar
Esse teu corpo,
Pra projectar
Em aguarela
Esse enleio
Do meu olhar
E por te ver
Na nossa rua
Debruçado
Na janela
Com vontade
De te pintar.

POR ISSO EU
CANTO,
Por isso voo,
Por isso subo
Lá para o alto,
Já não os vejo,
Já não os ouço,
E já não vivo
Em sobressalto.

MAS VEM COMIGO
(Eu dou-te asas),
No infinito
Do céu azul
Voamos
Ao mesmo tempo
E o nosso rumo
Será o Sul.

VÁ, VEM COMIGO,
Se tu vieres
Voaremos
No nosso céu,
Seremos livres
Lá bem no alto
E nossa arte
Será perfeita
Com tudo aquilo
Que Deus nos deu.

Corpo2022_4R

FUGAZ ENCONTRO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Travessia”
Original de minha autoria
Fevereiro de 2022
Jas_Atravessia2002Pub1

“Travessia”. Jas. 02-2022

POEMA – “FUGAZ ENCONTRO”

ÀS VEZES
Passas
Por mim
Como vento
Intangível,
Sonho
Espectral,
Impossível,
E voas
Por entre os dedos
Dessas mãos
Com que te pintas...

VOAS, SIM.
Mas eu não sei
Se vais
Para o pontão
Deste cais
Donde sempre
Nós partimos
Para viagens
Fatais
À procura
D’infinito.


SOPRA-TE
O vento
Na alma?
Desenhas
Com ele
O teu rosto?
Ah, pareces
Triste demais
E é disso
Que eu não gosto.

NA RUA
Do desencontro
Encontrei-te
Apressada...
Fiquei feliz
De te ver,
Embora por um
Instante,
Um pouco mais
Do que nada.

FIZESTE-ME
Renascer
De vaga
Melancolia...
.......
Imagina
O que seria
Se te visse
Duas horas
Ou te tivesse
Um dia.

AH, QUE DOCE
Sensação
Sentir saudades
De ti...
..........
Prevendo
Que não virias
Mesmo assim
Eu não parti
Tão grande
Era o desejo
De te encontrar
Por ali...

E FALEI-TE
Da minha janela,
Olhei, fascinado,
Pra ti:
“Minh’amiga
Como és bela...”
...........
Nem sabes
O que senti...

MAS, NUM SÚBITO
Ímpeto,
Disse pra mim:
“Eu não canto
Esta cantiga
De te ver
Tão pouco assim.
Vou-me embora,
Pois se te
Encontro
Logo me foges,
Se te quero,
Não te procuro...
.........
Eu vivo
Num intervalo
Que mais me parece
Um muro”.

AH, SIM,
Entre ti
E os teus riscos
Eu estou
Entrincheirado,
Caminho só,
Em poemas,
Nunca passo
Deste lado.

Jas_Atravessia172002PubREC

O TERRAÇO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Terraço”
Original de minha autoria
Fevereiro de 2022
Terraço2022Pub1302FimLUZ

“Terraço”. Jas. 02-2022

POEMA – “O TERRAÇO”

É DAQUI,
Deste terraço,
Ó deusa,
Que te alcanço
E te vejo
Com a forma
Intangível
Do desejo.

SILÊNCIO,
Nuvens,
Um lago,
Uma luz
Que rompe
O escuro
Da partida
E acende
O dourado,
Elementos
Que compõem
O teu muro,
Meu pecado.

É DAQUI
Que eu te sonho,
Uma fresta
No teu céu,
Um olhar
Que não tem fim...
........
É daqui
Que eu te quero
Sem limites
No poema,
Quando
Com palavras
Te olho
E te vejo
Como se fosses
O fruto
Daquilo que eu
Mais desejo.

É DAQUI
Que eu não saio
Quando parto
Para longe,
Pois é aqui
Que te tenho
Nas raízes
Do que sou.

ERA AQUI
Que eu te queria
Se aqui não te
Tivesse,
Ver-te
Ao perto
Sem te tocar,
Beijar-te
Com os olhos
Numa noite
De luar.

VÊS,
Meu amor,
Como é simples
Gostar de ti?
A mim basta,
Neste encanto,
Ficar-me
Docemente
Aninhado
Num recanto...
..............
Reinventar-te
Por aqui.
Terraço2022Pub1302FimLUZ

“Terraço”. Detalhe

TEU ROSTO ARCO-ÍRIS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Rubor”
Original de minha autoria
Fevereiro de 2022
RUBOR3

“Rubor”. Jas. 02-2022

POEMA – “TEU ROSTO ARCO-ÍRIS”

O TEU ROSTO
É arco-íris,
Dança, dança
Nos meus olhos,
Fascinados
Pelos teus,
É luz intensa
Que brilha
E domina
Como um deus.

É FULGOR,
É raio
Que me fulmina,
Com essas cores
Tão intensas
O meu rosto
Se acende
E de ti
Se ilumina.

HÁ CHEIRO
A maresia,
Sinto sal
Na tua boca
Que me sabe
A poesia
E, quando a digo
Em voz rouca
De tão frio
Ser o mar,
É tão quente
O meu desejo
Que eu quero
É navegar
Para ver
Se lá te vejo.

TUA BOCA
É mar profundo,
Tão azul
Como o infinito
Do céu
Onde gosto
De voar,
Se te beijo
Vou ao fundo,
Mas respiro
Lá bem dentro
Nas profundezas
Do mar.

COM TEU ROSTO
Arco-íris
Brilhas ao sol
Logo ao
Amanhecer,
Mas sempre
Caio em tristeza
Por tão pouco
Te rever.

A TRISTEZA
É saudade
Desse encontro
Tão fugaz,
Meus olhos
Perdem-se
Em ti,
Mas em ti
Encontram paz.

O TEU ROSTO
É arco-íris,
Se te vejo
É alegria sem fim,
Não vás, por isso,
Embora,
Que eu fico triste,
Na hora...
................
Espera um pouco
Por mim.
RUBOR3Rec

“Rubor”. Detalhe

DESPEDIDA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração - “Rosas”
Original de minha autoria
Janeiro de 2022
JAS_Rosas2022_4psd

“Rosas”. Jas. 01-2022

POEMA – “DESPEDIDA”

NUM CERTO DIA
(Banal)
Acordei
De um sonho
E lembrei-me
Logo de ti.
Só então eu
Pude ver
(Como no sonho)
Que o teu rosto
Perdeu brilho
E que já
Nem me sorri.

ESSE TEMPO
É passado
Que o tempo
Resolveu.
Aquele que agora
Te evoca
É outro,
Já não sou eu.

NÃO QUERO
Ver-te
Nem ouvir
A tua voz,
Entre mim
E o teu rosto
Já não encontro
Um nós.

AGORA
(E mesmo em sonho),
Teu perfil
Não me fascina
E o olhar
Já não me brilha,
Tudo em ti
Sabe a passado
E nada me diz
Do futuro,
Vejo tempo
Sem raízes
(É destino,
O meu fado?)
No qual já não
Me depuro.

VÊS COMO A VIDA
Vai direita
Por linhas tortas
Seguindo?
Vês
Como o canto
Fortalece?
Saio de ti
Lentamente
Para que o tempo
Resolva
O que num sonho
Acontece.

FICAM TÃO-SÓ
Alguns versos
A marcar
O meu passado,
Registos
Da caminhada
Que num sonho
Fui fazendo
Sem nunca te ter
A meu lado.

MAS O TEMPO
É escultor,
Lapida
As nossas vidas
Deixando apenas
Sinais
Pra que não fiquem
Perdidas.

AH, ESQUEÇO-TE,
Mas não te perco,
Perdi-te,
Mas não t’esqueço,
Lembro-te,
Mas não te quero,
Revejo-te,
Não reconheço,
É mundo
Que já partiu,
Não se pode lá voltar
A não ser com
Um poema
Para com arte
O fechar.
JAS_Rosas2022_4psdR

“Rosas”. Detalhe

DUAS HORAS

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Jardim”
Original de minha autoria
Janeiro de 2022
Jardim2022

“Jardim”. Jas. 01-2022

POEMA – “DUAS HORAS”

OLHEI-TE NOS OLHOS,
Eram negros,
Intensos
E tão profundos...
Toquei teus cabelos
Com o olhar,
Caminhei a teu lado
Nesse jardim,
Senti o teu corpo
Bem perto de mim
A respirar
O acre perfume
Dessa ramagem
Do vasto jasmim.

INEBRIOU-ME
Esse intenso
Aroma
Do belo jasmim
E eu enredei-te
Num tão doce enleio
Que me parecia
Nunca mais ter fim.

BRILHARAM
Pra mim
Tão docemente
Duas horas inteiras
Esses teus olhos.
E neles me perdi.

ESTIVE NO CÉU
Ao lado de deus
E lá vi dois sóis
Que não eram dele
(Uma luz intensa)
Porque eram teus.

MAS O TEMPO
Correu
Depressa
Demais.
E é sempre assim.
Todos os dias
Se tornam iguais
Quando tu partes
E, em nostalgia,
Eu fico no cais.

VOLTEI A OLHAR-TE
Três horas seguidas,
Parecia verdade
Mas era ilusão
Porque tu partiste
Deixando-me só...
...............
E o que sobrou
Foi a solidão.

SUBIU A TRISTEZA
A saudade irrompeu
Colou-se-me
Ao rosto...
.............
E como doeu!

SE EU NÃO TE VEJO
Sinto
Falta de ti,
Mas se te encontro
Logo te perco
Porque o tempo
Voa
E logo te leva
Pra longe dali.

TER-TE DEMAIS
Aumenta a saudade
E quando te vais
São negras
As nuvens
Da nossa cidade.

AINDA QUE TRISTE
Sinto-me feliz
E com estas mãos
Te vou escrevendo
O que quero dizer,
Mas este meu tempo
Volta a correr
E cresce a vontade
De logo te ver
Mesmo que saiba
Que é nesse instante
Que te vou perder.

EU TENHO SAUDADES,
Saudades de ti,
Desse virar
Da nossa esquina
Na rua de sempre
Onde eu te vi,
Da nossa janela
Donde espreitámos
O que do mundo
Sobrará para nós.

EU JÁ NEM SEI
Que hei-de fazer,
Ter-te demais
É puro prazer,
Mas quando te vais
Eu fico tão triste
Que o brilho do sol
Mais me parece
Um anoitecer.

Olhei-te nos olhos,
Era já saudade
Da tua partida,
Gravei-te na alma
Pra melhor te ter
Porque já sabia
Que não regressavas
A esse lugar
Onde eu te vi
E me encantou
O brilho intenso
Desse teu olhar
Onde me perdi.

Jardim2022Rec

A JANELA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Janela”.
Original de minha autoria.
Janeiro de 2022.
OndeTeVejo2022_1

“A Janela”. Jas. 01-2022

POEMA – “A JANELA”

NOS VIDROS
Desta janela
Se espelha
Todo o meu ser,
É neles que
Eu te revejo
Quando deixo
De te ver.

DA JANELA
Vejo o mundo
E o mundo
Vê a janela,
Debruçada
No parapeito
Olho o céu
E olho a rua
Para ver
Se passas nela.

NOS VIDROS
Desta janela
Há reflexos
Da vida,
Olho pra eles
Pensativa
Mas não me sinto
Perdida
Se puder
Falar contigo
Quando estás
De partida.

NESTES VIDROS
Da janela
Se espelha
Todo o teu ser
Quando passas
Nesta rua
E me sinto
Estremecer
Da falta que tu
Me fazes
Por ainda
Não te ter.

SE TE AFASTAS
Da janela
E vislumbro
Silhueta
Lá ao fundo,
Longe dela,
Eu sofro
Por te perder...
........
Na rua
E também nela.

VOA PRA LONGE
Essa tua
Silhueta
Que s’esgueira
Na esquina
Como se fosse
Cometa
A passar
Na minha rua,
Mas também eu
Me diluo
E me sinto
Um pouco nua
Na imagem
Transparente
Dos vidros
Desta janela
Como se fosse
Já tua.

FOSTE EMBORA
Do meu mundo
Onde eu
Te queria ter
Ao alcance
De um olhar
Para nunca
Te perder.

MAS NÃO DEIXEI
A janela,
Esperei sempre
Por ti,
Hora-a-hora,
Dia-a-dia,
Até que, por fim,
Eu te vi.

VI-TE
Da minha janela,
Desenhei-te
Com alma
E olhar
De devoção,
Pintei-te todo
A vermelho
Da cor da minha
Paixão...
...............
Mas mesmo assim
Tu partiste
Sem me dar
A tua mão.

DA JANELA
Sempre te vejo
Mesmo ausente
Da nossa rua,
Nos vidros
Fica imagem,
Perfeita
Como a tua,
Mas é sempre
Transparente
E não lhe posso
Tocar,
Guardo-a, então,
Com ternura
Em meu inocente
Olhar.

E GOSTO
Da Primavera,
Confundir-te
Com aromas
Que me chegam
À janela,
Anunciando
A chegada
Do melhor
Que sinto nela.

A JANELA
Não tem cortinas
Pra te ver
Na nossa rua,
Ver-te chegar
E partir,
Ficando um pouco
Mais nua,
Querer que
Me vejas
Assim
Tão brilhante
Como a Lua.

AH, QUANTAS VEZES
Eu desci
Da janela
Para a rua,
Olhava de baixo
Pra cima,
Mas eu nela
Não me via,
E, assim,
Não era tua.

O MEU MUNDO
É a janela,
O da rua
É o teu,
É dela que
Eu te vejo,
Na rua
Já não sou eu.

DA JANELA
Do meu mundo
Olho pra ti
Com calor,
Sem ela
Eu não te sinto,
Fica um muro,
Meu amor.

OndeTeVejo2022_1Rec

VESTIDA DE CORES

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Campainhas do Paraíso”.
Original de minha autoria
para este poema.
Janeiro de 2022.
Campainhas01_2022_4jpg

“Campainhas do Paraíso”. Jas. 01-2022

POEMA – “VESTIDA DE CORES”

VESTES CORES
Garridas
No palco
Desse teu mundo
Em danças
De luz
Como quem grita
A beleza
Que leva
Dentro de si...
.........
E seduz.

COBRES-TE DE TI,
Agasalhas-te
A alma,
Repetes,
Feliz, Em mil poses O teu rosto Em perfil... .......... E sorris. MAS QUANDO Regressas A ti É como o fim De um sonho Que levou Ao paraíso, A queda De um anjo Na rotina Do viver Convertida... ............. Em sorriso. MAS EU SIGO-TE, Vou E voo Atrás de ti Com poemas Sempre feridos Em cor viva, Por aí, Com versos Em voz Rouca De tanto Eu te dizer, Murmúrios De quem te sente, Palavras De não te ter. NÃO IMPORTA Que a fuga Para a boca De cena À procura De autor Que te cante e Que te conte Ao mundo Seja fuga De ti própria Para a luz Da ribalta, Rituais De celebração Onde a cor Nunca te falta.
EU GOSTO De te ver assim, Luminosa, Oficiante Desse rito Pagão Que celebra A arte E a liberdade Como pregão Nas ruas De uma cidade. MAS EU CONTINUO Por aqui, Na solidão Sideral da Montanha A olhar O horizonte Sem fim, Ao crepúsculo, Pagando Com poemas E rapsódias de cor O meu tributo Aos rituais Da redenção Pela arte
E por amor. AH, COMO GOSTARIA De te rever Na praia Da meia-lua, O nosso cais, No baile Da meia-noite, O brilho Da lua-cheia A acender-te A alma... .................. Mas já é tarde Demais!

Campainhas01_2022_4Rec

PERFIL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Silhueta”
Original de minha autoria.
Janeiro de 2022.
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“Silhueta”. Jas. 01-2022

POEMA – “PERFIL”

AS LINHAS
Do teu perfil
Tão singelas
Ao olhar
Lembram-me
A tua voz
Quando te ouvia
Falar.

POETA,
Logo pintava
Essa tua silhueta
Com um secreto
Pincel,
Os traços eram
Palavras
Desenhadas
A caneta
Na brancura
Do papel.

PALAVRAS
Leva-as
O vento
(Era o que eu
Te dizia),
Mas se ditas
Sobre ti
Por um poeta
Gentil
(E eu nunca te
Mentia)
Ficam gravadas
Na alma
Quando pinta
O teu perfil.

CRESCESTE
Como camélia,
Flor branca
Nas folhagens
Do Jardim,
E sempre que
Tu me olhas 
Iluminas
De alvura,
Brilho intenso,
Cintilante
Dessa imagem
Que perdura
Mesmo quando
Estás distante. PORQUE VIVES No Jardim Em ciclo De natureza Regressas Em cada ano Para afastar A tristeza. DEPOIS PARTES, Mas fica-me O teu perfil Que me fala Ao olhar, A ausência Já não pesa E as saudades Esmorecem Porque tenho A certeza Que um dia Vais voltar.

Jas_Camelia2022_6Rec

PARTIR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Melancolia”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2021.
Melancolia2021_Pub

“Melancolia”. Jas. 12-2021

POEMA – “PARTIR”

ESTOU SEMPRE
A partir

Do mesmo lugar
Onde nunca estou,
Por isso não sei
O que te dizer
Ou então segrede
Para onde vou...

JÁ NÃO SEI
Onde estou
Nem quero
Partir,
Não tenho
Lugar
De onde sair
Porque nem
Cheguei

A ver-te
Entrar
Onde já
Não vou.

TU FOSTE
Pra onde,
Que eu já 
Não te vejo?
Tenho os olhos
Baços de tanto
Chorar,
Gastou-se

O meu rosto
De tanto

Te olhar,
Mas tu não
Me vês.
Sempre desencontro
Na rua perdida...
............
E não somos
Três!

NÃO HÁ TEMPO
E não há lugar
Para onde

Eu possa ir
Porque já nem sei
Como cá ficar
Ou como partir.

TU FOSTE
Pra onde?
Não sei

Onde estás.
Só de te sonhar
Eu serei capaz,
Mas perdi

Teu rosto,

Só há neblina
Neste sonho meu,
É fumo espesso
Pra cá da cortina
Deste teatro
Que a vida me deu...
................
E esta tristeza

A que me destina.

NEM ASSIM POSSO
Sonhar-te
Porque já perdi
A intensa cor
Desse teu olhar
Por onde
Entravam
As minhas
Palavras

Para te cantar.

NÃO SEI
Onde estás

Nem posso
Chamar,

Dizer o teu nome
Com delicadeza
Pra te soletrar.

PARTISTE DE VEZ
Pra outro lugar
Que não sei
Dizer
Nem sei
Desenhar,
Fogem-me

As palavras,
Tenteia-me a rima,
Procuro cantar
Mas já não consigo,
Perdi o teu rasto
E o teu abrigo.

NEM SEI
Se me ouves

Lá onde

Te encontras

Em busca

Dos sonhos

Que te desenhaste
Em tinta-da-china...
..................
Onde te encontrei
Para te cantar
Com a melhor rima.

MAS TU FOSTE EMBORA
E a minha alma
Logo entristeceu
E por isso chora,
Mas esse que tu 
Já perdeste
Serei sempre eu.

TU FOSTE PRA ONDE,
Mulher dos meus
Sonhos?

Fugiste de mim
,
Disseste que sim,
Foste na maré
Revolta nas ondas
Que dão vida
Ao mar
Onde te espraias
Cada amanhecer
Sem nunca parar
Em todos os dias
Desse teu viver.

TU FOSTE PRA ONDE
Na hora sombria
Desse entardecer?

Melancolia2021_PubRec

OLHAR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Teu Olhar”.
Original de minha autoria
para este poema.
Dezembro de 2021.
OlharPublicado_12_21luz

“Teu Olhar”. Jas. 12-2021

POEMA: “OLHAR”

QUE ME DIZES,
Quando olhas
De través
E procuras
Ver em mim
O que tu lês
Nas marés?

NO SILÊNCIO
Do meu canto,
Sinto poder
No teu olhar,
Fascinam-me
Esses teus olhos
Porque me sabem
A mar.

NÃO É AZUL
Sua cor,
Mas de sol
Que ilumina,
Olhas pra mim,
Meu amor,
Quando navego
À bolina.

ÉS SEREIA
No meu mar,
Vou-te ouvindo
Em sinfonia
De cor
Com música
Da minha
Pauta
Mas que tem
O teu sabor.

QUE PROCURAM
Os teus olhos?
Ler nos meus
Desejo
De navegar?
Mas eu vivo
Neste cais
De partidas
E chegadas
Para contigo
Embarcar...

TEUS OLHOS
Verdes
Fascinam,
A tua boca
Seduz...
..........
E eu,
Pobre
Poeta de Outono,
Na mais pura
Contraluz
Que me acende
O olhar
E a teu barco
Me conduz.

OLHAS-ME,
Então,
Inquieta,
Ergo-me
À tua frente,
É fascínio
O que sinto
E por isso
Eu te digo
Que o olhar
Nunca me mente
Seja de bênção
Ou castigo.

QUE ME DIZEM
Os teus olhos?
OlharPublicado_12_21luzRec

“Teu Olhar”. Detalhe

VER

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Colibri”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2021.
Colibri2021

“O Colibri”. Jas. 12-2021

POEMA – “VER”

QUANDO TE VEJO,
Vejo-te a cores,
Sinto aromas,
Provo sabores
Na fantasia
E vejo traços
E vejo riscos
E tantas fugas
Prò infinito
Nos sete céus
Dessa magia
E eu respondo
Sobre o que
Sinto
Se me perguntas...
...........
- Epifania!

AO LONGE,
O horizonte
Desses teus riscos,
Aqui ao perto
Uma ponte
Desenhada
Que me leva
Ao pé de ti
E se o rio
Transbordar
Sei que te alcanço
Voando
Num colibri.

QUANDO TE VEJO,
Eu vejo ruas
E vejo praças
E catedrais,
Vejo desenhos
Na tua mão,
Vejo vitrais
E vejo sóis
Em refracção.

VEJO O TEU ROSTO,
Vejo-te a ti,
Sentir-te perto
Era o desejo
Nesses poemas
Que escrevi,
Ver o teu céu
Azul profundo
Pra onde voa
O colibri.

VEJO MONTANHAS
E vejo cores,
Eu vejo casas
E vejo amores
Por esses vales
E esses rios
Por onde corre
O fio d’água
Com que regas
O teu jardim
Pra nele nascerem
Os meus poemas
E ter-te sempre
Perto de mim.

SINTO NO AR
O teu perfume,
Cabelos negros
A esvoaçar
E sinto o vento
Nesse teu rosto
E altas ondas
No nosso mar
Mesmo que venhas
Só ao sol-posto
Com os teus barcos
A navegar
Nessas águas
Cristalinas
Onde se perde
O meu olhar.

EU VEJO TELAS,
Os teus pincéis,
Doce pintora,
Vejo a tinta
Na tua mão,
Vejo-te a ti
Tão concentrada
Nesses desenhos
Em construção
A pintar
Um colibri.

VEJO QUADROS
E vejo letras,
Nessa pintura
Vejo sinais
Para eu ler,
Vejo-te a ti
Neste pontão
Do nosso cais
E sou feliz
De assim te ver.
Isso me basta.
Não quero mais.

EU VEJO TUDO,
Eu vejo,
Mas faz-me falta
O teu sorriso.
Nada mais quero
Como desejo
Pois é só disso
Que eu preciso.

Colibri2021Rec

LUZ

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Arbusto”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2021.
Licht5

“O Arbusto”. Jas. 12-2021

POEMA – “LUZ”

LUZ DO CÉU,
Tanta luz
Descia por uma
Fresta
No coração
Do arbusto,
Raio
Na escuridão
Que caíra
No poeta
Como noite
No jardim.

LUZ, MAIS LUZ,
Era o que sempre
Pedia,
Era luz que lhe
Faltava
Quando ela
Esmorecia
No seu olhar
Já cansado.

MAS ELA CHEGOU
Sob forma de poema
E  desenho
Esboçado,
Cores quentes e
Traços
Ao infinito,
Palavras
Murmurejadas,
Num movimento
Sem fim
Até a luz 
Se apagar No arbusto Do jardim. LUZ, MAIS LUZ, Insistia o poeta Ao entardecer De um dia Quando a luz Esmoreceu E, com ela, Também ele já Se perdia. ERA VIDA Que findava, Tempo De despedida Que cedo demais Lhe chegava E obrigava À partida... E A LUZ Reavivou Nas cores E nas palavras Que lhe saíam Do peito E do fundo Da memória Pra recriar A preceito Tudo aquilo Que sobrou De uma paixão Sem glória. SÃO POEMAS Que lhe canta, São cores, São riscos Com que desenha A alma, São sons Dessas palavras Com que Escuta o seu Silêncio, É pauta de melodia Que da tristeza O resgata Como secreta Alquimia. É ASSIM QUE A luz Regressa, O arbusto Ilumina E sua alma Tempera Como harpa Em surdina. VOLTA, POIS, Ao dia em que Tudo começou, Tropeça na Luz intensa, Alumia a sua Alma E põe um fim À tristeza Dessa perda Capital, Descobrindo Nos poemas Remédio Para o seu mal.

Licht5R

O SILÊNCIO E A MEMÓRIA

Poema de João de Almeida Santos.
 Ilustração: “O Voo da Rosa”. 
Original de minha autoria. 
Novembro de 2021.
Rosa2021Pub28_11

“O Voo da Rosa”. Jas. 11-2021

"Para que tú me oigas / 
mis palabras
/ se adelgazan a veces 
/como las
huellas de las gaviotas 
en las playas"

Pablo Neruda

POEMA – “O SILÊNCIO E A MEMÓRIA”

NO TEU SILÊNCIO
Profundo
Entrevejo-te
Com palavras
Sufocadas,
A preto
E branco,
Com a linguagem
Do tempo
Que passa
Inexorável
E erode
A suave geometria
Dos traços Com que nos fomos Desenhando Nos dias De festa. E, AGORA, SOBREVIVO, Oblíquo, Neste intervalo Sofrido De onde Vislumbro A tua silhueta Esculpida Pelo crepúsculo De um fugaz Encontro De despedida. “VOU-ME EMBORA Pra Pasárgada”, Diria o saudoso Poeta, “Porque aqui Anoiteceu”. MAS, NÃO, Desta vez Eu não parto, Porque na memória Dos teus Mil rostos Posso ver-te a cores, Aquelas com que Te evadias Em cúmplice Caminhada À procura Do belo... .......... E em troca De nada. NESTA MEMÓRIA Acaricio-te, Em epifania, Com as mãos Invisíveis Da alma E o azul Do céu Que ainda Me sobra Como manto Transparente Da minha Fantasia. PRESSINTO-TE, Adivinho-te Em riscos que Deslizam Dos teus dedos, Dádivas Que me chegam Como brisa Do amanhecer Na praia Da meia-lua. E ESTREMEÇO Quando Te reencontro Nestas veredas Estreitas Da fantasia Com que Te vou reinventando... .............. Com insuspeita Teimosia. VISTO-ME, ENTÃO, De vermelho, Por dentro, A rigor, Solene. E pinto-me A alma Ao sabor do vento, Cubro de rosas Vermelhas O chão etéreo Por onde caminho Suavemente Com o olhar, Dou mais sabor À liberdade, Voando com Uma rosa Pra te poder Alcançar. AH, SIM, Duplico-me Neste intervalo Onde te sonho E te canto Com palavras Que te chegam Desfiguradas Pelo siroco que, No trajecto, Sopra forte Nas ásperas areias Deste deserto Que habitamos. SIM, MAS SE A BRISA Do mar Ainda me acaricia O rosto No amanhecer De cada poema Que me importam A areia
E o deserto?

Rosa2021Pub28_Rec

RENÚNCIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Rua”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2021.
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“A Rua”. Jas. 11-2021

POEMA – “RENÚNCIA”

RENUNCIEI
Para nunca
A perder,
Mas nesta
Longa privação
Vai declinando
No tempo
O que pra sempre
Eu quis ter...

VÊS, BERNARDO,
Que destino,
Que desassossego,
O meu?
Este que agora
Te fala
É outro,
Já não sou eu.

QUE DESENCONTRO
Foi esse 
Na rua
Da minha vida Desde o dia Em que a vi? Dei-lhe errados Sinais Nos momentos Cintilantes Que com ela Eu vivi? TALVEZ NEM AME Esta minha poesia Porque senti-la É como um
Doce sofrer, É um canto
De pesar
E é canto
De prazer,
É tudo Em quase nada, É melodia De fada Mesmo quando Faz doer. NO POEMA Eu até finjo, É poeta Quem o diz, E mesmo Que sinta O que digo Nunca hei-de Ser feliz. O POEMA É como a vida, Posso ouvir A sua alma Em desejos Com palavras, É um modo De a ter, É remédio Que me salva De em solidão A perder. ESTE CANTO É, pois, meu, Nem ela Mo pode Roubar E se disserem Que é seu, É verdade... ............ De enganar. O VERSO É o meu beijo Nesse rosto Que perdi, É quente Como uma chama E resiste A quem lhe diz Que o poeta Não a ama Porque desenha As palavras Com um pedaço De giz. O AMOR Em poesia É parte nobre
Do mundo, Sofrê-lo Como utopia É ir mais longe, É ir a fundo, Porque poeta Que ama Não é pobre Vagabundo,
Mas luz
Que brilha
Na chama. NÃO GOSTO Desta renúncia, Não gosto, Mas que posso Eu fazer?
Se não cantar O que sinto É certo que A vou perder.

VdP.2021_18PubJPGRecort2

SILÊNCIO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Som do Silêncio”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2021.
Jas. OSomDoSilêncio2021

“O Som do Silêncio”. Jas. 11-2021

POEMA – “SILÊNCIO”

OUÇO O SILÊNCIO
Que me cerca,
Adentro-me
Na multidão
E ele cresce
Por dentro,
Na alma
Me cresce
E, quase, quase,
Como grito
Sufocado...
..............
Me ensurdece.

AH, É DEMAIS,
Este silêncio,
Caustica-me
A pele
Macia da
Memória,
Uma moinha
Na alma,
Silvo
De vento
Cortante
Nas janelas
Destroçadas
Da emoção.

E EU FUJO
Para o ermo,
Lá em cima,
Na montanha,
Solidão de
Eremita
Que procura
A melodia
Do nome
Silenciado,
Aquele que nunca
Ousaste
Pronunciar,
Palavra em degredo
Que só o poema
Pode resgatar.

MAS, LÁ NO ALTO
(É sempre assim),
Ouço uma harpa
Dedilhada
Por ti,
Notas musicais,
E vejo riscos
Esvoaçando
No teu azul
De Lisboa
Em direcção
Ao infinito...

VEJO-TE SAIR
Da neblina
Cintilante
Do rio
Que te veste
E sacio-me de
Palavras
Até que a inspiração
Chegue
E as componha
Em poema
Que te cante
E que te conte
Às nuvens
E ao vento
Que passa...

NOMEIO-TE
E sussurro
Uma pequena
Palavra
Que nunca ousei
Pronunciar,
Mas que ouviste
Ressoar-te
Na alma
Mil vezes,
Em mil poemas
Sufocados...

O SILÊNCIO
É a tua fala
(Bem sei),
Mas eu não sairei
Deste poema
E do ermo reparador
Até que me ouças
E soletres
Finalmente
Esse nome
Com as cores
Da tua fantasia...

FICO PRISIONEIRO
De um poema
Em construção,
Resgate
Desse nome
Perdido
Na ilha remota
Da tua memória,
Como âncora firme
Da minha própria
Salvação.

Jas. OSomDoSilêncio2021Reco

ENCONTRO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Silhueta”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2021.
Silhueta2021_3

“Silhueta”. Jas. 11-2021

POEMA – “ENCONTRO”

OS ASTROS
Alinharam-se
Uma só vez,
Passados anos
E anos
De sofrida aridez
Que roubou
Tempo
À fantasia,
Luz
À vida,
Cada instante,
Lentamente,
Cada dia...

ENCONTREI-TE
Sem querer,
Astros
Ou destino,
Quero lá saber,
Se é tão bela
Esta forma
Tão singela
De te ver.

ABANDONEI-ME
Ao destino
E o acaso
Chegou.
Vi-te estranha
Em tardio
Reencontro,
Com a fita
Da memória
A rodar
Em moviola...

ERA INCERTA
A tua imagem,
O olhar
Levemente
Embaciado...
..............
Um arco-íris
Descera
Com o sol
Dessa manhã,
Dourado,
Gotículas
Brilhantes
Como lágrimas
De nostalgia
Cobriram-me
O olhar
Pra te ver
Como se fosse
Magia.

FICOU-ME
A alma cheia,
Cintilante,
A transbordar...
............
Mas o vazio
Também logo
Regressou,
Um sorriso,
Um instante,
Duas palavras
Pra enganar
O silêncio...
.........
E o ânimo
Quebrou.

VISLUMBREI-TE
A caminho do
Destino,
Raptou-me
O acaso
A incerta
Silhueta
Que não pude
Desenhar
No meu campo
De visão,
Como se fosse
Castigo
Sem ponta de
Compaixão.

E AQUI ESTOU EU
Devolvido
À solidão,
Novas saudades
De ti,
Um poema
Em gestação...

SÓ ASSIM TE SEI
Falar,
Fico incerto
Se te vejo,
Troco o passo
A cada instante,
Hesito nesse
Momento,
Finjo aquilo
Que não sinto
E, por fim,
Fico tão-só
Amante da poesia
Que me dá o que
Não tenho...
............
Uma réstia
De alegria.

OS ASTROS
ALINHARAM-SE
Pra te voltar
A perder...
...........
Dois minutos,
Um sorriso,
Pouco mais.
Este novo
Entardecer
Chegou cedo
Ao meu cais.

Silhueta2021_3Rec

DESTINO 

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Voar no Jardim Encantado”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.
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“Voar no Jardim Encantado”. Jas. 2021

POEMA – “DESTINO”

PINTO E CANTO
O meu destino,
Sonhos velados,
A minha vida,
Perdi a chave
Da tua porta
E só me resta
A despedida.

POR ISSO CANTO
Com as aves,
Voo mais longe
E com mais cor
Porque no céu
Há mais azul
E nos meus sonhos
Há menos dor.

HÁ UM SEGREDO
Não revelado,
Dizê-lo
Não deveria
Porque seria
Grave pecado
E certamente
Mentiria.

E NÃO O DISSE,
Mas eu pequei
Com murmúrio
Apaixonado
Em poemas
Tão inocentes
Como estar só
A teu lado.

POR ISSO VOO
Sempre mais alto,
Trepo nas cores
Pra lá chegar,
O céu azul
Dá-me alento
Pra meus segredos
Eu dissipar.

LEVO PALAVRAS
Comigo,
Procuro inspiração,
Levo cor,
O meu abrigo,
Levo musas
E tudo o mais
E quando parto
Lá para cima
É sempre festa
Nesse meu cais.

LEVO-TE A TI
E deste jeito
Voo sempre
Sobre o teu mar
Para que sinta
Lá bem no alto
Ar rarefeito
E assim te possa
Abraçar.

EU CANTO
E pinto
Por tudo isto,
Pra resgatar
O meu pecado
De exaltar
Esse teu rosto,
Iluminar
Em aguarela
O enleio
Do meu olhar,
Por te ver
Na nossa rua
Debruçado
Na janela
Com vontade
De te pintar.

POR ISSO CANTO,
Por isso pinto,
Por isso voo
Lá para o alto
Em liberdade,
Eu lá não vivo
Em sobressalto
Porque te sinto
Como verdade.

MAS VEM COMIGO,
Eu dou-te asas,
Prò infinito
Do céu azul,
Voamos juntos
Ao mesmo tempo
E o nosso rumo
Será o Sul.

VÁ, VEM COMIGO,
Voa mais alto,
Ah, meu amor,
Se tu vieres
Eu já não sofro
E ganho vida,
Vai-se embora
A minha dor
E já não sabe
A despedida.

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VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA

A Manuel Bandeira

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Pasárgada”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.
(Primeiras versões
do poema e da pintura:
Novembro de 2018).
Jas_pasargada2021_4

“Pasárgada”. Jas. 10-2021

POEMA – “VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA”

VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
É outro mundo,
Irmão,
Eu não fico
Por aqui,
Falha-me
Inspiração
Porque a brisa
Do Nordeste
Ficou lá,
No Maranhão.

TENHO SAUDADES,
Manel,
Nostalgia do futuro,
Não quero
De volta
O passado,
Foi um tempo
Muito duro,
Foi um tempo
Confiscado.

VOU CONTIGO
Pra Pasárgada, 
Há tempestade
No ar,
Não quero
Ficar aqui
Porque a brisa
Do teu berço
Não passou
Do Piauí.

PRA PASÁRGADA
Quero ir,
Lá todos
Falam verdade,
Por aqui
Não ficarei,
Já me falta
Liberdade,
Lá sou amigo
Do rei,
É muito bela
A cidade.

GOSTO DE TI,
Ó poeta
Do reino
Da utopia
Em busca
Da liberdade
No país da
Poesia
Onde se canta
E se dança
Porque o ar
É do mais puro
E cheira
A maresia,
Perfume
De divindade. 

VOU CONTIGO
Pra Pasárgada, 
Não gosto
D’estar aqui,
Há ruído
Que é demais,
Esta terra
Não me serve,
Eu espero-te
No cais...
..........
Navegamos
No teu barco
À procura
De mar calmo,
Céu sereno
E tudo o mais,
Viajando
No azul,
Peixes voando
No mar,
No horizonte
Uma ilha,
Mulheres lindas
A acenar...

EM PASÁRGADA 
Sou feliz,
Canto e
Danço
Na madrugada
Até que o corpo
Se canse
Com alma
Apaixonada
E adormeça
No regaço
Da mulher
Que for
Amada.

POR AQUI OUÇO
Ruído,
Há armas 
A crepitar,
Matam poemas
Com gritos,
Já não podemos
Cantar...

VOU CONTIGO
P’ra Pasárgada 
Meu mestre
De poesia,
Cantarei os teus
Poemas
Seja noite
Ou seja dia,
Alegram-se
As nossas almas
No reino da utopia.

Jas_pasargada2021_4Rec

O POETA-PINTOR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Musa”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.
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“Musa”. Jas. 10-2021

POEMA – “O POETA-PINTOR”

O POETA BRINCAVA
Com suas palavras,
Cantava-te sempre
Quando não estavas.

ERA UM POETA,
Era fingidor,
Não te desenhava,
Cantava-te
A cor.

SUAS CORES
Eram as palavras,
Fazia pincel
Da sua caneta,
O pintor riscava,
Mas a sua tinta
Já não era preta.

POR ISSO COMPROU
Um belo pincel...
.................
Pintava, pintava,
Era a granel,
E a sua tela
Deixou de ser
O velho papel.

DESCOBRIU A COR,
Que o fascinou.
Azul, vermelho
E tanto amarelo...
...............
Tudo ele pintou,
Procurando sempre
O que era belo.

ATÉ QUE O ENCONTROU
Na cor dos
Teus olhos.
Era luz da pura
Que iluminava
O novo papel
Onde desenhou
O teu fino rosto
Com o seu pincel.

DEU CORPO À COR
Com que te dizia,
As suas palavras
Tornaram-se riscos,
Mais que poesia.

PINTAVA-TE ASSIM,
Os poemas
Já não lhe chegavam,
Pintor de palavras
De cor as compunha
E versos voavam
No azul do céu...
..................
“E o que tu fazias
Faço agora eu”
(Dissera-lhe um dia)
“Porque sou poeta
Mas também pintor.
Deixaste-me só
Entregue à palavra
E eu,
Tão pobre de ti,
Pintei-me de dor.”

“MAS EU FAÇO DELA
O meu arco-íris
Pra subir ao céu
A ver se t’encontro
Atrás duma cor,
Pintando o teu rosto
Para um poema
Que vou escrever
Com este pincel
Que trago comigo
Enquanto viver."

O POETA BRINCAVA
Mas era séria
Essa brincadeira,
Perdido em palavras
Encontrou a cor
E nos seus poemas
Dela fez bandeira...
.................
Tornou-se pintor.

Musa16_1CORRec

TARDO A ENCONTRAR-TE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Mulher, 
a Janela e o Espelho”. Original de minha autoria. Outubro de 2021.

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POEMA – “TARDO A ENCONTRAR-TE”

TARDO A ENCONTRAR-TE
Porque não sei
Como procurar-te
Levado
Por um poema
Com as asas
Do desejo...

NÃO É A VONTADE, NÃO,
Mas o destino a marcar
Os passos que
Eu darei
Ou que nunca
Ousarei
Nesta estreita
Vereda
Da minha vida.

E TU SABES
Que não sei,
Mas sabes por onde
Andei
E me perdi,
À procura do que
Não podia ter
Pra preservar
O que apenas
Me sobrava...
...............
Dentro de mim.

ÀS VEZES
Encontrava-te...
Encontros fugazes
Onde o teu brilho
Cegava
Por fora
E me iluminava
Por dentro...
...............
E cantava-te
E pintava-te a alma
Com palavras roubadas
Ao arco-íris.

MAS NÃO SEI
Se te hei-de querer
Para nunca
Te ter,
Sentir saudades,
Logo ao amanhecer,
Do perfume 
Da aurora, Quando te reencontrava Na memória fresca E matinal Dos afectos
Indefinidos De outrora, Os mais perfeitos E contidos. SIM, DEIXO-ME IR Nas mãos do destino, Bem sabes, Mas há sempre Um súbito Sobressalto Quando o real Me atropela Por dentro E tudo se torna Inóspito... MAS SE NÃO Me deixo ir Por aí, Viajo para outros Lugares, Tenho sempre De viajar À procura de mim, De um espelho onde Me veja por dentro A olhar-te Por fora, À espera do próximo Sobressalto... ................ Que nunca demora. AH, COMO ME FALTA Esse véu que te cobre Quando te quero Pintar com palavras E te vejo Nua, Com a alma a tiritar, À mercê dos sobressaltos Que te marcam Como sulcos, Cicatrizes ásperas Da vida. MAS EU PROCURO-TE Com disfarçado E tímido Olhar, Perscrutando A alma Que se aninha Em ti Para te proteger Do risco da beleza Exposta Como fractura, Aquela que os poetas Sofrem, sim,
Mas cantam Quando sentem a Liberdade Ali por perto. TALVEZ A NOITE Te sirva de véu E te cubra
As cicatrizes Da vida, Luz coada pela Penumbra Que te amacia A pele Encrespada E te devolva como Sonho Acetinado Onde reinventar-te Como mulher Desejada, Para além do bem E do mal, Para além do pecado. MAS EU NÃO SEI, Tenho medo Dos sobressaltos, De ser atropelado Na esquina de um Inocente Jogo sedutor Que te cative a Alma Já em fuga Para o infinito Que, ao longe, Se cruza Nos nossos olhares... .............. Intermitentes. TARDO A ENCONTRAR-TE No bulício dos nossos Dias, Até que no amanhecer De um poema Te volte a visitar E te diga, Com olhar Submisso: "Ah, que saudades Eu tinha de ti..." Mas talvez já seja Tarde demais.

JAS_MulherNaJanPub2021_4Reco

CATEDRAL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "A Fonte".
Original de minha autoria.
Outubro de 2021. 
Obelisco19_02_1 - cópia copiar

“A Fonte”. Jas. 10-2021.

POEMA – “CATEDRAL”

VIAJEI NO TEMPO
Até à cidade,
Encontrei-te
Por ali,
Rosto sereno,
Inocente,
Como quem
Sempre sorri.

FOMOS AO TEMPLO
Da rua
Da minha vida,
À cúpula
Da catedral...
..............
Não te abracei
Nessa noite,
Era sagrado
O lugar,
Seria abraço
Fatal.

MAS FICOU-ME
O prazer
De te ter ali
A meu lado,
A sonhar-te
Nos meus braços,
Nos beijos
Que não trocámos
Numa noite
De luar,
Quando o amor
É mais intenso
E o corpo
Se desnuda
De tanto a lua
Brilhar.

FOMOS À PRAÇA
NAVONA,
Escutámos
As águas
Da "Fonte
Dos Quatro Rios"
(Essa dádiva
Do Bernini),
Íntimos,
Em sintonia,
Antevendo um futuro
Que nunca mais
Chegaria...

ATÉ QUE ME PROCURASTE
Nessa fita
Da memória,
A noite perdida
De afectos
No alto da catedral,
Corpos tensos,
Sem palavras,
Na fronteira
Do amor...

TORNOU-SE MAIS VIVO
Que nunca
O que não aconteceu
Como se fosse
Futuro
Que, afinal,
No teu passado
Ainda não se
Perdeu.

E CÁ ESTAMOS DE NOVO
À procura
Dessa noite,
Dos beijos
Que não te dei,
O passado já é
Futuro
E desse tempo
No limiar
Do sagrado
Já não sei
O que farei.

TALVEZ FAÇA UM POEMA
Para te reencontrar,
Cantar esse
Sorriso terno
De que sempre
Eu gostei,
Voar no tempo,
No espaço sideral,
Pousar de novo
Contigo,
Numa noite de luar,
Na cúpula
Da catedral...
Obelisco19_02_1 Rec

“A Fonte”. Detalhe.

TEMPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Oráculo".
Original de minha autoria.
Setembro de 2021.
OráculoVersãoPub2

“Oráculo”. Jas. 09-2021.

POEMA – “TEMPO”

É TEMPO DE RECOMEÇO?
Talvez seja,
Talvez não.
O que ontem
Eu já era
É o que hoje
Eu sou,
Não é tempo
De mudança
Nem tempo
De negação
Porque gosto
De cantar
Neste lugar
Onde estou.

O DESEJO
(Sempre instável)
Pediu tempo,
Rituais,
Celebração,
Mas o tempo
(Insondável)
Resistiu
Ao que a vontade
Tentou...
..............
É tempo
De recomeço
Quando o tempo
Não passou?

EM CADA MOMENTO
Da vida
Procuro
O tempo
Que antes
Eu não vivi,
Procuro
Reinventar
Tudo aquilo
Que perdi,
Num poema
Ou em pintura
Para repor
O que sou
Antes que volte
A perder-me
Nos lugares
Pra onde vou.
OráculoVersãoPub2Rec

“Oráculo”. Detalhe.

INFORMAÇÃO AOS LEITORES

Microsoft Word - JOÃO DE ALMEIDA SANTOS.docx

A TODOS OS AMIGOS E LEITORES QUE AQUI ACOMPANHAM A MINHA POESIA, A MINHA PINTURA, OS MEUS ARTIGOS E ENSAIOS, INFORMO:

1. Durante o mês de Agosto suspenderei a regularidade das minhas publicações. Foram vários anos sem interrupções e chegou a altura de fazer uma curta pausa de reflexão.

2. Entretanto, antecipo a capa de um Livro de Poesia de minha autoria, João de Almeida Santos, Poesia (Lisboa, Buy The Book, 2021), prestes a entrar em tipografia. O livro inclui 67 poemas, um capítulo “Sobre a Obra de Arte” e, outro, com “Diálogos com os  Leitores Digitais” sobre vinte dos poemas aqui publicados, tendo alguns destes poemas ilustração no livro. Tem 438 páginas (contando com as ilustrações), capa rija, cosido, com 12 ilustrações de minha autoria reproduzidas em papel couché mate. A capa reproduz uma obra minha: “O Aurífice”, criada para o poema “Esculpir-te”.

3. Prevejo que o livro esteja disponível ainda este mês ou no início de Setembro.

4. Será uma edição limitada (150 exemplares) e só pode ser adquirido por encomenda, via WhatsApp, Messenger ou E-mail, feita ao autor.

5. É editado pelas Edições Buy The Book.

6. Aqui fica uma antevisão da Capa e do Índice.

7. Índice do livro:  João De Almeida Santos, Poesia, Lisboa, Buy The Book, 2021

NOTA INTRODUTÓRIA

I - SOBRE A OBRA DE ARTE

II - POESIA

1 - CANTAR

Sou o que sou
Palavras
O poema
Canta, poeta, canta
O poeta que se fez pintor
Pintei-te
Não sei se te chegam, as palavras
A carta
Segredo I
Solidão
Esculpir-te
Invocação
Lua
O poeta e a máscara
O poeta e o vendaval
Elas fogem, as palavras
A palavra proibida
Confissões de um confinado
Geometria
O benfeitor

2 - TEMPO

Tempo
A porta do tempo
A reinvenção do tempo
Espelho do tempo
A fronteira
Na bruma da memória
Março
Mudam os ventos e mudam as palavras
Catedral
Rituais
Para Leonard

3 - RAÍZES

Jasmim
Romã
Tentação
Teu corpo de cristal
Casta diva
Mandei podar o loureiro
O pavão
O jardineiro

4 - VIAGEM

Viagem
Liberdade

5 - MUSA

Musa
Cor, dá-me cor
A flor de papel
O meu nome
Marmelada
O brinco
O beijo
Não sei
A janela
À janela
Certos dias
Encontrei-te lá em cima, no monte
Origem
Segredo II
Caminhos paralelos
Valsa
Pas de Deux
Nostalgia

6 - SONHO E UTOPIA

Sonhar
A aguarela
Quase
Alma
Um sonho na aldeia
Vou contigo pra Pasárgada
Vã utopia

III - REFLEXÕES EM TORNO DOS POEMAS
Diálogo com os Leitores Digitais

IV - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAs

#JAS@08-2021

FLOR DE PAPEL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Fleur de Papier
en Vol à la recherche du Poème 
perdu dans un Jour d'Hiver"”.
Original de minha autoria.
25 de Julho de 2021.
JASFleurdePapier2021

“Fleur de Papier en Vol à la recherche du Poème perdu dans un Jour d’Hiver”. Jas. 07-2021.

POEMA – “FLOR DE PAPEL”

NUM DIA DE INVERNO
Uma flor de papel
Voou
Para longe,
Levada pelo vento,
Rajadas fortes
Quebraram
Os subtis
Filamentos
Que a ligavam
À raiz de onde
Nascera...
...........
Seu alento.

CONTINUA A VOAR,
A flor de papel,
Ao sabor do vento,
Pousando
Aqui e ali
E logo voando
Para outros
Destinos,
Num perpétuo
Movimento.

PERDEU AS CORES
Luminosas
Que exibia
E a fonte
D’inspiração
(Sua seiva
De cada dia),
Borboleta
Já sem pólen
Para nova
Gestação
No jardim
Da fantasia.

MAS NUM DIA
Quente
De Verão
(Eu bem sabia)
Encontrei-a,
Por acaso,
Aninhada
Num arbusto,
À espera que 
O vento
A levasse
Prà ilha 
Da utopia.

PEGUEI-A
Na minha mão
E levei-a
Ao Jardim
Do meu poeta
Pintor,
Nosso chão
E recanto
Inspirador.

DEU-LHE COR,
O meu poeta,
Alisou suas
Rugas
De papel,
Mostrou-lhe
O horizonte
Lá em cima
Na Montanha
Nesse dia de
Verão
E logo a lançou
Ao vento,
Ao encontro
De raiz
Que nutrisse
Com a seiva
Uma nova
Floração...

JASFleurdePapier2021Rec

A MONTANHA

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Mulher”. Elaboração
de minha autoria, apud Gustav Klimt
(“Estudo de uma Jovem”, 1885).
Julho de 2021.
JAS1807Klimt2021_Pub

“Mulher”. Jas. 07-2021.

“I live not in myself, 
but I become / 
Portion of that around me; 
and to me, / 
High mountains 
are a feeling....”

LORD BYRON

Childe Harold’s Pilgrimage 
(1812-18). Canto III, 72 (1816).

POEMA – “A MONTANHA”

ESTOU A PERDER-TE,
Meu amor,
O estro
Esmorece,
Vai perdendo
Lentamente
O seu fulgor,
O poema
Empalidece
E eu,
Em poética anemia,
Já sinto
Um suave
E sonolento
Torpor.

SUBI A MONTANHA
Contigo
E, feliz
De lá chegar,
Com palavras
Que me deste
Eu aprendi
A cantar.

CANTEI A TUA PARTIDA
Quando desceste
O vale
E eu,
Triste,
caminhei
Por veredas
Sem destino
A que nunca
Mais voltei.

PERDIDO
De ti,
Vagueei
À procura
De eco
Do meu canto
Derramado,
Som puro
E cristalino
Que pra ti
Foi desenhado.

MAS O ECO
Era silêncio
Profundo
Vindo do azul
Quase irreal
Da abóbada
Celeste
Na montanha
Seminal.

NEM SEQUER O CLARÃO
De um cometa
Fugaz
Me visitava,
Pinhal abaixo,
Rumo ao horizonte
Do meu inquieto
Olhar.

O AR RAREFEITO
Da montanha
Tomara conta
De mim,
Desfalecia
A emoção
De te rever,
Reinventar
E cantar
Em surdina
Perante o
Silêncio
Cortante
Que me negava,
Impenitente,
O eco da
Minha canção.

ERA POÉTICA
Anemia,
Nos sentidos
Desmaiados
Calava
A melodia,
O som
Era murmúrio
Inaudível,
Sem ponta
De comoção,
Alma ferida
Que já nem
A dor sentia
De tão gasta
Nesse tempo
Por excesso
De paixão.

AGORA DESÇO
Também eu
Ao vale
Da minha vida
E regresso
À triste monotonia,
Sem ti,
Sem corpo
Imaginado,
Semente
De poesia.

O VALE ESPERA-ME,
Já tem sabor
A rotina
Porque sei
Que não te vejo
E estremeço,
Que já não
Sobram sinais
Da rua do
Desencontro,
Fugas
Irreais
Para os teus
Infinitos
Nem janelas
De onde te veja
Passar
Ou sequer imaginar
Na esquina
Esquecida
Do nosso
Contentamento.

ESTOU A PERDER-TE,
Não há janela
Nem infinito
Ou cor,
Não há tempo
Nem lugar,
Não há poema
Nem mar
Que suspenda
O vazio
De não te poder
Encontrar...
.............
Eu perdi-te,
Meu amor.

JAS18Klimt2021_Final1Rec

ARTE AO VIVO – 8

NO MEU JARDIM ENCANTADO

“O VOO DA MAGNÓLIA”, 2021

Partilho a imagem de mais um quadro já pronto para a Exposição em preparação, 90,5×115,5, em papel de algodão Hahnemuehle e com vidro de museu (70%). Este quadro pode ser adquirido, mediante comunicação de eventual interesse via E-mail, WhatsApp ou Messenger.

JAS – “O VOO DA MAGNÓLIA”, 2021

OVoodaMagnolia1

OVoodaMagnolia

PAS DE DEUX

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Penché”.
Original de minha autoria.
Julho de 2021.

1107Pencher2021

“Penché”. Jas. 07-2021.

POEMA – “PAS DE DEUX”

SOU COREÓGRAFO
Da minha alma,
Desenho-me
No espaço,
Embalado
Pela suave
Melodia do teu
Silêncio.

IMAGINO-ME,
Às vezes,
Num "Pas de Deux”
Contigo
Num palco
Em noite
De luar
Ali, na praia
Da meia-lua,
A dançar
O murmúrio
Desse mar
Com que te
Pintas
E ouves
Dentro de ti.

DANÇAMOS
Com palavras,
Enleados
Pelos fios
Dos poemas
Com que
Teimosamente
Ilumino
Os caminhos
Por onde nunca
Ousarás passar.

O SILÊNCIO
É a tua
Sinfonia,
O teu canto
De sereia,
A melodia
Que ressoa
Nesse mar
Murmurejante
De linóleo
Onde nos desenhamos
Em suave
Bailado,
Numa despedida
Que nunca
Terá fim.

GOSTO DESTA DANÇA,
Contraponto
Dos sinais
Invisíveis
Com que pontuas
A tua assinalada
Ausência,
E imagino-te
Num bailado
A solo
Com o som
Da minha poesia
Na praia
Da meia-lua,
Numa noite
De luar
E perfume
A maresia.

CANTO-TE, SIM,
Mas neste meu
Canto
Eu conto-me
Como espelho
Onde podes
Rever
O passado
Desse futuro
Que nunca
Existirá.

AGORA, SOZINHO
No linóleo,
Acendo um sol
Com as minhas mãos
E procuro
O que nunca
Encontrarei...
..........
A não ser
Sombras
De mim próprio
Gravadas
Na areia branca
Da baixa-mar.

ESTE,
O que te celebra
Em arte,
Já não sou eu,
Mas o coreógrafo
Da minha
Melancolia

1107Pencher2021Rec

O BEIJO


Poema de João De Almeida Santos.
Ilustração: "O Beijo". Original
de minha autoria para este poema.

Dia Internacional do Beijo -
- Seis de Julho, dia que celebro,
com um poema, cada ano.  

Inspirado em "Lotte in Weimar"
(1939), de "Thomas Mann,
a obra que continuou "Werther"
(1774), de Goethe, e no meu
romance "Via dei Portoghesi".
BeijoPub2021NvaVFinal

“O Beijo”. Jas. 07-2021.

LEITMOTIV

“O amor é o melhor na vida, assim, 
no amor, o melhor é o beijo –
Poesia do amor...”. “Beijo
é alegria,
procriação é luxúria”

Thomas Mann

 Inspirado também em:

 “Os beijos escritos 
não chegam ao destino,

mas são bebidos pelos
fantasmas ao longo
do trajecto”


Kafka 
“Se para te beijar devesse, 
depois,
ir para o inferno,
fá-lo-ia.
Assim, poderia
vangloriar-me,
com os diabos,
de ter visto o paraíso

sem nunca lá ter entrado”

Shakespeare
 “O primeiro beijo não é dado 
com a boca, mas com os olhos”

Bernhardt

POEMA – “O BEIJO”

FOI O QUE NUNCA
Te dei
A não ser
Com o olhar,
O primeiro,
Esse beijo,
Dei-to, pois,
Sem te tocar.

E DEI-TE MAIS,
Com palavras,
Quando olhar
Já não podia,
Foste embora
Para longe
E eu, triste,
Não te via.

FORAM BEIJOS
Que sonhei
Na rotina
Dos meus dias
E desejos
Que enfrentei
Quando tu mais
Me fugias.

MAS DOU-TE BEIJOS
Escritos
Que se perdem
No caminho
 E se me falta
O poema
Fico ainda mais
Sozinho.

O BEIJO
É emoção,
É razão
Descontrolada,
Se não for dado
A tempo
Pouco mais será que
Nada.

SEM BEIJO
Não há amor,
Sem amor
Perde-se o beijo,
A vida perde
Sentido
Se me faltar
O desejo
De na alma
Te beijar
Por assim te ter
Perdido.

AQUI O LANÇO
Ao vento
Pra que atinja
Como brisa
E suave melodia
Esse rosto
Que precisa
De afecto
Em poesia.

ESSE BEIJO
Que me falta,
De que nunca
Fui capaz,
Voa pra ti
Em palavras
Na sua forma
Mais pura
E desejo que,
No trajecto,
Voe, voe
A grande altura,
Que fantasmas
Não o bebam
E minha dor
Tenha cura.

MAS SEI
Dos escolhos
Da via,
Dos perigos
Que ele corre,
Capturado
Por fantasmas
É mensagem
Que me morre.

NO DIA DO BEIJO
É hora
De te cantar
Em voz alta
A poética do amor
Pra me redimir
Dessa falta
Com palavras
De poeta
Desenhadas para ti
Com mestria
De pintor.

E PORQUE O DIA
É teu
Ganha força,
Intensidade,
Mesmo que fantasmas
O bebam
É um beijo
De verdade.

ESSE BEIJO
Que não dei
Foi pecado
Original,
Hei-de sofrê-lo
Pra sempre
Como chaga
Corporal.

NÃO HÁ PALAVRAS
Que bastem
Pra repor
O que não dei,
Elas voam,
Mas não chegam
E mesmo assim
Eu tentei.

É CERTO QUE SEMPRE
O quis,
Só que nunca
To roubei,
A culpa foi desse tempo,
Dos dias em que
Te amei,
Um tempo em diferido
Sem presente
Nem futuro,
Talvez beijo
Sem sentido
Porque queria
Do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas
Do Paraíso,
Um beijo
De divindade,
Mas simples
Como um sorriso.

ESSE BEIJO
Impossível
Que não é do
Foro humano
Vou tentando
Construí-lo
Cada dia, cada ano,
Perdendo-me
Pelo caminho
Como sagrado
Em profano.
Jas_06Metamorfose04062021Metamjpg

“A Ponte”. Jas. 07-2021. Detalhe.

METAMORFOSE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Ponte”.
Original de minha autoria
para este poema.
Julho de 2021.
Jas_04Metamorfose04062021

“A Ponte”. Jas. 07-2021.

POEMA – “METAMORFOSE”

CAMINHAS
Suavemente,
Tão irreal,
Sobre todas 
As cores
Que te dei.
És planta
De Jardim
Com perfume
Que eu sempre
Procurei...

TENS FLORES
Brancas
No corpo,
Aquelas de que
 Cuidei,
Alimento
De meus olhos
E aroma
Dos poemas
Que para ti
Cantarei.

CAMELLIA
É o teu nome.
Encontrei-te,
Desta vez,
Em profunda
Solidão,
Alvura
Tão luminosa
Que quase
Te desejei
Na palma
Da minha mão.

QUIS TRAZER-TE
Para dentro
Do poema,
Disseste
Logo que sim,
O encanto 
De um abrigo
Que é cuidado
Por mim. 
 
FALEI CONTIGO,
Dei-te palavras,
Apontei-te
O caminho
Pra vencer 
A solidão
Pois, tu,
Divina brancura,
Não sofrerias
A dor
Se viesses ao
Abrigo
E me desses
A tua mão...

CAMINHÁMOS
Juntos
Numa ponte
Prà outra margem
Da vida
Com passos
De liberdade
Que nunca
Pra nós seriam
Passos de
Despedida,
De tristeza
E de saudade.

VEJO EM TI
Uma mulher
Deslumbrante,
Recrio-te
Com afeição,
Pinto-te
Em movimento,
Quero-te livre
A voar
Ao sabor
Da inspiração,
É azul o teu
Caminho,
Levo-te eu
Pela mão.

ESSA PONTE
De papel
Que parece um
Arco-íris
Vai levar-te
Ao Jardim
Onde a cor
É alimento,
É como favo
De mel,
De meus olhos
O sustento
Quando pinto
O teu rosto
Com palavras...
..........
A pincel.

COMO VÊS,
A solidão
De uma flor
Pode ser libertação
Se a pintarmos
Com palavras
E lhe dermos
Muita cor
Com a força da
Paixão.

ARTE AO VIVO – 5

No meu Jardim Encantado
“Pasárgada”, 2021

Partilho a imagem de mais um quadro já pronto para a Exposição em preparação, 108×138, em papel de algodão Hahnemuehle e com vidro de museu (70%). Este quadro pode ser adquirido, mediante comunicação de eventual interesse via E-mail, WhatsApp ou Messenger.

JAS – “PASÁRGADA”, 2021

PasargadaPub

JAS – “PASÁRGADA”, 2021

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AUSÊNCIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Silêncio”.
Original de minha autoria.
Junho de 2021.
JAS_3Deusa2021PubLUZ

“Silêncio”. Jas. 06-2021.

POEMA – “AUSÊNCIA”

SINTO A TUA FALTA,
Ah, eu sinto,
Por isso canto e danço
Até cair exausto
No palco
De um poema.

SINTO O TEU SILÊNCIO,
Que já nem
Murmúrio é,
Um vazio cá
No fundo
De que o canto
É o eco
E sofrido
Contraponto.

RECORDO,
Mas já não sinto,
O veludo
Da tua pele
E, por isso,
Eu a pinto
Numa folha
De papel.

EU NÃO OUÇO
A tua melodia.
Caio, pois,
Sempre em silêncio
Para melhor
Te sentir
Cá dentro
Da fantasia.

FAZ-ME FALTA
A tua voz,
Faz-me falta
O teu sorriso
E como já nem
Me pintas
O nome
Eu canto-te
No meu poema
Pra que te possa
Inventar.

DA TUA FALTA
Nasceu em mim
Uma orquestra
Para uma
Sinfonia,
Contraponto
Do silêncio
Que teimas
Em desenhar
Como tua melodia.

NA TUA AUSÊNCIA
Eu vejo corpos
Que dançam
Abraçados
Ao sabor da
Fantasia
Em andamentos
Sem fim,
Vejo luzes,
Vejo cores,
Sinto aromas
De mil flores
Que me fazem
 Companhia
Neste palco
De um poema
Inacabado
Porque lhe falta
Alegria.

TU FALTAS-ME
E eu revivo-te
No canto e
Na cor,
Na dança
E no amor...
............
Em poesia.
São palavras
Que lanço
Ao vento,
Construindo
As pontes
Invisíveis
Desta minha
Utopia.

TUDO RECRIO
Pra te reencontrar
À distância
De um poema,
Cantar-te,
Dançar
Com as palavras,
Dizer-te
Em surdina
Para melhor
Ouvir
O que nunca
Me dirás.

VISITO-TE, ASSIM,
Das mil maneiras
Com que te
Procuro
E te digo,
Encerrado
Nesta torre
De marfim,
Numa teia
Enredado
Pra melhor
Te reviver
Com a leveza
Da arte
Cá bem mais
Dentro de mim.

JAS_4Deusa2021PubLUZRec

NA BRUMA DA MEMÓRIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Magia”.
Original de minha autoria.
Junho de 2021.
MagiaFinal2021Ret

“Magia”. Jas. 06-2021.

POEMA – “NA BRUMA DA MEMÓRIA”

QUERIA LEVAR-TE
Uma rosa
Branca
Aos sete céus
Do meu afecto,
Desci fundo
Na memória
Onde ainda te
Guardava
Como se fosse
Teu tecto.

PROCUREI-TE
Na bruma
Espessa
Que caía
Sobre mim
E quase não te
Encontrei,
O tempo gastara
O passado,
Ficou uma saudade
Sem fim.

PERDERA-TE
O rasto
E o perfil,
Até teu nome
Perdeu cor,
Teu olhar
Luzia
Intermitente
Numa neblina
De dor.

NO MEIO DA NEBLINA
Esfumava-se
O teu rosto
De tanto eu
Te perder,
Era incerto
O cintilar
De teus olhos
Na vontade
De te ver.

ERAS BRUMA
Indefinida
Nos céus onde
Te quis encontrar,
Mas sobraste
Como imagem...
..............
A que eu soube
Desenhar.

PERDI-TE A VOZ
E a tua
Melodia,
Quase tudo,
Meu amor...
...............
Ah, mas, no fim,
Não te perdia...
Ficou-me de ti
O sabor.

PORQUE JÁ ERAS
Imagem
Que me sobrou
Desse afecto
Que por ti
Sempre senti,
Construção
De arquitecto
Para nunca
Te perder
Desde o dia
Em que te vi.

E VOLTEI.
(Eu volto sempre).
É desejo
De te ver,
Dar-te corpo
Nas palavras
Com que te quero
Dizer
Ainda que
Do poema
E dos céus
Do meu afecto
Acabe por
Te perder.

AGORA, DESENHO-TE
Com palavras e
Com cores,
Com paisagens
Que tenho dentro
De mim,
Com rostos,
Com aromas
E flores
Deste bendito
Jardim,
Um passeio
Com pavões,
Uma delicada
Utopia,
Gritos de alma,
Emoções...
................
Pra te recriar
Com magia
E contigo
Caminhar
No alto
Da fantasia,
Onde vive
Essa imagem
Que desejo
Encontrar.

VOO, POIS,
Com uma rosa,
Vestido como
Arcanjo,
Pra te ver
Ali ao perto,
Olhos negros,
Cintilantes,
Mas um pouco fugidios
Ao jogo da sedução
Numa noite
De luar...
............
Ou talvez
De perdição.

É UMA ROSA
De brancura
Transparente
Pra que sintas
Lá bem alto
O aroma
Desta minha fantasia.
Talvez assim
Te encontre
Envolta na neblina
Que nunca se dissipou
(Mas agora cristalina)
Desde aquele
Incerto dia
Em que o nosso
Olhar se cruzou.
MagiaFinal2021Ret_REC

“Magia”. Detalhe.

ARTE AO VIVO – 4

NO MEU JARDIM ENCANTADO

Partilho a imagem de mais um  Quadro, dimensão 66×83, já pronto para a Exposição em preparação, em papel de algodão Hahnemuehle e vidro de museu (70%). Este quadro pode ser adquirido, mediante manifestação de interesse via E-mail, WhatsApp ou Messenger.

Título da Obra - “MARÇO” (2021)

Março2021

Março1 copiar

ELAS FOGEM, AS PALAVRAS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Letras”.
Original de minha autoria.
Junho de 2021.
Jas_Novo_Palavras0308

“Letras”. Jas. 06-2021.

POEMA – “ELAS FOGEM, AS PALAVRAS”

QUERIA FAZER-TE
Um poema,
Ser feliz,
Sentir nele
A liberdade
E as palavras
Endoidaram
Quando te queria
Cantar
Invocando
A saudade.

FUGIRAM
Numa revolta
Sentida
Sem conhecer
A verdade,
Deixando-me
Só
Nesta vida,
À deriva,
Sem dó
Nem piedade.

EU ESTAVA
A MENTIR
Sem pensar
Na crueldade
De as usar
Como queria
Só porque
Tinha saudade...

ESGUEIRARAM
Rua fora,
Cada uma
Por seu lado,
Espavoridas,
Em fuga
Deste poema
Tentado.

UMAS ESVOAÇAVAM
No fio
Do horizonte,
Outras
Aninhadas
No passeio
Desta rua
E eu a tentar
O versejo
Enredado
Num enleio
Para dar vida
Ao desejo.

PALAVRAS
em correria,
Letras
Perdendo forma
Como fios
De novelo
Já desfeito
De sentido
Como a água
Do gelo.

SÃO FIOS
Emaranhados,
Letras
Que se deslaçam
E procuram
Outras formas
Para lá da minha
Rima,
Como riscos
Numa tela
A subir
Por ela acima.

QUERIA FAZER-TE
UM POEMA
Com palavras
Desenhadas,
Mas as palavras
Fugiam
E corriam
Assustadas,
Não se viam
Alinhadas
Nesse recanto
Feliz
Onde resisto
À saudade.

ELAS GOSTAM
De cantar
Quando me sentem
Em dor,
Elas gostam
De vibrar
Se me assalta
A emoção,
Mas se me vêem
Feliz
Fogem de mim,
Dizem “Não”.

O POEMA
PASSARINHO
Procura-te
Pra cantar
Mas quando
A dor esvaece
É ele que foge
A voar.

E HOJE
É mesmo assim,
Fogem todas
As palavras
Sem procurar
Um destino,
Já não consigo
Agarrá-las
Num poema
Genuíno.

NÃO SABEM
Da minha dor
E por isso
Vão embora.
Estou sem palavras,
Amor,
Estou muito triste,
Agora.
Jas_Novo_Palavras0308Recort

“Letras”. Detalhe.

O POEMA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Auto-Retrato
de um Poeta”.
Original de minha autoria.
Junho de 2021.
Jas_AutoR210719_21

“Auto-Retrato de um Poeta”. Jas. 06-2021.

POEMA – “O POEMA”

PARA QUE SERVE
O poema
Se ela,
Do outro lado
Da rua,
Não o vê e
Não o ouve,
Não lhe sente
O perfume?

AH, MAS EU SINTO-A
A ela
Do lado de cá
Do poema
E pinto-a
Em aguarela
Pra que veja
A minha cor,
 Olho-a, pois,
Com palavras
E falo-lhe
Como pintor.

PARA QUE SERVE
O poema?
Aquece
A minha alma,
Digo tudo
O que sinto
Mesmo quando
Nos meus versos
Até parece
Que minto.

MAS NÃO ESCREVO
Pra ela
Que não a vejo
À janela
A ver passar
O poema
Na rua do
Desencontro.

O POEMA
É de quem
O possa ler,
Fruir-lhe
A melodia,
É a festa
Dos sentidos,
Da alma
A sinfonia,
É prazer
E emoção,
Só o ouve
Quem o sente,
O poema
É fremente,
Não é coisa de
Razão.

É CANTO
Em harmonia,
É pulsão
Que o sentimento
Desperta,
É sopro que me
Liberta
Das amarras
Da paixão
Porque voo
Em palavras
Ao sabor
Da emoção.

E SE A CHAMO
Ao poema
É pra ter
De volta
O meu eco,
Ouvir o som
De uma dor,
Decantá-la
Em palavras,
Convertendo-a
Em canto
Libertador
Dessa prisão
Que enleia
A que chamamos
Amor.

POR ISSO
EU SOU POETA,
Canto pra quem
Me ouve,
Não aguardo
Reacção,
Porque quando
Alguém nos deixa
Dá vida
À poesia
E asas
À solidão.

EU CANTO-ME
Nestes poemas
Pra resgatar
Minha dor
E se a poesia
Não chega,
As palavras
Não me bastam,
Pois que seja,
Sou pintor.
Jas_AutoR210719_21Rec

“Auto-Retrato de um Poeta”. Detalhe.

O POETA E A MÁSCARA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Transfiguração”.
Original de minha autoria
para este poema.
Maio de 2021.
RossoPub3

“Transfiguração”. Jas. 05-2021.

POEMA – “O POETA E A MÁSCARA”

COMPREI UMA MÁSCARA,
Pu-la no rosto do
Meu amado poeta
E ele não a
Enjeitou.
Ainda por cima
Me disse:
“Sou eu, sou,
Como nas palavras
Que digo
Também meu corpo
Mudou”.

“NÃO ESPERAVAS
Ver-me assim,
É grande o teu
Espanto,
Vá, confessa,
Ganhei um corpo 
De rosa,
Tanta cor
(A que apeteça),
Um rosto
Dissimulado
Pra me curar
Desta dor
Sempre que ela
Apareça
A pedir o meu
Cuidado”.

“ADOPTEI ESTA FIGURA,
Apresento-me assim,
As outras
Nada te dizem,
Com esta
Olhas pra mim”.

“PALHAÇO
É O QUE SOU,
Falo a
Surdos e mudos
Que não ouvem
O que digo
Nem me dizem
O que quero
Como se fosse
Mendigo
Do que, afinal,
Nem espero”.

“VALHA-ME POIS
ESTA MÁSCARA.
Assim,rio
Desta vida,
Rio de ti
E de mim,
Da chegada
E da partida,
Dos abraços,
Das palavras
E, enfim,
Da despedida”.

“SOU PALHAÇO,
É o que sou,
Entretenho-me
A cantar
E se ouvires
Este meu canto
Um poeta
É seu autor,
Por isso tu
Tu não t’importes,
O que diz
É de certeza
Para espantar
Sua dor”.

A MÁSCARA
É o seu rosto,
Colou-se-lhe
Logo à pele
Com a cola
Do desgosto
E por isso
Já nem sabe
Se seu rosto
É o dele.

COMPREI UMA
MÁSCARA
Vermelha
No mercado
Da minha vida,
Ponho-lha sempre
Que posso,
À chegada
E à partida,
E se puder
Não lha tiro
Pra não lhe rasgar
A alma
Pois se o canto
O liberta
É a máscara
Que o salva.
RossoPub3Rec

“Transfiguração”. Detalhe.

LA PORTA DEL TEMPO

Poesia di João de Almeida Santos.
Pittura: "Trasparenza". 
Originale mio.
Maggio 2021.
JAS_Transparência230521_Publicado

“Trasparenza”. Jas. 05-2021.

POESIA – “LA PORTA DEL TEMPO”

UN GIORNO DI PIOGGIA
O di sole
(Non saprei dirlo)
Bussano
Alla porta della mia
Memoria,
Bussano piano,
Leggermente,
Come chi ti chiama,
Come chi ti dice
Cosa sente.

È TRASPARENTE
La porta.
Da li
Si vede il mondo...
E ti ho visto,
Così,
Ho visto il tuo viso
Disegnato
Como se fosse
Un ritratto.

HO VISTO LE TUE LABBRA
Sensuali
Tinte di porpora,
Carnali,
Ho visto il verde
Brillante
Dei tuoi occhi 
Quando il sole,
Innamorato,
Li accende
E mi dà fuoco
All’anima
Perché sto
Accanto a te,
Anche io
Ammaliato.

NON SO SE
Mi hai percepito
Nel mondo magico
Della mia
Fantasia,
Luogo di sogno
E desiderio,
Il mio riparo
Dell’utopia.

SEI ENTRATA
Vibrante,
Brillando
Come l’arcobaleno,
Scintilla
Trasbordante
Di colore
Che arde
E mi brucia...
..........
D'amore.

MA ANCHE TU
Eri trasparente.
Ti guardo
E vedo in te
Il cielo plumbeo
E quieto
Invocando
Malinconia,
Pace,
Nell’inquietudine 
Del giorno,
All’anima mia.

ALL’IMPROVVISO
Nella trasparenza
Del tuo viso
Irrompe il sole
Dorato
Tra il candore
Sfumato
Delle nuvole
Sfuggevoli,
In alto, 
Sulla Montagna
Che sempre 
I miei giorni
Accoglie.

IL DORATO
Diventa ambra
E ti copre 
Il corpo
Nudo
Nell’intangibile
Memoria
Dove sempre
Ti rivedo
Quando si apre
La porta
Del tempo
Con la chiave
Del desiderio.

TI GUARDO COSÌ,
Un pò perso,
In estasi,
E provo a sfiorare
Leggermente
La tua pelle
Di velluto
Satinato...
............
Ma il sole
Ti scolpiva
Il viso
Di luce
E io rimasi
Appena un riflesso
Dei tuoi raggi
Filtrati
Che segnavano
Il destino
Dei miei desideri
Sognati...

MI SVEGLIAI
Sentendo
Delle dita
Che bussavano
Pian, piano
Più in là,
Alla porta
Della mia camera
Immaginata.
Corsi ad aprirla...
.........
Nessuno.
Solo pura 
Nebbiolina
Io vidi.

SONO TORNATO, VELOCE,
Ai colori
Della mia memoria
Per ritrovarti
Nella magia
Del mio mondo,
Ma non c’eri più
Neanche come riflesso
Del tuo lato
Più profondo...

AVEVO LASCIATA APERTA
La porta del tempo...
Tiransparência230521_PublicadoEsteR

“Trasparenza”. Dettaglio.

A PORTA DO TEMPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Transparência”.
Original de minha autoria.
Maio de 2021.
Tiransparência230521_PublicadoEste

“Transparência”. Jas. 05-2021.

POEMA – “A PORTA DO TEMPO”

NUM DIA DE CHUVA
Ou de sol
(Eu já nem sei),
Batem
À porta da minha
Memória,
Batem leve,
Levemente,
Como quem chama
Por mim,
Como quem diz 
O que sente.

É TRANSPARENTE,
Essa porta.
Vê-se o mundo
Através dela...
E eu vi-te,
Assim,
Vi teu rosto
Desenhado
Como se fosse
Uma tela.

VI TEUS LÁBIOS
Sensuais
 De rubro
Tingidos,
Carnais,
Vi o verde
Brilhante
De teus olhos
Quando o sol
Os acende,
Apaixonado,
E a minha alma
Incendeia,
Por estar ali
A teu lado.

NÃO SEI SE
Me pressentiste
No mundo
Mágico
Desta minha
Fantasia,
Lugar de sonho
E desejo,
 Recanto
De utopia.

ENTRASTE NELE
Vibrante,
Com brilho de 
Arco-íris,
A transbordar
De tanta cor,
Esse brilho
Que me arde
E que queima,
Meu amor.

MAS ERAS
Transparente
Também tu.
Olho-te
E vejo
Através de ti
Um céu plúmbeo
E quieto
A rogar
Melancolia
Que me pacifique
A alma
Na inquietação
Deste dia.

SUBITAMENTE,
Na transparência
Do teu rosto
Irrompe 
O sol,
Coado em dourado,
Por entre a leveza
Esfumada
De nuvens brancas, 
Fugidias,
A nascente,
Lá no alto
Da Montanha
Que inspira
Os meus dias...

 O DOURADO
Ganha tons de
Âmbar
E veste-te o corpo
Nu,
Na intangível
Memória
Onde sempre
Te revejo
Quando se abre
A porta 
Do tempo
Com a chave do
Desejo.

CONTEMPLO-TE,
Assim,
Já um pouco
Perdido,
Extasiado,
E quero tocar,
Ao de leve,
A tua pele 
De veludo
Acetinado...
...........
Mas o sol
Esculpiu-te
O rosto de
Luz
E eu já só era
 Um reflexo 
Dos teus
Raios filtrados
Que marcavam
O destino
De meus desejos
Sonhados...

DESPERTEI
Ao som
De dedos que batiam
Levemente,
Mais além,
À porta
Do meu quarto
Imaginado.
Corri a abri-la...
.......
Ninguém.
Era pura neblina 
O outro lado.

REGRESSEI, RÁPIDO,
Às cores
Da minha memória
Para te reencontrar
Na magia
Do meu mundo,
Mas tu já não
Estavas,
Sequer como reflexo
Do teu lado
 Mais profundo...

DEIXARA ABERTA
A porta do tempo...
Tiransparência230521_PublicadoEsteRec

“Transparência”. Detalhe.

A FRONTEIRA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Horizonte”.
Original de minha autoria.
Maio de 2021.
JAS_Horizonte2021_12

“Horizonte”. Jas. 05-2021.

POEMA – “A FRONTEIRA”

OLHO A MONTANHA
Da porta
De granito
Amarelo,
Com cristais,
Sobre o ocre
De um telhado
Como se fosse
Janela
De um palácio
Encantado
Que do sonho
Fosse cais.

CONTEMPLO
A linha do horizonte,
Mas é diferente
A visão.
Antes, eu via futuro,
Agora, vejo passado,
Essa tão bela
Ilusão
De a ter sempre
A meu lado.

ENTRE PASSADO
E FUTURO,
É a minha
Identidade,
Ficou quieta
À minha espera
Quando dela
Eu parti
Ao encontro
Da cidade.

ELA É PORTO
De abrigo
E é lugar de
Partida,
É, pois, mais
Que uma porta,
É fronteira
Que passamos
No desafio
Da vida.

MAS É ETERNO
Retorno,
Um regresso
Renovado
Onde posso
Renascer
Quando visito
A memória
Do que não
Quero perder,
Ficando sempre
A seu lado.

ESTA PORTA
É magia,
Viajo sempre
Por ela
Porque é uma
Janela
De onde voa
A fantasia.

DELA ALCANCEI
O mundo
E o mundo veio
Até mim,
Ao passar por
Esta porta
Sinto o meu
Horizonte
Como fronteira
Sem fim...

POR ISSO REGRESSO
A ela,
Esse pilar
Do meu ser.
Quando chego,
Logo amanhece,
E quando estou
De partida
Sinto que
 O mundo
Acontece
Como a montanha
Na vida.
JAS_Horizonte2021_12Rec

“Horizonte”. Detalhe.

UM BRILHO NOS TEUS OLHOS…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Teus Olhos”.
Original de minha autoria.
Maio de 2021.
Jas_TeusOlhosPublicadoFinal2_0905

“Teus Olhos”. Jas. 05-2021.

POEMA – “UM BRILHO NOS TEUS OLHOS…”

OLHEI-TE NOS OLHOS,
Eram negros,
Intensos
E tão profundos,
Toquei teus cabelos
Com o olhar,
Caminhei a teu lado
Nesse jardim,
Senti o teu corpo
Tão perto de mim
A respirar
O acre perfume
Dessa ramagem
Do belo jasmim...

INEBRIOU-ME
Esse intenso
Aroma
E eu enredei-te
Num tão doce
Enleio
Que não tinha fim...

BRILHARAM
Pra mim,
Tão docemente,
Duas horas inteiras,
Esses teus olhos...
..................
E neles me perdi.

ESTIVE NO CÉU
Ao lado de deus
E lá vi dois sóis...
..................
Que não eram dele
(Uma luz intensa)
Porque eram teus.

MAS O TEMPO
Correu
Depressa demais...
...................
E é sempre assim.

TODOS OS DIAS
Se tornam iguais
Quando tu partes
E, em nostalgia,
Eu fico no cais.

VOLTEI A OLHAR-TE
Três horas seguidas.
Parecia verdade,
Mas era ilusão
Porque partiste
Deixando-me só
E o que sobrou
Foi solidão.

SUBIU A TRISTEZA,
A saudade irrompeu
Colou-se-me
Ao rosto...
..............
E como doeu!

SE EU NÃO TE VEJO
Sinto
Falta de ti,
Mas se te encontro
Logo te perco
Porque o tempo
Voa
E logo te leva
Pra longe dali.

TER-TE DEMAIS
Aumenta a saudade
E quando te vais
São tristes
As ruas
Da nossa cidade.

AINDA QUE TRISTE
Eu sou feliz
E com estas mãos
Te vou escrevendo
O que quero dizer,
Mas este meu tempo
Volta a correr
E cresce a vontade
De logo te ver
Mesmo que saiba
Que é nesse instante
Que te vou perder.

TENHO SAUDADES,
Saudades de ti
Desse virar
Da nossa esquina,
Na mesma rua
Onde te vi,
Dessa janela
Donde espreitávamos
O que do mundo
Sobrava pra nós.

EU JÁ NEM SEI
Que hei-de fazer,
Ter-te demais
É puro prazer,
Mas quando te vais
Fico sombrio,
Quase a morrer.

NEM SEI QUE TE DIGA.
Quando me deixas
Já nem sinto a dor
Tão grande a tristeza
De já não te ter
Pois tu partiste
Mesmo sem querer,
Ah, meu amor.
Jas_TeusOlhosPublicadoFinal0905R

“Teus Olhos”. Detalhe.

NÃO SEI

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Folhas Caídas"
Original de minha autoria
para este poema.
Maio de 2021
Magnolândia020521Pub

“Folhas Caídas”. Jas. 05.2021.

POEMA – “NÃO SEI”

SE ME PERGUNTARES
Por que razão
Eu te amo,
Respondo-te
Com timidez:
Eu não sei,
Mas sinto-te
Como dor
Que persiste
E que derramo
Nos poemas
Que te faço
E que sempre
Te farei.

SE ME PERGUNTARES
Pelo que dói
Neste tão estranho
Amor,
Respondo-te
O pouco
Que ainda sei:
Que sinto
Pungente dor
Esparsa
Sobre meu corpo
Como sentido
Penhor
De um rapto
Imprevisto
Que nunca há-de
Ter fim.

SE ME PERGUNTARES,
Depois,
Se sinto
A tua falta,
Respondo-te
Logo que sim,
Que tenho sempre
Saudades
Mesmo quando
Eu te tenho
Aqui bem junto
De mim.

“ - PORQUE SOU EU
A mulher
Que te merece
Atenção?”.

AH, ISSO EU SEI.
Foi o destino,
A salvação,
Um encanto
Repentino...
..............
E tudo o mais
Eu não sei
Quando te beijo
Na alma.

“- O QUE SABES
TU DE MIM,
Neste teu
Desejo ardente?”

POUCO OU NADA
Sei de ti
E sabendo
O que não sei
Não te amaria
Às cegas,
Assim tão
Intensamente...

AMAR-TE
É como beber
Tempestades,
É dor que
Não se sabe
Onde está,
É a alma
Sempre quente,
É mistério
Revelado,
É encanto
Permanente,
O reverso
Do saber,
Luz intensa
Que me cega
E também
Fascinação,
Tremor
Que nunca acaba,
Lado oculto
Da razão.

“- PRA QUE ME QUERES,
Então, meu amor?”

EU QUERO-TE
Para te querer,
Simples vontade
De ti
Como fim
Do meu viver,
Sentir saudades
Do que estou
Sempre a perder,
Olhar-te nos olhos
E ver neles
O teu mundo
E o mundo
Dentro deles,
O brilho
Embaciado
De um olhar
Onde um dia
Me revi...
...........
E se acaso
Eu souber
Por que razão
Te amei
Chorarei
Até ao fim
Porque então
Descobrirei
Que por isso
Te perdi.
Magnolândia020521Pub-cópia

“Folhas Caídas”. Detalhe.

LIBERDADE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Liberdade".
Original de minha
autoria para este poema.
 Abril de 2021.
Liberdade250419_21

“Liberdade”. Jas. 04-2021.

POEMA – “LIBERDADE”

PERGUNTEI-TE,
Num dia
De sol:
“Voas comigo
Prà linha
Do horizonte?".
Deste-me a mão
E sorriste:
“Voo, sim,
Pois preciso
De ar puro
Lá bem no alto
Do Monte”.

E PARTIMOS.
Tu levaste
O arco-íris
Que tinhas
Dentro de ti
E eu as letras
Que tinha
Comigo,
Alinhadas
Nesta alma
Solitária,
Feita seu porto
 De abrigo.

ENREDÁMOS
Todas as cores
Com linhas
De palavras
Deslaçadas,
Construímos
Asas em forma
De verso
E voámos
No céu
De um poema
Pintado todo
De azul...

ANDEI CONTIGO
Por lá
Anos a fio,
Vagueando
Ao sabor da
Inspiração,
Levados
Pela brisa
Que sopra fria
No Monte,
Mas afaga
O coração.

E COMO GOSTEI
De voar contigo,
Livres como
Pássaros
Sobre o vale
Onde te encontrei
Um dia,
Construindo
Castelos
Na areia
Com a força
Da fantasia.

É ASSIM QUE EU
Te vejo,
Tecendo a vida
Com sopro
Na alma
E as cores
Do arco-íris
Pintadas
Por tua mão
Como pautas
Coloridas
Dessa bela
Melodia
Que era a nossa
Canção.

FOI ASSIM 
Que nos dissemos
Nesse tempo,
Livres de amarras
Que não nos deixam
Voar,
Cantando 
Em arte
Um destino
Marcado
Pela vontade
De fazer
Da nossa vida
Caminho
De liberdade.
Liberdade250419_21Rec

“Liberdade”. Detalhe.

NOVO

PINTURA 3

DUAS OBRAS de minha autoria
já expostas em espaços privados
(1 - 48X60, papel de algodão
Hahnemuehle, gram. 300 e
2 - 33X48, Cartol., 315).
Abril de 2021.

1. FANTASIA DO POETA. 2019

O Poeta

2. O DESEJO. 2020

O Baile

NOVO
CINCO OBRAS de minha autoria
já expostas em espaços privados
(33X48, Cartol. gram. 315).
Títulos por ordem numérica de 
apresentação das obras infra.
  1. Dame mit Ohrring. 2018.
  2. Bianco&Nero. 2020
  3. Montanha Encantada. 2020.
  4. Horizonte. 2018.
  5. Letras. 2019.

Dame mit

AnaBianco&Nero

Montanha Encantada2018

JAS_Horizonte2018

Letras_JFP

ORIGEM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Voar 
no Céu de um Poema”.
Original de minha autoria
para este poema.
Abril de 2021.
VoarFinal

“Voar no Céu de um Poema”. Jas. 04-2021.

POEMA  – “ORIGEM”

A SUA ARTE
Nasceu contigo,
Do mistério e do
Silêncio
Que te enchia a alma,
A transbordar,
Um inesperado
Encanto
Que o cativou,
Para nunca
Mais parar.

FASCINADO
Pelo teu olhar
Profundo,
O teu ímpeto
Imparável,
Fúrias
Quentes,
Cabelos negros
Desgrenhados,
À solta
Sobre teu corpo
Incerto,
A arder...
.................
Ele sentia-te,
Mas não sabia
Que fazer...

NASCEU, ASSIM,
No teu regaço,
Em tormento,
Aninhado
Na bruma
Densa
E misteriosa
Do encantamento.

DEPOIS CRESCEU
E quis a perfeição,
Seduzir-te
Através do vento
Que te soprava
Na alma,
Palavras cálidas,
Ritmadas
À medida que te
Ia perdendo
No implacável
Tempo
Da renúncia.

E TU COLHESTE
A tormenta
No dia-a-dia
(Eu sei),
Obsessão
Martelante,
Castigada
Com palavras
Repetidas
E gastas
À exaustão
Até à fuga
Para o nada,
Cheia de tudo
O que não tiveste,
De tão sofrida
E tão amada...

MAS LEVASTE
Contigo o poeta
E muito mais,
Grávida de palavras
Não ditas,
Olhares falhados,
Imperceptíveis
Sinais,
Silêncios gritados,
Quieta turbação,
Lava oprimida
No centro de um
Vulcão
Que te alimenta
E consome
Nessa tua inefável
Solidão.

E O POETA
Capturou-te
Dentro de si
Para te libertar
Com metódica
Persistência
Em poemas,
Nuvens
Cintilantes
Que espalha
No teu céu,
Sobre ti,
Para te refrescar
A alma
Incandescente.

E EU,  
Seu confidente,
Vejo-te
Da minha
Janela, ali,
Só,
A olhar
O céu,
As nuvens
Brilhantes
Do poeta,
À espera
Da chuva
E dos trovões
A troar 
Com raios de luz
Sobre o teu
 Sempre inquieto 
Olhar...

MAS UM DIA VIRÁ
O tempo
Do reencontro
Sem clamor
Nestes sofridos
Poemas
Onde o poeta
Te reiventou
Para o amor.
VoarFinalR

“Voar no Céu de um Poema”. Detalhe.

CINCO OBRAS 
de minha autoria
 expostas em espaços privados. 
(50X70, em papel Hahnemuehle, 300)
Título das obras por ordem. 
No fim, 1 e 2 
em sala de jantar.
  1. "CRISTAIS". Jas2020
  2. “S/TÍTULO”. Jas2020
  3. “RUBOR”. Jas2020
  4. “HÁ VIDA NO JARDIM”. Jas2020
  5. “TERRAÇO”. Jas2020

PHOTO-2021-03-04-21-48-34

AG2_Quadro

PHOTO-2021-03-04-21-48-37

AG_Quadro

Marinha2020

AG_Sala

MUSA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Desejo”.
Original de minha autoria
para este poema.
Abril de 2021.
Desejo11_04.21psd

“Desejo”. Jas. 04-2021.

POEMA – “MUSA”

EU TENHO UMA MUSA
Guardada
No fundo
Da minha memória,
Perdi-lhe o rasto
Ao corpo,
Ficou-me dela
O mistério
Que me alimenta
O estro
Quando a saudade
Me assola.

SOBROU-ME
Recordação,
Marcas cá
Dentro de mim,
Desço ao fundo
Da alma
Mas nunca
Lhe vejo
O fim.

E ASSIM NÃO A
VISLUMBRO,
Há uma certa
Escuridão,
Olhar de nada
Me serve,
Restam-me
As cicatrizes
E uma funda
Solidão.

ÀS VEZES DESENHO-LHE
O corpo,
Ponho-lhe cores
Muito vivas,
Pinto a alma
Com palavras,
Dou-lhe nome
Que não é seu,
Levo-a nos meus
Poemas,
Devolvo tudo
O que resta
Do que ela
Não me deu.

VALE-ME A POESIA
Pra onde fujo
Com ela,
É como as ondas
Do mar
Que vejo
Da minha janela.

TENHO UMA MUSA
Nesse mar
Que não tem fim,
Revolvo-me
Nas suas ondas,
Regresso depois
Ao poema
Onde sorri
Para mim.

NÃO IMPORTA
Onde está,
Musa é fonte
De inspiração
Desde que a tenha
Na alma
Esse lugar
De paixão.
Desejo11_04.21psdRec

“Desejo”. Detalhe.

VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Pasárgada".
Original de minha autoria
para este poema.
Abril de 2021.
Pasárgada2

“Pasárgada”. Jas. 04-2021.

POEMA – “VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA”

A Manuel Bandeira
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
É outro mundo,
Irmão,
Quero ir-me
Embora,
Já me falta
Inspiração
Porque a brisa
Do nordeste
Ficou lá,
No Maranhão.

NÃO TENHAS,
Manel,
Saudades,
Nostalgia do futuro,
Temos passado
Que baste
E às vezes
Até foi duro.

VOU CONTIGO
Pra Pasárgada
Não quero
Ficar aqui,
Há tempestade
No ar,
A brisa
Da liberdade
Não passou
Do Piauí.

PRA PASÁRGADA
Quero ir,
Lá todos
Falam verdade,
Por aqui,
Ah,
Eu já nem sei,
Falta-me
Liberdade,
Aquela que
Conquistei.

GOSTO DE TI,
Poeta
Do reino
Da utopia,
Onde se pinta,
Canta
E dança
Ao sabor
Da poesia,
Porque o ar
É do mais puro...
..........
E cheira
A maresia.

NÃO GOSTO
D’estar aqui,
Há ruído
Que é demais,
Esta terra
Já não me serve,
Eu espero-te
No cais,
Vou contigo
No teu barco
À procura
De mar calmo,
Céu sereno
E tudo o mais,
Navegando
No azul,
Peixes voando
No mar,
No horizonte
Uma ilha,
Mulheres lindas
A acenar...

EM PASÁRGADA
Sou feliz,
Danço poemas
Ao raiar da
Madrugada
Até que o corpo
Se canse
Com alma
Apaixonada
E adormeça
No regaço
Da mulher
Que for amada.

POR AQUI OUÇO
Ruído,
Há armas
A crepitar,
Matam poemas
Com gritos,
Já nem podemos
Cantar.

VOU CONTIGO
Pra Pasárgada
No barco
Da poesia,
Lá cantarei teus
Poemas
Seja noite
Ou seja dia
E pedirei
A Athena
Que me dê
Inspiração
E me ajude
A compor
Um hino
À liberdade
Que seja
A nossa canção.
PasargadaRec

“Pasárgada”. Detalhe.

SEGREDO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Deusa das Camélias”
Original de minha autoria
para este poema.
Março de 2021.
210321_6psdFim

“Deusa das Camélias”. Jas. 03-2021.

POEMA – “SEGREDO”

VOU CONTAR-TE
Um segredo:
Amei-te
Em poesia,
Oh, se amei!
As palavras eram
Graves
(Bem sei)
Mas sempre cheias
De cor,
As rimas
Eram suaves
Em melodia
Com dor,
Tudo o que
De ti
Me sobrou...
..........
Meu amor.

CONTEI-TE HISTÓRIAS
De desencontros
E dancei
Com palavras
Luminosas
Que inventei
Para por dentro
Te ver
Nesse jardim
De camélias
Que cultivas
No teu peito
E que eu pinto
Com desvelo
Pra deste modo
Te ter.

CANTEI
Pra te aquecer
Na fria dança
Do silêncio
E contigo levitar,
Voando,
Invisíveis,
Sobre ruas
E sobre praças,
Ao luar,
Para, depois,
Pela manhã,
Acordar
E um arco-íris
Erguer
Como ponte
Desse vale
Exuberante
Onde te sonho,
Neste meu
Entardecer.

SONHO, SIM,
Alheio ao bulício,
Ao indiscreto
Cochichar
Dos que vivem
Na rotina,
Dos que
Não sabem
Voar.

AH, QUE SONHO!
Não sei se
Pousaram
No parapeito da
Tua janela
As palavras
Que sonhei...
.................
E se alguém te
Contou
Que andavam
Borboletas
No ar,
Esvoaçando,
Perdidas,
À procura de pólen
Nos jardins
Verdejantes das
Nossas vidas...

MAS TU PERGUNTAS,
Agora,
Se ainda vivem
As borboletas
De vida breve,
Se regressam
Ou já pousaram
Noutro jardim,
Se há pólen,
Se há vento
Ou pensamento
Que as traga
De volta
Desse incerto
E imprudente
Confim...

E EU RESPONDO
Que a sua vida
E destino
São o brilho
Deste céu
Que vive
Dentro de mim.
210321_6psdFimRec

“Deusa das Camélias”. Detalhe.

CAMINHOS PARALELOS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Voo da Magnólia”.
Original de minha autoria
para este poema.
Março de 2021.
JasMag210321_Pub

“O Voo da Magnólia”. Jas. 03-2021.

POEMA –  “CAMINHOS PARALELOS”

POR CAMINHOS
Paralelos
Nos seguimos
Ao infinito,
Pintei o meu
De vermelho,
Mas o teu
É mais bonito.

GASTEI
As minhas palavras,
Gastei cores,
Eu já nem sei,
Mas porque o silêncio
É de ouro
Só das palavras
Cuidei.

TIREI-LHES
Logo o som
Por saber
Que te doía,
O silêncio
Ficou rei...
.................
Até que falemos,
Um dia.

A ESTES SENDEIROS
Cheguei
Quando eu te
Conheci
Ao romper
Da primavera.
Foram-se anos,
Bem sei,
Desde que o
Destino  
Me pôs
Nessa rua
À tua espera.

AGORA SÃO
Caminhos
Paralelos,
Nisto, naquilo,
Talvez em tudo,
Sei lá,
Tu estás
Do outro lado
E eu não te vejo
Por cá,
Na rua
Da poesia
Que logo ficou
Deserta
Quando te
Foste embora
Dessa forma
Inesperada...
..................
Mas que o oráculo
Previa,
Pois a porta
Estava aberta
Sem fechadura,
Sem nada.

NO HORIZONTE
Que alcanço
Fica o ponto
Destas linhas
Paralelas,
Convergimos
No olhar,
Mas não caminhamos
Por elas
Porque a vida
Nos tirou
Da rua
Da poesia...
..............
E das tuas
Aguarelas.
JasMag210321_PubRec

“O Voo da Magnólia”. Detalhe.

OLÁ

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Evocação 
de uma Magnólia”.
Original de minha autoria
para este poema.
Março de 2021.
Magnólia1103

“Evocação de uma Magnólia”. Jas. 03-2021.

POEMA – “OLÁ”

PEDI-TE UM DIA
Num poema
Que te fiz
Que me dissesses
 Olá.
Eu ficaria feliz
De ouvir a tua
Voz
Sussurrando
O meu nome
Como as águas
Do rio
Beijam as águas
Da foz.

E OLÁ TU ME
Disseste,
Mas rápido
Como o vento
Que sopra
Na minha alma
Quando cruzo
O teu olhar
E me sinto
Estremecer,
Não por fora,
Mas por dentro,
Onde sou livre
De amar.

BALBUCIEI
O teu nome
Já distante
Do olá
Sem saber
O que fazer,
Se chamar-te
Até mim
Ou para longe
Partir,
Por não saber
Que fazer,
Por não saber-te
Sorrir.

MAS QUANDO VIREI
O meu rosto
Vi-te de novo
Austera,
Muito fria
E distante...
............
Ignoravas
O passado
Que passara
Nesse instante.

E, DEPOIS,
Tantos olás
Te pedi,
Tantas vezes
Te chamei,
Os poemas
Que escrevi,
Palavras
Que derramei
Sabendo nada
De ti,
Mas sofrendo
Intensamente
Por tudo
O que já sei,
Por tudo
O que perdi.

TALVEZ O VENTO
Te chame,
Talvez esta flor
Te seduza,
As raízes te
Comovam
Ou o poema
Te diga
Que nunca
É tarde
Demais
E que em seu
Eco
Te encontre
E abrace
Por sinais.
Magnólia1003TRArec

“Evocação de uma Magnólia”. Detalhe de outra versão.

VIAGEM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Espanto”.
Original de minha autoria
para este poema.
Março de 2021.
Jas_Camelia4 cópia

“Espanto”. Jas. 03-2021.

POEMA – “VIAGEM”

ERA UMA VEZ
Uma camélia que,
Num sonho,
Me encantava,
Uma fada
Em busca
Do que eu perdera
No jardim
Onde morava.

FLOR DE ALVURA
Deslumbrante
Iluminou-me
A vida,
Nesse instante,
Na procura das raízes
Que sobraram
De uma estranha
Despedida
De dias que não
Voltaram.

MOSTRAVA
Um inocente
Espanto
De me ver
Assim, sozinho,
De repente
E por encanto,
Perdido
Do meu caminho.

E PARTIU.
Levou
A luz
Que o seu corpo
Acendia
Nesse estreito
Sendeiro
Onde a solidão
Não cabia.

DEIXOU O JARDIM,
Vida adentro
Por caminho
Original,
Era um feixe
De luz
À procura
Do que ficara
Perdido
Lá no fundo,
Num recife
De coral.

MAS ENCONTROU-TE
À tona,
Vagueando
No mar plano
Da vida
Sem saber
Onde ficara
A tua praia
Perdida.

E REGRESSOU
Ao jardim,
Triste
De não te poder
Resgatar
Dessa vida,
À deriva
Em ondas
De alto mar.

FOI À PROCURA
De cores,
Queria muitas
E vibrantes,
E encontrou
No jardim
Umas luzinhas
Brilhantes,
Dessa luz
Que não tem fim
Como a que
Guia os amantes.

E LÁ FOI
E anda ela,
Umas vezes
É pura luz
E outras
É aguarela,
Sempre
À procura de ti,
Levada
Pela corrente,
Com timidez
E espanto,
Por aí,
Até que um dia
Te encontre,
Talvez triste
E conformada,
Aninhada
Num recanto
De vida
Desperdiçada.

DAR-TE-Á
As suas cores,
Regressando
Ao jardim
Pra de novo
Iluminar
A minha melancolia
E ser regada
Por mim
Nas tardes
De cada dia.

CAMÉLIA
Encantada
No poema
E na pintura...
.............
Assim te vou
Recriando como
Fada
Que me cura!
Jas_Camelia4 cópiaR

“Espanto”. Detalhe.

 
 
 
MARÇO
 
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “S/Título”.
Original de minha autoria
para este poema.
Último dia de 
Fevereiro de 2021.
Magnol280221Publcdo

“S/Título”. Jas. 02-2021.

POEMA  – “MARÇO”

GOSTO DE MARÇO,
Entre a neve
E a primavera,
O branco e
E as flores,
Na fronteira
Uma quimera.

GOSTO DO BOTTICELLI,
Dos rostos
E dos corpos
Feminis,
Volúpia de
Transparências
Sensuais,
Primaveris.

GOSTO
Da pele macia,
De seda e
Suave cor,
Gosto
Dos traços
Que desenham
Alvura nas
"Três Graças"...
.............
E no Amor.

GOSTO DO BRANCO
Da magnólia
E do branco
Da Montanha,
Gosto
Dessa cor que
Que brilha
Nos meus olhos
E me acompanha.

GOSTO DE MARÇO.
Entrei nele
Contigo,
No signo do
Desencontro
Que se repete
Num longo
Silêncio fatal,
Marcado
Contraponto
Desse tempo
Imprevisto
De um “triste
Destino”...
........... 
Quase irreal.

PARA TI COLHIA
Flores luminosas
E a inspiração
Crescia
Em estrofes
Desenhadas
Com magia,
 Fingindo
Sentir
O que dizer
Não podia,
Fosse só 
Em duas horas
Ou fosse
Por todo um dia.

NO SIGNO
Do desencontro
Marcado como selo
Lá vou eu
Por aí,
Nem sei porquê
(Ou por falta de ti),
De braço dado
Com Botticelli,
Lá em cima,
na Galleria,
Oráculo
De arte
E fantasia.

SINTO-TE PERTO,
Ah, sinto!
Depuro
A tua imagem
Em bissetriz
De mil rostos
Até se tornar
Ideia
De corpo ausente:
Dialéctica
Animada
De opostos.

DEPOIS REINVENTO-A
A cada instante,
Abraço-a
Com alma
De amante,
Pinto com
Palavras
O seu perfil
Ideal
E fixo-a 
De novo
Neste meu mundo
Mental.

AO ACORDAR,
No amanhecer
De cada poema,
Verei que continuas
Em mim,
De olhos fechados,
Como se fosses
Sonho do que
Nunca aconteceu
Naqueles dias
Passados.

ANDAREI
Por aí
(Os astros o dirão),
Vagando
E pousando 
O olhar
No pólen
Da beleza 
Sensível
À procura
De seiva fresca
Para desenhar
Poemas
E dar vida 
Ao impossível.

LÁ NO ALTO
Te encontrarei,
Imitação
Dos dias
Da criação,
A construir infinito,
Onde, num adeus
Sem fronteiras
Nem cais de partida,
Hás-de desenhar
Com a alma
As mil silhuetas
Ainda inacabadas...
...............
Ou talvez não!

MEU DEUS,
Como gosto de ti,
Em Março,
O mês da floração
Quando a magia
Renasce
Para renovar
A vida
Com a força da 
Paixão.
Magnol280221PublcdoRec

“S/Título”. Detalhe.

COR, DÁ-ME COR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Policromia”.
Original de minha autoria
para este poema.
Fevereiro de 2021.
Campainhas02_2021

“Policromia”. Jas. 02-2021.

POEMA – “COR, DÁ-ME COR”

COR, DÁ-ME COR,
Fico mais perto
De ti
Se vieres
Com o vento.
Cor, dá-me cor,
Que as palavras
Coloridas
Já me sabem
A cinzento.

PALAVRAS
Nunca me faltam,
Nem vivo
Na escuridão,
Ainda consigo
Cantar-te,
Com palavras
Dar-te a mão.

TENHO-AS
Que me cheguem
Para gritar
Em vermelho
O concreto
Do teu nome,
Ver-te, assim,
Tão colorida
No vidro do meu
Espelho
Sem que a tristeza
Assome.

AH, MAS A COR
Se for intensa
E crescer
Em explosão,
Se tiver
Um contraponto
Em palavras
De paixão
Que dão ritmo
Ao azul
Dos teus sonhos
De papel...
............
É tudo
O que eu preciso
Pra t’esculpir
A cinzel.

DÁ-ME COR
Que eu sou
Sensível
Ao brilho
Do teu olhar,
Sinto-o nas
Flores que
Pinto
Quando vestes
O vermelho
Com azul
Como espelho
Ou te cobres
Com as cores
Do arco-íris
Que és.

TU ÉS COR,
Gota d’água
Suspensa
No fio
Do horizonte
Beijada por
Raios de sol
Que despontam
Lá em cima
No meu Monte.

DANÇAS COM ELA,
A cor,
E com ela
Adormeces,
Por amor.
É sopro
De liberdade
Quando a vida
É um sonho
E o poema
A verdade.

 EU GOSTO DE
Te pintar
Com palavras,
Onde o azul é
Mais íntimo
E o verde
Te cobre
Como manto
De primavera,
Onde o vermelho
É pranto
Sem lágrimas
De enxugar
Nem sequer
Em amarelo
Porque me tolda
O olhar.

NA COR DAS MINHAS
Palavras
Te vejo e
Te revejo
As vezes
Que eu quiser
Pois és mais
Do que um desejo
Nos poemas
Que componho
Sobre um rosto
De mulher.

EU GOSTO
Da tua cor,
De me confundir
Com ela,
Dançá-la
Como vida
Em explosão,
Fogo de artifício
Que embriaga
Os sentidos
Como se fosse
Vulcão...

EVOCO
O poeta
Que pedia
“Mais luz!”
Já em seu leito
Fatal...
Tinha luz
Dentro de si,
Mas a cor
Já não entrava
No portal.

ERA CINZENTA
A cor
Que lhe restava
Até ao escurecer
Quando a janela
Se fechava
Ao seu desejo
De ver.

LUZ É COR,
Desperta da
Letargia,
Ressuscita
Do torpor,
É cântico,
É utopia,
Chilreio de
Passarinho
Que anuncia
Os meus voos
Aos azuis
Com que te
Pinto
E afago
Com carinho.

MAS A PALAVRA
Fascina,
É com ela
Que te canto
E leio
Na tua alma.
Na cor, tua
Roupagem,
Danço, sim,
E voo
Em liberdade,
 Mas na palavra
Suspendo
O frémito
Dos meus sentidos
Para melhor
Te sonhar
Por todos os dias
Perdidos...
..............
À deriva
No teu mar.
Flowers210221R

“Policromia”. Detalhe.

CHÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Luz na Montanha”.
Original de minha autoria
para este poema.
Fevereiro de 2021.
JAS_A MontanhaFinal0902

“Luz na Montanha”. Jas. 02-2021.

POEMA  – “CHÃO”

DESCESTE,
Não sei bem
De onde.
Cravaste raízes
Profundas
Neste meu
Sagrado chão.

AO LONGE,
Lá na montanha,
Surge, do nada,
Incandescente,
Um clarão.
São os meus olhos
Que te iluminam...
..............
Ou talvez não.

NUNCA VI
Chover do céu
Tanta luz...
.............
E no chão
Que sempre piso
Tão delicada raiz
Que cresce
Dentro de mim
E, suave,
Me conduz
Como quando
Me sorris.

ESTA LUZ
Que lá do alto
Ilumina
É magia,
É milagre,
É fogo
Que me fascina
Neste meu
Entardecer...
.............
Faz-me voar
Para ti
Apenas para
Te ver.

MAS NAS RAÍZES
Que crescem
Por dentro
E por fora
Como rendilhado
Neste meu chão
Seminal
Fica presa
A minha alma
Como se fosse
Prisão...
....................
Por pecado capital.

ELEVA-SE NELAS
A geometria
Perfeita de um
Monólito
Sideral
Para te invocar
Em ritual
De montanha
Onde possas
Renascer
Como a divindade
Da chama.

A MAGIA
Deste chão,
Despertada pela luz
Que vem lá
De cima,
Do alto,
Devolve-me
A liberdade,
Acende-me a fantasia,
Põe-me a alma
Em sobressalto
E o corpo
Em euforia...

ENTÃO, CANTO
Então, danço
Neste chão
Que é só meu,
Dou asas
À fantasia
E a fronteira é o céu.
JAS_A MontanhaFinal0902Rec

“Luz na Montanha”. Detalhe.

 “UM SONHO NA MINHA ALDEIA”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Rua do meu Jardim”.
Original de minha autoria.
Fevereiro de 2021.
RuaDaAldeia2021Pub

“A Rua do meu Jardim”. Jas. 02-2021.

POEMA – “UM SONHO NA MINHA ALDEIA”

SONHEI-TE ESTA NOITE
Numa rua
Da minha aldeia.
Não sei porquê
(Os sonhos são
Sempre assim),
Caminhámos
Lado a lado
Sem dizer
Uma palavra,
Sem um olhar
De través,
Apenas
Pressentimento,
Cá bem no fundo
De mim,
Sentindo-te
No que tu és.

DUAS VEZES
Lá estive
A sentir-te
Nesse tempo
Diferido
Dos encontros
Intangíveis
Que se desfazem
Nas nuvens
Quando o céu
É proibido
E os afectos 
Impossíveis.

MAS VI-TE
Com nitidez
(Um pouco baça,
É certo)
No silêncio do meu
Sonho,
Em encantada
Alvura
A recordar
Tempo antigo
Quando a neve
Regressava,
Branca e leve
Fria e pura.

FOI NA RUA DO JARDIM
(É assim que eu 
A chamo)
Em frente
Da minha casa,
Onde me via
Passar,
Sendeiro da minha
Vida,
A caminho do futuro
Sem medo
Da despedida.

CRUZÁMO-NOS
Por pouco tempo,
Como na vida real,
Nem um olhar
Nos trocámos,
Tão fugaz foi
Este sonho,
Mas intenso
E vital.

E SE A VIDA
É sonho
Também os sonhos
São vida,
Pois senti que,
Na verdade,
Sonâmbula
Me encontraste
Na rua
De uma aldeia
Nunca antes
Percorrida.

E AQUI ESTOU
A sonhar-te
Outra vez
Nos versos
Com que te chamo,
Recordando que
Te vi
Neste lugar
Que eu amo.

É SEMPRE ASSIM,
Meu amor,
Quanto mais tu
Te esfumas
Mais me cresce
Esta dor...

É POR ISSO
Que te sonho,
Pra desenhar
O teu rosto
Com palavras
De poeta
Que afunda
No desgosto.

MAS DE TANTO TE DIZER
Acabei por
Te encontrar
Na terra
Onde nasci,
Onde a neve
Derretia
Quando o sol
Já despontava
E o manto
Da saudade
Logo de dor
Me cobria.

AGORA A NEVE
És tu,
Fugaz que foi
A passagem
No chão incerto
Da vida,
Como a brancura
De outrora
De saudades
Me doía
Em cada fatal
Despedida.

E SE EU TE
Encontrar
Talvez de novo
Te sinta
Qual cintilante
Magia...
..............
Terei então
A certeza,
Branca e leve 
Pura e fria,
Que recriei
Essa ausência
Para nunca
Te perder,
Como a neve
Da minha rua
Que não há sol
Que a derreta
Na penumbra
Da memória...
.................
Que, no sonho,
É como a tua.
RuaDaAldeia2021FinalRec

“A Rua do meu Jardim”. Detalhe.

VÃ UTOPIA

Poema de João de Almeida Santos.
À “desgarrada” com Manuel Bandeira
(1886 -1968), inspirado em
três poemas seus:
 “Desencanto”, 1912;
“Versos escritos na água”, s.d.;
“Renúncia”, 1906.
(Obras Poéticas. 1956. Lisboa:
Minerva, pp. 33, 40 e 101).
Ilustração: “Cascata”.
Original de minha autoria.
Janeiro de 2021.
Jas_Cascata31_2021_3

“Cascata”. Jas. 01-2021.

POEMA – “VÃ UTOPIA”

“OS POUCOS VERSOS 
QUE AÍ VÃO,
Em lugar de outros 
É que os ponho.
Tu que me lês, 
Deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.” 
E OS MUITOS
Que eu te dei
Deixam claro
O que sou.
Se tu me leres
Saberás que
Não errei
Mas que foi pouco
Do muito
Que agora
Eu te dou. 
“NELES PORÁS 
TUA TRISTEZA
Ou bem teu júbilo, 
E, talvez,
Lhes acharás, 
Tu que me lês,
Alguma sombra 
De beleza...”
BELEZA, SIM,
E algum sentido,
Tristeza e dor
Como castigo,
Por isso eu canto
O que perdi
Pra que o verso
Vá ter contigo
Lá onde estejas,
Queira o vento
Ser meu amigo.
“QUEM OS OUVIU 
NÃO OS AMOU.
Meus pobres versos
 Comovidos!
Por isso fiquem 
Esquecidos
Onde o mau vento 
Os atirou.”
 NÃO OS AMOU,
Mas eu bem sei
Que é verdade
Este amor
Que aqui nasceu
E que cantei
Em liberdade
Em versos
Que o vento
Leu
E te levou
Para matar
A saudade...
...........
Pudesse eu
Salvar-me, assim,
Do que não sou,
Libertar-me
Do silêncio
Que me invade.

OUTROS FARIA
Se pudesse
Para os pôr
Na tua mão,
Não pediria que
Os sonhasses,
Olhos cerrados,
Mente desperta,
Mas que os lesses
Com afeição.

AH, MANEL,
Que bem me sabe
Pôr minha dor
Em poesia,
Em palavras
A emoção,
No cantar
Triste alegria
Por ser intensa
Esta paixão
Mesmo que seja
Vã utopia.

DIZES TU
Em poesia
Que só a dor
Te enobrece.
E dizes bem,
Meu bom poeta,
Alma dorida
Logo me aquece
E com meus versos
Entretece
O que a paixão
Já tanto afecta.
“A VIDA É VÃ 
COMO A SOMBRA QUE PASSA...
Sofre sereno e de alma 
 Sobranceira,
Sem um grito 
Sequer tua desgraça.

Encerra em ti 
Tua tristeza inteira.
E pede humildemente
 A Deus que a faça
Tua doce e constante
 companheira...”
POIS TENHO MEDO
(Eu te confesso)
Que a dor
Me passe,
Perca o poema
Sua raiz,
Essa, sim,
A verdadeira
(Sua matriz),
E fique só
Já sem palavras
E caiam secas
Todas as rosas
Que me povoam
Esta roseira.

SOBRAM ESPINHOS,
Ferem-me a alma,
Saem meus versos
E cai o sangue
“Gota a gota,
Do coração”,
“Volúpia ardente”
Já sem remédio
“Eu faço versos
Como quem chora”
E chamo a dor
A toda a hora
E ela vem
Por compaixão.

AH, POETA,
Ah, meu irmão,
Tu fazes versos
“Como quem morre”
E eu procuro
Neste meu canto
A sua mão.

TU, MANEL,
És a bandeira
E ela 
O meu refrão,
Pra mim és verso
No meu poema
E ela é,
Neste meu peito,
Uma paixão.
Jas_Cascata31_2021Rec

“Cascata”. Detalhe.

 A AGUARELA

Poema de João de Almeida Santos,
inspirado no poema de 
Manuel Bandeira
“Tema e Variações”.
Ilustração: “O Retrato”. 
Original de minha
autoria para este poema. 
Janeiro de 2021.
ORetratoFinal01_21_25

“O Retrato”. Jas. 01-2021.

POEMA – “A AGUARELA”

SONHASTE, MANEL,
Que havias sonhado
Estar à janela,
Sonhando, a cores,
Que estavas com ela.

TAMBÉM EU SONHEI
Que tinha sonhado
E que no sonho
A tinha encontrado,
Passando por ela,
Ali, lado a lado.

MAS, QUANDO ACORDEI
Do primeiro sonho,
Sonhando, eu vi
O seu rosto belo
Numa aguarela
Pintada a cores
Que tinha guardado
Para uma tela.

SONHEI, OUTRA VEZ,
No segundo sonho,
Que era pintor,
Mas que pintava
Sempre o seu rosto
A uma só cor.

DIZIA, SONHANDO,
Que não podia ser,
Seu rosto expressivo
Era arco-íris
Ao amanhecer
E era sorriso
Para o mundo ver.

MAS EU SÓ O VIA
Com a minha cor,
Esse rosto belo
De seda tecido
Que me seduzia
No sonho sonhado
Onde sempre a via,
Ali, a meu lado.

NÃO QUERIA ACORDAR
Do sonho feliz
E nele fiquei
De olhos fechados.

JÁ NÃO ACORDEI
Do sonho sonhado
Porque nessa cor
Fiquei encerrado
Com todo o meu ser...
...................
Talvez por amor.

NO SONHO OLHEI
Para o meu espelho
E logo eu vi
Que essa minha cor
Era o vermelho.

E QUANDO ACORDEI
Do primeiro sonho
Voltei a sonhar
Que desvanecia
Nesse rosto amado
E logo lhe disse,
No segundo sonho,
Que a tinha sonhado.

DISSE-ME QUE NÃO,
Que nunca me vira
Sequer acordado...
.................
E logo acordei
Desse pesadelo
Que me deixara
O peito
Esmagado.

FOI ASSIM QUE VI
Que tinha sonhado
E que ela
Já lá não estava,
Ali, a meu lado.

QUIS ADORMECER
Para a encontrar
Mas não consegui
Sonhar que a via,
Pôr os olhos nela,
Chorar de alegria
Porque descobri
Na minha parede
Aquela aguarela
Que do sonho
Passado
Eu já conhecia:
Era o rosto dela.
ORetratoFinal01_21_25Rec

“O Retrato”. Detalhe.

ENCONTRAR-TE NUM POEMA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “La Diseuse”. Original
de minha autoria para este poema.
Janeiro de 2021.
LaDiseuseFinal_012021

“La Diseuse”. Jas. 01-2021.

POEMA – “ENCONTRAR-TE NUM POEMA”

ÀS VEZES
Perco-me
Em ti
Quando te sonho
No poema,
Ondulas
Entre tristeza
E doçura
Nos teus dias
Mais incertos,
Em momentos
De ventura,
Na fronteira
Do dilema.

SE ÉS TERNA,
Eu estremeço
Porque enleia,
O teu olhar,
Olhos castanhos
Despontam
No suave
Amanhecer
Quando em surdina,
Vibrando,
Partilhas
Esse teu
Acontecer.

CONTEMPLO
A tua imagem,
Beleza
Intermitente,
Por instantes
Muito breves,
Mas logo regresso
Ao murmúrio
Sedutor,
Encanto
Tão inocente,
E a tão meiga
Ternura
Que me afaga
Com pudor.

O TEMPO
Corre sempre
Contra nós
E eu corro
Contra ele
Pra que a saudade
Não chegue
Antes de a partida
Soar
E em meu rio
Desague
Para logo
Transbordar.

VIVO 
No intervalo
Do desejo
De onde te ouço
Dizer
Que não há
Excesso de tempo
Neste efémero
Viver,
Destino
Que te domina
E me impede
De te ter.

MAS PERCO-ME
No brilho 
Desses teus olhos,
Bem cedo
Pela matina,
À procura
Dessa cor
Que logo assoma
Bem viva
Quando o sol
 Te ilumina.

SINTO CALOR
No meu peito
E procuro o teu
Regaço
Pra que me vejas
Por dentro
No poema
Que te canto
E que ouves com
Ternura
Como se fosse
Abraço.

EU GOSTO
Da doçura que te
Invade
Quando recusas
O mundo
Que te atropela
Nas curvas
Da tua vida
Para sentires
Com a alma
O poema
Que te deixo
Quando chega
A partida.

AH, COMO GOSTO
De te sonhar
Dizer-te
Em poesia...
...........
É encanto,
É prazer
E é mistério...
.........
É a vida
Em sinfonia!
LaDiseuse2_012021Rec

“La Diseuse”. Detalhe.

A CARTA

    Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Melancolia”.
Original de minha autoria.
Janeiro de 2021.
Rosto100121PubTrans1

“Melancolia”. Jas. 01-2021.

POEMA – “A CARTA”

DIZEM-ME
Que vagueias
Por aí,
Incerta,
À procura de ti,
Sem saber
Que te vais
Perdendo
Nas rotinas
Inventadas
Dos teus dias.

SENSÍVEL
À incerteza
Do teu caminhar,
Inundei-te
Com rios
De palavras
Sedutoras,
Setas falhadas
Ao coração
Do silêncio
Que te cobre
O rosto...
.................
Para te resgatar.

SEI QUE VIAJAS
Cada vez mais
Para dentro de ti,
Aninhando-te
Nessa melancolia
Sem fundo
Que sempre
Me cativou.

E DIZEM-ME
Que quanto mais
Te resguardas
Na sombra
De ti mesma
Mais procuras
Ver tudo
Sem ser vista,
Seguindo,
Invisível,
O meu rasto
Desenhado
Ao longe
Na neblina
Que se esfuma
E dilui
Lentamente
No frio
Horizonte
Da Montanha
Sagrada.

E ATÉ O VENTO
Que sopra
Lá do alto
Me segreda:
“Curiosa de si,
Abre
De par em par
As janelas
Das tuas estrofes,
Ar puro
Que respira,
Esse canto
De sereia
Que finge
Não ouvir,
Procurando
Decifrar
As tuas ondulações
De alma
No muro
Das lamentações
Poéticas”.

EU SEI BEM
Que te cobres
Com o véu
Escuro
Do silêncio
Para te resguardares
Do olhar
Indiscreto da vida
Sobre ti.

MAS A VIDA,
Meu amor,
É fugaz,
O tempo passa
E deixa marcas
Indeléveis,
Sulcos profundos
Que só o futuro
Desvelará
Porque o passado
Fica inscrito
Num destino
Que só conhecerás
Ao virar
Da esquina da
Tua vida,
Onde só o passado
Brilhará
Como futuro.

AH, SIM,
O reencontro
Acontecerá
Nesse momento,
Quando eu
Já só for
Um sinal
Impresso,
A branco e negro,
Uma vaga memória
Escrita
Perante teus olhos
Húmidos
De me terem
Perdido
Sem saber
Porquê
...............
Ou simplesmente
Como inútil
Expiação
De um pecado
Que nunca
Aconteceu.

ESTAREI LÁ,
Sim,
Nesse destino
À tua espera
Para te dar
Conforto,
Aninhado
Nas palavras
Que ainda
Não sabes
Declinar,
As mesmas
Em que vou
Viajando,
Invisível,
Por dentro
De ti
À procura
Da eternidade
Possível,
Tua e minha
Salvação
Da voragem
Do tempo.
Rosto100121PubTrans1Rec

“Melancolia”. Detalhe.

“O PAVÃO”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Azul no Parque”. Original
de minha autoria para este poema.
 Janeiro de 2021.
Pavao012021_2

“Azul no Parque”. Jas. 01-2021.

POEMA – “O PAVÃO”

FUI AO PARQUE
Do Marechal
Logo ao amanhecer
Num triste dia
De outono
Na esperança de
Te ver
À procura do pavão,
Eram muitas
As saudades,
Já passara
Mais de um Verão.

NÃO TE ENCONTREI
Por ali,
Mas logo vi
O pavão,
Sozinho,
Também triste
Como eu
(Ou talvez não),
Pois nele
Reconheci
As cores vivas
Desta minha
Solidão.

PORQUE É
Tão belo
O pavão?
Exibe-se
Altaneiro
E é assim
Que seduz,
Enche-me
A alma
De cor
E inunda-me
De luz.

AH, O PAVÃO,
Esse seu
Porte austero
Estremece-me
Na alma
E gela-me
De emoção
Porque te chama
À memória
E me afunda
Sem perdão.

MAS SEGUI-O,
Nesse dia,
Parque fora
No silêncio
Luminoso
Dum despertar
De aurora.

FOLHAS CAÍDAS
No chão,
Tapete da
Natureza,
Acolhiam
O nostálgico
Passeio
Do poeta
E do pavão,
Num vaguear
D’incerteza.

NESSE JARDIM
Do simbólico
Encontro
A beleza
Despontava
Em seu ritmo
Natural,
Passos lentos
E cuidados,
Pose austera,
Altivez,
Um singelo
Ritual
Que vivi
Com timidez
Junto ao pavão
Matinal.

CAMINHEI COM ELE
Horas a fio,
Lado a lado,
Sem destino,
Procurando
O teu rosto
Num eterno
Desatino
Que sempre
Acaba
Em desgosto.

JÁ NO ALTO
De um muro,
Oráculo,
Arte pura,
Aparição...
............
Com o olhar
Lhe perguntei
Qual a cor
Da tua alma
Nos jogos
De sedução.

COM POSE ALTIVA,
Rigor
E perfeição
Logo exibiu
Esse azul
Tão luminoso
Onde sempre
Se esfumam
Os traços
Da tua mão...
.................
E logo o encanto
Surgiu
Com teu rosto
Espelhado
Nas cores vivas
Do pavão.
Pavao012021_2R

“Azul no Parque”. Detalhe.

SEGREDO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Porta”
Original de minha autoria.
Dezembro de 2020.
JAS_A PORTA27

“A Porta”. Jas. 12-2020.

POEMA – “SEGREDO”

EU PINTO
E CANTO
O meu destino,
Sonhos velados,
A minha vida,
Procuro a chave
Do meu futuro
E não a porta
Da despedida.

POR ISSO CANTO
Como os pássaros,
Voo mais longe
E com mais cor
Porque no céu
Há mais azul
E nos meus sonhos
Há menos dor.

ERA SEGREDO
Não revelado,
Se o dissesse
Não deveria
Porque dizê-lo
Era pecado
E certamente
Até mentia.

E NÃO O DISSE,
Mas eu pequei
Com um murmúrio
Apaixonado
Em poemas
Tão inocentes
Que foram alvo
De um julgado.

POR ISSO VOO
Sempre mais alto,
Trepo nas cores
Pra lá chegar,
O céu azul
Dá-me alento
Para assim
Poder voar
E meus segredos
Nas nuvens
Brancas
Em liberdade
 Ir dissipar.

LEVO PALAVRAS
Comigo,
Procuro inspiração,
Levo cores
Para o abrigo,
Alimento
Da minha arte
E seiva pura
Desta paixão.

EU CHAMO MUSAS
E tudo o mais
E quando parto
Lá para cima
É sempre festa
No nosso cais.

LEVO-TE A TI
Em fantasia
E deste jeito,
Levo-te sim,
Para que sinta
Lá bem no alto
Ar rarefeito
E menos peso
Nesta dor
Que cai em mim.

EU CANTO
E PINTO
Por tudo isto,
Pra resgatar
O meu pecado
De exaltar
Esse teu rosto,
Iluminar
Em aguarela
Esse enleio
Do meu olhar
Por te ver
Na nossa rua
Debruçado
Na tal janela
E com vontade
De te pintar.

POR ISSO EU
CANTO,
Por isso voo
Por isso subo
Lá para o alto,
Já não os vejo,
Já não os ouço
E já não vivo
Em sobressalto.

MAS VEM COMIGO,
Eu dou-te asas
No infinito,
No céu azul
Voamos juntos
A um só tempo
E o nosso rumo
Será o sul.

VÁ, VEM COMIGO,
Voa mais alto,
Ah, meu amor,
Se tu vieres
Eu já não sofro
E vai-se embora
A minha dor.
JAS_A PORTA27Rec

“A Porta”. Detalhe.

O POETA E O VENDAVAL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “História de 
uma Janela". Original de minha 
autoria (inspirado em 
fotografia da autoria
de Dulce Guerreiro).
Dezembro de 2020.
HistoriadeumajanelaTrab1

“História de uma Janela”. Jas. 12-2020.

POEMA – “O POETA E O VENDAVAL”

VÊS OS DESTROÇOS
Desta janela,
Meu amor?
Foi o vendaval,
O vento zangado
Que passou
Numa tarde
Aziaga
De um frio dia
De inverno...
...............
Uma infeliz e
Rogada praga
Que o levou
Ao inferno.

ERA A JANELA
Da sua vida,
 Olhava-te dela
Quando passavas
Na rua dos seus
Encantos,
Dali voava
Para a terra
De ninguém,
Tendo-te por
Companhia,
Indo sempre
Mais além
Em busca de
Utopia...

NELA DESENHAVA
A cores
De incontida paixão
A tua silhueta
Delicada,
Teu perfil
Em contraluz,
Como sombra
Encantada
Desse rosto
Que ainda
O seduz.

JANELA,
A sua casa,
Banhada
Por luz intensa
E flores
De aromas
Inebriantes,
Uma eterna
Primavera,
Jardim
Onde crescia
O desejo,
De ti sempre
À espera,
Lugar de sonhos,
Berço de poesia,
Porta aberta
Para o mundo,
Templo
De alquimia.

FICARAM
Apenas ruínas,
Um rasto
De memórias quentes,
Cores desbotadas,
Mãos que pedem
Ajuda,
Silhuetas 
Inacabadas,
Uma criança
A nascer,
Mulher que
Espreita o futuro
Em incerto
Amanhecer,
Estranhos pássaros
Que sopram vida,
Figuras
Que renascem
Das cortinas,
Um estranho mundo
Que desponta
Desta janela
Em ruínas.

MAS O POETA
Resiste,
Armado de fantasia,
De palavras sedutoras,
Versos, estrofes,
Riscos e cor,
Respirando melodia...
......................
Ajudado pelo vento
Redentor,
Lança mãos,
Num certo dia,
À história
Interrompida
Nas ruínas
Desse amor
Em vendaval
Para recriar
O templo
Que perdeu
Com a arte
De jogral.

E VOA
E continua a voar,
Passa pela janela
E sobe ao Monte
Para cantar
O que em si
Lhe sobrou dela
E assim a recordar.
HistoriadeumajanelaPubR

“História de uma Janela”. Detalhe.

“SOLIDÃO”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Fantasia”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2020.
ORecantodoPoeta131220psd

“Fantasia”. Jas. 12-2020.

“Os poetas são impudentes em relação
às suas vivências: exploram-nas”
(Die Dichter sind gegen ihre Erlebnisse
schamlos: sie beuten sie aus)

"O que se faz por amor acontece
sempre para além do bem e do mal"
(Was aus Liebe gethan wird, geschieht
immer jenseits von Gut und Böse).

Nietzsche, Jenseits von Gut und Böse 
(Para além do bem e do mal), 1886.
Sprüche und Zwischenspiele: 161. 153.

POEMA – “SOLIDÃO”

PERGUNTEI AO POETA
Sobre a minha
Solidão...
........
E sabes
O que me disse?
Que ela tem
Sete véus
Pra que ninguém
Atravesse
O sagrado
Do seu halo...
....................
Um oásis no deserto,
Confessou.

PERGUNTEI-LHE
Pela dor
Que me resta
(E eu afago)
Deste amor
Que me veio
Ao encontro
Como amarga
Dádiva do céu,
Um sabor
Muito intenso
A algo que não
É meu...

E SABES
O que me disse?
Se já não tens
Alegria
Para encantar
Quem tu amas
Resta-te a dor,
Sobra-te solidão
Em humana
Eternidade...
..............
E uma longa
Evasão
Para cantar
A saudade.

MAS DISSE MAIS.
Não a procures,
Não lhe fales
Nem a vejas
A não ser como
Poeta
Nesse intervalo
Da vida
Que te torna
Intangível
Como pura
Silhueta.

FINGE
Que não é ela
(A que vês lá
Da janela)
O destino do teu 
Canto,
Sobe às nuvens
Pelas linhas
Do seu rosto e
Põe asas
No seu nome,
Mas finge
(Como poeta)
Para que não
Reconheça
A paixão
Que te consome.

E SE UM DIA
Teus olhos
Pousarem nela
Finge outra vez,
Finge que
Não a vês,
Que estás ali
Por acaso,
Como se fosse
À janela,
Que o destino
Te levou
Para fora
Do seu mundo
A satisfazer
Um desejo
Que resgate
A solidão.

PERGUNTEI,
De novo,
Ao poeta
Sobre esta solidão
Que cresce dentro
De mim...

E SABES
O que me disse?
Que também ele
Ia nu,
Viajando nas estrelas,
Com asas
De sete véus,
Transparentes
Como ar,
Mergulhando no azul
Para ver se
A cantava,
Sentado no horizonte,
Tocando o infinito,
Lá onde mais
A amava.

QUERO SER
Como falou
Zarathustra,
(Sussurrou)
Que da paixão
Saia virtude,
Dos demónios
Nasçam anjos,
Da solidão
Liberdade,
Que na dor
Cresça alegria
Cada ano
E cada dia,
Enquanto o poeta
Viver,
Enquanto a possa
Cantar
Com o céu
Por companhia.

ENCONTREI,
Um dia,
O poeta
A caminho
Das estrelas.
Perguntei-lhe
Sobre a minha solidão.
Bateu as asas
E disse:
Voa da tua janela,
Voa
Pra junto de mim
Como se fosses
Pra ela
Com asas
De sete véus
Que o azul deste
Meu céu
Te dará
Libertação.
ORecantodoPoeta131220psdR3e

“Atelier”. Detalhe.

À JANELA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Outono”.
Original de minha autoria
para este poema.
Dezembro de 2020.
JAS3_ AJanelaNovaFinal01122020

“Outono”. Jas. 12-2020.

POEMA – “À JANELA”

COMO GOSTO
De te ver,
Tão singela,
Daqui,
Desta janela.

DIZES,
Com o olhar,
“Olha, voltei!”.
E eu pergunto:
“É mesmo ela?”

O MILAGRE
Desta janela
Repõe
Em mim
O que há muito
Sobrou dela.

SE A PERCO,
Ela renasce
E cresce,
Mas logo
Desaparece.
É um sem fim,
Lembra-se,
Mas logo esquece.

AH, FOI ARAGEM.
Soprou tão forte
Sobre o seu rosto
Que lhe levou
A doce voz
Para o sol-posto.
Perdeu o norte,
Caiu silêncio,
Foi sobre nós.

MAS PORQUE ME DURA
Este sofrer
Se a encontro?
É dor intensa
Só de a ver,
Mas não magoa
E dá prazer.

DA JANELA,
Nesse seu jeito,
Vejo-a singela,
Com a ternura
De quem ama
E nem se cura
Da chama
Só de olhar
E vê-la...
.......
A ela.

PORQUE NÃO FALAS
E não me dás
O teu “olá!”
Mais uma vez?
Vem por aqui,
Passa por cá,
Sem altivez,
Pra te dizer
O que já sabes
Quando me vês...
..............
E faz sofrer.

“MAS EU NÃO POSSO”,
Tu dizes sempre
Com teu olhar:
“Digo-te não.
Mesmo que vá
Não há perdão”.

PORQUE T’ESCONDES
Cada teu dia?
Eu não te encontro,
Perco alegria...
.................
Depois regressas
Pra eu te ver,
Para que saiba
(Tenho a certeza)
Que não há modo
De t’esquecer.

VI-TE MIL VEZES,
Sempre te disse
Com o olhar:
“Quero-te, sim,
Mesmo que fujas
Quando apareces
Não é de mim,
Mas de um outro
Que desconheces”.

PORQUE TE PERDES
No meu olhar,
Sempre me foges,
Olhas em frente
Pra não me ver
E assim recordas
O que tu sentes
Por te querer.

AH, COMO GOSTO
Desta janela...
Se me debruço,
De vez em quando,
Olho pra ela,
Fico feliz
Por logo a ver
Mesmo que saiba
Que nesse instante
A vou perder.
JAS2_ AJanelaNovaFinal01122020Rec

“Outono”. Detalhe.

AZUL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Paraíso”. Original 
de minha autoria para este Poema. 
Novembro de 2020.
Jas_Paraíso

“Paraíso”. Jas. 11-2020.

POEMA – “AZUL”

TANTO AZUL,
Meu deus,
O teu céu,
Esse imenso mar,
É espelho
Dos teus sonhos,
Medida
Do teu olhar.

O MEU É BRANCO
E cintilante
Para te alumiar,
Gotículas
De cristal
Que te acendam
A alma
   Para melhor  
Te guiar.

HÁ UM LEVE 
murmúrio
De nuvens
Que cobre,
Como véu,
O silêncio
Que há muito
Ouço,
Insistente,
Bater-me
À porta
Levemente,
Como quem chama
Por mim.

E QUANDO NOS
SONHOS
Te vejo
Vestida de azul
Turquesa
Entro numa porta
Branca
E voo, voo,
A perder de vista,
Até ao paraíso,
Deixando para trás
O jardim
Inacabado,
Portão aberto,
Escancarado,
Bailéus desenhados
A rigor,
A preto e branco,
Onde um dia
Eu te vi,
Meu amor,
Num estranho
Enlace
Que nunca mais
Terá fim.

NOS SONHOS,
(Em todos eles)
Caio das nuvens
Brancas
Como Ícaro
Ou meteorito
Incandescente
E mergulho
No azul
Para te encontrar
Num arco-íris
Luminoso
Onde vives
Vestida de todas
As cores
Que povoam
As cidades
Invisíveis
Dos poetas...

É NESSE TEU AZUL
Profundo e
Denso
Que respiro
O que me sobra
De ti,
Nos sonhos escritos
E pintados
Com que te vou
 Soletrando,
Insistente,
Até cair exausto
Para adormecer
E me sonhar
De novo
No regaço
Da tua alma...
..............
Pintada
A aguarela.

“Paraíso”. Detalhe.

O JARDINEIRO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Alquimia”.
Original de minha autoria
para este poema. Novembro de 2020.
RosaVermLuz

“Alquimia”. Jas. 11-2020.

POEMA – “O JARDINEIRO”

TORNEI-ME BOM 
Jardineiro,
Troquei letras
Por flores,
Uma Rosa vale um
Verso,
A Camélia
Mil amores,
Um poema
O universo.

QUANTO VALE
Amor-Perfeito?
Fixo-me nele,
Encantado,
Meus versos
Tornam-se cores
E aquecem-me
O peito...
................
Ponho a tristeza
De lado.

PALAVRAS 
Coloridas
Amaciam-me 
A alma
Quando ela fica
Em ferida,
São bálsamo
Que me refresca
E exalta
A minha vida.

POR ISSO VOU 
Ao jardim
Cobrir-me de 
Mil flores,
Nascem versos
Para mim
Com palavras
Que são cores.

OLHO-AS
Com atenção,
Fixo-as 
Com o olhar,
Toco-as 
Com a mão,
Fico ali 
A pensar
No que acontece
Com elas
Em seu lento
Germinar.

NADA MAIS
Quero saber,
Só das cores
Do meu jardim
Que curam
Da alma
A dor,
O que mais
Me faz sofrer,
Ver-te
Tão longe, assim,
Saber 
Que te estou
A perder...

MAS ESSAS FLORES
Não duram,
É mortal a natureza,
Elas perdem-se
No tempo
E só me resta
A saudade...
...............
Vem ter comigo
A tristeza.

NÃO APAGAM
Este triste
Entardecer,
Mas pego-as
Com esta mão
Pra suas cores
Eu beber
À procura de
Evasão.

NAS FLORES
Há doce seiva,
Alimento 
Da beleza,
Nas palavras
Mil perfis,
Quieta, a natureza,
Em cada folha
Um matiz
E até é bela
A tristeza
Quando olhas
E sorris.

UM SORRISO NATURAL
Como pétala 
De flor,
Uma palavra,
Sinal,
Pérola
Que sempre brilhe
No meu jardim
 De cristal.

REGULAR
 É o seu tempo,
Um ritmo
Mais do que certo,
Tudo nasce
E tudo morre
Sob o céu
A descoberto.

MAS RENASCE
Sempre um dia
Pra dizer
“Aqui estou”,
Natureza é alquimia
Que me diz
Pra onde vou.

POR ISSO SOU 
Jardineiro,
Com flores
Aprendo sempre,
Leio-te a alma
No jardim,
Pois natureza
Não mente.

TROCO LETRAS
Por flores
Mas às palavras
Dou rima,
No jardim
Nascem amores
Porque a beleza
Aproxima.
RosaVermLuzR

“Alquimia”. Detalhe.

COR, DÁ-ME COR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Cor”.
Original de minha autoria
para este poema.
Novembro de 2020.
Jas_TCor151120Pub

“Cor”. Jas. 11-2020.

"Donde termina el arco iris, 
en tu alma o en el horizonte?"

Pablo Neruda

POEMA – “COR, DÁ-ME COR”

COR, DÁ-ME COR,
Fico mais perto
De ti
Se vieres
Docemente
Com o vento.
Cor, dá-me cor
Que as palavras
Coloridas
Já me sabem
A cinzento.

OU TALVEZ NÃO.
Palavras
Nunca me faltam
Nem vivo
Na escuridão,
Ainda consigo
Dizer-te
E com elas
Dar-te a mão.

TENHO-AS
Que me cheguem
Para cantar
Ao vivo
O concreto
Do teu nome,
Ouvir assim
O teu eco
Quando a tristeza
Irrompe
E esta dor
Me consome...

AH, MAS A COR
Se for intensa
E nascer
Por explosão,
Se tiver
Em contraponto
Palavras
De emoção
Que dão ritmo
Ao azul
Dos teus sonhos
De papel...
.................
Ah, sim, é tudo
O que eu preciso
Pra te esculpir
A cinzel.

DÁ-ME COR
Que eu sou
Sensível
À luz fulgente
Do teu olhar,
Vagueio nas
Flores que colho
Quando vestes
O vermelho,
A cor viva
Com que brilhas
No cristal
Do meu espelho...
...............
Ou te cobres
Com o manto
Do arco-íris
Que és.

AH, TU ÉS COR,
Gota d’água
Suspensa
No fio
Do horizonte,
Iluminada
De ouro
Pelo sol
Que já desponta
Lá em cima,
No meu Monte.

DANÇAS COM ELA,
A cor,
E com ela 
Adormeces...
..........
Por amor.
É sopro
Da tua alma
Quando a vida
Se faz sonho
E lá no alto
Do céu
Logo te cobres
De azul...

MAS EU GOSTO
De te pintar
Com palavras,
Onde o azul é
Mais quente,
O verde
Esse teu manto
E o vermelho
Emoção
Nos poemas que
Te canto
Com paixão...
...............
Vibra o verso
Em amarelo
Dói-me o peito
De amor
E já treme
A minha mão.

É NA COR
Destas palavras
Que te revejo
As vezes
Que eu quiser
Pois dou corpo
Ao desejo
Nos poemas
Que fizer.

CADA VEZ MAIS
Gosto de cor,
De me confundir
Com ela,
Dançá-la
Como vida
Em efusão,
Fogo de artifício
Que embriaga
Os sentidos
Como lava de
Vulcão...

EVOCO
O Poeta-Mestre
Quando pedia
“Mais luz”
Já no seu leito
Fatal.
Tinha luz
Dentro de si
Mas a cor
Já não entrava
No portal.
Era cinzenta
E ténue
A cor
Que lhe restava
E logo escurecia
Quando a porta
Se fechava...

LUZ É COR,
Desperta da
Letargia,
Ressuscita
Do torpor,
Celebra vida
Com magia,
É canto,
É alquimia,
Chilreio de
Passarinho
Que anuncia
O meu voo
Aos azuis
Que por lá pintas
Como se fossem
Meu ninho.

AH, SIM!
Mas eu gosto
É de palavras,
Foi com elas
Que te vi
Nas letras
Que desenhei,
Os rostos
Que descrevi,
Emoção
Que não calei.

E TU CABES
Em quatro letras
Quando teu
Nome
Tem sete
E me sabe
A Primavera
No meu Jardim
Encantado
Onde tudo
Me fascina
Porque a beleza
Impera
E eu fico
Apaixonado...
Jas_TCor151120PubRec

“Cor”. Detalhe.

“ENCONTREI-TE LÁ EM CIMA, NO MONTE”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração:”Palácio das Artes 
no Monte Parnaso”.
Original de minha autoria
para este poema. Novembro de 2020.
PalácioArtesPubjpg

“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Jas. 11-2020.

POEMA – “ENCONTREI-TE LÁ EM CIMA, NO MONTE”

“Tu prima m’inviasti / 
verso Parnaso a ber ne
le sue grotte, / 
e prima appresso 
Dio m’alluminasti”.

Dante Alighieri. Divina Commedia.
Purgatorio. 
Canto XXII, 64-66.
PERDI-TE
Porque, afinal,
Nunca
Te abracei,
Numa praça,
Numa rua,
Num jardim,
Em lado algum,
Eu já nem sei...

MAS ABRACEI-TE
No Parnaso,
Lá em cima,
Com palavras
Em forma de poema,
Enredado nas
Mil cores
Do jardim encantado
Da tua alma.

VESTIDO DE COR
Senti-me
Afagado
No meu canto,
Umas vezes
Um pouco triste,
Outras
Em sufocado
Pranto
Por não ter
O teu corpo
Junto a mim,
Por não te ter
A meu lado.

SIM, ENCONTREI-TE
No Parnaso,
No Monte
Da luz divina,
No Monte
Da branca neve,
Cristalina,
E, abraçado a ti,
Eu vi lá do alto
A costa
E o mar,
Vi com nitidez
O meu mundo
Interior
E como te devo
Amar,
Aprender
A sonhar-te
Em azul,
A tua cor
E, lá no alto,
Voar...

A NEBLINA
Cobria-te
Para te vestir
E refrescar
A alma
Como chuva
De palavras
Húmidas
Caídas do meu
Céu
Enublado
E triste.

EU NÃO ERA MAIS
Que um espelho
Que te devolvia
Fantasia
Contra a
Petrificação
Que espreitava
Nos olhares
Indiscretos
E volúveis
Que te espreitavam
Em cada dia.

MAS TU NÃO ME VIAS.
Em mim,
Especulavas
(Dizias),
E eu, espelho
Da tua alma,
Gastava assim
Os meus dias...

E DE TANTO
Em mim
Te reveres
Declinaste
O espelho que
Começava
A embaciar-te
A alma...

E NÃO ERA
Da neblina
Que te envolvia,
Mas dos desenhos
Que tuas mãos
Esboçavam
Nesse espelho
Já húmido
De ti...
............
E da minha
Fantasia.

DESPEDISTE-TE
Do Monte,
Desceste
Em desconforto
Sob os olhares
Das mil górgones
Que ameaçavam
Petrificar-te
No caminho
Para o vale...
..............
E sucumbiste.
Ou talvez não...

JÁ SÓ, NO MONTE,
Disse:
"De tanto te reveres
Em mim
Ficou-me, de ti,
O repetido reflexo.
E sabes o que
Brotava
Quando te olhavas
Na minha superfície
Luminosa?
Beleza,
Toda a que me sobrou
Quando, triste,
Desceste o Monte
E a tua melodia
Me faltou.”

MAS TEU ROSTO
Não petrificará
Porque ficou
Guardado
No meu corpo
Vítreo
Onde todos
Se revêem
Sem saber
Que no reflexo
Levam, gravada
Em transparência,
A tua imagem...
................
Embaciada.

E POR CÁ FIQUEI,
Espelho do mundo,
 A olhar para
O espaço
Sideral
À espera 
Que um cometa
Me alumie o caminho
Para ta devolver como
Teu reflexo
Original...
PalácioArtesPubjpgR

“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Detalhe.

O POETA QUE SE FEZ PINTOR

 Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Evocação
de um Arbusto em Flor”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2020.
Microsoft Word - JAS_O Pintor.docx

“Evocação de um arbusto em Flor”. Jas. 11-2020.

POEMA – “O POETA QUE SE FEZ PINTOR”

O POETA BRINCAVA 
Com suas palavras,
Cantava o amor
Porque a desejava...

ERA UM POETA,
Era fingidor,
Não a desenhava,
Cantava-lhe
A cor.

SUAS CORES
Eram palavras,
Fazia pincel
Da sua caneta,
O poeta riscava,
Mas a sua tinta
Já não era preta.

POR ISSO COMPROU
Um belo pincel 
E pintava,
Pintava...
.............
Era a granel...
..............
E a sua tela
Deixou de ser
O velho papel.

DESCOBRIU A COR,
Que o fascinou:
Azul, vermelho
E tanto amarelo...
.................
Tudo ele pintou,
Procurando sempre
O que era belo.

ATÉ QUE O ENCONTROU
Na cor dos seus
Olhos,
Era luz da pura
Que iluminava
O novo papel
Onde desenhou
O seu fino rosto
Com o seu pincel.

DESCOBRIU AS CORES
Com que a dizia,
As suas palavras
Tornaram-se riscos...
....................
Mais que poesia.

PINTAVA ASSIM
E os seus poemas
Já não lhe chegavam,
Pintor de palavras,
De cor as compunha
E versos voavam
No azul do céu...
...................
“E o que tu fazias
Faço agora eu
(Dissera-lhe um dia),
Porque sou poeta
Mas também pintor".

"DEIXASTE-ME SÓ,
Entregue à palavra,
E eu,
Tão pobre de ti,
Pintei-me de dor".

"MAS EU FAÇO DELA
O meu arco-íris
Pra subir ao céu
A ver se t’encontro
Atrás duma cor
Pintando o teu rosto
Para um poema
Que vou escrever
Com todas as cores
Que trago comigo
Enquanto viver”.

O POETA BRINCAVA
Mas era séria
Essa brincadeira,
Perdido em palavras
Encontrou a cor
E nos seus poemas
Dela fez bandeira...
Microsoft Word - JAS_O Pintor.docx

“Evocação de um Arbusto em Flor”. Detalhe.

TEU CORPO DE CRISTAL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Reflexos”
Original de minha autoria
para este poema. Outubro de 2020.
ReflexosFim2510Exp

“Reflexos”. Jas. 10-2020.

POEMA – “TEU CORPO DE CRISTAL”

AGORA VEJO-TE
Ao perto,
Despida,
Cada bago
Me seduz
Como cristal,
Refracção
Da luz
Que desce
Sobre ti
E me atinge
O olhar
Como raio
Fatal.

CEGO
De tanta luz,
Entrevejo-te
Num clarão,
Multidão
De cristais
Que brilham
E desafiam,
Vermelho rubi
De todas as paixões,
Espelho de
Alma
Deslumbrada
Que vive de
Ilusões.

MAS ÉS ROMÃ
E faço o caminho
Ao invés
Pra te encontrar
Ao alcance
Da minha mão,
Poder colher-te,
Fazer caminho
Contigo,
Do inferno
À primavera,
Do fogo ardente
Ao vicejar
Dos campos,
Aos frutos
Da nossa terra
Onde o teu
Poder impera.

ÉS DEUSA, SIM,
Imortal,
Teu corpo
É cristal
Que brilha
No templo de
Salomão
E me convida
A entrar
Nessa bela
Catedral
Guiado por
Tua mão?

SAÍSTE DE TI
E agora és
Semente
Múltipla
Do futuro
Que há-de vir,
Deusa
Da fecundidade,
Do amor
E da paixão
A celebrar
No fogo
Ardente
Desse teu lar
Onde os bagos
Do teu ventre
São como
Lava
De vulcão.
ReflexosPublicadoRec

“Reflexos”. Detalhe.

TENTAÇÃO

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Cristais”. 
Original de minha autoria 
para este poema. Outubro de 2020.
Romã181020

“Cristais”. Jas. 10-2020.

“¡Quién fuera como tú, 
fruta, / todo pasión 
sobre el campo!”

Final do poema de
Federico García Lorca
“Canción Oriental” (1920),
 dedicado à Romã.

POEMA – “TENTAÇÃO”

INQUIETO,
Como sempre,
Vi-te por dentro
Depois de te ter
Cantado
Por fora,
Feliz,
Mas triste,
Assim...
...................
Como quem chora...

CONTEMPLEI
Teus cristais,
Vi cintilar
A tua alma
E logo te pintei
Por dentro,
Sem mais,
Numa tarde
Leda e calma.

E CEDI À TENTAÇÃO
De te oferecer
Aos lábios
Da minha amada,
Ao compromisso
Fatal,
Para que ficasse
Enleada
E se tornasse
Imortal.

MAS ELA É
Concha fechada,
Seus cristais
São ouro negro,
É mistério
Bem guardado,
Silêncio
É o seu lema
Porque dizem
Que é dourado.

MAS PARA MIM
É ROMÃ.
Quando a chamo
Ao meu canto
E a pinto
De alma cheia
Floresce
No meu Jardim
Como em ilha
Encantada
Nasce o canto
Da sereia.

NUNCA TOCOU
Teus bagos
Nem os comeu
Como eu queria
Para a ter
Eternamente
Cada noite
E cada dia.

POR ISSO TE PROCUREI,
Meu fruto
De tentação...
És alimento
Dos deuses
E de Kore
A perdição.

TALVEZ ME ACENDAS
O estro
E a vontade de rimar
Pois silêncio
Não é d’ouro
Quando o sorriso
Me falta
E não a posso
Cantar.
Romã181020Rec

“Cristais”. Detalhe.

ROMÃ

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “S/Título”.
Original de minha autoria
para este poema.
Outubro de 2020.
Romã2

“S/Título”. Jas. 10-2020-

POEMA – “ROMÔ

ROMÃ DOS CRISTAIS
Vermelhos
E cristalinos
Que se aninham
No seu ventre,
Sabor acre
Como acidulados
Citrinos,
Meu alimento de
Sempre,
Que nos une...
............
Os destinos.

ROMÃ DE NOME
Insinuante
Que alude a cidades
Ausentes
E ao amor
Que exala
Do incerto sabor
Dos bagos
Da perdição,
O alimento 
De Kore,
De Hades
A irresistível 
Paixão.

ROMÃ,
De onde vens?
Do inferno,
Da Pérsia
Ou de Granada?
És uma maçã
Com grãos,
“Melograno",
Em Roma
Reinventada,
Cor vermelha
E amarela
Dos jardins 
Da minha amada?

ÉS BELA, ROMÃ.
Vou levar-te
Para o meu Jardim 
Encantado,
Para junto do arbusto,
Ter mil cristais
Em cada fruto,
Como os beijos
Que te dou
Nestas palavras
De amor 
Por deuses
Iluminado.

PERDI-TE QUANDO
Nascias
Naquele outono
De longínquo
Passado, 
Mas ficou-me 
Aquele arbusto
Que já tinha
A meu lado...

VOU LEVAR-TE
Para ter
Junto de mim
O rubor
Desse teu rosto,
Provar de teus
Bagos
O doce 
 E acidulado 
Gosto...

COMO GOSTO DE TI,
Romã de Deméter
E de Hades,
Da tua cor,
Das faces lapidadas
De teus bagos,
Da fecundidade
E do amor
Que em ti desperta
Quando afago
Com as mãos
A tua pele...
E a emoção 
Mais aperta:
Um intenso
E envolvente calor.

VEJO-TE COMO TÍMIDA
Romã,
Doce, 
Mas acidulada
E, qual Kore,
Dividida,
Como se cada parte
De ti
Não quisesse 
A outra
Pra nada.

MAS ÉS ROMÃ,
A minha cidade,
Meu Jardim Encantado,
Presente
Perfumado,
Fruto da
Mitologia
E do amor,
Filha de Deméter
E da poesia,
Que quero sempre
A meu lado.
Romã2R

“S/Título”. Detalhe.

“ESCULPIR-TE…”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Aurífice”.
Originais (novas versões) 
de minha autoria.
Outubro de 2020.
Oaurífice04102020

“O Aurífice”. Jas. 10-2020.

POEMA – “ESCULPIR-TE”

ENTRE O BRANCO
E O NEGRO
Quis esculpir-te
A alma
Na flor que,
Num acaso,
Encontrei
Perdida
No jardim
Da minha vida...

ATRÁS DE TI,
Ou em fuga
(Já nem sei),
Gastara
Todas as cores do
Arco-íris
Que tinha
Guardado
Dentro de mim.

SOBRARA
Uma marmórea
Pedra negra,
Espelho oracular
Onde me via
Escuro na alma
Por falta
De cores
Exuberantes
Que me protegessem
Do frio glacial
Da tua ausência
Suportada
Nas longas
Intermitências
E contrapontos
De uma melodia
Inacabada.

SOPREI FORTE
Com a alma
Desnuda
E a flor
Pousou suavemente
Na pedra lisa
E brilhante
Da catedral
Onde te queria
Celebrar
Como amante,
Do oráculo 
Vestal.

ESCULPI-TE
Como filigrana
De ouro preto
Sobre branco-pérola,
Aurífice da tua
Alma sedutora
No coração
Alvoraçado
Dessa flor
Onde guardei
O teu nome
Gravado em letras
Invisíveis.

DESENHEI
Alvas incrustações
Em filigrana
Como marcas
Indeléveis
Da arte
Que um dia
Me visitou
Para te cantar.

E, AGORA,
A olhar para
O branco e o negro
Desse cântico
Desenhado
E esculpido,
Ofereço-te
Este poema
Sobre pintura
Imaculada
Onde te celebro
Com arte
Minimal,
Na forma
E na cor,
Sem fronteiras,
E onde
Te reinvento
Em fuga:
Um elegante
Fio branco
Que esvoaça,
Livre,
No marmóreo céu
Do teu altar.

A ÂNCORA,
A sul,
Desliza
Suavemente
Sobre ti
E dilui-se,
Como eu,
Na negra 
Vastidão...

EVOCO-TE, ASSIM,
A branco e negro
Sobre a flor
Que um dia
Encontrei
Perdida
No meu Jardim
Encantado
Quando visitava
O impossível...
...............
À tua procura.
Oaurífice04102020Rec

“O Aurífice”. Detalhe.

A MONTANHA ENCANTADA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Montanha Encantada”.
Original de minha autoria
para este poema.
Setembro de 2020.
AMontanhaEncantada2Final092020

“A Montanha Encantada”. Jas. 09-2020.

POEMA: “A MONTANHA ENCANTADA”

VÊS AQUELE ANIMAL
Sagrado
Lá no alto 
Da Montanha,
Meu amor?
Seus olhos
Fulminantes
São águias
Que perscrutam
O horizonte
E te procuram
Na vastidão 
Destes montes 
Transbordantes 
De cor.

EU SOBREVIVO ALI,
Diluindo-me nas
Cores exuberantes
E quentes
Das encostas,
Sob o azul profundo
Da abóbada
Sideral
Que me inebria
Nas vertigens
De cada ritual.

ASSIM TE ESPERO
Em cada dia...
................
E ao primeiro
Voo das águias
Correrei nu por
Esses campos
Fora
Para te ver passar
Ao longe
(E sem demora),
Subindo o maciço
Até tocares o céu
Com as mãos,
Numa bebedeira
De azul
Que te fará
Levitar
Sobre o meu vale
Mais profundo.

É A MINHA MONTANHA
ENCANTADA,
Refúgio de eremita
Que te canta
E recria
Com a alma
Para te levar
Em poética
Levitação
Por veredas
Verdejantes
E luminosas
Sem destino
Ou direcção...

NESTA PROFUSÃO
De cores intensas
Que te ofereço
Uma vez mais
Penso-te como
Imanência,
Esparsa
Pelas encostas
Abissais
Que o semideus
(Que vês
Lá bem no alto)
Protege
Com as águias
Do sagrado
Planalto.

VÊS PARA ONDE
Te levo,
Meu amor?
Para o Monte
De Athena,
O Parnaso
Que habito
Por tanto eu 
Te amar
E no poema 
Pintar
Como sufocado
Grito de dor.
AMontanhaEncantada2Final092020REC

“A Montanha Encantada”. Detalhe.

 

FANTASIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Rubor".
Original de minha autoria para
este poema. Setembro de 2020.
Luz6

“Rubor”. Jas. 09-2020.

POEMA – “FANTASIA”

O TEU ROSTO
Assomou
Quando a luz 
Branca
Irrompia
No meu jardim,
Num insólito 
Entardecer,
Por entre a espessa
Folhagem
Do vasto e belo
Jasmim...
...................
E logo eu me perdi
Nesse doce
Acontecer
Que descia
Sobre mim.

ASSOMAVAS
Como flor
Em súbito espanto,
Despertada
Pelo mundo,
Com o rosto
Em rubor
Quando ouviste
Este meu canto
Profundo...
.........
Invocar
O teu amor.

A LUZ ERA NEVE
Derramada
Sobre ti
No coração
da Primavera
E o inverno
Que te cobria
Essa alma
Atormentada
Desceu
Ao meu Jardim
Encantado
(Minha mágica
Quimera),
Nessa tarde
Luminosa
De um branco
Imaculado.

E EU FIXEI-O,
Esse inverno
Tão tardio,
Que caía
Sobre ti
Lá do alto
Do arbusto
(Tão macio)
Que me protege
As cores
Com que te pinto
E as palavras
Que te canto
(Como ousado
desafio).

AH, ERAS MESMO TU
Disfarçada
De Flor
Que germinou
No húmus
Desse Jardim
E assomou ao
Meu olhar
Para logo
Sussurrar:
“- Oh, este amor
Não terá fim...”
Luz6Rec

“Rubor”. Detalhe.

MUDAM OS VENTOS E MUDAM AS PALAVRAS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Encruzilhada”.
Original de minha autoria para
este poema. Setembro, 2020.
Folhagem

“Encruzilhada”. Jas. 09-2020.

POEMA  – “MUDAM OS VENTOS E MUDAM AS PALAVRAS”

“MUDAM OS VENTOS
E mudam as palavras”,
Assim falava o poeta.
De sinais
Tudo sabia,
Mas de ventos,
Isso não,
Sobre Éolo
Nada podia.

MUDAM AS VONTADES
E também mudam
As cores,
Fortalece
O desejo
À procura
De alimento,
Tudo muda,
Tudo gira
E também muda
O vento.

O QUE CONTA
São os ciclos
Desta vida,
Os que o tempo
Desenhar
Pra cada nova
Partida
Num eterno
Movimento
Como as ondas
Do mar.

HÁ ENCRUZILHADAS
E é preciso
Escolher
Para logo decidir
Ainda que seja
Do mesmo
Se não pudermos
Fugir.

E EU ÀS VEZES DECIDO
E volto a decidir,
Mas encontro
Sempre o mesmo
E logo volto
A cair...

TAMBÉM NÃO HÁ
Muito a fazer
Porque o vento
Sopra sempre
Numa certa direcção
Para levar
As palavras...
..............
Quando sopra
De feição.

MUDAM OS TEMPOS
Muda a vontade,
Muda o vento
De direcção
(É verdade),
Mas as cores
Do arco-íris
Viajam sempre 
Comigo
Mesmo que digas
Que não.
FolhagemREC

“Encruzilhada”. Detalhe.

 

 

ESTÃO CANSADAS, AS PALAVRAS…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Chorar”.
Original de minha autoria
para este poema. Setembro de 2020.
Jas_Chorar0609Pub

“Chorar”. Jas. 09-2020.

POEMA – “ESTÃO CANSADAS, AS PALAVRAS…”

LUTO CONTRA O CANSAÇO
De te recriar,
Aqui, 
Neste Jardim,
Numa busca
De palavras
E de cores
Que parece
Não ter fim...

AS PALAVRAS AMEAÇAM
Nada dizer,
Braços caídos,
E as cores
Já desbotam
Nos cenários
Coloridos.

POR TANTO ME ESCONDER
Atrás delas,
Fingindo 
Nada saber,
Arrisco
Perder-me
Neste Parnaso
Onde te venho
Cantando,
Por certo,
Não por acaso.

DE NADA VALE
Pedir-te
Um simples sinal,
A ti, 
Que os manejas
Com mestria
E sageza,
Ao sabor dos teus
Caprichos
E de uma triste
Dureza.

TALVEZ ANDES
Distraída
Com futilidades
Da vida,
Mas já não sei bem
Quem tu és
De tão antiga
Ser 
Esta nossa
Despedida.

AS PALAVRAS ESTÃO
Cansadas
De te procurar
Com o vento
Sem saber
Onde pousar
Nesse teu mar
Tão cinzento.

NÃO FOSSEM AS CORES
Do arco-íris
A pintar o rio
Da tua vida
E talvez já tivesse
Procurado
Outra foz
Onde banhar
O meu estro e
Dar palco
A outra voz.

MAS SEI
Que procuraria
Sempre a tua
Réplica
(Que nunca
Encontraria)
E então regresso
À memória
Colorida
Desta minha fantasia,
Povoo-me
De imagens,
Construo catedrais,
Afundo-me na arte...
...............
E, olha,
Pensa bem no que
Eu te digo,
Pois já não sei
Em que mais,
Para além deste
Sofrido castigo.
Jas_Chorar0609PubREC

“Chorar”. Detalhe.

 

POR UM SORRISO…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Há Vida no Jardim”. 
Original de minha autoria 
para este poema. Agosto de 2020.
JardimAnimado27082020

“Há Vida no Jardim”. Jas. 08.2020.

POEMA – “POR UM SORRISO…”

OFERECIA-TE
O mundo
Por um sorriso
E um terno
Olhar
Desses olhos
Negros
Onde gosto
De navegar.

MAS É CERTO QUE
Não terei,
Foi promessa
Para a vida,
Eu bem sei.

NÃO IMPORTA,
Também o mundo
Não é meu
Para o oferecer...
..................
Ah, mas dou-te
As mágicas
Paisagens
Do meu olhar,
A incandescer,
Os frutos
Da minha arte,
Recrio-te
Em ausência,
Como diz a Yourcenar,
E então ficas
Mais bela
Que tu mesma...
...............
De tanto assim
Te amar.

DEI-TE HÁ DIAS
Um talismã
Pra que te guie
Na vida.
Fi-la eu,
A alquimia,
Com essas vibrantes
Cores,
Luz que brilha
Cada dia...
.............
Como em todos
Os amores.

SIM, EU TENHO
O mundo espelhado
No meu coração,
Lugar de onde
Te vejo
À distância
E à medida
De uma insólita
Paixão
E de um intenso
Desejo...
.........
Profundo
Como vulcão.

MAS ESSE SORRISO
E teu olhar
Não os terei
Para melhor
Te amar...
................
Como eu sei.
Então canto-te
Para espairecer
E comigo te
Levar
Como sempre
Desejei.

TENHO-TE ASSIM,
Em fantasia,
Este modo
De te ter
Cada noite em
Cada dia...
JardimAnimado27082020R

“Há Vida no Jardim”. Detalhe.

“KETROF”

Pintura
(Tela, 135x100, p.a.)

By João de Almeida Santos

PARTILHO hoje este quadro, 
de minha autoria, inspirado 
na “Quinta do Quetrofe”. 

A “Quinta do Quetrofe” 
encontra-se na vertente leste da 
Serra de Famalicão (Guarda), 
a mil metros de altitude, 
com uma belíssima 
vista para o Maciço Central.
QdQuetrofe

“Ketrof”. Jas. 08-2020.

OFEREÇO-TE UM TALISMÃ…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Talismã”. Original
de minha autoria para este poema.
Agosto de 2020.
JAS_TalismaFinalPub

“Talismã”. Jas. 08-2020.

POEMA – “OFEREÇO-TE UM TALISMÃ…”

OFEREÇO-TE UM TALISMÃ,
Meu símbolo
Do teu encanto,
Como se fosses
Irmã,
Aqui, neste Jardim,
Aqui, neste recanto.

VOA ALTO
O talismã,
Procura-te,
(Mas não sei onde),
Tem poderes
E tem magia,
(Que esconde),
Protege o teu
Caminho
Em cada nova
Partida,
A tua cartografia,
O mapa da tua 
Vida.

VOA, SIM, O TALISMÃ,
Desenhei-o
Para isso,
Um sopro
Forte
Na alma,
Lado belo do
Feitiço.

TEM AS CORES DO
Arco-íris,
Ilumina o
Teu rosto,
As margens
Da tua vida,
Tudo aquilo
De que gosto...
................
Ver-te sempre
Protegida.

BRILHA
Pela matina
Com teus cabelos
Ao vento,
Um sorriso
Em teus lábios
Que acende
O meu olhar
Quando desperto
Ao relento
Do sonho
De te amar.

É GRANDE
O seu poder
E forte como o
Amor,
Bons auspícios
Para ti,
Remédio
De alquimista
Pra curar a
Minha dor.

OFEREÇO-TE
O talismã,
Aceita-o
Com alegria,
Protege
O teu destino,
Da vida
A travessia,
Um caminho
Genuíno,
Da alma
A alquimia.
JAS_TalismaFinalPubRec

“Talismã”. Detalhe.

 

VALSA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Timidez”. Original
de minha autoria para este poema. 
Agosto de 2020.
JAS_Timidez1608FinalPub

“Timidez”. Jas. 08-2020.

POEMA – “VALSA”

DANÇAREI SEMPRE
Contigo,
Dançarei,
Uma valsa
(Só eu sei)
Que não tem fim...
............
Mas que não
Seja castigo
Esta magia
D'encanto
Que tomou conta
De mim!

NÃO ME CANSO,
Nesta valsa,
Não me canso...
.............
O corpo nada
Me diz,
Eu danço 
A vida contigo
Porque és
A minha fada,
Da minha alma
Matriz.

VÊS?
É uma dança
Interior,
Produto da fantasia,
Procuro-te
Onde quiser
Para contigo
Dançar
Esta nossa 
Melodia...

MAS ENCONTRO-TE
Sempre,
Austera e
Imponente,
Neste Jardim
Encantado,
Fada
Em forma de
Arbusto
(Bem copado)
Ou rutilante
Flor...
............
E por isso
Te dedico
Uma longa
E sofrida,
Mas doce
E desmedida,
Sinfonia
Ao amor.
JAS_Timidez1608FinalPubReco

“Timidez”. Detalhe.

ESTRANHO, NÃO É?

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Terraço”.
Original de minha autoria
para este poema.
Agosto de 2020.

Terraço0908_2Mono

“Terraço”. Jas. 08-2020.

POEMA – “ESTRANHO, NÃO É?”

É VULGAR SONHAR-TE
Em ambiente idílico,
Dirás.
Sim, bem sei,
Tu que nada terias
De romântico
Mesmo que eu fosse
Um rei.

MAS, FOI ASSIM 
Que te sonhei,
Aqui, onde o céu
Parece um lago
E as grades são,
À vista
Do casario
Que me veste
O olhar,
A minha libertação,
O meu tão cantado
Lar.

É AQUI QUE 
Eu te tenho,
É aqui que eu
Te sonho,
Que te canto
E te choro,
É aqui que
Sobrevivo
Porque é aqui
Que te adoro.

PINTO-TE,
  Sabes?
Pinto o lugar
Onde te vejo
E te quero,
Onde mais
Eu já te sinto...
..............
E desespero...

ESTRANHO, NÃO É?
É um sítio
Onde só vives
Sob forma
De arbusto
E te respiro
O perfume,
Adormeço
Ao relento,
Te sonho
Com as estrelas
E viajo
Com o vento...
............
Como lume.

SINTO-TE PERTO
Quando te canto
(Liberto)
E me aprisiono
Na ideia que
De ti eu tenho
E onde mais
Me abandono.

PERCO-ME, SIM,
Nestas cores,
Nestas palavras,
Na minha fantasia,
Enquanto tu
Te perdes
Num silêncio
Programado,
Tal como eu,
Nesta minha
Teimosia,
Meu destino
E triste fado,
Tão sofrida
Nostalgia.

MAS EU ESCREVO
E pinto
Para ti,
Meu amor,
Alimento
(Com dor)
Do teu futuro
Quando olhares
Para trás
E só vires
Este meu canto
(Já tão maduro)
Na tua vida
Porque não foste
Capaz
De manter
A ilusão
Por ti sempre
Prometida...

Terraço0908_2Rec

“Terraço”. Detalhe.

 
 

UM SONHO NO MEU JARDIM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Jardim Espectral”.
Original de minha autoria para
este poema. Agosto de 2020.
UmSonhonoJardim

“Jardim Espectral”. Jas. 08-2020.

POEMA – “UM SONHO NO MEU JARDIM”

NUMA TARDE QUENTE
De Verão
Adormeci
No meu Jardim
Encantado
À sombra de um
Loureiro
E sonhei,
Pensando em ti,
Que era
Um jardineiro...
...........
Apaixonado.

MAS ERA ESPECTRAL
A luz
Desse jardim,
Era branca,
Irreal,
Algo estranho
Para mim
Neste lugar
Seminal.

SONHEI-TE.
Nesta estranha
Visão
Tudo perdera
Cor,
Tudo era
Ilusão e
 Voltou 
O que então
Eu senti
Naquela tarde
De outono
Quando 
Para sempre
Te perdi...
...........
Uma imensa
Comoção.

NO SONHO,
Já não te vi,
A memória
Perdeu cor,
Mas logo
Te pressenti
Nesse cíclico
Retorno
Da minha
Remota dor.

NÃO ERA
Deste mundo
Esse Jardim,
Perdera
O seu encanto,
O perfume
Já não era
Do inebriante
Jasmim
Nem de outra
Qualquer flor
Que sorrisse
Para mim.

MAS LOGO ACORDEI
Com a brisa fresca
Da noite
No meu Jardim
Encantado
E o sonho branco
E pesado
Logo teve
O seu fim,
Despertando
Uma doce
Nostalgia
Quando o brilho
Das estrelas
Do mais profundo
Do céu
Cobriu
Este meu rosto
De um cintilante
Véu
Como se fosse magia.
UmSonhonoJardimRec

“Jardim Espectral”. Detalhe.

A FLOR DE PAPEL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Fleur de Papier en Vol
à la Recherche du Poème Perdu
dans un Jour d’Hiver”.
Original de minha autoria.
Julho de 2020.
JASFleurdePapierFinal2607_Pubpsd

“Une Fleur de Papier en Vol à la Recherche du Poème Perdu dans un Jour d’Hiver”. Jas. 07-2020.

POEMA – “A FLOR DE PAPEL”

NUM DIA DE INVERNO
Uma flor de papel
Voou
Para longe,
Levada pelo vento.
Rajadas fortes
Quebraram
Os subtis
Filamentos
Que a ligavam
À raiz de onde
Nascera...
.............
Seu alento.

CONTINUA A VOAR,
Essa flor de papel,
Ao sabor do vento,
Pousando
Aqui e ali
E logo voando
Para outros
Destinos,
Em perpétuo
Movimento.

PERDEU AS CORES
Luminosas
Que exibia
E a fonte
D’inspiração,
A seiva
De cada dia,
Borboleta
Sem pólen
Para nova
Gestação
No jardim
Da fantasia.

MAS NUM DIA
Quente
De Verão
(Eu bem sabia)
Encontrei-a
Por acaso
Aninhada
Num arbusto,
Recolhida sobre si
Em profunda
Solidão.

PEGUEI-A
Com a mão
E levei-a
Ao Jardim
Do meu poeta
Pintor...
.............
Nosso chão.

DEU-LHE COR,
O meu poeta,
Alisou as suas rugas,
Mostrou-lhe
O horizonte
Nesse dia de
Verão
E logo a deitou
Ao vento,
Ao encontro
De raiz
Que nutrisse
Com sua seiva
Uma nova floração....
JASFleurdePapierFinal26R

“Dans un Jour d’Hiver…”. Jas. 07.2020.

RITUAIS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Templo Inacabado”.
Original de minha autoria
para este poema. Julho de 2020.
JanelaFimPublicado1psd

” Templo Inacabado”, Jas. 07-2020

POEMA – “RITUAIS”

IMAGINEI UM TEMPLO
Revestido de vitrais,
Celebrar-te
Com palavras
Em singelos rituais.

EVOCO
O tempo
Em que sempre
Me perdia
Nesse teu olhar
Esquivo...
...............
E os silêncios
Que sobravam
Como se fossem
Castigo.

É O QUE RESTA
Como alimento
Da alma,
O fervilhar
De memórias,
Inscrições
Sensoriais,
Silêncio
Profundo
A poético
Chamamento...
...............
E tudo o mais...

UM FUTURO IMAGINADO
De voluntário
Amante,
Construído
Nas ruínas
De um passado
Que não é
Muito distante.

SIM, O QUE RESTA
É este brilho
Coado,
Melancólico,
Cinzento,
O negro 
De teus olhos 
Inquietos
E teus cabelos
Fartos,
Ao vento...

TUDO FERVILHA
Na minha sofrida
Memória,
Delicada criação
Em palavras
Com história.

DOU-TE, ASSIM,
 Nova vida
E renovo-me
Também eu,
Falo ao mundo
Comovido
De um templo
Que é só meu.

IMAGINEI-O,
O templo,
Para quando
Regressar
Do meu Jardim
Encantado,
Vibrante de cores
E por fora
Perfumado,
Mas por dentro
Melancólico e
Sofrido
Por te ter,
Nesse tempo
Já passado,
Dolorosamente
Perdido...
.........
De tanto
Te ter amado.
JanelaFimPublicado1psdR

“Templo Inacabado”. Detalhe.

DEUSA NO MEU JARDIM ENCANTADO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Sonhei-te assim, 
no Poema”.
Original de minha autoria
para este poema. Julho de 2020.
Deusa290620Final0607

“Sonhei-te assim, no Poema”. Jas. 07-2020.

POEMA – “DEUSA NO MEU JARDIM ENCANTADO

”SONHEI-TE ASSIM,
Meu amor:
Uma deusa no Jardim.
Não te vendo,
Recrio-te
Com fantasia,
Olhar
Deslumbrado,
Alma
Devotada
Que persiste
Fascinada
Como quando
No passado
Eu te via.

QUE SAUDADES!
Não nos gastámos
Porque partiste
Cedo demais.
Sobrou-me
De ti o melhor,
Quando, ao ver-te,
Estremecia,
Olhos negros,
Inquietos,
Mistério
Que seduzia.

FICOU-ME A VONTADE
De te desvelar
Lentamente
À medida
Do desejo,
De um forte
Encantamento,
Renovada  
Inspiração,
Oráculo e
Devoção
E silente
Chamamento.

ESTA NOITE
Sonhei-te assim,
Amanhã
Eu já não sei,
Os sonhos vão
Lá pra longe
Ou vêm pra muito
Perto,
Noites longas e
Profundas,
Quando o amanhecer
 É incerto.

POR ISSO SONHEI-TE
Hoje,
Pra te contar
O meu sonho
Amanhã,
No dia em que
Mais sinto
Esta minha solidão,
A ausência
E o silêncio
A que respondo
Com poética
Evasão.

PROCURO-TE
Na fantasia,
Nos poemas,
Na pintura,
Nos sonhos
Ou no Jardim
Onde te vejo
Altiva
Aqui bem perto
De mim.

E QUANDO TE OLHO
Vejo o mundo
A partir desse teu
Rosto,
Mais belo
E misterioso,
Mais quente, 
Silencioso...

CRESCE A VONTADE,
O estro,
A poesia,
Vejo o futuro
Risonho,
Há uma certa acalmia
Neste mundo
Tão rugoso.

SONHEI-TE
Um dia antes
Do beijo
Que celebro
Com a minha poesia,
Ano após ano,
Ao encontro da raiz
Onde o poeta
Nasceu
Para o canto
Que a dor
Lhe prometeu
Como pura catarsia.
Deusa290620Final0607R

“Sonhei-te assim, no Poema”. Detalhe.

 

ENCONTRO NO JARDIM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração – “Cai a Noite no Jardim”.
Original de minha autoria
para este poema. Junho de 2020.
Anoiteceu2806FinalBrilho

“Cai a Noite no Jardim”. Jas. 06-2020.

POEMA – “ENCONTRO NO JARDIM…”

CAI A NOITE
No jardim
E já nem sei
Se amanheces
Dentro de mim.
Sobras-me
Em incerteza
Nos sonhos
Breves
Em que te encontro
Como se fosse
Eterna
Esta nossa despedida,
A versão já repetida
De um desencontro
Sem fim.

MAS À NOITE
O teu perfume
É mais intenso
No meu Jardim
Encantado,
O silêncio
Mais profundo,
Ouço mais
A tua voz
Cristalina
Ecoar
Na minha alma,
 Vejo o brilho
De teus olhos
Ausentes
Acender magnólias
Brancas
E sinto o vermelho
Das rosas
Incendiar-me
O corpo.

MAS ANOITECE,
Meu amor,
Ah, como anoitece,
Vai-se o sol
E a vibração dos sentidos,
Recomeça a viagem
Para dentro de mim,
Invoco-te
Com a alma
E trago-te
Como pétala às minhas
Palavras,
Olho-te por dentro
Quando a melancolia
Toma conta de mim
Neste cíclico
Anoitecer.

VOU AGORA A CAMINHO
Da noite,
Do sonho,
Do imaginário
Que entra sem pedir
Licença
E me arrasta
Na corrente
Onírica para um
Incerto destino
Onde não sei
Se habitas.

E O AMANHECER
É sempre imprevisível,
As ondas de luz que
Chegam com o sol
Ameaçam
As cores suaves
E quentes
Com que te
Sonho e te pinto
Na minha alma
Nas noites
De luar.

CAI A NOITE NO JARDIM
E anoitece-me
Na alma,
Meu amor!
Anoiteceu2806FinalRec

“Cai a Noite no Jardim”. Detalhe.

 

 

CASTA DIVA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “S/Título”.
Original de minha autoria
para este poema. Junho de 2020
RufetewomanCOR

“S/Título”. Jas. 06-2020.

POEMA – “CASTA DIVA”

SONHEI-TE
Nesta noite de Verão.
Eras casta.
Podias ser
Casta Diva.
Ou não.
Casta, sim,
De onde nasce
O meu vinho,
Milagre
Da natureza,
Sob forma de
Mulher,
Mas serás
Diva também
Se ao poema
Te trouxer.

SONHO-TE
Muitas vezes,
Voo contigo
À procura
Do passado,
Mas nunca eu
Te sonhei
Como casta
Em pecado,
Trepando,
Pela latada,
No meu
Jardim
Encantado.

AH, A LATADA
Essa sim,
Que um dia
Trepou por ti
Pernada acima
Nesse enlace
Fatal
Onde me nasceu
A rima,
O canto
Que te invoca
Quando me torno
Jogral.

AGORA SONHO-TE
ASSIM,
Mulher-Rufete,
Crescendo
Bem alto
Nas terras
Do meu Jardim...
.................
As voltas que
O mundo dá,
Neste recanto
Encantado
Com aroma
Perfumado
Da ramagem do
Jasmim.

CRESCES-ME
Na alma
Sob a forma de
Enlace,
Mas se agora
És videira
E ontem eras
Jasmim,
Amanhã
Serás arbusto
Mesmo que eu
O não queira
Por seres diva
Para mim.
RufetewomanCORRec

“S/Título”. Detalhe.

A EROSÃO DO TEMPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Entardece no Jardim”.
Original de minha autoria
para este poema. Junho de 2020.
JardimJAS1406_2

“Entardece no Jardim”. Jas. 2020.

ENTARDECE NO JARDIM,
Entrevejo-te
Por entre folhas
De um arbusto,
Ao longe,
Uma imagem
Desfocada...
...............
O sol cai
No horizonte,
Vejo, apenas,
Um perfil
Esfumado,
Nuvem cinzenta
Arrastada
Pelo vento
Para lá desta
Montanha,
Meu alento,
Minha fada.

VIRO-ME 
Para dentro 
De mim
E o meu olhar
Interior
Confunde-se
Com o teu
E já nem sei
Se és tu
Ou se essa imagem
Um pouco baça
Serei eu.

O TEMPO
Esculpe o rosto
Na memória
Dos afectos
E só vejo
O que de ti
Me sobrou,
Retrato
De pouca cor
Composto
Ao ritmo
De suspiros...
............
E tanta dor.

NÃO FOSSE A POESIA
E restarias
Nuvem no céu
Entre o azul
E o branco
Desta minha
Fantasia,
Ponte espectral
Entre mim
E a deusa que
M’ilumina
Por dentro e
Por fora,
Um clarão irreal
Que cega
E me comove...
...............
Como quem chora.

AH, MAS O POEMA
Dá-te vida,
Dá-te luz
E dá-te cor,
Enche-te a alma
De emoção,
Interpela
Todo o teu ser
E rompe
Este minha
Tão sofrida
Solidão.

MAS EU TEMO
Encontrar-te
E já não saber
Quem tu és
Por há muito
Navegar
Outras ondas
E marés
Tão longe
Desse teu mar...
JardimJAS1406_2 - cópia

“Entardece no Jardim”. Detalhe.

A REINVENÇÃO DO TEMPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A lua desceu sobre mim”.
Original de minha autoria
para este poema. Junho de 2020.
JAS2AluaDesceuSobreMim

“A lua desceu sobre mim”. Jas. 06-2020.

POEMA – “A REINVENÇÃO DO TEMPO”

FOI INESPERADA
A descida
Ao vale
Profundo
Da tua vida,
Reencontro
Com o destino
Que os deuses
Te traçaram,
Numa longa
Despedida.

TRILHOS NOVOS,
Fim do ciclo
Que corroía
E já tardava...
..............
Porque doía.

UM RÁPIDO
Bater de asas
Aos ventos que
Sopravam e
Incendiavam
O teu desejo
De liberdade...
...............
E o tempo
Da reinvenção
Aconteceu
Na outra metade
De ti.

OS CICLOS
Que a vida tem...
..................
De repente,
Assomam
Personagens
Que nos habitam
E aguardam
Em silêncio
O dobrar de uma
Esquina
Para tomarem
Conta de nós...

É A VIDA
Em sobressalto,
Renascida,
Ventos que sopram
Forte na alma,
Perfume de liberdade
Que docemente
Embriaga,
O sorriso inocente
Da criança que
Desperta
Para dar vida
Às coisas inanimadas
Que nos prendem
O olhar...
.............
Num luminoso 
Amanhecer.

PRESSENTI
Essa viagem,
A partida
Do túnel
Ensombrado
Do tempo,
Sem bagagens,
Apenas o teu corpo
E a vontade
De trepar pelo
Mundo acima
Como quem
Já o respira
Lá no alto
Da montanha.

E LOGO TE DISSE:
“Nasce outro
Personagem
Em ti
Que já se manifesta
À procura de autor
Que lhe reescreva
O destino
E o ponha em cena
No teatro 
Da tua vida...”

“VEM DAÍ, VEM,
Que a vida acontece
No grande teatro
Do mundo
Onde se viaja ao sabor
Do vento
E da fantasia
Em levitação
Sobre o vale
De onde se vê
A vida
Do lado certo
Do sonho.”

“E TU, QUE PAGASTE
O teu tributo,
Abraça a autoria
E procura esse palco
Onde encenar
A reinvenção do
Tempo
Com fantasia,
A que nasce  
Da liberdade
Que ilumina
O caminho,
A bússola 
Que já te guia.”

VÁ, VEM DAÍ,
Há muito 
Caminho para andar,
Há azul 
No horizonte
E brilho 
No teu luar,
Há sol 
Na madrugada,
Suave brisa 
No ar,
Há flores 
No teu jardim,
Água fresca 
Pra regar,
Há mais mundo
Que te espera
E uma vida
Para amar...
...............
Vem daí, vem, 
Meu amor,
Já nem sei
Como esperar!
JAS2AluaDesceuSobreMimRec

“A lua desceu sobre mim”. Detalhe.

 

ETERNO RETORNO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Encontrei-te no Jardim”.
Original de minha autoria
para este poema. Maio de 2020.
JASFin0606PnJ_psd

“Encontrei-te no Jardim”. Jas. 05-2020.

POEMA – “ETERNO RETORNO”

SE TE VEJO
Estremeço,
Se não te vejo
Caio em
Melancolia,
Assalta-me
O desejo
De voar
Contigo...
...........
Nesse dia.

EU NÃO SEI
Como se muda
O mundo
Para te ter,
Então voo
Sobre ele
Ao sabor do vento
Pra que tu
Me possas ver.

É ESTRANHO, NÃO É?
Esta moinha
Que me consome
Porque não te vejo,
Não te ouço
E nem sequer
Te procuro
Porque sei
Que a via
Da minha arte
Me levará
A esse teu lado
Mais puro. 

É POR ISSO QUE
Só te espero
Na rua
Do desencontro,
No jardim
Da despedida
Que nunca parei
De regar
Com arte
E nostalgia,
Essa forma
De te amar
Cada noite
E cada dia.

É ACASO
Ou destino
Esperar-te numa
Esquina
Das tantas
Que a vida tem?
Foi dela
Que t'esgueiraste
Na densa
 Neblina
Desse teu
Quotidiano
De que ficaste
Refém.

SIM, É VERDADE,
Mas se te encontro
Nessa esquina
Que me leva
Ao jardim
Eu de novo
Estremeço,
Caio em mim,
Sinto um profundo
Torpor
E adormeço,
Pondo fim
A essa dor...

AH, MAS DEPOIS
É o céu,
Sim, o céu,
A sonhar-te
Em azul profundo
E o desejo
A cumprir-se
Nas ondas
Do nosso mar
Até que a aurora
Desponte
Para ser acometido
Por nova melancolia
E desejo
De voar...

JASFinPnJ_psdR

“Encontrei-te no Jardim”. Detalhe.

 

QUASE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Desejo”.
Original de minha autoria
para este poema. Maio de 2020.
JAS1_O Desejo052020

“O Desejo”. Jas. 05-2010 .

POEMA – “QUASE”

DISSE-TE UMA VEZ
Que o desejo
É quase tudo
E o que sobra
Quase nada.

RESPONDESTE
Que, assim,
Eu nunca 
Sairia de mim
Pra conhecer
O sabor
Do quase
Que sempre
Sobra
Do desejo
Consumado.

SORRI
E com ternura
Te disse
Que é na posse
Que se mata
O desejo
Encantado...

ENCOLHESTE
Os ombros,
Olhaste-me
De revés
E foste embora
Dali.

FIQUEI SÓ,
Com o desejo
Nos braços,
Nostálgico
E pensativo,
Quando dobraste
A esquina
Deste nosso
Desencontro,
Tão curto,
Mas impressivo... 

RECORRI
À memória
Daquele instante
Fugaz,
Revi-te a beleza
Do rosto,
Expressivo
E tão vivaz,
Alma
Estampada
No corpo,
Essa boca
Sensual...
............
E o desejo
Transbordou
Das margens
Deste meu
Mundo
Tecido
De fantasia
Numa bola
De cristal.

FIXEI-ME
Na tua beleza
E dei asas
Ao desejo,
Desenhei-te
Numa tela
E cantei-te
Num poema
(As armas
Do meu poder),
Cobri-te
Toda de cores
Para nunca
Te perder.

E FIQUEI-ME
Por ali,
A sonhar-te...
..............
A matutar
No destino
Que cedo
Me cativou
Por achar que
O desejo
É quase tudo,
Mesmo quando
O mundo
Te abraça
E devolve
Tudo o que dele
Te sobrou.
JAS1_O Desejo052020Rec

“O Desejo”. Detalhe.

 

CONFISSÕES DE UM CONFINADO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “S/Título”.
Original de minha autoria 
para este poema. Maio de 2020.
JAS2020_1705_15

“S/Título”. Jas. 05-2020.

POEMA – “CONFISSÕES DE UM CONFINADO”

ANDO PERDIDO,
Por aí,
Nas tardes
De Primavera,
À procura de mim,
Neste estranho
Tempo
Que aviva
O que perdemos
Nas esquinas
Da nossa vida.

NÃO ME VENDO
No espelho
Dos outros,
Já não sei
Quem sou e
Onde estou.
Apenas suspeito.
Uma vaga ideia.

FALTA-ME O MUNDO
Para dar conta
De mim,
Mas, coisa estranha,
Ele entra-me 
Casa adentro
E devolve-me
O que perdi,
Mais selectivo
E profundo,
Apenas o que é
Remoto
Da cidade
Onde vivi.

ESTRANHO MUNDO,
Este,
Que escolhe
Por mim
O que me sobrou
Da voragem
Do tempo...

É POR ISSO
Que me procuro
Para saber
Se o que me
Bate
À porta
É meu
Ou se a falta
De mundo
Me provoca
Alucinações,
Sonhos ou
Sombras
Do que nunca
Aconteceu...

ENTÃO PROCURO-ME
No espelho
Que trago comigo,
Dádiva
De Athena,
Olho,
Volto a olhar
E descubro que
Afinal sou eu,
O esquecido
Sem abrigo,
Aquele que andou
Por aí
No bulício
Da vida,
Ao sabor do vento...
.............
Mas contigo.

E TAMBÉM SEI
Que, por isso,
Nesta errância,
Eu não petrifiquei.

AH, COMO É BOM
Saber
Que, afinal,
 O vento
Me levou
Para destinos
Encantados
Onde contigo
Renasci,
Quando o tempo
Trazido pelo vento
Que passou
Na rua da
Minha vida
Me bateu 
À porta...
............
E eu abri.
JAS2020_1705_15R

“S/Título”. Detalhe.

 

É ASSIM QUE EU TE VEJO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Uma Mulher”.
Original de minha autoria
para este poema. Maio de 2020
MãeFinal1005_1808_4pgVERSSITE

“Uma Mulher”. Jas. 05-2020

POEMA – “É ASSIM QUE EU TE VEJO”

DESDE SEMPRE
Que te guardo
No meu peito.
Fixei-te melhor
Naquele dia
E guardei-te
Na memória
Profunda
Quando te vi
Perdida,
Por encanto,
A ouvir
Essa nossa
Melodia.

UM BRILHO QUIETO
Em teus olhos,
Suspensa
Nas nuvens,
A suave paixão
Maternal,
Inefável,
Quando as palavras
Já não chegam
Para te nomear
Com a alma,
De tão cheia
De ti,
A transbordar...

A MINHA AUSÊNCIA
Constante
E tão cortante,
O preço
Para ser
O que mais querias
Que fosse,
Fazia crescer
Em ti
O encantamento
Que tinhas
Contigo
Desde aquele dia,
Quando te nasci
E tu renasceste
Comigo.

AQUI SEMPRE
A meu lado,
Este rosto
Sedutor
Nunca me 
Despertara
O desejo
De o cantar
Para além da 
Memória
Remota 
Do afecto...

PALAVRAS
E melodia,
O olhar
Penetrante
Da alma,
Um canto
Devotado
Que tocasse
Em cada dia
As fronteiras
Intangíveis
Do sagrado.

FOI PRECISO
Aprender 
Os ofícios
Da arte
Pra te poder 
Celebrar
E dizer 
De todas as formas
Que sei
O que não quero
Calar.

E AQUI ESTOU.
Esse dia
Haveria de
Chegar.
E chegou.
JasFioriperte-cópia

“Flores do meu Jardim Encantado”.

 

MARMELADA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Dança da Combustão”.
Original de minha autoria
para este poema. Maio de 2020.
Combustão030520_Fim

“A Dança da Combustão”. Jas. 05-2020.

POEMA – “MARMELADA”

COMO GOSTO
Da tua marmelada,
Meu amor...
...........
E gosto de
Chocolates,
Dos que me
Sabem a ti,
A esse tão doce
Sabor.

GOSTO DA METAFÍSICA
De confeitaria
Porque me adoça
A alma,
É nela que eu te
Encontro,
Nesta minha 
Fantasia,
Quando a noite
Se faz calma.

SOU GULOSO,
Como sabes,
E como é doce
E macia
Esta tua marmelada,
Sinto-a
Como alquimia,
Como arte
De uma fada.

COMO, COMO,
Sem parar,
Sabe-me
Sempre a ti,
Ao brilho
Do teu olhar,
Ao perfume 
Do teu corpo,
Onde hei-de
Naufragar.

NESTA TUA
MARMELADA,
Eu vejo-te
Artesanal,
Com os marmelos
Nas mãos,
Sabores
Em harmonia,
Uma receita fatal,
Polpa moldada
Por ti
Na dança
Da combustão,
Cor intensa
E profunda,
Iguaria
De convento
Com teus frutos
Em fusão.

TALVEZ A TENHAS
Criado
Em tempo
De quietude
Ou mesmo de
Solidão,
Quando esvaece
Esse lado
Tão agreste
E tão crispado
Que te esconde
A beleza
Dos momentos
De paixão...

AH, A MARMELADA,
A metafísica,
Chocolates,
Confeitaria...
..............
A doçura
Do teu jeito
Vai ficar-me
Sempre viva
Como suave
Suspiro
Que se solta
Do meu peito...
...............
Por essa tua
Magia...
Combustão030520_FimRec

“A Dança da Combustão”. Detalhe.

TRÊS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Geometria”.
Original de minha autoria.
Abril de 2020.
GeometriaFinal26

“Geometria”. Jas. 04-2020

POEMA – “TRÊS

SINTO TRÊS VEZES
A tua falta
Na sofrida
Solidão
Onde encerro
O que não tenho
No Monte,
Oráculo
Desta minha
Invocação.

TRÊS VEZES
Eu sinto
O teu silêncio,
Na ausência
Do teu rosto
E do som
Da tua voz,
Do aroma
Do teu corpo...
................
Minha foz.

ATÉ A ALMA
Escasseia...
...............
Não lhe sinto
Pulsação,
Desmaiada
Sobre mim,
Inerte
Nestes meus braços,
Uma carícia
Sem fim...

TEU SILÊNCIO
Cai pesado
Sobre a minha
Solidão,
Meteorito
Na alma,
Inaudível
Colisão.

SOBRA-ME,
De ti,
O nome,
Rasto da tua
Passagem
Na rua
Que já foi minha,
É nela que eu
Te sonho
E te pressinto
Como deusa
Nas noites
Do meu luar
E te canto
Em poemas
Onde os nomes
São metáforas
E sem limite
O poder
De nomear.

EU SINTO
A tua falta
Três vezes
De cada vez.
É falta a mais,
Eu bem sei,
Mas o número
Perfeito
É o três.

ABRAÇO
O número
Da perfeição,
Desenho
Triângulos
Em liberdade
Até que os sinta
Vibrar,
Instrumentos
Musicais
Que dão voz
À minha dor
Na exacta
Geometria
De teus breves
 Rituais.

 NELES OUÇO
A tua melodia
Como eco
Desse nome
Que no sonho
Invoquei,
Dou início
Ao poema
Para te sussurrar
Baixinho
A história
Que sonhei.
Geometria29R

“Geometria”. Detalhe.

 

ALMA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração – “S/Título”.
Original de minha
autoria para este poema.  
Abril de 2020.
S:TituloFinal2_19

“S/Título”. Jas. 04-2020

POEMA – “ALMA”

SE QUISESSE
A tua alma
Como anjo
Do pecado,
Que farias
Do teu corpo
Que eu sonho
Imaculado?

SE O TEU CORPO
Pedisse
O poeta
Apaixonado
Não lhe darias
A alma,
Tributo do teu
Secreto
Pecado?

MAS EU QUERO
A tua alma
Mais do que quero
O teu corpo,
Do que de ti
Eu mais gosto,
Porque é ela
Que me fala
No brilho
Desses teus
Olhos,
No veludo
Do teu rosto.

ÀS VEZES
(Eu pressinto)
Abandonas-te
Ao ritmo
Encantatório
Das palavras
Que te lanço,
Da melodia que
Embala,
Da beleza
Do meu pranto
No poema
Que te fala.

É DIFERENTE
O meu encontro
Com teu rosto
Tão macio,
O brilho do teu
Olhar...
.................
Ou com sulcos
Tão crispados,
Espelho
Da tua alma,
Quando roubam
O encanto
Desse sorriso
Esboçado
De quem constrói
O futuro
Nas ruínas
Do passado.

O QUE EU
Procuro em ti,
É o lado
Desta minha
Perdição,
A beleza
Dos teus olhos
Onde te fala
A alma,
Onde cresce
Cada dia
Uma incontida
Paixão.

TALVEZ O TEU
SILÊNCIO,
Linguagem
Em forma pura,
Me seduza
E me cative
Na fronteira
De uma dor...
...............
Que com poesia
Se cura.
Jas_S:TituloFim1904R

“S/Título”. Detalhe

 

VOAR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Pássaro de Fogo”.
Original de minha autoria
sobre desenho de Vera Sousa.
Abril de 2020.
Uccello12

“Pássaro de Fogo”. Jas. 04-2020.

POEMA – “VOAR”

APETECE-ME VOAR
Sobre o teu silêncio,
Confinado que estou
Entre paredes
De um subtil
E incerto afecto
Que me vai capturando
Pela sedução
De uma ausência
Insinuada...

AH, MAS EU SEI
Que estas paredes
São do tamanho
Da minha fantasia
E que o voo,
Livre como é,
Não terminará
Até que te sinta
Pulsar finalmente
Dentro de mim...

E SEI TAMBÉM
Que as minhas asas
Terão sempre
As cores
Do arco-íris
Para com elas
Voar
Sobre o vale da
Tua vida,
Montado num
Pássaro de Fogo.

VER-TE-EI 
Lá de cima
Caminhar distraída,
Perdida
Nas encruzilhadas
Que vais criando
No sendeiro inóspito
Da tua vida
E lançar-te-ei
Âncoras coloridas
Que dêem mais luz
À incerteza
Que te vai na alma.

E AGORA,
Que o pintei,
Já tenho um
Mensageiro
Que te levará,
Com o vento
(Ou num
Inesperado
E feliz reencontro
De palavras),
As cores
Com que, docemente,
Te vou pintando
E as deixará
No parapeito
Da tua janela.

MAS NÃO PRECISARÁS
De abri-la
De par em par
Porque ele não
Entrará...
.............
Poderia
Incendiar-te
A fantasia e
Engravidar-te
A alma
Com o fogo
Que levará
Consigo...
Uccello12Rec

“Pássaro de Fogo”. Detalhe.

 

REGRESSO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Primavera”.
Original de minha autoria
para este poema.
Abril de 2020.
RegressoFinal05LUZ

“Primavera”. Jas. 04-2020

POEMA: “REGRESSO”

ESTÁS TÃO LONGE
E tão perto
Eu te sinto...
.............
Neste tempo
De fronteiras
Eu sofro
O teu silêncio 
Como espinho
Cravado
Da mais brava
 Das roseiras.

MESMO ASSIM,
Mesmo em dor,
Regresso sempre
Ao lugar
Onde eu
Te conheci,
Ao mistério
Do teu rosto,
Quando por ele
Me perdi...

PERDI-ME,SIM,
Mas encontrei
O que julgava
Não ter,
Porque foste
O espelho
Onde me vi
Renascer,
Embora já
Pressentisse
Que por culpa
Do destino
Eu te iria
Perder.

AH, SE SOUBESSE
Onde estás
O vento
Levar-me-ia
Ao parapeito
Da tua incerta
Janela,
Ver a tua
Silhueta,
Partilhar
A solidão,
Sonhar,
Sentir-me
Um passarinho
Aninhado
Docemente
Na palma
Da tua mão,
Sem vontade
De voar...

MAS EU NÃO SEI
Onde estás,
O que fazes,
Com quem andas,
Se trabalhas,
Se viajas,
Se sonhas
E fantasias,
Se não ouves
Ou não lês
Os sinais que
Eu te dou...
..............
Poéticas
Sinfonias
Em pautas
Onde transcrevo
O que de ti
Me ficou.

OH, QUE DESTINO
Me calhou,
Ter-te 
Encontrado
Um dia
Para logo
Te perder
Nos caminhos
Desta vida
Que me levam
A cantar
Esta triste
Melodia
De eterna
Despedida...
RegressoFinal05LUZRec

“Primavera”. Detalhe.

 

INVOCAÇÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Casas no meu Jardim 
Encantado”. Original de minha 
autoria para este poema. 
Março de 2020. Veja a nota
no final do poema.
Casasnojardim2903Final

“Casas no meu Jardim Encantado”. Jas. 03-2020

POEMA – “INVOCAÇÃO”

QUE SINTAS
 O pulsar
Do poema
No teu peito
Para te ter
No silêncio
De uma casa
Iluminada 
Pelo brilho
Das magnólias
E da luz
Da primavera
Ao lusco-fusco
De um entardecer
...................
É o que mais
Eu desejo de ti.

SE CAÍRES EM SILÊNCIO
Profundo
Para melhor
Ouvir
O meu canto
E sentir o aroma
Das cores
Com que pinto
Para te encher
A alma
De Primavera...
...................
Ah, que feliz
Eu me sinto.

SE SENTIRES
Dentro de ti
O chamamento
Ao poema
E o ritmo do meu
Pulsar
Continuarei
A visitar
O oráculo
E a subir
À montanha
Onde a deusa
Espera
Notícias de ti.

SE O TEU SILÊNCIO
For o eco da
Minha voz,
A dança da melodia
Cantada 
Em surdina
Saberei que
Abraçaste o tempo
À medida de um
Sonho
Revelado
Onde constróis
O futuro...
...............
Reinventando o
Passado.

E SE EU SENTIR
Uma suave
Tristeza
De tanta ausência
Sofrida
E uma doce 
Nostalgia
Da luz 
Desses teus olhos 
Que m'incendeia 
O olhar
Então isso
Quer dizer
Que te amo...
...........
Com a alma
A transbordar...

MAS NÃO SEI...
................
Não sei se
Tudo será
Uma cálida
Fabulação
Pr’alimentar
A sede
Insaciável
De teu corpo
Imaginado
Num poema
Em que sonhei
Ter-te, assim, 
Tão intensamente
Amado...
Casasnojardim2903FinalRec

“Casas no meu Jardim Encantado”. Detalhe.

TALVEZ MOVIDO POR ESTE POEMA, 
tenho, nestes dias, 
frequentado, mais do que o 
habitual, as obras de Nietzsche. 
Transcrevo, pois, aqui dois 
aforismos (161 e 175) 
tirados de “Para além 
do bem e do mal", de 1886:  
1. “os poetas não têm pudor 
das suas aventuras; exploram-nas” 
– os poetas vivem as suas 
experiências íntimas como 
alimento da sua fantasia; 
2. “cada um ama o seu desejo 
e não o objecto desse desejo” – 
o que subsiste é o desejo, 
tudo reside nele e é ele 
que move montanhas.

Este poema remeteu-me para a 
necessidade de ter 
estes aforismos sempre presentes, 
tal como o aforismo 153: 
“o que se faz por amor está 
sempre para além do bem e do mal”. 

E não fosse a conversão interior 
e o desenho estético das suas 
pulsões naturais, 
para além do bem e do mal, 
a dor do poeta 
seria irremediável 
e talvez insuportável.
 
Assim, escreve, pinta 
e segue em frente, 
alheio ao (silencioso) ruído
exterior que ameaça 
perturbá-lo. 

O Nietzsche está mais perto 
da arte do que 
da filosofia. Sinto isso 
na minha própria pele. 
Eu, que não sou Zarathustra: 
“Die Liebe ist die 
Gefahr des Einsamsten” – 
“O amor é o perigo 
do mais solitário” 
(“Assim falou Zarathustra”, 
1883-85, III, Der Wanderer).
JAS#03-2020

 

BRILHAM OS TEUS OLHOS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Oráculo”. 
Original de minha autoria para
este poema. Março de 2020.
Outono7psd

“Oráculo”. Jas. 03-2020.

POEMA – “BRILHAM OS TEUS OLHOS”

NO ORÁCULO
Há uma árvore
Iluminada
Nos dias de ritual...
...................
Essa árvore 
És tu
E eu a luz
Que alumia
Com o ceptro
De cristal
Do templo sagrado
De Athena,
Da arte
A catedral.

ÀS VEZES BRILHAS,
Incendeias-me
A alma e
O estro
No poema
Em construção,
Outras convocas
A sombra
E o silêncio,
A árvore
Entristece
E também eu
Me apago
Em infausta
Comoção.

É BELA A ÁRVORE
(Sem frutos),
Beleza luminosa
E um pouco fugidia
Quando em dias
De ritual
Quero cantá-la
Com vigor
E fantasia
Porque o brilho
Dos teus olhos
Me acende
Esta paixão
Como pura energia.

SE NELA EU 
NÃO TE VEJO,
Apago-me
Em submissa
Tristeza,
Falta-me o teu
Olhar,
De cada poema,
A luz 
E, do afecto,
Delicada
Incerteza...

FLUI O TEMPO,
Meu amor,
Gasta-se a vida,
Fogem de nós
As palavras,
O olhar
Empalidece
E esvai-se
A alegria,
O oráculo
Não acolhe
Este canto
E, depois,
Volta a rotina
De cada dia
E eu perco
O teu encanto...

MAS A DEUSA
Aguarda-nos
Impaciente
E eu hesito
A chamar-te
Ao ritual,
Tenho medo
Que não ouças
E perca,
Do oráculo,
A magia
Do seu ceptro
De cristal...

AH, MAS EU OUÇO-TE
Sempre
Dentro de mim
(És a minha
Salvação)
E convoco-te
Ao poema
Pr’acender
Com a tua melodia
A árvore
Inspiradora
Da minha deusa
Athena
Enquanto 
Meu canto
Durar
Nos dias 
Do ritual.

NÃO TE ABANDONES TU
Na perdição 
Da rotina,
Não apagues
Essa luz
Que começa a
Renascer
Com brilho que
M'ilumina,
Deixa que eu
Te cante
E te celebre
Em cada amanhecer,
Te acenda
A fantasia
Nem que seja
Num instante
Duma noite
Ou no acaso 
De um dia.
Outono6psdRec

“Oráculo”. Detalhe.

 

RAÍZES

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Jardim Encantado”.
Original de minha autoria 
para este poema. Março de 2020.
Jas_JardiimEncantado1503Transp

“Jardim Encantado”. Jas. 03-2020

POEMA – “RAÍZES”

FUI PROCURAR-TE
Ao Jardim
 (Vou sempre,
Quando te quero),
És planta
Seminal,
Magnólia,
O teu nome,
Erecta
Em mil raízes,
Encantado
Pedestal.

ÉS CÁLICE
D'AFECTO,
Cativas
O meu olhar,
Pedes palavras
Sem fim,
Cânticos,
Poesia
A brotar...

REVEJO-TE
Nela, mulher,
O seu porte
(Como o teu)
É altivo,
Desafia-me
O canto
Pra que o possa
Partilhar
E assim estar
Contigo,
Seduzido,
Por encanto,
Para logo
Te amar.

UMA GRAÇA,
É o que és,
Dessas três
Que sempre
Canto,
Com poemas
E alguma
Timidez
Que dissimula
O meu pranto...

UMA GRAÇA?
Ah, sim,
A que o poema
Resgata
Do futuro
Que perdeu,
Feita
De muitas raízes,
Desenhada
Com palavras
Onde o seu mito
Cresceu
Pra que o tempo
A conserve
E lhe marque
A ventura
Que a Moira
Concedeu.

NESTE JARDIM
Renasceste,
Acendeu-se
O verde
Desses teus olhos
De luz
(Ou castanho,
Já nem sei)
No brilho
Da primavera
Que vestirá
O teu corpo
Em tempo
De sagração...

APETECE-ME
Beber-te
Na seiva
Destas raízes,
Embriagar-me
De ti,
Deste cálice 
D'afecto,
Enlaçar-me
Com elas
Pra te amar
Nas origens,
No lugar onde
Nasceste,
Onde sofro de
Vertigens
Por aquilo
Que me deste...
.................
Só aí eu sei
Quem és...
Jas_JardiimEncantado1503TranspR

“Jardim Encantado”. Detalhe.

 

 

MARÇO

POEMA de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Fauno em Março" - Original
de minha autoria.
Oito de Março de 2020.
Fauno06_2020

“Fauno em Março”. Jas. 03-2020

POEMA – “MARÇO”

GOSTO DE MARÇO,
Entre o branco e
As flores
Que despontam
Na fronteira
Do tempo,
Entre a neve
E a primavera.

GOSTO DO BOTTICELLI,
Rostos e corpos
Feminis,
Volúpia de
Transparências
Sensuais.

GOSTO DA PELE
Acetinada
Dos corpos,
Dos traços
E da cor
Que desenham
Alvura nas
Três Graças...
..............
E no Amor!

GOSTO DO BRANCO,
No alto da Montanha
E das cores intensas
Que interpelam,
Insinuantes,
O meu olhar
Deslumbrado,
Cá em baixo,
Neste vale
Por elas sempre 
Iluminado.

GOSTO DE MARÇO,
Ah, como gosto!
Entrei nele
Contigo,
Ombro a ombro,
Em contraponto
Que se consumou
Como silêncio
Fatal,
Marca de tempo
Quase irreal,
Face obscura
Do meu rosto
Entristecido.

QUE O DIGAM
Os astros
Desalinhados...
...............
Para ti colhia
Flores luminosas,
Crescia
A inspiração
Em estrofes
Arrebatadas
Com que sentir
Fingia
O que dizer
Não podia.
Contraponto.
O outro lado
Da tua melodia...

MARCADO
Como selo
De inspiração
Às avessas,
Lá vou eu
Por aí,
Nem sei porquê
(Ou por falta de ti),
De braço dado
Com Botticelli,
Lá em cima,
na Galleria,
Onde quase morei,
Transeunte
Irreverente
No incerto desafio
De um dia.

PROCURO-TE, SIM,
Na laica oração
À deusa Athena,
A que trazes
(Eu bem sei)
No centro 
Do teu coração.

SINTO-TE PERTO
(É estranho, não é?),
Depuro
A tua imagem,
Bissetriz de mil
Rostos perdidos,
Até se tornar
Ideia precisa
De corpo ausente...

DEPOIS, AH, DEPOIS
REINVENTO-A
A cada instante,
Abraço-a
Com alma
De amante,
Pinto-a com
Palavras
De poeta
Encantado
E sonho-te
Numa plácida noite
Da primavera
Que assoma...

AO ACORDAR,
No amanhecer
De cada poema
Verei que continuas
Em mim
De olhos fechados
Como se fosses
Memória profunda
Do que nunca
Aconteceu.

ANDAREI
Por aí
(Os astros o dirão),
Vagando
Sobre o pólen
Da beleza sensível
Onde pousarei
O meu inquieto
Olhar
À procura
De alimento
Para pintar
O poema...
........................
E talvez o impossível!

LÁ NO ALTO
Te encontrarei,
No fio do horizonte,
Um risco,
Projecção do teu
Olhar
A construir infinito,
Onde, num adeus
Sem fronteiras
Nem cais de partida,
Hás-de desenhar
Com a alma
As mil silhuetas
Inacabadas...
................
Ou talvez não!

MEU DEUS,
Como gosto de ti...
...............
Em Março!
Fauno06_2020Rec

“Fauno em Março”. Detalhe.

 

MANDEI PODAR O LOUREIRO…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Loureiro em Flor
 no meu Jardim Encantado”.
Original de minha autoria
para este poema. Março de 2020.
Exp.Lou

“Loureiro em Flor no meu Jardim Encantado”. Jas.  03-2020

POEMA – “MANDEI PODAR O LOUREIRO…”

MANDEI PODAR O LOUREIRO
Num dia de Carnaval,
Cada ramo que caía
Doía, 
Fazia mal.

ESPALHAVA-SE O AROMA
Intenso pelo Jardim,
O podador a cortar
E, ele, triste  
E tão dorido, 
Sempre a olhar 
Para mim...

“QUE FIZ EU PARA SOFRER,
Estou sempre
À tua frente,
Porque mandaste
Podar-me,
Assim,
Tão de repente?”

“FOI PARA ME RENOVAR,
Pra ganhar
Um novo alento?
Porque não paras 
De olhar,
Acalmas o sofrimento?”

“JÁ NÃO APONTO PRÒ CÉU,
Fiquei mesmo redondinho
E, tu, quando me olhas,
Ficas sempre mais sozinho,
Mais longe do meu perfume
Que deitaste a perder
Com aparente azedume
Porque não podaste
A tempo
O que havia de crescer.”

“PERDI MUITAS
Das minhas bagas,
Estavam em mim 
Às centenas,
Agora ficaram chagas
E não são muito pequenas.”

“LEVOU-MAS O PODADOR
As bagas que tu perdeste,
Já não sinto o teu calor
Por tudo o que não fizeste
Mas que podias fazer
Se tivesses mais coragem...
......................
Deitaste tudo a perder
Só porque era selvagem!”

“NÃO SÃO LOUROS 
De glória,
Não são...
................
Por que razão 
Me deixaste,
Ferido de 
Tanta paixão?
Para teres 
Uma vitória
Que não merece
Perdão?”

“AGARRA-TE A MIM 
Agora,
Sou teu loureiro 
Em Jardim,
Se não quiseres,
Vai-te embora,
Que eu fico-me assim,
Mais pequeno, 
Mas robusto,
Mais redondo 
E mais belo...
...................
Serei sempre 
Mais que arbusto,
Não é preciso 
Dizê-lo.”

O LOUREIRO DO JARDIM
É planta seminal,
Viajo com ele
No tempo 
Como se fosse imortal.

É ÁRVORE DE POESIA,
É fonte d’inspiração,
Ajuda-me a renascer
Se vacila o coração. 

É UM POSTO DE VIGIA,
Cresce, cresce
Para cima,
É com ele que 
Eu resisto,
Declinando-me
Em rima...

POR ISSO MANDEI
Podá-lo
Para se fortalecer.
Se o não tivesse feito
Ia mesmo esmorecer
E com ele também eu
Caía em negação...
................
Não são fáceis
Estes tempos,
Mas loureiro é canção!
Exp.LouRec

“Loureiro em Flor no meu Jardim Encantado”. Detalhe

 

SONHEI-TE, NAQUELA NOITE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Um Sonho”.
Original de minha autoria.
Fevereiro de 2020
JAS_Meteorito030918PublicadajpgTrab

“Um Sonho”. Jas. 02.2020

POEMA – “SONHEI-TE, NAQUELA NOITE”

SONHEI-TE, MEU AMOR.
Atravessava o deserto,
Há muito.
Nada via no horizonte.
Areia, só areia
No meu caminho
E uma neblina quente
Lá ao fundo...
Nem sabia se
Na longa caminhada
Encontraria
Um oásis
Onde molhar
Os lábios
Já gretados
De tanta aridez...

MAS HOJE SONHEI-TE.
Saí do deserto
E reencontrei o oásis
Nas pupilas dos teus
Olhos.

ANINHEI-ME EM TI,
Sereno como nunca
Estivera
Desde que te conheci.
Ofereci-te uma história
Em papel
Onde te conto,
Nos conto
À exaustão,
Até ao limiar 
Do impossível,
Mas com uma réstia
De esperança
De não ter de 
Regressar
À torreira 
Do deserto.

FALÁMOS DE ARTE,
Imagina,
Do seu poder
Curativo
E de como a vida
Se lê
E se resolve
Nela.

ABANDONEI-ME
Nos teus braços,
Perdido em quentes
Memórias,
E caminhámos
Nem sei bem por onde
Ou para onde.

SONHEI-TE
Esta noite,
Meu amor.
E, sabes?
Acordei de ti
Embriagado
De felicidade, 
Uma doce tontura...

AH, HABITUEI-ME
A estar contigo
Em sonho,
A dizer-te 
Em poemas,
A interpelar-te
De longe...

HABITUEI-ME
Ao teu silêncio,
A uma fronteira
Inultrapassável
A não ser
Pelo vento
Que te cicia os
Meus murmúrios...

TENHO-TE
Dentro de mim
E já nem sei
O que seria
Encontrar-te,
Olhar de perto
Esses teus olhos
Negros e profundos,
Sentir o teu perfume
E naufragar
No mistério
Insondável
Da tua vida.

TALVEZ TE PERDESSE,
Nesse instante,
Por excesso de ti.
Mas eu não quero
Perder-te,
Meu amor.
JAS_Meteorito030918PublicadajpgTrabRec

“Um Sonho”. Detalhe.

 

 

A PALAVRA PROIBIDA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Beija-Flor em Magnólia”.
Original de minha autoria.
Fevereiro de 2020.
Jas_Beija_Flor150220

“Beija-Flor em Magnólia”. Jas. 02-2020.

POEMA – “A PALAVRA PROIBIDA”

OS GUARDIÕES
Do sagrado templo
Da palavra
E da cor
Emitiram edital:
“O amor em poesia
Fica assim proibido
Porque pode ser 
Fatal.
Os versos 
E as estrofes
Banhados 
A luz e cor
Ficam pra sempre 
Banidos
Da arte 
E do amor.” 

DIZ O GRANDE
HONORÉ,
Balzac, de apelido,
Certeiro,
Como poeta,
Na palavra destemido,
Que o Amor
É poesia, 
É a arte 
Dos sentidos,
É perfume
Que inebria
E nos faz sentir
Perdidos
Se não houver
Guardião
Que decrete,
Impenitente: 
“Também eles 
São proibidos!” 

PROIBIDOS?
Ah, esses, 
Não,
Poesia
É emoção, 
É enlevo
Dos sentidos
Que resiste
Ao edital
Mesmo que seja
Cantado
Pelo mais belo
 Jogral. 

O POEMA LEVA
Aos píncaros
Da mais alta
Fantasia,
Sobem ao monte
Os sentidos
Com as asas
E a leveza
Da arte
Em poesia. 

MAS É DIFÍCIL
Ouvir 
E sentir
Em verso
Com alegria
Pois há sempre
Alguém
Que me rouba
A brisa
Dessa tua 
Maresia,
A que respiras
Bem cedo,
Logo ao 
Amanhecer
Quando ouves
O meu canto
Para nunca 
Te perder. 

OLHAS O MAR,
Ouves
As ondas
Dentro de ti
A cantar
Com versos
Que o vento 
Sopra
Pra te poder
Ciciar
O que por ti
Eu já sinto
Nesta canção
Que compus
Numa noite
De luar.

POESIA
Dos sentidos...
......................
O amor é mesmo isso,
Porque, queiras 
Ou não queiras,
Tem a força 
De feitiço.

ENCONTRO-A
Sempre em ti
E mesmo que 
Proibidos
Escrevo sempre
Poemas
Desde o dia
Em que te vi.

EXALTARAM-SE
Os sentidos
(Não sentiste?)
E para o poema
Parti
Com as asas
E as cores
De um belo colibri...

DECRETARAM
Edital.
Ah, que o façam, 
Pois, cumprir.
Mas poesia
É como vento
Que te leva
Cada dia,
Sopra
Tão forte
Na alma
Que o silêncio
É alento 
De poeta
Que com palavras
Se salva.

À PALAVRA PROIBIDA
Sempre o poeta
Resiste,
É livre no seu dizer
Das razões
Da sua vida
Quando a dor
Atormenta
E o sofrimento persiste...
Jas_Beija_Flor150220Rec

“Beija-Flor em Magnólia”. Detalhe.

 

ESTAVAS À MINHA FRENTE…

Poema de João de Almeida Santos.
Reproponho, com ligeiras alterações,
o poema – de Gianni para Paola, personagens
do meu romance “Via dei Portoghesi” 
(Lisboa, Parsifal, 2019) –
que publiquei há quatro anos.
Ilustração: “Licht, mehr Licht...” -
Original de minha autoria.
14 de Fevereiro de 2020.
Licht4

“Licht, mehr Licht…”. Jas. 14.02.2020

POEMA –  “ESTAVAS À MINHA FRENTE…”

PASSARAM ANOS E ANOS
Que nem consigo contar,
Estava feliz de te ver,
Ouvias-me nesse Solar
A dizer o que sentia
A sentir o teu olhar.

COM MEUS OLHOS TE DIZIA 
Que o mundo ia parar
Se chegássemos um dia
Nem sei bem a que lugar.

ESTAVAS À MINHA FRENTE
E pousavas o olhar
Em mim, tão docemente...
.....................
Nem podia acreditar,
Havia um brilho diferente
A iluminar o Solar...

FOI ESSE UM DIA FELIZ
Luminoso para mim
Vi-te com outra roupagem
Como se fosses cetim,
Perfume e suave aragem,
Um doce embalo sem fim...

LANCEI ENTÃO O OLHAR
Para a torre de marfim
Onde te fui projectar,
Tão bela eras assim,
Nesse dia, 
Nesse lugar,
A dizer o que sentias,
Dando voltas às palavras
Que timidamente dizias,
Medindo bem os efeitos
Que tu já bem 
Pressentias...

ESTAVAS À MINHA FRENTE,
Falávamos nesse Solar
E eu estava feliz,
Bastava-me o teu olhar.

NA MEMÓRIA DO PASSADO
Já não vejo esse lugar
Onde possa estar contigo,
Onde te possa falar,
Cumprido esse castigo
De não te poder encontrar
A não ser com as palavras
Em que me ponho a nu,
Como se vê pelo dia
Em que as lanço ao vento
Tão fortes de meu soprar
Para ver se é com elas
Que te consigo alcançar...

ESTAVAS À MINHA FRENTE,
Lembro-me do teu olhar
No bulício desse dia,
Do teu leve respirar.

AGORA FOGES DE MIM.
Tens medo de soçobrar?
Tu és mais forte que eu
Resistes ao meu olhar,
Às vezes com timidez,
Outras sem me enfrentar...

NOS DIAS EM QUE TE VEJO
Ganha alento a minha vida,
Fortaleço-me a alma
Suspendo a despedida,
Fico sereno, em calma,
Cicatriza-me a ferida.

SE OLHAR PARA O FUTURO
E não te vir no caminho
Fica a vida sem sentido
E vazio o meu destino...

NÃO ESQUEÇAS QUEM, 
Ausente,
Ouve a tua melodia
E em cada instante pressente
O poder dess’alquimia
Que funde tudo o que sente
No sentir de cada dia.

E ASSIM VOU REGRESSANDO
A essa torre de marfim
Que vou construindo
Em palavras
Do que persiste em mim...

ESTAVAS À MINHA FRENTE…
Licht4Rec

“Licht, mehr Licht…”. Detalhe

 

O MEU NOME

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Teu Corpo” - Original de
minha autoria. Fevereiro de 2020.
JAS_Deusa09022020

“O Teu Corpo”. Jas. 02-2020

POEMA – “O MEU NOME”

PORQUE NÃO
ME NOMEIAS,
Meu amor?
Nome-ar.
Tão simples.
Quatro letras.
Devolver-me
Identidade,
Aquecida
Nos teus lábios
Pelo ar quente
Que respiras...

ASSIM, PERCO-ME,
Não sei de mim,
Fico sem espelho
Onde me ver
A cores
E em perfil
De traço fino
Nos teus doces
Murmúrios...
................
Que sufocas...
..............
E não desvelo
O destino traçado
Pelos deuses
No chão arenoso
Do caminho 
Da minha vida.

TORNO-ME SOMBRA
De mim
Quando me interpelas
Sem nome-ar,
Não me reconheço,
Sou outro,
Pronome
Indefinido ou
 Interjeição,
Ideia vaga,
Incerto perfil
Que se dilui
Como aguarela
Em folha branca
Manejada
Por ti à procura
De uma forma
Que, afinal,
Não tem nome.

PORQUE CATIVAS
O som
De quatro letras
E não cantas
A minha melodia
Com uma palavra
Só?
Ah, a tua boca
Logo hesita
Quando a palavra
Assoma
À flor dos teus
Lábios,
Como daquela vez
Em que soou
Timidamente
Como sussurro,
Murmúrio
Imperceptível,
Em surdina,
Na fronteira 
Do silêncio.

O MEU NOME
Desata
A tua alma
E ameaça
Levá-la consigo
A voar sobre
O mundo
De mãos dadas
No fio do horizonte?
São vertigens,
Meu amor?

AH, SE ASSIM FOSSE
Diria
O teu nome
Mais do que digo
Até adormecer
De cansaço....
.............
Só para te
Sonhar.

MAS TU NÃO
ME DIZES
Porque me desejas
Como parte de ti,
Sem partilha
Nem confissão?
Guardas
O meu nome
No silêncio
Do teu peito,
Como se fosse
Pecado dizê-lo?
Sentes perigo?
Que o meu nome
Se torne lava
Ardente,
Beijo verbal
Proibido
Pela gramática
Do amor
Logo ao primeiro
Sinal?
E foges
Para dentro
De ti
Com o coração
Aos pulos?

OH, TAMBÉM EU
NÃO TE DIGO,
Como chamamento,
No meu poema,
Onde os nomes
Se dizem
De outro modo,
Têm som
E ritmo
Diferentes,
São notas
De uma melodia
Sofrida
E cifrada...

MAS AS TUAS LETRAS
Estão lá,
Todas,
Uma a uma,
E a cor
Dos teus cabelos
Em aguarela
E o cetim
Da tua pele
Macia
Por onde deslizam
Os meus olhos
À procura dos teus,
Negros e profundos,
E essas mãos
Perfumadas
Filhas da arte
Que te desenham
A alma
Com riscos
E cores
Que atiras
Ao vento
Para que eu
Os agarre
E lhes dê
Som,
Ritmo
E sentido
Num poema...
..................
Ao entardecer...

E, ASSIM,
EU CANTO
O teu ser,
Tudo
O que foste,
O que és e
O que serás,
O que sabes e
 O que sentes,
O que vives e
 O que sonhas.
O que dizes
No que calas...
...........
Tudo,
Meu amor.

MAS TU DIZES,
Com a ironia
Do silêncio
Triste
Que te cativou,
Que também eu
Não te digo
Aqui,
Em arte,
Mesmo quando
Te canto mais
Do que ouves,
Te nomeio
Mais do que
Posso,
Te pressinto
Mais do que
Sentes...

E TU
Apenas te expões
Às minhas palavras,
À minha música,
Silencias-me
Porque balbucias
O meu nome
Só dentro
De ti,
Foges ao som
Encantatório
Que corre
Atrás de ti
Para se ouvir
Nos teus lábios.

BEM SEI
Que o teu mundo
Não é o dos nomes
Ou das palavras,
Sequer murmurejadas,
Mas o das cidades
Invisíveis
Na tua fuga
Permanente para
O infinito...

E SEI QUE AÍ
Me vais
Silenciosamente
Interpelando,
Como rosto
Mutante,
Essa tua forma
De docemente
Me soletrar.

NOMEIAS-ME, SIM,
Meu amor,
Mas à tua maneira!
JAS_Deusa09022020_1

“O Teu Corpo…”. Detalhe.

 

ESCULPIR-TE…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Bianco&Nero”.
Original de minha autoria 
para este poema. Fevereiro de 2020.
Travertino com veios

Bianco&Nero. Jas. 02-2020

POEMA – “ESCULPIR-TE…”

ENTRE O BRANCO
E O NEGRO
Quis esculpir-te
A alma
Na flor que,
Num acaso,
Encontrei
Perdida
No jardim
Da minha vida...

ATRÁS DE TI,
Ou em fuga
(Já nem sei...),
Gastara
Todas as cores do
Arco-íris
Que tinha
Guardadas
Dentro de mim.

SOBRARA
Uma marmórea
Pedra negra,
Espelho oracular
Onde me via
Escuro na alma
Por falta
De cores
Exuberantes
Que me protegessem
Do frio glacial
Da tua ausência
Nas longas
Intermitências
E contrapontos
Da nossa melodia.

SOPREI FORTE
Com a alma
Desnuda
E a flor
Pousou suavemente
Na pedra
Lisa e brilhante
Da catedral
Onde te ia
Celebrar...

ESCULPI-TE
Como filigrana
De ouro preto
Sobre branco-pérola,
Aurífice da tua
Alma sedutora
No coração
Alvoraçado
Dessa flor
Onde guardei
O teu nome
Gravado em letras 
Invisíveis.

CRIEI PARA TI
Alvas incrustações
Em filigrana
Como marcas
Indeléveis
Da arte
Que um dia
Me visitou
Para celebrar
A beleza
Do teu rosto.

E, AGORA,
A olhar para
O branco e o negro
Desse cântico
Desenhado
E esculpido
Ofereço-te
Este poema
Sobre pintura
Imaculada
Onde te celebro
Com beleza
Minimal,
Na cor
E na forma,
Sem fronteiras,
E onde
Te reinvento
Em fuga...
---------------
Um elegante
Fio branco
Que esvoaça,
Livre,
No marmóreo céu
Do teu altar.

A ÂNCORA,
A sul,
Desliza
Suavemente
Sobre ti
E dilui-se,
Como eu,
Na negra vastidão...

EVOCO-TE, ASSIM,
A branco e negro
Sobre a flor
Que um dia
Encontrei
Perdida
No meu jardim
Encantado
Quando visitava
O impossível...
.................
À tua procura...
Travertino com veiosRecorte

Bianco&Nero. Detalhe.

 

ESTOU A PERDER-TE…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Jardim das Memórias”.
Original de minha autoria,
com citações de Gustav Klimt (1912).
Janeiro de 2020.
UmaCasaNoJardim_3_1006PublicadaCOR3Cop

“Jardim das Memórias”. Jas. 01-2020

POEMA – “ESTOU A PERDER-TE…”

ESTOU A PERDER-TE
Meu amor,
O estro
Com que te canto
Esmorece,
Vai perdendo
Lentamente
O seu fulgor,
O poema
Empalidece
E eu,
Em poética anemia,
Sinto um doce
E sonolento
Torpor.

SUBI CONTIGO
AO MONTE,
 Ao meu jardim
Encantado,
Com as cores
Que tu me deste
Eu aprendi a cantar
Contigo sempre
A meu lado.

CANTEI
A TUA PARTIDA
Quando desceste
O vale,
Mas, triste e
Sem destino,
Por veredas
Caminhei
Com saudades
Do jardim
Que contigo
Cultivei.

PERDIDO
DE TI,
Vagueei
No monte
À procura
De eco
Do meu canto
Derramado,
Mas o eco
Era silêncio
Profundo
Sob o azul
Irreal
Da abóbada
Celeste
Desse monte
Seminal.

UMA TRISTEZA
PROFUNDA
Tomou conta
De mim,
Desmaiou
A emoção
De te ver
Ou inventar
Com as cores
Do meu jardim
Porque um silêncio
Cortante
Sufocava,
Impenitente,
O eco
Dessa canção...

TAMBÉM EU DESCI
O VALE
Da minha vida
E regressei
À triste
Monotonia
Sem teu rosto
Desenhado,
Semente
Em gestação
De cada palavra
Que verso
No poema
Em construção
Nesse jardim 
Encantado...

ESTOU A PERDER-TE,
É poética
Anemia,
Sinto vazio
No peito,
O estro já escasseia
E vacila
A melodia...

O CÂNTICO
É murmúrio
Inaudível
De alma ferida,
Sem comoção,
Que nem dor
Ela já sente
De tão gasta
Nesta vida
Por excesso
De paixão.

O VALE
ESPERA-ME,
Sinto-me vazio
De ti
Porque
Não chegam sinais
Da rua do
Desencontro
Nem das fugas
Irreais
Para o teu
Infinito,
Janelas
De onde te veja
Dobrar
As esquinas
Esquecidas
Do nosso
Contentamento.

ESTOU A PERDER-TE,
AMOR,
Não há janela,
Nem cor,
Não há tempo
Nem lugar,
Não há poema
Nem mar
Que suspenda
O vazio
De não poder
Navegar
Nas águas
Desse teu rio...
....................
Eu perdi-te,
Meu amor?
UmaCasaNoJardim_3_1006PublicadaCOR3CopR

“Jardim das Memórias”. Detalhe.

 

“EU VI UM ANJO…”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Melancolia”
Original de minha autoria 
para este poema.
Janeiro de 2020
Melancolia1901Finaljpg

“Melancolia”. Jas. 01-2020

POEMA – “EU VI UM ANJO…”

EU VI UM ANJO
Cair
Docemente
Sobre mim
Com seu rosto
Imaculado
Num momento
D’incerteza
Que parecia
Não ter fim...

VINHA ELE
Lá de bem alto
Onde eu
O pressentia,
Estremeci,
Um sobressalto,
Porque esse anjo
Imaculado
Em mim
Não caberia.

SUA LUZ
Era intensa,
Ofuscava-me
O olhar,
O seu brilho
Deslumbrava
E eu senti-me
Cegar...

MAS NÃO SEI
Se era anjo...
................
Talvez fosse
Uma mulher,
E se não fosse
Arcanjo,
Ah,
Não era um
Rosto qualquer...

POR ISSO
ME FASCINOU,
Porque ao vê-lo
Descer
Desse trono
Onde reinava,
Quase, quase
Me cegou
A luz
Que o transportava...
..............
E levou-me
Ao Olimpo
Onde a arte
Lhe sobrava...

FIXEI-O, ENTÃO,
Num quadro
De memória,
Traços leves,
Cores intensas
Que cativam
O olhar.
Pintei-o
Da cor da
Minha paixão
Para nele
Desvelar
Essa mulher
Sensual
Que me veio
Cativar
Nesta tão bela
Prisão.

DESENHEI-A
Como belo
Avatar
Que entrou
Dentro de mim
Para sempre
Me lembrar
Que era
Uma mulher...
............
E não era
Querubim.

MAS VI UM ANJO,
Ah, eu vi,
Entrar bem
Dentro de mim
Sob forma
De mulher,
Porque anjo
Imaculado,
Uma grandeza
Infinita,
Não caberia
No meu pequeno
Jardim.

EU VI UM ANJO
DESCER
Neste vale
Da minha vida
E ele fez-me
Crescer,
Recomeçar
A partida...
.............
Para logo me
Perder...

E COM POEMAS
Parti
Em viagem
Ao Olimpo
Para com ele
Voar
Em cada palavra
Que digo,
Em cada verso
Que sinto...
.............
Mas bem sei
Que me perdi...

jas_melancolia3Final1901

“Melancolia”. Detalhe.

 

“A COR DA MEMÓRIA”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Transparência”.
Original de minha autoria
para este poema. Janeiro de 2020.
Transparência1

“Transparência”. Jas. 01-2020

POEMA – “A COR DA MEMÓRIA”

NUM DIA DE CHUVA,
Bateram levemente
À porta da minha
Memória... 

ERA TRANSPARENTE,
A porta.
Vi que eras tu.
Reconheci a tua boca,
O bâton púrpura
Dos teus lábios. 

NÃO SEI SE
ME PRESSENTISTE,
Não sei.
A porta
Era um espelho,
Através dela
Só se via
Do lado de cá. 

ENTRASTE,
Cheia de cor,
Que a chuva
Humedecera,
Mas deixara
Intacta.
Apenas com mais
Brilho...
........
O teu! 

TAMBÉM TU
ERAS TRANSPARENTE.
Olhei-te
E vi, através de ti,
Um céu plúmbeo... 

E, NA TRANSPARÊNCIA,
DESPONTOU O SOL,
Coado em amarelo.
Havia umas nuvens
Escuras
A nascente,
Lá no Monte... 

ÀS VEZES, O AMARELO
Ganhava tons de
Âmbar
E vestia-te o corpo,
Nu,
Na minha intangível
Memória
Fotográfica. 

VIA COM NITIDEZ,
Sereno,
Esse teu belo
Sorriso
Cristalino,
Mas, quando te quis
Tocar,
Ao de leve,
Um vidro desceu,
Vertical,
Sobre nós.
Era frio
E húmido,
Esse vidro.
Separou-nos.
E eu chorei! 

AS LÁGRIMAS
Escorreram
Pelo vidro.
Tentaste
Agarrá-las
Do lado de lá
E fixá-las com
Todas as cores
Que tinhas contigo.
Ficaram apenas 
Algumas gotas
Amarelas
Nesse vidro frio,
Húmido
E cortante...

DE REPENTE,
Tornaste-te sol
E eu já não era
Mais do que um
Reflexo dos teus
Raios filtrados
Por algumas
Nuvens...
.........
Escuras! 

DESPERTEI
Ao som
De dedos que batiam
Suavemente
À porta
Do meu quarto.
Corri a abri-la...
...............
Ninguém! 

REGRESSEI, RÁPIDO,
À minha memória
Para te reencontrar,
Mas tu já não
Estavas,
Sequer como reflexo...
...................
Deixara aberta
A porta do tempo...


Transparência1R

“Transparência”. Detalhe.

 

TEMPO

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Amanhã...”. 
Original de minha autoria 
para este poema. Janeiro de 2020.
FuturoFinal2

“Amanhã…”. Jas. 01-2020

É TEMPO DE RECOMEÇO?
O que ontem
Eu já era
É o que hoje eu sou,
As festas
Quiseram tempo
Intenso,
Mas o tempo resistiu
Ao que a vontade
Tentou...
.................
É tempo
De recomeço
Quando o tempo
Não passou?

EM CADA MOMENTO
Procuro
O tempo
Que, no passado,
Eu, poeta, 
Não vivi
Porque sempre
Reinvento
Tudo aquilo 
Que perdi,
Num poema
Ou em pintura
Para saber
Quem eu sou
Antes de lá
Me perder...
............
Nos lugares
Pra onde vou...

ENTRE HOJE E ONTEM
Há algo
Que já mudou?
Acaso me libertei?
A esperança regressou?
Fui ao baú
Das memórias
E vi logo 
O que tu és:
A imagem bem certeira
Desse tempo
Que passou...

TUDO MUDA
Amanhã,
Quando, tenso,
Eu passar
Na curva
Do teu caminho?
Encontro o que antes
Nunca vi?
Mulher com futuro
No olhar,
Sempre a sorrir
Para ti,
A repetir com carinho
Um terno
E tão antigo “Olá!”,
Cabelos negros
Ao vento,
Corpo esguio
Em movimento,
Removendo um passado
Que nunca mais
Voltará?

NÃO, O SEU TEMPO
É o silêncio,
Já não o tenho
Nas mãos,
Ele corre
Sem destino,
É ritmo sem melodia,
Caminho
Da minha vida
Que percorro dia-a-dia
Na vertigem
Do passado,
Mais tristeza
Que alegria
Como este peso
Do fado
Só liberto em
Poesia.

TEM TEMPO, A POESIA?
Talvez tenha,
Eu não sei,
Com ela voo
No céu
Sem limites
Nem fronteiras,
Um tempo que é
Só meu.

AH, SIM,
O tempo da poesia
É a minha salvação,
Perdi-te, mas eu não queria
Passado de negação.

É TEMPO DE RECOMEÇO,
Sopra vento de feição?
Sou feliz em poesia.
Não é o tempo
 Que salva,
Mas as palavras
Que digo
Enquanto fores
Alimento
Desta minha inspiração
Porque é assim
Que te canto:
Da dor sai alegria
Que me cura 
Da paixão.

FuturoFinal2R

NÃO SEI SE TE CHEGAM

AS PALAVRAS…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Jardim das Palavras”.
Original de minha autoria para este
Poema. Dezembro de 2019.
JardimDasPalavrasFinal2812

“O Jardim das Palavras”. Jas. 12-2019

POEMA – “NÃO SEI SE TE CHEGAM AS PALAVRAS…”

NÃO SEI SE TE CHEGAM
As palavras
E, se chegam,
Se te tocam.
Não sei se
As arrumas
Nas gavetas
Da rotina
Ou as deitas
Nos desperdícios
Da vida...

TALVEZ NEM CHEGUEM.
Não sei.
É esta a beleza
Da minha invocação.
Canto-te
Sem saber se te
Chegam as letras 
Com que vou desatando
A sufocada
Afeição
Ou se o vento
As leva
Pra lugares
De poética
Virtude,
Resgate
Desta minha 
Solidão...

TALVEZ NÃO INTERESSE
Saber se chegam
Ao destino.
O que m’importa
É dar forma
À melancolia 
Do meu desejo de ti
Como se fosse
O primeiro dia 
Em que, fora do poema,
Eu logo te pressenti.

É POR ISSO QUE SÃO
Palavras pintadas
Com as cores
Do meu jardim,
Porque na beleza
Das palavras
E da cor
Se cristaliza,
Da vida,
O amor
E, da falta de ti,
Se decanta
A minha dor.

SIM, ÉS TU
Que me moves,
Me inspiras
E induzes perfeição.
Sem ti
Seria arte estranha,
Simples adorno,
Jogo de formas,
Um canto
De diversão.

O POEMA É 
Uma forma de socorro,
É magia
Que invoca o teu
Rosto
Perdido nas 
Nas brumas 
Da memória e
Coberto pelo
Silêncio
Do que nunca
Me dirás.

NADA A FAZER.
Com arte
Te quero seduzir
E eleger.
Não te chegam,
As palavras?
Só importa
A ideia
Que tenho de ti
E a poesia
Que decanta 
A minha vida
Pra te ter
Por companhia
Nesta longa
Despedida.

MAS À ARTE
Respondes
Com o silêncio 
E o mistério
Pra não quebrares
O encanto
Que faz de ti
Galeria 
Do que em arte
Eu senti
Em forma de poesia.

ESTRANHAS SAUDADES
Virão
Quando o estro
Me faltar
E à Torre
De Montaigne
Subir como refém...
............
Dela nunca
Sairei
Para novo
Desencontro
Lá para os lados
De Belém...
JardimDasPalavrasFinal2812Recor

“O Jardim das Palavras”. Detalhe.

“PRESSENTIMENTO”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Travessia”.
Original de minha autoria
para este poema.
Dezembro, 2019.
Jas_Silhueta3

“Travessia”. Jas. 12-2019.

POEMA – “PRESSENTIMENTO”

MAIS UMA VEZ,
Ao entardecer,
Te pressenti,
Numa rua de Lisboa.
E não te vi.

AH, ESTA LISBOA 
Que amas!
Uma fria silhueta,
A travessia.
Um homem
Perdido em memórias
Que esfumam
No tempo
E deixam
A alma vazia.

DEUS EX MACHINA
Que desce sobre mim
No caos
Em que a vida
Se tornou,
Nos afectos
E na dor...
............
A invocar
As origens 
Do amor.

CAÍSTE-ME
NUMA ENCRUZILHADA
Improvável
Quando vinha
Da imensa planície
Onde os deuses
Se anunciam
No horizonte...

UM SÚBITO CLARÃO,
Um sobressalto...
 Estremeci.
Irrompeste,
Intempestiva,
Das brumas
Da memória...
...........
Mas apenas 
Te pressenti!

APROXIMEI-ME
Do teu mundo,
Sem saber?
Foi o destino,
Adormecido
Que estava
De nunca, 
Mas nunca 
Te ver.

ESTRANHOS
DESENCONTROS
Que desabam
Sobre nós
Com o destino
A comandar
No labirinto
Insondável
Das nossas vidas...

SILHUETA FUGIDIA,
É o que és,
Afinal,
Porque tudo é plano,
Demasiadamente
Plano, em ti.

VI UM NÚMERO,
A única certeza
Que tenho,
A janela
De onde te vislumbrei,
Mas incerto
Como todos
Os números
Deste mundo.
Incerto, sim,
Porque tu
Não és número
Que me dê
Certezas,
Para além da dor.
És mais quatro
Do que sete,
Meu amor!

OU TALVEZ TENHA SIDO
A minha fértil
Imaginação
Já um pouco doentia
A cruzar-se contigo
Num lance de
Pura magia.

MAS NEM SEI
Se é por ali
Que tu andas,
Porque de ti 
Nada sei,
Só o que me sobrou
Daquele tempo
E do tempo que criei
Para nunca te perder
Naquela história
Onde te conto
Longamente
Para em ti renascer.

QUE ESTRANHOS
Lugares de
Desencontro,
No meio da multidão!
Um instante,
Ambiente ruidoso
E improvável,
O regresso a ti,
Cada vez mais
Imaterial
Na película subtil
E transparente
Da memória...
Simulacro irreal.

AH, COMO NO FIM
Deste poema
Sofro a falta
De uns olhos verdes
A iluminarem-me a alma
De ternura,
Mas nem o sol
Se descobre
Para os acender
E me inundarem
De beleza
Da mais pura!
Jas_Silhueta3Recort

“Travessia”. Detalhe.

 

“O POETA-PINTOR”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Amanhecer”.
Original de minha autoria
para este poema.
Dezembro de 2019.
MulherNaJanela151219Final

“Amanhecer”. Jas. 12-2019.

POEMA – “O POETA-PINTOR”

O POETA BRINCAVA
Com suas palavras,
Cantava-te sempre
Quando não estavas...

ERA UM POETA,
Era fingidor,
Não te desenhava,
Cantava-te
A cor.

E AS SUAS CORES
Eram só poemas,
Fazia pincel
Da sua caneta,
Enquanto poeta
As letras riscava,
Mas a sua tinta
Já não era preta...
................
Escolheu a cor,
Pintou a palavra.

POR ISSO COMPROU
Um belo pincel
E como pintor
Pintava, pintava,
Era a granel
E a sua tela
Que ele adorava
Já não era só
O velho papel.

DESCOBRIU A COR,
Que o fascinou:
Dourado, vermelho
E tanto amarelo.
Tudo ele pintou,
Procurando sempre
O que era belo.

ATÉ QUE O ENCONTROU
Na cor dos
Teus olhos,
Era luz da pura
Que iluminava
O novo papel
Onde desenhou
O teu fino rosto
Com o seu pincel.

DEU CORPO À COR
Com que te dizia,
As suas palavras
Tornaram-se riscos...
......................
Mais que poesia.

PINTAVA-TE ASSIM.
Os poemas
Já não lhe chegavam,
Pintor de palavras
De cor as compunha
E versos voavam
No azul do céu...
.....................
“E o que tu fazias
Faço agora eu”,
Dissera-te um dia,
“Porque sou poeta
Mas também pintor.
Deixaste-me só,
Entregue à palavra
E, eu,
Tão pobre de ti,
Pintei-me de dor".

"MAS EU FAÇO DELA
O meu arco-íris
Pra subir ao céu
A ver se t’encontro
Atrás duma cor
Pintando o teu rosto
Para um poema
Que vou escrever
Com todas as cores
Que trago comigo
Enquanto viver”.

O POETA BRINCAVA
Mas era tão séria
Essa brincadeira!
Perdido em palavras,
Encontrou a cor
E nos seus poemas
Dela fez bandeira.
MulherNaJanela151219FinalR

“Amanhecer”. Detalhe.

 

NÃO DOBRES A ESQUINA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Variações”. 
Original de minha autoria.
Dezembro de 2019.
Jas_Nãodobresaesquina

“Variações”. Jas. 12-2019

POEMA – “NÃO DOBRES A ESQUINA…”

AH, ACREDITA,
Já nem sei
Quantos fazes...
................
A ti conto-te
E canto-te
Ao minuto
De tão rápido ser
O dobrar da
Esquina,
O regresso
Fatal
Ao lugar
De onde nunca
Sais,
Desde menina...

UM DIA DISSE
(Lembras-te?):
“ - Esquece a infância,
Pára e ouve
O silêncio
Que espreita
Para te desvendar
O mistério da
Vida!
Dir-te-á:
Nunca regresses
Ao sítio onde já
Não estás.”

MAS TU NUNCA
PÁRAS,
Na louca correria
Para fora de ti
(Os lugares do costume)
Em busca do
Esquecimento
Reparador...

E EU A OLHAR
Para o tempo
Quando o tempo
Já é pouco
E a saber que
Te hei-de sempre
Reinventar
Com os fios 
Soltos 
Da memória...

MAS O DIA
Em que renovas
O contrato
Contigo mesma
Representa
(Acredita)
Um recomeço
Para o reencontro
Com o silêncio...
..................
E, uma vez mais,
Ele acaba
Esquecido
Nos aplausos
Vibrantes
E calorosos
Com que todos
Te celebram...
.............
Por fora!

ACORDA,
Meu amor,
Porque o silêncio
Quer falar-te
De celebração
Da alma,
Da tua relação
Íntima com o
Mundo,
Antes da queda
Na rotina
Dos enganos!

DESPERTA,
Que o passado
Se escreve a partir
Do futuro
Que antecipas
Cada ano
Quando renasces
A caminho da
Última fronteira...

PORQUE HÁ, SIM, 
Um derradeiro
Espelho vital
Onde revemos
O passado
Que construímos
Sobre as ruínas
Do presente...
............
Sabias?

AH, SIM,
Mesmo que não saibas,
No dia da celebração
O silêncio
Espera-te sempre
À esquina
Das tuas ruínas
Na mais profunda
Solidão...

NÃO DOBRES,
Em fuga,
Essa esquina.
Escuta-o, nesse dia.
Talvez seja
A tua salvação...
Jas_NãodobresaesquinaR

Variações. Detalhe.

 

AS PALAVRAS SÃO OÁSIS…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Oásis”. Original
de minha autoria para este
poema. Dezembro de 2019.
OasisFinal30

“Oásis”. Jas. 12-2019

POEMA – “AS PALAVRAS SÃO OÁSIS…”

PORQUE NÃO TE DÁS
Um pouco,
Meu amor?
A minha
Sede de ti
É tão grande
Como a dor
Do dia
Em que, no fim,
Te perdi.

PENSA NO DESERTO
E no oásis
Que o suspende
De tão longo
E árido ser
O caminhar
Sobre areia
Escaldante
Na procura
Infindável
De te alcançar
Como amante...

OS MEUS LÁBIOS,
Áridos de ti,
Não se saciam
Com uma gota
De água
Ou com o aflorar
Da seiva
Exausta
Do meu caule,
Gasto de tanto
Te esperar...
.................
Mas quando falam
(O pouco que te 
Falam)
Humedecem,
Porque as palavras
Pousam neles,
São oásis
Verdejantes
No imenso deserto
De um amor
Em longa
Despedida...

E QUANDO CHEGO
Ao fim,
À última estrofe
Do teu poema,
Já sei
Que tenho de retomar
O arenoso caminho
Do canto 
Em solidão...

OS OÁSIS
São parte do deserto
Que atravessamos
Na nossa vida,
São bátegas
Que banham
A alma ressequida
De tanto
Clamar por uma
Saída
Nesse mar de areia
Em que o viver
Se tornou.

MAS TU
Nem gotículas
Me dás
Quando clamo
Por ti
Na miragem
Do deserto...

O QUE TALVEZ
Não Saibas
(Ou sabes
Em demasia?)
É que a vida
É mais
Deserto do que
Oásis,
Mais areia do que
Gotículas
Que brilham
Ao sol ardente...
.................
E que os lagos
E as fontes
Onde refrescamos
A alma
São pura
Alucinação
Que nos deixa
Mais entregues
Ao silêncio...
...................
E à fria solidão.

AH, QUE FALTA SINTO
Da tua fonte
A jorrar
Cores vivas
Sobre mim,
Das bebedeiras
De palavras
Sobre ti,
Da densa neblina
No deserto
A coar o sol que
Me bate no peito
Onde mais te sinto.

IMAGINO-TE, ENTÃO,
Como meu oásis,
Chuva no deserto
Sobre esta minha pele
Seca e encrespada...
.....................
Mas bem sei
Que não passa de
Alucinação!

PORQUE HÃO-DE SER ASSIM
As nossas vidas,
Sem gotículas
Que banhem
O nosso corpo
Por falta de alma
Que as acolha?

O QUE ME SALVA,
Meu amor,
É este oásis
Verdejante
Que construí
Como palco
Para te cantar
Ao entardecer
Da nossa melancolia...
OasisFinal30R

“Oásis”. Detalhe.

PAIXÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Cascata”. Original de minha
autoria para este poema. Reproposição 
(com alterações) de um poema
publicado há três anos, em resposta
a um soneto de Ana de Sousa (09.2016).
Novembro de 2019.
Jas_Cascata241119-Exp.

“Cascata”. Jas. 11-2019

MOTE – SONETO

“Vinde cá meu tão certo Secretário”,
Confirmai meu gosto de espelhar
À Musa que recusa Amor notório
Gritando ao Mundo o que não quero calar!
 
De rosas, de loureiro, de jasmim
De astral, de amargor, de doce fel
As bagas, a folhagem, no jardim
Onde abelhas obreiras fazem mel! 

Dizei o que tanto quero ouvir
Que o que pensais, não quero, não!
Escrevei que meu engenho repetir  

Só quero na rima, mil dores de coração.
Enlace, ponto final, sem remédio é ir
Do próprio veneno provar... em edição.”

POEMA – “PAIXÃO”

ESPELHO MEU,
Espelho meu,
Vês dor mais forte
Do que a minha?
Não sabes que
Sem palavras
Nem tu me salvas,
Rainha?

PROVAR FEL
Em edição?
Tomei-o,
Nestes meus dias.
Castigo
Por afeição,
Derramado
Em poesias,
Palavras ditas
Em vão,
Estreitas sendas
Vazias...

INCAPAZ 
De as trilhar
Fui procurar
Novas vias,
Mas gastas
As encontrei,
Incertas
Em seu destino...
....................
Senti-me um pouco
Estranho
E perdi-me
Do caminho...

DEPOIS VIERAM
Flores...
...................
Tantas vezes disse
"Não!"...
Sempre falhei
Nos amores
E, agora, esta
Paixão!

NEM SEI O QUE
Aconteceu...
Um enigma,
Esse seu rosto!
Vi nele o que
Em mim faltava,
Tropecei,
Fiquei exposto,
Como ferida
Sempre aberta
Ao rubro o seu
Sangrar,
Uma dor que
Quando aperta
Põe palavras
A voar...

PALAVRAS
De vivas cores
Mais fortes que
Oração
Fortalecem-me a alma
Resisto mais
À tensão...

PROVAR FEL
Em edição,
Em poema
Amargurado?
Pois seja esse
O destino
E se foi o meu
Pecado
Será sempre
Desatino
Sofrer assim
Este fado!

TEM SABOR 
De um remédio?
Talvez tenha,
Não duvido,
Só alivia,
Não cura,
É afecto proibido,
Inclinação
Da mais pura
Em que me sinto
Perdido...

JÁ NÃO A VEJO
Nem ouço,
É luz que nasce
De mim,
Se passar
Eu fujo dela,
Procuro-a no meu
Jardim
Como arbusto florido
Sempre ali
À minha frente...
................ 
De ser planta
Robusta
Não tem defeitos
De gente,
É esguia,
Não é gorda,
Tem mil folhas
De cetim,
Espera-me sempre
De pé
Mesmo ao lado do
Jasmim!

É AMOR
Em provação?
Se tem de ser,
Pois que seja,
Lanço versos por
Paixão
Onde quer que
Ela esteja,
Sai de mim esta tensão
Como em cântico
D’igreja
Ou incenso que respiro
E quando m’inunda
Por dentro
É pro céu
Que eu me viro.

PROVAR FEL
Em edição?
É enlace
Do mais puro,
Resulta duma paixão,
Intensa neste poema
E bela como 
Canção,
Mas abraço 
Sem futuro!
Jas_Cascata22-Exp.Rec

“Cascata”. Detalhe.

PARA LEONARD

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração, “Mil Beijos”. Original 
de minha autoria para este Poema,
dedicado a Leonard Cohen (1934-2016). 
Novembro de 2019.
MilBeij2Pub1711.7Experiencia

“Mil Beijos”. Jas. 11-2019

POEMA – “PARA LEONARD”

OUÇO-TE
Como respiro
Com a alma...
E como a sinto!
Vejo-a dançar
Na tua voz rouca
E grave
E, então, aninho-me
No regaço da tua
Melodia
A observar
O seu silêncio...
................
Mas estremeço
Como o rio quando
Entra na foz,
Mar adentro...

É SUAVE O REENCONTRO
Com ela,
Em fluxo submerso,
Como as dobras
Das palavras
Quando se ajeitam
Nas estrofes
Dos meus poemas
Ou os sons
Quentes
Na tua melodia,
Vindos lá do alto
Como ecos
Da montanha
Sagrada.

OUVIR-TE, ÀS VEZES,
Arrepia-me
Porque na tua voz
Acolhedora
Sinto-a
Dentro de mim
A segredar-me
O seu impossível
E sufocado
Silêncio.

E, ENTÃO, DANÇO,
DANÇO
Com a alma
Até ao fim...
.....................
Que nunca mais chega!
E não paro até 
(Já exausto)
Cair em mim...

OS MIL BEIJOS
Que não lhe dei
São, na tua melodia,
Mais profundos
Que as profundezas
Do mar,
Mais intensos
Que mil abraços
À superfície
Do seu corpo...

E ATÉ OS TEUS SORRISOS
Maliciosos
E os gracejos
Inocentes
Me levam
A inventar
Palavras quentes
Como balões coloridos
Que lanço
Ao vento
Que sopra
Na sua alma...

NÃO SOU COMO TU,
Leonard,
Eu esboço sozinho
Tristes canções
Em surdina
Até às lágrimas secas
Que nunca enxugam
Porque não tenho
Voz que chegue
Para a chamar 
Ao poema...
...................
Nem ela me ensinou
A cantar,
Por falta de jeito
E de tempo
Para amar...

MAS CANTAS TU
Por mim e por ela
E, então, ouço-te
Extasiado
Como se fosses
 Oráculo
Onde o silêncio
Partilhado
Se disfarça
De oração
Nos teus sons
E na tua voz
Para me enternecer
Até à emoção.

NÃO ME DESPEÇO,
De ti,
Com um abraço,
Leonard!
Vou continuar
A ouvir-te
Enquanto o silêncio
Me interpelar
No oráculo
Da tua melodia
E por ela sofrer
Dessa melancolia
Que nunca nos abandona,
Seja noite
Ou seja dia...
MilBeij2Pub1711.6Rec

“Mil Beijos”. Detalhe.

NÃO ME OUVES…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Voar”.
Original de minha autoria
para este poema.
Novembro de 2019.
Voar1011

“Voar”. Jas. 11-2019

O POEMA – “NÃO ME OUVES…”

NÃO ME OUVES,
Perdida
Que andas
Nas tuas rotinas,
Na vertigem
De cada teu
Amanhecer
Como se a arte
 Pudesse, assim,
Acontecer...

NÃO HÁ CRIAÇÃO
SEM LIBERDADE,
Aquela que
Construímos
Sobre as ruínas
Do nosso próprio
Viver...

A PROCURA
DE ETERNIDADE,
A chegada à galeria
Dos imortais
Só acontece
Quando das ruínas
Se eleva
Um silêncio
Que te fala
Em surdina...
.............
E nada mais!

MAS GOSTAS
De te pôr
Fora do mundo
(Eu bem sei)
Observá-lo,
Tomá-lo
Nas tuas mãos
Como brinquedo
Em construção,
Estética virtuosa,
Minúcia de
De artesão...

MAS É FRÁGIL
A utopia,
Que o mundo só
Se deixa possuir
Pela dor,
Pela liberdade
Em ferida aberta,
Por intensa
Melancolia
Ou vida sofrida
E incerta...

CAIR NO MUNDO,
Tropeçar nele,
Molhar as asas
Da alma,
Caminhando
Pelas ruas da
Cidade
Como silhueta
Em dias de
Densa
Neblina ou
De chuva
Tropical,
Sem saber
Pra onde ir,
Perdida
Em intenso
Vendaval...
............
Oh, então,
Gela-te
A alma
E sentes-te
Profundamente
Mortal...

INUNDA-TE
De chuva
Por dentro
E elevar-te-ás,
Um dia,
Para além da tua
Janela
De persianas
Coloridas,
Possuirás o mundo
Com essas mãos
Que afagam
As cores do
Arco-íris
No vale
Em que habitas,
Depois da tempestade...

A ARTE
É liberdade,
É subir pelas
Sete cores acima
E voar
Para a montanha
À procura
Do infinito
Sideral,
Do tempo
À medida do
Desejo...

AH, COMO GOSTARIA
De te emprestar
As minhas asas
Com cicatrizes
Da vida
Para voares
Mais alto
Que o azul
Do céu
Onde pudesses
Levitar
Sobre um poema
Sem risco
De te perderes...
..................
Mas tu não me ouves,
Meu amor!
Voar1011Rec

“Voar”. Detalhe.

 

“SOU O QUE SOU”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Fantasia de Poeta”. 
Original de minha
autoria para este poema.
Novembro de 2019.
OPoeta0311

Fantasia de Poeta. Jas. 11-2019

O POEMA – “SOU O QUE SOU”

EU SOU
O que sou,
Poeta
Pra te cantar
Mesmo que tu
Já não ouças
O pranto da minha
Voz
De tantas vezes
Chorar...

EU SOU
O que sou
Porque tu és
Em mim
Sempre mais
Do que pensas
Poder ser,
Uma deusa,
Uma musa
No jardim
Que m’inspira
Para de ti
Renascer...

BEM SEI
Que hoje
Me pintei
De poeta
Para duas vezes
Te ver
E duas
Te encontrar
Nos versos
Que já clamam
Por de novo
Te cantar.

SIM, TU ÉS
Musa
Dos versos
Perdidos,
Dos versos 
Cantados
Neste deserto
Interior
Da eterna
Despedida...

NÃO IMPORTA
O que pensem,
Como te vejo
Ou te canto
Porque serei
Sempre movido
Pela força
Do encanto.

ENCONTREI-TE
Sem procurar
O destino
Que te trouxe,
O mesmo
Que te levou...
.................
Cruzámo-nos
Nesse caminho
E, agora,
É por ele
Que sempre vou.

O VENTO SOPROU
Forte
Em nós
E voámos,
Voámos
No céu azul
Com as asas
Do desejo
Até cairmos
Do céu
Quando veio
A tempestade
E o vento
Nos deixou...

ACORDEI
Numa árvore
Frondosa,
Olhei em redor...
...Não te vi!

DESDE ENTÃO SOU
O que sou,
Aquele que
caiu das nuvens
E, sozinho,
Acordou
Na copa
De uma árvore
Onde pra sempre
Ficou.

POR LÁ FIQUEI,
Sim,
A olhar o azul
Do céu
Perscrutando
O horizonte
Para ver
Se lá te via,
Fosse tarde,
Fosse manhã,
Fosse noite
Ou fosse dia.

É A ÁRVORE
Onde vivo,
A minha casa
Discreta
De onde
Só te vislumbro
Como simples
Silhueta...

TORNOU-SE
Meu cativeiro,
Onde vivo
E te procuro
(Fantasia
De poeta)
Lá no fundo
Da memória
Pra me tornar
Teu profeta....

CERTOS DIAS,
Na memória
Ganho asas
E logo voo pra ti
Sem sair
De onde estou...
................
Perdi-te,
Já não te alcanço,
Já nem sei
Por onde vou...

TRAÇA-ME TU
O caminho,
Pra chegar
Ao pé de ti,
Tenho palavras
Que cheguem,
Foi com elas
Que cresci
E com elas
Eu voei
Na linha do
Horizonte
Quando um dia
Te encontrei
No sagrado
Do meu Monte.
OPoeta0311Rec

Fantasia de Poeta. Detalhe.

 

O TEU CORPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração - “S/Título”- de minha autoria
sobre quadro anónimo (fotografia de mulher
em contraluz) da minha colecção privada.
Outubro de 2019
Mulher2110_2

S/Título. Jas. 10-2019

POEMA – “O TEU CORPO”

HÁ POESIA
No teu corpo,
Geometria
Sensual
Que te desenha
No espaço,
Como te contas
Sem palavras,
Contraponto
Luminoso
Da minha melodia...

HÁ MÚSICA
Em ti,
Pauta
De beleza 
Que ondula,
Instável,
Entre riscos
E cores,
Desenhando
Enigmas
Que só o poema
Pode decifrar...

TENS A ALMA
Inscrita
Nas formas
Do teu corpo,
Como eu a tenho
Nas palavras
Que lanço
Ao vento
À procura
Da tua utopia...

E VEJO-TE
Como letra
Da canção
Que vou cantando
Na minha subida
Ao monte,
Quando o vale
Já não me chega
E nem tu chegas,
Afinal,
Pois partiste
Em busca
Dos palcos
Da tua vida...

MAS EU RESPIRO-TE
Ao ritmo
De uma dança
Com o poema
Que canto,
Palco de beleza
Onde te enredo
A alma
Em teia
Que prende
E te liberta...

PROCURO-TE
Na pintura,
Fixo-te
Para te cantar
Quando a noite
Cai sobre mim
E mergulho
Na solidão
Do silêncio
Com que,
De longe,
Me falas.

E SONHO-TE
Num bailado
A solo,
Dançando,
Dançando,
Ao luar,
Na praia
Da meia-lua
Para que eu
Te volte a cantar
Em poemas
Ao ritmo
Com que te
Vais desenhando
Nas telas
Coloridas
Do teu acontecer.

E, NO FIM,
ROGO-TE
Que não pares
O teu silencioso
E longínquo
Bailado
Solitário
Até que eu te
Desenhe
Em palavras
Luminosas
Para que nelas
Te revejas
Como se fossem
O espelho
Encantado
Da tua alma...

QUE FAZES
Da tua vida,
Meu amor?
Mulher2110_2R

S/Título. Detalhe.

 

COMO TE QUERO...




POEMA de João de Almeida Santos.                    Gustav Klimt - Two studies to a young woman sitting on a tablenDeutsch Zwe - (MeisterDrucke-351787)

Ilustração: “SEDUÇÃO”. 

Composição de minha autoria a partir 
de um estudo de Gustav Klimt. 

- "Dois estudos de uma jovem mulher", 1885. 
JASKlimtFinal1410Fim3

“Sedução”. Jas. 10-2019

POEMA – “COMO TE QUERO…”

PEDI EMPRESTADO
Ao pintor
Este rosto
De onde vejo
A cor
Velada
Da tua alma...

ENIGMÁTICO
OLHAR
Que me perscruta
E fascina,
Beleza etérea,
Divina!

OS TRAÇOS
DELICADOS 
Que o desenham
E a leveza
Das vestes
Que velam 
E desvelam
O corpo
De pele macia
Que me cativa
O desejo...
..............
Seduzem-me!

E FICA-ME 
ESTE ROSTO
Solitário
Na galeria poética
Onde te versejo
Mil vezes
À procura
De um amanhecer
Que nunca chega...

PARA TI DIRIGI
O meu olhar
Através de um espelho,
A obra de arte,
Vi leveza,
Beleza intangível
E ouvi silêncio
Profundo
Envolto
Por uma densa
Neblina
Que nunca se dissipa!

E ENTÃO RECRIEI-TE,
Com a ajuda
Do pintor,
Tal como
Te desejo,
Na fronteira,
Sempre no limiar
Do impossível,
Na distância
Que o destino
Nos traçou
E nos compassos
Do silêncio
A que a deusa
Nos votou.

SE TE ENCONTRAR
De novo
Só saberei ver-te
A partir
Deste fino rosto,
Memória de ti,
Numa tela
Cantada por mim.

E ENTÃO REGRESSO
Às tuas cores
Para com elas
Te desenhar
De novo
Com o pincel mágico
Do pintor
Que eu amo
Em ti.
JASKlimtFinal1410Fim3Rec

“Sedução”. Detalhe.

 

JASMIM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Rapsódia”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2019.
JAS_RapsódiaFinal

“Rapsódia”. Jas. 06-2018

POEMA – “JASMIM”

FLORESCEU O JASMIM,
Dele jorra Poesia,
Embriaga,
O aroma,
Liberta-se
A fantasia!

DOU ÀS PALAVRAS
A COR,
O seu perfume
Ilumina,
Bate o sol
Nas suas pétalas,
É luz intensa
Que brilha
No poema que
Germina...

JÁ NÃO É SÓ
O LOUREIRO,
Agora canto
O jasmim,
É tão vivo
O seu perfume
Que se renova
Em mim.

INUNDO-ME
DE PALAVRAS,
Canto
Este mundo
Da cor,
Subo ao céu
E penso em ti,
Levo comigo
Essa dor...

SOU ÍCARO
Lá no alto
E quando o sol
Me bate forte
Caio em mim
Do meu poema
E no chão
Fico sem norte...

PEÇO AJUDA
À MONTANHA,
Volto a subir
Com alegria,
Lá no alto
Vou renascer,
Regressar à
À poesia...

E ENCONTRO
O MEU JASMIM
Mesmo ao lado do
Loureiro,
Respiro fundo
O aroma
E torno-me
Jardineiro!

E ASSIM EU VOU
VIVENDO
No jardim da
Minha vida
Em poemas
E pintura...
.............
E se a dor
Não tem remédio
Que seja esta
A cura!
JAS_RapsódiaFinalR

“Rapsódia”. Detalhe.

 

ENCONTRO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Silhueta”.
Original de minha autoria
para este poema. Outubro, 2019.
Silhueta06

“Silhueta”. Jas. 10-2019

POEMA  – “ENCONTRO”

OS ASTROS
ALINHARAM-SE
Uma só vez,
Passados anos
De aridez
Que roubou
Tempo
De fantasia,
Luz
À vida,
Lentamente,
Cada dia...

ENCONTREI-TE
Sem querer...
..................
Astros ou destino,
Quero lá saber...
Que bela
Esta forma
Tão singela
De te ver!

ABANDONEI-ME
Ao destino,
Chegou o acaso,
Vi-te estranha
Ao olhar
De tão tardio
Encontro
 Com a fita
Da memória
A rolar
Em moviola.

ERA INCERTA
A TUA IMAGEM,
O olhar
Embaciado,
Um arco-íris
Descera
Com o sol
Dessa manhã,
Gotículas
Brilhantes
Como lágrimas
De alegria...

FICOU-ME
A alma cheia,
A transbordar
(Ficou),
Mas o vazio
Também logo
Regressou.
Mais do mesmo,
Como antes,
Um desencontro
Sem fim...
...............
E o ânimo
Quebrou.

VISLUMBREI-TE
Perto do meu
Destino,
Raptou-me
O acaso
A incerta silhueta
Que não pude
Desenhar
No meu campo
De visão
Como se fosse
Castigo
Por insólita
Paixão.

AQUI ESTOU EU
Devolvido
À solidão,
Novas saudades
De ti,
Um poema
Em gestação...

SÓ ASSIM EU SEI
Falar,
Fico incerto
Se te vejo,
Troco o passo
A cada instante,
Hesito nesse
Momento,
Finjo aquilo
Que não sinto
E, por fim,
Fico tão-só
Amante da poesia
Que me dá o que
Não tenho...
...............
Uma réstia
De alegria.

OS ASTROS
ALINHARAM-SE
Pra te voltar
A perder,
Dois minutos,
Um sorriso...
................
Chegou cedo
Este novo
Entardecer!
Silhueta0610R

“Silhueta”. Detalhe.

 

ESSES OLHOS NEGROS…

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Olhar”. 
Original de minha autoria 
para este poema. Setembro 2019.
MakalFinal29

“Olhar”. Jas. 09-2019

POEMA  – “ESSES OLHOS NEGROS…”

DESSES OLHOS NEGROS
Eu tenho
Saudades,
Viajo com eles
Na minha memória
Pra te alcançar
Neste oceano
Onde eu navego
Entre altas vagas
Sem nunca parar...

E TENHO SAUDADES
Por nunca te ver...
..........
Quiseste
Partir
E logo negar
O tempo exacto
Para te sorrir.

EU TENHO SAUDADES
Saudades de ti,
Quando te invoco
Com estas palavras,
Te digo
O que sinto...
..................
Que esta saudade
Já não vai parar
Mesmo se minto
E digo em arte
Que te vou 
Inventar.

EU TENHO SAUDADES
De te encontrar
Naquele jardim
Onde o desencontro
De ser tão intenso
Até parecia
Nunca ter um fim...

E TENHO SAUDADES
Quando te escrevo
Estes meus poemas
Sabendo por certo
Que não terá eco
O que neles te digo
E sempre senti.
.
EU TENHO SAUDADES
Mas já nem eu sei
Porque é que vivo
Tão perto de ti
E quase te sinto
Quando tu respiras
O ar que te sopra
Como densa bruma
Nesse teu jardim.

EU TENHO SAUDADES,
Saudades de ti,
E até sei porquê
Este meu sufoco...
................
Talvez porque
Foges,
Nem sequer nomeias
O que te ressoa
Se o canto
Te chega
E sobre ti ecoa.

SEI BEM A RAZÃO
Porque não te encontro
Nem te dou a mão
Pra que não me fujas ...
........................
Porque é em vão!

COM TANTA SAUDADE
Até sou feliz
Em certos momentos,
Tão longe de ti,
Com alma
Em tormento,
Porque eu te amo
Ao sabor do vento
E da poesia
Que sopram
Intensos
Lá do teu jardim,
Mas tenho saudades
Desses teus olhos
Que vejo daqui
Porque eles me dizem
Que longe que estejas
Estás perto de mim.
MakalFinal1R

“Mulher com Véu”. Detalhe.

 

PINTEI-TE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Mulher”. 
Original de minha
autoria para este poema. 
Setembro de 2019.
Tu_Final5_1809

“Mulher”. Mas. 09-2019

POEMA – “PINTEI-TE”

PINTEI-TE
Como te vejo
Por dentro.
Gosto do Modigliani
E gosto de ti,
Dei-te este rosto
Que por dentro
Me sorri.

PINTEI-TE
Única e
Deusa,
Meu encanto,
Aura e halo,
Entre a vida
E o meu canto
Infinito
Intervalo.

PINTEI, SIM,
Para te dar
A cor
Que não queres.
É como dar-te
A vida que
Não tens
Fora de mim.

E SABES?
Gosto de ti
Assim,
Com estas cores,
Geometria
Que desliza
Para uma aguarela,
Como água
Cristalina
A brotar
Desse teu rosto...

AGORA EXPONHO-TE,
És espelho
Do poema,
Cores quentes
A ferver
Como eu
Que t’escrevo
Cartas de amor
Disfarçado
De poeta
Neste meu
Entardecer,
Quando o azul
Se faz breu.

AH, SIM,
Metade sou eu,
Metade é o poeta
Que desenha
Com palavras
E te celebra
Com as cores
De que te veste
No tempo
Da fantasia.

PINTEI-TE
E eu não queria...
...............
Mas o desejo
De te ter
À minha frente
Foi mais forte
Do que eu,
Pulsão quente,
Desejo ardente,
Olhar de frente
O teu céu.

OH, AFINAL,
Pinto-te sempre
Na tela
Da minha alma
Com palavras
Que o vento
Leva
E cores
Que se dissolvem
Neste triste
Entardecer.

E PARA QUÊ?
Para nada?
Dizes:
“- Eu quero lá
Saber!
Pinta praí
Como danado
Até que a cor
Te doa
Do teu pecado,
Escreve
E canta
Até que as mãos
Afaguem
Essa garganta
Dorida,
Olha-me
Até que a vista
se canse
De nunca me
Alcançar
Por ser visão
Proibida”.

OH, PENSANDO
Melhor
(Finalmente,
Tu dirás),
“- Pinta, canta 
E olha
Porque, afinal,
Até gosto
Do que o teu
Canto me traz.

SEM TE LER
Nem te ouvir
Ou ver-te
Com memória
Atormentada
Do que nunca
Aconteceu...
...........
Eu bem sei
Como a ausência
Te doeu!”

“ - MAS PINTA,
Meu amor, pinta,
Quem to pede
Não te quer,
Mas sabe
Quanto a cor
Adoça a vida
Se perdeste
Uma mulher.”
Recorte

“Mulher”. Detalhe.

 

COLISÃO

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Meteorito”. 
Original de minha autoria 
para este poema. Setembro de 2019.
Meteorito_Final

Meteorito. Jas. 09-2019.

“Dentro de los meteoritos y sus metales 
extraños se leen 
las historias de otros mundos” 
(El País, 07.09.19)

POEMA – “COLISÃO”

CAÍSTE EM MIM
Como meteorito,
Embate espectral
No meu chão,
Abriste
Sulco profundo
No meu corpo,
Mas não doeu
Essa abrupta
Aparição...

A VELOCIDADE
Cegou-me
(É sempre assim),
Clarão,
Ondas,
Vibrações
Abanaram-me
A alma,
Raízes
Estremeceram
Lá mais no fundo
De mim.

PROCUREI-TE
Nessa cratera
Cavada na minha
Alma
E passada
A tempestade
Vi fragmentos 
De ti,
Minerais 
Pra lapidar
Como dunas
Desenhadas
Pelo vento
Aqui bem perto
Do mar.

NESSA FENDA
Tão profunda
Encontrei
Um brilho
Estranho
Que me pôs
A levitar,
Sol frio
Como metal,
Gelo cortante
A cair 
Na linha 
Do meu olhar...

NUNCA MAIS DE LÁ
SAÍ...
............
E com mãos
De alma pura
Peguei 
Subitamente
Em ti...
..........
Escaldavas
De tanto brilho
Exalar
E caíste-me
No chão,
Trémulo
De tão inquieta
Incerteza,
Calor
Fervente
No peito,
Mistério
De uma estranha 
Beleza
Que renasce
Na cratera
De um vulcão...

FIZ DE TI
Minha bola
De cristal,
Li nela
A história de um
Encanto
Que trespassou
Como raio
Uma fronteira
Vital.

E AQUI ESTÁS
Em tão sofrida
Distância,
Estranhos
Perante nós
Como quis o
Meu destino
E os astros
Do teu chão
Na fronteira
Do divino.

MAS NÃO PERDESTE
Magia,
Meteorito
Em quietude,
Íman
Silencioso
Que me atrai
Suavemente
Como oráculo
De um destino
Sempre em lenta
Gestação.

LEIO-ME A ALMA
Na superfície
Dourada
De teu corpo
Incandescente
Qu'ilumina
A emoção,
Me consome
E me domina
Nesta tensa
Relação.

ÉS RASTO CÓSMICO,
Atracção fatal
Que me suspende
A vida
Pra me fazer 
Levitar,
Tornando 
Meus tristes 
Dias
Uma paisagem 
Lunar.

AH, SIM,
Mas és razão
De arte
Nesta vida
Que inventei,
Encantamento,
Fonte seminal
Onde bebo
E me embriago
D'emoção
Até te ter
Um momento
Nas palavras
De um poema
De quimérica
Paixão.
Meteorito_FinalR

Meteorito. Detalhe.

“COR, MAIS COR…”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Caminhos”.
Original de minha autoria
para este poema.
Setembro de 2019.
CorMaiscorFinal2

Caminhos. Jas. 09-2019

POEMA – “COR, MAIS COR…”

COR, DÁ-ME COR
Fico mais perto
De ti
Se vieres
Com o vento...
..............
Cor, mais cor,
Que as palavras
Coloridas
Já me sabem
A cinzento...

OU TALVEZ NÃO.
Palavras
Já não me faltam,
Não sinto
Escuridão,
Ainda consigo
Dizer-te
Em mil palavras
Pintadas,
Entregar-te
A minha alma
Na palma
Da tua mão.

TENHO-AS
Que me cheguem
Para gritar
A vermelho
O concreto
Do teu nome,
Ver, assim,
Esse teu rosto
No eco
Da minha voz
Sem que a tristeza
Assome.

AH, E A COR
Se for intensa
E crescer
Em explosão,
Se tiver
Em contraponto
Palavras
De liberdade
Soletradas
Em azul
Dos teus sonhos
De papel...
............
É tudo
O que eu desejo
Pra t’esculpir
A cinzel.

DÁ-ME COR,
Que eu sou
Sensível
Ao brilho
Do teu olhar,
Vibro na luz
Qu’irradia
Quando vestes
O vermelho
Ou te cobres
Com as cores
Do arco-íris
Que és.

VÊS COMO TE 
Conheço?
Tu és cor,
Gota d’água
Suspensa
No fio
Do horizonte
Banhada por
Raios de sol
Que despontam
Lá no monte.

DANÇAS COM ELA,
A cor,
E com ela
Adormeces.
É sopro doce
Do peito,
Da vida
Exaltação,
Com luz
Coada por ti
Para um sonho
Perfeito
No reino da
Evasão.

EU GOSTO MUITO
De cor,
Confundir-me
Todo
Com ela,
Dançá-la
Como vida
Em eclosão,
Girândola
Que embriaga
Os sentidos
Como se fosse
Vulcão...

LEMBRO-ME
Bem do poeta
Que pedia
“Mais luz!”
Já em seu leito
Fatal.
Tinha luz
Dentro de si
Mas a cor
 Já não entrava
Pelas frestas
Do portal.

ERA CINZENTA
A cor que lhe 
Restava
Até escurecer
Quando a janela
Lentamente
Se fechava
No sol-posto
Desse seu
Entardecer.

MAS A PALAVRA
Fascina-me.
É com ela
Que te canto,
Com a cor
Danço e voo,
Na palavra
Calo
Os sentidos
Para melhor
Te sonhar
Dos dias
Em vão perdidos
Na deriva
Do teu mar!

AH, SIM,
Eu gosto
É de palavras
Porque cabes
Em quatro letras
Aninhadas
No teu nome
Que me sabe
A verde
Eterno
Nas tardes de
Primavera.
CorMaiscorFinal2Rec

Caminhos. Detalhe.

 

PALAVRAS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Geometria de um Poema”.
 Original de minha autoria.
Setembro de 2019.
Azálea31

“Geometria de um Poema”. Jas. 09-2019

POEMA  – “PALAVRAS”

PRA QUE SERVE
Este poema,
Meu amor?
“- Para nada!”,
Dizes tu,
“- São palavras
Que usas
Pra te sentires
Menos nu”.

PALAVRAS
São como vento,
Vão,
Voltam
E mudam
D’intensidade,
Sopram forte
Ou de mansinho,
São volúveis,
Ilusão,
Vão pra sul
Ou vão pra norte
Mas cruzam 
O teu destino
Mesmo que digas
Que não.

SÃO INTANGÍVEIS,
São sinais,
Podem ferir
Como espada,
Às vezes
Como silêncio,
Outras,
Pior, 
Como nada...

DIZEM SEMPRE
O que sinto,
Parecendo
Não o dizer,
Às vezes
É proibido
E outras
É por não
Querer.
E se escrevo
E te minto
É por ser forte
O desejo
De um dia
Eu te ter.

ESTE POEMA
Que te envio
Escrevi-o
Com o vento,
Mas nele
Eu também minto...
..............
E o vermelho
É cinzento!

MAS É CONFISSÃO
Inocente
Que chega
Ao seu destino
Como o Sol
Vai a poente
Num poema
Cristalino.

SÃO PALAVRAS,
Meu amor,
Murmúrios
De quem te quer,
São o sonho
Do poeta
Quando a vida
Adormece
No rosto
De uma mulher.

Azálea31Rec

“Geometria de um Poema”. Detalhe.

 

CATEDRAL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Tempo”. 
Original de minha autoria 
sobre foto de Giovanna Bellelli, 
em Roma. Poema inspirado no Romance
“Via dei Portoghesi” (Parsifal, 2019).
Agosto de 2019.
Roma'802508_1

“Tempo” – Jas. 08-2019.

POEMA – “CATEDRAL”

VIAJÁMOS NO TEMPO
Até à cidade.
Encontrei-te
Por ali.
Nada mudara.
Rosto sereno,
Inocente,
Como quem
Sempre sorri.

FOMOS AO TEMPLO
Da rua
Da minha vida,
À cúpula
Da catedral.
Não te abracei
Nessa noite,
Era sagrado
O lugar,
Seria abraço
Fatal.

MAS FICOU-ME
O prazer
De te ter
Ali ao lado,
A sonhar
Nesse meu leito
O beijo
Que não trocámos
Numa noite
De luar,
Quando o amor
É mais quente
E o corpo
Desnudado
Por tanto a alma
Brilhar.

FOMOS À PRAÇA
NAVONA,
Escutámos
As águas da fonte
E os traços
Do Bernini,
Da beleza
Horizonte,
Íntimos,
Em sintonia,
Antevendo um futuro
Que nunca mais
Chegaria...

ATÉ QUE ME PROCURASTE
Nessa fita
Da memória,
A noite
Perdida de afectos
Na cúpula da catedral,
Corpos tensos
Sem palavras
Na fronteira
Do amor.

TORNOU-SE MAIS VIVO
O que não aconteceu
Como se fosse
Futuro
Que afinal
No teu passado
Ainda não se
Perdeu.

E CÁ ESTAMOS DE NOVO
À procura
Dessa noite,
Do beijo
Que não te dei,
Passado virou
Futuro
E do tempo
Dessa Igreja
Já nem sei
O que farei.

TALVEZ FAÇA
UM POEMA
Para te reencontrar,
Cantar esse
Sorriso
De que sempre
Eu gostei,
Voar no tempo
Em espaço sideral
E em noite de luar
Pousar de novo
Contigo
Na cúpula
Da catedral....
Roma'802508_1Rec

“Tempo” – Detalhe.

“LUA”

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Ballerina” 
Original de minha autoria 
para este poema. Agosto de 2018
Ballerina0819

Ballerina. Jas. 08.2019

POEMA – “LUA”

DESCI À PRAIA
Da meia-lua
A ver se nela
Te via.
Era brilhante
O anoitecer,
Cheio de luz
E perfume a maresia.

ERA DA LUA-CHEIA
A luz branca
Que do céu caía,
Gente que dançava
Em dia de festa,
De som e de cor...
....................
E se divertia!

NO CLARO DE LUA
Vi um rosto
De mulher
Que não era
Estranho,
Um perfil qualquer...

ERAM NEGROS
Os seus olhos,
Boca
Rúbida e quente,
Pele macia
Em corpo ardente,
Cabelos ao vento...

VI QUE ERA ELA
A deusa do baile,
Luz branca da lua,
Espelho de mar...
....................
Logo o meu olhar
Procurou o seu
Nesse cintilante
Brilho do luar...

COM ELA DANCEI,
Saltei e cantei
Em alegria,
Vibrou o meu corpo
Com essa melodia
Que me inspirava
Numa bela praia
Em forma de lua
E me seduzia.

VI O SEU SORRISO
Em perfil na lua
Que eu desenhei,
Uma luz intensa
Me iluminou
Quando eu dançava
Essa melodia
Que pra mim soou.

CORPO DE MULHER...
.................
Eu já nem sabia
Se era ela
Ou outra qualquer
Com quem eu podia
Erguer-me à lua
Com alma despida
Neste frágil corpo
Pouco mais que nu...

E TAMBÉM A ALMA
À sua procura
Era de nudez
Um pouco ousada,
Mas, sim, era pura
Por ser nesta lua
Que adivinhava
A minha ventura...
.....................
Pouco mais que nada!

ONDE ESTÁ A LUA?
Nessa bela praia
Ou noutro lugar
Onde a possa ver
Espreitar a rua
Pra me enfeitiçar?

ESTÁ EM TODO O LADO
Onde o meu poema
For entardecer
Para desenhar
Com suas palavras
Um suave rosto
Que é mais de deusa
Do que de mulher...
TeFinal3Exp2-cópia

Ballerina. Detalhe.

“AGUARELA”

Poema de João de Almeida Santos,
inspirado no poema de Manuel Bandeira
“Tema e Variações”.
Ilustração: “O Retrato”. Original de minha
autoria para este poema. Agosto de 2019.
ORetrato1108Fimpsd

“O Retrato”. Jas. 08-2019

POEMA – “AGUARELA”

SONHASTE, MANEL,
Que havias sonhado
Estar à janela
Sonhando, a cores,
Qu’estavas com ela.

TAMBÉM EU SONHEI
Que tinha sonhado
E que no sonho
A tinha encontrado,
Passando por ela,
Ali, lado a lado,
Mas quando acordei
Do primeiro sonho,
Sonhando eu vi
O seu rosto belo
Numa aguarela
Pintada a cores
Que tinha guardado
Para uma tela...

SONHEI, OUTRA VEZ,
No segundo sonho,
Que era pintor
Mas que pintava
Sempre o seu rosto
A uma só cor.

DIZIA, SONHANDO,
Que não podia ser.
Seu rosto expressivo
Era arco-íris
Ao amanhecer
E era sorriso
Para o mundo ver!

MAS EU SÓ O VIA
Com a minha cor,
Esse rosto belo
De seda tecido
Que me seduzia
No sonho sonhado
Onde sempre a via
Ali, a meu lado.

NÃO QUERIA ACORDAR
Do sonho feliz
E nele fiquei
De olhos fechados.

JÁ NÃO ACORDEI
Do sonho sonhado
Porque nessa cor
Fiquei encerrado
Com todo o meu ser...
..................
Talvez por amor.

NO SONHO OLHEI
Para o meu espelho
E logo eu vi
Que essa minha cor
Era o vermelho.

E QUANDO ACORDEI
Do primeiro sonho
Voltei a sonhar
Que desvanecia
Nesse rosto amado 
E logo lhe disse,
No segundo sonho,
Que a tinha sonhado.

DISSE-ME QUE NÃO
Que nunca me vira
Sequer acordado
E logo acordei
Desse pesadelo.

FOI ASSIM QUE VI
Que tinha sonhado
E que ela
Já lá não estava
Ali, a meu lado.

QUIS ADORMECER
Para a encontrar
Mas não consegui
Sonhar que a via,
Pôr os olhos nela,
Chorar d’alegria
Porque descobri
Na minha parede
Aquela aguarela
Que do sonho
Passado
Eu já conhecia...
.....................
Era o rosto dela!
ORetrato1108_FinalpsdR

“O Retrato”. Detalhe

ELAS FOGEM, AS PALAVRAS…

Poema, em dois andamentos, 
de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Letras”. Original
de minha autoria para este poema.
Agosto de 2019.
Palavras0308

“Letras”. Jas. 08-2019

POEMA – “ELAS FOGEM, AS PALAVRAS…”

I.

QUERIA FAZER-TE
UM POEMA,
Sentir-te nele
À vontade
E as palavras
Endoidaram
Quando,
Feliz,
Lhes falei
Da minha
Quente
Saudade.

FUGIRAM
Numa revolta
Sentida
Sem conhecer
A verdade
Deixando-me
Só,
Sem palavras,
À deriva,
Sem dó
Nem piedade...

EU ESTAVA
A MENTIR
Sem pensar
Na crueldade
De as usar
Como queria
Só porque
Tinha saudade...

ESGUEIRARAM
RUA FORA,
Cada uma
Por seu lado,
Em fugas
No horizonte
Deste poema
Tentado...

SÓ JÁ AS VIA
AO LONGE,
Ao fundo
Da tua rua,
Num ponto
Do infinito
Desta minha
Alma nua.

UMAS
ESVOAÇAVAM
No fio
Do horizonte,
Outras
Aninhadas
No passeio...
...................
E eu a tentar
O versejo
Capturado
No enleio
Desta prisão
Do desejo!

PALAVRAS
EM CORRERIA,
Letras
Perdendo forma
Como fios
De novelo
Já desfeito
De sentido
Como a água
Do gelo...

SÂO FIOS
EMARANHADOS,
Letras
Que se deslaçam
E procuram
Outras formas
Para lá da minha
Rima,
São riscos
Na tua tela
A subir
Por ela acima...

II.

QUERO FAZER-TE
UM POEMA
Com palavras
Desenhadas,
Mas elas fogem
Pra longe,
Correm, correm,
Assustadas,
Não vá mesmo
Ser verdade
Que as quero
Alinhadas
Neste recanto
Feliz
Onde resisto
À saudade.

ELAS GOSTAM
DE CANTAR
Esta minha
Triste dor
E gostam
De me dizer
Em intensa
Emoção,
Mas se me vêem
Feliz
Fogem de mim,
Dizem “não!”

O POEMA
PASSARINHO
Procura-te
Para cantar
Mas se já
Não sentes nada
É ele que foge
A voar...

E HOJE
É mesmo assim
Fogem todas
As palavras
Sem procurar
Um destino,
Já não consigo
Agarrá-las
Num poema
Genuíno...

NÃO SABEM
Da minha dor
E por isso
Vão embora
Estou sem palavras,
Amor,
Estou muito triste,
Agora!
Palavras0308Rec

“Letras”. Detalhe.

 

NEBLINA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “S/Título”. Original
de minha autoria para este poema.
Julho de 2019.
Jas. S:título

“S/Título”. Jas. 07-2019

POEMA  – “NEBLINA”

OUÇO O SILÊNCIO
Que me cerca
O corpo
E a alma...

ADENTRO-ME
Na multidão
Rumorosa
E ele cresce
Sobre mim,
Ensurdece-me
Por dentro!

MAS É DEMAIS,
Caustica-me
A pele
Macia das 
Recordações,
Faz-me
Zumbidos
Na alma,
Assobia
Como silvo
Do vento
Nas janelas
Da emoção,
Escuro
Em dias
De tempestade.

OUÇO
A palavra
Silêncio
Tonitruante
Dentro de mim...

HÁ TROVÕES
Silenciosos
Que me assaltam
E fujo
Para o ermo,
Lá em cima,
Solidão de
Eremita
Procurando
O silêncio
Que cobre
O nome
(Tão simples)
Que nunca
Ousaste
Pronunciar...

E O SILÊNCIO
Torna-se
Melodia,
Ouço uma harpa
Dedilhada
Por ti,
Notas musicais
Esvoaçando
No teu azul
De catedral.

VEJO-TE SAIR
Da densa neblina
Que te veste
E cubro-me de
Palavras
À procura
De autor
Que as componha
Num poema
Que te cante
E que te conte...

NOMEIO-TE
Em silêncio
E sussurro
Uma pequena
Palavra
Que nunca ousei
Dizer-te
Mas que ouviste
Ressoar-te
Na alma
Mil vezes!

O SILÊNCIO
Tomou conta de nós
E eu não sairei
Deste poema
Até que me ouças
E soletres
Finalmente
O meu nome
Com as cores
Da tua fantasia.
Jas. S:títuloR

“Sem/Título”. Detalhe.

CANTA, POETA, CANTA!

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Auto-Retrato de um Poeta". 
Original de minha autoria. Julho de 2019.
Jas_AutoR210719Boca

“Auto-Retrato de um Poeta”. Jas. 07-2019

“Ora al nuovo sole si affidano i nuovi germogli” 
Virgílio

POEMA – “CANTA, POETA, CANTA!”

CANTA, POETA, CANTA
Até que ela
Te ouça,
Nem que a palavra
Te doa
E a alma
Estremeça.

CANTA, POETA, CANTA
Que o teu poema
Tem dor
Que te baste
No amor
E tem cor
Que alumia
E tem sabor
A cerejas
Que as dá
A Primavera.

SE NO CANTAR
Tu quiseres
Atingir o infinito
Salta pra cima
Dum risco,
Agarra asas
De azul
E voa
Nesse teu céu
Até que ela
Te veja,
Te pinte
Numa cereja
E murmure
Este teu nome
Em silêncio
De igreja...

CANTA, POETA, CANTA
Que o teu cantar
É meu choro
E é água
Cristalina
Que corre
Lesta
Em seu rio
À procura de beleza
Num infinito
Adeus
Beijado
Pela tristeza.

CANTA, POETA, CANTA
Que contigo
Cantarei
A alvorada do dia,
Chora, que eu
Chorarei
Se não houver
Alegria,
Ri, que
Eu sorrirei
Animado por teu
Riso
E para ti
Dançarei
Uma valsa
De Strauss
Às portas
Do Paraíso.

CANTA, POETA, CANTA
Até que ela
Te ouça,
Não pares
De chorar alto,
Na montanha,
No planalto,
Num poema
Ou num desenho,
Numa cor
Em aguarela,
Afagado
Pela dor
De não a veres
À janela.

CANTA, POETA, CANTA,
Para ti
E para o mundo
Que o teu cantar
Enobrece
Quem ouvir
A tua prece,
Quem sentir
O teu lamento,
Que de ser
Já tão profundo
Não o leva
Nem o vento
Pois em ti
Ele entardece.

E SE O VENTO
O levar
Vai procurá-la
A ela,
Dobra lento
A esquina
Pra que a vejas
À janela
Num dia que 
É de festa
Sem cortinas
No poema...

MAS SE O VENTO
Não soprar,
O lamento
 Lá regressa
Ao poeta
Que o cantou
Pois não era
Dele o dia
Mas de quem
O castigou...

CANTA, POETA,
Canta
Que um dia há-de
Ouvir...
...................
Deixa, pois, que o
Tempo passe,
Que a razão
Se esclareça
E confia no porvir...

 CHORA, POETA,
Chora,
Neste teu
Entardecer
Aqui tão perto
Da arte
E saudades
De morrer...

CHORA, POETA, 
Chora,
Até que rompa
A aurora
Deste longo
Anoitecer...
Jas_AutoR210719BocaR

“Auto-Retrato de um Poeta”. Detalhe.

O BRINCO

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Brinco de pérolas e cristais”. 
Original de minha autoria para este poema. 
Julho de 2019.
BrincoJas12

“Brinco de pérolas e cristais”. Jas. 07-2019

POEMA – “O BRINCO”

VI-TE TRISTE
Naquele dia,
Rosto quieto,
Melancolia,
Olhar
Perdido,
Levemente
Embaciado...

NÃO SEI...
Era versátil
O teu rosto,
Bebia cores
Que se aninhavam
Na pele macia
Que a luz
Interpelava
(Cada dia)
Como pincel
Sobre tela
De veludo
(E bem se via).

TEUS OLHOS
TRISTES
Respondiam
Em metamorfoses
De brilho,
Ecos
Da natureza,
Raios de luz...

 E MEUS OLHOS,
Seu espelho,
Devolviam-lhes
Cor incerta,
Reflexo
De alma
A vaguear
Pelas mil
Dobras
Da vida,
À procura
De destinos
Em gestação...
..............
Aconchego
De alma
Itinerante!

 GANHARA VIDA
Esse brinco!
Desprendera-se
De um rosto
Que o pintor
Esculpira
Com as cores
Do desejo
Cristalizado
Pelo silêncio
Frio
Da tela.

ESTAVAS TRISTE
Nesse dia,
Sulcos marcados,
Peso na alma,
Sinais selados…

POUSARA EM TI
Esse brinco
Como sinal
Cravejado
De cristais,
Vindo de um longo
Silêncio,
Quase Irreal,
Agora resgatado
Com diamantes
Em mulher
Madura,
Olhar fatal...

CRISTAIS
Sobre mim...
...............
Código exposto,
Encontro
Casual,
Silêncio
Resgatado
Com brinco
Sensual
Em rosto
Pela tristeza
Toldado...

 ÉRAMOS DOIS
E o brinco
De cristais
Que em ti
Renasciam
Como sinais...

QUIS DESENHAR-TE
Num poema...
........
Olhei,
Marquei,
Tracei,
Era pintor
De metáforas
Com palavras
Roubadas
Ao silêncio...

ERA OUSADA,
Bem sei,
A poética
Que te compunha
Como breve,
Mas intensa
Sinfonia...

AH, MULHER,
Como te sonhei
Nesse dia!

UM
Dois,
Três,
Regressei
De vez
À rapariga
Do brinco
Original
Em mulher
Madura
E essas pérolas
Irreais
Eram pêndulo
Do tempo
Resgatado...
............
Tic, tac,
Tic, tac,
.............
A marcar
O ritmo
De uma valsa
Lenta
Para dentro
De ti,
Um sonho
Escrito
Com as palavras
Do desejo...

A CADA COMPASSO
Era mais belo
Esse brinco,
Brilhava
Como pérola
Em coral
De águas
Profundas,
Alegoria
Seminal
Que iluminava
Tua alma triste
E o perfil
De teu corpo
Humedecido e
Abandonado
Às mãos
Livres
Do poeta...

HAVIA PÉROLAS...
.................
E acariciavam,
Ondulantes,
A sensualidade
Aveludada
De teu rosto
Sobre mim...

 PENDULAR,
Esse brinco
Ecoava
No tempo
E renascia
Em ti...
...........
Tic, tac,
Tic, tac,
............
Em ritmo
Vital
E ofegante
Como se fosse
Estrofe
Oscilante
(Tic, tac)
Do breve
Poema
De tua vida!

BrincoJas12Rec

“Brinco de pérolas e cristais”. Detalhe.

 

O BEIJO

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração original do autor – “O BEIJO”. 
Dia Internacional do Beijo: 6 de Julho, 
o dia que celebro, com um poema, cada ano. 
Inspirado no Thomas Mann de “Lotte em Weimar” 
(1939), a obra que continuou "Werther” (1774), 
de Goethe (1749-1832), e no romance 
“Via dei Portoghesi”.
O_Beijo03_0607_2Publicada2019_1

“O Beijo”. Jas. 06-07-2019

Thomas Mann:
“O amor é o melhor na vida, assim, no amor, o melhor é o beijo – 
Poesia do amor...”. “Beijo é alegria, procriação é luxúria.”

Inspirado também em:

Kafka:
“Os beijos escritos não chegam ao destino, mas são bebidos pelos 
fantasmas ao longo do trajecto.”

Shakespeare:
Se para te beijar devesse, depois, ir para o inferno, fá-lo-ia. 
Assim, poderia vangloriar-me, com os diabos, de ter visto o paraíso 
sem nunca lá ter entrado.”

 Bernhardt:
“O primeiro beijo não é dado com a boca, mas com os olhos.

POEMA – “O BEIJO”

FOI O QUE NUNCA TE DEI
A não ser com o olhar!
O primeiro, esse beijo,
Dei-to, pois, sem te tocar!

E DEI-TE MAIS, COM PALAVRAS,
Quando olhar já não podia,
Foste embora, não estavas
E eu, triste, não te via!

FORAM BEIJOS QUE SONHEI
Na rotina dos meus dias
E desejos que enfrentei
Quando tu mais me fugias,
Mas dou-te beijos escritos
Que se perdem no caminho
E se me falta o poema
Fico ainda mais sozinho!

O BEIJO É EMOÇÃO,
É razão descontrolada,
Se não for dado a tempo
Pouco mais será que nada!

SEM BEIJO NÃO HÁ AMOR,
Sem amor perde-se o beijo,
A vida perde sentido
Se me faltar o desejo
Por te ter, assim, perdido!

AQUI O LANÇO AO VENTO
Pra que atinja como brisa
E suave melodia
Esse rosto que precisa
De afecto em poesia!

ESSE BEIJO QUE ME FALTA
De que nunca fui capaz
Voa pra ti em palavras
Põe-me sereno, em paz
E desejo que, no trajecto,
Voe, voe em grande altura,
Que fantasmas não o bebam
E minha dor tenha cura.

MAS SEI DOS ESCOLHOS DA VIA,
Dos perigos que ele corre,
Capturado por fantasmas
É mensagem que me morre!

NO DIA DO BEIJO É HORA
De te cantar em voz alta
A poética do amor
Pra redimir essa falta
E pôr fim à minha dor.

E PORQUE O DIA É TEU
Ganha força,
Intensidade...
........................
Mesmo que fantasmas
O bebam
É um beijo de verdade!

ESSE BEIJO QUE NÃO DEI
Foi pecado original,
Hei-de sofrê-lo pra sempre
Como chaga corporal.

NÃO HÁ PALAVRAS QUE BASTEM
Pra repor o que não dei
Elas voam, mas não chegam
E mesmo assim eu tentei...

É CERTO QUE SEMPRE O QUIS,
Só que nunca to roubei,
A culpa foi desse tempo,
Dos dias em que te amei,
Um tempo em diferido
Sem presente nem futuro,
Talvez beijo sem sentido
Porque queria do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas do Paraíso,
Um beijo de divindade,
Mas simples
Como um sorriso!

ESSE BEIJO IMPOSSÍVEL
Que não é do foro humano
Vou tentando construí-lo
Cada dia, cada ano,
Perdendo-me pelo caminho
Como sagrado em profano!

NoiteFinal1403R

 

ARLEQUIM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Máscara”.
Original de minha autoria. 
Reproposição com ajustamentos 
no poema e na pintura. Junho de 2019.
Mascara17022019Final290619jpg2

“Máscara”. Jas. 06-2019

POEMA – “ARLEQUIM”

COMPREI UMA MÁSCARA,
Pu-la no rosto do
Meu amado poeta
E ele não a 
Enjeitou.
Ainda por cima
Me disse:
“- Sou eu, sou,
Como nas palavras
Que digo
Também meu rosto
Mudou.

NÃO ESPERAVAS
Ver-me assim!
Vá, confessa
O teu espanto!
Luzinhas na minha
Cabeça,
Rosto tão
Desfigurado,
Cor, tanta cor
(A que apeteça)
Pra sufocar
Esta dor,
Sempre que ela
Apareça
A pedir o meu
Cuidado.

ADOPTEI ESTA FIGURA,
Apresento-me assim,
As outras
Nada te dizem,
Com esta
Olhas pra mim!

PALHAÇO
É O QUE SOU,
Falo a
Surdos e mudos
Que não ouvem
O que digo
Nem me dizem
O que quero
Como se fosse
Mendigo
Do que, afinal,
Nem espero.

VALHA-ME POIS
ESTA MÁSCARA!
Assim rio
Desta vida,
Rio de ti
E de mim,
Da chegada
E da partida,
Dos abraços,
Das palavras
E também da
Despedida!

SOU PALHAÇO,
É o que sou,
Entretenho-me
A cantar
E se ouvires
Este meu canto
Arlequim
É seu autor,
Por isso tu
Não t’importes
O que diz
É de certeza
Pra espantar
Sua dor!”

A MÁSCARA
É o seu rosto,
Colou-se-lhe
Logo à pele
Com a cola
Do desgosto
E por isso
Já nem sabe
Se seu rosto
É o dele.

COMPREI UMA
MÁSCARA
Luminosa
No mercado
Da minha vida
Ponho-lha sempre
Que posso,
À chegada
E à partida.

NUNCA LHA TIRO,
Ao poeta,
Que rasgo a sua
Alma,
Pois se o canto
O liberta
É a máscara
Que o salva!
Mascara17022019Final290619jpgRec

Máscara”. Detalhe.

NOSTALGIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Nostalgia”. Original
de minha autoria. Poema inspirado no Romance
"Via dei Portoghesi", que será lançado na próxima 
Quinta-Feira, 27 de Junho, na Sala do Arquivo 
da Câmara Municipal de Lisboa, Praça do Município, 
às 18:30. Junho de 2019.

Convido hoje o leitor a ler também o meu Ensaio 
"A Arte, o Artista e os Outros", aqui em link:
https://joaodealmeidasantos.com/2018/08/24/ensaio-5/?fbclid=IwAR1UqXBHq-FMQBEd5hPrZYvVTpNnMYDJQ078xuo_KVL4c7-iyE2HUuaM1HQ
JAS_Nostalgia_2206_1

“Nostalgia”. Jas. 06-2019

POEMA – “NOSTALGIA”

RÁPIDA COMO O VENTO
Passou por mim
Esta palavra saudade
Numa rua do meu bairro
Sob o céu desta cidade.

GRAVEI-A
Na minha mente,
Evoquei-a
Ao crepúsculo
Com incerta
Nostalgia...
...................
Não queima tanto,
Esta palavra,
Porque a sinto
Mais fria!

COM CESÁRIO
(De quem gosto)
Dei-lhe cor,
Cantei-a
Com a pintura,
Dei-lhe vida
Num romance,
Tento tudo,
O que não posso,
Porque esta dor
Me perdura...

DA SUA COR
Vejo o mundo,
Com palavras
A recrio,
Procuro sempre
O seu rosto...
...................
E por mais longe
Qu’esteja
Eu não me sinto
Vazio.

A DOR 
Desta saudade
Alimenta-me
A alma
E aquece a minha
Vida
E assim eu vou
Vivendo
Em eterna
Despedida,
Neste cais
Que não tem fim,
Em partida
Que não há,
Um adeus que não
Existe,
Porque tu
Nunca saíste
Deste meu
Lado de cá.

MAS HÁ SEMPRE
Esta saudade
A que chamo
Nostalgia,
Uma tristeza
Feliz
Que eu sinto 
No labor de
Cada dia.

NÃO TE TENHO,
Mas não te perco,
Estás longe,
Perto daqui,
Não te encontro
Nem te vejo,
Mas sei que não
Te perdi...

INSPIRA-ME, 
A nostalgia...
......................
Recrio-te em cada
Instante,
Sou poeta,
Sou pintor
E também sou
Arlequim,
Por isso vejo
O teu mundo
A partir dum
Camarim!

ESCULPO
Teu rosto
Com palavras
Do meu peito,
Pinto a alma
Com a cor
Da tua voz,
Voo contigo
Em sonho,
Banho a alma
No dourado do 
Teu rio
Pra chegar
À tua foz.

TENHO COMIGO
PINCÉIS
E as asas
Do poeta,
Danço,
Sou arlequim,
Pinto-me nesta
Ribalta
Com as cores
Que vês
Em mim!

SEM TI
NESTA RUA
Da saudade
Sou palhaço
Em camarim
Que maquilha
O seu rosto
Num palco
Que não tem fim,
Representa
Para ti
Sem saber
Se lá estás,
A verdade
Não lh'importa,
É feliz com
O que faz!

ASSIM VIVE
O ARLEQUIM...
........................
No palco da sua vida
É só arte
O seu fazer,
As dádivas que ele
Te entrega
São um modo
De viver!
JAS_Nostalgia_2206_1Rec

“Nostalgia”. Detalhe.

DISSERAM-ME, UM DIA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Inscrições na Pedra”.
Original de minha autoria para este poema.
Junho de 2019.
GranitoTrab3Exp

“Inscrições na Pedra”. Jas. 06-2019

POEMA – “DISSERAM-ME, UM DIA…”

DISSERAM-ME,
Um dia, 
Que te viram
Sozinha
E melancólica, 
Sentada
Numa pedra
De granito...
...Amarelo,
Luminosa de  
Cristais,
À sombra
Duma figueira
E já nem sei,
Nem sei que mais...

DISSERAM-ME
Que foi
Lá em cima
No Monte
Sagrado,
Como se tivesses
Perdido
Uma parte de ti
E a chorasses
Em solidão,
Invocando a bela
Athena,
Essa deusa 
Que t'inspira
E te leva 
Pela mão...
 
DISSERAM, SIM,
E cantaram-te
A beleza triste,
A nostálgica
Melancolia
Espelhada
Em teu rosto,
Na turbação 
Desse dia...

E EU, ENTRISTECIDO,
Voltei
A imaginar-te
Projectada
Em mil rostos
Desenhados
A carvão,
Em flores
De cor intensa,
Bem pintadas  
A pastel,
Em planos de
Infinito
Desenhados 
No papel...

E VI-TE
A vaguear
No tempo,
Nos confins
Da memória
Com olhos
De fantasia
À procura
Da beleza
Que tens inscrita
Na alma,
De tua arte
A magia.

MAS EU VI
O mundo
Desabar
Sobre ti,
Rasgar a folha
Branca e macia
Onde desenhavas
O futuro
Com mestria,
Estilhaçando
A ténue luz
Que te alumiava
De perto,
Como por encanto,
O destino...
...................
E até a tua 
Serena alegria!

NÃO DESTE CONTA,
Bem sei,
Mas agora
Sentes-te um pouco
Às escuras,
O sol do Monte
Esgueirou-se
Para outras paisagens,
A poente,
E à noite
A lua-cheia
Da praia
Da meia-lua
Já só brilha
Intermitente...

NEM SEI COMO
Dizer-te,
Num poema
Ou num quadro,
Que a arte
Só vive
De liberdade,
Desnuda-nos
A alma toda
Como luz que nos 
Invade!

AGARRA, ENTÃO,
O vento
Que te sopra
Dentro,
Desnuda-te
E voa nele
De novo
Em direcção ao
Infinito,
Reinventa-te
Em azul
E grita ao mundo,
Lá de cima,
A arte que levas
Dentro de ti,
Grávida
Dessa beleza
Onde, nos meus poemas,
 Eu sempre, feliz, 
Renasci.

AH, COMO GOSTARIA
De voar de novo
Contigo
Agarrado a palavras
Deslaçadas
Em mil fios
Coloridos,
Cansado que estou
De voar sempre
Sozinho
Para não te perder
De vez
Nesta inóspita
Esquina
Do meu caminho...
................
Mas talvez seja
Tarde demais
Para apagar
Esta melancolia
Que me corrompe
O entardecer
De cada poema
E a sua melodia...
GranitoTrab3ExpR

“Inscrições na Pedra”. Detalhe.

 

EM CERTOS DIAS…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Beija-Flor em Magnólia Branca”. 
Original de minha autoria para este poema. 
Junho de 2019.
Magnolia3Final0706

Beija-Flor em Magnólia Branca”. Jas. 06-2019

POEMA – “EM CERTOS DIAS…”

EM CERTOS DIAS,
Teu macio rosto 
De veludo
Alterna
Entre suave doçura e
Vincos marcados
Como sulcos,
Aspereza de
Sensualidade
Sustida 
À flor da pele
Para que não
Transbordes
Em excesso
De ti.

COMO SE FOSSES DUAS
MULHERES,
As faces de Janus,
Decidida
E evasiva,
Passado e futuro,
Espartilho
Que quase anula
O teu fértil
Húmus anímico
Que remotamente 
Te inspira,
Desde a raiz.

MAS TU ÉS UMA SÓ,
Aquela que
Ficou
Sentada
Na soleira da tua
Alma
Quando, em solidão,
Saíste, decidida,
 Para a rua
Da tua vida
À conquista
Do mundo...

ACORDA, MULHER,
Vai à procura
De ti
Na fronteira
Do teu destino,
Olha o mundo
Da janela,
Mas sai
Pela porta da tua
Alma
De braço dado
Com o sol que 
Tantas vezes 
Te ilumina
O olhar
Com as cores
Do arco-íris.

HÁ TANTAS MAGNÓLIAS
(Como tu)
No meio do caminho
Da tua vida
Que basta olhá-las
Pra que ela
Te sorria.

AH, NÃO SABES
Quanta metafísica
Há numa magnólia
Branca!
Fala-lhe com os teus
Olhos,
Acende-a com
Teu sopro quente,
Acaricia-a com
Mãos macias
E verás que ela
Te apontará o caminho
Do reencontro
Contigo
Na brancura
De suas pétalas.

E VERÁS TAMBÉM
Que tu vives,
(Como eu)
Num intervalo entre ti
E o mundo
De onde te podes
Reconhecer 
No regresso
À tua soleira vital,
Para repartires
Aconchegada,
Contigo no regaço.

NA FRONTEIRA
- Sabias? -
Vemos melhor
Para dentro
e para fora
De nós,
Vemos 
Os demónios 
E os anjos...

VÁ, CANTA A VIDA
Com teus olhos,
Demora-te um pouco
Na janela sobranceira
Do teu íntimo
A ver passar
Aquela que já
Não queres ser
Porque apaga
O rasto do teu
Acontecer...
....................
E sai com o vento
Pela porta do
Teu destino.

E VAI AO JARDIM
Falar com as magnólias
E come chocolates
E canta
E dança
E grita se for preciso
Até que o eco
Te devolva
Identidade
E teus olhos
Se cubram
Daquele verde
Que nasce nas
Encostas,
Nos verões
Das nossas vidas,
Quando o sol
Já brilha no horizonte...

MAS BRILHA?
- Perguntarás.
E eu digo-te 
Que sim
Se o brilho 
Se acender também
No teu inquieto
Olhar!
MagnoliaRec

“Beija-Flor em Magnólia Branca”. Detalhe.

AH, PASÁRGADA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Idílio em Pasárgada”.
Original de minha autoria para este poema.
Um diálogo em poesia com Manuel Bandeira
(“Desencanto”; “Versos escritos na água”; 
“Renúncia" - Manuel Bandeira, Obras Poéticas. 
Lisboa, Minerva, 1956, pp. 33, 40, 101). 
Junho de 2019.
Pasargada29052019Final

“Idílio em Pasárgada”. Jas. 06.2019.

“POEMA: “AH, PASÁRGADA…”

“OS POUCOS VERSOS QUE AÍ VÃO,
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.” (M.B.)

OS MUITOS VERSOS 
Que te dei
Transparecem 
No que eu sou.
Se me leres 
Saberás
Que não pequei
E que é tanto
O que agora 
Eu te dou.

“NELES PORÁS TUA TRISTEZA
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza...”

BELEZA 
Que desenhei
Sempre contigo,
Mas em tristeza 
E tanta dor 
Como castigo.

EU CANTO
O que perdi
P’ra que o verso
Vá ter contigo
Lá onde estejas
Queira o vento
Ser meu amigo
Mesmo que tu
Nunca me vejas.

“QUEM OS OUVIU NÃO OS AMOU
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou.”

NÃO OS AMOU
Mas foi verdade
Este amor 
Que aqui nasceu
E que cantei 
Em liberdade
Em versos 
Que o vento
Já me levou
Dos muros 
Desta cidade.

OUTROS FARIA
Se pudesse
Para os pôr 
Na tua mão,
Não pediria que 
Os sonhasses,
Olhos cerrados,
Mas que os lesses 
Por afeição.

AH, MANEL,
Que bem me sabe
Pôr a dor 
Em poesia,
Em versos
A emoção,
No cantar 
Triste alegria
De tão intensa
Ser a paixão
Mesmo que seja
Apenas
Doce utopia
Ou singela
Ilusão.

DIZES TU,
Em poesia,
Que só a dor
Te enobrece.
É bem verdade, 
Meu bom poeta,
Alma dorida 
Logo me aquece
E com seus versos 
Entretece
O que a paixão
Já tanto afecta.

“A VIDA É VÃ COMO A SOMBRA QUE PASSA...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
Sem um grito sequer tua desgraça.

ENCERRA EM TI TUA TRISTEZA INTEIRA.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...”

POIS TENHO MEDO,
Ah, meu irmão, 
Que a dor 
Me passe,
Perca o poema 
Sua raiz,
Essa, sim, 
A verdadeira, 
E eu fique só 
Já sem palavras
E caiam secas 
Todas as rosas
Que me povoam
Esta roseira.

SOBRAM ESPINHOS,
Ferem-me a alma
E saem versos
E cai o sangue
“Gota a gota,
Do coração”,
“Volúpia ardente” 
Já sem remédio
“Eu faço versos 
Como quem chora”
E chamo a dor
Naquela hora
E ela vem
Por compaixão!

AH, POETA,
Ah, meu irmão,
Tu fazes versos 
“Como quem morre”
E eu procuro
Neste meu canto
O seu perdão.

TU, MANEL,
És o poeta
E a bandeira
E ela é
O meu refrão,
P’ra mim és verso
No meu poema
E ela é,
Na minha alma,
Esta paixão!
Pasargada29052019FinalRec

“Idílio em Pasárgada”. Detalhe.

 

ENCONTREI-TE NESTA RUA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: Capa do Romance “VIA DEI PORTOGHESI”,
sobre desenho original de João de Almeida Santos, autor.
Poema inspirado neste Romance,
que estará nas livrarias e nas grandes superfícies
no próximo dia 18 de Junho.
Editora Parsifal. Lisboa. 2019.
K_ViaPortoghesi_alta

Capa do Romance “Via dei Portoghesi”. Pintura original de JAS. 05-2019

POEMA – “ENCONTREI-TE NESTA RUA…”

ENCONTREI-TE NESTA RUA
Levemente curvada
Sob o peso da tua
Persistente
(E sedutora)
Melancolia...

 UM OLHAR
Invisível
Seguia
O teu rasto,
Por incontida
Paixão,
Na rua
Do desencontro,
Dos olhares cruzados,
Incertos ou
Dissimulados,
Inundados de
Lágrimas secas
Expulsas
Pela dor
Nostálgica
E profunda
De almas 
Em ferida.

MAS É A NOSSA RUA,
Não é?
Lugar vital
De tristes desacertos,
Vereda estreita,
Inacabada,
Destino
Traçado
Pelos deuses
Como castigo
Sei lá do quê,
Curva apertada
Da vida
Sobre abismo
Vertical
Que ameaça
Engolir-nos
No nada.

AH, EU SINTO
VERTIGENS
Ao passar na nossa 
Rua!
Estou sempre 
À beira de cair 
No precipício
Quando que me 
Cruzo contigo
Que seja 
Apenas na
Memória deste lugar
Que me atrai
Como laço
Nunca deslaçado
Porque nunca
Cumprido.

ESTA É A RUA DO
Meu abismo,
Atracção fatal
Das margens
Dos meus dias
Para um passado
Que me devora
Inexoravelmente
O futuro,
Sem compaixão...

EU GOSTO
DESTA RUA,
Estou sempre 
A celebrá-la
Com poemas,
Em exorcismos
Salvíficos
E consoladores,
Atraído
Por ela
Como se fosse
A nascente do meu
Incompleto 
E melancólico
Viver...

MESMO QUANDO NÃO ESTÁS
(Nunca estás, 
Eu bem sei)
Nela, tropeço
Em ti,
Seguro-me
Para não cair
Em mim
E sigo em frente
Até à esquina
Onde, contigo,
Me cruzava,
De uma certa forma,
Com o implacável
Mundo
Que nos era 
Friamente hostil.

É A RUA DO DESENCONTRO
Porque foi nela
Que te encontrei,
Trocando
As voltas ao destino
E seguindo em frente,
A teu lado,
Por algum tempo,
Até que te perdi
O rasto
Numa curva
Perigosa
Desse desfiladeiro
Da tua vida
Que ameaça sugar-te
Para um vazio
Profundo...

MAS AGORA VISITO-TE
Em lugares
Imateriais
Onde te procuro
E recrio 
Na esperança de
Um dia,
Inesperadamente,
Te ouvir dizer
De novo: “Olá!”...
................
E não seja
Tarde demais!
K_ViaPortoghesi_plano

Plano da Capa do Romance.

A JANELA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Onde te vejo”. Publico hoje, 
em reposição, mas juntando um poema (de Dezembro de 2017) 
e um quadro, ambos de minha autoria, 
que foram executados para momentos e referentes diferentes: 
“A Janela” (ligeiramente retocado) e “Onde te vejo”. 
Este é o único poema que, até hoje, 
publiquei onde o sujeito poético é uma mulher. 
Dadas as suas características, fortemente rimáticas, 
não fiz versão áudio.
OndeTeVejo3103Final

“Onde Te Vejo”. Jas. 03-2019

POEMA - "A JANELA"
NOS VIDROS
Desta janela
Se espelha
Todo o meu ser,
É neles que
Eu te revejo
Quando deixo
De te ver.

DA JANELA
Vejo o mundo
E o mundo
Vê a janela,
Debruçada
No parapeito
Olho o céu
E olho a rua
Para ver
Se passas nela...

NOS VIDROS
Desta janela
Há reflexos
Da vida
Olho p’ra eles
Pensativa
E não me sinto
Perdida
Se puder
Falar contigo
Quando te vir
De partida...

NOS VIDROS
Da minha janela
Se espelha
Todo o teu ser
Quando passas
Nesta rua
E me sinto
Estremecer
Da falta que tu
Me fazes
Por ainda
Não te ter.

SE TE AFASTAS
Da janela
E vislumbro
Silhueta
Lá ao fundo,
Longe dela,
Eu sofro
Por te perder...
..........
É uma dor
Tão profunda
Que logo
Se me revela.

VOA P’RA LONGE
Essa tua
Silhueta
Que s’esgueira
Na esquina
Como se fosse
Cometa
A passar
Na minha rua...
..............
Mas também eu
Me diluo
E me sinto
Um pouco nua
Na imagem
Transparente
Dos vidros
Desta janela
Como se fosse
Já tua.

FOSTE EMBORA
Do meu mundo
Onde eu
Te queria ter
Ao alcance
De um olhar
Para nunca
Te perder...

MAS NÃO DEIXEI
A janela,
Esperei sempre
Por ti,
Hora-a-hora,
Dia-a-dia,
Até que, por fim,
Eu te vi.

VI-TE
Da minha janela,
Desenhei-te
Com alma
E olhar
De devoção,
Pintei-te todo
A vermelho
Na cor da minha
Paixão...
................
Mas mesmo assim
Tu partiste
Sem me dar
A tua mão.

DA JANELA
Sempre te vejo,
Mesmo ausente
Da nossa rua,
Nos vidros
Fica imagem,
Perfeita
Como a tua,
Mas é sempre
Transparente
E não lhe posso
Tocar,
Guardo-a, então,
Com ternura
No meu inocente
Olhar.

E GOSTO
Da primavera,
Confundir-te
Com aromas
Que me chegam
À janela,
Anunciando
A chegada
Do melhor
Que sinto nela.

A JANELA
Não tem cortinas
P’ra te ver
Na nossa rua,
Ver-te chegar
E partir,
Ficando um pouco
Mais nua,
Querer que
Me vejas
Assim
Tão brilhante
Como a Lua...

AH, QUANTAS VEZES
Eu desci
Da janela
Para a rua...
...............
Olhava de baixo
P’ra cima,
Mas eu nela
Não me via,
E, assim,
Não era tua.

O MEU MUNDO
É a janela,
O da rua
É o teu,
É dela que
Eu te vejo,
Na rua
Já não sou eu.

DA JANELA
Do meu mundo
Olho p’ra ti
Com calor,
Sem ela
Eu não te sinto,
Fica um muro,
Meu amor!
A Janela_OndeTeVejo3103FinalRecorte

“Onde te vejo”. Detalhe.

O BENFEITOR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Um homem das arábias”.
Original de minha autoria para este poema.
Maio de 2019.
Para ouvir a versão áudio, pelo autor, 
com música de Albinoni (Adagio), por von Karajan:
Berardo140519

“Um homem das arábias”. Jas. 05-2019

POEMA – “O BENFEITOR”

COMO TE VEJO,
Ó benfeitor,
Filho dilecto
 Da tua Ilha,
Nosso Jardim!
Há mil quadros,
Rara beleza,
Espelhos do teu
Amor,
Todos pra mim,
Aqui tão perto,
À minha beira...
..................
Sinto-me rico
De tanta cor
No ouro das molduras  
De madeira!

COMO TE SINTO,
Meu benfeitor,
Sempre de negro,
Artista grande
Que nem Dali,
Noites d’inverno
Onde o escuro
É a beleza
E o dinheiro
(Que foi pra ti)
O meu inferno!

VERMELHO E NEGRO,
Como Stendhal
Ou Julião
(Tens o Sarmento...),
De coração
A palpitar
(Sem um lamento).

A TUA VIDA
É um natal,
Com tantas prendas
Dos teus banqueiros...
Mas a minha
É tempestade
Com aguaceiros,
Sempre a pagar...
.................
É natural!

DA ARTE TU ÉS
O Mago,
A colecção 
Vai aumentar,
Banqueiro dá,
Finge qu'empresta,
É aos milhões,
Mas logo chega 
O meu castigo...
.................
É sempre assim,
Sempre a cobrar
(Põe-me mendigo)
O que pra ele
São só tostões...

EU GOSTO D’ARTE
Da que eu faço,
Sem a vender,
Nem a comprar,
Mas vou ao banco
(Vou muitas vezes),
Acerto o passo,
Eu tenho contas
Para pagar.

O MEU PAÍS
É muito culto,
Jeff Koons
Lucio Fontana,
Henri Michaux,
Mas no balcão
(Não sei porquê)
O meu banqueiro
É um sacana...
...................
Foi sempre assim,
Vem do avô!

ANSELM KIEFER,
Gerhard Richter.
Frank Stella...
É muito bom!
Pois tem de ser
Se o banqueiro
Olha pra ela,
(Prà colecção)
Fica pasmado
Com tanta arte
E dá-lhe tudo
Por gratidão!

E DUBUFFET,
Não gostas dele?
Morris Louis
Piero Manzoni
Georges Segal
Ou Chamberlain
É a beleza
Da colecção,
Perante ti...
Não percebeste?
Chegas e vês
Gostas e pagas,
És devedor...
...................
Não rogues, pois,
Crente da arte,
As tuas pragas
Ao benfeitor!

GOSTO DE TI,
Da tua arte,
Ficou humana
A nossa banca...
Mas sem milhões!
Que nos importa?
Temos beleza,
Temos amor...
E as nossas contas
Aos trambolhões...
Temos-te a ti,
Tão generoso...
..................
São os banqueiros
Os aldabrões.

MAS QUE M’IMPORTA,
Ó benfeitor,
Fizeste bem
Mais uma vez,
Pois ajudaste
Os teus banqueiros,
Tinham excesso
De liquidez.

GERALD LAING,
Alain Jacquet
Pauline Boty...
.................
Logo acertaste,
Ó benfeitor,
A liquidez
Ficou pra ti...
BerardoTrabR

“Um homem das arábias…”. Detalhe.

 

ENCONTRAR-TE NUM POEMA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “La Diseuse”. Original
de minha autoria para este poema.
Maio de 2019.
Para ouvir o poema pela voz do autor:
RostoJas0905

“La Diseuse”. Jas. 05-2019

POEMA – “ENCONTRAR-TE NUM POEMA…”

ÀS VEZES
Perco-me
Em ti
Quando te sonho
Num poema.
Ondulas
Entre tristeza
E doçura
Nos teus dias
Mais incertos,
Em momentos
De ventura!

SE ÉS TERNA,
Eu estremeço
Porque enleia,
O teu olhar!
Olhos escuros
Despontam
Da luz
No suave
Amanhecer
Quando em surdina
Me dizes
E partilhas
Esse teu 
Acontecer.

CONTEMPLO
A tua imagem,
Essa beleza
Tão pura,
Por instantes
Muito breves...
Mas logo recolho
Às palavras
Sedutoras
De tão inocente
Encanto
E de tão meiga 
Ternura...

O TEMPO
Corre sempre
Contra nós
E eu corro
Contra ele
Pra que a saudade
Não chegue
Antes do tempo
Chegar,
Pois sei
Que ela m’inunda,
Desagua
No meu rio
Para logo
Transbordar...

VIVO SEMPRE
Num intervalo
De onde nos vejo
Sorrir
 De saber
- Tu imagina -
Que nunca nos
Cansaremos
Por falta de tempo
Neste efémero
Viver
Sob esse poder
Que domina
E me impede
De te ter.

MAS PERCO-ME
No brilho intenso
Dos teus olhos
À procura dessa cor
Que desponta
Quando o sol
 Te ilumina.

SINTO CALOR
No meu peito
E procuro o teu
Regaço
Pra que me olhes
Por dentro
Nos poemas
Que te canto
E que dizes com
Fervor
Como se fosse
Um abraço.

EU GOSTO
Da doçura que te
Invade
Quando recusas
O mundo
Que te atropela
Nas curvas
Da tua vida...
................
Pra cantar
O meu poema
Porque me vês
De partida...

AH, COMO GOSTO
De te sonhar
A dizer-me
Em poesia,
É encanto,
É prazer
E é mistério...
..................
É a vida
Em sinfonia!
RostoJas0905R

“La Diseuse”. Detalhe.

SONHAR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Sonho”. Original de minha
autoria para este poema.
Versão áudio pelo autor, tendo como fundo
o “Concerto de Aranjuez”, 
de Joaquín Rodrigo.

Para ouvir o poema dito pelo autor:
JAS_Sonho050519Pub

“Sonho”. Jas. 05-2019

POEMA – “SONHAR”

SONHEI
QUE AS PALAVRAS
Se gastaram,
Desfiaram,
Desataram,
Sobrando fios
Para tecer
O silêncio.

SONHEI
Que a tinta
Perdeu a cor,
Que não havia
Poemas
E que não era
Pintor.

SONHEI
Que não eras tu,
Que foi tudo
Uma ilusão.

SONHEI QUE TE PROCUREI
No mundo da fantasia,
Onde as flores
Caminhavam,
Sabiam a maresia,
Tinham rostos
De mulher,
Mas surdos
Ao que dizia.

SONHEI
Que não sabia
Onde estás,
O que fazes
E o que sonhas
Nas noites
Do teu luar,
O que vês
Nesses momentos
Fugazes
Em que olhas
Para ti.

SONHEI
Que já não me lês
E que não ouves
Poemas,
Que estás tão longe
Daqui...

NO SONHO
Fui à memória,
Que também
Perdeu a cor,
Ficou tudo
A preto e branco
E sonhei,
Sonhei, sim,
Que te perdi...
.................
Meu amor!

SONHANDO,
Procurei cor
Num outro
Lugar qualquer.
Só encontrei
O cinzento
E por falta
De vermelho
Meus versos
Tão desbotados
Já nem iam
Com o vento...

“FOSTE P’RA ONDE
Que eu não te vejo?”
Perguntei
Quando do sonho
Acordei.

SAÍSTE
De onde estavas
E agora resta
O desejo
De te cantar
Sem palavras
P’ra que ouças
O silêncio
Com que antes
Me chamavas.

JÁ NÃO ME CHEGAM
SINAIS,
O meu
É um poço escuro,
É buraco
Tão profundo
Que nele
Eu vou caindo
Como triste
Vagabundo...

O SOL TAMBÉM
JÁ SE FOI,
As sombras
Tomaram conta
De mim,
Meus dias
São sempre
Iguais,
Sinto um vazio
Sem fim...

MAS PINTO,
Agora pinto,
Tenho cores
E tenho aromas,
Tenho luz
E sou feliz...

AH, SIM,
Mas perdi
A minha Musa,
A fonte
D’inspiração
Foi p’ra longe
Com o vento
E em meu triste
Pensamento
Só ficou
A ilusão!

GASTARAM-SE
As palavras,
Meu amor.
Gastou-se tudo,
Afinal.
Só ficou o teu
Cinzento,
A tinta com que
Lavras
O meu peito
(Sem lamento)
E me afundas
Nesta dor,
A que canto
Em surdina
Para ouvires
O silêncio
Com que te pinto
Sem cor...
JAS_Sonho050519PubRec

“Sonho”. Detalhe.

LIBERDADE

Poema inédito de João de Almeida Santos,
escrito para a comemoração do
25 de Abril de 2019, em Portimão, 
na Sociedade Vencedora Portimonense,
pelo "Grupo Canto Renascido", dirigido pelo
Maestro António Vinagre.
Ilustração: "Liberdade". Original de minha 
autoria para este poema.
Dito, na Sessão, por Dulce Guerreiro, 
com acompanhamento ao piano.
Para ouvir o poema pela voz do autor 
e um nocturno de Chopin:
Liberdade250419Luz

“Liberdade”. Jas. Abril de 2019

POEMA – “LIBERDADE”

PERGUNTEI-TE,
Num dia
De sol:
“Voas comigo
Pra linha
Do horizonte?”
Deste-me a mão
E sorriste:
“Voo, sim,
Pois preciso
De ar puro
Lá bem no alto
Do Monte!”

E PARTIMOS.
Tu levaste
O arco-íris
Que tinhas
Dentro de ti
E eu as letras
Que tinha
Comigo,
Alinhadas
Nesta alma
Solitária
Recolhida
Em seu abrigo...

ENREDÁMOS
Todas as cores
Com linhas
De palavras
Deslaçadas,
Construímos
Asas em forma
De verso
E voámos
No céu
De um poema
Pintado todo
De azul...

ANDEI CONTIGO
Por lá
Anos a fio,
Vagueando
Ao sabor da
Inspiração,
Levados
Pela brisa
Que sopra fria
No Monte,
Mas afaga
O coração.

E COMO GOSTEI
De voar contigo,
Livres como
Pássaros
Sobre o vale
Onde um dia
Te encontrei
Construindo
Castelos
Na areia
Com força
De fantasia!

É ASSIM QUE EU
Te vejo,
Tecer a vida
Com sopro
Na alma
E as cores
Do arco-íris
Pintadas
Por tua mão
Como pautas
Coloridas
De uma bela
Melodia
Que canto
Com devoção!

FOI ASSIM QUE NOS
Dissemos
Nesse tempo,
Livres de amarras
Que não nos deixam
Voar,
Cantando com
Arte
Um destino
Marcado
Pela vontade
Pra fazer
Da nossa vida
Caminho
De liberdade.
Liberdade250419LuzRecort

Liberdade”. Detalhe”

UM SONHO NA ALDEIA

(Outra Versão Áudio) 

Poema de João de Almeida Santos

Outra versão áudio, com fundo musical, deste poema 
(de 21.04.2019), que uma Amiga me fez chegar e que 
tenho o gosto de partilhar... e de agradecer. 
Rua da Carreira210419FinalPubFimRecorte-cópia

“Rua na Minha Aldeia”.  Detalhe. Jas. 04-2019

 

UM SONHO NA ALDEIA

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Rua na minha aldeia”. 
No final, detalhe de um quadro inédito, 
"Sonho". Originais de minha autoria. 
Abril de 2019. 
Para ouvir o poema dito pelo autor:
Rua da Carreira210419FinalPubFim

“Rua na minha aldeia”. Jas. 04-2019

POEMA – “UM SONHO NA ALDEIA”

SONHEI-TE ESTA NOITE
Nas ruas
Da minha aldeia.
Não sei porquê
 (Os sonhos são
Sempre assim),
Caminhámos
Paralelos
Sem dizer
Uma palavra,
Sem um olhar
De través....
........................
Apenas pressentimento!

DUAS VEZES
Lá estive,
A sentir
O que sentia
Na rua
Da minha aldeia,
Nesse tempo
Diferido
Dos encontros
Intangíveis.

MAS VI-TE 
Com nitidez
(Um pouco baça, 
É certo)
No silêncio do meu
Sonho,
Em misteriosa
Alvura
A recordar
Tempo antigo
Quando a neve
Regressava.

FOI NA RUA DA CARREIRA
(A rua chama-se 
Assim)
Em frente
Da minha casa,
Onde me vejo
Passar...
..................
Sendeiro da minha
Vida!

CRUZÁMO-NOS
Por pouco tempo
(Como na vida real),
Nem um olhar
Nos trocámos,
Apenas nos pressentimos,
Tão fugaz foi
O meu sonho.

MAS SE A VIDA
É um sonho
Também os sonhos
São vida,
Pois senti que,
Na verdade,
Sonâmbula
Me adivinhaste
Nesta breve
Despedida.

E AQUI ESTOU EU 
A sonhar-te
Outra vez
Em palavras
Que derramo,
Porque te vi
Nesse sonho
Na rua da
Minha aldeia,
Lugar nativo 
Que amo.

É SEMPRE ASSIM,
Meu amor,
Quanto mais tu
Te esfumas
Mais me cresce
Esta dor.
É por isso
Que te sonho,
Pra desenhar
O teu rosto
Com palavras
De poeta.

E DE TANTO TE DIZER
Acabei por
Te encontrar
Na terra
Onde nasci,
Na rua
Onde brinquei,
Onde a neve
Derretia
Quando o sol
Já despontava
E a tristeza
Me cobria.

AGORA A NEVE 
És tu,
Fugaz que foi
A passagem
Na rua
Da minha vida,
Como a brancura
De outrora
Que em tempos
De meninice
De saudades
Me doía.

E QUANDO TE
Encontrar
Talvez não
Te reconheça...
.............
Terei então 
A certeza
Que recriei
Essa ausência
Para nunca 
Eu perder
O que de ti
Me sobrou,
Como a neve
Da minha rua
Que não há sol
Que a derreta
Na penumbra
Da memória...
...............
Que, em parte,
É a tua.
Rua da Carreira210419FinalPubFimRecorte-cópia

“Rua na Minha Aldeia”. Detalhe.

 

VESTIDA DE CORES

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Exaltação da Luz”
Original de minha autoria
para este poema. Abril de 2019.
Para ouvir o poema pela voz do autor:
Jas_Poema1404FinalPubLuz

“Exaltação da Luz”. Jas. 04-2019

POEMA – “VESTIDA DE CORES”

VESTES CORES
Garridas
Em elegantes
Danças
De luz
No palco
Do mundo
Como quem grita
A beleza que leva
Dentro de si.

COBRES-TE DE TI,
Agasalhas-te 
A alma,
Repetes
Em mil poses
O teu rosto,
Em perfil...

DIZES-TE
Em arte,
Com aura,
Única,
Corpo luminoso
Sempre a voar
Para lugares onde
Te confundes com
O que te é
Estranho
Num subtil
Jogo de
Espelhos e
Aparições
Fugazes
Onde te mostras
Feliz.

MAS QUANDO
Regressas
Às origens
É como o fim
De um sonho
Que te levou
Ao paraíso...
................
A queda
De um anjo
Na rotina do viver!

E PARTES DE NOVO,
À procura de ti
Noutros lugares,
Em catedrais
Onde o eco do
Silêncio
Bate mais forte
E o brilho do teu
Olhar
Se reflecte
Nos vitrais 
Translúcidos
Da divina luz
Que julgas  
Interpelar...

DOCE ILUSÃO
A dos vitrais que
Constróis
Sobre ti
Atravessados
Por raios de luz
Que te fascinam
E seduzem
Como hipnose
Da arte sublime
Que te transportará
Em levitação
Ao oráculo
Da divina Atena...
...................
Para a apoteose
Final!

MAS EU SIGO-TE,
Vou
E voo
Atrás de ti
Com os meus poemas
Sempre feridos
De cores vivas,
Ao rubro,
Com versos
Em voz
Rouca
De tanto te dizer
Ao longe,
Na melodia triste
Feita de
Murmúrios
Por não te alcançar...
.....................
Sequer com palavras!

NÃO IMPORTA
Que a fuga
Para a boca de cena
À procura de autor
Que te conte
Ao mundo
Seja fuga
De ti própria
Para a luz
Da ribalta,
Holofotes
Que iluminem
A penumbra
Onde, persistente,
Vestes
A tua imaginação
Para a exibir
Nas festas coloridas
E luminosas
Da arte,
Em rituais
De celebração...

GOSTO
De te ver assim,
Luminosa,
Oficiante
Desse rito pagão
Que celebra
A arte
E a liberdade
Que traz consigo
Como pregão
A convocar para
Um hino à vida,
Sem amarras!

MAS EU CONTINUO
Por aqui,
Na solidão
Sideral da
Montanha
A olhar 
O horizonte
Sem fim
E o céu plúmbeo,
Pagando
 Com um poema
E uma exuberante
Rapsódia de cores
O meu tributo
Ao ritual
Onde te celebras!

AH, COMO GOSTARIA
De te rever
Na praia
Da meia-lua,
No baile
Da meia-noite,
Em diálogo
Silencioso
Com um luar
Brilhante
De lua cheia
Que te iluminasse
A alma!
Jas_Poema1404FinalPubRec

“Exaltação da Luz”. Detalhe.

 

MUSA

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “A Praia”. Original de minha 
autoria para este poema. Abril de 2019.
Para ouvir o poema pela voz do autor:
Musa070419Pub

A Praia. Jas. 04-2019

POEMA – “MUSA”

EU TENHO UMA MUSA
Guardada
No fundo
Da minha memória.
Perdi-lhe o rasto
Ao corpo,
Ficou-me dela
O mistério
Que me alimenta
O estro
Quando a saudade
Me assalta.

SOBROU-ME
Recordação,
Marcas cá
Dentro de mim,
Desço ao fundo
Da alma
Mas não lhe vejo
O fim.

E ASSIM NÃO A
VISLUMBRO,
Há uma certa
Escuridão,
O olhar já
Não me chega,
Restam-me
As cicatrizes 
 E uma funda
Solidão.

ÀS VEZES DESENHO
Seu rosto,
Ponho-lhe cores
Muito vivas,
Pinto a alma
Com palavras,
Dou-lhe nome
Que não é seu,
Levo-a nos meus
Poemas...
...............
Devolvo tudo
O que ela
Não me deu.

VALE-ME A POESIA
Pra onde fujo
Com ela,
É como a maresia
Da praia
Que vejo
Da minha janela.

TENHO UMA MUSA
Na praia,
Nesse mar
Que não tem fim,
Revolvo-me
Nas suas ondas,
Regresso feliz
Ao poema
Onde sorri
Para mim.

NÃO IMPORTA
Onde está,
Musa é fonte
De inspiração
Desde que haja
Na praia
Uma intensa
Paixão...
Musa030419Final04LuzRec

“Praia”. Detalhe.

ORIGEM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Onde Te Vejo”.
Original de minha autoria
para este Poema. Março de 2019.
Versão áudio pelo autor:

OndeTeVejo3103Final

“Onde Te Vejo”. Jas. 03-2019

POEMA – “ORIGEM”

A SUA ARTE
Nasceu contigo,
Do mistério e do
Silêncio  
Que te enchia a alma,
A transbordar...

NASCEU
De um inesperado
Encanto,
Da tristeza
Submissa,
Quase matricial,
Que o cativou.
O começo
De uma revelação
Que não tem fim...
Intemporal.

E ELE, CRIANÇA,
Fascinado
Pelo teu olhar
Profundo,
O teu ímpeto
Imparável,
Fúrias
Quentes,
Cabelos negros
Desgrenhados
À solta
Sobre um corpo
Incerto,
Seios generosos
Que anunciavam
O nascimento de um
Poeta...

NASCEU CONTIGO,
Sim,
No teu regaço,
O poeta,
Aninhado
Na incerteza,
Na bruma
densa 
Do encantamento.

DEPOIS CRESCEU
E quis a perfeição,
Seduzir-te
De longe,
Através do vento
Que te soprava
Na alma
Atormentada,
Com palavras cálidas,
Mas tristes,
Ritmadas
À medida que te
Ia perdendo
No implacável
Tempo da renúncia.

ACOLHESTE
A tormenta
No dia-a-dia
(Eu sei),
Obsessão
Martelante,
Sofrida em palavras
Repetidas
E gastas 
À exaustão
Até à fuga
Para o nada...
...................
Cheio de tudo
O que não pudeste
Ou não quiseste
Ter.

MAS LEVASTE
O poeta contigo
(E muito mais),
Grávida de palavras
Não ditas,
Olhares falhados,
Imperceptíveis 
Sinais,
Silêncios gritados,
Quieta turbação,
Lava oprimida
No centro de um
Vulcão
Que te alimenta
E consome
Nessa tua inefável  
Solidão!

E O POETA
Capturou-te
Dentro de si
Para te libertar
Com metódica
Persistência
Em poemas,
Nuvens
Cintilantes
Que espalha
No teu céu,
Sobre ti,
Para te refrescar
A alma
Incandescente.

E EU, SEU CONFIDENTE,
 Vejo-te só, 
A olhar
O céu da minha 
Janela,
As nuvens brilhantes
Do poeta,
À espera
Da chuva
E dos trovões
Que anunciem
Raios de luz
Sobre o teu olhar...

E TU, ALI,
Pensativa,
Silenciosa,
Taciturna,
A rever nelas
Um passado
Que nunca existiu, 
Porque tudo tiveste
E tudo se perdeu.

MAS O PASSADO,
Ah, o passado
Anuncia-se
Agora,
Na primavera,
Em metamorfose,
Como ressurgimento,
Cântico
À eternidade,
Onde um dia,
Na solidão do teu
Destino,
Te reconhecerás...
.................
Talvez com um
Sorriso 
Um pouco triste!
Mas não será tarde
Demais
Porque é o tempo
Do reencontro.
Janela_31MarçoFinalR

“Onde te vejo”. Detalhe.

 

COMO TE VEJO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Trono”. Original de minha
autoria para este Poema. Março de 2019.
Para ouvir o poema pela voz do autor:

Trono240319Final1

Trono. Jas. 03-2019

POEMA – “COMO TE VEJO”

COMO TE VEJO
Na minha imaginação?
Sentada num trono,
Hierática,
Sorriso formal,
Parca em palavras,
Muito bela,
Quase irreal...
.................
Como te sinto!

BELEZA FRIA,
Marmórea,
Pele desenhada
A rigor e
A cinzel
Por escultor
Que te perscrutou
A alma
Desnuda
Nos confins
Enigmáticos
Do teu ser.

FICOU-TE
A beleza
No perfil,
À superfície,
Onde ainda te
Vislumbro
Na cíclica
Neblina
Do meu olhar!

E CRIAS ROUPAGENS
De mil cores
Que descem
Do trono
E te gritam
Ao mundo,
Escondendo
A solidão
Da tua alma,
A queda
De um anjo
No poço fundo
De uma velada
Melancolia.

NÃO HÁ FUGA
Possível
Para o reino
Das formas puras
Quando falta
O sopro
Que anima
Os voos
Da fantasia
Para o infinito
De um espaço
Sideral.

MAS EU VEJO-TE
Sempre
Num trono
Dourado
Sentada na ilusão
De conquista
Do mundo
À medida que te
Vais gastando
Na voragem do
Tempo
Que te atira
Para fora
A vaguear
Na cidade
Em busca
Das formas
Perdidas...
......................
Para o teu mirífico
Reino.

SERÃO SÓ SINAIS
De fumo
Que se elevam
No horizonte
A anunciar-te,
Levados pelo vento
Que te sopra
Na alma,
E que clamam
Por atenção?

AH, COMO GOSTARIA
De os ler,
Os sinais,
Na exegese
De um oráculo
Promissor!

MAS O TRONO
Tem paredes subtis,
Leves e frágeis,
Tem rituais,
Tem ouro
E muito mais,
Tem cânticos
E tem vestais,
Orações,
Sacerdotes,
Musas
E catedrais...

E FICA LÁ EM CIMA
No Monte
Onde o ar é
Rarefeito
E os horizontes
Não têm fim
Porque tocam
A linha do infinito...
.....................
E turbam a alma!

ALGO ME DIZ
Que ao trono
Onde te vi
Não voltarás
Porque desceste
Ao vale
Chamada pelos arautos
Das formas vazias,
Apóstatas,
Timoratos
Da montanha
Sagrada,
Das vertigens
E das tonturas
Pela proximidade
Da sideral
E mágica
Abóbada celeste
Que nos arrebata
A alma.

A MONTANHA
Não se deixa subir
Duas vezes
Na procura de inspiração,
Sabias?
O trono muda
De cor
E de oficiantes,
Como se a vida
Lá em cima
Tivesse um único
Ciclo de tempo
Que não podemos
Abandonar.

SERÁ ESSE O TEU
DESTINO?
Não sei.
Mas na montanha
Há um trono
Onde nos sentamos
Uma única vez...

Trono240319FinalR

TARDO A ENCONTRAR-TE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração. “Noite”. Original de minha
autoria para este Poema. Março de 2019.

Para ouvir o Poema, pela voz do Autor:

NoiteFinal1403Exp

“Noite”. Jas. 03-2019

POEMA – “TARDO A ENCONTRAR-TE”

TARDO A ENCONTRAR-TE
Porque não sei
Como procurar-te
Levado
Por um poema...

NÃO É A VONTADE,
Mas o destino a marcar
Os passos que
Eu darei
Ou que nunca
Ousarei
Nesta estreita
Vereda
Da minha vida.

E TU SABES
Que não sei
Mas sabes por onde
Andei
E me perdi,
À procura do que
Não podia ter
Pra preservar
O que não quis
Apenas
Dentro de mim.

ATÉ QUE TE REENCONTREI
No fim de um caminho
Que já nem sei se
Trilhei
Ou se abandonei
Antes de um qualquer
Início.

ÀS VEZES ENCONTRAVA-TE.
Encontros fugazes,
Onde o teu brilho
Cegava
Por fora
E iluminava
Por dentro...
....................
E cantava-te!

MAS NÃO SEI
Se te quero
Para nunca
Te ter,
Sentir saudades
Logo ao amanhecer
Do perfume da aurora
Quando te reencontre
Na memória fresca
Dos afectos
Indefinidos...
....................
Os mais perfeitos!

SIM, DEIXO-ME IR
Nas mãos do destino,
Bem sabes,
Mas há sempre
Um súbito
Sobressalto
Quando o real
Nos atropela
Por dentro
E tudo se torna
Inóspito...
.................
Então eu tenho
Saudades de ti!

SE NÃO ME DEIXO IR
Viajo para outros
Lugares,
Tenho sempre
De viajar
À procura de mim,
Dum espelho onde
Me veja por dentro
A olhar-te
Por fora,
À espera do próximo
Sobressalto...
...................
Que nunca demora!

AH, COMO ME ESCASSEIA
Esse véu que te cobre
O rosto
Quando te quero
Pintar com palavras
E te vejo 
Nua,
Com a alma a tiritar,
À mercê dos sobressaltos
Que te marcam
Como sulcos,
Cicatrizes ásperas
Da vida.

MAS EU PROCURO-TE
Com disfarçado
E tímido
Olhar,
Perscrutando-te
A alma
Que se aninha
Em ti
Para te proteger
Do risco da beleza
Exposta
Como fractura,
Aquela que os poetas
Cantam
Quando sentem a
Liberdade
Por perto.

TALVEZ A NOITE
Te sirva de véu
E te cubra as cicatrizes
Da vida,
Luz coada pela
Penumbra
Que te amacia
A pele
Encrespada,
Te devolva como
Sonho
Acetinado
Onde te reinventarei
Como mulher
Desejada...
....................
Para além do bem
E do mal.

MAS EU NÃO SEI,
Tenho medo
Dos sobressaltos,
De ser atropelado
Na esquina de um
Inocente
Jogo sedutor
Que te cative a
Alma
Já em fuga
Para o infinito
Que se cruza
Nos nossos olhares...
....................
Intermitentes.

TARDO A ENCONTRAR-TE
No bulício dos nossos
Dias...
...................
Até que no amanhecer
De um poema
Te encontre
E te diga
Com olhar
Submisso:
Meu amor!
Mas talvez já seja
Tarde demais...

NoiteFinal1403R

 

SOLIDÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Evasão". Original de minha 
autoria para este Poema. Março de 2019.
Para ouvir o Poema, dito pelo autor:
P5100319FinalTrab

Evasão. Jas. 03-2019

 “Os poetas são impudentes em relação às suas vivências: exploram-nas
(Die Dichter sind gegen ihre Erlebnisse
 schamlos: sie beuten sie aus) 

"O que se faz por amor acontece 
sempre para além do bem e do mal"
(Was aus Liebe gethan wird, geschieht 
immer jenseits von Gut und Böse).

F. Nietzsche, Jenseits von Gut und 
Böse (Para além do bem e do mal), 1886.
IV. Sprüche und Zwischenspiele: 161. 153.

POEMA – “SOLIDÃO”

PERGUNTEI AO POETA
Sobre a minha
Solidão...
...............
E sabes
O que me disse?
Que ela tem
Os sete véus
Pra que ninguém
Atravesse
O sagrado
Do seu halo...
.....................
Um oásis no deserto,
Confessou!

PERGUNTEI-LHE
Pela dor
Que me resta,
E eu afago,
Deste amor
Que me veio
Ao encontro
Como dádiva do céu...
........................
E sabes
O que me disse?
Deixa lá,
Se já não tens
Alegria
Pra encantar
Quem tu amas
Resta-te a dor
Em plena solidão,
Quente
Como lava
De vulcão
Em humana
Eternidade,
Fora do mundo,
Da cidade,
Em suave e doce
Evasão!

MAS DISSE
Mais.
Não a procures,
Não lhe fales
Nem a vejas
A não ser como
Poeta,
Nesse intervalo
Da vida
Que te torna
Intangível
Como pura
Silhueta!

FINGE
Que não a sentes
E confessa-lhe amor,
Sobe às nuvens
Pelas linhas
Do seu rosto e
Põe asas
No seu nome,
Mas finge
Que não o dizes
Pra que não
Te reconheça...

E SE UM DIA
Teus olhos
Pousarem nela
Finge outra vez,
Finge que
Não a vês,
Que estás ali
Por acaso,
Como se fosse
À janela,
Que o destino
Te levou
Para fora
Do teu mundo
À procura
De desejo
Que resgate
A solidão.

PERGUNTEI, DE NOVO,
Ao poeta
Sobre esta solidão
Que cresce dentro
De mim...
..................
E sabes
O que me disse?
Que também ele
Ia nu,
Viajando nas estrelas,
Com asas
De sete véus,
Transparentes
Como ar,
Mergulhando no azul
Para ver se
A cantava
Sentado no horizonte,
A tocar o infinito...

QUERO SER
Como falou
Zarathustra,
Sussurrou...
.....................
Que da paixão
Saia virtude,
Dos demónios
Nasçam anjos,
Da solidão
Liberdade,
Que na dor
Cresça alegria
Cada ano,
Cada dia,
Enquanto o poeta
Viver,
Enquanto a possa
Cantar...

ENCONTREI UM DIA
O poeta
A caminho
Das estrelas.
Perguntei-lhe
Sobre a minha solidão.
Bateu as asas
E disse:
Voa pra junto de mim
Com asas de sete véus
Que o azul deste
Meu céu
É a tua evasão!
P5100319FinalTrabRec

Evasão. Detalhe.

 

NÃO SEI!

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Incerteza”. Original de
minha autoria para este Poema.
Março de 2019.
Incerteza030319

“Incerteza”. Jas. 03-2019

POEMA – “NÃO SEI!”

SE ME PERGUNTARES
Por que razão
Eu te amo
Respondo-te,
Com espanto,
“Não sei!”

SE ME PERGUNTARES
Pelo que dói
Neste tão cego
Amor,
Respondo-te
Que não sei,
Que sinto
Pungente dor
Esparsa
Sobre o meu corpo
Como sentido
Penhor
De um rapto
Imprevisto
Que nunca há-de
Ter fim...

SE ME PERGUNTARES,
Depois,
Se eu sinto
A tua falta
Respondo-te
Logo que sim,
Que tenho sempre
Saudades
Mesmo quando
Eu te tenho
Aqui bem junto
De mim.

“- PORQUE SOU EU
A mulher
Que te merece
Atenção?”

AH, ISSO EU SEI,
Meu amor...
....................
Foi o destino
E a minha salvação,
Esta dor
Que não me vem
Da vontade,
Da procura
Da verdade,
De um saber
Que não terei...
.....................
E tudo o mais
Eu não sei...
...................
Quando te beijo
Na alma!

“- O QUE SABES
TU DE MIM,
Neste teu 
Desejo ardente?”

POUCO OU NADA
Sei de ti
E sabendo
O que não sei
Não te amaria
Às cegas,
Assim tão
Intensamente!

AMAR-TE
É como beber
Tempestades,
É dor que
Não se sabe
Onde está,
É mistério
Revelado,
É encanto
Permanente,
O reverso 
Do saber,
Luz intensa
Que me cega
E também
Fascinação,
Anúncio
Que nunca acaba,
Lado oculto
Da razão...

“- PRA QUE ME QUERES,
Então, meu amor?”

EU QUERO-TE
Para te querer,
Simples vontade
De ti
Como fim
Do meu viver,
Sentir saudades
Do que estou
Sempre a perder,
Olhar-te nos olhos
E ver neles
O teu mundo...
E o mundo
Dentro deles,
O brilho
Embaciado
De um olhar
Onde me perco...

E SE UM DIA
Eu souber
Por que razão
Te amei
Chorarei
Eternamente
Porque então
Descobrirei
Que por isso
Te perdi...
Incerteza030319R

“Incerteza”. Detalhe.

 

 

ANOITECEU…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Uma Janela no Jardim”.
Original de minha autoria
para este poema. Fevereiro de 2019.
Anoiteceu24_02_19FinalF24

“Uma Janela no Jardim”. Jas. 02-2019

POEMA – “ANOITECEU…”

É DAQUI QUE EU
Te vejo,
Ao luar,
Sempre que me
Anoitece
Na vida.

UMA JANELA,
Solidão,
Luz coada na
Vidraça
Onde pressinto
Que te dás,
Velada,
Ao meu olhar
Interior,
Tão discreto
Como a noite
Que me cai
Fundo
Na alma!

TENHO A MEU LADO
Uma flor,
Uma rosa
Iluminada...
A que o destino
Me deu
Por companhia,
Irrompendo,
Noite escura,
Como vela
Que perece
Pra m’iluminar
O caminho...

SIM, ANOITECE
Nas nossas vidas,
Em todas,
Bem sei,
E também eu já
Não te vejo
Nem te ouço
Ao entardecer,
Porque passou
Tempo demais...

SE AINDA TE
PRESSINTO
Em tão ténues
Sinais
Que me chegam
Aos sentidos
É porque tu
Já não me sais
Da memória
Onde sempre 
Te visito...

MAS AGORA,
JÁ SOBE,
Sim, sobe,
Suave e
Subtil,
Um perfume
No Jardim,
Aroma doce,
Anúncio de
Florescência
A despontar
Nua,
Como eu,
Para o que
Um dia
Haverá de
Germinar...

A JANELA ACENDE-SE
Com esplendor!
Luzes,
Brilho intenso,
Cores
Em catadupa,
Talvez uma nova
Vida
Possa ainda
Renascer
No meu jardim...
...............
Simples,
Como uma flor.

A ROSA
E A MAGNÓLIA
Ganham luz,
As pétalas quase
Gritam
Aos sentidos
E anunciam-te,
Imprevista
Alegria,
Cor da minha alma,
Aroma intenso,
Brilho profundo...
....................
E tu renasces,
Bela como sempre,
Quando o véu
Te cobre o rosto
Macio,
Sem marcas
De vida sofrida,
Beleza de perdição
Que devolve,
Como sopro,
Encanto
À minha vida
E reparo à 
Solidão.

OLHO A JANELA
De longe
E um perfume
De rosa
Desprende-se,
Denso,
A meu lado,
Inebriante...
....................
E incendeia-me
A alma
No mágico
Anoitecer...

ANOITECEU, SIM,
MEU AMOR...
...............
Mas à noite
Segue-se,
Sempre,
Implacável
E silenciosa,
A madrugada
E eu desperto
Do torpor
De um desperdiçado
Amor
Para renascer
De novo
Deste lado
Como flor
Que desponta,
Ao relento,
No jardim
Da minha vida!

Anoiteceu24_02_19FinalAcabouR

PALHAÇO

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Máscara” 
Original de minha autoria 
para este Poema. Fevereiro de 2019
Mascara17022019Finaljpg

“Máscara”. Jas. 02-2019

POEMA – “PALHAÇO”


COMPREI UMA MÁSCARA,
Pu-la no rosto do
Meu amado poeta
E ele não a enjeitou.
Ainda por cima
Me disse
“- Sou eu, sou...
........................
Como nas palavras
Que digo
Também meu rosto
Mudou".

"NÃO ESPERAVAS
Ver-me assim!
Vá, confessa
O teu espanto!
Luzinhas na minha
Cabeça,
Rosto tão
Desfigurado,
Cor, tanta cor,
A que apeteça
Pra sufocar
Esta dor
Sempre que ela
Apareça
A pedir o meu
Cuidado".

"ADOPTEI ESTA FIGURA,
Apresento-me assim,
As outras
Nada te dizem,
Com esta
Olhas pra mim!"

"PALHAÇO
É O QUE SOU,
Falo a
Surdos e mudos
Que não ouvem
O que digo
Nem me dizem
O que quero
Como se fosse
Mendigo
Do que, afinal,
Nem espero".

"VALHA-ME POIS
ESTA MÁSCARA!
Assim rio
Desta vida,
Rio de ti
E de mim,
Da chegada
E da partida,
Dos abraços,
Das palavras...
..................
E também da
Despedida!"

"SOU PALHAÇO,
É o que sou!
Entretenho-me
A cantar...
E se ouvires
Este canto
Arlequim
É seu autor...
......................
Não t’importes
Nem o chores,
 Pois o que diz
No poema
É para espantar 
Sua dor!”

A MÁSCARA
É o seu rosto,
Colou-se-lhe
Logo à pele
Com a cola
Do desgosto
E por isso
Já nem sabe
Se este rosto
É o dele.

COMPREI UMA
MÁSCARA
Luminosa
No mercado
Da minha vida,
Ponho-lha sempre
Que posso,
À chegada
E à partida!

NÃO LHA TIRES
Que rasgas a sua
Alma
Pois se o canto
O liberta
É a máscara
Que o salva!
Mascara17022019FinaljpgReco

“Máscara”. Detalhe.

 

“OLÁ!”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Raízes”.
Original de minha autoria
para este poema. Fevereiro de 2019
Mag100219

“Raízes”. Jas. 02-2019

POESIA – “OLÁ!”

PEDI-TE UM DIA
Que me desses
Um “Olá!”,
Com súplica
Em magnólia
Pra romper
O teu silêncio
E sarar
Esta ferida
Que me causa
Tanta dor...

E “OLÁ!” TU ME
Disseste,
Tão rápido
Como o vento
Que me sopra
Sobre a alma
Quando cruzo
O teu olhar!

BALBUCIEI 
O teu nome
Já distante
Do “Olá!”
Sem saber
O que fazer,
Se chamar-te
Para mim
Ou para longe 
Partir...
...........
Não sabia
Que dizer!

MAS QUANDO VIREI
O rosto
Vi-te de novo
Austera,
Muito fria
E distante...
...............
Ignoravas
O passado
Que passara
Nesse instante!

JÁ MUITO LONGE
De ti
Voltei a pedir
Um “Olá!”,
Mas já não
Me respondeste...
.....................
Caíra um raio
Do céu
Que rasgou
Esse teu véu
Donde ainda
Me olharas...

E DEPOIS...
Tantos “Olás!”
Te pedi,
Tantas vezes
Te chamei,
Os poemas
Qu’escrevi
Palavras
Que derramei...
....................
Sabendo nada
De ti!

TALVEZ O VENTO
Te chame,
Talvez a flor
Te seduza,
As raízes te
Comovam
Ou o poema
Te diga
Que nunca
É tarde
Demais
Pra que no eco
Te encontre...
.................
Meu amor!
Mag100219R

“Raízes”. Detalhe.

 

 

O POEMA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Ela”.
Original de minha autoria para este
Poema. Fevereiro de 2019.
ELAFinal030219

“ELA”. Jas. 02-2019

POEMA – “O POEMA”

PRA QUE SERVE
O meu Poema
Se ela,
Do outro lado
Da rua,
Não o vê e
Não o ouve,
Não lhe sente 
O perfume
Que a alma
Inebria?

AH, MAS EU
SINTO-A
A ela
Do lado de cá
Do Poema
E pinto-a
Em aguarela
P’ra que veja
A minha dor...
.................
Olho-a, então,
Com palavras
E falo-lhe
Como pintor.

PRA QUE SERVE O
MEU POEMA?
Pr’aquecer
A minha alma
Dizendo tudo
O que sinto
Mesmo quando
Nos meus versos
Até parece
Que minto...

MAS NÃO ESCREVO
Pra ela
Que não a vejo
À janela
A ver passar
O poema
Na rua do
Desencontro...

O POEMA
É de quem
O queira ver
E ouvir-lhe
A melodia,
Ler ou mesmo
Cantar
Como uma sinfonia,
É a festa
Dos sentidos,
É prazer,
É emoção,
Não o ouve
Nem o vê
Quem não pode
Ou quem não queira...
..................
Não é coisa da
Razão!

O POEMA É SEMPRE
CANTO,
Vale pela melodia,
Pelos sentidos que
Desperta
Cada hora,
Cada dia...

É VIDA QUE
ME LIBERTA
Das amarras
Da paixão
Porque voo com
Palavras
Ao sabor da emoção.

E SE TE CHAMO
Ao poema
É pra ter de volta
O meu eco,
Ouvir o som
Desta dor,
Decompô-la
Em palavras,
Anulando a paixão
Num canto libertador
Das amarras
Da prisão.

PARA ISTO
EU SOU POETA,
Canto pra quem
Me ouve,
Não espero
Reacção,
Porque sei que
Já partiste,
Me deixaste
Em solidão.

EM CANTO-ME
Nestes poemas
Pra redimir
Minha dor
E se a poesia
Não chega,
As palavras
Não me bastam,
Pois que seja...
...................
Sou pintor.
IMG_2340Rec

“Jardim”. Jas. 02-2019

 

LUZ

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “O Arbusto”. Original de minha
autoria para este poema, à procura 
da sinestesia perfeita. 
Janeiro de 2019.
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O Arbusto. Jas. 01-2019

POEMA – “LUZ”

LUZ DO CÉU,
Muita luz
Descia por uma
Fresta
No coração
Do arbusto
Sobre meu
Olhar
Fascinado...

TÃO INTENSA
E brilhante
Ela era...
Como raio
(Ou quimera?)
Me cegou...
...............
E fiquei 
Aprisionado!

LUZ, MAIS LUZ,
Queria eu,
Era luz que me 
Faltava...
E ela
Esmoreceu
No meu olhar
Esmagado!

MAS FICOU DENTRO
De mim,
Num poema
Ou desenho
Esboçado,
Cores, traços, 
palavras,
Memória que 
Não tem fim...
.....................
Até que essa luz
Se apague
No arbusto
Do jardim...

LUZ, MAIS LUZ,
Insistia o poeta
Ao entardecer
Desse dia,
Quando a luz
Esmoreceu
E nela ele
Se perdia...

ERA VIDA
Que findava
Ou tempo
De despedida
Que cedo demais
Me chegava!

MAS A LUZ
Reavivou
Dentro de mim -
O meu sol-,
Renasceu
Nessas cores
E nas palavras
Que me saem
Cá do peito
E do fundo
Da memória...
.............
São poemas
Que te grito
E não ouves,
São cores
E riscos
Com que me rasgo
A alma,
São os sons 
Destas palavras
Com que
Ouço o teu 
Silêncio,
É pauta da melodia
Que já não sei
Soletrar...
...................
Por falta de ti,
Meu amor,
Que te negas
Ao olhar...
..............
P’ra que eu
Sempre te dance
Ao ritmo dessa
Saudade
Que me dói
Cada vez mais
Para melhor
Te guardar...

FOI ASSIM QUE
A LUZ
Voltou
P’ra iluminar
O arbusto
Que me tempera
A alma
Com suas folhas
Amargas,
Infusão de sentimento
Que me assalta
O corpo
Quando chega
A solidão...

REGRESSO, ASSIM,
Ao começo,
Tropeço na tua luz,
Ilumino-me a
Alma
E ponho fim
Ao desgosto
Dessa perda
Irreal
Que descobriu
No poema
Remédio
Para o meu mal.
licht7rec

Detalhe.

 

GEOMETRIA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Triângulos”.
Original de minha autoria para este
poema. Janeiro de 2019.
geometria

Triângulos. Jas. 01-2019

POEMA – “GEOMETRIA”

MEUS POEMAS
São triângulos
Perfeitos,
Geometria
De afecto
Irreal
Com três lados,
O poeta
Refractário,
A musa
Que o inspira
E a fonte
Seminal...

“ - PORQUÊ
GEOMETRIA”,
Dirias tu,
“Se o amor não
É exacto,
Perfeito e
Linear,
Linha pura
De um rosto
Que só tu podes
Olhar?”

PORQUE A GEOMETRIA
Eleva ao excelso
Paraíso,
Exactidão,
Leveza,
Rapidez,
Linhas
Rectas,
Refracção
(Como vês)
De um rosto
Divinal
Que projecto
Com a alma
No meu jardim
De cristal...

ELEVA-ME
À perfeição,
Que não é
Pecaminosa,
Distante
Da curva linha
Rugosa
Que descreve
O amor
Em gestação
Como onda
Sinuosa,
Turbilhão
Nesse vasto
Oceano
Que não ouso
Enfrentar...

E, POR ISSO,
Quando desenho
O amor
Como círculo
Perfeito,
Ângulo
Agudo do sete,
Eu perco-te,
Mesmo que o
Desenlace e
O projecte
Como linha
Que descreve
Um voo
Ao infinito
Que já transborda
De azul...

POR MAIS FIGURAS
Que desenhe
Ou fugas
Que eu encete,
Linhas no fio
Do céu,
Não encontro
O amor,
Mas projecção
Geométrica
De uma nudez
Interior
Que eu espelho
No meu canto,
Expiação
Desta dor!

NÃO HÁ AMOR
Num triângulo 
Perfeito,
Bem sei,
Na aritmética
Do espaço,
Linha em fuga
De uma deserta
Rua 
Para lá do
Horizonte
Dessa alma
Sempre nua...

AH, MAS NA COR...
Na cor que sinto
Bem fundo
Dentro de mim,
Como fonte
De calor
Com que me
Visto a alma
Para me agasalhar
Desta tão fria 
Dor...
Sim, eu vislumbro
O amor...
.............
Nas faces
De um cristal
De onde te vejo
Em triângulos
De cor e luz, 
Espelhos
Desse teu rosto 
Em refracção
Luminosa
Que ao poeta
Inspira e seduz
Quando te canta
A beleza
P’ra te dizer 
Do destino 
A que o poema 
Conduz...

MEUS POEMAS
Serão, pois, 
Triângulos
De luz e cor
Que m'iluminam a 
Alma
Onde te guardo 
Escondida,
Para sempre, 
Meu amor!
geometriar

Detalhe.

 

 

 

PERFUME

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Perfume”. 
Original de minha autoria para este poema. 
As duas referências que gostaria  
de assinalar, neste poema, são as 
“Memórias de Adriano", da Marguerite
Yourcenar (Alfragide, Leya, 2018: 72-73), 
e "Os Sonetos de Shakespeare" 
(Lisboa, Quetzal, 2016 - Soneto 54).
Janeiro de 2019.
rosarosaefinal1301

Perfume. Jas. 01-2019

POEMA – “PERFUME”

E SE UM DIA
Me perguntasse
O que é, para ti,
O amor?
Pintar
Esse teu rosto,
A retórica
Do corpo,
Celebrando-te
A cor?

OU DIZER-TE
NUM POEMA,
Retórica
Da minha alma
Que te sofre
Em dilema
Entre o silêncio
E o canto
De tão longa
Ser
Esta nossa
Despedida?

DESENHAR-TE
Como se fosses
Flor
À medida do
Desejo,
A retórica
Da cor
Que sempre,
Ao ver-te,
Festejo?

O QUE É?
O perfume de uma
Rosa,
Branca
Ou vermelha
De cor,
Que sempre 
Me enche 
De ti
E me perde,
Meu amor?

DESENHAR UMA 
PAISAGEM
Contigo
No horizonte,
Uma brisa
Que sopra
Suavemente
Lá em cima
No meu Monte?

O QUE É PARA TI
O AMOR?
Ouvir-te
Como minha
Sinfonia
Ou sentir o teu
Silêncio,
A secreta
Melodia?

ENLAÇAR TEU CORPO
Ao meu,
Um calor
Que inebria,
Celebrar-te
Sem parar
Uma noite
E um dia
Ou projectar
No espelho
O teu corpo
Virtual,
Celebrando
Teu perfil
Como minha
Alquimia
Num estranho
Ritual?

SABES O QUE É,
MEU AMOR?
Talvez não...
..................
De tanto te
Celebrar,
Pintar,
De tanto cantar
O teu rosto,
A beleza seminal,
Numa tela,
Num ecrã
Ou no meu triste
Mural...
................
Este amor
Pode até ser
Negação...

SAI DE TI
E deixa-te ir,
Vagueia
A vida
Com alma,
Não celebres
Com tristeza
Cada tua despedida
Como se o tempo
Parasse
Para não seres
Esquecida...

SAI DE TI, SIM!
Procura
O que o mundo
Te dará
Pois essa será
A tua certa
Medida...

AMOR TALVEZ SEJA
O perfume
De uma rosa
Em gestação,
“Brando odor que
Nela habita”,
Cor intensa,
Forma bela,
Palavra que
O poema
Sempre hesita,
Mas interpela
Em versos que
Te destilam
Verdade
Quando a vida
Se resolve
Na escrita...
...................
De uma tão funda
Saudade!

rosarosaefinal1301rec

 

PINTO-TE COM PALAVRAS!

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Chakra”. Original de minha
autoria para este poema. Janeiro de 2019.
chakra0601

Chakra. Jas. 01-2019

POEMA – “PINTO-TE COM PALAVRAS!”

TU PINTAS-ME...
Eu bem sei,
Gastas a alma
Na cor
E nos riscos
Que te fazes
Para assim
Me compor,
Elevar em 
Catarsia,
Parar a dor
Que te canto,
Choro triste,
Poesia.

“- E TU CANTAS
Meus pobres
Traços,
Euforia
De paisagens,
Rostos perdidos
No tempo,
Cores que
Tapam
A tristeza
De te perder
Para sempre
Como minha
Melodia”.

SIM, EU CANTO
Todas as cores
Com que te pintas
A vida,
O que te nasce
Das mãos
Sempre já em
Despedida...

E CANTO
As minhas dores
Com essas palavras
Gastas
Que são como
Os sabores
Com que tempero
O destino
De ti sempre
Tão ausente
Como laico
Do divino!

SIM, EU CANTO
A vida
Sem a tinta
Que é, afinal,
Um desejo...
Flui-te das mãos,
Expõe-te a alma
(Um lampejo!)
Ao poeta
Que te pinta
Em versos
Como cometa
Que nasce
E morre
Consigo
Como frágil
Borboleta
Que perdeu
O seu abrigo...

PORQUE DESENHAS
A alma
Com silêncio
Que tu logo
Cobres
De tinta
P’ra que eu já
Não te veja
Em meus versos
Enganados
E, assim,
Já não te minta...

MAS EU VEJO-TE
Sempre
Num poema
Para além da
Tua cor,
Por isso vivo
Em dilema:
Sou poeta ou
Pintor?

SE TE PINTO,
Cubro
O silêncio
De cor,
Se te canto
Sou eu mesmo...
..............
Um poeta,
Fingidor!

chakra0601recor

 

ESTA NOITE EU SONHEI-TE…

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Regresso a Pasárgada”. Original 
de minha autoria para este poema. Dezembro de 2018
Pasárgada301218

“Regresso a Pasárgada”. Jas. 12-2018

POEMA – “ESTA NOITE EU SONHEI-TE…”

ESTA NOITE EU
SONHEI-TE...
....................
Já passara
Tanto tempo
Que parti
Do meu nordeste,
Do jardim do 
Paraíso!

COMO SE NA
VASTIDÃO
Do espaço 
Entre o sonho
E tua vida
Não houvesse
Essa tristeza
De tão longa
Despedida...

QUE ESTRANHO
ESTE SONHO,
Pois julgava-te
Perdida
Lá no fundo
Da memória,
Onde a imagem
De teu rosto
Não me fosse
Devolvida!

AH, QUE BOM
SONHAR-TE,
Recriar
O que perdi,
Virar tudo
Do avesso,
Reviver
O teu sorriso
E ficar-me
Por aqui!

ESTA NOITE
EU SONHEI-TE
E gosto
De o dizer,
É como ter-te  
A meu lado
Para não mais
Te perder
Porque nasci
P’ra te amar...
...................
Esse dom
Que faz sofrer!

AH, QUE SONHO!
Ficou-me colado
Ao corpo
Mesmo quando
Acordei,
Foi um prazer
Infinito,
Pois tinha 
O doce sabor
De alguém
Que eu amei.

SONHEI-TE,
Senti-te
Dentro de mim...
.................
Mas eu não sei
Por onde andas,
Se te ganhas 
Ou te perdes...
..............
E esta dor
Não tem fim...

PERDI-TE
De modo diferente,
Bem sei,
Porque nunca
Te encontrei
Na ponte
Desse teu rio
Que eu nunca
Atravessei.

ESTA NOITE EU
SONHEI-TE...
...........
Voltaste
De longa ausência,
Voltas sempre,
Sim, eu sei,
Porque de mim
Não saíste,
Do dia em que  
Te encontrei.

MAS PARECE
Que te esfumas
No poço fundo
Do tempo,
A tua imagem
S'esbate
Nesta retina
Já gasta,
Tua voz é
O silêncio
Deste som
Que me consome,
Teu olhar
Fica cerrado
Para nunca mais
Me ver,
Braços caídos
No corpo
Para não me
Abraçares
Nem que seja
Na memória
Do que nos sobra
Da vida!

É ASSIM QUE
EU TE SONHO,
Vendo-te um pouco
Perdida,
Comigo sozinho
No cais
Com a alma
Adormecida,
Porque daqui, 
Deste meu 
Sonho, 
Tu já não sais,
 No resto da
Minha vida!

ESTA NOITE EU
SONHEI-TE
Porque estás
Longe de mim,
Não foi por 
Vontade minha,
Foi a vida,
Foi assim...

Pasárgada301218Rec

 

ENCONTRO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Dame mit Ohrring”. Original
de minha autoria para este poema. 
Dezembro, 2018.
Exactamente há um ano, publiquei o poema “Teus Olhos”, agora 
recriado sob a mesma inspiração, mas ilustrado, não com “Dame 
mit Muff”, de Gustav Klimt, que aqui evoco e invoco, mas por este  
quadro de minha autoria. O percurso de um ano, aqui plasmado, 
quarenta e cinco desenhos depois, de um atrevido aprendiz de pintor 
que, em grave estado de necessidade poética, se lançou na ousada 
aventura de ilustrador da sua própria poesia!
JAS_Dame mit Ohrring231218Final

“Dame mit Ohrring”. Jas. 12-2018

POEMA – “ENCONTRO”

CHEGASTE SÓ,
Rápida,
Deusa
No jardim,
Asas nos olhos,
Um horizonte
Sem fim...

A LUZ MORNA
Do entardecer
Deu brilho
Ao macio
Do teu rosto
Para o embelecer
Na penumbra
Que descia
Nesse cair
De sol-posto.

TUDO É BELO
Em ti, 
Quando te deixas
Ir,
E vais, livre,
Por aí,
Serena
E distante
Da fria rotina,
Seduzida pela cor
Que sempre
Te cativou
E há muito
Te destina...

 “ – ESTÁS MODERNO,
Meu amigo!”
Disseste, com
Malicioso sorriso,
Suave porto
De abrigo
De que tanto
Eu preciso...

VI-TE LEVE
Como traço
De pintor
Em aguarela,
Livre como
Pagã divindade,
Suave e doce
Como mulher
Sedutora
Em terna
E já madura
Idade...

VIMOS MIL
Quadros
Luminosos
E vi teu rosto
Em contraluz,
Esse perfil
Que há muito
Me seduz,
Traços finos em
Deslumbrante
Harmonia...
................
Era assim
Que nesse
Entardecer
Eu já te via!

SENTI-ME SUBIR
Ao céu,
Privilégio
Inesperado
Esse dom
Imerecido...
............
Ver-te ali
A meu lado
E sentir-me
Tão docemente
Perdido...

VEJO-TE, SIM,
Às vezes,
De semblante
Carregado,
Sulcos marcados
No rosto,
Recolhida
Num silêncio
Ecoado,
Dias cinzentos
Quando a luz
Te põe órfã
Por momentos,
Em sofrida
Melancolia!

CHEGASTE SÓ,
Nesse dia,
Mas cintilante,
A transbordar
De luz
E alegria.

LI-TE NA ALMA
Com o olhar,
Respirei contigo
O mesmo ar,
Dei vida
Ao que eu já
Pressentia...
................
Nesse morno
Entardecer!

QUANDO TE VEJO,
Assim,
Em sonho,
Nestes dias
De leveza,
Posso dizer
Que te amo,
Que te toco,
Ao olhar,
Que te beijo
Na alma
P’ra melhor
Te abraçar,
Que te digo
O que não ouso,
Ao sabor
Do vento
Em cada
Amanhecer
E que acordo
Sempre
Ao relento
Sob o céu
A descoberto
Para logo,
Bem cedo,
Ao lusco-fusco,
Eu te ter...

NO REGRESSO,
Parei a teu lado,
Por uns momentos,
Olhei-te
Sete vezes,
Um movimento
Sem fim,
Repeti
O teu nome,
Olhaste p’ra mim,
Perdi-me
Do mundo,
Levei-te ao jardim,
Colhi duas rosas,
Respirei
Bem fundo,
Um acre aroma
Me inebriou,
Beijei-te no rosto,
Meu peito parou...

MAS LOGO PARTISTE
Sozinha a voar
Ainda mais bela,
Comigo a sonhar,
Teus olhos
De mel
Em rosto sereno
E sempre feliz,
De alma bem cheia,
Um perfil de deusa
Como eu te quis...
....................
Até que o teu nome
Comigo partisse
P’ra este poema
Onde te recebi
Com estas palavras
Que nunca te disse
Mas que te ofereço
No que agora
Eu (já) escrevi!

JAS_Dame mit Ohrring231218FinalRec

 

FUGA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Corpos”.
Original de minha autoria 
sobre bailado de
Angelin Preljocaj para este poema. 
Dezembro de 2018.
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“Corpos”. Jas. 12-2018

POEMA – “FUGA”

SINTO A TUA FALTA
E como a sinto
Eu danço e danço
Até cair exausto
No palco
De um poema.

SINTO O TEU SILÊNCIO
Murmurado
E como sinto
O meu canto
É triste,
Amargurado!

MAS NÃO SINTO
A tua pele
E como não a
Sinto
Eu pinto-a
De cores intensas
Numa folha
De papel.

NÃO OUÇO
A tua melodia
E como não a
Ouço,
Nem que seja
Por um dia,
Eu caio logo
Em silêncio
Para melhor
Te sentir,
Cá dentro,
Na minha fantasia.

FAZ-ME FALTA
A tua voz,
O teu sorriso...
..................
E como
Nunca me dizes
O nome
Digo-to eu
Num poema
Tão sofrido
Que busco
Um paraíso
Onde me sinta
 Perdido!

DA TUA FALTA
Nasce em mim
A orquestra
Para uma
Sinfonia,
Corpos que
Dançam
Abraçados
Ao sabor da fantasia,
Andamentos
Sem fim,
Em catarsia,
Contrapontos de
Silêncio,
Luzes e cores,
Aromas e
Flores...
.......... 
Neste palco 
Do poema!

TU FALTAS-ME
E eu revivo-te
No canto e
Na cor,
No silêncio e
Na dor,
Na dança
E no amor,
Na poesia...
...............
Em palavras
Que lanço
Ao vento
Construindo
As paredes
Desta minha
Utopia.

TUDO RECRIO
P’ra te reencontrar
À distância
De um poema,
Cantar-te,
Dançando
Com palavras,
Dizer-te
Em silêncio
Para melhor
Ouvir
O que nunca
Me dirás.

VISITO-TE, ASSIM,
Das mil maneiras
Com que te
Procuro
E te digo,
Encerrado
Numa torre de marfim,
Nesta teia
Enredado
P’ra melhor
Te reviver,
Com a leveza
Da arte,
Cá bem mais 
Dentro de mim.

Dance_13_12Rec

 

I N O C Ê N C I A

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Loubotinhas”. Original
de minha autoria para este Poema.
Dezembro de 2018.
Loubotinhas5

“Loubotinhas”. Jas. 12-2018

POEMA – “INOCÊNCIA”

ENTRE LIVROS
E POEMAS
Encontrei-as,
As botinhas,
Marcas puras
De infância
Que traçaram
Um caminho
Logo aos primeiros
Passos...
...............
Com o selo
Do carinho!

DEI-LHES COR,
A que pude
Encontrar
Nesta vida
De aventura,
E com ela
Eu pintei
As chegadas
E partidas,
Encontros
E despedidas
Na sua forma
Mais pura.

ENCONTREI-AS
E lembrei-me
Do dia
Em que eu
Te conheci,
Do sorriso
Que esbocei,
Da timidez
Que travei
P’ra te dizer
Do afecto
Que logo te
Prometi.

AGORA, REGRESSO
 A elas,
Aos passos
Que ensaiei,
Às palavras
Que tentei...
................
Ao beijo
Que não te dei,
À tristeza em que
Caí...

É DE PUREZA
Que falo,
Meu amor,
Antes de a vida
Me pôr
Laços presos
Ao meu corpo
Que já não sei
Deslaçar
A não ser
Em poesia
Onde posso viajar
P’ra muito
Perto de ti.

COM ESTAS BOTINHAS
Eu voo
E regresso
Ao paraíso,
Posso dizer
Que te amo
E mais dizer...
...............
Não preciso!

EU GOSTO DE 
GATINHAR COM
A ALMA,
Descobrir
O que não sei,
Encontrar-te
Outra vez,
Dar um passo,
Dois ou três,
Caminhar
Sempre inseguro,
Tropeçar
Quando me vês,
Cair prò lado
Escuro
Quando partes...
...................
Ou não me crês!

EU GOSTO DELAS
E por isso as pintei
Para tas oferecer,
Um sorriso
De criança
Antes de adormecer,
Um sinal
De esperança...
...................
E de tanto
Eu te querer!

REGRESSO
À inocência
E vejo-te
A partir dela
E assim já não
Te esqueço
Porque com
Estas botinhas
Posso voar
Lá de cima,
Da que foi
Nossa janela!

Loubotinhas5R

 

NA BRUMA DA MEMÓRIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Luar”. Original de minha
autoria para este poema. Dezembro de 2018.
Rosam5

“Luar”. Jas. 12-2018

POEMA – “NA BRUMA DA MEMÓRIA”

FUI LEVAR-TE
Uma rosa
Aos confins
Do meu afecto.
Desci fundo
Na memória
Onde ainda te
Guardava
Como se fosse
Teu tecto.

PROCUREI-TE
Na bruma
Espessa
Que caía
Sobre mim
E quase não te 
Encontrei,
De tão longa
Despedida...
...............
Uma saudade
Sem fim!

PERDI-TE
O rasto
E o perfil,
Até teu nome
Perdeu cor,
Teus olhos
Luziam,
Incertos,
Nesta neblina
Da dor...

PERDI-TE A VOZ
E a tua
Melodia,
Quase tudo...
................
Mas, no fim,
Não te perdia!

PORQUE ERAS
Uma ideia
Que me sobrou
Do afecto
Que por ti
Sempre senti,
Construção
De arquitecto
Para nunca
Te perder
Desde o dia
Em que te vi.

NO MEIO DA NEBLINA
Esfumava-se
O teu rosto
De tanto eu
Te perder,
Incerto
O cintilar
De teus olhos
Que eram negros
Nessa ideia
De te ver.

ERA BRUMA
Indefinida
Este meu
Esquecimento,
Mas sobraste
Como ideia
Nesse preciso
Momento.

E VOLTEI!
Eu volto sempre!
É desejo
De te ver,
Dar-te corpo
Nas palavras
Com que te quero
Dizer
Em cada dia,
Depois de, no fim, 
Te perder 
(Eu bem sabia).

AGORA, DESENHO-TE
Com palavras e
Com cores,
Com paisagens
Que tenho dentro
De mim,
Com rostos
E com flores,
Aromas,
Um passeio
Com pavões,
Utopias,
Gritos d’alma,
Emoções...
..................
P’ra te recriar
Com magia
E contigo
Caminhar
Lá mais no alto, 
Na fantasia,
Onde vive
Essa ideia
Que procuro
Quando te quero
Encontrar!

VOO COM UMA
Rosa,
Disfarçado de
Insecto,
P'ra te ver
Ali de perto,
Olhos negros,
Cintilantes,
Fugidios
Ao fascínio 
Do jogo da sedução
Numa noite
De luar...
............
E talvez
De perdição!

MAS TEUS
Olhos
Apagam-se
Na fria penumbra
 Da memória
E, então,
Pinto-os
Com as cores
Do arco-íris
P’ra melhor
Te inventar
Banhada
Pelo sol
Nas mil gotículas
Que brilham
Dentro de mim,
Ponte luminosa
Donde sempre 
Te alcanço
P’ra me resgatar
Com flores 
Do teu quimérico 
Jardim.

TOMA ESTA ROSA,
P'ra que sintas
O aroma  
Do meu estro
E como, ausente, 
Eu te guardo
Tão perto de mim!

Rosam5R

 

O PAVÃO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Azul no Parque”. Original de minha
autoria para este poema. 25 de Novembro de 2018.
Pavão4JPGCorExp.2211

“Azul no Parque” – Jas. 25.11.18

POEMA – “O PAVÃO”

FUI AO PARQUE
Do Mar’chal,
Logo ao amanhecer,
Num triste dia
D’outono,
À procura do pavão...
...........................
Eram muitas as saudades 
Pois passara mais
De um verão!

ENCONTREI-O
Por ali,
Sozinho,
Também triste
Como eu
(Ou talvez não),
E vi nele,
Ao caminhar,
As cores fortes
Desta minha 
Solidão...

PORQUE É
Tão belo
O meu pavão?
Porque se exibe
E me seduz,
Me enche
A alma e o olhar
De tanta cor,
De tanta luz?
Talvez não,
Pois esse seu 
Porte austero
Estranha
A minha alma
E gela-me 
A emoção!

MAS SEGUI-O, 
Nesse dia,
Parque fora
No silêncio
Luminoso
Da manhã...
.......................
Folhas caídas
No chão
Acolhiam
O nostálgico
Passeio
De um poeta
E um pavão...

NESSE JARDIM
Do encontro
A beleza
Despontava
Em seu ritmo
Natural...
..................
Passos lentos
E cuidados,
Pose austera,
Altivez,
Um singelo
Ritual!

CAMINHEI COM ELE
Horas a fio,
Lado a lado,
Sem destino,
Revendo
As cores que
Um dia
Te emprestou
Num jogo
De sedução
Que à arte
Te levou
Como torrente
Sensível
Ou lava
De um vulcão!

JÁ NO ALTO
De um muro,
Oráculo,
Arte pura,
Aparição,
Perguntei-lhe
Qual a cor
Da tua alma
E ele mostrou-me
(E com razão)
Esse azul
Tão luminoso
Onde sempre
Se esfumam
Os traços
Da tua mão...
...................
E logo,
E por encanto,
Eu vi
Espelhado
O teu rosto
Nas cores vivas
Do pavão!

Pavão4JPGCorExp.2211R

 

LUA

Poema de João de Almeida Santos,
 inspirado no quadro de Paula Rego “O Baile” (1988).
Ilustração: “Mouvement”. Original de minha
autoria para este Poema (Composição
sobre bailado de Jerome Robbins/Philip Glass -
Ópera Nacional de Paris - 2018).
Novembro de 2018. 
JAS_O Baile1811

Mouvement. Jas. 11.2018

POEMA – “LUA”

DESCI À PRAIA
Da meia-lua
A ver se te via
Num anoitecer
Que, com tanta luz,
Há muito 
Não acontecia!

ERA DA LUA-CHEIA
A luz que havia,
Gente que dançava
Em dia de festa,
De som e de cor,
E se divertia!

NO CLARO DE LUA
Vi um rosto
De mulher
Que não era
Estranho,
Um perfil qualquer...

ERAM NEGROS
Os seus olhos,
Boca
Rúbida e quente,
Pele macia
Em corpo ardente,
Cabelos ao vento...
.....................
Vi que era ela
A deusa do baile,
Luz branca da lua,
Espelho de mar...
......................
E logo minh'alma
Procurou a sua
Nesse cintilante
 Brilho do luar...

COM ELA DANCEI,
Saltei e cantei
Em alegria,
Respirei a fundo
Essa melodia
Que me inspirava
Numa bela praia
Em forma de lua
Que me seduzia.

VI O SEU SORRISO
Em perfil na lua
Que eu desenhei,
Uma luz intensa
Me alumiou
Quando eu dançava
Essa melodia
Que p’ra mim soou.

CORPO DE MULHER...
Eu já nem sabia
Se era ela 
Ou outra qualquer
Com quem eu podia
Erguer-me à lua
Com alma despida
Neste frágil corpo
Pouco mais que nu.

E TAMBÉM A ALMA
À sua procura
Era de nudez
Um pouco ousada,
Mas, sim, era pura
Por ser nesta lua
Que eu adivinhava
A minha ventura...
........................
Pouco mais que nada!

ONDE ESTÁ A LUA?
Nessa bela praia
Ou noutro lugar
Onde a possa ver
Espreitar a rua
P'ra me enfeitiçar?

ESTÁ EM TODO O LADO
Onde o poema 
Estiver,
Desenhando 
Com palavras
Um suave rosto
Que é mais de deusa
Do que de mulher...

JAS_O Baile1411REC1

 

 

 

ESPELHO DO TEMPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Esfera do Tempo”.
Original de minha autoria para este Poema.
Novembro de 2018.
TempoFinal11_11p

Esfera do Tempo. JAS. 11-2018

POEMA – “ESPELHO DO TEMPO”


QUEM ÉS,
Tu que ressoas
Na minha imaginação
Sempre que parto
Para um poema? 

TEMPO
Que flui
E se gasta
Dentro de mim
Como memória
que se esfuma?

 ESFERA DO TEMPO...
É como te vejo
Do lado de cá
Do espelho
Plano
Onde te reflectes
Cada vez mais
Como espectro
Intangível.

TEMPO,
O nosso tempo,
Que desliza 
Silencioso,
Implacável,
Como esfera
De fogo,
Meteorito
Incandescente
Sobre o jardim
Das magnólias
Encantadas
Que me hão-de 
Renascer
Em cíclico 
Retorno...

E EU VOO
Atrás dele,
Do tempo,
Levito,
Queimando-me
As entranhas,
Vestido de
Azuis 
Que se mancham
De nuvens carregadas
Para apagar
O fogo 
Que faísca,
Intermitente,
Sobre mim.

ÉS TEMPO, SIM...
E és passado
Quando te revejo
Através de um 
Espelho
Baço e enrugado,
Superfície amarela
Iluminada por um
Clarão ao rubro
Que parece
Sombrear
Este presente
Sofrido!

MAS O MEU TEMPO,
Esse,
É intervalo
Entre o que foste
E o que serás
A meus olhos
Já húmidos 
De tanto fixar
Os teus espelhos
De água 
(Azul marinho)
Em busca
De uma poética
Da salvação
Quando me afundo
Na memória
Com que ainda
Te tenho
E te canto!

DENTRO DE MIM
Há, como sabes,
Um fogo intenso
Que me consome,
Mas que só arde
Por fora
Porque espelhos
Líquidos
Me devolvem a chama
De través
Para não petrificar
Como lava
De um vulcão
Aceso
Que me fascine
E atraia
Como se fosse
Borboleta...

ÉS TEMPO
E já não te alcanço
Neste balancear
Incerto
Onde me gasto
Em poemas
Para não ficar
Prisioneiro
Do passado
Nem de um futuro
Que se anuncie
Rápido a
Devorar-me
O presente.

QUEM ÉS TU, AFINAL?

TempoFinal11_11pREC

 

VOU CONTIGO P’RA PASÁRGADA

Poema de João de Almeida Santos.
Diálogo com o poeta brasileiro
e nordestino Manuel Bandeira - 1886/1968
(Poemas: “Vou-me embora p’ra Pasárgada”
e “Brisa”), pelo cinquentenário da sua partida.
Ilustração: “Pasárgada”. Original
de minha autoria para este Poema.
Novembro de 2018.
PasargadaFinal5

“Pasárgada”. Jas. 11-2018

POEMA – “VOU CONTIGO P’RA PASÁRGADA”

VOU CONTIGO
P’ra Pasárgada,
É outro mundo,
Irmão,
Eu não fico 
Por aqui,
Falha-me
A inspiração
Porque a brisa
Do nordeste
Ficou lá
No Maranhão!
 
NÃO TENHAS,
Manel,
Saudades, 
Nostalgia do futuro...
Temos passado
Que baste
E foi, sim,
Foi muito duro!

VOU CONTIGO
P’ra Pasárgada 
Não quero
Ficar aqui,
Há tempestade
No ar
E a brisa do nordeste
Não passou
Do Piauí.

P’RA PASÁRGADA
Quero ir,
Lá todos
Falam verdade,
Por aqui
Ah, eu nem sei,
Já me falta
Liberdade...

GOSTO DE TI,
Ó poeta
Do reino
Da utopia,
Sem passado
Nem futuro,
Onde se faz
Poesia,
Se pinta,
Canta
E dança
Porque o ar
É do mais puro
E cheira 
A maresia! 

VOU CONTIGO
P’ra Pasárgada, 
Por aqui
Não fico bem,
É escuro
O horizonte
E eu até
Já me sinto
Como se fosse...
..................
Ninguém!

NÃO GOSTO
D’estar aqui,
Há ruído
Que é demais,
Esta terra
Não me serve,
Eu espero-te
No cais...
..............
Vou contigo
No teu barco,
À procura
De mar calmo,
Céu sereno
E tudo o mais,
Navegando
No azul,
Peixes voando
No mar,
No horizonte
Uma ilha,
Mulheres lindas
A acenar...

EM PASÁRGADA 
Sou feliz
Canto e
Danço
Na madrugada
Até que o corpo
Se canse
Com alma
Apaixonada
E adormeça
No regaço
Da mulher
Que for amada.

POR AQUI OUÇO
Ruído,
Há armas 
A crepitar,
Matam poemas
Com gritos,
Já não podemos
Cantar...

VOU CONTIGO
P’ra Pasárgada 
Meu mestre
De poesia,
Cantarei os teus
Poemas
Seja de noite
Ou de dia...

VOU CONTIGO
P’RA PASÁRGADA...

PasargadaFinal5Rec

 

 

 

DUAS HORAS…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Entardecer”. Original de minha autoria
para este poema. Outubro de 2018.
(Reproposição de um poema de 2017, com adaptações 
e nova ilustração).
EntardecerC8

“Entardecer”. Jas. 10-2018

POEMA – “DUAS HORAS…”

OLHEI-TE NOS OLHOS!
Eram negros,
Intensos
E tão profundos!
Toquei teus cabelos
Com o olhar,
Caminhei a teu lado
Nesse jardim,
Senti o teu corpo
Tão perto de mim
A respirar
O acre perfume
Da verde
Ramagem
Do vasto jasmim…

INEBRIOU-ME
Esse intenso
Aroma
E eu enredei-te
Em tão doce
Enleio
Que não tinha fim…

BRILHARAM
Tão docemente
Duas horas inteiras
Esses teus olhos...
.........................
E neles me perdi!

ESTIVE NO CÉU
Ao lado de deus
E lá vi dois sóis
Que não eram dele
(Uma luz intensa)
Porque eram teus!

MAS O TEMPO
Correu
Depressa
Demais...
..................
E é sempre assim,
Todos os dias
Se tornam iguais
Quando tu partes
E, em nostalgia,
Eu fico no cais…

VOLTEI A OLHAR-TE
Três horas seguidas...
Parecia verdade
Mas era ilusão
Porque partiste
Deixando-me só
E o que sobrou...
....................
Foi solidão!

SUBIU A TRISTEZA,
A saudade irrompeu
Colou-se-me
Ao rosto...
...............
E como doeu!

SE EU NÃO TE VEJO
Sinto
Falta de ti,
Mas se te encontro
Logo te perco
Porque o tempo
Voa
E logo te leva
P’ra longe dali!

TER-TE DEMAIS
Aumenta a saudade
E quando te vais
São negras
As nuvens
Da nossa cidade!

AINDA QUE TRISTE
Eu sou feliz
E com estas mãos
Te vou escrevendo
O que quero dizer...
........................
Mas este meu tempo
Volta a correr
E cresce a vontade
De logo te ver
Mesmo que saiba
Que é nesse instante
Que te vou perder…

TENHO SAUDADES,
Saudades de ti,
Desse virar
Da nossa esquina,
Na mesma rua
Onde te vi,
Dessa janela
Donde espreitamos
O que do mundo
Sobra p’ra nós…

EU JÁ NEM SEI
Que hei-de fazer,
Ter-te demais
É puro prazer...
...................
Mas quando te vais
Fico a morrer!

NEM SEI QUE
Te diga,
Ah!, meu amor,
Quando me deixas
Já nem sinto dor
Tão grande a tristeza
De já não te ter
Pois tu partiste
Mesmo sem querer!

OLHEI-TE NOS OLHOS,
Sim, meu amor,
Nesse entardecer...

 

 

O TEU CORPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Penché”. Original de minha
autoria para este Poema sobre um bailado
na Royal Opera House. Outubro de 2018.

Nota: “Penché” é o nome que designa a posição 
que, em dança, continua o “Arabesque” 
e é a que se vê neste quadro.
Pencher2

“Penché”. Jas. 10-2018

POEMA – “O TEU CORPO”

HÁ POESIA
No teu corpo...
Alma geométrica
Que se desenha
No espaço
Para te contar
Sem palavras,
Contraponto 
silencioso
E expressivo
Da tua melodia.

HÁ MÚSICA
No teu corpo...
Pauta
Da beleza
Que levita,
Instável,
Entre cores,
Desenhando
Enigmas
Que só o
Poema
Pode decifrar...

TENS A ALMA
Inscrita
No corpo,
Como eu a
Tenho nas palavras
Que roubo
Ao poema inatingível
Que procuro,
Incansável,
Como minha utopia...

VEJO-TE
Como letra
De uma canção
Que vou cantando
Na minha subida
Ao Monte,
Porque o vale
Já não me chega,
Nem tu chegas,
Pois partiste
Em busca dos palcos
da tua vida... 

MAS EU RESPIRO,
Com o poema,
A tua dança,
Ao longe,
Em forma de
Letra
No discurso da
Beleza
Em que nos vamos
Enredando
Como em teia
Que prende
E nos liberta...

E PROCURO-TE
Na pintura,
Fixo-te
Para te cantar
Quando a noite
Cai sobre mim
E mergulho
Na solidão
Do silêncio
Com que, de longe,
 Me falas.

VEJO-TE
Num bailado
A solo,
Dançando,
Dançando,
Para que te cante
Num poema,
Ao ritmo do
Corpo
E da alma
Com que te
Vais desenhando
Nas telas
Da tua vida.

E, NO FIM,
Rogo-te 
Que não pares
O teu silencioso
E longínquo
Bailado
Solitário
Até que eu te
Desenhe
Em palavras
Para que nelas
Te revejas
Como se fossem
O espelho
Encantado
Da tua alma!

 

 

 

A TEIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Pas de Deux”. Original de minha
autoria para este poema (sobre um “Pas de Deux”
na Royal Opera House - Londres).
Outubro de 2018.
PdDeux14

“Pas de Deux”. Jas. 10-2018

POEMA – “A TEIA”

JÁ GASTEI
Todos os poemas
Cantando
O que não ousas
Ouvir.
Já me fogem 
As palavras
E fico mais 
Pobre de ti!

JÁ NEM SEI
Se é silêncio
Ou são notas
Dissonantes
Com que me cobres
A suave
Melodia.

NEM PALAVRAS
Nem cores
Nem notas
(Desenhadas)
Na pauta
Do silêncio
Com que me falas...
...................
Nada!

AH! NEM EU
Já saberei 
Nomear-te
Na hora
Da despedida,
No encontro
Que nunca
Marcaremos
Nessa baça
Encruzilhada
Onde sempre
Te perdi!

PARA QUE SERVE
A poesia
Se não a
Sentes...
Por dentro?
Para que serve
A pintura
Se não desenhas
Com a alma?
Para que serve
Gritar
Se não ouves...
Com o peito?
Para que sirvo eu,
Poeta,
Se não te vejo...
Por fora,
Mesmo que te desenhe
E cante...
Por dentro?

PARA NADA,
A não ser
Para celebrar
O futuro
De um passado
Que esmoreceu
Para nunca lá chegar,
Perder-me
Na rotina
Dos ecos
Silenciosos
Da alma,
Enganar-me
Em desencontros
Inventados,
Ir por aí
Sem saber
Para onde vou,
Desaparecendo
Na montra
Dos meus inúteis
Passeios
Pela arte
Que desenterrei
Das vísceras!

AO MENOS DANÇO
Em Pas de Deux
Com meus
Poemas
Desenhados,
Enredado
Nos mil fios
Da fértil
Imaginação
Do poeta pintor
Que levita
Sobre escombros
De uma casa
(Ou de um palco)
Que nunca construiu...

É A DANÇA
Da solidão,
Contigo
Suspensa
Nos fios
Da teia
Em que vou
Enredando
A minha vida,
Até tombar exausto,
Ao cair do pano...
..................
Que tarda!

 

 

NEBLINA

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “Deusa”. Original de minha autoria 
para este poema. Outubro de 2018.
Deusa021018Con8Final

“Deusa”. Jas. 10-2018

POEMA – “NEBLINA”

CRUZO-ME CONTIGO
Nas frias ruas do
Desencontro...
E não te vejo!

CAIU NEBLINA
Sobre nós...
............
Um fino véu
Translúcido
Desce
Sobre o meu
Rosto
Quando te 
Pressinto!
 
ESVAI-SE
A nitidez
E regresso
À memória
Onde ficou
Gravada
A ideia
De ti,
O retrato
Imaterial
Que desenhei
Na fina tela do meu 
Imaginário,
As cores intensas
Que te iluminam
E quase me
Cegam....
................
Por dentro.

CRESCES
Em mim,
Mas diluis-te
Por fora
Como espectro
Que se esgueira
Na fria bruma
De um entardecer,
Sem deixar rasto.

DA TUA IMAGEM
Física
Restam-me
Ténues riscos
De um rosto
Em aguarela
Inacabada
Que desmaia
No tempo
Que passa,
Veloz.

POR FORA,
O azul é cinzento,
O sol é sombra
E a luz já nem 
Atrai
As borboletas
que lhe voam longe.
O som emudece e
O tempo pára.
A vida já só
É passado.
Arrefeceu.
Petrificou!
 
MAS HÁ UM
Contraponto
Luminoso!
Lava ao rubro,
Quente,
Jorra em mim
E inunda-me
A imaginação.
O sol 
Acende a tua
Imagem irreal...
................
E então ganhas 
Perfeita
Nitidez,
Cor exuberante,
A forma
De uma deusa
Luminosa.
Até o silêncio
Fala
E nele
Ouço, por dentro, 
A tua
Encantatória
Melodia.

REACENDE-SE
Vida
Na minha
Imaginação
E eu recrio-te
Para voar,
Em fuga,
No teu azul
Até ao infinito...
.....................
E não mais
Voltar
Às frias ruas do 
Desencontro.

Deusa021018Con8Final_R

 

Pas de Deux

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Coreógrafo”. Original, de
minha autoria, para este poema. 
Setembro de 2018.
OCoreógrafoFim300918_trab

“O Coreógrafo”. Jas. 09-2018

POEMA – “Pas de Deux”

SOU COREÓGRAFO
Da minha alma,
Desenho-me
No espaço,
Embalado
Pela suave
Melodia do teu
Silêncio...

IMAGINO-ME,
Às vezes,
Num "pas de deux”
Contigo
Num palco
Em noite
De luar
Ali, na praia
Da meia-lua,
A dançar
O murmúrio
Desse mar
Com que te
Pintas
E ouves
Dentro de ti!

DANÇO
Com palavras,
Suspenso no ar
Pelos fios
Dos poemas
Com que
Teimosamente
Ilumino
Os caminhos
Por onde nunca
Ousas passar...

O SILÊNCIO É A TUA
Sinfonia,
O teu canto
De sereia,
A melodia
Que ressoa
Nesse mar
De linóleo
Onde me desenho
No suave
Bailado,
A solo,
De uma infinita
Despedida...

GOSTO DESTA
DANÇA
Espectral,
Contraponto
Dos sinais
Invisíveis
Com que pontuas
A tua assinalada
Ausência.

E CANTO-TE, SIM,
Mas, neste meu
Cantar,
Eu conto-me
Como espelho
Onde podes
Rever
O passado
Desse futuro
Que nunca
Existirá.

AGORA, SOZINHO,
No linóleo,
Ao pé da praia
Da meia-lua,
Acendo um sol
Com minhas mãos
E procuro
O que nunca
Encontrarei...
...............
A não ser
Sombras
De mim próprio
Gravadas
Na areia
Da baixa-mar.

POR ISSO, DANÇO,
Canto e 
Pinto
Em contraponto,
Livremente,
Com a melodia
Interior
Que toma
Conta
De mim
Sempre que um véu
Protector
Desce sobre
O meu rosto
Para apenas
Pressentir a tua
Silhueta,
Quando
Atravessas,
Atarefada,
A rotina
Dos teus dias.

ESTE,
O que te celebra
Em arte,
Já não sou eu,
Mas o coreógrafo
Da (minha)
Melancolia!

O Coreógrafo250918Final26Rec

 

 

É OUTRA, A JANELA…

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: “A Outra Janela”. Original de JAS 
para este Poema. Setembro de 2018.
OutraJanela_160918

“A Outra Janela”. Jas. 09-2018

POEMA – “É OUTRA, A JANELA…”

DESTA JANELA
Não te vejo!
Há um caminho,
Uma silhueta
Que se insinua,
Mas não sei
Onde me leva...

SÓ SEI QUE
Parto,
Com o olhar,
De um viçoso
Canteiro
Verdejante
Onde as camélias
Me apontam
Um incerto
E sedutor
Destino,
A levante...

SIM, HÁ SEMPRE
Uma outra janela
De onde ver
O mundo...
.................
Mas nesta
Não te vejo
Sequer como perfil,
A nascente.

VEJO, SIM, 
Uma rua
Ou um rio,
Um traçado sensual,
Marcas
(Invisíveis)
De passos remotos
Escritos na água,
Um recanto liberto
Do presente,
Um caminho
Onde ninguém
Cruzou
Afectos
Para se despedir
Do que nunca
Ousou...

É OUTRA JANELA!
Não é a tua
Nem a dela,
Debruçadas sobre
A montanha
Ou sobre o mar!
É outra
De onde nunca
Verei
O teu rosto,
Porque dela,
A levante,
Lá onde nasce
O sol,
Chega uma luz
Que me cega
De tanto brilhar...

É A INTENSA 
Luz do dia
Que nos convida
A viver, sim...
....................
Mas o poeta
Dobra-se
Em si,
Com metódica
Timidez,
Para alcançar
Uma luz interior
Que o ilumine...
Sem cegar!

ENTENDES?
O mundo,
Quando acorda,
A nascente,
Ou entardece,
A poente,
Muda de cor
E de luz,
Mas vê-se sempre
Duma janela...
.............
E eu, a ti,
Vejo-te sempre
A sul,
Uma parábola
Entre o nascer
E o entardecer...
Quase como
Um destino!

SIM, TUDO DEPENDE
DO OLHAR,
Bem sei...
Se te vejo
Ou não te vejo,
Se na janela
Me revejo
Ou te descubro
Olhando 
O horizonte
Através das palavras
Com que há muito
Eu te digo...

MAS SABES PORQUE
NÃO É TUA,
Esta janela?
Porque nela
Te veria
De cima para baixo,
De um lugar
Que não é meu
Porque sempre
Foi teu,
Um lugar cimeiro.

E EU CANTAVA-TE
Cá de baixo,
Deste meu lado
Da rua
Com a alma
Cheia,
Mas nua,
Para me poder
Vestir de
Ti.

PERDI-TE,
Como sabes,
Porque nunca tive
Uma escada
Para te alcançar...

E, AGORA,
Há camélias,
Aqui.
Bem as vejo
Cá de cima,
Perto de mim.
Há um canteiro
Luminoso,
Talvez uma
Escada, sim...
............
Mas para ver
Mais longe!
Há um recanto,
Um caminho,
Há cor
E há palavras,
Uma silhueta
A apontar 
O sentido...
.....................
Mas eu não te vejo
Ao pé de mim,
Nesta janela,
A olhar a esquina
Que nunca ousámos
Dobrar...

HÁ SEMPRE OUTRA...
Janela!

OutraJanela_160918Rec

 

 

AZUL

Poema de João de Almeida Santos 
Ilustração: “Paraíso”. Original de minha autoria 
para este Poema. Setembro de 2018.
Jas_Paraíso

“Paraíso”. Jas. 09-2018

POEMA – “AZUL”

TANTO AZUL,
Meu deus!
O teu céu,
Esse imenso mar,
É espelho
Dos teus sonhos,
Medida do teu 
Olhar.

O MEU É BRANCO
E cintilante
Para te alumiar
Na noite escura
Onde brilham
Gotículas salgadas
Nos teus olhos,
A navegar...

OUVE-SE
O suave murmúrio
Das ondas
Que abriga,
Como véu
Translúcido,
O estranho silêncio
Que há muito
Ouço,
Insistente,
Com a alma
Dorida do
Poeta que me
Habita.

QUANDO, NOS
SONHOS,
Ao longe
Te entrevejo
Vestida de azul
Turquesa,
Entro numa porta
Branca
Que me leva
Directamente ao
Paraíso...
...................
E nele voo, voo,
A perder de vista,
Deixando para trás
O jardim
Inacabado,
Porta escancarada,
Bailéus desenhados
A rigor,
A preto e branco,
De onde
Um dia
Te vi
E cantei
No meu primeiro
Poema,
Num estranho
Enlace
Que não tem
Fim...

NOS SONHOS,
(Em todos eles)
Caio das nuvens
Brancas
Como Ícaro
Ou meteorito
Incandescente
E quase me afogo
Nesse frio azul
Até te encontrar
No coral
Luminoso
Onde vives
Vestida de todas
As cores
Que povoam
A cidade
Dos poetas...

MAS É ESSE 
Teu azul
Profundo e
Denso,
Que respiro,
O que me sobra
De ti,
Nos sonhos
Escritos
E pintados
Com que te
Vou soletrando
Lentamente...
Até cair exausto
E adormecer
No regaço
Da tua alma.

Jas_ParaísoR2

 

 

SEGREDO

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração: "Meteorito". Original de minha autoria 
para este Poema. Setembro de 2018
JAS_Meteorito020918_030918jpg

“Meteorito”. Jas. 09-2018

POEMA - "SEGREDO"
VOU CONTAR-TE
UM SEGREDO:
Amei-te
Em poesia!
As palavras eram
 Graves,
Mas sempre cheias
De cor,
Com rimas
Muito suaves
E melodia
Com dor...
.........
Com tudo
O que de ti
Me sobrou...
...........
Meu amor!

CONTEI-TE HISTÓRIAS
De desencontros,
Dancei
Com palavras
Luminosas
Que inventei
Para por dentro
Te ver
Nesse quintal
De rosas 
Que cultivas
No teu peito.

CANTEI
Para te aquecer
Na fria dança
Do silêncio
E contigo levitar,
Voando,
Invisíveis,
Sobre ruas
E praças,
Ao luar...
................
E, depois,
Pela manhã, 
Um arco-íris 
Erguer
Como ponte
Desse vale
Exuberante
Onde sempre 
Te sonhei...
Neste meu 
Entardecer.

SONHEI,SIM,
Alheio ao bulício
E ao cochichar
Indiscreto
Dos que não sabem
Voar...

AH!, QUE SONHO ESSE...
.................
Mas sei que não
Pousaram
No parapeito da 
Tua janela
As palavras
E que alguém te
Contou
Que andavam
Borboletas
No ar,
Esvoaçando,
Perdidas,
À procura de pólen
Nos jardins 
Verdejantes das
Nossas vidas...

E TU PERGUNTAS,
Agora,
Se ainda vivem,
As borboletas
De vida breve,
Se regressam
Ou já pousaram
Noutro jardim,
Se há pólen,
Se há vento
Ou pensamento
Que as traga
De volta
Desse incerto
Confim...

E EU RESPONDO
Que o seu destino
É o brilho deste céu
Que ainda vive
Dentro de mim.

JAS_MeteoritoFim2308R

 

 

 

MAGIA

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração – “Magia”. 
Original de minha autoria, para este Poema. 
Agosto de 2018.
Magia190818FinalDefinitivo1608JAS

“Magia”. Jas. 08-2018

POEMA - "MAGIA"
OLHO A MONTANHA
De uma porta
De granito
Amarelo
(O de sempre,
Muito belo,
Com cristais)
Sobre o ocre
De um telhado
Como se fosse janela
Do meu palácio
Encantado
(Que do sonho
É o cais).

CONTEMPLO A SERRA
De sempre,
Mas é diferente
A visão,
Antes, eu via futuro,
Agora, vejo passado,
Essa bela ilusão
De te ter sempre 
A meu lado.

ENTRE PASSADO
E FUTURO
Sempre foi
Identidade,
Ficou quieta
À minha espera
Quando dela
Eu parti
Ao encontro
Da Cidade.

SUA FRONTEIRA
É o céu,
Abóbada sideral,
Sinto-a
Dentro de mim
Como fonte
Seminal,
Espelho da minha
Infância,
Um horizonte 
sem fim,
Forte raiz
Comovida
Que eu tive
De deixar
No duro jogo
Da vida.

ELA É PORTO
De abrigo
E é lugar de
Partida.
É, pois, mais
Do que janela...
.................
É fronteira
Que passamos
Quando a vida
Se revela.

É UM ETERNO RETORNO,
Um regresso 
Renovado
Onde posso
Renascer
Quando recrio
A memória
Do que não
Quero perder
Sem ter ficado
A teu lado.

ESTA PORTA
É MAGIA,
Viajo através dela,
Dou asas à fantasia
Como se fosse
Janela
De onde voo
Com o vento
Nos versos destes
Poemas
Que, sem ti,
Me dão alento.

DELA VOEI
Para o mundo
E o mundo veio
Até mim...
......................
Quando passei
Esta porta
Já era um mundo
Sem fim...

POR ISSO REGRESSO
A ela,
Esse pilar
Do meu ser...
..............
Quando chego,
Amanhece,
E, se parto,
Nem sinto
A despedida
Porque dela vejo
O mundo
Como a montanha
Da vida.

Magia190818FinalDefinitivo1608JASR

 

 

A OFERTA

Poema de João de Almeida Santos. 
 Ilustração: "Natureza Morta". Agosto de 2018. 
 Original do autor para este Poema.
JAS_Natureza MortaFinal120818PoemaFim

“Natureza Morta”. JAS. 08-2018

POEMA - "A OFERTA"
DO ENCONTRO IRREAL
Que aconteceu
Nesse tão cinzento
Dia
Quis libertar
O meu ser
Sem saber se
Conseguia.
Corri, então,
Junto ao mar
À hora da maresia...

SALTEI, DANCEI,
Respirei
Com a brisa
Que fazia
E libertei
O meu corpo

Da opressão
Que sofria...

FICOU O CORPO 
Sozinho,
À deriva, nesse dia,
Mas no regresso
Da praia
Eu vi-te
No meu caminho...
....................
Milagres da fantasia!

LOGO TE FIZ 
Um poema
Pois correr 
Já não chegava,
Pus palavras 
A sorrir
Quando a alma 
Regressava!

FUI COM ELA
À Montanha
,
Quis trazer-ta 
Num cabaz...
...............
Colhi frutos 
Lá no alto
Guardei-os junto
Do peito
P’ra esse encontro 
Fugaz
Que eu queria, sim,
Perfeito!

LEMBRAS-TE BEM 
Dessa cesta,

Dos frutos que 
Nela trazia?

Vinham todos 
Da Montanha,

Traziam consigo 
Alegria!

ESSES FRUTOS ERAM
Poemas
Que não podia 
Cantar,

Derramavam seus 
Aromas 

Em palavras de 
Embalar
E contavam 
Mil histórias

Que te faziam sorrir...
......................

Era oferta singela 

De quem só te
Queria sentir!

NA CESTA HAVIA 
Estrelas
Às centenas, 
vermelhinhas...
..................
Não viste nelas 
Cintilas

Que voavam 
Tão juntinhas?

ERAM MIL CORES
E aromas
Que desses frutos 
Brotavam,

Colavam-se 
À minha pele,

Mas era por ti 
Que passavam!

PARTISTE COM ELES 
Ao colo,

Rápida, sem me olhar,

Não esperava protocolo

(Tu bem sabes),
Mas foi grande
O meu espanto
 Desse teu estranho ar!

SÓ À NOITE ME DISSESTE
“- Obrigada, meu Amigo,

Esses frutos 
Que me deste,
Tão belos e tão gostosos,
Não serão 
O teu abrigo”!

P'RA ME CURAR 
Da estranheza
Fui correr 
Em poesia,

Cantei em rima 
Poemas,
Resisti bem 
À tristeza
Sem a tua companhia
Pois sempre em 
Meus versos
Ecoa
Uma tua melodia!

CUREI O CORPO, 
Não a alma!
Essa ficou 
Presa em ti,
Ninguém pode 
Devolver-ma,

Mas, assim, não te 
Perdi!

JAS_Natureza MortaFinal120818PoemaFimR

 

ESTRANHA ENCRUZILHADA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração – “A Rua”.
Original do autor. Agosto de 2018.
VdP0108ExpCOR
"A Rua". Jas. 08/2018
POEMA - "ESTRANHA ENCRUZILHADA..."
CRUZEI-ME CONTIGO
Numa esquina
Da vida
Nesta rua
Onde reinventei
Uma estranha
Despedida!

NÃO TE VI
Como te via
Da janela
Sobranceira
Quando passavas
Na rua
Abraçada
À beleza, 
Teu perfeito 
Avatar
Numa nova
Encruzilhada
Que o tempo
Quis desenhar...

SE TE VI,
Mas eu não sei,
Foi duma janela
Vidrada
Que me devolveu
A imagem
Como espelho
De uma fada
Onde te fui
Visitar!

MESMO ASSIM
ESTREMECI...
Pressenti-te
Sem te ver,
Fugidio
Ao olhar
Indiscreto
De um acaso
Tecido pelo
Destino...

AH! DEPOIS 
SEGUI
Com a alma
Essa tua silhueta
Embaciada...
Pensei
Que não ia
Por ali
No meio
Da multidão,
Que não te via
Por falta
De nitidez
Do meu campo
De visão,
Que não te reconhecia
Nessa rua paralela
Onde todos
Nos cruzamos,
Indiferentes
Ao que já
Nem vemos nela!

ANÓNIMO
Me assumi
Como essa gente
Comum
Que se cruza
No caminho
Sem jogar
O seu destino...

SENTI TRISTEZA
Profunda,
A alma
Petrificada
Com lágrimas secas,
Das que
Não saem de nós,
Não banham
O nosso rosto,
Dor íntima,
Dor atroz
Cravada no peito
Lá bem fundo,
Perdida,
Já sem voz
Nem a melodia
Com que cantava
O rio
De que tu eras
A foz.

QUE ESTRANHA
Sensação!
Caminhando
Lado a lado,
Perdidos
Num horizonte
Que se esfuma
Até nos engolir
Como espuma
Que se desfaz
Na areia branca
Da praia...

ATÉ QUE CHEGUEI
A estas palavras
Escritas na água
Remexida pelo vento,
Também elas
Esmorecendo
Na praia
De um lamento
Porque sigo
Outras ondas
Noutras rimas
Em poemas errados
Ou simulados
Para dar voz
Ao poeta triste...

MAS GOSTEI
De olhar
Sem te ver,
Apenas imaginando
Que eras tu,
Regressada dos confins
Da minha memória...

E GOSTEI
Que me visses
Sem me olhar,
Pensando
Que nem sequer
Me pressentias,
A mim,
Esse anónimo
Que te seguia
Para logo
Te perder...

TUDO TÃO ONDULANTE,
Tão dolorosamente
Normal,
Estranhamente
Banal...
......................
Que até este poema
Espanta
Por cantar
O que nunca 
Aconteceu!

QUE EXERCÍCIO
Foi este?
Crueldade
De um destino
Apenas imaginado?
Indiferença fatal
Que se torna
Irreversível
Como ferida
Que não cura
E dor
Que dissolve
Como espuma,
No poema,
As palavras
Com que ainda
Te digo?

AFINAL, QUE TE FIZ,
Meu amor,
Para te perder
Assim,
Ao entardecer,
Numa encruzilhada
Da rua 
Que reinventei
Para te cantar
Como melodia
Para quem já
Não me ouve?

VdP0108ExpRec

 

 

POR CAMINHOS PARALELOS…

João de Almeida Santos

Ilustração de minha autoria. Julho de 2018.

FAMA2507“Uma Casa no Jardim”. JAS. Julho, 2018.

POEMA

POR CAMINHOS
PARALELOS
Nos seguimos
Ao infinito,
Pintei o meu
De vermelho
Mas o teu
É mais bonito!

GASTEI
As minhas palavras,
Gasto as cores,
Eu já nem sei,
E porque o silêncio
É de ouro
Só às palavras
Cheguei.
Mas tirei-lhes
Logo o som
Por saber
Que te doía.
 O silêncio
É, pois, o rei
Até que te veja,
Um dia...

A ESTES SENDEIROS
Cheguei
Quando eu te
Conheci,
Foram-se anos,
Bem sei,
Desde o dia
Em que te vi...

SÃO CAMINHOS
PARALELOS,
Nisto, naquilo,
Sei lá...
Mas estás
Do outro lado,
Eu não te vejo
Por cá,
Na rua do
Desencontro
Que ficou
Muito vazia
Desde que tu
Foste embora
Dessa forma
Inesperada
Como eu, sim,
Já previa...

O HORIZONTE
Que vejo
É o ponto
Destas linhas
Paralelas,
Convergimos
No olhar
Mas não caminhamos
Por elas
Porque a vida
Nos tirou
Da rua 
Das aguarelas! 

FAMA2507c

 

 

O SILÊNCIO DO POETA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Vermelho”. Quadro de
minha autoria. Julho de 2018.
Vermelho1
Vermelho. JAS. Julho de 2018

O SILÊNCIO DO POETA – POEMA

O SILÊNCIO DO POETA
É dito em poesia
Como canto
Em surdina
Do que não
Pode calar,
Do que sente
Mas não diz
Se conjuga
O verbo amar.

 SUA DOR VEM
Do silêncio
E chega à poesia.
Nela o poeta
Diz mais
Do que pode
E não devia
Porque sofrendo
Em excesso
Em sua dor
Não cabia.

 E FALA COM O
Silêncio,
A fala da poesia.
Diz tudo
O que nela cabe
Em suave melodia,
O que só
A alma ouve
Dessa triste
Sinfonia...

 SEU SILÊNCIO
É poesia...
...........
No cantar
É que ele sente
O que dizer
Não podia.

 DIZ, POIS,
SEM O DIZER.
É outra coisa
Que diz.
Sofre em silêncio
O poeta
A dor 
Que lhe vem
Lá da raiz
E que só o verso
Cura
Sem que o faça
Feliz.

 OUTRO SILÊNCIO
É o dela
Que nem lhe manda
Sinais...
.................
“ - Não importa”,
Diz-lhe ele,
“Dentro de mim
Vives mais”.

 O CANTO 
DESTE POETA
Do silêncio
 É o selo,
Sua vida é 
Em verso,
Não é fria 
Como gelo.
Seu canto 
É em surdina,
Só o ouve 
Quem o lê
Mas com luz 
Que ilumine
Aquilo que 
Não se vê.

 ASSIM O VATE
Persiste
Nesse sol 
Que irradia
E se o silêncio 
É gelo
Derrete-o 
Com fantasia,
Pois se a vida 
É de dor
Conjuga-se 
Em poesia...

Vermelho1Recorte

 

 

A MAGNÓLIA ENCANTADA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração – “A Magnólia Encantada”.
Original de minha autoria. Desenho e Poema sobre
Magnólia. Julho de 2018

MagnoliaEncantadaA Magnólia Encantada. JAS. Julho de 2018

"Una magnolia / pura, / redonda como un círculo / de nieve / 
subió hasta mi ventana  / y me reconcilió con la hermosura...
...Como / cantarte sin / tocar / tu / piel puríssima, / 
amarte / sólo / al pie / de tu hermosura,/ e llevarte / dormida /
en el árbol de mi alma, / resplandeciente, abierta, / 
deslumbrante, / sobre la selva oscura / de los sueños”

Ode à Magnólia – Pablo Neruda

MagnoliaEncantadaR1

A MAGNÓLIA ENCANTADA – POEMA

ERA UMA VEZ
Uma magnólia
Encantada,
Como num sonho,
Uma fada
Em busca
Do que perdera
No jardim
Onde morava...

FLOR EM FORMA
DE PEIXE
No profundo
Oceano da vida
À procura das raízes
De uma estranha
Despedida...

TRAZIA CONSIGO
Um inocente
Espanto
De ter ficado
Tão só,
De repente...
................
Por encanto!

PARTIU, 
LEVOU COR
E muita luz
Que seu corpo
Alumiava
Nesse caminho
Estreito
Que a dor
Incendiava...

DEIXOU O JARDIM,
Mar adentro,
Água seminal,
Em forma de peixe,
À procura
Do que perdera
Em recife de coral...

MAS ENCONTROU-TE
À TONA,
Vagueando
Nesse mar
Da tua vida,
Cores e
Riscos
Como remos,
Em busca da
Praia perdida...

REGRESSOU...
Vinha triste
De não te poder
Resgatar
Nesse dia,
No alto mar!

VOLTOU,
Mas era tarde 
Demais.
Já não te via
Remar...
.................
E então deu-se
De novo
Ao mar
A ver 
Se te encontrava
Nalguma praia
Deserta
P'ra te redimir
Com essa arte 
Divina
Em que já te via
Incerta...

FOI À PROCURA 
DE CORES,
Eram muitas 
E vibrantes,
Encontrou-as
No jardim,
Essas luzinhas
Brilhantes...

E LÁ FOI
E anda ela,
Umas vezes 
Como peixe
Outras 
Como aguarela,
Sempre 
À procura de ti,
Levada
Pela corrente,
Por aí,
Com ar tímido, 
D’espanto,
Até que um dia
Te encontre,
Talvez triste,
Na praia 
Do teu recanto!

ENTÃO DEIXA-TE 
AS CORES
E regressa 
À sua melancolia.
É flor em mutação,
Cada dia,
No tempo 
Em que germina, 
Renovada, 
A raiz da nostalgia...

MAGNÓLIA ENCANTADA
Num poema
E na pintura...
................
Assim te vou 
Construindo como 
Fada
Que me cura!

MagnoliaEncantadaR2

 

 

O BEIJO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração original do autor – “O Beijo”. 
Dia Internacional do Beijo: 6 de Julho, 
o dia que celebro, com um poema, cada ano.
Inspirado no Thomas Mann de “Lotte in Weimar” 
(1939), a obra que continuou "Werther” (1774),
de Goethe (1749-1832).

O_Beijo03_0607_1

“O Beijo”. JAS. 6 de Julho de 2018.

1.
Thomas Mann:
“Ist die Liebe das Beste im Leben,
so in der Lieb das Beste der Kuss
– Poesie der Liebe...”. “Kuss ist Glueck,
Zeugung Wollust”.

“O amor é o melhor na vida,
assim, no amor, o melhor é o beijo
– Poesia do amor...”.
“Beijo é alegria, procriação é luxúria”.

2.
Inspirado também em Kafka, Shakespeare e Bernhardt:

“Geschriebene Küsse kommen nicht an ihren Ort,
sondern werden von den Gespenstern
auf dem Wege ausgetrunken”
 
- Os beijos escritos não chegam ao destino, mas são bebidos pelos fantasmas 
ao longo do trajecto - Kafka

“If I were to kiss you then go to hell, I would.
So then I can brag with the devils that I saw
heaven without even entering it”
 
- Se para te beijar devesse, depois, 
ir para o inferno, fá-lo-ia.Assim, poderia vangloriar-me, com os diabos,de ter visto o paraíso 
sem nunca lá ter entrado - Shakespeare.

- O primeiro beijo não é dado com a boca,mas com os olhos – O. K. Bernhardt.

O_Beijo03_0607_1Rep

O BEIJO

FOI O QUE NUNCA TE DEI
 A não ser com o olhar!
 O primeiro, esse beijo,
 Dei-to, pois, sem te tocar!E DEI-TE MAIS, COM PALAVRAS,
 Quando olhar já não podia...
 Foste embora, não estavas
 E eu, triste, não te via!FORAM BEIJOS QUE SONHEI
 Na rotina dos meus dias
 E desejos que enfrentei
 Quando tu mais me fugias...Mas dou-te beijos escritos
 Que se perdem no caminho...............................
 E se o poema me falta
 Fico ainda mais sozinho!É ALEGRIA D'AMOR
 É suave respirar,
 É encontrar-te no céu,
 É vontade de te amar,É desejo, é procura,
 É sinal e é mensagem
 É razão suficiente
 P’ra te ter...................Como paisagem!O BEIJO É EMOÇÃO,
 É razão descontrolada,
 Se não for dado a tempo
 Pouco mais será que nada!SEM BEIJO NÃO HÁ AMOR,
 Sem Amor perde-se o Beijo.
 Nada tem qualquer sentido
 Se me faltar o desejoPor te ter, assim, perdido!AQUI O LANÇO AO VENTO
 P’ra que atinja como brisa
 E suave melodia
 Esse rosto que precisa
 De afecto em poesia!ESTE BEIJO QUE ME FALTA
 De que nunca fui capaz
 Voa p’ra ti em palavras
 Põe-me sereno, em paz,E desejo que, no trajecto,
 Voe, voe em grande altura...
.............................
 Que fantasmas não o bebam
 E minha dor tenha cura!Mas sei dos escolhos da via,
 Dos perigos que ele corre................................
 Capturado por fantasmas
 É mensagem que me morre!
 NO DIA DO BEIJO É HORA
 De te cantar em voz alta
 A poética do amor
 P’ra redimir essa falta
 E pôr fim à minha dor!E PORQUE O DIA É TEU
 Ganha força, intensidade,
 E mesmo que fantasmasO bebam
 É um Beijo de verdade!ESSE BEIJO QUE NÃO DEI
 Foi pecado original,
 Hei-de sofrê-lo p’ra sempre
 Como chaga corporal!Não há palavras que bastem
 P’ra repor o que não dei
 Elas voam, mas não chegam
 E mesmo assim eu tentei!É CERTO QUE SEMPRE O QUIS,
 Só que nunca to roubei,
 A culpa foi desse tempo,
 Dos dias em que te amei,
 Um tempo em diferido
 Sem presente nem futuro,
 Talvez beijo sem sentido
 Porque queria do mais puro,
 Tangendo eternidade
 Às portas do Paraíso,
 Um beijo de divindade...
.........................
 Mas simples... Como um sorriso!ESSE BEIJO IMPOSSÍVEL
 Que não é do foro humano
 Vou tentando construí-lo
 Cada dia, cada ano,
 Perdendo-me pelo caminho
 Como sagrado em profano!

O_Beijo03_0607_1Fim

 

 

 

BIANCO&NERO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração – “Bianco&Nero”. Original
do Autor para este poema. Julho de 2018.

Desenho_BranconoNegroRecorte

Bianco&Nero. JAS, 2018.
ENTRE O BRANCO
E O NEGRO
Quis desenhar
A tua alma
Na flor que,
Num acaso,
Encontrei, perdida,
No jardim
Da minha vida...

 ATRÁS DE TI,
Ou em fuga,
Já nem sei,
Gastara
Todas as cores do
Arco-íris
Que tinha
Dentro de mim.

 SOBRARA-ME
Uma marmórea
Nébula negra
De travertino
Onde me revia
Como espelho
Oracular,
Curvado sobre mim, 
Escuro na alma,
Por falta
Das cores exuberantes
Que me protegiam
Do frio glacial
Do teu silêncio.

 SOPREI FORTE
Com a alma
Desnuda
E a flor branca
Foi pousar suavemente
Nesse mármore
Liso e brilhante
Da catedral
Onde te celebrava.

 E FICASTE ASSIM,
A branco e negro,
Em tinta-da-china
Esparsa,
Derramada
Sob a alvura
Do sol brilhante
Em que te via...
.................
Como uma flor!

 ESCULPI-TE
Como filigrana
De ouro preto
Sobre branco-pérola,
Aurífice da tua
Alma sedutora
No coração
Alvoraçado
Dessa flor
Que guardei
Com o teu nome
Gravado
Em letras invisíveis...

 CRIEI PARA TI 
Alvas incrustações
Sobre filigrana
Negra
Como marcas
Indeléveis
Da arte
Que um dia
Me visitou
Na celebração
Da tua beleza.

 E AGORA,
A olhar para
O branco e o negro
Deste cântico
Desenhado,
Ofereço-te
Este poema
Sobre pintura
Imaculada
Onde te celebro
Com beleza
Minimal,
Na cor
E na forma,
Sem fronteiras,
E onde
Te reinvento,
Em fuga,
Como esse subtil
Fio branco
Que esvoaça,
Livre,
No marmóreo céu
Do teu altar...

 A ÂNCORA, ESSA,
A sul,
Desliza
Suavemente
Sobre ti 
E dilui-se na 
Negra vastidão...
 
EVOCO-TE, ASSIM,
A branco e negro
E canto-te
Como alma em
Filigrana
De ouro preto
Em repouso sobre
O branco-pérola
Dessa flor
Que, um dia, 
Encontrei
No jardim
Da minha vida...

Desenho_Bianco&Nero_Recorte

 

 

NOSTALGIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Nostalgia”. Original
do Autor. Junho de 2018.

JAS_Nostalgia24R“Nostalgia”. Jas. 2018

RÁPIDA COMO O VENTO
Passou por mim
Essa palavra saudade
Numa rua do meu bairro
Sob o céu desta cidade.

 GRAVEI-A NA
Minha mente,
Evoquei-a
Ao crepúsculo,
Com incerta
Nostalgia…
…………………………
Não queima tanto,
A palavra,
Porque a sinto
Mais fria!

COM CESÁRIO,
Dei-lhe cor
E canto-a
Como pintura,
Dei-lhe vida
Num romance,
Tento tudo
O que não posso
Porque esta dor
Me perdura…

DA SUA COR
Vejo o mundo,
Com palavras
A recrio,
Procuro sempre
O teu rosto...
.................
E por mais longe
Qu’estejas
Eu não me sinto
Vazio.

 A DOR DESTA
SAUDADE
Alimenta-me
A alma
E aquece a minha
Vida...
E assim eu vou
Vivendo
Em eterna
Despedida,
Neste cais
Que não tem fim,
Em partida
Que não há,
Um adeus que não
Me dizes,
Porque tu
Nunca saíste
Deste meu
Lado de cá.

 MAS HÁ SEMPRE
Esta saudade
A que chamo
Nostalgia!
Vivo em tristeza
Feliz
Porque te sinto
Em cada dia.

 NÃO TE TENHO,
Mas não te perco,
Estás longe,
Perto daqui,
Não te encontro
Nem te vejo,
Mas sei que não
Te perdi…

INSPIRA-ME, A
NOSTALGIA...
Recrio-te em cada
Instante!
Sou poeta,
Sou pintor
E também sou
Arlequim...
..............
Por isso vejo
O teu mundo
A partir de um
Camarim!

ESCULPO
TEU ROSTO
Com palavras
Do meu peito,
Pinto-me a alma
D’azul,
Voo contigo
Em sonho
E o destino
É sempre o sul...

 LEVO COMIGO
PINCÉIS
E as asas
Do poeta.
Danço.
Sou arlequim.
Pinto-me nesta
Ribalta
Com as cores
Que vês
Em mim!

 SEM TI
NESTA RUA
Da saudade
Sou palhaço
Em camarim
Que maquilha
O seu rosto
Para um palco
Sem fim...

REPRESENTA
PARA TI
Sem saber
Se lá estás...
...........
A verdade
Já não lh'importa,
É feliz com
O que faz!

 ASSIM VIVE
O ARLEQUIM.
No palco,
É só arte
O seu fazer,
É dádiva que ele
Te entrega
Como modo
De viver!

JAS_Nostalgia24Rrecorte

J A S M I M

Poema de João de Almeida Santos. 
Ilustração original do autor: “Rapsódia”. 
Junho, 2018.

JAS_Rapsódia.Final170618jpg

FLORESCEU O JASMIM!Dele jorra Poesia,Embriaga-me O aroma...Renovo-me Em fantasia!DAS PALAVRASVou à cor,O seu perfume Ilumina,Bate o sol Em suas pétalas,É luz intensa Que brilhaNo poema que Germina!JÁ NÃO É SÓO Loureiro!Agora canto O Jasmim!É tão intenso O aromaQue se renova Em mim!
INUNDO-MEDe palavras,Canto Esse mundoDa cor,Subo ao céu Com tuas asas,Vai comigoEsta dor...SOU ÍCAROLá no alto...
..............
E se o sol Me bate forteCaio em mim Do meu poemaE no chão Fico sem norte...PEÇO AJUDAÀ montanha...Volto a subir, Que alegria!Foi nela Que eu nasciE sou feliz
Lá no alto, Nem que seja 
Por um dia!E LÁ TENHOO JasmimMesmo ao lado doLoureiro...
.................
Respiro fundo Até à almaE torno-meJardineiro!E ASSIM EU VOUVivendo No jardim daMinha vidaEm poemasE pintura...
............
E se a dorNão tem remédioQue seja esta 
A cura!

JAS_Rapsódia.Final170618jpgCorte

 

A  C H A V E

Poema, em dois andamentos, de João de Almeida Santos, criado a partir
de um poema/comentário de Ana de Sousa sobre “A Porta”.
Ilustração: “Uma Casa No Jardim”. Original (com várias citações de 
Klimt) de minha autoria, para este Poema. Junho de 2018.

UmaCasaNoJardim_3_1006

MOTE“Como uma fonte, / Como uma ave... / No horizonte, / Sempre uma 
chave! / Sempre um segredo, / Não revelado, / Poema e quadro: / 
Sonho velado / Escreve pintor. / Pinta poeta. / A vida é cor, / Dor 
e amor / E tu, alerta!” 
Ana de Sousa

UmaCasaNoJardim_3_1006corte2

A  C H A V E

I.

PINTO E CANTO
O meu destino. 
Sonhos velados, 
A minha vida...
.................. 
Perdi a chave
Do meu futuro 
E só me resta 
A despedida! 
 
 POR ISSO CANTO
Com as aves, 
Voo mais longe 
E com mais cor 
Porque no céu 
Há mais azul 
E nos meus sonhos 
Há menos dor!

HÁ UM SEGREDO
Não revelado...
Se o dissesse
Não deveria 
Porque dizê-lo
Era pecado
E certamente
Até mentia!

E NÃO O DISSE,
Mas eu pequei
Com murmúrio
Apaixonado
Em poemas
Inocentes 
Por que fui
Tão castigado!

POR ISSO VOO
Sempre mais alto,
Trepo nas cores
P’ra lá chegar,
O céu azul
Dá-me alento
Para mais alto
Poder voar
E meus segredos
Dissipar... 

LEVO PALAVRAS 
Comigo,
Procuro inspiração. 
Levo cor,
O meu abrigo, 
Levo musas
E tudo o mais...
...................
E quando parto
Lá p’ra cima
É sempre festa
No cais.

 LEVO-TE A TI.
E deste jeito!
Sim, meu amor,
Para que sinta
Lá bem no alto
Ar rarefeito
E menos peso
Na minha dor!

EU CANTO 
E pinto
Por tudo isto,
P’ra resgatar
O pecado
De exaltar
Esse teu rosto,
Iluminar
Em aguarela
Esse enleio
Do meu olhar, 
Por te ver
Na nossa rua
Debruçado 
Na janela
Com vontade
De pintar.

 II.

POR ISSO CANTO, 
Por isso pinto,
Por isso voo
Lá para o alto...
...................
Já não os vejo,
Já não os ouço
E já não vivo
Em sobressalto.

MAS VEM COMIGO,
Eu dou-te asas,
O infinito
No céu azul,
Voamos juntos
Ao mesmo tempo
E o nosso rumo
Será o Sul.

VÁ, VEM COMIGO,
Voa mais alto,
Ah!, meu amor,
Se tu vieres
Eu já não sofro
E vai-se embora
A minha dor! 

UmaCasaNoJardim_3_1006corte1

 

 

 

 

O SILÊNCIO E A MEMÓRIA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Levitação”. Original de
minha autoria. Maio 2018.

Fantasia2705

"Para que tú me oigas / mis palabras / se adelgazan a veces /como las huellas de las gaviotas en las playas"
Pablo Neruda

POEMA

NO SILÊNCIO
Eu vejo-te
Com palavras
Sufocadas.
A preto
E branco.
A linguagem
Do tempo
Que passa
Inexorável
E erode
Os ângulos
Suaves
E coloridos
Com que nos
Fomos
Desenhando...
........
Nos dias
De festa!

E, AGORA, VIVO
Oblíquo,
Neste intervalo
Sofrido
De onde
Te vislumbro
A silhueta
Ao crepúsculo
Do fugaz
Encontro,
Lá no Monte,
Que ora
Declina...

“VOU-ME EMBORA
P’ra Pasárgada”,
Diria o saudoso Poeta,
“Porque aqui
Anoiteceu”!

MAS, NÃO!
Eu não parto,
Porque na memória
Te vejo a cores.
Aquelas com que
Nos fomos
Pintando
Em caminhada
Cúmplice,
À procura
De formas
Para oferecer
Em troca
De nada.

NA MEMÓRIA
Acaricio-te
Com as mãos
Invisíveis
Da minha alma
E o azul
Do céu
Que ainda
Nos sobra
Como manto
Transparente
E frio.

PRESSINTO-TE,
Assim.
Adivinho-te
Em riscos que
Deslizam
Dos teus dedos,
Dádivas
Da beleza
Inscrita
No teu rosto
Que me chegam
Com a brisa
Do amanhecer
Nesse pátio
Secular
Dos nossos
Antepassados.

E ESTREMEÇO
Quando
Te reencontro
Nestas veredas
Estreitas
Mas profundas
Da imaginação
Com que
Nos reinventamos.

VISTO-ME, ENTÃO,
De vermelho.
Por dentro.
A rigor.
Solene.
Pinto-me
A alma
Ao sabor do vento.
Cubro de rosas
Vermelhas
O chão etéreo
Que piso
Suavemente
Com o olhar.
Dou mais sabor
À liberdade
Voando com
Uma rosa
P'ra te poder
Alcançar.

AH! SIM,
Duplico-me
Nesta vida
Íntima
E oblíqua,
Neste intervalo
Onde te sonho
Com palavras
Que te chegam
Desfiguradas
Pelo siroco,
Vento do sul
Que lhes sopra
Forte,
No caminho,
A áspera areia
Do deserto...
.............
Que habitamos.

SIM, MAS SEO VENTO
Ainda sopra
Ao amanhecer
Que me importam A areia e o O deserto?

 

 

 

A AGUARELA

Poema de João de Almeida Santos
inspirado no poema de Manuel Bandeira
“Tema e Variações” (Obras poéticas,
Lisboa, Minerva, 1956, p. 384).
Ilustração: “Vermelho”. Original de minha
autoria. Maio de 2018.
Milva: L'uomo dal mantello rosso

Botao200518Terminad3

     Milva (início da letra da canção, um sonho cantado):
     “La solitudine / È come la febbre: / diventa più forte di notte.
     / Un’aspirina e la febbre va via, / la solitudine no. / Io, che 
     colpa ne ho io, / se questa notte ho sognato?”

     - “C’era un uomo dal mantello rosso...”

POEMA


SONHASTE, MANEL, 
Que havias sonhado 
Estar à janela 
Sonhando a cores 
Qu’estavas com ela.


TAMBÉM EU SONHEI 
Que tinha sonhado
E que no sonho
A tinha encontrado,
Passando por ela, 
Ali, lado a lado, 
Mas quando acordei 
Do primeiro sonho, 
Sonhando, eu vi
O seu belo rosto 
Numa aguarela 
Pintada a cores 
Que tinha guardado 
Para uma tela...
SONHEI, OUTRA VEZ, 
No segundo sonho, 
Que era pintor
Mas que pintava 
Sempre o seu rosto
A uma só cor...


DIZIA, SONHANDO, 
Que não podia ser. 
Seu rosto expressivo 
Era arco-íris
Ao amanhecer
E era sorriso
Para o mundo ver!


MAS EU SÓ O VIA 
Com a minha cor, 
Esse rosto belo
De seda tecido 
Que me seduzia
No sonho sonhado 
Onde sempre a via 
Ali, a meu lado.


NÃO QUERIA ACORDAR 
Do sonho feliz
E nele fiquei
De olhos fechados.
Já não acordei
Do sonho sonhado 
Porque nessa cor 
Fiquei encerrado 
Com todo o meu ser... 
............... 
Talvez por amor.


NO SONHO OLHEI 
Para o meu espelho 
E logo eu vi
Que essa minha cor 
Era o vermelho.
QUANDO ACORDEI 
Do primeiro sonho 
Voltei a sonhar
Que tinha sonhado 
Que o encontrei, 
Esse rosto amado.
E logo lhe disse,
No segundo sonho, 
Que a tinha sonhado.


DISSE-ME QUE NÃO 
Que nunca me vira 
Sequer acordado.
E logo acordei
Desse pesadelo. 
Foi assim que vi 
Que tinha sonhado 
E que ela
Já lá não estava 
Ali, a meu lado.


QUIS ADORMECER 
Para a encontrar 
Mas não consegui 
Sonhar que a via, 
Pôr os olhos nela, 
Chorar d’alegria 
Porque descobri
Na minha parede 
Aquela aguarela 
Que do sonho 
Passado
Eu já conhecia... 
................ 
Era o rosto dela!
 

 

 

 

 

 

A MONTANHA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração (“O balão e a montanha”) de minha autoria.
Maio de 2018.

Flores130518_Final13_3

“I live not in myself, but I become
Portion of that around me; and to me,
High mountains are a feeling....” 
Lord Byron
Childe Harold’s Pilgrimage (1812-18).
Canto III, 72 (1816).

Flores130518_Final13_2Recorte 

POEMA

ESTOU A PERDER-TE,
Meu Amor!
O estro 
Com que te canto
Esmorece,
Vai perdendo
Lentamente 
O seu fulgor!
O poema
Empalidece
E eu, 
Em poética anemia,
Sinto 
Um doce, suave 
E sonolento 
Torpor...

SUBI A MONTANHA
Contigo!
E, feliz de lá chegar,
Com palavras
Que me deste
Eu aprendi a cantar!

CANTEI A TUA PARTIDA
Quando desceste 
O vale.
E, triste,
Eu caminhei
Por veredas 
Sem destino...
..........
Já nem sei!

PERDIDO
De ti,
Vagueei
À procura
De eco
Do meu canto
Derramado,
Som puro 
E cristalino
E por ti
Iluminado.

MAS O ECO
Era silêncio
Profundo, 
Sideral,
Inscrito
No azul,
Quase irreal,
Da abóbada
Celeste
Da montanha
Seminal.

NEM SEQUER
O CLARÃO
De um cometa 
Fugaz
Me visitava,
Pinhal abaixo,
Rumo ao horizonte
Do meu inquieto
Olhar...

O AR RAREFEITO
Da montanha
Tomou conta
De mim
E desfaleceu
A emoção 
De te rever,
Reinventar
E te cantar
Em surdina
Com esse 
Silêncio
Cortante
Que me negava,
Impenitente,
O eco da
Minha canção!

DESCI, ENTÃO,
Também eu,
O vale
Da tua vida
E regressei 
À triste monotonia,
Sem ti,
Em corpo 
Sequer imaginado,
Nem semente
De poesia.

ESTOU A PERDER-TE
Meu amor!
É poética 
Anemia.
Ar rarefeito
Que sufoca
A melodia.
O cântico
É murmúrio
Inaudível,
Sem comoção
De alma ferida
Que já nem 
A dor pressente,
De tão esgotada
Na vida 
Por excesso
De paixão!

O VALE ESPERA-ME.
Respiro ofegante,
Porque sei
Que não te vejo,
Que já não
Sobram sinais
Da rua do 
Desencontro,
Não há fugas 
Irreais
Para o teu
Infinito
Nem janelas
Donde te veja
Passar
Ou sequer imaginar
Na esquina
Esquecida 
Do nosso
Contentamento!

ESTOU A PERDER-TE,
MEU AMOR.
Não há janela,
Nem há cor
Ou infinito,
Não há tempo
Nem lugar,
Não há poema
Nem mar 
Que suspenda
O vazio
De não te poder
Encontrar!

JÁ TE PERDI,
Meu amor?

Flores130518_Final13_1recorte2

SONHO

POEMA TRISTE.
João de Almeida Santos.
Ilustração: “Sonho”. 
Original de João de Almeida Santos. 
Maio de 2018.
Milva canta "IN SOGNO" (Album: "Tra Due Sogni")
Letra de "IN SOGNO": 

"Sì, / L’alba è la più forte./ Sì, / Vince i 
sogni, la realtà. / Eppure, / Solo in sogno / Viene a noi / La verità.
/ Così si chiude un fiore / Se il sole non c’è più, / Ma tutto il 
suo colore / Raccoglie in sé".
Sonho0805060518
“Sonhei ter sonhado / Que havia sonhado./ Em sonho lembrei-me 
/ De um sonho passado: (…) / Ter sonhado o quê? / Que havia sonhado 
/ Estar com você. / Estar? Ter estado, / Que é tempo passado. 
/ Um sonho presente / Um dia sonhei. / Chorei, de repente 
/ Pois vi, despertado / Que tinha sonhado”. 

Manuel Bandeira

POEMA

Sonho0805060518_Corte

SONHEI 
QUES AS PALAVRAS
Se gastaram,
Desfiaram,
Desataram,
Sobrando fios
Para tecer 
O silêncio. 

SONHEI 
Que a tinta
Perdeu a cor.
Que já não havia 
Poemas
E que não era 
Pintor.

SONHEI 
Que não eras tu.
Que foi tudo ilusão.
Sonhei que te procurei
No mundo da fantasia
Onde as flores
Caminhavam,
Sabiam a maresia,
Tinham rostos
De mulher,
Mas surdos
Ao que eu dizia.

SONHEI
Que não sabia
Onde estás,
O que fazes
E o que sonhas
Nas noites 
Do teu luar,
O que vês
Nesses momentos 
Fugazes
Em que olhas 
Para ti. 

SONHEI
Que não me lês,
Que já não ouves 
Poemas,
Que estás tão longe
Daqui!

NO SONHO
Fui à memória,
Que também
Perdeu a cor.
Ficou tudo 
A preto e branco...
........
E sonhei,
Sonhei, sim,
Que te perdi,
Meu amor...

SONHANDO,
Procurei cor
Num outro
Lugar qualquer.
Só encontrei 
O cinzento
E por falta
De vermelho
Meus versos
Tão desbotados
Nem os levava
O vento...

FOSTE P’RA ONDE
Que eu não te vejo?
Perguntei 
Quando do sonho
Acordei.
Saíste 
De onde estavas
E agora resta
O desejo
De te cantar
Sem palavras
P’ra que ouças
O silêncio
Com que antes
Me chamavas.

JÁ NÃO ME CHEGAM
SINAIS.
O meu 
É poço escuro,
É buraco
Tão profundo
Que nele
Eu vou caindo
Como triste
Vagabundo...

O SOL TAMBÉM
JÁ SE FOI.
As sombras
Tomaram conta 
De mim.
Meus dias
São sempre
Iguais.
Sinto um vazio
Sem fim...

MAS PINTO, 
Agora pinto,
Tenho cores
E tenho aromas,
Tenho luz
E sou feliz...
........
Ah!, sim,
Mas perdi 
A minha Musa,
A fonte 
D’inspiração!
Foi p’ra longe,
Com o vento
E em meu triste 
Pensamento
Só ficou
A ilusão!

GASTARAM-SE 
As palavras,
Meu amor!
Gastou-se tudo,
Afinal!
Só ficou o teu 
Cinzento,
A tinta com que 
Lavras
O meu peito
(Sem lamento)
E me afundas
Nesta dor,
A que canto
Em surdina
Para ouvires 
O silêncio
Com que te pinto
Sem cor... 

Sonho0805060518_Corte2

 

METAMORFOSE

Poema de João de Almeida Santos criado 
em diálogo com este quadro original - 
“Metamorfose” - de João de Almeida Santos.
Abril de 2018.

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"Não colhas uma flor, senão chorarás ao vê-la murchar" 
Provérbio chinês 
Podem cortar todas as flores, mas nunca impedirão a primavera" 
Pablo Neruda 
"Talvez deva às flores ter-me tornado pintor" 
Claude Monet 
"Há flores por todo o lado para quem é capaz de as ver" 
Henri Matisse "
Uma flor é um ser totalmente poético" 
Novalis 
"Quem não tem pão, mas compra flores, é um poeta"
Provérbio turco

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POEMA


CAMINHAS 
Tão docemente,
Tão irreal,
Sobre as cores
Que eu te dei...

ÉS PLANTA DE JARDIM,
Bem sei!
Na alma
Tu tens flores
Que eu sempre
Cultivei,
Alimento 
Dos meus olhos,
Aroma
Desses poemas
Que para ti
Cantarei.

CAMÉLIA
É o teu nome.
Encontrei-te, 
Desta vez, 
Em profunda
Solidão.
A alvura luminosa
Era tão densa
Que eu quase 
A tomei
Na palma da minha
Mão.

QUIS TRAZER-TE
Para dentro do poema.
Disseste 
Logo que sim.
Ficarias mais serena,
Estando tão perto
De mim...

FALEI CONTIGO.
Dei-te palavras
E dei-te cor.
A solidão
É castigo,
Eu bem sei.
Ah, meu amor!
E tu, 
Brancura divina,
Não mereces
Essa dor.

CAMINHÁMOS
Numa ponte
P’rá outra margem
Da vida.
Eram passos 
De liberdade,
Não eram 
De despedida.

VI EM TI
Uma mulher.
Recriei-te
Com afeição.
Pintei-te 
Em movimento.
Quis-te livre
No meu chão
De onde te
Elevaste
Quando eu
Te dei a mão.

É ESTRANHO
O movimento
Que não te afasta 
De mim...
Tu vives 
Em quietude
Porque te ofereces
Assim!

ESSA PONTE
De papel
Que parece um
Arco-íris
Saído do meu 
Pincel
Vai devolver-te
Ao jardim
Onde a cor
É alimento,
É como favo 
De mel,
De meus olhos
O sustento.

PERDIDO, EU,
Nessa tua 
Melancolia,
Convoquei
Todas as cores
(Que sabia)
Com palavras
De um poema.
E dei largas
À evasão
Da flor 
Que foi
Mulher
Porque comigo
Cantou
Em palavras 
Coloridas
Essa sua
Solidão.

VÊS, MEU AMOR, 
Como a solidão
Em flor
Pode ser libertação
Se lhe dermos
Muita cor
Com a força da
Paixão?  
Jas_Camélia no meu jardim2 A IMAGEM ORIGINAL, de 21.03.2016. Camélia 
solitária em Cameleira.  Na altura em que a publiquei, escrevi, 
no Facebook, o seguinte: "Surpreendente, a natureza! Camélia branca 
suspensa! A elegância sensual de uma fadada Cameleira. Encontrei-a 
no Jardim. Estava à minha espera. E logo a capturei, sem lhe tocar. 
Só para partilhar essa luminosa, fresca e solitária brancura! Estava 
ali como brilhante proposta estética da natureza: 'diz o que pensas 
desta estranha forma de surgir no teu Jardim. É provocação florida, 
não é? Sou tão branca e tão perfeita que e(n)levo a Cameleira’. 
Olho-a de baixo para cima e ponho-a numa sensual fronteira!". 
Respondo-lhe agora, dois anos depois. Ficaram-me a imagem e as 
palavras que escrevi. Cruzei-as com novas vivências e experiências 
estéticas... e deu nisto! A beleza fica registada na nossa memória 
para sempre... e alimenta-nos a alma quando um novo estímulo a 
reevoca e, às vezes, invoca!

 

O PINTOR

POEMA de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Celebração da Cor” -
Original de João de Almeida Santos.
Abril de 2018.

JAS_Uccello_Prova110418

"Le Poète se fait voyant par un long, immense et raisonné dérèglement 
de tous les sens". 
Rimbaud.

 

O PINTOR BRINCAVA
Com suas palavras.
Dizia-te sempre
Quando não estavas...

ERA UM POETA,
Era fingidor.
Não te desenhava.
Cantava-te
A cor.

SUAS CORES
Eram as palavras.
Fazia pincel 
Da sua caneta.
O pintor riscava,
Mas a sua tinta
Já não era preta.

POR ISSO COMPROU
Um belo pincel.
Pintava, pintava...
Era a granel,
Como se a tela
Deixasse de ser
O velho papel.

DESCOBRIU A COR,
Que o fascinou!
Azul, vermelho
E tanto amarelo.
Tudo ele pintou,
Procurando sempre 
O que era belo.

ATÉ QUE O ENCONTROU
Na cor dos 
Teus olhos.
Era luz da pura
Que iluminava
O branco papel
Onde desenhou
O teu fino rosto
Com o seu pincel.

DEU CORPO À COR
Com que te dizia.
As suas palavras
Tornaram-se riscos...
Mais que poesia.

PINTAVA-TE ASSIM.
Os poemas 
Já não lhe chegavam.
Pintor de palavras
De cor as compunha
E versos voavam
No azul do céu...
..................
“E o que tu fazias
Faço agora eu”
- Dissera-lhe um dia -
“Porque sou poeta
Mas também pintor.
Deixaste-me só,
Entregue à palavra...
E eu, 
Tão pobre de ti,
Pintei-me de dor.

MAS EU FAÇO DELA 
O meu arco-íris
P’ra subir ao céu
A ver se t’encontro
Atrás duma cor
Pintando o teu rosto
Para um poema
Que vou escrever
Com todas as cores
Que trago comigo
Enquanto viver”.

O PINTOR BRINCAVA
Mas era séria
Essa brincadeira.
Perdido em palavras
Encontrou a cor
Que dos seus poemas
Dela fez bandeira...

A COR DA MEMÓRIA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: Composição de JAS
sobre foto/ilustração de “Sogno di Libertà”
de Milva/Theodorakis. Vídeo aqui republicado:
Milva-Theodorakis - Sogno di Libertà

JAS_MemóriaPoema_Final18_52

“Si tu quieres soñar / y te hace falta un tónico / vuelve la copa del
cielo / ¡y bébete el azul!”. 
Luís Vidales, 1900-1990 - “Paseo”, 1976.
NUM DIA DE CHUVA
Bateste levemente
À porta da minha
Memória.

ERA TRANSPARENTE
Essa porta.
Vi que eras tu.
Reconheci a tua boca,
O bâton púrpura
Dos teus lábios.

NÃO SEI SE
ME PRESSENTISTE,
Não sei,
Porque a porta
Era um espelho.
Através dela 
Só se via
Do lado de cá.

ENTRASTE
Cheia de cor
Que a chuva 
Humedecera,
Mas deixara
Intacta.
Apenas com mais 
Brilho.

TAMBÉM TU
ERAS TRANSPARENTE.
Olhei-te
E vi, através de ti,
Um céu 
Pintado
De azul plúmbeo.
 
NA TRANSPARÊNCIA, 
DESPONTOU O SOL
Coado em amarelo.
Havia umas nuvens 
Escuras 
A nascente,
Lá no Monte...

ÀS VEZES, O AMARELO
Ganhava tons de
Âmbar
E vestia-te o corpo 
Na minha intangível
Memória 
Fotográfica.
 
RECORDAVA,
Sereno,
Esse teu belo
Sorriso...
..................
Mas quando te quis
Tocar,
Ao de leve,
Um vidro desceu,
Vertical, 
Sobre nós.
Era frio
E húmido.
Separou-nos.
E eu chorei!
 
AS LÁGRIMAS
Escorreram
Pelo vidro.
Tentaste
Agarrá-las
Do lado de lá
E fixá-las com
Todas as cores
Que tinhas contigo.
Ficaram algumas
Gotas
No vidro,
Em amarelo,
Porque tu, 
De repente,
Te tornaste sol
E eu já não era
Mais do que um
Reflexo dos teus
Raios filtrados
Por algumas 
Nuvens... 
.......
Escuras!

DESPERTEI
Ao som
De dedos que batiam
Suavemente
À porta 
Do meu quarto.

CORRI A ABRI-LA...
.......
Ninguém!

REGRESSEI, RÁPIDO,
À minha memória,
Mas tu já não 
Estavas,
Nem sequer
Como reflexo...
..............
Deixara aberta 
A porta do tempo!

 

COR, MAIS COR…

POEMA de João de Almeida Santos.
Ilustração - Inédito de JAS: 
Poseidôn. Abril, 2018.
Volto a propor uma bela canção de 
Milva/Theodorakis:
Milva-Theodorakis - Sogno di Libertà

JASPaperaEsasperata2018_3.jpg

"Donde termina el arco iris, en tu alma o en el horizonte?"
Pablo Neruda
COR, DÁ-ME COR!
Fico mais perto 
De ti
Se vieres
Com o vento.
Cor, mais cor,
Que as palavras coloridas
Já me sabem 
A cinzento...

OU TALVEZ NÃO!
Palavras
Já não me faltam
Nem vivo
Na escuridão.
Ainda consigo
Dizer-te,
Com palavras
Dar-te a mão.

TENHO-AS
QUE ME CHEGUEM
Para gritar
Em vermelho 
O concreto
Do teu nome.
Ver-te, assim,
Tão colorida
No vidro do meu
Espelho
Sem que a tristeza
Assome!

AH! MAS A COR
SE FOR INTENSA
E crescer 
Em explosão, 
Se tiver
Em contraponto
Palavras
De evasão
Que dão ritmo
Ao azul
Dos teus sonhos
De papel...
..........
É tudo 
O que eu preciso
P’ra t’esculpir
A cinzel.

DÁ-ME COR
Que eu sou
Sensível 
À luz intensa
Do teu olhar!
Aprendo nas
Flores que
Colho,
Quando vestes
O vermelho,
Com azul
Como espelho,
Ou te cobres 
Com as cores
Do arco-íris
Que és.

AH!, VÊS
COMO TE CONHEÇO?
Tu és cor,
Gota d’água
Suspensa 
No fio 
Do horizonte
Banhado por 
Raios de sol
Que despontam
Lá no Monte.
 
DANÇAS COM ELA,
A cor, 
E com ela adormeces.
Por amor.
É sopro 
Da tua alma
Quando a vida 
Já é sonho...
...........
E te acalma!
 
MAS EU GOSTO
DE TE PINTAR
Com palavras.
Em maiúscula.
Onde o azul é 
Mais íntimo
E o verde 
Te cobre 
Como manto.
Onde o vermelho
É pranto
Sem lágrimas
De enxugar...
..........
Nem sequer
Em amarelo
P'ra melhor
Te recordar!

NA COR DAS MINHAS
PALAVRAS
Te revejo
As vezes 
Que eu quiser
Pois és mais
Do que desejo
Nos cânticos
Que compuser!

MAS EU GOSTO
Cada vez mais 
De cor...
............
Confundir-me 
Com ela,
Dançá-la 
Como vida 
Em explosão,
Fogo de artifício
Que embriaga
Os sentidos
Como se fosse 
Vulcão...

LEMBRO-ME 
DO POETA QUE PEDIA
“Mais luz!”,
Já em seu leito 
Fatal.
Tinha luz 
Dentro de si 
Mas não entrava 
Cor
Pelo portal.
Era cinzenta
A cor que lhe restava
Até escurecer
Quando a janela
Lentamente 
Se fechava...

LUZ É COR,
Desperta da 
Letargia,
Ressuscita
Do torpor.
Celebra a vida.
É cântico.
Chilreio de 
Passarinho
Lá no alto
Que anuncia 
O meu voo
Aos azuis
Que tu pintas
Em cobalto.
 
MAS A PALAVRA
FASCINA-ME.
É com ela 
Que eu te canto!
Com a cor danço
E voo!
Com ela, leio-te
A alma.
Na cor, a tua
Roupagem.
Com a palavra
Suspendo 
Os sentidos
Para melhor
Te sonhar
De todos os dias
Perdidos...
........
À deriva
No teu mar!

AH!, SIM,
Eu gosto 
É das palavras! 
E sabes porquê?
Porque tu cabes
Em quatro letras
Mesmo que o teu
Nome 
Tenha cinco
E me saiba a verde
De Primavera...

ROSTO DE PEDRA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração – Jovem mulher com bâton.
“Estudo de uma jovem mulher” (1885), de
Gustav Klimt, (atrevidamente) retocado
por João de Almeida Santos

JASKlimtFinal250318

ENCONTREI-TE

POR ACASO
E caíste
Sobre mim
Naquelas escadas
Sem fim
Por onde descias,
Altiva,
Como senhora
Do silêncio
Austero
Que me devora.

É SEMPRE ASSIM
Quando te vejo.
Crispada,
Sobrolho
Franzido
E pesado,
Sofrido,
Em eterna
Revolta,
Anunciando 
Penitência
Neste incerto
Destino
Já sem regresso.

DOEU?

Muito.
Mas que importa?
É sempre sal
Sobre ferida
Que não cura,
Mal que dura
E que perdura
Uma vida…

A TEIA
QUE NOS TECE
E cobre
Este espaço
Que entretece
E nos domina
É como o tempo
Que marca,
Implacável,
O acaso
Que tudo determina.
 
VI-TE, SIM,
Nesse dia,
Recolhida
Sobre ti,
Estranha na cidade
Invisível
Onde te conheci.

E ASSIM ME NEGAS. 
E foges
Para lugar
Nenhum.
Corres, corres
Para onde
Nunca irás.
Escondes-te
Atrás do que
Desconheces
E de ti própria
Onde blasfemas
Contra o mundo
Onde não te
Reconheces!

A REVOLTA

Não sai
De ti
E petrifica
A tua alma.
 
É ÁSPERO, SIM,
ESSE TEU ROSTO.
Julgava-te
Já perdida
No silêncio
Da raiva
Surda
Contra mim,
Sem redenção,
Condenado
A grilhões
Que pesam
Como cativeiro.
 
CHAVES?
Ah!, sim,
Tantas são
As chaves que tens
E que não usas

Para me libertar!
 
TALVEZ NEM QUEIRAS
Porque também tu
Já és prisioneira
Da síndroma
Que te aprisiona
E te queima
Como fogueira.

CAÍSTE SOBRE MIM.
De repente,
Levantaste-te
Dessa sombra
Onde te encerras,
Te encobres
E vigias.
E atropelaste-me…
 
MAS NÃO ERA PRECISO,
Meu amor!
Todos os dias
O fazes.
Mesmo ausente…

 

EU VI UM ANJO…

No Dia Mundial da Poesia,
hoje, 21 de Março,
ofereço este Poema
de João de Almeida Santos.
Ilustração: Vénus, de
Botticelli, re-reimagined 
por João de Almeida Santos 
a partir de Yin Xin
(2008) e de Botticelli (1490).

JAS_VenereYXin2103_Final

EU VI UM ANJO
CAIR
Docemente
Sobre mim
Com seu rosto 
Imaculado
Em momento
Inesperado
Que parecia 
Não ter fim...

VINHA ELE
Lá de bem alto
Onde eu
O pressentia
Mas tive 
Um sobressalto
Porque em mim
Esse anjo 
Imaculado
Não cabia.

SUA LUZ
ERA INTENSA
Ofuscava-me
O olhar.
O seu brilho 
Deslumbrava
E eu senti-me
Cegar...

MAS NÃO SEI
SE ERA ANJO.
Talvez fosse
Uma mulher.
E se não fosse
De arcanjo, 
Ah!, 
Não era um 
Rosto qualquer...

POR ISSO
ME FASCINOU,
Porque ao vê-lo
Descer
Do trono
Onde reinava,
Quase, quase
Me cegou
Com a luz
Que o transportava. 
E levou-me 
Ao Olimpo
Onde a arte
Lhe sobrava.

FIXEI-O, ENTÃO,
Num quadro 
De memória.
Traços leves,
Cores intensas 
Que cativam
O olhar.

PINTEI-LHE DE
NEGRO
O cabelo
Para mais belo
Ficar
E seu rosto
Feminil
Deste modo
Desvelar
Como mulher
Sensual
Que me veio
Capturar.

DESENHEI-A 
COMO BELO
Avatar
Que tomou
Conta de mim
Para sempre
Me lembrar
Que era 
Uma mulher
E não era
Querubim.

MAS VI 
UM ANJO,
Ah!, eu vi,
Entrar bem 
Dentro de mim
Sob forma
De mulher,
Porque anjo
Imaculado
Não cabia,
Infinito,
No meu pequeno
Jardim.

FOI MISTÉRIO
Que subiu
Ao oráculo
Da vida
Onde eu a
Posso ler 
Em texto 
Que só termina
No dia 
Da despedida,
Na hora em que 
Morrer.

EU VI UM ANJO
DESCER
Neste vale
Da minha vida
E ele fez-me
Crescer,
Recomeçar 
A partida...

E COM POEMAS
Parti
Em viagem
Ao Olimpo
Para com ele
Voar
Em cada palavra
Que digo,
Em cada verso
Que sinto!
 

CANTA, POETA, CANTA!

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: Auto-Retrato. Original de
João de Almeida Santos. Março de 2018.
Volto a repropor:
Marzo - Milva. Arietta di Salvatore di Giacomo
Para a letra e a tradução do napolitano, ver: Março.

JAS18032018
“Ora al nuovo sole si affidano i nuovi germogli”
Virgílio.
CANTA, POETA, CANTA
Até que Ela 
Te ouça,
Nem que a palavra
Te doa,
Nem que a alma 
T’estremeça!

CANTA, POETA, CANTA
Que o teu poema 
Tem dor
Que te baste,
No amor, 
E tem cor
Que alumia
E tem sabor
A cerejas,
Que as dá
A Primavera.

SE NO CANTAR
Tu quiseres
Atingir o infinito,
Salta p’ra cima 
Dum risco,
Agarra asas 
De azul
E voa
Nesse teu céu
Até que Ela 
Te veja, 
Te pinte
Numa cereja
E murmure
O teu nome
Em silêncio
De igreja...

CANTA, POETA, CANTA
Que o teu cantar 
É um choro.
E é água 
Cristalina
Que corre
Lesta 
Em teu rio
Seminal,
Dentro de ti,
Turbilhão
Arterial
À procura de beleza
No infinito
Fatal 
De um adeus
Beijado
Pela tristeza!

CANTA, POETA, CANTA
Que contigo 
Cantarei 
A alvorada do dia.
Chora, que eu
Chorarei
Se não houver 
Alegria.
Ri, que 
Eu cantarei
Animado por teu
Riso.
E para ti 
Dançarei
Uma valsa 
De Strauss
Às portas
Do Paraíso!

CANTA, POETA, CANTA
Até que Ela 
Te ouça.
Não pares
De chorar alto,
Lá em cima, 
Planalto
Ou montanha,
Poema 
Ou um desenho,
Uma cor
Em aguarela,
Afagado
Pela dor
Mesmo que olhes
P'ra ela
Com um intenso
Ardor 
Lá de cima
Da janela...

CANTA, POETA, CANTA,
Para ti 
E para o mundo
Que o teu cantar
Enobrece
Quem ouvir 
A tua prece,
Quem sentir
O teu lamento,
Que de ser
Já tão profundo
Não o leva
Nem o vento
Pois em ti
Ele entardece.

E SE O VENTO 
O LEVAR
Vai procurá-la
A Ela,
Dobra lento 
A esquina
P’ra que o veja
Da janela. 

MAS O DIA É DE
FESTA!
Há cortinas
No poema
E o lamento 
Lá regressa
Ao poeta 
Que o cantou.
O dia já 
Não é dele
Mas de quem 
O castigou.

CANTA, POETA, CANTA,
Que um dia vai-te 
Ouvir.
Deixa, pois, que o 
Tempo passe
E a razão se esclareça.
E confia no porvir.

CHORA, POETA, CHORA 
Neste teu 
Entardecer
Aqui tão perto
Da arte
Com saudades 
De morrer...

CHORA, POETA, CHORA... 

 

POEMA PARA TI

De: Olga Santos.
Ilustração inspirada em 
Botticelli, "Nascimento de Vénus".
Pormenor. “Re-reimagined” .
Intervenção de JAS sobre
Botticelli Reimagined 
– Venus in the gutter.
By Yin Xin, 2008. Venus after
Botticelli. 

 

BotticelliRe_reimaged21

CRUZÁMO-NOS POR ACASO
Na estrada da 
Poesia.
Palavras embriagadas 
De cor, de luz, 
De misteriosa e intensa paixão,
Caíam em suave cascata
No colo da estrofe
Que as aguardava
Im-Paciente.
 
SENTIDOS GENESÍACOS
Eram paridos
Pela neófita
Que se fizera à estrada,
Numa incontida explosão
De prazer...
 
JANELAS ERAM RASGADAS
No traçado do poema
Subitamente...
Cruza-se a voz 
Do Poeta
Com cantos de aedos outros.
 
IRROMPEM CÍTARAS E TROMBETAS
Volteiam bacantes palavras
Perturbadora-mente
Desassossegad-Horas.
Tudo é cor, brilho, ritmo, cadência,
Melodia...
Farandole de Bizet
Sarabande de Haendel.
 
MAS FEVEREIRO ERA FRIO
E a estrada penosa
Para quem março nevou.
 
SAÍ NA CURVA DA ESTRADA
Disse adeus à melodia...

PROMETIDO ESTÁ O REGRESSO, POETA!
Quando o sol cegar a sombra
E abrasar as pedras da montanha,
E da bonina o tempo for.

PRIMAVERA, QUASE

João de Almeida Santos
POEMA.
Ilustração: Primavera, Quase.
Original de João de Almeida Santos.
Março de 2018. 
Ilustração sonora de Milva,
em napolitano, sobre uma 
Arietta de Salvatore di Giacomo:
Marzo. Reproposição. 
Para a tradução, veja, aqui, Março.
Para ouvir Milva: 
Marzo - Milva. Arietta di Salvatore di Giacomo
                          Primavera, Quase

Pavão4
"Até nos nossos sonhos neva, mas uma única vez na vida". 
Orhan Pamuk, escritor turco. Prémio Nobel da Literatura.
PRIMAVERA, QUASE
SE ME PERGUNTASSES
PELA NEVE,
O que sempre te diria?
“- Tenho-a na minha
Alma,
Sinto-a, pura,
Em cada dia.”

DELA CONSERVO
O FRIO
E a brancura
Do seu manto,
Mas sinto-a quente
Por dentro,
Mesmo que sofra,
Em pranto.

ENTRA NEVE
NA PRIMAVERA
E dá húmus
Ao jardim,
Rega fundo 
A tua alma 
E ao sofrimento
Põe fim.

E QUANDO
O INVERNO
Termina
Saem cores 
Da tua mão,
Voam riscos,
Nascem amores,
Tudo brota
Do teu chão...

EU PERMANEÇO
NA NEVE,
Corpo frio, 
Alma quente.
Se te banhar
Como rio 
Germinas
Como semente,
Explodem os teus riscos
Em girândolas 
De cor.
É festa
Na tua terra,
Já não é tempo
De dor!

MAS SÓ DESÇO 
DA MONTANHA
Como neve
Que t'inspira
Pois da arte 
É alimento,
Frio branco
Que conserva
E à alma 
Dá alento.

SÓ ASSIM 
EU TE VISITO,
Perdoa
A minha falta.
No alto voam 
Foguetes,
Mas dentro de mim
É ribalta,
A que quero
Para ti
Pois eu não quero 
Mais nada.
Que Atena 
Te inspire
Com sua varinha
De Fada!

É FESTA NA TUA
TERRA,
Crepitam foguetes
No ar,
Fosse eu
O teu mordomo
Não iriam
As girândolas
Na tua festa
Parar!

BRANCA NEVE,
FRIA E HÚMIDA,
Não vê 
Foguetes no ar,
Mas banha 
A tua alma,
Lentamente,
Sem parar.

E SE PERGUNTAS
P'LA NEVE
Eu ouço-te 
Cá em cima,
Inspiro-me na 
Montanha
E respondo-te
Em rima,
Devolvo-te
Inspiração
Que da arte
É a vida,
Num poema 
Em oração
Que não é 
De despedida,
Mas canto, 
Em comoção,
Da palavra 
Proibida.

MARÇO

POEMA de João de Almeida Santos.
Ilustração: PÁN - Original
de João de Almeida Santos.
Em exposição na minha Galeria Poética,
de Março de 2018 até... Sempre!

Pán30FINAL

"Marzo: nu poco chiove / e n’ato ppoco stracqua: / torna a chiovere, 
schiove, / ride ’o sole cu ll’acqua./ Mo nu cielo celeste, / mo 
n’aria cupa e nera: / mo d’ ’o vierno ’e tempeste, / mo n’aria ’e 
primmavera. / N’auciello freddigliuso / aspetta ch’esce ’o sole: / 
ncopp’ ’o tturreno nfuso / suspireno ’e vviole... / Catarì!… Che buo’
cchiù? / Ntienneme, core mio! / Marzo, tu ’o ssaie, si’ tu, /e 
st’auciello songo io".

"Março: um pouco chove / e logo deixa de chover: / volta a chover, 
pára, / ri o sol com a água. / Ora um céu celeste, / ora um ar 
escuro e negro: / ora tempestades d’inverno, / ora um ar de 
primavera. / Um pássaro com frio / Espera que espreite o sol: / 
na terra ensopada suspiram as violetas... / Catarina! Que queres 
mais? / Entende-me, meu amor! / Março, sabes, és tu, / e aquele 
pássaro sou eu".

NOTA - “Arietta” (1898) do poeta napolitano Salvatore di Giacomo, 
1860-1934,em dialecto napolitano. Ouça MILVA em: 
https://www.youtube.com/watch?v=lMKDSnJEadc).
GOSTO DE MARÇO,
Entre a neve 
E a primavera,
O branco e
As flores.
Na fronteira, 
Como te vejo?
Talvez quimera!

GOSTO DO BOTTICELLI,
Dos rostos 
E dos corpos
Feminis.
Volúpia de 
Transparências
Sensuais.
Da pele, a Cor.
Dos traços
Que desenham 
Alvura nas 
Três Graças...
.........
E no Amor!

GOSTO DO BRANCO,
Cá de perto ou
Lá longe
No alto da Montanha.
E das cores intensas
Que brotam
Insinuantes
Ao meu olhar 
Deslumbrado, 
Cá em baixo,
Por ti
Iluminado!

GOSTO DE MARÇO.
Entrei nele
Contigo. 
Ombro a ombro.
No signo do 
Desencontro.
Que se repete
Em silêncio
Fatal, 
Marcado
Contraponto
Do tempo
Imprevisível
Deste “triste
Destino”...
Quase irreal.

QUE O DIGAM
Os astros 
Desalinhados!
Para ti colhia 
Flores luminosas
E a inspiração
Crescia
Nas estrofes
Arrebatadas
Com que fingia
Sentir
O que dizer 
Não podia,
Fosse por 
Uma hora
Ou por um dia.

NO SIGNO DO
Desencontro
Marcado como selo,
Lá vou eu
Por aí, 
Nem sei porquê
(Ou por falta de ti),
De braço dado 
Com Botticelli,
Lá em cima, 
na Galleria,
Onde, um dia, 
Eu quase morei.
Procuro-te
Em oração
À tua deusa, 
Atena,
Que trazes
(Eu bem sei)
No coração.

SINTO-TE PERTO,
Depuro
A tua imagem,
Bissetriz de mil
Rostos,
Até se tornar
Ideia
De corpo ausente!

DEPOIS REINVENTO-A
A cada instante,
Abraço-a
Com alma
De amante,
Pinto-a com 
Palavras
E silêncio
De catedral.
E sonho-te...

AO ACORDAR,
No amanhecer
De cada poema,
Verei que continuas 
Em mim,
De olhos fechados,
Como se fosses
Memória do que
Nunca aconteceu.
 
ANDAREMOS 
Por aí
(Os astros o dirão),
Vagando
No pólen
Da beleza sensível
Onde pousamos
O nosso inquieto
Olhar
À procura 
De alimento
Para pintar
O poema...
...................
Talvez o impossível!

LÁ NO ALTO
Te encontrarei,
Fio do horizonte,
Simulacro do teu
Olhar
A construir infinito,
Onde, num adeus 
Sem fronteiras
Nem cais de partida, 
Hás-de desenhar,
Com a alma,
As mil silhuetas 
Ainda inacabadas...
.............
Ou talvez não!

MEU DEUS,
Como gosto de ti...
........
Em Março! 
 
Poema de João de Almeida Santos 
Ilustração: Almada Negreiros - “Viento. Blanco y Negro. N.º 2.017. 21
de enero de 1931 ”. In Pessoa. Todo arte es una forma de literatura. 
Catálogo. Museo Reina Sofía. Madrid, 2018, p. 262. Exposição aberta 
até 07 de Maio de 2018.

DESPEDIDA

Almada2

“Tu prima m’inviasti verso Parnaso a ber ne le sue grotte, e prima 
appresso Dio m’alluminasti”. 
Dante Alighieri. Purgatorio. Canto XXII.
PERDI-TE
Porque nunca
Te encontrei.
Numa rua, 
Numa praça,
Num café.
Em lado nenhum.
Não sei!

ENCONTREI-TE
No Parnaso.
Lá em cima.
Intangível.
Sem poder
Tocar-te
A não ser com
Palavras.
Em forma de poema.
Sensível às cores 
Da tua alma.

DE REPENTE,
Vestiste-me
Com elas, 
As palavras.
E eu senti-me 
Quente,
Afagado
No meu Canto,
Às vezes, 
Amargurado,
Outras, 
Em pranto,
Sufocado.

SIM, ENCONTREI-TE 
No Parnaso.
Lá em cima. 
No Monte.
Através de ti 
Eu vi a costa, 
Eu vi o mar 
E o meu mundo 
Interior
Com nitidez,
A sonhar-te,
De cada vez,
Em azul...
......... 
A tua cor.

A NEBLINA
Cobria-te
Para te revestir
E refrescar
A alma
Como chuva
De palavras
Húmidas
Caídas do meu
Céu.

EU NÃO ERA MAIS
Do que espelho
Que te devolvia
Fantasia
Contra a
Petrificação
Que espreita sempre
Nos olhares 
Indiscretos.
Mas tu não me vias. 
Em mim, 
Especulavas,
Dizias...

E DE TANTO TE
VERES
E dizeres
Decidiste declinar
O espelho que
Começava 
A embaciar-te.

E NÃO ERA DA
NEBLINA
Que te envolvia,
Mas dos desenhos
Que tuas mãos
Esboçavam 
Timidamente
Nesse espelho 
Já húmido 
De ti.

E DESPEDISTE-TE.
Do Monte.
Desceste para ti
Vertiginosamente,
Em desconforto,
Sob os olhares 
Das mil górgonas
Que sempre ameaçam
Petrificar-te.
E sucumbiste.
Ou talvez não...

NO MONTE, O ESPELHO
Disse para si:
- De tanto te veres 
Em mim,
Ficou-me, de ti,
O repetido reflexo.
E sabes o que 
Brotava
Quando te olhavas
Com palavras
Na minha superfície?
Beleza! 
Toda a que me sobrou
Quando, triste,
Desceste o Monte.

MAS ESTA NÃO
PETRIFICARÁ
Porque ficou 
Guardada 
No meu corpo
Vítreo 
Onde todos 
Se revêem
Sem saber 
Que no reflexo
Levam, gravada
Em transparência,
A tua imagem...
.........
Embaciada.

E EU POR CÁ FIQUEI,
Espelho do mundo,
A olhar para 
O escuro espaço 
Sideral
À espera que um cometa
Me alumie o caminho
Para to devolver como
Teu reflexo 
Original...

 

A CAMINHO DE PASÁRGADA…

Poema de João de Almeida Santos, à desgarrada com Manuel Bandeira (1886-1968), a caminho de Pasárgada, inspirado em três poemas seus: Desencanto, 1912; Versos escritos na água, s.d.; Renúncia, 1906. In Obras Poéticas – 1956. Lisboa: Minerva, pp. 33, 40, 101. Ilustração: pormenor de uma obra do Mestre Guilherme Camarinha (1912-1994).

JAS_Camarinha2

“OS POUCOS VERSOS QUE AÍ VÃO,
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.”

OS MUITOS VERSOS 
Que te dei
Deixam claro 
O que sou.
Se tu me leres, 
Eu não pequei.
É pouco do muito 
Que te dou.

“NELES PORÁS TUA TRISTEZA
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza...”

TALVEZ BELEZA
E algum sentido,
Tristeza, dor, 
Como castigo...
Eu canto 
O que perdi
P’ra que o verso
Vá ter contigo
Lá onde estejas...
.............. 
Queira o vento
Ser meu amigo. 

“QUEM OS OUVIU NÃO OS AMOU
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou.”

NÃO OS AMOU
Por ser verdade
Este amor 
Que aqui nasceu
E que cantei 
Em liberdade
Em versos 
Que o vento
Já me levou
Aos muros 
Dessa cidade.

OUTROS FARIA
Se pudesse
Para os pôr 
Na tua mão,
Não pediria que 
Os sonhasses,
Olhos cerrados,
Mas que os lesses 
Com afeição!

AH!, MANUEL,
Que bem me sabe
Pôr a dor 
Em poesia,
Em versos
A emoção,
No cantar 
Triste alegria
E muito intensa
Uma paixão,
Mesmo que seja
Utopia!

DIZES TU,
Em poesia,
Que só a dor
Te enobrece.
É bem verdade, 
Meu bom poeta,
Alma dorida 
Logo aquece
E com seus versos 
Entretece
O que a paixão
Já tanto afecta.

“A VIDA É VÃ COMO A SOMBRA QUE PASSA...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
Sem um grito sequer tua desgraça.

ENCERRA EM TI TUA TRISTEZA INTEIRA.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...”

POIS TENHO MEDO,
Ah!, meu irmão, 
Que a dor 
Me passe,
Perca o poema 
Sua raiz,
Essa, sim, 
A verdadeira, 
E eu fique só 
Já sem palavras
E caiam secas 
Todas as rosas
Que me povoam
Esta roseira.

SOBRAM ESPINHOS
Ferem-me a alma
E saem versos
E cai o sangue
“Gota a gota,
Do coração”,
“Volúpia ardente” 
Já sem remédio
“Eu faço versos 
Como quem chora”
E chamo a dor
Naquela hora
E ela vem
Por compaixão!

AH!, POETA,
Ah!, meu irmão,
Tu fazes versos 
“Como quem morre”
E eu procuro
Neste meu canto...
............
O seu perdão!

TU, MANUEL,
És a bandeira
E ela o meu refrão,
P’ra mim és verso
No meu poema
E ela é...
............ 
Minha paixão!

 

A PALAVRA PROIBIDA…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: Intervenção 
digital (cor) de JAS
sobre “O Rio” (1950), do 
artista italiano
Alberto Savinio (1891-1952).

Alberto Savinio-cópia

“L’amour est la poésie des sens”
Honoré de Balzac
OS GUARDIÕES
Do sagrado templo
Emitiram Edital:
“O amor em poesia
Fica assim proibido
Porque pode ser 
Fatal.
Os versos 
E as estrofes
Pintados 
A luz e cor
Ficam p’ra sempre 
Banidos
Da Arte 
E do Amor!”

DIZ O AMIGO
Honoré,
Certeiro
Como poeta,
Que o Amor
É poesia, 
É a arte 
Dos sentidos,
É perfume
Qu’inebria
E nos faz sentir
Perdidos...
.............
Se não houver
Guardião 
Impenitente
Que decrete: 
“Também eles 
São proibidos!”

PROIBIDOS?
Ah!, esses, 
Não!
Poesia
É emoção, 
É enlevo
Dos sentidos...
...........
Que resiste
Ao edital
Mesmo que seja
Cantado
Pelo mais
Belo jogral!

TENTA, POR ISSO,
Levá-los
Aos píncaros
Da fantasia,
Sobem lá alto
Os sentidos
Com asas
De poesia!

MAS É DIFÍCIL
Senti-los,
Ouvi-los 
Em verso, 
Com alegria,
Pois há sempre
Alguém
Que me rouba
A brisa
Dessa tua 
Maresia...
..............
A que respiras
Bem cedo,
Logo ao 
Amanhecer,
Em cada dia
Que sentes
Como, feliz,
Eu te canto
Para nunca 
Te perder!

OLHAS O MAR,
Sentes
As ondas
Dentro de ti
A cantar
Como versos
Que o vento 
Sopra
De mansinho
P’ra te poder
Sussurrar
O que por ti
Eu já sinto
Apesar de tão
Sozinho!

POESIA
Dos sentidos?
O amor também 
É isso
Porque, queiras 
Ou não queiras,
Tem a força 
De feitiço.
Encontro-a
Sempre em ti
E mesmo que 
Proibidos
Desenho sempre
Poemas
Desde o dia
Em que te vi...
............
Exaltaram-se 
Os sentidos
E para o poema
Parti...

DECRETARAM
Edital?
Ah!, que o façam, 
Pois, cumprir!
Mas poesia
É como vento,
Sopra-me 
Tão forte
Na alma
Que o teu silêncio
É alento 
Para sempre 
Te esculpir.
Na palavra proibida
Encontrará o poema
O seu próprio
Porvir...


***

PERDER-TE…

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: intervenção digital de JAS
sobre “Portrait d’un Poète (Juliet)”, 1954,
de Man Ray (Man Ray, Cent’anni di
Libertà - 1890-1990. Venezia, Sodicart,
1990, p. 119). Homenagem a um Artista
que admiro.

MRayPd'unP_cópia

RENUNCIEI
Para nunca 
Te perder,
Mas neste 
Silêncio sofrido
Vai declinando
O que p’ra sempre
Eu quis ter...

VÊS, BERNARDO, 
Que destino?
Que desassossego,
O meu?
Quis seguir
O teu caminho
E perdi-me...
..........
Já não sou
Eu!

QUE DESENCONTRO
Foi esse
Desde o dia
Em que te vi?
Dei-te errados
Sinais
Cada dia
Que vivi,
Cavando
Cada vez mais
A solidão
Que m’invade
Desde quando 
Te perdi?

VÁ, DIZ-ME
Tudo o que 
Não sabes!
Eu quero
Mesmo saber
P’ra te cantar
Em poemas,
Pois não te
Quero perder!

TU AMAS 
A poesia?
Senti-la é
Doce sofrer,
Ela diz tudo
Com nada,
O seu canto
É prazer,
É melodia
De fada
Mesmo quando
Faz doer!

NO POEMA
Eu até finjo,
É poeta 
Quem o diz,
Mesmo que sinta 
O que digo
Nunca sou, 
Sem ti, 
Feliz!

MAS POEMA
É como a vida,
Posso ouvir
A tua alma
Em desejos
Com palavras.
É o modo
De te ter,
É remédio
Que me salva
De na solidão
Eu arder!

ESTE CANTO
É, pois, meu,
Nem tu 
Mo podes 
Roubar,
Se te dizem 
Que é p’ra ti
É verdade...
...........
De enganar!

O VERSO
É o meu beijo
Nesse rosto
Que perdi, 
É quente 
Como o desejo
E resiste
A quem te diz
Que o poeta
Não te ama,
Porque desenha 
As palavras
Com um pedaço
De giz...

O AMOR
Em poesia
Não é mesmo
Deste mundo,
Quem o ler
Como utopia
Vai mais longe
Vai mais fundo
E não cai 
Em afasia
Nem vê 
O pobre poeta
Como simples
Vagabundo.

EU NÃO GOSTO
Da renúncia,
Mas que posso 
Eu fazer?
Se não cantar
O que sinto
Ainda te vou 
Perder!

 

***

ALMA!

Poema a dois. Ana de Sousa
e João de Almeida Santos. 
Ilustração de João de Almeida Santos. 
"Deusa no Jardim". 28.01.2018.

JAS_Deusa_Jardim

“ - PROPÍCIA,
DESPERTA A MANHÃ,
Desperta o dia.
A Montanha distante
É tua.
Exageradamente fria.
Está escrito
Numa Estrela
Em matriz
Gravada
A cinzel!”

SIM, FRIA,
É A MONTANHA
Onde nascemos
Para o Destino
No granito
Das nossas vidas!

O CALOR
Habita
Outras paisagens
Mais a sul,
Onde nasce
A poesia
Para aquecer,
Com flocos 
De palavras, 
A minha alma 
Granítica 
E vadia...

“- FATAL CAMINHO
De linhas paralelas. 
Até os sonhos
Da mulher to dizem:
‘ - A solidão eterna
Não ouvida. 
Ferida antiga,
Aberta e repetida’.”
SOLIDÃO ETERNA...
É longo 
O caminho
Dos que amam
No deserto
Como gelo 
Na noite,
A fria lua
Iluminando a alma
Nua
Em desespero,
Tendo areia 
E vento
Como tempero...

“- PORÉM, O GELO
É QUENTE.
Mente.
Com a mentira sobrevive
O engano.
Da louca mansidão
Se afastam
Os sentidos
Do paladar
Do tacto.”

SIM, É QUENTE,
Porque não mente
E é cortante,
Faz brotar
Sangue
Em veias 
Flutuante
Que escorre
Sobre pele,
Mesmo distante,
Tal a força
Da paixão
Na memória
Escaldante...

“ - DE FACTO, PERDURA
A audição, o olhar.
O cheiro raro
De um perfume
Caro.
Negrume 
De eclipse!
Qual elipse?
E o símbolo
Do infinito
Ata-lhe
O petrificado coração. 
Reflecte um brilho
Inigualável o diamante
Inscrito
Na sua neve
Branca.
Flecte
Os joelhos.
Sabe ainda rezar...
Fá-lo
Em poesia
Confessando-se
Às palavras
Que se diz,
Em permanente
Melancolia...”

ELIPSE E INFINITO
Sabem de longe 
A não ouvido 
Grito de beleza
Sacrificial
Ou gemido 
Sussurrado
E esquecido
Lá longe.
Alma ferida
Que o seu altar
Colorido 
Não acolhe
Nessa distância
Desmedida
De uma fuga
Inesperada
E depois
Insistentemente
Ressentida
No eco do silêncio!

Oh! como é duro
Vê-la perdida
No meio da floresta
Desordenada 
De cores,
Esbracejando
No seu irresistível 
Ímpeto,
Em girândolas 
Ou estilhaços de
Poderosa fantasia
Em perigo
De autofagia
Cromática,
À procura do
Do tempo perdido 
Em sendeiro
De floresta...

“ - MAS O SILÊNCIO
De Deus
É um consolo.
Mudança de  estações,
Tempo
Insondável!
Milhares de vezes
Levanta voo a águia.
Seu destino
É voar.
O da fiandeira,
Fiar.”

VOA, VOA
A águia 
Com seus riscos,
Mas ele,
Que não é
Fiandeiro,
Fica-se 
Pelas palavras
Como ciscos 
No seu olhar 
Perturbado,
Sem cor
Abandonado,
Procurando,
Parado,
Voar
Com outras asas
Que encontra
Em si,
Sem saber
Para onde
Viajar,
Perdido o infinito
Que lhe roubaram
Dessas mãos 
Tão generosas
De palavras
E cores...

“ - SUAS IRMÃS,
AS PARCAS,
Riem
Do destino
Dessa mortal voadora.
Resta-lhe ficar
Soror da Seda 
Presa em seu casulo
Do mais alto céu,
Olhando de
Longe
Tudo o que a vida
Lhe não deu.”

MORTAL VOADORA
Que me liberta 
Da Moira
Que ao fim,
Inflexível, 
Me conduz,
Sem sair
Desse silêncio
Que tanto
Me seduz...
.........
Alma pura
Que me trouxe 
Tanta, mas tanta 
Luz,
Em plena vida
De poeta
Que resiste
Com a Sorte
À neblina
Que aflora
E espreita
A cada esquina...

“QUE CINZENTO
E AZULADO,
Porém, é o céu 
E o poente quente
Que cai
Alaranjado e vermelho,
Como a nuvem
Passou o sonho,
Seu espelho...
............
Ah, a doçura
Das palavras
Amargas!”

SIM, AMARGAS
Como o gelo 
Quente
Que não mente
E não derrete
Ao sol,
No poente,
Quando o verso 
Declina
No horizonte marinho
Ali a seu lado...
Porque à vida
E ao poema
Sempre
Reconduzem,
Sim,
As palavras,
Mesmo sem cor!

PROPÍCIA, DESPERTA
A manhã,
Sem ti,
Meu amor!

ELAS FOGEM, AS PALAVRAS…

AnaDeSousa.20180112_234446 (1)

POEMA de JOÃO DE ALMEIDA SANTOS. Ilustração de ANA de SOUSA. 01/2018
QUERIA FAZER-TE
UM POEMA,
Sentir-te nele
À vontade
E as palavras
Endoidaram
Quando 
Feliz 
Lhes falei
Da minha 
Quente
Saudade...
.............
Fugiram
Numa revolta
Sentida
Sem conhecer
A verdade.

EU ESTAVA
A MENTIR
Sem cuidar
Da crueldade
De as usar
Como queria
Só porque
Tinha saudade...

ESGUEIRARAM
RUA FORA,
Cada uma 
Por seu lado,
Em fugas
No horizonte
Deste poema
Tentado.

SÓ JÁ AS VIA
LÁ LONGE,
Ao fundo
Da tua rua
Num ponto 
Do infinito
Desta minha 
Alma nua.

UMAS
ESVOAÇAVAM
No fio 
Do horizonte,
Outras
Aninhadas
No passeio...
.............
E eu a tentar
O versejo
Capturado
Num enleio
Desta prisão
Do desejo!

PALAVRAS 
EM CORRERIA,
Letras
Perdendo forma
Como fios
De um novelo
Já desfeito
De sentido
Como a água
Do gelo...

SÃO FIOS
EMARANHADOS,
Letras 
Que se deslaçam
E procuram
Outras formas
Para lá da minha 
Rima,
São riscos
Na tua tela
A subir
Por ela acima...

QUERO FAZER-TE
UM POEMA
Com palavras
Desenhadas
Mas elas fogem
P’ra longe
Correm, correm
Assustadas
Não vá mesmo 
Ser verdade
Que as quero
Alinhadas
Neste recanto
Feliz
Onde resisto
À saudade.

ELAS GOSTAM
DE CANTAR
Esta minha 
Triste dor 
E gostam 
De me dizer
Esta intensa
Emoção...
...........
Mas se vêem
Que és feliz
Fogem de ti,
Dizem “não!”

O POEMA 
PASSARINHO
Procura-te
Para cantar
Mas se já 
Não sentes nada
É ele que foge
A voar...

E HOJE
É MESMO ASSIM
Fogem todas
As palavras
Sem procurar
Um destino,
Já não consigo
Agarrá-las
Num poema
Genuíno.

NÃO SABEM
DA MINHA DOR
E por isso
Vão embora
Estou sem palavras,
Amor,
Estou muito triste,
Agora!