OLHAR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Teu Rosto”. Original de minha autoria. Maio de 2023.

“Olhar”. JAS.05-2023
POEMA – “OLHAR”
QUE ME DIZES, Tão frontal, Olhar fixo, Penetrante, É chamamento, Sinal? NO SILÊNCIO, A tua voz É murmúrio, Melodia Seminal, Sinto-a Cá dentro De mim Como ponto Cardeal. E SÃO BELOS Os teus olhos, Sabem-me Sempre A mar, São ondas Do teu encanto Como cristais A brilhar. NÃO É AZUL Sua cor Mas de sol Que ilumina, Olhas pra mim, Meu amor, Quando navego À bolina. ÉS SEREIA, Vou-te ouvindo Em sinfonia De cor, Melodia Que me aquece Como fonte De calor. CABELOS Castanhos, Sopra aragem Sobre ti, Um suave Respirar, E eu tão Longe daqui Como a montanha Do mar. QUE PROCURAM Os teus olhos? Tua boca Balbucia Palavras Que me resistem Quando nelas Eu já sinto O que nunca Te diria... DIZES, SIM, Que não me Sentes? Dizes que Do poema Não és? De saudades Esmoreço Se não te vejo Chegar Quando chegam As marés. OLHOS Húmidos Que fascinam, Uma boca Que seduz, Teus cabelos Desafiam E eu, Poeta d’outono, Na mais pura Contraluz. OLHAS-ME, POIS, Inquieta, Sem estar À tua frente, Numa dorida Distância Que no silêncio Se sente E por isso Eu te digo Que o teu olhar Não me mente...
A PORTA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Porta”.
Original de minha autoria.
Maio de 2023.
POEMA – “A PORTA”
OLHO A MONTANHA
Da porta
E o granito
Amarelo
Com inúmeros
Cristais,
Olho o ocre
De um telhado
Como se estivesse
À janela
De um palácio
Encantado
Que do sonho
Fosse cais.
CONTEMPLO
A linha do horizonte,
Mas é diferente
A visão:
Antes, eu via futuro,
Agora, vejo passado,
Essa tão bela
Ilusão
De a ter sempre
A meu lado.
ENTRE PASSADO
E FUTURO,
É a minha
Identidade,
Ficou quieta
À minha espera
Quando dela
Eu parti
Ao encontro
Da cidade.
ELA É PORTO
De abrigo
E é lugar de
Partida,
É, pois, mais
Que uma porta,
É fronteira
Que eu passo
No desafio
Da vida.
E É ETERNO
Retorno,
Um regresso
Renovado
Onde posso
Renascer
Quando visito
A memória
Do que não
Quero perder,
Vendo a vida
Desse lado.
ESTA PORTA
É magia,
Viajo sempre
Por ela
Porque é uma
Janela
De onde voa
A fantasia.
DELA ALCANCEI
O mundo
E o mundo veio
Até mim,
Ao passar por
Esta porta
Sinto o meu
Horizonte
Como fronteira
Sem fim...
POR ISSO REGRESSO
A ela,
Esse pilar
Do meu ser,
Quando chego,
Logo amanhece,
E quando estou
De partida
Sinto que
O mundo
Acontece
Como a montanha
Da vida.
ORÁCULO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Luz”. Original de minha autoria. Maio de 2023.

“Luz”. JAS. 05-2023
POEMA – “ORÁCULO”
NO ORÁCULO Há uma árvore Iluminada Nos dias de ritual. Essa árvore és tu E eu a luz Que alumia Com o ceptro De cristal Do templo sagrado De Athena, Da arte A catedral. ÀS VEZES BRILHAS, Sim, Incendeias-me O estro No poema Em construção, Outras convocas A sombra E o silêncio, A árvore Entristece E também eu Me apago Em infausta Comoção. É BELA A ÁRVORE, Mas não dá frutos, Só beleza Luminosa E fugidia Quando em dias De ritual Te canto Com vigor E fantasia E o brilho Dos teus olhos Me acende Esta paixão Como pura Energia. SE NÃO TE VEJO, Apago-me Em submissa Tristeza, Falta-me o teu Olhar, De cada poema A luz, Do afecto A Incerteza. FLUI O TEMPO, Gasta-se a vida, Fogem de nós As palavras, O olhar Empalidece, Esmorece A alegria, O oráculo Já não acolhe O meu canto E, depois, Ah, depois, Regressa A rotina De cada dia... MAS A DEUSA Aguarda-me Impaciente E eu hesito Em chamar-te Ao ritual Com medo Que não me ouças E eu perca, Do oráculo, A magia Do seu ceptro De cristal... MAS EU TENHO-TE Dentro de mim E convoco-te Ao poema Para acender, Com a luz Do teu olhar, A árvore Inspiradora, Enquanto o canto Durar. NÃO RECUSES O chamamento, Não apagues Essa luz Que quer sempre Renascer, Deixa que eu Te cante E celebre Em cada amanhecer, Te acenda Na fantasia Nem que seja Por um instante Ou na voragem De um dia.

“Luz”. Detalhe
PERFIL
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Espanto”
(2021, 91x115, em papel
de algodão Hahnemuehle, 310 gr).
Original de minha autoria.
Maio de 2023

“Espanto”. JAS. (2021, 91×115, em papel de algodão Hahnemuehle, 310 gr). 05-2023
POEMA – “PERFIL”
AS LINHAS
Do teu perfil,
Tão singelas
Ao olhar,
Lembram-me
A tua voz
Quando te
Ouvia falar.
POETA,
Logo pintava
Essa tua silhueta
Com um secreto
Pincel,
Os traços eram
Palavras
Desenhadas
A caneta
Na brancura
Do papel.
PALAVRAS
Leva-as
O vento
(Era o que eu
Te dizia),
Mas ditas
Por um poeta
Gentil
(E eu nunca te
Mentia)
Ficam gravadas
Na alma
Se pintar
O teu perfil.
CRESCESTE
Como camélia,
Flor branca
Nas folhagens
Do Jardim,
E sempre que
Tu me olhas
Iluminas
De alvura,
Brilho intenso,
Cintilante,
Essa imagem
Que perdura
Mesmo quando
Estás distante,
Mas sempre
Tão perto
De mim...
PORQUE VIVES
No Jardim
Em ciclo
De natureza,
Regressas
Em cada ano
Para afastar
A tristeza...
DEPOIS PARTES,
Mas fica sempre
O teu perfil
Que me fala
Ao olhar...
..........
A ausência
Já não pesa
E as saudades
Esmorecem
Porque tenho
A certeza
Que um dia
Vais voltar.
OÁSIS
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Sonho”.
Original de minha autoria.
Abril de 2023.

“Sonho”. JAS. 04-2023
POEMA – “OÁSIS”
SONHEI-TE.
Atravessava o deserto
Há muito,
Nada via
À minha frente,
Areia, só areia
No caminho...
.............
E uma miragem
Ardente.
NEM SABIA SE
Encontraria
Um oásis
Onde molhar
As palavras
E os lábios
Já gretados
Da aridez
Do deserto.
MAS HOJE SONHEI-TE,
De novo,
E reencontrei
O oásis perdido...
....................
Nas pupilas dos teus
Olhos.
TIVE-TE ASSIM
A meu lado,
Ofereci-te
Uma história
Onde conto
Como te perdi
E te conservei
No meu fio
De memória.
FALÁMOS DE ARTE,
Imagina,
E de como a vida
Nela se resolve
E se lê
Quando na força
Do sonho
Se confia
E absolutamente
Se crê.
SONHEI-TE
Esta noite
E acordei de ti
Embriagado,
Mesmo sem te ter
Comigo,
Ali mesmo,
A meu lado.
AH, HABITUEI-ME
A estar contigo
Em sonho
E em palavras,
A dizer-te
Em poemas,
A ouvir
O teu silêncio,
A procurar-te
Com o vento
Que te sopra
Na alma
Meus poéticos
Murmúrios...
TENHO-TE
Em palavras
Um pouco
Já gastas
E nem sei
O que seria
Encontrar-te,
Olhar de perto
Teus olhos
Negros
E profundos,
Sentir
O teu perfume,
Perdido
No mistério
Insondável
De tão enigmático
Rosto.
TALVEZ TE VOLTASSE
A perder,
Nesse instante,
Nesse dia,
Por excesso de ti
Ou por só já
Te reconhecer
Nas estrofes
Da minha confessada
E melancólica
Nostalgia.
LIBERDADE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Liberdade”. Original de minha autoria. 23 de Abril de 2023.

“Liberdade”. JAS. 04-2023
POEMA – “LIBERDADE”
PERGUNTEI-TE, Num dia De sol: “Voas comigo Prà linha Do horizonte?". Deste-me a mão E sorriste: “Voo, sim, Pois preciso De ar puro Lá bem no alto Do Monte”. E PARTIMOS. Tu levaste O arco-íris Que tinhas Dentro de ti E eu as letras Que tinha Comigo, Guardadas Na alma, Seu porto De abrigo. ENREDÁMOS Todas as cores Com linhas De palavras Deslaçadas, Construímos Asas em forma De verso E voámos No céu De um poema Pintado todo De azul... ANDEI CONTIGO Por lá Anos a fio, Vagueando Ao sabor da Inspiração, Levados Pela brisa Que sopra fria No Monte, Mas afaga O coração. E COMO GOSTEI De voar contigo, Livres como Pássaros Sobre o vale Onde te encontrei Um dia, Construindo Castelos Na areia Com a força Da magia. É ASSIM QUE EU Te vejo, Tecendo a vida Com sopro De alma E as cores Do arco-íris Pintadas Por tua mão Como pauta Colorida Da nossa bela Canção. FOI ASSIM Que nos dissemos Nesse tempo, Livres de amarras Que não nos deixam Voar, Traçando Em arte Um destino Marcado Pela vontade De fazer Da nossa vida Caminho De liberdade.
INESPERADO ENCONTRO
Poema de João de Almeida Santos inspirado no romance “Via dei Portoghesi”. Ilustração: “Piazza Navona”. Original de minha autoria. Abril de 2023.

“Piazza Navona”. JAS. 04-2023
POEMA – “INESPERADO ENCONTRO”
CHEGASTE SÓ, Em silêncio, Austera, Rosto crispado, Ficaste, triste, À espera Que te servissem Gelado... ............ Era outono Profundo E os sinos De Sant’Agnese Tocavam ali, A meu lado. VI-TE DISCRETA Chegar A esse bar Onde estava, Mudei logo De lugar, E, ao ver-te, Estranhava, Eras ilha No meu mar, Mas o brilho Dos teus olhos Fascinava, Não deixava Navegar. E DE NOVO Estremeci Desse olhar Tão penetrante Que, sem me ver, Me fitava Como olhar De amante. QUIS DESENHAR Essa tua silhueta, Tremeram As mãos do pintor, Voltou a voz Do poeta. Com palavras E com dor Voltei a ser O que era: Artista Com vocação De asceta. ESFUMOU-SE No olhar A beleza Do teu rosto E não pude Desenhar Esse perfil De que gosto. FICOU-ME A poesia Com as palavras Que tinha, Com elas, Eu bem sabia, Pintava quadros Em tela E pautas Com melodia. DEPOIS, PARTISTE E ombro a ombro Caminhámos, Estranhos Numa só via Por onde nunca Passámos. E ASSIM EU VOU Sonhando Histórias da utopia, Terão fim, Só não sei quando, Até chegar esse dia.
REENCONTRO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Magnólia Branca”.
Original de minha autoria.
Abril de 2023.

“Magnólia Branca”. JAS. 04-2023
POEMA - REENCONTRO
ELA FASCINA-ME Como a magnólia Branca, Em Março, Lá no alto Da Montanha, Ali, a meu lado, Mistério Da natureza No meu Jardim Encantado. BRANCO SOLTO Em farrapos Delicados Que me libertam Do silêncio Invernal E convidam A voar Suspenso Num rio de luz Desenhado Num poema Onde a possa Cantar. E RESPIRO Com as cores Que ela Em silêncio Compõe Sobre folhas De papel Em forma de Aguarela Ou pintadas A pastel, Rápida E certeira, Como Hermes E Athena, Perfeita Geometria Que a alma Me serena Em suave Liturgia. É BELISSIMA E gosto De a olhar Cá de baixo, Da gruta Luminosa Das minhas Metáforas, Quieto, Em sintonia Com seu sorriso Doce Como um beijo De criança. ELA É MAGNÓLIA Branca Que me atrai Para encontros Fatais Com palavras Rebeldes, Vitais, Lá no alto Desse azul Infinito Onde sinto Que à beleza Proibida Falta a palavra Sentida Que um dia Se perdeu. POR ISSO, Nestes meus versos Regressa O que há muito Vou sentindo Como longa Melancolia Na forma De uma sofrida E tantas vezes Cantada Forte e doce Nostalgia.
SINESTESIA
Entre Riscos e Palavras
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Voo da Magnólia”- 91x115, em papel de algodão Hahnemühle. JAS, 2021. Abril de 2023.

“O Voo da Magnólia”. JAS, 2021. 91×115, em papel de algodão Hahnemühle.
POEMA – “SINESTESIA – Entre Riscos e Palavras”
RISCOS E CORES Saem espontâneos De minhas mãos, Voando Para dentro Da estrofe, Celebração Da beleza Em tempo de Primavera. BELEZA Que se expande Em poemas Filhos De um encontro Fatal Que fez nascer O poeta. DEPOIS, AH, Depois, Mais encontros Em verso E versos Em cor E traços E ruas Ou praças E amor Em corpos Desenhados À procura Do céu, Movidos Pelo desejo. CRESCEM Juntos, Os riscos E as palavras, Entrelaçados Em fugazes Diálogos Atirados Às nuvens. DEPOIS,VOAM No espaço Onde o poema Pousa Em equilíbrio Precário Sobre um ténue Risco Desenhado No azul Que se esfuma, Lento, No fio do Horizonte. PERDERAM-SE No real? Encontram-se Nas nuvens, Espaço Em forma De elipse E cores Em fuga Que deslizam Para o infinito. PINTOR, SALTO Para cima De um risco E nele voo Colado ao azul Do céu Com o poeta, Esse outro De mim. E PERDEMO-NOS Nas nuvens, Enlaçados Em raios De Luz À procura De formas Que projectem O olhar E a inquietude Da alma. SÃO ENCONTROS Imaginados Que nos elevam Ao céu Da inspiração Para recriar O que deles Nos sobrar. AH, SE TUDO FOSSE Harmonia Cá em baixo No vale Da nossa vida Não haveria Dor Nem riscos Nem cor Nem poeta Ou pintor Não haveria Palavras Nem resgate De almas Em constante Sobressalto...
SONHEI-TE COM PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Rubor” Original de minha autoria. Março de 2023.

“Rubor”. JAS. 03-2023
POEMA – “SONHEI-TE COM PALAVRAS”
ESTA NOITE EU Sonhei-te Num poema, Que no sonho Não te encontrava, Socorri-me De palavras Pra melhor Te evocar, Fantasia
Não faltava, Tinha mesmo De cantar. JÁ PASSARA Tanto tempo Que partira Do nordeste, Da terra Da utopia Onde um dia Te encontrei Perdida nesse Teu mundo, Ambiente Um pouco agreste, Um poço quase Sem fundo. COMO SE NA VASTIDÃO Do espaço Entre o sonho E a vida Já não houvesse Lugar Nem pra uma Despedida. QUE ESTRANHO Este sonho Em palavras, Não sabia Se sonhava Ou se compunha Um hino À alegria Por assim Te encontrar, Pois julgava-te
Perdida No poço Feito de sombra Onde eu sempre Te via, Onde te ia Buscar. QUE BOM FOI Ter-te sonhado, Recriar O que perdi, Virar tudo Do avesso, Reviver O teu sorriso E ficar-me por ali. ESTA NOITE Eu sonhei-te E gosto De o dizer, Foi como ter-te A meu lado, Como não mais Te perder. AH, QUE SONHO Eu sonhei, Com todas aquelas Palavras Onde logo te Encontrei, Ficaste colada A meu corpo Mesmo quando Acordei, Senti-te Dentro de mim, Uma brisa perfumada Que nunca mais Tinha fim... MAS DEPOIS Desapareceste No poço fundo Do tempo, Tua imagem Esbateu-se Na minha retina Já gasta, Tua voz era Silêncio De um som Que não ouvia, Teu olhar Foi desviado Para nunca Mais me ver, Braços caídos No corpo Para não me Abraçarem Nem que fosse Na memória Do que da vida Sobrasse, Do que resta Do teu querer. FOI ASSIM QUE Te sonhei, Ver-te um pouco Perdida, Comigo sozinho No cais, Tua alma Adormecida Em sonhos
Que pra ti eram
Mais do mesmo, Sempre iguais. ESTA NOITE Eu sonhei-te Em palavras Porque estás Longe de mim, Não foi por Vontade minha, Foi a vida Que o quis Porque a vida É assim...
“MARÇO”
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Neve e a Primavera”
(Pintura em papel de algodão e
verniz Hahnemuehle, 68x93, 2022).
Original de minha autoria.
Março de 2023.

“A Neve e a Primavera”. JAS2022. 03-2023
POEMA – “MARÇO”
GOSTO DE MARÇO,
Entre a neve
E a primavera,
Entre o branco
E as flores,
A chegada
De Perséfone,
O mistério
Que me atrai
Nessa fronteira
Do tempo
Que ainda não
Passou.
GOSTO DO BOTTICELLI,
Dos rostos
E dos corpos
Das três
Graças,
Feminis,
Volúpia de
Transparências,
Sensuais,
Primaveris.
GOSTO DO BRANCO
Da magnólia,
Dos seus farrapos,
E do branco frio
Da montanha,
Gosto
Dessa cor que
Que brilha
Nos meus olhos
E que sempre
Me acompanha.
GOSTO DE MARÇO
(Porque gosto),
Entrei nele
Contigo,
No signo do
Desencontro
Que se repete
Neste silêncio
Fatal,
Marcado
Contraponto
Desse tempo
Do meu canto,
Um “triste
Destino”
Que quase
Parece irreal.
PARA TI COLHIA,
Em Março,
Flores luminosas
E a inspiração
Crescia
Em estrofes
Desenhadas
Com a força
Da magia,
Fingindo sentir
O que dizer
Não podia,
Fosse só
Por duas horas
Ou fosse
Por todo um dia.
NO SIGNO
Do desencontro
Marcado como selo
Lá vou eu
Mais uma vez
Por aí,
Nem sei porquê,
Ou por falta de ti,
De braço dado
Com Botticelli,
Lá em cima,
Na Galleria,
Oráculo de arte
E templo
Da fantasia.
SINTO-TE PERTO,
Ah, eu sinto,
Depuro
A tua imagem
Em bissetriz
De mil rostos
Até se tornar
Ideia
De corpo ausente,
Dialéctica
Animada
De opostos.
DEPOIS REINVENTO-A
A cada instante,
Abraço-a
Com alma
De amante,
Pinto com
Palavras
O seu perfil
Ideal
E fixo-a
De novo
Neste meu
Jardim
De jogral.
AO ACORDAR,
No amanhecer
De cada poema
Verei que continuas
Em mim,
De olhos fechados
(Lembras-te?),
Como se fosses
Sonho do que
Nunca aconteceu
Naqueles dias
Passados.
ANDAREI
Por aí
(Os astros o dirão),
Vagando
E pousando
O olhar
No pólen
Da beleza
Sensível
À procura
De seiva fresca
Para desenhar
Poemas
E dar vida
Ao impossível.
LÁ NO ALTO
Te encontrarei,
Imitação
Dos dias
Da criação,
A construir infinito,
Onde, num adeus
Já sem fronteiras
Nem cais de partida,
Hás-de desenhar
Com a alma
As mil silhuetas
Ainda inacabadas...
...............
Ou talvez não!
MEU DEUS,
Como gosto de ti,
Em Março,
O mês da floração,
Quando a magia
Renasce
Para renovar
A vida,
Com a força da
Paixão.
MARMELADA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “ A Dança da Combustão”. Original de minha autoria. Março de 2023.

“A Dança da Combustão”. JAS. 03-2023
POEMA – “MARMELADA”
COMO GOSTO Da tua marmelada, Doce e acre Como tu, Sintonia No sabor Que me embriaga Os sentidos Como seiva Do teu corpo. GOSTO DA METAFÍSICA De confeitaria Porque me adoça A alma, Excelsos
Sabores Produzidos Com magia Nas tuas tardes De calma... SOU GULOSO, Como sabes, E como é doce E macia Esta tua Marmelada, Sinto-a Como alquimia, Como pura arte De fada. COMO, COMO, Sem parar, Sabe-me sempre Ao brilho Desses teus olhos, À espuma branca Do mar, Ao perfume Do teu corpo, Onde hei-de Naufragar. NESTA TUA Marmelada, Eu vejo-te Artesanal, Com os marmelos Nas mãos, Sabores Em harmonia, Receita conventual, Polpa moldada Por ti Com segura Maestria Na dança Da combustão, Cor intensa, Iguaria De frutos Abençoados Em doce Composição. TALVEZ A TENHAS Criado Em tempo De quietude Ou mesmo de Solidão (Que às vezes É virtude), Quando esvaece Esse lado Mais agreste E mais crispado Que te oculta A beleza Dos momentos De paixão. AH, ESSA TUA Marmelada É leve, É pura, Há pássaros Que te voam Na alma, Que dançam no Calor da Combustão, Um bailado Divinal Com frutos De perdição. VAI FICAR-ME Sempre vivo O sabor Por ti criado, Carícia Da fantasia, Dádiva, Prazer, Harmonia, Quase pecado, A vida Como reino Da magia Por deuses Iluminado.
TEU CORPO NUMA CATEDRAL DE PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Luz”.
Inspirada em Man Ray:
"Electricité:
Salle de Bains", 1931.
Original de minha
autoria. Março de 2023.

“Luz”. JAS. 03-2023
POEMA – “TEU CORPO NUMA CATEDRAL DE PALAVRAS”
VEJO-TE Desenhada A sépia, Nua, Numa catedral De palavras E ecoa Sobre mim, Entre altas Colunas Argênteas, O silêncio De uma poética Do pleno E do vazio Que me interpela Como metáfora. TEU ROSTO Esculpido Por sons Inaudíveis É a imagem Perfeita Para o oráculo De Athena, A deusa Que, em ti, Inspira A melancolia De meus poéticos Murmúrios. UMA DESCARGA Intensa De riscos E de luz Caiu sobre ti (Lembras-te do Man Ray?), Estampando-te Numa folha Nua, Onde expôs Esse teu corpo Aos ecos Do silêncio Para que o ouça Com a alma. SÃO RAIOS DE LUZ, São palavras Ou serão Os fantasmas De Kafka Que acariciam Com sofreguidão Esse corpo Que já saiu De ti E se perde, Levado Por eles, Levitando Sobre um caminho Que trilha, Sem saber, Ao sabor Do vento E de incerto Destino. E EU A VÊ-LO Levitar Para lugar Nenhum E a segui-lo (Não sei porquê) Com este rasto De palavras, Ponte Sobre um imenso Vazio Que une O desejo E o impossível. NÃO OUVES A minha Voz Interior Que responde Aos ecos Do teu silêncio E te chama? Não vês Que te procuro Sempre, Derramando Riscos E palavras Sobre um destino A que nunca Chegaremos? NÃO! BEM SEI Que não vês, Bem sei Que não ouves, Talvez porque Os fantasmas Bebem Os meus murmúrios Escritos Ao longo Do trajecto. Se visses E ouvisses Eu não estaria Aqui À procura Da sublime Redenção. Sem pecado.
A VELHA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Pintora e o Tempo”. Original de minha autoria. Poema inspirado numa frase atribuída a Clint Eastwood: "Don't Let The Old Man In". Fevereiro de 2023.

“A Poetisa e o Tempo”. JAS. 02-2023
POEMA – “A VELHA”
DISSESTE-ME UM DIA: “Não deixo A velha entrar, Da arte, É o segredo, Pois se a intrusa Chegar Vai o estro Declinar E eu entro Em degredo”. E ATÉ PODE SER Teimosa, Bater à porta As vezes que ela Quiser, Mas eu nunca Abrirei, Nem quando o sol Se puser. É ARTE A minha vida, E é cedo demais, É cedo, Pra ver A velha cantar O fado Da despedida. QUANDO O TEMPO Te captura Com a tenaz Da velhice, Pode tornar-se Sombrio E caíres Em solidão, Morte lenta, Indiferença, Uma implacável Descrença E não haver Redenção. A PENUMBRA É sempre lenta E dói, O tempo Não te socorre, Na sombra Ele corrói E quando os olhos Não choram É o futuro Que morre. A VIDA É movimento, Poesia, É canto, É choro, É melodia, Namoro, É ver pássaros Voar, É sentir “vento No rosto”, É receber E é dar, É construir O futuro Para nele Viajar Com asas De fantasia Para nos céus Navegar. MAS A VELHA Está cansada, Já só pensa No passado, Nada mais Lhe dá prazer, Só vê na vida Doença, Só vê na vida Pecado, Já nem sabe O que é viver. FICO VELHA Como ela Se a deixo Em casa Entrar, Recuso A atimia, Pois há vida Pra fruir, Há futuro Em cada dia E há tanto Para dar... E QUANDO Um dia Partir Para nunca Mais voltar, Parto jovem, Com a vida, E deixo A velha ficar.
TEMPO
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Musa”. Original de minha autoria, Apud Gustav Klimt (Jovem Mulher, 1885). Fevereiro de 2023.

“Musa”. JAS. 02-2023
POEMA – “TEMPO”
QUE FARIA Se te encontrasse, Olhos nos olhos, Numa margem Deserta Do nosso passado? Que te diria Se te visse Caminhar, Airosa, Mas circunspecta, Ali mesmo A meu lado, Com esse rosto Tão belo, Tão brilhante, Acetinado? NÃO SEI, Porque não sei O que o tempo Fez de nós, Se petrificou Nas encostas Da memória A tua tão bela Imagem, Ficando Ainda mais sós Nesta já longa Viagem. TALVEZ ENCONTRO Impossível, Porque o tempo Transbordou E apagou As margens Do rio que Navegámos Entre escolhos Perigosos, Rápidos Sempre, sempre Imprevistos E como tu Revoltosos. MAS O RIO Já não tem água Nem murmúrios De corpos Por ela abaixo A vagar Até à foz Quente do mar, Melodia Do desejo A clamar Por um simples Lampejo Pra iluminar A viagem. E SE UMA FOZ Encontrasse Seria de um rio De palavras Em turbilhão A entrar Nesse teu mar Com a força Da paixão. MAS O NOSSO Já é um barco Fantasma Sem foz À vista E sem mar, Sem leito Pra navegar, Sem água Nem margens Para onde Transbordar. POR ISSO, Se te encontrasse Numa margem Deserta Desse tempo Já perdido Ou num porto De abrigo Do passado Que persigo Talvez eu Estremecesse, Mas seguiria Caminho, Com palavras E com contigo, Mesmo que fosse Sozinho.
O POETA E A MÁSCARA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Transfiguração”. Original de minha autoria para este poema. Fevereiro de 2023.

“Transfiguração”. JAS. 02-2023
POEMA – “O POETA E A MÁSCARA”
ENCONTREI UMA MÁSCARA Numa esquina Da minha vida, Pu-la no rosto Do poeta E ele não a Enjeitou. Ainda por cima Me disse: “Sou eu, sou, Como nas palavras Que digo Também meu corpo Mudou”. “NÃO ESPERAVAS Ver-me assim... É grande o teu Espanto, Vá, confessa! Ganhei um corpo De rosa, Tanta cor (A que apeteça), Um rosto Dissimulado Pra me curar Desta dor Sempre que ela Apareça A pedir o meu Cuidado”. “ADOPTEI Esta figura, Agora Mostro-me assim, As outras Nada te dizem, Com esta, Olhas pra mim”. “PALHAÇO É o que sou, Falo a Surdos e mudos Que não ouvem O que digo Nem respondem Ao que quero, Tratam-me como Mendigo Do que, afinal, Nem espero”. “VALHA-ME, POIS, Esta máscara, Assim rio Desta vida, Rio de ti E de mim, Da chegada Ou da partida, Dos abraços, Das palavras E, por fim, Da despedida”. “SOU PALHAÇO, É o que sou, Entretenho-me A cantar E se ouvires Este meu canto É poeta O seu autor, Por isso, tu Não t’importes, O que diz É, de certeza, Pra espantar Sua dor”. A MÁSCARA É o seu rosto, Colou-se-lhe Logo à pele Com a cola Do desgosto E por isso Já nem sabe Se esse rosto É o dele. ENCONTREI Uma máscara Vermelha No mercado Da minha vida, Ponho-lha sempre Que posso, À chegada E à partida, E se puder Não lha tiro Pra não lhe rasgar A alma Pois se o canto O liberta É a máscara Que o salva.
OCASO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Rasto de Luz”. Original de minha autoria. Fevereiro de 2023.

“Rasto de Luz”. JAS. 02-2023
POEMA – “OCASO”
CAMINHAVA SÓ No paredão E sentei-me, À tardinha, A olhar A solidão, O oceano E o sol Lá ao fundo A brilhar Sobre a linha Do horizonte, Em tempo de Baixa-mar. O SOL CRIARA Um caminho De luz, Mar fora, A entrar P'los olhos Dentro Nessa já Tardia hora. E CONVIDAVA-ME A segui-lo Com o olhar Em gesto De despedida. Era hora De sol-posto, Era hora De partida. A LUZ INTENSA Do sol, Longo rasto Luminoso, Incendiava O olhar De tão forte Ser a luz A refractar-se No mar. FIXEI Esse caminho E ouvi Da sua água Um suave Marulhar, Murmúrio Terno Das ondas, Melodia Luminosa Criada Para embalar. ERGUI DE NOVO O olhar Para o sol Que s’esvaía, Respirei E voltei A respirar Uma intensa Maresia. RUA DE LUZ Marinha A levar-me Ao horizonte Por círculo De fogo Aceso Em urgente Despedida, Ocaso Que anuncia Noites Passadas De sonho, Estranhas Formas De vida. ASSIM ME PARECE Ter sido A história breve Que contigo Eu vivi, A mesma faixa De luz, O mesmo círculo De fogo Que o horizonte Engoliu, O serpenteio De corpos No luminoso Caminho Que a ti Me conduziu... ATÉ QUE O SOL Se pôs Pra regressar De manhã, Metáfora Luminosa Do nosso encontro Fugaz Já tão perdido No tempo, Esse tempo Tão voraz. E O SOL Lá regressou, Mas vinha De outro lado, Sem suave Marulhar, Sem ondas Pra navegar Nesse brilho Ondulante Que um dia Me encantou A lembrar-me O teu mar, Esse ondear Cativante.
POEMA PARA UM ROSTO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria. Janeiro de 2023.

“S/Título”. JAS. 01-2023
POEMA – “POEMA PARA UM ROSTO”
ESTÁ LÍVIDO O teu rosto, Será sinal De pecado? É alvura Inocente, É espanto, É súplica Penitente Esse olhar Que me acende A alma E me faz sentir A teu lado? É SANGUE, É vinho Consagrado Esse rio Que desliza E te enlaça, Volúpia Ardente, Que abraça, Intensa Torrente De púrpura Sobre teus Cabelos de seda? AH, FORAM Estas mãos Lascivas Que te pintaram Como pecado De porcelana, Em brancura Irreal, Alma tingida De cal E em fuga Desta vida Para um mundo Venal Onde te sentes Perdida. PORQUÊ ESSE Sangue Ou vinho Mosto, Doce e quente, Espesso Como libido Ardente A brotar Da tua alma? ASSIM, SENTES-TE Gueixa Lá dentro De ti, Na cidade Proibida, Desde que eu Te perdi, Ao torno da arte Recriada Como imagem Em fina Porcelana Moldada. INVENTÁMOS, Eu e tu, Em tempos D’epifania, Esse perfil Em que te vias Na cidade Proibida, Eco do meu
Secreto desejo De te ter, Nua, despida. PECADO Em porcelana, A lividez De quem ama E sublima Quando a divina Beleza É rasgada Por intensa Volúpia carnal. MAS É BARRO, Frágil Como o amor, Como tudo O que vive Envolto Pelo manto Diáfano Do pudor. É PÚRPURA Essa alma Inquieta E incerta Que aflora, Intensa, Como desafio, Na tua boca Sensual... MAS AGORA Imagino-te Já liberta Desse rosto De porcelana, Alma quente, Corpo fremente, Magia Que brota, Insistente, Desta minha Fantasia. E VEJO-TE A fumar, Lânguida, Com esse bâton Já gasto A transbordar De teus lábios Carnudos, Ao rubro, Em insinuante Preguiça De abandono, Pronta Para te dares Com o corpo, Não a mim, Mas ao olhar Mágico Que recria Milagres íntimos Sobre a tua alma Tão incerta E fugidia. ENTÃO QUEBRO Em mil pedaços Essa porcelana E recrio a beleza Singela De um rosto Que me sorri Sempre que O acaricio Com as palavras Dos poemas Com que te vou Celebrando Nos dias incertos Da minha vida.
NEVA-ME NA ALMA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Montanha e a Neve”. Original de minha autoria. Janeiro de 2023.

“A Montanha e a Neve”. JAS. 01-2023
POEMA – “NEVA-ME NA ALMA”
ESPEREI POR ELA, A bela adormecida, Na montanha, Nesse dia, Lá no alto, Branca e fria, Finos Farrapos De seda A vestir-me A fantasia. ESSE BRILHO Cintilante Que sempre Desce Do céu E engole o Horizonte Pra me cobrir Como véu... A CHUVA MIUDINHA Caía E as finas Gotas geladas Pareciam Farrapinhos A descer Das cumeadas. ERA A MINHA Fantasia Que na alma Me fazia Esse intenso Nevar De tão forte Ser o desejo, De sempre Com ele sonhar. ESPEREI Pela tarde, Pelo brilho Envolvente
E a brancura cintilante Que sempre Desce do alto E me abraça Como amante. MAS NÃO, De manhã O céu Era azul e Transparente E a esp'rança Findou ali, Com o sol A despontar Quando triste Eu parti, Saudades De com a neve Brincar, Dos bonecos Que com ela Estava sempre A moldar. DISSE ADEUS À montanha, Mas prometi Lá voltar, O desejo É intenso, Mas não quero Que só na alma M'esteja Sempre a nevar.
A TURBA
Conversas com Manuel Bandeira
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Palácio das Artes
na Ilha da Utopia”.
Original de minha autoria.
Janeiro de 2023.

“Palácio das Artes na Ilha da Utopia”. JAS. 01-2023
POEMA – “A TURBA”
AH, MANEL,
Cedo demais
Eu cantei,
Dei vivas
À liberdade
Nas ruas e
Nas praças
Da cidade
Quando o tumulto
Da turba
Já se fazia
Ouvir
Nas catacumbas
Da vida,
Nesses lugares
Perigosos
Onde não
Podes sorrir,
Onde a cor
É proibida.
ERAM HORDAS
Revoltosas,
Caíram
Pesadas na praça,
Destruíram
A calçada,
Esse sagrado
Lugar
Onde estávamos
A ver
A nossa banda
Passar.
NÃO SAIO DAQUI,
Manel,
É melhor viver
De brisa,
Ao lado da
Anarina,
A fúria dos
Invasores
Não me deixa
Respirar,
Metralha
Os meus sentidos,
Já nem consigo
Voar.
CÁ NA ILHA,
Manel,
Há sempre
Uma brisa fresca,
Mulheres lindas
A sorrir,
Há flores,
Há rios
E também mar,
Há pintores
De tinta fresca
Que estão sempre
A pintar,
Há poetas,
Trovadores,
Há baladas
De embalar,
Há alegria
Sem fim
E música
Para dançar.
E POR ISSO
Eu cá fico.
Há muito frio
No ar,
Há muita arte
Perdida
Que temos
De recriar.
PROCURO, POIS,
A magia
Para celebrar
A vida
Em nome
Da liberdade
Com as cores
Da nossa ilha
Cantadas
Em poesia,
Que é canto
De verdade.
NA ILHA
Prossegue
O sonho
Em serena
Acalmia,
Por isso daqui
Não saio
Para cantar
E dançar
A valsa
Da liberdade
No palco
Da fantasia.
A VIAGEM
Conversas com Manuel Bandeira
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “S/Título”
Original de minha autoria.
Janeiro de 2023.

“S/Título”. JAS. 01-2023
POEMA – “A VIAGEM”
MANEL,
Tenho história
Pra contar,
O homem
Foi pròs steites,
Tinha pressa,
Desespero,
Tinha, pois,
De viajar...
É OUTRO MUNDO
O nordeste,
A vida é dura,
Pois é,
Mas tem muita
Brisa fresca,
À Anarina
Disseste,
Não faz de ti
Jacaré.
MAS VOLTÁMOS
Ao planalto,
Foi o povão
Que o quis,
O outro
Ficou irado,
Queria fogo
No país.
PLANALTO
Não é ilha
Nem sequer
É utopia
Como em terras
Do Piauí,
É barco
De grande porte
Onde agora
Viajamos
Com bússola
Que aponta
O norte,
Mas sem as
Belezas daqui.
FALTAM LÁ
(Eu bem sei)
As mulheres lindas
Da ilha
(Embora amigo
Do rei)
E não há um
Burro brabo
Nem pau-sebo
Pra subir...
...............
Ah, mas o outro
Já se foi
E voltámos
A sorrir.
ESTOU FELIZ,
Eu confesso,
E a Pasárgada
Voltarei,
Ao mar calmo
Da nossa terra,
A que, livre
Como o vento,
Sempre escolheu
O seu rei
Para não fazer
A guerra.
AGORA
Já somos livres
E não sibilam
No ar
Silvos de armas
Perigosas
Que nunca
Quisemos
Ouvir
Nesse fúlgido
Jardim
Onde as rosas
Estão sempre
A florir.

“S/Título”. Detalhe
ÊXTASE
Poema de João de Almeida Santos Inspirado em “Le Phenomène Futur”, de Stéphane Mallarmé. Ilustração: “O Sonho”. Original de minha autoria. Um de Janeiro de 2023.

“O Sonho”. JAS. 01-2023
POEMA – “ÊXTASE”
QUANDO TE SONHO Eu vejo sempre Esse teu corpo Maduro Num tempo Que já passou, Êxtase de ouro puro, Riqueza Que já findou. TEUS CABELOS Negros São moldura viva De um rosto Que ilumina A nudez cruenta De teus lábios... ............. E me seduz. É VÃO O VESTIDO Que te desenha O perfil, Teu corpo nu É mais leve, Como vento, É macio, É veludo, Levita Em perpétuo Movimento. TEUS OLHOS SÃO Pedras raras Em refracção, Vitrais Iluminados, Liturgia, Oração. MAS TEU OLHAR É reflexo intenso Da tua carne Viçosa, Fremente, E põe-me Sempre febril, Agitado E ardente. SEIOS NUS... Ah, teus seios Eriçados, A transbordar De leite eterno, Halos Apontados ao céu, E eu, criança, Aninhado No teu ventre, Como em Ventre materno, Num tempo Que é só meu. TUAS PERNAS Macias e quentes Sabem ao sal Do primeiro mar Onde navegámos Ao sabor Do desejo Em ondas Alterosas De tanto em ti Eu pecar. TUDO SONHO E volto a sonhar, Já desperto, Com o sol Nas pupilas Fascinadas, A brilhar. E SINTO-ME AINDA Em teu colo, Sorvendo A branca Eternidade Que brota Abundante de ti, Com o mundo Para lá da Vaga alta da Montanha Onde os deuses Me devolvem O que de ti Eu perdi.
SINFONIA
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Rapsódia”. Original de minha autoria. 25 de Dezembro de 2022.

“Rapsódia”. JAS. 12-2022
POEMA – “SINFONIA”
ENCONTREI-AS, As palavras, Dispersas No meu jardim Sob frondoso Arbusto Num dia quente De verão. Aguardavam Que chegasse Pra insólita Missão. EU NADA SABIA Delas, Nesse lugar Encantado Onde o sol chega Intenso, Mas por ramagem Coado. FORAM TAMBÉM As palavras Lapidadas Pelo tempo Que passa Na folhagem Do arbusto? A FOLHAGEM É como o tempo, Coa a força Do sol Quando ele é Mais queimante, Quando o verão Aperta mais, Quando a terra Nos oferece Os seus frutos E o mais. O QUE ELAS Mais queriam Era asas De fantasia Pra serem Lançadas Ao vento, Mensageiras Devotadas, A liturgia Do tempo. QUANDO CHEGUEI Estavam Em sobressalto, A vaguear Por ali, A trepar nas Cameleiras, Nas hortênsias, No jasmim, Nas magnólias E roseiras, Esse outro lado De mim. AGUARDAVAM O maestro Para uma prova De orquestra Com ritmo Bem entoado Ao sabor Desses aromas Do meu jardim Encantado. FEZ-SE SILÊNCIO, Então, Eu levantei A batuta De maestro Inspirado E logo o poema Nasceu, Sinfonia De palavras, Nesse templo Consagrado. VIERAM Mil borboletas Pintadas De vivas cores A ouvir A melodia, A toada dos Meus versos, Uma bela Sinfonia. E, HOJE, No inverno Deste dia, E nos deuses Inspirado, Aqui as lanço Ao vento Para cumprir Seu desejo E para cumprir O meu fado. AH, SE NÃO HOUVESSE Palavras, Que destino O meu seria, Como recriar O passado, Esse tempo Em que sentia As dores frias Do pecado? FELIZMENTE HAVIA Riscos, Havia cores E melodia, Havia Flores E aromas Pra pintar O que sentia No mais profundo De mim, Com arte, Com poesia, E tudo o mais Que havia Na magia Do Jardim.

“Rapsódia”. Detalhe
O ECO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Montanha”. Original de minha autoria. Dezembro de 2022.

“A Montanha”. JAS. 12-2022
POEMA – “O ECO”
QUE ESTRANHO, Este sonho, Ver-te só, Perdida Na vastidão Da montanha, A vaguear, Perfil de mulher Que tenteia À procura do eco Libertador Que tarda sempre A chegar. PROCURAS, Ó deusa Dos meus sonhos Revelados, A melodia Lá no alto Como eco Ou como brisa Que te há-de Inspirar, A que um dia Se cobriu de De uma espessa Neblina Sem farol Pra na arte Navegar? EU SEI Que te procuras Do lado de lá Da rotina Que nunca Te abandona E te oprime Como fado Ou como sina. ÉS IMAGEM Da beleza Que sofre Dentro de si A mais funda Solidão Lá no alto Do desejo, Com vida Em gestação. É PURO SONHO, Bem sei, Mas os sonhos Anunciam Fantasia, A que sempre Procuramos Nos lugares Que visitamos Pra que ela Nos seduza Com a sua Melodia. E O MUNDO Vem logo atrás E entra Pela porta Ou mesmo pela Janela Para pintarmos A vida Como se a vida Fosse Uma bela Aguarela. NESSE DIA Subiste À montanha, Sozinha, Com a criança No ventre A clamar Para o vale Que o mundo Ia chegar Com a forma De um eco E com intenso Vibrar... E CHEGOU Como eco Do desejo Ou do sonho Que inventaste Para quebrar A rotina E pintar A tua alma Numa tela Que encontraste Perdida Na neblina. ELE CHEGA SEMPRE, O mundo, Não sabemos É como chega, Se é tela Ou papel, Se é pauta Ou é pedra Onde esculpir O desejo Com aquilo Que nos sobra Do que perdemos Um dia, Do que fomos Ou até do que Seremos Nos voos Da fantasia.
SOLIPSISMO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Parousía”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2022.

“Parousía”. JAS. 12-2022
POEMA – “SOLIPSISMO”
PROCURO
Reinventar-me
Sobre os escombros
De uma cidade
Invisível,
Perdida
Num tempo
Que não é meu.
OS DEUSES
São meus amigos,
Sustêm
A vertigem
Com que me pinto,
Alma inquieta
De poeta
Ou de pintor
Invocativo
Do que sinto,
Em traços,
Em cores
Ou em palavras
Que resistem
Na fronteira
Das rugosas vielas
Da vida,
Tão banal e
Rotineira,
Lugar de uma
Eterna
Despedida.
E COM ELES VOO
Por dentro
De mim,
Enlevado,
Para além
Do agreste
E estreito
Sendeiro
Que encolhe
A liberdade
Nas ruínas
Do passado...
.............
Pra não ficar
Prisioneiro.
VEJO-ME, AGORA,
Triste por fora,
Mas sinto-me
Quente por dentro,
A transbordar,
Ao rubro,
Em viagem
Ao centro
De um magma
A flamejar
Que me alimenta
O desejo
Em eclosão,
Que se acende
Em cores vivas
No mar
Encrespado
Da minha
Imaginação.
QUE SONHO,
Nesta viagem?
Que entro no meu
Mundo
Mais recôndito
Por uma nesga
Escondida
Nas muralhas subtis
Da minha alma,
A sonhar,
E que viajo
Sob um azul
Que me cobre
Como véu
O desejo de voar...
E ENTÃO VOO
E sigo
O luminoso
Caminho
Que se acende
Nos meus olhos,
A brilhar,
E me leva
Aos céus
Da fantasia...
...........
Para te
Reencontrar.
ENTRE RISCOS E PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Voo da Magnólia”. Original de minha autoria (91x115, em papel de algodão Hahnemuehle, 2021). Dezembro de 2022.

“O Voo da Magnólia”. JAS. 2021.
POEMA – “ENTRE RISCOS E PALAVRAS”
MOVIDO Pela musa fugidia, Riscos e cor Saem Das mãos Do pintor Voando para o Poema Onde o verso E a estrofe São a sua melodia. SÃO ENCONTROS Em ruas E praças Lá no alto Da emoção, São cores E traços De união, São abraços E são rostos Esboçados, É sentir
Muito lá fundo Em poemas Figurados. CRESCEM JUNTOS Os riscos E as palavras Enlaçados Em fugaz Sinestesia, Lançados Às nuvens No céu Do desejo, Em voo De fantasia. RISCOS Sobre cores, Palavras Com sabores, Melodia Com a alma Desenhada, Amores Caídos No poço fundo Do nada. MAS VOAM, Oh, se voam, No espaço Onde o verso Pousa Em equilíbrio Precário Sobre um ténue Risco Preso ao azul Que se esfuma, Lento, Por entre Seus dedos Famintos... ........... Como se fosse
Espuma. PERDEM-SE No real, Mas encontram-se Nas nuvens, No espaço Sideral. E ELA, A musa fugidia, Belíssima, É rápida A saltar Para cima De um risco E nele voar Colada ao azul, Com o poeta Cá em baixo A murmurar: - "Deus meu, Como se pode Não amar!" ELA RESPIRA Nas nuvens, Em raios De luz Enlaçada, Voando No horizonte À procura... ........ De nada. E LÁ REGRESSA, Uma vez mais, Dorida, Em eterno retorno, Ao cais, O seu ponto De partida. SÃO ETÉREOS Os encontros Que acontecem No céu Da inspiração E o poeta Desenha Com palavras Coloridas O que sobrou Do que lá Aconteceu... ....... Em vão. AH, SE ELE A encontrasse No tempo certo Fora do poema, A tiritar De emoção, Não haveria Cor, Não haveria Riscos, Nem dor, Nem chão Que alimentasse As palavras Com que o poeta Corre Atrás do infinito Onde nunca Há-de chegar, A não ser Com as linhas Em fuga Que lhe saem Da alma E do olhar...
O POETA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Poeta no seu Jardim Encantado”. Original de minha autoria. Novembro de 2022.

“Poeta no seu Jardim Encantado”. JAS. 11-2022
POEMA – “O POETA”
O POETA Perdeu a musa Porque alguém Lha levou, Conta, por isso, Histórias Que para si Inventou. RENASCE Na fantasia Essa musa Que já teve E desenha Em palavras Sua figura De neve. MAS ELA DERRETE Ao sol Com esse brilho Fatal E o poeta, Desnudado, Sai do trilho, Perde o rumo, Cai em tristeza, Calado, Em seu pobre Ritual. VOLTA COM ELA Ao poema, Quer trazê-la Ao regaço, Com melodia A chama Lá de cima Do terraço Pra se curar Do seu drama. MAS ELA Não lhe responde, Fica muda, Olhar baço, E ele, com alma Vazia, Lá vagueia No jardim, Respirando O aroma Do seu eterno Jasmim. E ASSIM ELE RESISTE De poema Em poema Construindo O futuro, Alimentando A alma De um vaguear Do mais puro Onde a palavra Liberta Desse vazio Escuro Quando a solidão Mais aperta. LIBERTA, SIM, Da pressão Que o poeta Sente no peito, É liberdade A valer E por isso É mais que jeito, Não é flor, É jardim, O seu abrigo Perfeito, Clama Por fantasia E ouve a voz Do passado, Não é mar, É maresia, Da vida É mais que Fado, Não é prosa, É poesia O que canta Nesse jardim Recamado. DEBRUÇADO Na janela, Em seus vidros A revê E com espanto Pergunta: - A que vejo É mesmo ela? Mas nisso Já ele nem crê, Pois a musa Do poema É a sua aguarela, Pintura Que sempre vê.
O VÉU
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Musa”. Composição minha sobre desenho de Gustav Klimt (1885, Zwei Studien einer jungen Frau). Novembro de 2022.

“Musa”. JAS. 11-2022
POEMA – “O VÉU”
FOI UM RAIO Fulminante, Havia sombras No Céu, Atingiu-me Nesse instante, Fiquei preso A um Véu Invisível Ao olhar, Feito de Seda fina Que ninguém Pode rasgar. UM CLARÃO Foi o que vi Lá bem no alto Do céu, Temi que fosse Castigo, Pois a terra Até tremeu, Mas era de seda O abrigo, Refúgio Que era só meu. NESSE INSTANTE Te inventei, Julgando saber O que queria, Esculpir-me A teu lado Nesse véu Onde vivia. COBRIA Todo o meu corpo Era prisão Que não via, Feito de fios De seda, O véu Era o que Sempre sentia. FOI INTENSO O momento Em que inventei O caminho, Fui levado Pelo vento Pra não me sentir Sozinho. COMO ERA MACIO O véu, Desenhava Os movimentos E quando olhava O céu Voava Por uns momentos E então eu lá subia Para ver Se te alcançava, Mas de tanto Te olhar Já nem o céu Me chegava... FOI DESSE CLARÃO Que saiu O meu encanto De vida Que resiste Às tempestades Como a paixão Proibida. E ASSIM EU VOU Tecendo A malha do Meu viver, Vivo em exaltação Simplesmente Por te querer.
VENTO DO DESERTO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria. Novembro de 2022.

“S/Título”. Jas. 11-2022
POEMA – “VENTO DO DESERTO”
IRROMPESTE No meu poema Como Rosto Esculpido Em pedra lisa, Num dia De encruzilhada Entre o que foi E o que será. TEU ROSTO Marmóreo Resiste, Impenitente, Ao vendaval De palavras Que o vento, Insistente, Vai soprando Sobre ti. SCIROCCO, Vento espesso, Areia Quente Vinda de longe, De um deserto De palavras Que não tem Fim... MAS É MACIO O turbante Que te cobre Suavemente Como tecido De mensagem Cifrada De quem te chama E te sente Como deusa Ou como fada. E TU ESCULPES Com tuas mãos Essa mensagem Que pousou Levemente Sobre ti, Pó do deserto, Palavras Sem oásis À vista, Aridez, Areia fina Vinda do céu... SAIU UM GÉNIO Da lamparina E o vento Trouxe consigo A Medusa Para te petrificar? É, SIM, AREIA FINA A que te marca O perfil Neste longo Poema Que, eu, Do lado de cá De onde o vento Sopra, Vou construindo Dentro de mim, Com estas letras (Os meus riscos De areia), Iluminado Pelos mil espelhos Do caleidoscópio Onde observo O teu luminoso, E lento Entardecer. MAS OS TEUS São riscos A três dimensões E assim te afago De longe Com estas mãos De poeta triste Em busca De um rosto Que dê forma Ao desejo. TALVEZ SEJAS Pedra esculpida, Medusa De ti própria, Sem saber Que quanto mais Te desenhares Com areia fina Do deserto Mais poderás Subir Ao Olimpo E levitar Sobre estas mãos Que, de longe, Vão acariciando Com palavras Esse teu rosto De pedra, Em busca De redenção.
RIO DE PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Cascata”. Original de minha autoria. Novembro de 2022.

“Cascata”. JAS. 11-2022
POEMA – “RIO DE PALAVRAS”
NO MEU JARDIM De cristal Fluía, Torrencial, Entre Rosas (Em “arabesque”), Magnólias, Camélias E um Arbusto (Que tu me deste), Um Rio De Palavras Para uma foz Onde nunca haveria De chegar (Nem sequer Com um de nós). METÁFORAS Líquidas, Revoltas, Corriam Vertiginosas Em seu leito Até embaterem Em feixes de riscos, Ilhas de cores, Traços dispersos, Fugas, Amores (Ditos em versos, A meu jeito). E TRANSBORDARAM Do leito Para as margens, Espraiando-se Em liberdade E sem destino, Atraídas Pelo perfume Difuso E subtil De novas cores Que se desprendiam, Intensas, Do pincel de seda Com que esboçavas Um novo leito Por onde o rio Correr, Suavemente, Como murmúrio Líquido De palavras Inventadas Num qualquer Alvorecer... MAS O PERFUME Foi levado Pelo vento Que te soprava Forte Na alma Para incertas Paragens Onde cantar Eu não podia. AH, COMO É FLUIDA A vida E imprevista A despedida De um rio Que sai de nós, A vagar, À procura De foz Onde possa E onde queira Suavemente Chegar. MAS NO MEU JARDIM De cristal Flui ainda, Intenso, Esse rio, Com seu caudal De palavras, À procura De leito macio Por onde possa Livremente Navegar E de suaves Margens Inundadas De cores vivas, Luminosas, Para onde Transbordar. O MEU RIO De palavras Corre de novo, Corre sim, Pra foz incerta, Sem parar, Pois errante Na neblina Da vida É teu próprio Caminhar.
O TERRAÇO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Terraço”. Original de minha autoria (2022,
119x119, Mold/madeira/artglass, papel Hahnemuehle, 100% algodão). Outubro de 2022.

“O Terraço”. JAS. 2022 (119×119, papel Hahnemuehle, 100% algodão).
POEMA – “O TERRAÇO”
É DAQUI, Deste terraço, Que eu te vejo Com a forma Intangível Do desejo. SILÊNCIO, Essa tua melodia, Nuvens, Espelho
Da tua alma, Um lustre Que ilumina, Céu dourado, Utopia, Minha sina, Meu pecado, O que em ti Eu sempre via. MAS É DAQUI Que te sonho, Uma fresta Para o céu, Um olhar Que não tem fim, É daqui Que eu te quero Sem limites No poema E perfume No jardim... COM PALAVRAS Te olho sempre De frente E tão altiva Te vejo, És arbusto Que me sente Pois em ti Cai o desejo. É DAQUI Que eu não saio Quando parto Para longe, É aqui Que eu te tenho Nas raízes Do que sou, É pois aqui Que te quero Esteja ou não Onde estou. VER-TE Sem te tocar, Beijar-te Com os olhos Numa noite De luar, Dormir contigo Ao relento Para melhor Te sonhar... VÊS Como é simples E não Pecaminoso Gostar Assim tanto De ti? A mim basta, Neste encanto, Ficar-me, Simplesmente... .............. Simplesmente, Por aqui...
OLHAR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Olhar”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2022.

“Olhar”. JAS. 10-2022
POEMA – “OLHAR”
QUE ME DIZES,
Tão frontal,
Olhar inquieto,
D’espanto?
É chamamento,
Sinal,
É resposta
Ao meu canto?
A TUA VOZ
É murmúrio,
Melodia,
É música,
É sinfonia,
É orquestra
A tocar...
E são belos
Os teus olhos,
Porque me sabem
A... mar,
São ondas
Na minha alma
Por onde
Vou navegar.
NÃO É AZUL
Sua cor,
Mas de sol
Que ilumina,
Olhas pra mim,
Meu amor,
Se te navego
À bolina?
CABELOS
Desalinhados,
Sopra o vento
Sobre ti
E em seu intenso
Soprar
Ficas tão longe
Daqui
Como a montanha
Do mar.
QUE PROCURAM
Os teus olhos?
Tua boca balbucia
Palavras
Que ao silêncio
Se votam
Até que a alma
Sorria...
QUANDO NELAS
Leio a pergunta
Que nunca,
Ousando,
Faria,
Dizes, sim,
Que tu não sentes
O que eu
Nunca te diria?
DIZES QUE NO
Poema
Já saudade
Tu não és,
Algo que devo
Esquecer ...
.............
Se não vierem
Marés
Onde te sinta
Crescer?
TEUS OLHOS
Húmidos
Fascinam,
Uma boca que seduz,
Teus cabelos
Desalinham
E eu,
Poeta d’outono,
Na mais pura
Contraluz...
OLHAS-ME, POIS,
Inquieta,
Sem estar
À tua frente,
Uma dorida
Distância
Que no silêncio
Se sente,
Mas por isso
Eu te digo
Que o teu olhar
Não me mente.
QUE ME DIZEM
Os teus olhos
Hoje, assim,
Tão de repente?
ENCONTROS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Onírica Nudez” Original de minha autoria (sobre
foto, anónima, em contraluz, da
minha colecção privada). Outubro de 2022.

“Onírica Nudez”. JAS. 10-2022
POEMA – “ENCONTROS”
TARDO A ENCONTRAR-TE Porque já não sei Como procurar-te Levado Por um poema... NÃO É VONTADE Decidida, Mas destino que marca Os passos que Darei Na estreita Vereda da vida... ............... Ou aqueles que Eu nunca ousarei... E TU SABES Que não sei, Mas sabes Por onde andei E por onde Me perdi À procura Do que não Queria ter Para preservar O que o tempo (Ah, sempre o tempo) Haveria de Esculpir E em meus Poemas Guardar. UM DIA Encontrei-te No fim de um caminho Que já nem sei Se trilhei Antes de qualquer Início Ou se o abandonei Como se fora Vereda fatal De um tentador Precipício... ÀS VEZES, Reencontrava-te, sim. Encontros fugazes, Onde o teu brilho Começava a cegar Por fora, Mas a iluminar Por dentro... .............. Para te poder Cantar. MAS JÁ NÃO SEI Se te hei-de querer Para nunca Te ter, Sentir saudades Ao amanhecer Do teu perfume Na memória fresca Dos afectos Indefinidos, Os mais perfeitos E sentidos. SIM, DEIXO-ME IR Nas mãos lentas Do destino, Mas há sempre Um sobressalto Quando o real Nos atropela Por dentro E tudo se torna Inóspito... ......... Por fora. SE NÃO ME DEIXO IR Viajo para outros Lugares, Tenho sempre De viajar À procura de mim, Dum espelho onde Me veja por dentro A olhar-te Por fora, À espera do próximo Sobressalto... ................. Que nunca demora. AH, COMO ME FALTA Esse véu Que te dissimula O rosto Quando te quero Pintar com palavras E logo te vejo Nua, Com a alma A tiritar... MAS EU CONTINUO A procurar-te Com disfarçado E tímido olhar (Como quem Não te quer), Perscrutando-te, Na memória, A alma pura Que se aninha Em ti Para te proteger Do risco da beleza Exposta Como fractura, Aquela que os poetas Cantam Quando sentem a Liberdade Por perto. TALVEZ A NOITE Te sirva de véu E te cubra as cicatrizes Da vida, Luz coada Pela penumbra Que te amacie A pele Encrespada e Te devolva como Sonho Acetinado Onde te reinventarei Como mulher Desejada... ................. Para além do bem E do mal. MAS EU NÃO SEI, Tenho medo Dos sobressaltos, De ser atropelado Na esquina de um Inocente Jogo sedutor Que te cative a Alma em fuga Para o infinito Que se cruza Nos nossos olhares... .............. Cada vez mais Intermitentes. E AGORA TARDO Outra vez A reencontrar-te No bulício dos Meus dias Até que no amanhecer De um poema Perfumado Te surpreenda De novo Simplesmente nua E te diga, Com olhar submisso: "Esta visão matinal É o sonho revelado De um poeta-pintor Que nunca ousou Desenhar-te Como prova (Não provada) De seu tão incerto (E obstinado) Amor..."
FUI CONTIGO PRA PASÁRGADA
Poema de João de Almeida Santos. Recriação do diálogo com o poeta brasileiro e nordestino Manuel Bandeira (Poemas: “Vou-me embora pra Pasárgada” e “Brisa”), quatro anos depois da primeira publicação, em Novembro de 2018. Ilustração: “Pasárgada II”. Original de minha autoria (119×119, c/mold., 2022). Outubro de 2022.

“Pasárgada II”. JAS, 2022 (119×119).
POEMA – “FUI CONTIGO PRA PASÁRGADA”
FUI CONTIGO Pra Pasárgada, Para o teu mundo, Irmão, Eu não me sentia Livre, Faltava Inspiração Porque a brisa Do nordeste Ficou lá No Maranhão. NÃO TENHAS, Manel, Saudades, Nostalgia do futuro, Temos passado Que baste E foi, sim, Foi muito duro. FUI CONTIGO Pra Pasárgada, Não quis Ficar por aqui Porque a brisa Do nordeste Não passou Do Piauí. PRA PASÁRGADA Eu quis ir, Prà terra da Liberdade, Por aqui Já me faltavam As cores vivas Da verdade. EU GOSTO DE TI, Ó poeta Do reino Da utopia, O teu tempo É o futuro e Lá se faz Poesia, Se pinta, Se canta E se dança Porque o ar É do mais puro E cheira A maresia. NÃO GOSTAVA D’estar aqui, O ruído Era demais, Esta terra Já não servia E lá partimos Do cais... FUI CONTIGO No teu barco, À procura De mar calmo, Céu sereno E tudo o mais, Navegando No azul, Peixes voando No mar, No horizonte Uma ilha, Mulheres lindas A acenar... EM PASÁRGADA Fui feliz Cantei e Dancei Até alta Madrugada, O corpo Deixava-se ir Com alma Apaixonada Em regaço De mulher E ao ritmo De balada. POR AQUI Era grande O ruído, Com armas A crepitar, Matavam poemas Com gritos, Já não se podia Cantar... FUI CONTIGO Pra Pasárgada, Meu mestre De poesia, Lá cantei Os teus poemas Fosse noite Ou fosse dia... AGORA QUERO Ficar, A esperança regressou, Quero contigo Cantar O que o vento Me levou. MAS NÃO SEI Se o vento traz Céu sereno Às canções, Por isso contigo Rezo Minhas pobres Orações Pra que a brisa Chegue aqui E não fique Lá retida Nas terras do Piauí.
PRESSENTIMENTO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Travessia”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2022.

“Travessia”. JAS. 10-2022
POEMA – “PRESSENTIMENTO”
MAIS UMA VEZ, Ao entardecer, Te pressenti, Numa rua de Lisboa... .................... Mas não te vi. AH, ESTA LISBOA Que amas... .................. Uma silhueta fria Na cidade, Uma travessia, Um homem Que passa, Perdido Em memórias Que se esfumam No tempo E deixam A alma vazia. DEUS EX MACHINA Que desce No caos Em que a vida Se tornou, Nos afectos E na dor... ............... Para pôr ordem Nas desordens Do amor... CAÍSTE-ME, Como num palco Ou numa encruzilhada Improvável, Quando vinha Da imensa planície Onde os deuses Se anunciam No horizonte A cada amanhecer... UM SÚBITO CLARÃO, Um sobressalto... E eu estremeci. Irrompeste, Intempestiva, Das brumas Da memória... .......... Mas apenas Te pressenti. INCAUTO, Aproximei-me Do teu mundo, Sem saber? Foi o destino, Adormecido Que andava De nunca, Mas mesmo nunca, Te rever? ESTRANHOS Desencontros Que desabam Sobre nós, Com os astros A governarem O labirinto Insondável Das nossas vidas. SILHUETA FUGIDIA, É o que és, Nesta longa Travessia, Neste ver-te De través, Nesta minha Liturgia. VI UM NÚMERO, A única certeza Que tenho, Mas incerto Como todos Os números Deste "mundo Inumerável". INCERTO, SIM, Porque tu Não és número Que me dê Certezas, Para além da dor... .............. És mais quatro Do que sete, Meu amor. TALVEZ TENHA SIDO A minha fértil Imaginação, Já um pouco doentia, A cruzar-se Contigo Num inesperado Lance de magia. MAS NEM SEI Se é por ali Que tu andas, Porque de ti Nada sei, Só o que me sobrou Daquele tempo E do tempo Que criei Para nunca Te perder, A história Que te conta Para nela Renascer. QUE ESTRANHOS Lugares de Desencontro, No meio da multidão, Um instante Que irrompe Quente Como lava De vulcão, Um regresso Improvável Cada vez mais Espectral Em película subtil E transparente De memória Outonal! AH, COMO NO FIM Deste poema Sofro a falta Desse olhar A iluminar-me A alma De ternura, Mas nem o sol Se descobre, O acende E o inunda De beleza Da mais pura...

“Travessia”. Detalhe.
RENÚNCIA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Poesia”.
Original de minha autoria.
Setembro de 2022.

“Poesia”. JAS. 09-2022
POEMA – “RENÚNCIA”
RENUNCIEI
Para nunca
Te perder,
Mas nesta
Distância sofrida
Vai lentamente
Declinando
O que pra sempre
Eu quis ter.
VÊS, BERNARDO,
Que destino?
Que desassossego
O meu?
Quis seguir
O teu caminho...
.........
Perdi-me,
Já não sou
Eu.
TU AMAS
A poesia
(Bem sei),
Mas não te ajeitas
Com ela,
Senti-la é
Doce sofrer,
Entras na porta
Da vida,
Não a vives
À janela
Como quem
Só sabe ver.
ELA DIZ TUDO
Com nada,
O seu canto
É prazer,
É melodia
De fada,
Se a sofres
Docemente
Já não a sentes
Doer,
Sua dor
É quase nada,
Nela podes
Reviver.
NO POEMA
Eu até finjo,
É poeta
Quem o diz,
Mas se sentir
O que digo
Talvez até seja
Feliz,
Pois poema
É como a vida,
Posso ouvir
A minha alma,
Seus desejos,
Com palavras,
É um modo
De me ter,
É remédio
Que me salva
De em solidão
Me perder.
ESTE CANTO
É, pois, meu,
Nem tu
Mo podes
Roubar,
Se disserem
Que é pra ti
É verdade...
............
De enganar.
O VERSO
É o meu beijo
Nesse rosto
Que perdi,
É quente
Como o desejo
E resiste
A quem te diz
Que o poeta
Já não ama
Porque as palavras
Desenha
Com um pedaço
De giz.
AH, O AMOR
Em poesia
Vai mais longe,
Mergulha
Na utopia,
Vai mais fundo,
É doce
Melancolia,
Com palavras
Aquece a alma
E faz delas
O seu mundo
Aquele que
Sempre o salva
Porque só nelas
Confia.
EU NÃO GOSTO
Da renúncia,
Mas que posso
Eu fazer?
Se não cantar
O que sinto
Depois de tudo
Perder
É certo que desatino
Perco o norte
E a noção
Fica quase tudo
Igual,
É da vida
Deserção.
SONHO
Poema Triste
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Um Sonho no Jardim”. Original de minha autoria. Setembro de 2022.

“Um Sonho no Jardim”. JAS. 09-2022
POEMA – “SONHO”
SONHEI Que as palavras Se gastaram, Desfiaram, Desataram, Sobrando fios Para tecer O silêncio. SONHEI Que a tinta Perdeu cor, Que já não havia Poemas E que não era Pintor. SONHEI Que não eras tu, Que foi tudo Ilusão,
Os encontros,
O teu nome
E as marcas
De paixão. SONHEI Que te procurei No mundo Da fantasia Onde as flores Caminhavam, Sabiam a maresia, Tinham rostos De mulher... ............ Mas surdos Ao que dizia. SONHEI Que não sabia Onde estás, O que fazes E o que sonhas Nas noites Do teu luar, O que vês Nesses momentos Fugazes Em que olhas Para ti. SONHEI Que já não me lês, Que não ouves A melodia Num lugar
Que não alcanço
Com a minha
Fantasia. NO SONHO, Fui à memória, Que também Perdeu a cor. Ficou tudo A preto e branco E nela já não Te via... ............. Foste embora, Meu amor! SONHANDO, Procurei cor Num outro Lugar qualquer, Mas só encontrei O cinzento E por falta De vermelho Meus versos Tão desbotados Já nem iam Com o vento... “FOSTE EMBORA Para onde Que eu não sei Onde estás?”, Perguntei, Quando do sonho Acordei. SAÍSTE De onde estavas E agora resta O desejo De te cantar Sem palavras Pra que ouças O silêncio Com que antes Me chamavas... MAS NÃO ME CHEGAM Sinais, Vivo num poço Profundo E nele Eu vou caindo (Cada vez mais) Como um triste Vagabundo. O SOL TAMBÉM Já se foi As sombras Tomaram conta De mim, Meus dias São sempre Iguais, Sinto um vazio Sem fim... AH, MAS PINTO, Agora pinto, É hora de Redenção, Tenho cores, Tenho aromas E regressa A emoção, Há flores Por todo o lado, Volto outra vez
A sonhar,
Tenho luz, Tenho um destino E já navego Em alto mar... OH, SIM, Eu tenho tudo, Quase tudo, E retomo O meu caminho... .......... Mas perdi A minha Musa, A fonte D’inspiração. Foi-se embora Com o vento E em meu triste Pensamento Nem me sobrou Ilusão. TENHO TUDO, Talvez tenha, Mas gastaram-se As palavras, Gastou-se tudo, Afinal...
.............. Só ficou o teu Cinzento, A tinta com que Me lavras O peito E me afundas Nesta dor, A que canto Em surdina Para ouvires O silêncio Com que te pinto Sem cor.

“Jardim Espectral”. Detalhe
A CARTA
Por João de Almeida Santos.
Ilustração: “Melancolia”,
JAS2022.
Setembro de 2022.

“Melancolia”. JAS. 09-2022
POEMA – “A CARTA”
DIZEM-ME
Que vagueias
Por aí,
Incerta,
À procura de ti,
Sem saber
Que te vais
Perdendo
Nas rotinas
Inventadas
Dos teus dias.
SENSÍVEL
À incerteza
Do teu caminhar,
Inundei-te
Com rios
De palavras
Quentes e
Sedutoras,
Setas falhadas
Ao coração
Do silêncio
Que te cobre
O rosto
Como véu
Translúcido...
................
Para te resgatar.
SEI QUE VIAJAS
Cada vez mais
Para dentro de ti,
Aninhando-te
Nessa melancolia
Sem fundo
Que sempre
Me cativou.
E DIZEM-ME
Que quanto mais
Te resguardas
Na sombra
De ti mesma
Mais procuras
Ver tudo
Sem ser vista,
Seguindo,
Invisível,
O meu rasto
Desenhado
Com palavras
Ao longe
Na neblina
Que se esfuma
E dilui
Lentamente
No frio
Horizonte
Da Montanha
Sagrada.
E ATÉ O VENTO
Amigo
Que sopra
Lá do alto
Me segreda:
“Curiosa de ti,
Abre
De par em par
As janelas
Das tuas estrofes,
Ar puro
Que respira,
Esse canto
De sereia
Que finge
Não ouvir,
E procura
Decifrar
As tuas ondulações
De alma
No muro
Das lamentações
Poéticas”.
EU SEI BEM
Que te cobres
Com o véu
Escuro
Do silêncio
Para te resguardares
Do olhar
Indiscreto da vida
Sobre ti.
MAS A VIDA,
Meu amor,
É fugaz,
O tempo passa
E deixa marcas
Indeléveis,
Sulcos profundos
Que só o futuro
Desvelará
Porque o passado
Fica inscrito
Num destino
Que só conhecerás
Ao virar
Da esquina da
Tua vida,
Onde só o passado
Brilhará
(Ou não)
Como futuro.
AH, SIM,
O reencontro
Acontecerá
Nesse momento,
Quando eu
Já só for
Um sinal
Impresso,
A branco e negro,
Uma vaga memória
Escrita
Perante teus olhos
Húmidos
De me terem
Perdido
Sem saber
Porquê...
................
Ou simplesmente
Como inútil
Expiação
De um pecado
Que nunca
Aconteceu.
ESTAREI LÁ,
Sim,
Nesse destino
À tua espera
Para te dar
Conforto,
Aninhado
Nas palavras
Que ainda
Não sabes
Declinar,
As mesmas
Em que vou
Viajando,
Invisível,
Por dentro
De ti
À procura
Da eternidade
Possível,
Tua e minha
Salvação
Da voragem
Do tempo.
A OFERTA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: "Fantasia". Original de minha autoria. Setembro de 2022.

“Fantasia”. JAS. 09-2022
POEMA – “A OFERTA”
DESSE ENCONTRO Fatal Em tão cinzento Dia Quis libertar O meu corpo Sem saber se Conseguia... ........... Fui correr Junto à praia À hora da maresia... CORRI, SALTEI Dancei, Respirei Com essa brisa Do mar, Libertei-me Desse aperto Que me ia Sufocar. FIQUEI LIVRE, Mas sozinho, À deriva, Nesse dia, Mas no regresso Da praia Encontrei-te No caminho... ......... Milagres Da fantasia. LOGO TE FIZ Um poema Pois correr Já não chegava, Pus palavras A sorrir Quando a alma Regressava Pra te poder Seduzir. PARTI COM ELA Prà Montanha, Quis trazer-ta Num cabaz... ............ Colhi frutos Lá no alto Guardei-os Todos no peito Pra esse encontro Fugaz Que eu queria O mais perfeito Se disso fosse Capaz. LEMBRAS-TE Dessa cesta E dos frutos que Trazia? Vinham todos Da Montanha, Eram frutos De alegria, Poemas Que derramavam Aromas Em palavras de Embalar E contavam Mil histórias Que te fariam Sorrir... ........... Era oferta Singela De quem te Queria sentir. NA CESTA HAVIA Estrelas Às centenas, Vermelhinhas... .............. Não viste nelas Cintilas Que voavam Tão juntinhas? ERAM MIL CORES E aromas Que desses frutos Brotavam, Colavam-se À minha pele, Mas era por ti Que passavam. MAS PARTISTE Com essa cesta Ao colo, Rápida, Sem me olhar... ............. Não esperava Protocolo (Como sabes), Mas foi grande O meu espanto Desse teu Estranho ar. SÓ À NOITE Me disseste “Obrigada, Meu amigo, Estes frutos Que me deste São belos E tão gostosos, Mas não são O teu abrigo”. PRA ME CURAR Da desfeita E resistir
À tristeza
Fui correr Em poesia, Pois soa sempre Em meus versos, Contraponto
Da frieza,
Uma quente Melodia. LIBERTEI O CORPO Outra vez, Mas a alma (Como vês) Ficou sempre Presa a ti, Ninguém pode Devolver-ma, Mas, assim...
............. Não te perdi.

“Fantasia”. Detalhe
O PAVÃO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Azul no Parque”.
Quadro n.º 1 (2021, 92x123;
não exposto) do
Catálogo da Exposição
“Luz na Montanha”,
aberta ao público até 25.09,
no Centro Cultural de Cascais.
Agosto de 2022.

“Azul no Parque”. Quadro n.º 1 (2021, 92×123; não exposto) do Catálogo da Exposição “Luz na Montanha”, aberta ao público até 25.09, no Centro Cultural de Cascais.
POEMA – “O PAVÃO”
FUI AO PARQUE Do Marechal Logo ao amanhecer (Melancolia De outono) À procura do pavão, Eram muitas As saudades... Já passara mais De um verão. ENCONTREI-O Por ali, Sozinho, Talvez triste Como eu, E vi nele, Ao caminhar, As cores Que sempre Invoco Neste incerto Vaguear. PORQUE É Tão belo O pavão? Soberbo Em sua pose, Captura-me Os sentidos Com a vertigem Da cor E logo sinto
O poder Desse grande
Sedutor. ALTANEIRO, O pavão Fascina-me O olhar Com a beleza Cativante Do solene Caminhar. O SEU PORTE Austero É grave E até quase Marcial, Celebra-se Como filho De arte Viva Sempre em pose Triunfal. SEGUI-O, Nesse dia, Parque fora, No silêncio Luminoso Da manhã...
............. Folhas caídas No chão Acolhiam O nostálgico Passeio Do poeta E do pavão... NESSE JARDIM De remota Evocação A beleza Despontava Em seu ritmo Natural, Passos lentos
E medidos, Desenhados Em perfil, Pose austera, Altivez.... ............. Momentos De um ritual. CAMINHEI COM ELE Horas a fio, Lado a lado, Sem destino, Revendo As cores que Um dia Me emprestou Pra levar À tua arte (Em jogo De sedução) Fragmentos De arco-íris Que derramei No teu chão. JÁ NO ALTO De um muro, Oráculo, Arte pura, Aparição, Perguntei-lhe Qual a cor Da tua alma E ele mostrou-me Esse azul Tão luminoso Onde sempre Se esfumam Os traços Da tua mão... ........ E logo, E por encanto, Eu vi Espelhado O teu rosto Nas cores vivas Do pavão.
A AGUARELA
Poema de João de Almeida Santos
inspirado no poema de
Manuel Bandeira
“Tema e Variações”.
Ilustração: “O Retrato”
(n.º 24; 68x80).
Pintura que integra
a Exposição “Luz na Montanha”,
aberta ao público até 25.09,
no Centro Cultural de Cascais.
Agosto de 2022.

“O Retrato”. JAS. 2022. (n. 24. 68×80). Pintura que integra a Exposição “Luz na Montanha”, aberta ao público até 25 de Setembro, no Centro Cultural de Cascais.
POEMA – “A AGUARELA”
SONHASTE, MANEL,
Que havias sonhado
Estar à janela,
Sonhando a cores
Que estavas com ela.
TAMBÉM EU SONHEI
Que tinha sonhado
E que no sonho
A tinha encontrado,
Passando por ela,
Ali, lado a lado.
MAS LOGO ACORDEI
Do primeiro sonho.
Sonhando, eu vira
O seu belo rosto
Numa aguarela
Pintada a cores
Que tinha guardado
Para uma tela.
SONHEI, OUTRA VEZ,
Que era pintor,
Mas que sempre
Pintava
Esse seu rosto
A uma só cor.
DIZIA, SONHANDO,
Que não podia ser.
De tão expressivo,
Era um arco-íris
Ao amanhecer,
Um belo sorriso
Para o mundo ver.
MAS EU SÓ O VIA
Com a minha cor.
De seda tecido,
Ele me seduzia
No sonho sonhado
Onde sempre a via
Ali, a meu lado.
NÃO QUERIA ACORDAR
Do sonho feliz
E nele fiquei
De olhos fechados
Porque nessa cor
Fiquei enleado
Com todo o meu ser...
................
Talvez por amor.
NO SONHO OLHEI
Para o meu espelho
E logo eu vi
Que essa minha cor
Era o vermelho.
NO ÚLTIMO SONHO
Voltei a sonhar
Que tinha sonhado
Que o encontrei,
Esse rosto amado,
E logo lhe disse,
Neste novo sonho,
Que a tinha sonhado.
DISSE-ME QUE NÃO,
Que nunca me vira
Sequer acordado...
E logo acordei
Desse pesadelo.
Foi assim que vi
Que tinha sonhado
E que ela
Já lá não estava
Ali, a meu lado.
QUIS ADORMECER
Para a encontrar,
Mas não consegui
Sonhar que a via,
Pôr os olhos nela,
Viver o meu sonho
Como alquimia,
Porque, acordado,
Logo descobri
Na minha parede
Aquela aguarela
Que do sonho
Passado
Eu já conhecia...
................
Era o rosto dela.
ESTRANHA ENCRUZILHADA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Rua” (2022; 104x118).
Pintura que integra
a minha Exposição “Luz na Montanha”,
aberta ao público até 25.09, no
Centro Cultural de Cascais.
Agosto de 2022.

“A Rua”. JAS. 2022. 104×118
POEMA – “ESTRANHA ENCRUZILHADA”
CRUZEI-ME CONTIGO
Numa esquina
Da vida,
Nesta rua
Onde inventei
Uma estranha
Despedida.
NÃO TE VI
Como te via
Da janela
Sobranceira
Quando passavas
Na rua
Abraçada
À beleza,
Teu perfeito
Avatar,
Quadro vivo
De ti
Que o tempo
Quis desenhar.
SE TE REVI
(Mas não sei),
Foi numa janela
Vidrada
Que me devolveu
A imagem
Reflectida
Como num espelho
De fada.
E, ASSIM, ESTREMECI.
Pressenti-te
Fugidia,
Nesse acaso
Do destino,
A meu oblíquo
Olhar
Em nova
Encruzilhada
Deste incerto
Caminhar.
DEPOIS SEGUI
Com a alma
Em alvoroço
Essa tua silhueta
Embaciada,
No meio
Da multidão...
...........
Não via bem
O perfil
Por falta
De nitidez
Do meu campo
De visão.
ANÓNIMO
Me assumi
Como essa gente
Comum
Que se cruza
No caminho
Sem jogar
O seu destino
Num encontro
Casual.
QUE ESTRANHA
Sensação,
Caminhar
Lado a lado
Com uma vaga
Silhueta,
Fixado
Num horizonte
Que se esfuma
E desfaz
Como espuma
Em areia
A marcar uma
Fronteira
Traçada
Pelas marés.
ATÉ QUE CHEGUEI
Às palavras
Escritas na água
Da praia
Remexida
Pelo vento,
Derramando
Na areia
Um murmúrio,
Um lamento,
Um poema
Simulado
Para dar voz
Ao poeta
Que sofre
Do seu pecado.
MAS GOSTEI
Do olhar
Oblíquo
Com que te vi
Na janela
De vidros baços,
Fumados,
Apenas imaginando
Que aquela silhueta
Era tua,
Regressada
Dos confins
Dessa remota
Memória
Dos felizes
Desencontros
Que tinha
Na outra rua.
E GOSTEI
Que me visses
Sem olhar,
Pressentindo-me
Apenas,
Anónimo
A seguir o teu
Caminho
Para logo
Se perder
Nas veredas
Do destino.
TUDO TÃO ONDULANTE
E tão normal,
Estranhamente
Banal,
Que até o poema
Espanta
Por cantar
O que nunca
Aconteceu
A não ser
Na fantasia
De quem com ele
Renasceu.
CRUZEI-ME CONTIGO
Ao lusco-fusco
De um estranho
Entardecer,
Numa encruzilhada
Da rua
Que um dia
Inventei
Pra desenhar
O caminho
Onde te ia
Perder.
É A VIDA
De um poeta
Que se alimenta
Da dor.
Se não a sente,
Procura,
Nem que seja
No amor.

“A Rua”. Detalhe
SONHEI-TE, NAQUELA NOITE
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Teus Olhos”.
Pintura em Exposição
no Centro Cultural de Cascais,
nº. 14, 66x89, 2022.
Original de minha autoria.
Agosto de 2022

“Teus Olhos”. JAS – 2022 – 66×89. N.º 14 em exposição no CCC.
POEMA – “SONHEI-TE, NAQUELA NOITE”
SONHEI-TE,
Naquela noite.
Atravessava o deserto,
Há muito,
Sem nada no horizonte,
Areia, só areia
No meio
Do meu caminho
E uma neblina quente,
Lá ao fundo,
Na fronteira
De quem o percorre
Sozinho.
NEM SABIA
Se na longa
Caminhada
Encontraria
Um oásis
E uma fonte
De água pura
Onde molhar
Os lábios e a alma
Já gretados
De tanta aridez
E secura.
MAS HOJE VOLTEI
A sonhar-te.
Passara essa fronteira
E encontrara
O oásis...
...............
Nas pupilas
Dos teus olhos.
SACIEI-ME EM TI,
Sereno
Como nunca
Estivera
Desde que te conheci.
Ofereci-te
A história
De papel
Onde te conto
E me conto
À exaustão,
No limiar
Do impossível
E dessa insólita
Paixão,
Com réstia
De esperança
De não ter de
Regressar
À torreira
Do deserto,
A essa cáustica
Erosão.
FALÁMOS DE ARTE
(Imagina),
Do seu poder
Curativo,
De como a vida
Se lê
E resolve
Quando é forte
O motivo.
ABANDONEI-ME
Nos teus braços
Irreais,
Perdi-me
Em misteriosos
Sinais
E em quentes
Memórias
De ternura
E caminhámos
Sobre nuvens
De cintilante
Alvura.
SONHEI-TE
Esta noite.
E, sabes?
Acordei de ti
Embriagado
De felicidade,
Uma doce
Tontura
Com sabor
A liberdade.
HABITUEI-ME
A estar contigo
Em sonho,
A dizer-te
Em poemas,
A interpelar-te
De longe,
A ouvir o teu eco
Ressoar-me
Na alma,
Melodia
Do amanhecer.
APRENDI
A ouvir
O teu silêncio,
Essa fronteira
Inultrapassável
A não ser
Pelo vento
Que passa
E te cicia os
Meus poéticos
Murmúrios.
TENHO-TE
Em mim
E já nem sei
O que seria
Encontrar-te
Fora do meu
Íntimo,
Olhar de perto
Esses teus olhos
Profundos
E cintilantes,
Embriagar-me
(Já de partida)
Com teu perfume
E naufragar
Nesse mar
Insondável
Da tua vida.
TALVEZ TE PERDESSE,
Nesse instante,
Por excesso de ti.
Mas não quero
Perder-te,
Sentir de novo
O que nesse dia
Tão cinzento
Eu já senti.

“Teus Olhos”. Detalhe.
TEMPO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Perfil de Mulher”, 2022, 94X114. Pintura em exposição no Centro Cultural de Cascais até 25 de Setembro. Original de minha autoria. Julho de 2022.

“Perfil de Mulher”. JAS. 2022. 94×114. Pintura em exposição no Centro Cultural de Cascais.
POEMA – “TEMPO”
É TEMPO DE RECOMEÇO
Ao olhar
O teu perfil?
O que ontem
Eu já era
É o que hoje eu sou,
O afecto
Pediu tempo,
Mas o tempo resistiu
Ao que a vontade
Tentou.
É tempo
De recomeço
Quando o tempo
Não passou?
EM CADA MOMENTO
Procuro
O tempo
Que, no passado,
Eu, poeta,
Não cumpri
Porque sempre
Reinvento
Tudo aquilo
Que perdi,
Num poema
Ou em pintura
Para saber
Quem eu sou
Antes de lá
Me perder,
Nos lugares
Pra onde vou.
ENTRE O HOJE
E o ontem
Há algo
Que já mudou?
Fui ao baú
Das memórias
E vi logo
O que sobrou:
A imagem
Bem precisa
Desse tempo
Que passou.
TUDO MUDA
Amanhã,
Quando, tenso,
Eu passar
Na curva
Do teu caminho?
Encontro o que antes
Nunca vi?
Mulher com futuro
No olhar
E que sempre
Me sorri,
A repetir com carinho
Um terno
E tão antigo “Olá!”,
Cabelos negros
Ao vento,
Corpo esguio
Em movimento,
Resolvendo um passado
Que nunca mais
Voltará?
NÃO, TEUS OLHOS
São uma janela
Fechada,
O tempo
Passa por ti
Sem destino,
É ritmo
Sem melodia,
Caminho
Sem fim
À vista
Que percorro
Dia-a-dia
Na vertigem
De um passado
Que cedo
Cristalizou,
Mais tristeza
Que alegria
Como peso
Do meu fado
Só liberto em
Poesia
Do tempo que
Não passou.
E TEM TEMPO,
A poesia?
Talvez tenha
(Eu não sei),
Com ela voo
No céu,
Sem limites
Nem fronteiras,
Num tempo que é
Só meu.
AH, SIM,
A poesia tem tempo,
É tempo de salvação,
Perdi-te,
Mas eu não queria
Passado
De negação.
É TEMPO
De recomeço?
Sopra vento
De feição?
Sou feliz em poesia
Pois escrevo
O meu poema
Na pauta
De uma canção.
NÃO É O TEMPO
Que salva,
Mas as palavras
Que digo
Enquanto fores
Alimento
Desta minha
Inspiração
Porque é assim
Que te canto:
Da dor
Sai alegria
Que cura
Da solidão.
EXPOSIÇÃO DE JOÃO DE ALMEIDA SANTOS
Inauguração a 23.07
CENTRO CULTURAL DE CASCAIS
De 23.07 a 25.09.2022

“O TERRAÇO” em observação
FOI ONTEM, 23 de Julho, entre as 18:00 e as 20:00, a inauguração da minha Exposição individual “Luz na Montanha”, no Centro Cultural de Cascais. Presentes cerca de 70 amigos que quiseram partilhar este momento comigo. O meu obrigado a todos. Tive oportunidade de dirigir algumas palavras aos presentes e de ler o poema “A Janela” junto do quadro com o mesmo nome, dando assim testemunho directo da íntima conexão entre a poesia e a pintura.
QUERO AGRADECER publicamente ao Senhor Presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, ao Senhor Presidente do Conselho Directivo da Fundação D. Luís, Prof. Salvato Teles de Menezes, e à Senhora Coordenadora do CCC, Arquitecta Isabel de Alvarenga, a oportunidade de realizar, no prestigiado Centro Cultural de Cascais, esta minha Exposição. Estando o meu trabalho plástico intimamente ligado à poesia, entendeu-se fazer também a apresentação do meu livro de poesia (João de Almeida Santos, Poesia, Lisboa, Buy The Book, 2021) durante a Exposição, precisamente um dia antes do encerramento, ou seja, no dia 24 de Setembro. A apresentação será feita pela Professora Annabela Rita, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
ESTA EXPOSIÇÃO representa o ponto de chegada de um longo processo de trabalho diário dedicado à poesia e à pintura, que foi sendo divulgado através do meu site todos os Domingos e durante anos, sem interrupção.
A MINHA PROPOSTA consolidou-se como exercício de convergência entre a poesia e a pintura, onde o ponto de partida da pintura é a própria poesia. Adoptei a sinestesia, ou seja, a convergência de duas artes em torno de um tema ou de uma história, de forma sistemática, e assim fui caminhando até chegar aqui, a esta primeira Exposição, e à publicação de um livro de poesia, que exibe algumas (14) ilustrações demonstrativas da profunda relação entre a poesia e a pintura. O livro também está em exposição na segunda sala, 3 exemplares, numa vitrine, e também é consultável num volume disponibilizado para tal. Na verdade, a cada quadro (32, visto que os programados 37 seriam excessivos para o espaço disponível) corresponde um poema.
TODOS OS QUADROS expostos podem ser adquiridos, à excepção dos números 20 (“Março”), 30 (“Ketrof”, exposto só no catalogo), 35 (“Romã”) e 37 (“Magia”). A Exposição tem um Catálogo – que contém um texto do Prof. Salvato Teles de Menezes, dois textos meus sobre a minha pintura e a reprodução de 37 quadros – que pode ser adquirido no Centro Cultural de Cascais (valor: 7 euros).
PUBLICO AQUI várias fotografias do evento. Outras se seguirão durante o dia de hoje. Fotos de Ronald van Middendorp.

Durante a minha intervenção na abertura da Exposição.

Outro momento da minha intervenção, dirigindo-me à Senhora Arquitecta Isabel de Alvarenga, Coordenadora do CCC

Chegada à Exposição

Comentando “Teus Olhos” com uma Amiga

Quadros na Sala 1: “Pasárgada”, “Luz na Montanha”, “Rua do meu Jardim”, “Pasárgada II”, “A Montanha Encantada” e “Deusa das Camélias”

Texto “Sinestesia”, entre as Salas 1 e 2, e quadro “Pasárgada”

“Perfil de Mulher”

“Teu Olhar”.

O Autor

“Paraíso”

“O Desejo”

Fachada do CCC com o Cartaz da Exposição “Luz na Montanha”
#Jas@07-2022
EXPOSIÇÃO DE JOÃO DE ALMEIDA SANTOS
Centro Cultural de Cascais
23 de Julho - 25 de Setembro
Inauguração: 23.07, 18:00

CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO – CAPA
SINESTESIA
“LUZ NA MONTANHA” é o título desta minha Exposição. É o título de um quadro que a integra, mas é também uma alusão ao ambiente natural que me inspira na pintura e na poesia.
Em exposição estarão as 37 obras aqui reproduzidas e que foram criadas em diálogo com a poesia. Elas são, pois, parte do processo sinestésico que adoptei na experiência estética.
Com riscos e cores, procuro dar forma plástica ao discurso poético e à matéria de que se alimenta: esse fluxo torrencial de pulsões existenciais que interpelam, estimulam e desafiam o poeta. A pintura continua o discurso poético por outros meios que, depois, seguem a sua própria gramática. Trata-se de paisagens interiores, pintadas, num primeiro andamento, com palavras em registo melódico, mas, depois, recriadas e figuradas em expressão cromática quente e intensa.
Uma dialéctica que torna a experiência estética mais rica e complexa, mas ao mesmo tempo mais leve e sedutora. Fragmentos cromáticos de um originário discurso poético que o projectam para fora de si e o oferecem ao olhar no interior de uma nova gramática. Como um magnetismo que atrai a palavra e a converte em cor, propondo-a, já transfigurada, ao olhar de quem frui.
O processo sinestésico permite, depois, um novo regresso ao poema, já com a alma cheia de cor, banhando e iluminando os versos e as estrofes com o brilho cromático das pinturas. E assim se sobe a um novo patamar a partir do qual se inunda de sentido a pintura.
Na verdade, nem a pintura ilustra o poema nem o poema descreve a pintura, mas ambos dão origem a um diálogo virtuoso que se eleva dialecticamente, através da sinestesia, em planos superiores mais complexos e exigentes. A densidade do poema é convertida em leveza na pintura e a leveza da pintura é densificada pela semântica poética.
É isto que eu pretendo, independentemente da interpelação e do chamamento a que ambas as artes estão necessariamente votadas. Se ambas respondem, na sua génese, a um originário impulso dionisíaco, para o dizer com Nietzsche, elas também têm como vocação a interpelação, procurando seduzir e chamar à experiência estética os que se cruzam com elas.
No essencial, foram estas as razões que me moveram nas 37 propostas que exponho.
João de Almeida Santos
ENCANTAMENTO
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “La Diseuse” Original de minha autoria Julho de 2022

“La Diseuse”. JAS. 07-2022
POEMA – “ENCANTAMENTO”
SÃO ECOS Da tua alma Estas cores Intensas Com que te Pintas E te revelas Nestes dias De tão incerto Encantamento. CONVIDAS-ME A ler-te Nas cores Quentes Com que Teus olhos E tua boca Me convocam
E aguardas, Expectante, Que pinte A tua alma Com a devoção De poeta De alma Errante E com palavras Ambiguamente Certeiras Que saiam Do fundo Desta timidez Em sobressalto Que eu, Inseguro, Sinto Cada vez que Te vejo Lá no alto. SÃO CASTANHOS Os teus cabelos, Mas a tua alma, A que eu leio Em teu rosto, Está impressa Como coroa De cor Efémera, A das giestas Floridas Na primavera Dos nossos Fugazes Reencontros. A TUA BOCA Sensual, Lábios Ao rubro, Carnal, Oferece-se Ao beijo Das minhas Palavras Nestes poemas Lançados Ao vento... ÉS BELA Como eles, Estes dias Do eterno retorno Em que me Deixas Abraçar-te Com palavras De ousado Desafio No meu regresso A ti, Ó deusa Tão ausente Do meu viver. MAS EU VEJO No reencontro Feliz Uma leve Tristeza Que em teu Rosto Aflora Em contido Espanto, Nessa hora Em que te sinto Quase como Choro De não te ter. É OLHAR Que roga, Boca suspensa Da pergunta Que não ousa Sair sequer Como murmúrio De teus lábios... AH, ENTÃO, Pergunta, Sim, pergunta, Pra que eu Te diga, Cá de longe, Sem hesitar, As minhas Certezas Sobre ti Sob o fascínio Desse teu Cintilante Olhar. E DIR-TE-EI Que os astros (Sim, os astros) Estão alinhados Sobre nós, Suspensos De teus riscos e Das minhas palavras, Das nossas cores, Dos sinais que, Como sóis, Iluminam, Ardentes, A nossa vereda Tão estreita Sobre o precipício Fatal Da arte. POR ISSO, Com o poema Te seguirei Mesmo que Um dia (Que nunca virá) Se esfumem No horizonte As tuas cores E te perca ali, Na rua Do desencontro, Onde eu Te conheci, E meu rosto Escureça Sob as negras Nuvens Dos destinos Não cumpridos. MESMO ASSIM, Continuarei Em busca Dos mil rostos Da tua Metamorfose, Essa que sinto E pressinto Como beleza Oferecida No teu olhar Cintilante, Na tua boca Suspensa De tanta Incerteza Nesse imenso mar Onde se ouve O canto Das sereias. PROCURAREI Então, Mais rostos, Mais cor, Mais riscos, Com dor, Usarei palavras, Sinais, Desenhar-te-ei Cada vez mais, Com meus poemas Irei ao cais Ao pé do rio Saber se vais À outra margem Da nossa vida... ............. Talvez cantar, Nem sei Que mais... TANTO BRILHO No teu olhar, Ó deusa Do meu destino, Sempre a navegar...
A PINTORA
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Olhar” Original de minha autoria Julho de 2022

“Olhar”. JAS. 07-2022
POEMA – “A PINTORA”
QUANDO TE VEJO, Vejo-te a cores, Sinto aromas, Provo sabores Na fantasia E vejo traços E tantas fugas Pró infinito Nos sete céus Dessa magia... .............. E eu respondo Sobre o que sinto Se me perguntas: - Epifania! AO LONGE, O horizonte Do teu olhar Aqui ao perto Uma ponte Desenhada Que me leva Ao pé de ti Quando o rio Me transborda E eu sinto Que me perdi. QUANDO TE VEJO, Eu vejo ruas, Eu vejo praças E catedrais, Vejo figuras A levitar, Vejo vitrais E vejo sóis Em refracção Que aquecem A minha alma Quando me olhas E estremeço De emoção. VEJO TEU ROSTO, Vejo-te a ti Nesses poemas Que escrevi, Sentir-te perto É o desejo, Ver o teu céu No horizonte, A utopia... ......... E eu ando É por aqui Sempre à procura Da tua doce Companhia. VEJO MONTANHAS E vejo cores A brilhar No horizonte, Eu vejo casas Nesses vales E esses rios Por onde corre A água pura Com que eu rego O meu jardim Pra que germinem Os meus poemas E te desenhe Só para mim. SINTO NO AR O teu perfume Cabelos soltos A esvoaçar E sinto o vento Nesse teu rosto E altas vagas No nosso mar Mesmo que chegues Já no sol-posto Com o teu barco A navegar Nesse horizonte Onde se perde O meu olhar. EU VEJO TELAS E teus pincéis Eu vejo tinta Na tua mão, Vejo-te a ti, Doce pintora, Tão concentrada Em mil desenhos Em construção. VEJO QUADROS E vejo letras, Nessa pintura Vejo sinais E sou feliz De assim te ver Porque te vejo Neste pontão Do nosso cais... ............ E tudo isso É o que vejo E o que basta Pois não preciso De muito mais. EU VEJO TUDO (A deusa ajuda), Mas não te vendo É grande a dor... Vem ter comigo A este rio Passar a ponte Pro outro lado Dar-me a mão E um sorriso, Fazer de mim Um desejado Mesmo sem teres A tua ponte Bela e leve Já desenhado. EU VEJO TUDO, É uma certeza, Mas faz-me falta O teu sorriso... ............... Mesmo que minta Nada mais quero Pois é só disso Que eu preciso.
O BEIJO
Poema de João De Almeida Santos.
Ilustração: "O Beijo". Original
de minha autoria para este poema.
Dia Internacional do Beijo -
- Seis de Julho, dia que celebro,
com um poema, todos os anos.
Inspirado em "Lotte in Weimar"
(1939), de "Thomas Mann, a obra
que continuou "Werther" (1774),
de Goethe, e no meu romance
"Via dei Portoghesi".

“O Beijo”. JAS. 07-2022
LEITMOTIV
“O amor é o melhor na vida, assim,
no amor, o melhor é o beijo –
Poesia do amor...”. “Beijo
é alegria, procriação é luxúria”
Thomas Mann
Inspirado também em:
“Os beijos escritos
não chegam ao destino,
mas são bebidos pelos
fantasmas ao longo
do trajecto”
Kafka
“Se para te beijar devesse,
depois, ir para o inferno,
fá-lo-ia. Assim, poderia
vangloriar-me, com os diabos,
de ter visto o paraíso
sem nunca lá ter entrado”
Shakespeare
“O primeiro beijo não é dado
com a boca, mas com os olhos”
Bernhardt
POEMA – O BEIJO
BEIJO FOI
O que nunca
Te dei
A não ser
Com o olhar,
O primeiro,
Esse beijo,
Dei-to, pois,
Sem te tocar.
E DEI-TE MAIS,
Com palavras,
Quando olhar
Já não podia...
............
Foste embora
Para longe
E eu, triste,
Não te via.
FORAM BEIJOS
Que sonhei
Na rotina
Dos meus dias
E desejos
Que enfrentei
Quando tu mais
Me fugias.
MAS DOU-TE BEIJOS
Escritos
Que se perdem
No caminho
E se o poema
Me falta
Fico ainda mais
Sozinho.
O BEIJO
É emoção,
É razão
Descontrolada,
Se não for dado
A tempo
Pouco mais
Será que nada.
SEM BEIJO
Não há amor,
Sem amor
Perde-se o beijo,
A vida perde
Sentido
Se me faltar
O desejo
De na alma
Te beijar
Por assim te ter
Perdido.
AQUI O LANÇO
Ao vento
Pra que atinja
Como brisa
E suave melodia
Esse rosto
Que precisa
De afecto
Em poesia.
ESSE BEIJO
Que me falta,
De que nunca
Fui capaz,
Voa pra ti
Em palavras
Na sua forma
Mais pura
Para que
Em seu trajecto
Voe, voe
A grande altura...
.............
Que fantasmas
Não o bebam
Enquanto
Seu voo dura.
MAS SEI
Dos escolhos
Da via,
Dos perigos
Que ele corre,
Capturado
Por fantasmas
É mensagem
Que me morre.
NO DIA DO BEIJO
É hora
De te cantar
Em voz alta
A poética do amor
Pra me redimir
Dessa falta
Com palavras
De poeta
Desenhadas
Para ti
Com mestria
De pintor.
E PORQUE O DIA
É teu
Ganha força,
Intensidade,
Mesmo que fantasmas
O bebam
É um beijo
De verdade.
O BEIJO
Que não te dei
Foi pecado
Original,
Hei-de sofrê-lo
Pra sempre
Como chaga
Corporal.
NÃO HÁ PALAVRAS
Que bastem
Pra repor
O que não dei,
Elas voam,
Mas não chegam,
E mesmo assim
Eu tentei.
É CERTO QUE SEMPRE
O quis,
Só que nunca
To roubei,
A culpa foi
Desse tempo,
Dos dias em que
Te amei,
Um tempo
Em diferido
Sem presente
Nem futuro,
Talvez beijo
Sem sentido
Porque queria
Do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas
Do Paraíso,
Um beijo
De divindade,
Mas simples
Como um sorriso.
ESSE BEIJO
Impossível
Que não é do
Foro humano
Vou tentando
Construí-lo
Cada dia,
Cada ano,
Perdendo-me
Pelo caminho
Como sagrado
Em profano.
SEM REMÉDIO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Afrodite”. Original de minha autoria. Julho de 2022.

“Afrodite”. Jas. 07-2022
POEMA – “SEM REMÉDIO”
“VOU TOMAR OS MEUS REMÉDIOS...” .............. Palavras De antigamente Que ela gostava De usar Quando se via Doente Com maleitas Que não tinha, Em que não acreditava, Mas que a ele Muito doíam Sempre que delas Falava. NÃO ERAM SUAS As maleitas Que exibia, Fingindo ser Alma gémea De quem com elas Sofria. ENTRE UMA COISA E OUTRA Era assim Que ele a via, Aprendera A sofrê-la, Lentamente, Cada dia, Como se as dores Fossem dele Num jogo De aparência Com sabor A fantasia, Porque assim era Feliz, Regressava À inocência Quando nela Se perdia. INOCÊNCIA Que perdera Um dia na sua vida, Vira a ternura Morrer Num olhar De despedida. PRECONCEITO E submissão Mataram O que nascia, Transformando Em solidão A beleza De um dia. SOLIDÃO TRISTE, Quase eterna, Que nunca mais O largou, Sem remédios Para ela Quase, quase Sufocou... CAMINHA AGORA EM TRISTEZA Com passo lento E pesado, Transportando O mundo às costas Como fardo De pecado, Mas tenta sempre Vencê-la Com as palavras Que tem, Versos, rimas, Sons e letras Que o vento leva Consigo... ............. Para a terra De ninguém. NÃO PODE Nem quer dizê-la Essa dor Que o devora, Prefere, pois, Combatê-la Com as palavras De outrora...
"VOU TOMAR
OS MEUS REMÉDIOS..."
Saudades de a
Ouvir,
Vontade
De a encontrar Pra nunca mais A perder, Contemplar Seus olhos Negros, Ser feliz Só de a ver, De a ter Por companhia Nem que seja Em aguarela Que pinte Em cada dia. BOCA, OLHOS, CABELOS, Esse rosto que Não esquece, Imagem De uma mulher Que, ausente, O entristece Até ao fundo Da alma... ....... Solidão, Melancolia, Dessa dor Ninguém o salva, Vai sofrê-la Noite e dia. ERA ASSIM QUE A SENTIA, Esse alguém que O não amou E que sempre Lhe fugia Embora fingisse Que não Por saber Que lhe doía. MAS FOI ELE Que lhe mentiu Quando lhe disse Em vão Que já não queria Vê-la, Não a ter ali Por perto, Estar sempre longe Dela, Coração A descoberto, Não lhe ficar Amarrado, Inventando Outra mulher Com quem ir A todo o lado. MAS ERA FOGO De vista, Vontade De a esquecer, Divagava Em palavras Pra deixar De a sofrer. A OUTRA NÃO A sentia, Era coisa De momento, Sem grande Profundidade...
.............. O que mais ele Queria dela Era só Cumplicidade. MAS ERA FUGAZ Momento, Depressa ela O cercava, Capturando-lhe O alento Sempre que a Encontrava.
E FICAVA SUBMISSO, Vergado Ao que dizia, Nela só via Verdade Mesmo quando Lhe mentia. "VOU TOMAR OS MEUS REMÉDIOS”, Era a sua Melodia E ele ficava Dorido Com maleitas Que não via, Mas até disso Gostava, Era prazer Negativo Sentir-se Tão perto dela Mesmo sem haver Motivo. “VOU TOMAR OS MEUS REMÉDIOS...” E ele não se Importava Porque a sentia Doente Mesmo quando Não estava. E ASSIM Ia vivendo, Sofrendo Em cada dia. Não sabia O que fazer... .............. Só sabia O que sentia.
“LUZ NA MONTANHA”
Exposição individual de JOÃO DE ALMEIDA SANTOS
FUNDAÇÃO D. LUÍS CENTRO CULTURAL DE CASCAIS Aven. Rei Humberto II de Itália 2550-642 Cascais Inauguração a 23 de Julho, às 18:30. A Exposição estará aberta ao público até ao dia 25 de Setembro de 2022 e mostra 37 obras do Autor.

JAS, “Evocação de uma Magnólia”, 2021. Imagem da capa do Catálogo, disponível em breve.
“LUZ NA MONTANHA” é o título de uma minha Exposição individual que a Fundação D. Luís/Centro Cultural de Cascais acolhe e promove entre 23 de Julho e 25 de Setembro de 2022. O título é o de um quadro que integra a Exposição, mas é também uma alusão ao ambiente natural que me inspira na pintura e na poesia.
Em exposição estarão 37 obras de média dimensão que foram criadas em diálogo permanente com a poesia. Elas são, pois, parte do processo sinestésico que adoptei na experiência estética. Com riscos e cores, procuro dar forma plástica ao discurso poético e à matéria de que se alimenta: esse fluxo torrencial de pulsões existenciais que interpelam, estimulam e desafiam o poeta. Como se a pintura continuasse o discurso poético por outros meios, que, depois, seguem a sua própria gramática. Trata-se de paisagens interiores, pintadas, num primeiro andamento, com palavras em registo melódico, mas, depois, recriadas e figuradas fisicamente em vibração cromática quente e intensa. Uma dialéctica que torna a experiência estética mais rica e complexa, mas ao mesmo tempo mais leve e sedutora. Fragmentos cromáticos de um originário discurso poético, poder-se-ia dizer, mas que não ficam confinados no seu interior porque o projectam para fora de si e o oferecem fisicamente ao olhar no interior de uma nova gramática. Como um magnetismo que atrai a palavra e a converte alegremente em cor e em riscos, oferecendo-a, já transfigurada, ao olhar de quem frui. O processo sinestésico permite, depois, um novo regresso ao poema, já com a alma cheia de cor, banhando e iluminando os versos e as estrofes com o brilho cromático das pinturas. E assim se sobe a um novo patamar a partir do qual também se inunda de sentido a pintura. Na verdade, nem a pintura ilustra o poema nem o poema descreve a pintura, mas ambos dão origem a um diálogo virtuoso que se eleva dialecticamente, através da sinestesia, em planos mais complexos e exigentes. A densidade do poema é convertida em leveza na pintura e a leveza da pintura é densificada pela semântica poética. É isto que eu pretendo, independentemente da interpelação e do chamamento a que ambas as artes estão necessariamente votadas. Se ambas respondem, na sua génese, a um originário impulso dionisíaco, para o dizer com Nietzsche, elas também têm como vocação a interpelação, procurando seduzir e chamar à experiência estética os que se cruzam com elas. No essencial, é isto que me move nas minhas propostas.
João de Almeida Santos
NA BRUMA DA MEMÓRIA
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Magia”
Original de minha autoria
Junho de 2021

“Magia”. Jas. 06-2022
POEMA – “NA BRUMA DA MEMÓRIA”
QUERIA LEVAR-TE
Uma rosa
Branca
Aos sete céus
Do meu afecto,
Desci fundo
Na memória
Onde ainda te
Guardava
Como se fosse
Teu tecto.
PROCUREI-TE
Na bruma
Espessa
Que caía
Sobre mim
E quase não te
Encontrei,
O tempo gastara
O passado,
Ficou uma saudade
Sem fim.
PERDERA-TE
O rasto
E o perfil,
Até teu nome
Perdeu cor,
Teu olhar
Só luzia
Intermitente
Numa neblina
De dor.
NO MEIO DA NEBLINA
Esfumava-se
O teu rosto
De tanto eu
Te perder,
Era incerto
O cintilar
De teus olhos
Na vontade
De te ver.
ERAS BRUMA
Indefinida
Nos sete céus
Onde te quis
Encontrar,
Mas sobraste
Como imagem...
..............
A que eu soube
Desenhar.
PERDI-TE A VOZ
E a tua
Melodia,
Quase tudo,
Meu amor...
...............
Ah, mas, no fim,
Não te perdia...
Ficou-me de ti
O sabor.
PORQUE JÁ ERAS
Imagem
Que me sobrou
Desse afecto
Que por ti
Sempre senti,
Construção
De arquitecto
Para nunca
Te perder
Desde o dia
Em que te vi.
E VOLTEI
(Eu volto sempre),
É desejo
De te ver,
Dar-te corpo
Nas palavras
Com que te quero
Dizer
Ainda que
Do poema
E dos céus
Do meu afecto
Acabe por
Te perder.
AGORA, DESENHO-TE
Com palavras e
Com cores,
Com paisagens
Que tenho dentro
De mim,
Com rostos,
Com aromas
E flores
Deste bendito
Jardim,
Um passeio
Com pavões,
Uma delicada
Utopia,
Gritos de alma,
Emoções..
...............
Pra te recriar
Com magia
E contigo
Caminhar
No alto
Da fantasia
Onde vive
Essa imagem
Que desejo
Encontrar.
VOO, POIS,
Com uma rosa,
Vestido como
Arcanjo,
Pra te ver
Ali ao perto,
Olhos negros,
Cintilantes,
Mas um pouco fugidios
Ao jogo da sedução
Numa noite
De luar...
............
Ou talvez
De perdição.
É UMA ROSA
De brancura
Transparente
Pra que sintas
Lá bem alto
O aroma
Desta minha fantasia.
Talvez assim
Te encontre
Envolta na neblina
Que nunca
Se dissipou
(Mas agora
Cristalina)
Desde aquele
Incerto dia
Em que o nosso
Olhar se cruzou.

“Magia”. Detalhe
MEMÓRIA
Poema de João de Almeida Santos Ilustração - "Magia" Original de minha autoria Junho de 2022

“Magia”. Jas. 06-2022
POEMA – “MEMÓRIA”
FUI AO BAÚ Das memórias De mais intenso Afecto, Voando em Fantasia Pra te escrever Um poema Com arte De vate inspirado Por poética Magia. ENCONTREI Teu rosto Triste (Mas cativante) E quis enganar A saudade Num jogo De sedução Como se fosses A deusa Das cidades Que invento Em cada minha Canção. NESSE DIA Em que te vi Na fita Da minha memória Quis trazer-te Ao luminoso Mundo da arte, Caminho De liberdade, Utopia de quem Parte Em busca Do tempo perdido. ERA TRISTE, Mas era belo Esse teu rosto. Desenhei-o Em tensão, Cravei palavras E cores No meu peito, Lentamente, Com a mão, Centrei-as No lado esquerdo, Onde bate A emoção, Mas quando Me olhei Ao espelho... ............ O que vi foi Solidão. PEDI AJUDA Ao vento Que levasse O meu poema Até à tua janela Pra te lembrar O que sinto... ................ Que ele pousasse Nela Como se fosse O destino A bater À tua porta... E OUVISTE A melodia Que soava Para ti Pois logo vieste À janela A recolher As palavras Que o vento Te levou E eu senti Que renascia Na fita Da tua memória... .............. Quando o vento Regressou.
EM CERTOS DIAS…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Beija-Flor em Magnólia Branca”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2022.

“Beija-Flor em Magnólia Branca”. JAS. 06-2022
POEMA – “EM CERTOS DIAS…”
EM CERTOS DIAS, Teu macio rosto De veludo Alterna Entre suave doçura e Vincos marcados Como sulcos, Aspereza de Sensualidade Sustida À flor da pele Para que não Transbordes Em excesso De ti. COMO SE FOSSES DUAS MULHERES, As faces de Janus, Decidida E evasiva, Passado e futuro, Espartilho Que quase anula O teu fértil Húmus anímico Que remotamente Te inspira, Desde a raiz. MAS TU ÉS UMA SÓ, Aquela que Ficou Sentada Na soleira da tua Alma Quando, em solidão, Saíste, decidida, Para a rua Da tua vida À conquista Do mundo... ACORDA, MULHER, Vai à procura De ti Na fronteira Do teu destino, Olha o mundo Da janela, Mas sai Pela porta da tua Alma De braço dado Com o sol que Tantas vezes Te ilumina O olhar Com as cores Do arco-íris. HÁ TANTAS MAGNÓLIAS (Como tu) No meio do caminho Da tua vida Que basta olhá-las Pra que ela Te sorria. AH, NÃO SABES Quanta metafísica Há numa magnólia Branca! Fala-lhe com os teus Olhos, Acende-a com Teu sopro quente, Acaricia-a com Mãos macias E verás que ela Te apontará o caminho Do reencontro Contigo Na brancura De suas pétalas. E VERÁS TAMBÉM Que tu vives (Como eu) Num intervalo entre ti E o mundo De onde te podes Reconhecer No regresso À tua soleira vital, Para repartires Aconchegada, Contigo no regaço. NA FRONTEIRA - Sabias? - Vemos melhor Para dentro e para fora De nós, Vemos Os demónios E os anjos... VÁ, CANTA A VIDA Com teus olhos, Demora-te um pouco Na janela sobranceira Do teu íntimo A ver passar Aquela que já Não queres ser Porque apaga O rasto do teu Acontecer... .................... E sai com o vento Pela porta do Teu destino. E VAI AO JARDIM Falar com as magnólias E come chocolates E canta E dança E grita se for preciso Até que o eco Te devolva Identidade E teus olhos Se cubram Daquele verde Que nasce nas Encostas, Nos verões Das nossas vidas, Quando o sol Já brilha no horizonte... MAS BRILHA? - Perguntarás. E eu digo-te Que sim Se o brilho Se acender também No teu inquieto Olhar!

“Beija-Flor em Magnólia Branca”. Detalhe.
O BENFEITOR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Um Homem das Arábias”.
Original de minha autoria
para este poema. Junho de 2022.

“Um Homem das Arábias”. JAS. 06-2022
POEMA – “O BENFEITOR”
COMO TE VEJO,
Ó benfeitor,
Filho dilecto
Da tua Ilha,
Nosso Jardim.
Há mil quadros,
Rara beleza,
Espelhos do teu
Amor,
Todos pra mim,
Aqui tão perto,
À minha beira.
Sinto-me rico
De tanta cor
No ouro luzente
Das molduras
De Madeira.
COMO TE SINTO,
Meu benfeitor,
Sempre de negro,
Artista grande
Que nem Dali,
Noites d’Inverno
Onde o preto
É a beleza
E o dinheiro
(Que foi pra ti)
O meu Inferno.
VERMELHO E NEGRO,
Como Stendhal
Ou Julião
(Tens o Sarmento...)
A palpitar
Do coração
(Sem um lamento).
A TUA VIDA
É um Natal,
Com tantas prendas
Dos teus banqueiros,
Mas a minha
É tempestade
Com aguaceiros,
Sempre a pagar...
..........
É natural.
DA ARTE TU ÉS
O Mago,
A colecção
Vai aumentar,
Banqueiro dá,
Finge
Qu'empresta,
É aos milhões,
Mas logo chega
O meu castigo...
..............
É sempre assim,
Sempre a cobrar
(Põe-me mendigo)
O que pra ti
São só tostões.
EU GOSTO D’ARTE
Da que eu faço,
Sem a vender
Nem a comprar,
Mas vou ao banco
(Vou muitas vezes),
Acerto o passo,
Eu tenho contas
Para pagar.
O MEU PAÍS
É muito culto,
Jeff Koons,
Lucio Fontana,
Henri Michaux,
Mas no balcão
(Não sei porquê)
O meu banqueiro
É um sacana...
................
Foi sempre assim,
Vem do avô.
ANSELM KIEFER,
Gerhard Richter.
Frank Stella...
É muito bom!
Pois tem de ser.
Se o banqueiro
Olha pra ela
(Prà colecção),
Fica pasmado
Com tanta arte
E dá-lhe tudo
Por gratidão.
E DUBUFFET,
Não gostas dele,
Ó fruidor?
Piero Manzoni,
George Segal,
Chamberlain,
Morris Louis...
É a beleza
Da colecção
Feita pra ti.
Não percebeste?
Chegas e vês
Gostas e pagas,
És devedor.
Não rogues, pois,
Crente da arte,
As tuas pragas
Ao benfeitor.
GOSTO DE TI,
Da tua arte,
Ficou humana
A nossa banca,
Mas sem milhões.
Que nos importa?
Temos beleza,
Temos amor
Temos as contas
Aos trambolhões,
Temos-te a ti,
Tão generoso...
.................
São os banqueiros
Os aldabrões.
MAS QUE M’IMPORTA,
Ó benfeitor,
Fizeste bem
Mais uma vez,
Pois ajudaste
Os teus banqueiros...
..............
Tinham excesso
De liquidez.
GERALD LAING,
Alain Jacquet
Pauline Boty...
...............
Bem acertaste,
Ó benfeitor,
A liquidez
Ficou pra ti.
ENLACE
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração - “Pasárgada”
Original de minha autoria
Junho de 2022

“Pasárgada”. Jas. 06-2022
POEMA – “ENLACE”
ERA UMA VEZ
Uma videira
De seu nome Cardinal
Que vivia na Latada
Que me cobre
O Jardim
E me protege do sol
Nas quentes tardes
De Verão.
SEM APARENTE
Razão,
Enrolou-se
Nos seus ramos,
Numa certa
Madrugada,
E trepou
Loureiro acima
Como amante
Apaixonada.
QUANDO CHEGUEI
E a vi tão lá
No alto,
Na ramagem
Enrolada,
Subindo
Por ele acima,
Trepando
Pela pernada,
À procura
De carinho
Ou até mesmo
De nada...
...............
Foi tão grande
O meu espanto
Que parti
Para o poema
Pra cantar
Essa videira
Que ficou
Apaixonada.
LOUREIRO COM UVAS...
Aconteceu
No Jardim,
Neste lugar delicado
Repleto de carmim,
De poeta,
O recanto,
Lugar d'inspiração
Com aroma
De jasmim,
De surpresa
E de espanto.
ERAM UVAS
Ou palavras?
Arbusto
Ou poesia?
Eu fiquei
Muito confuso
Da estranha
Alquimia
Nessa tarde
Inesperada
E perguntei
Ao loureiro:
Aqui anda
Mão de fada?
OH, LOUREIRO
Com tantas uvas...
Tinha de ser
Mesmo assim
No recanto e
Nesse dia?
Uma videira-em-verso
Num só passe
De magia?
MAS ERAM UVAS
E palavras,
Era arbusto
E poesia
E poeta me
Tornei
Pra dar asas
Ao encanto
Pois nascera
Um novo dia,
Aquele que
Um dia
Sonhei.

“Pasárgada”. Detalhe
A PORTA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Porta”. Original de minha autoria. Maio de 2022.

“A Porta”. Jas. 05-2022
POEMA – “A PORTA”
¡Qué trabajo nos cuesta / traspasar los umbrales / de todas las puertas! / Vemos dentro una lámpara / ciega / o una niña que teme / las tormentas. La puerta es siempre la clave / de la leyenda. / Rosa de dos pétalos / que el viento abre / y cierra. Federico García Lorca, Puerta Abierta, 1921
ILUMINADA Em generosa Cascata De cores, Nesta porta Fria e nua Há mistério Que oculta O outro lado Da rua... .......... O lado Dos sonhadores.
MAS NÃO SEI Se é porta De rua, Se me leva A tua casa Ou se abre Para o mundo, Se é porta De sacrário Que guarda Corpo De deusa, Acesso A templo Sagrado, Lugar de ecos De um poema Sufocado.
BATO LEVE, Levemente, Como quem Chama Por ti Com as cores Do meu jasmim... Silêncio É o que ouço Do princípio Até ao fim.
AH, A VERTIGEM Do mistério Que barra O passo Do lado de cá Do desejo... ................ Por isso o pinto De cores Do generoso Jasmim, Uma profusa Cascata Que brota sempre Das fontes Do meu amado Jardim.
FOSSE ELA, Transparente, Como a minha Janela, Raios de sol, Feixes de luz A entrarem Dentro dela Como seiva Na raiz... .............. Ah como seria Tão belo, Como seria Feliz!
HÁ UM SILÊNCIO Frio Do lado de lá Dessa porta E tropeço No vazio Que não me deixa Passar.
MAS A PORTA É ombreira De mistério E fascina O olhar, É fonte D’inspiração Que me leva A cantar A vida Imaginada De uma tão doce Ilusão.
POR ISSO Eu a componho Sob forma De poema Que logo lanço Ao ar, Fingindo que Sofro o que Sinto Em palavras Que não tenho Para mais tarde Te dar.
NO POEMA, Eu pinto Dessa porta A soleira Porque não posso Passar Esse lado Da fronteira Que encerra O mistério Do outro lado De ti... ............. O lado escuro Da vida, Que sempre Desconheci.
AH, ESSA PORTA, Lugar De invocação, Na memória Permanece Porque é nela Que mais sinto O fascínio Do oculto Que inspira E entretece O poema Na canção.

“A Porta”. Detalhe
A OUTRA JANELA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Outra Janela”.
Original de minha autoria
para este poema. Maio de 2022.

“A Outra Janela”. Jas. 05-2022
POEMA – “A OUTRA JANELA”
DAQUELA JANELA
Já não te vejo,
Mas se visse
O que diria?
Um destino,
Um caminho
Que não sei
Onde me leva
Nesta incerta
Travessia...
SÓ SEI QUE
Parto
Com o olhar
E uma discreta
Dor
Para destino
Ignoto...
...........
Mas por isso
Sedutor.
HÁ SEMPRE
Outra janela
Dentro de nós,
Vê-se
O mundo
Através dela
Para não ficarmos
Sós.
VIAJAR
Ao sabor do vento,
Sentir-se
Um pouco
Vagabundo,
Amigo da evasão,
Perder-se, sim,
Neste mundo
Como alguém
Que não tem chão.
OUTRA JANELA
Sobre a rua,
Sobre um rio,
Sobre o mar
Ou traçado virtuoso
Para meu vale
Abraçar;
Marcas
De passos remotos
Escritos
Na água fria
Ou recanto
Sem passado
Num futuro
Desejado
Como pura utopia;
Um trilho
A desbravar:
Encontrar-te
Lá no fim
Do meu longo
Caminhar...
SIM, OUTRA JANELA,
A que a musa
Desenhou
Pra que eu
Te visse
Nela,
Na montanha
Ou no mar,
Numa praça
Da aldeia,
Numa rua
Em qualquer
Outro lugar...
OUTRA, SIM,
De onde veja
O teu rosto
Assomar
Quando o sol
Me acende
A alma
De tanto no alto
Brilhar.
O MUNDO
Quando acorda,
A nascente,
E entardece,
A poente,
Muda de cor
E de luz
E vê-se
De uma janela
Como algo
Que reluz.
E EU, A TI,
Com esta luz
Interior,
Com outra janela
Na alma,
Vejo-te sempre
A sul,
Antes do
Entardecer,
No infinito
Azul,
Nesse céu
Onde gosto
De te ver.
EU CANTO-TE
Aqui,
Do alto
Desta janela,
Deste meu lado
Da rua
Com alma
Cheia,
Mas nua,
Pra que me vista
De ti...
HÁ SEMPRE
Outra janela
Por onde te possa
Olhar,
A que é feita
De palavras
Lá no alto
Da montanha
Ou no embalo
Do mar...
.............
Onde o poeta
Quiser,
Onde sentir
Que é nela
Que mais te pode
Encontrar.

“A Outra Janela”. Detalhe
O ESPELHO
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Perfil de Mulher”. Original de minha autoria. Maio de 2022.

“Perfil de Mulher”. Jas. 05-2022
POEMA – O ESPELHO
“Tu prima m’inviasti verso Parnaso a ber ne le sue grotte, e prima appresso Dio m’alluminasti”. Dante Alighieri. Purgatorio. Canto XXII.
ENCONTREI-TE No Parnaso, Lá em cima, Intangível, Sem te poder Tocar A não ser com As palavras De um poema Sensível às cores Da tua alma.
E VESTI-ME Com elas, As palavras, E senti-me Quente, Afagado No meu canto Porque tu as Escutavas.
SIM, ENCONTREI-TE Lá em cima No Monte. Em ti Eu via a costa E via o mar No horizonte Com nitidez E via O meu mundo Interior Em sonhos De azul, A tua cor, Em toda a sua Nudez.
A NEBLINA Cobria-te O corpo, Como Graça de Botticelli, Pra te refrescar A alma, Morrinha Lenta e fina De palavras Húmidas Caídas Lá do alto Do meu céu De nuvens brancas... ......... Sobre ti.
EU ERA Espelho Que te devolvia Fantasia Contra a Petrificação Fatal Que espreitava Nos olhares Indiscretos Do teu círculo Vital.
MAS TU Não sabias.
SUBITAMENTE, Decidiste declinar O espelho Porque, Dizias, Começava A embaciar-te A alma.
E NÃO ERA DA NEBLINA Que te envolvia, Mas dos desenhos Que tuas mãos Esboçavam Timidamente Nesse espelho Já tão húmido De ti.
E DEIXASTE O Monte. Desceste Apressadamente, Sob os olhares Das mil górgones Que sempre Ameaçam Petrificar Os que vivem No vale. E sucumbiste. Ou talvez não...
NO MONTE, Disse De mim Para mim: De tanto te reveres No espelho, Ficou-me, de ti, O cintilante Reflexo. E sabes o que se Vê Na minha superfície Plana? Beleza. Toda a que me sobrou Quando, Em tristeza, Desceste o Monte.
MAS ESTA NÃO PETRIFICARÁ Porque ficou Guardada No meu corpo Vítreo Onde todos Se revêem Sem saber Que no reflexo Levam, gravada Em transparência, A tua imagem... ................... Embaciada.
E POR CÁ FIQUEI, Espelho do mundo, A olhar para O escuro espaço Sideral À espera que um Cometa Me alumie O caminho Para te devolver O teu reflexo Original E prosseguir A caminhada Solitária A que me votaste.
VEJO-TE NO POEMA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Ponto Cardeal”.
Original de minha autoria.
Maio de 2022.

“Ponto Cardeal”. Jas. 05-2022
POEMA – “VEJO-TE NO POEMA”
VEJO UMA ESFERA
Tingida
De cores
Que me faz
Vibrar
Os sentidos,
Mas há um
Silêncio
Frio
Que me chega
Lá de longe...
...........
Então parto
Para o poema,
Refúgio
Dos meus pecados,
Onde vivo
Como monge.
MAS TREME O CHÃO
No poema
Quando passas
Na estrofe,
Rápida como o vento
Que tudo o resto
Varreu
E em silêncio
Esvoaças
Num círculo
Que é só meu.
MEU SILÊNCIO
É composto
De palavras,
Diz muito mais
Do que quer
E se o poema
Te abriga
Nascem desenhos
Perfeitos
Do teu perfil
De mulher.
MESMO QUE TE ESCONDAS
Ou finjas
Que não és tu,
Te diluas na estrofe
Onde sempre
Fico nu,
Sinto sempre
Esse teu rasto,
Invisível
Como tu.
E TREME A TERRA
Quando passas
No desenho
Que te ofereço,
Mas não te vejo
Tremida.
O traço
Não é banal
(Como sabes),
É nele que eu
Te dou vida.
É FORTE
O meu desejo
De um encontro
Virtual,
Invocar-te
Num poema
Como musa
Ideal
E mesmo que
Os versos
Tremam
Serás sempre,
De certeza,
O meu ponto
Cardeal.
ÍCARO DO TEU SOL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Paraíso”. Original de minha autoria. Maio de 2022.

“Paraíso”. Jas. 05-2022
POEMA – “ÍCARO DO TEU SOL”
TANTA LUZ, Meu Deus! Vejo o brilho Intenso De um azul Que incendeia. É o teu céu, Esse imenso mar, O espelho Refrangente Dos meus sonhos Que dá asas Ao olhar.
O MEU É BRANCO E cintilante Para te iluminar E lá brilham Os teus olhos, Estrelas De navegar.
E QUANDO Nos sonhos Te vejo Iluminada, Divinal, Entro sempre Na porta Branca Que me leva Ao paraíso Levado por uma Fada Em quadriga Sideral.
E VOAMOS, Voamos, Deixando Para trás O meu Jardim Encantado, Os bailéus Da Casa-Mãe Desenhados A rigor, A quelha da minha Infância, Manhãs brancas, Cintilantes, De imenso E fascinante Alvor.
NOS SONHOS, (Em todos eles) Caio das nuvens Brancas Como Ícaro Do teu sol, Quase cego Dessa luz, Sobre as flores Do Jardim, O meu eterno Farol.
MAS A LUZ Reacende-me E ilumina O que me sobra De ti, Em sonhos Escritos Ou pintados A pastel, E, assim, Resisto À voragem Do tempo Com palavras Desenhadas, Fazendo da alma Pincel.
LIBERDADE
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Liberdade”.
Original de minha autoria.
24 de Abril de 2022.

“Liberdade”. Jas. 04-2022
POEMA – “LIBERDADE”
PERGUNTEI-TE,
Num dia
De sol:
“Voas comigo
Prà linha
Do horizonte?".
Deste-me a mão
E sorriste:
“Voo, sim,
Pois preciso
De ar puro
Lá bem no alto
Do Monte”.
E PARTIMOS.
Tu levaste
O arco-íris
Que tinhas
Dentro de ti
E eu as letras
Que tinha
Comigo,
Guardadas
Nesta alma
Solitária
Feita seu porto
De abrigo.
ENREDÁMOS
Todas as cores
Com linhas
De palavras
Deslaçadas,
Construímos
Asas em forma
De verso
E voámos
No céu
De um poema
Pintado todo
De azul...
ANDEI CONTIGO
Por lá
Anos a fio,
Vagueando
Ao sabor da
Inspiração,
Levados
Pela brisa
Que sopra fria
No Monte,
Mas afaga
O coração.
E COMO GOSTEI
De voar contigo,
Livres como
Pássaros
Sobre o vale
Onde te encontrei
Um dia,
Construindo
Castelos
Na areia
Com a força
Da fantasia.
É ASSIM QUE EU
Te vejo,
Tecendo a vida
Com sopro
De alma
E as cores
Do arco-íris
Pintadas
Por tua mão
Como pauta
Colorida
Dessa doce
Melodia
Da nossa bela
Canção.
FOI ASSIM
Que nos dissemos
Nesse tempo,
Livres de amarras
Que não nos deixam
Voar,
Traçando
Em arte
Um destino
Marcado
Pela vontade
De fazer
Da nossa vida
Caminho
De liberdade.

“Liberdade”. Detalhe
ESMORECER
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Teus Olhos".
Original de minha autoria.
Leitmotiv de K. Kavafis
(Poemas: "Cinzentos"
e "Dias de 1903").
Abril de 2022.

“Teus Olhos”. JAS. 04-2022
LEITMOTIV
“Ter-se-ão desfeado (...)
os olhos cinzentos;/
Ter-se-á estragado o belo rosto.
Memória minha, guarda-os
tu como eram./
E, memória, o que podes
deste meu amor,/
o que podes traz-me
de volta esta noite."
.............................
"Não voltei a encontrá-los –
esses tão depressa perdidos.../
Esses olhos poéticos,
Esse pálido/
rosto... no anoitecer da rua...
(...)
e que depois com ansiedade queria."
(Kavafis, K., Poemas e Prosas.
Lisboa: Relógio d’Água, 69-71)
POEMA – “ESMORECER”
JÁ GASTEI Todos os poemas Cantando O que nunca Te ouvi, Já me fogem As palavras E fico mais Pobre de ti. JÁ NEM SEI Se é silêncio Ou são notas Dissonantes Com que desenhas A pauta Dos melómanos Amantes. NEM PALAVRAS, Nem cores, Talvez notas Invisíveis Nessa pauta Desenhada Do silêncio Com que falas... ............. Talvez nada. AH, NEM EU Já saberei Nomear-te Na hora Da despedida, No encontro Que nunca Marcaremos Nessa baça Encruzilhada Onde sempre Te perdi Numa incerta Caminhada. PRA QUE SERVE A poesia Se não a Sentes Por dentro? Pra que serve A pintura Se não a contemplas Com alma? Pra que serve Gritar Se não ouves Com o peito? Pra que sirvo eu, Poeta-pintor, Se não te vejo Por fora, Mesmo que te pinte E te cante Por dentro? PARA NADA, A não ser Para celebrar O futuro De um passado Que logo esmoreceu Para nunca Lá chegar, Perder-se Na rotina Dos ecos Silenciosos Da alma, Enganar-se Com desencontros Inventados, Ir por aí Sem saber Pra onde vou, Desaparecendo Na montra Dos meus inúteis Passeios Pela arte Que desenterrei Das vísceras E de teus sofridos Enleios, Fazendo a minha Parte. AO MENOS DANÇO Em pas de deux Com poemas Desenhados, Enredado Nos mil fios Da fértil Fantasia De um poeta Que levita Sobre escombros De um palco Que nunca construiu Sobre as pedras Da sua poesia. É A DANÇA Da solidão, Contigo Suspensa Nos fios Da teia Em que vou Enredando A minha vida, Até tombar exausto, Ao cair do pano (E do poema)... ........... Que tarda, Sim, que tarda, Para iludir O derradeiro Momento De uma longa E interminável Despedida.

“Teus Olhos”. Detalhe
NEVE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Neve e a Primavera”. Original de minha autoria.
Abril de 2022. E uma bela canção de Milva, "Catarì", sobre Poema de Salvatore di Giacomo (Letra em napolitano e português,
no fim do Poema). Link: https://www.youtube.com/watch?v=8LOYOOPmBzI

“A Neve e a Primavera”: Jas. 04-2022
POEMA – “NEVE”
SE ME PERGUNTASSES PELA NEVE, Que te Responderia? “Tenho-a pura Na alma, Sinto-a quente Por dentro, É vida, É energia”. ENTRA A NEVE NA PRIMAVERA, Cai suave Lá do alto E alimenta-me O jardim, Rega-me fundo A alma (Sem sobressalto) E entra, suave, Em mim. DELA CONSERVO A brancura Fria Do manto Que me ilumina Por dentro, Magia do seu Encanto, Beleza Que me fascina E celebro No meu canto. E QUANDO O INVERNO Me deixa Nascem cores e Voam riscos, Expandem-se Mil perfumes No sagrado do Do meu chão, Tudo brota Para mim E em grande Profusão Na frescura Do jardim. MAS EU PERMANEÇO NA NEVE E a neve fala-me Assim: "Corpo frio, Alma quente, Banho-te Como rio Que nasce Dentro de mim Pra que a arte Germine Como uma bela Semente Que desponta No jardim". EXPLODEM OS MEUS RISCOS Em girândolas De cor, É festa Na minha aldeia, É intenso O clamor, Crepitam foguetes No ar E nós, felizes, Gritamos: “Girândolas Na nossa festa Nunca nos hão-de Faltar...” SE ME PERGUNTARES PELA NEVE Eu ouço-te A voz Cá em cima, Respiro ar Da montanha E respondo-te Em rima, Devolvo Inspiração Que da arte É a vida, Um poema Ou canção Que não é De despedida, Mas de feliz Liberdade Da palavra Proibida.

“A Neve a a Primavera”. Detalhe
A LETRA DO POEMA DE SALVATORE DI GIACOMO:
"Marzo: nu poco chiove e n’ato ppoco stracqua: torna a chiovere, schiove, ride ’o sole cu ll’acqua. Mo nu cielo celeste, mo n’aria cupa e nera: mo d’ ’o vierno ’e tempeste, mo n’aria ’e primmavera. N’auciello freddigliuso aspetta ch’esce ’o sole: ncopp’ ’o tturreno nfuso suspireno ’e vviole... Catarì!… Che buo’cchiù? Ntienneme, core mio! Marzo, tu ’o ssaie, si’ tu, e st’auciello songo io". "Março: um pouco chove e logo deixa de chover: volta a chover, pára, ri o sol com a água. Ora um céu celeste, ora um ar escuro e negro: ora tempestades d’inverno, ora um ar de primavera. Um pássaro com frio Espera que espreite o sol: na terra ensopada suspiram as violetas... Catarina! Que queres mais? Entende-me, meu amor! Março, sabes, és tu, e aquele pássaro sou eu". NOTA - "Marzo" (ou "Catarì").
“Arietta” (1898) do poeta napolitano Salvatore di Giacomo, 1860-1934, em dialecto napolitano. Ouça MILVA em: https://www.youtube.com/watch?v=lMKDSnJEadc).
POEMA PARA UM ROSTO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “O Retrato”.
Original de minha autoria
Abril de 2022

“O Retrato”. Jas. 04-2022
POEMA – “POEMA PARA UM ROSTO”
ENCONTREI-TE,
Por acaso,
Na rua
Da galeria.
Foi Athena,
Foi destino?
.............
Há muito que
Não te via.
E VI-TE
Em contraluz,
O sol batia
De frente
Como tudo
O que seduz
E que me turba
A mente.
EU JÁ NEM SEI
O teu nome
Nem se a deusa
Te mandou,
Mas as cores
Desse teu rosto
Brilham,
Brilham
Como a luz
Que um dia
Me beijou
Num incerto
Mês de Agosto.
RETOQUEI-TE
Com as cores
Com que me
Pinto,
Dei-te mais vida,
Foste musa
Do meu cantar,
Levei-te comigo
À montanha,
Fiz do teu
Corpo
Encanto do meu
Olhar.
E CANTO-TE
Nos meus poemas,
Teu olhar
É como o meu,
Tu falas-me com
O teu rosto,
Eu respondo-te
Com arte,
A que o destino
Me deu.
ÉS GIESTA
Da montanha,
Arbusto
Do meu jardim,
Olho-te
Neste lugar
Onde cresceste
Pra mim.
ÉS ÂNCORA
Da minha arte,
Nunca te hei-de
Perder,
Se eu parto
Para o monte
Volto ao
Anoitecer,
Depois durmo
Ao relento
Sob teu olhar
Demorado,
Porta aberta
Prà montanha,
Sonhar-te, ali,
A meu lado...
..........
E logo que
Amanhece
É sonho que
Me acompanha,
É sentir-me
Iluminado,
Rio de luz
Que me banha.
A MINHA MUSA
É retrato
Que encontrei
Na galeria,
Olho para ele
Como poeta
Que sou,
Cantá-lo
Dá-me alegria,
É poética
Magia,
É vida o que
Lhe dou.

“O Retrato”. Detalhe
CANTA, POETA, CANTA
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: "Perfil de um Poeta"
Originais de minha autoria
Março de 2022

“Perfil de um Poeta”. Jas. 03-2022
POEMA – “CANTA, POETA, CANTA”
“Ora al nuovo sole si affidano i nuovi germogli” Virgílio.
CANTA, POETA, CANTA Até que a musa Te ouça, Nem que a palavra Te doa E a alma Estremeça. CANTA, POETA, CANTA Que o teu poema Tem dor Que te baste, Mas tem cor Que alumia E tem sabor A cerejas, Que as dá A Primavera. SE NO CANTAR Tu quiseres Atingir o infinito, Agarra No teu pincel, Salta pra cima Dum risco, Dá-te asas De azul E voa Nesse teu céu Até que a musa Te veja, Te pinte Numa cereja E murmure O teu nome Quando se tinge De cor. CANTA, POETA, CANTA Que o teu cantar Te embala Como água Cristalina Que corre Lesta No rio Que nasce Dentro de ti. CANTA, POETA, CANTA Que contigo Cantarei A alvorada Do dia, Se chorares, Eu chorarei, Por não sentir Alegria, Se sorrires Eu pintarei As cores Do teu sorriso E para ti Dançarei Uma valsa De Strauss Às portas Do Paraíso. CANTA, POETA, CANTA, Para ti E para o mundo Que o teu cantar Enobrece Quem ouvir A tua prece, Quem sentir O teu lamento Que, de ser Já tão profundo, Não o leva Nem o vento Pois ele em ti Entardece. E SE O VENTO O levar Vai procurá-la A ela, Voa lento Sobre a rua E pousa No parapeito Da sua bela Janela. CANTA, POETA, CANTA, Que um dia Há-de ouvir, Deixa que o Tempo passe E a razão Se esclareça, Confia, pois, No porvir Sem que teu estro Esmoreça. NÃO CHORES, POETA, Não, Neste teu Entardecer, Tens arte Na tua alma, Inspiração a crescer E mesmo que ela Não ouça É um modo De a ter.
A FESTA DA MÚSICA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Doce Ciúme”. Original de minha autoria. Março de 2022.

“Doce Ciúme”. Jas. 03.2022
POEMA – A FESTA DA MÚSICA
CERTOS DIAS, Quando a música Me atrai (Irresistível Pulsão), Entro em alvoroço E até sinto Alguma dor, Doce ciúme De amor, Quase rebelião Pelo silêncio Que faz eco A meus versos Diletantes, A solitária Paixão. DOCE CIÚME Do turbilhão Interior Que seu ritmo Produz, Dos arrepios Que faz E do veludo De alma Que a música Me traz. CANTA-SE Do lado de lá, Sinto Calor intenso, Ovações, Danças Extenuantes E expressivos Sinais, Corpos Em êxtase De tão intenso Prazer Em festivos Rituais. É FESTA, SIM, E é baile, É um tremor Corporal Que me liberta A alma Deste mundo Tão banal. É LIBERDADE Em forma de Emoção, É rito, É vibração, Ondas Que me projectam No ar E transportam O meu corpo Para, feliz, Levitar. É LIBAÇÃO, Bebida Contagiante, Bebedeira Sensual, É, como apelo De amante, Um poema Corporal. MAS EU SÓ SINTO Silêncio Do lado de cá Dos meus versos, É ausência Permanente E sem recurso, Melodia Do silêncio Em poético Discurso. INTERPELO Não sei quem No poético Instante, Sabendo que Há alguém Que não ouve E que não sente Este canto Diletante. DOU COR Às minhas palavras E ponho-me Sempre a pintar Pra que as ouçam Com alma, Mas também Com o olhar. QUAL QUÊ? (Penso eu) É só fantasia A fervilhar De emoção No silêncio De um recanto Como se fosse Oração Que redime De uma vida Devorada Com paixão. SINTO CIÚME, Quase inveja, De uma festa Onde o corpo Vibra, Onde a palavra É som Que me convida A dançar E segreda Ao ouvido O que ele Traga consigo Para me arrebatar. MAS SOFRO De melancolia Do lado de cá Dos meus versos, Vejo danças, Vejo corpos Aquecidos Ao som De uma guitarra, Ouço o timbre De uma voz Que me prende Os sentidos, Ouço ecos lá Ao longe, Na memória Já perdidos... .............. E recolho-me Em solidão Para compor Com palavras Meu silêncio Pontuado Nos versos De uma canção.

“Doce Ciúme”. Detalhe
O JARDIM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Chakra”. Original de minha autoria. Março de 2022.

“Chakra”. Jas. 03-2022
POEMA – “O JARDIM”
NAQUELE DIA EU vi um estranho Enlace No jardim Onde nasci Para a arte Com que a deusa Me prendou, Uma dádiva Dos céus Ou o brilho De uma estrela Que sempre Me ilumina Nesse mágico Lugar Onde a vocação Despertou. NESSE JARDIM De mil azáleas E do meu vasto Jasmim, De perfumes E matizes Que tomam conta De mim Há cores Que brilham Em fundo De seda pura, Luxuriante Pintura e Exótica magia, Desafio Permanente A poética Ousadia. VERDE, Azul, Vermelho, Amarelo Ou lilás São cores vivas Que me vestem O olhar, Nelas vejo O arco-íris Que nasce Dentro de mim Quando me Ponho a sonhar. É ARCO-ÍRIS, É sim, O que teço Com a alma No Encantado Jardim, É quadro Que pinto Com cores E com palavras, É luz intensa, Embriaguez, Alquimia, Acre perfume De jasmim, Minha secreta Magia. PERCO-ME Nas sete cores, Vou atrás delas, Imparável Correria, Vertigem De voo livre No céu, Redentora Catarsia De quem sempre Se perdeu. SÃO CORES, São riscos, São traços, Palavras Que me procuram, É tudo E é mais Do que a luz Do meu olhar Nesta arte Que me leva Como alta Vaga do mar. REGRESSO SEMPRE Ao Jardim Onde cresci, Levo flores Impressas No corpo, São cores São quentes, São vivas, Até ardentes Em demasia, E nelas Eu me diluo Levado pelo poder Desta minha Fantasia.

“Chakra”. Detalhe
O REGRESSO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Talismã”. Original de minha autoria. Março de 2022.

“Talismã”. Jas. 03-2022
POEMA – “O REGRESSO”
DISSESTE-ME Que partias, Que o coração Em tormento Já te pulava No peito... ............. E que ficar Não podias... “TENHO DE PARTIR, Não me sinto Muito bem, É distante daqui (Bem sei), Como as memórias D’infância E o olhar De minha Mãe." “MAS OUÇO-AS
Lá longe,
Ouço bem As amigas De outrora Que fogem Das bombas Na hora, Mas lembram Hordas antigas Nas ruas do Meu país.” DISSESTE-ME,SIM, Que andavam Por lá Perdidas Na tragédia Consumada, Na procura Impotente Dessa paz Que foi Roubada. “EU GOSTO Das praias De areia branca, Gosto das praças E das ruas Do teu país, Mas é mais forte A raiz, O apelo Que o vento Me traz Do sagrado Chão natal, Poderoso Chamamento, Alvorada Marcial.” “GOSTO DA PRAIA, Oh, se gosto (Acredita), Mas já não a posso Sentir Porque me pula De dor O meu pobre Coração E me leva De regresso Às origens, Ao sagrado Do meu chão.” “JÁ NEM ADORMEÇO Ao som Das meigas ondas Do mar, O cheiro a maresia É vaga Recordação E a paz Em que vivia Eu já não
A posso ter Porque é forte O sobressalto Logo ao Amanhecer.” “ENEVOA-SE A memória, Há muito ruído No ar, Crepitam armas No solo Da minha infância, No abrigo Do meu lar.” “VOU-ME EMBORA, Vou lutar Para o meu solo Materno E se um dia, Caída No chão Sagrado E eterno, Eu não voltar Só te peço Que me cantes Em voz alta, Com alegria (A que agora
Me falta), Num poema Desenhado À beira Do nosso mar.” VAI SIM, Minha Amiga, A paz Há-de voltar E, numa tarde De verão Em tempo de Preia-mar, Sentar-me-ei Contigo n’areia Pra esse poema Cantar.

“Talismã”. Detalhe
VEM COMIGO…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Exaltação”. Original de minha autoria sobre foto (de autor
anónimo) em contraluz. (Quadro da minha colecção privada). Fevereiro de 2022.

“Exaltação”. Jas. 02-2022
POEMA – “VEM COMIGO…”
EU CANTO E pinto O meu destino, Sonhos velados, Minha vida, Meu desatino... PERDI A CHAVE Do meu futuro E só me resta A despedida, Por isso canto Com as aves, Voo mais longe E com mais cor Porque no céu Há mais azul E em meus sonhos Tens mais sabor. HÁ UM SEGREDO Não revelado, Dizê-lo Eu não podia Porque cantá-lo Era pecado E certamente Mentiria. E NÃO O DISSE, Mas eu pequei Com murmúrio Apaixonado Em poemas Inocentes Que levaram O meu canto A ouvidos Impudentes Que estão Por todo o lado. POR ISSO VOO Sempre mais longe Trepo nas cores Pra lá chegar, O céu azul Dá-me alento Para mais alto Voar E meus segredos Pôr a reparo Dos vigilantes Do meu cantar. LEVO PALAVRAS Comigo, Procuro inspiração. Levo cor, O meu abrigo, Levo musas E tudo o mais E quando parto Lá pra cima É sempre festa Neste meu cais. EU CANTO E PINTO Por tudo isto, Pra resgatar O meu pecado De exaltar Esse teu corpo, Pra projectar Em aguarela Esse enleio Do meu olhar E por te ver Na nossa rua Debruçado Na janela Com vontade De te pintar. POR ISSO EU CANTO, Por isso voo, Por isso subo Lá para o alto, Já não os vejo, Já não os ouço, E já não vivo Em sobressalto. MAS VEM COMIGO (Eu dou-te asas), No infinito Do céu azul Voamos Ao mesmo tempo E o nosso rumo Será o Sul. VÁ, VEM COMIGO, Se tu vieres Voaremos No nosso céu, Seremos livres Lá bem no alto E nossa arte Será perfeita Com tudo aquilo Que Deus nos deu.
FUGAZ ENCONTRO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Travessia”
Original de minha autoria
Fevereiro de 2022

“Travessia”. Jas. 02-2022
POEMA – “FUGAZ ENCONTRO”
ÀS VEZES
Passas
Por mim
Como vento
Intangível,
Sonho
Espectral,
Impossível,
E voas
Por entre os dedos
Dessas mãos
Com que te pintas...
VOAS, SIM.
Mas eu não sei
Se vais
Para o pontão
Deste cais
Donde sempre
Nós partimos
Para viagens
Fatais
À procura
D’infinito.
SOPRA-TE
O vento
Na alma?
Desenhas
Com ele
O teu rosto?
Ah, pareces
Triste demais
E é disso
Que eu não gosto.
NA RUA
Do desencontro
Encontrei-te
Apressada...
Fiquei feliz
De te ver,
Embora por um
Instante,
Um pouco mais
Do que nada.
FIZESTE-ME
Renascer
De vaga
Melancolia...
.......
Imagina
O que seria
Se te visse
Duas horas
Ou te tivesse
Um dia.
AH, QUE DOCE
Sensação
Sentir saudades
De ti...
..........
Prevendo
Que não virias
Mesmo assim
Eu não parti
Tão grande
Era o desejo
De te encontrar
Por ali...
E FALEI-TE
Da minha janela,
Olhei, fascinado,
Pra ti:
“Minh’amiga
Como és bela...”
...........
Nem sabes
O que senti...
MAS, NUM SÚBITO
Ímpeto,
Disse pra mim:
“Eu não canto
Esta cantiga
De te ver
Tão pouco assim.
Vou-me embora,
Pois se te
Encontro
Logo me foges,
Se te quero,
Não te procuro...
.........
Eu vivo
Num intervalo
Que mais me parece
Um muro”.
AH, SIM,
Entre ti
E os teus riscos
Eu estou
Entrincheirado,
Caminho só,
Em poemas,
Nunca passo
Deste lado.
O TERRAÇO
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Terraço” Original de minha autoria Fevereiro de 2022

“Terraço”. Jas. 02-2022
POEMA – “O TERRAÇO”
É DAQUI, Deste terraço, Ó deusa, Que te alcanço E te vejo Com a forma Intangível Do desejo. SILÊNCIO, Nuvens, Um lago, Uma luz Que rompe O escuro Da partida E acende O dourado, Elementos Que compõem O teu muro, Meu pecado. É DAQUI Que eu te sonho, Uma fresta No teu céu, Um olhar Que não tem fim... ........ É daqui Que eu te quero Sem limites No poema, Quando Com palavras Te olho E te vejo Como se fosses O fruto Daquilo que eu Mais desejo. É DAQUI Que eu não saio Quando parto Para longe, Pois é aqui Que te tenho Nas raízes Do que sou. ERA AQUI Que eu te queria Se aqui não te Tivesse, Ver-te Ao perto Sem te tocar, Beijar-te Com os olhos Numa noite De luar. VÊS, Meu amor, Como é simples Gostar de ti? A mim basta, Neste encanto, Ficar-me Docemente Aninhado Num recanto... .............. Reinventar-te Por aqui.

“Terraço”. Detalhe
TEU ROSTO ARCO-ÍRIS
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Rubor”
Original de minha autoria
Fevereiro de 2022

“Rubor”. Jas. 02-2022
POEMA – “TEU ROSTO ARCO-ÍRIS”
O TEU ROSTO
É arco-íris,
Dança, dança
Nos meus olhos,
Fascinados
Pelos teus,
É luz intensa
Que brilha
E domina
Como um deus.
É FULGOR,
É raio
Que me fulmina,
Com essas cores
Tão intensas
O meu rosto
Se acende
E de ti
Se ilumina.
HÁ CHEIRO
A maresia,
Sinto sal
Na tua boca
Que me sabe
A poesia
E, quando a digo
Em voz rouca
De tão frio
Ser o mar,
É tão quente
O meu desejo
Que eu quero
É navegar
Para ver
Se lá te vejo.
TUA BOCA
É mar profundo,
Tão azul
Como o infinito
Do céu
Onde gosto
De voar,
Se te beijo
Vou ao fundo,
Mas respiro
Lá bem dentro
Nas profundezas
Do mar.
COM TEU ROSTO
Arco-íris
Brilhas ao sol
Logo ao
Amanhecer,
Mas sempre
Caio em tristeza
Por tão pouco
Te rever.
A TRISTEZA
É saudade
Desse encontro
Tão fugaz,
Meus olhos
Perdem-se
Em ti,
Mas em ti
Encontram paz.
O TEU ROSTO
É arco-íris,
Se te vejo
É alegria sem fim,
Não vás, por isso,
Embora,
Que eu fico triste,
Na hora...
................
Espera um pouco
Por mim.

“Rubor”. Detalhe
DESPEDIDA
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração - “Rosas”
Original de minha autoria
Janeiro de 2022

“Rosas”. Jas. 01-2022
POEMA – “DESPEDIDA”
NUM CERTO DIA
(Banal)
Acordei
De um sonho
E lembrei-me
Logo de ti.
Só então eu
Pude ver
(Como no sonho)
Que o teu rosto
Perdeu brilho
E que já
Nem me sorri.
ESSE TEMPO
É passado
Que o tempo
Resolveu.
Aquele que agora
Te evoca
É outro,
Já não sou eu.
NÃO QUERO
Ver-te
Nem ouvir
A tua voz,
Entre mim
E o teu rosto
Já não encontro
Um nós.
AGORA
(E mesmo em sonho),
Teu perfil
Não me fascina
E o olhar
Já não me brilha,
Tudo em ti
Sabe a passado
E nada me diz
Do futuro,
Vejo tempo
Sem raízes
(É destino,
O meu fado?)
No qual já não
Me depuro.
VÊS COMO A VIDA
Vai direita
Por linhas tortas
Seguindo?
Vês
Como o canto
Fortalece?
Saio de ti
Lentamente
Para que o tempo
Resolva
O que num sonho
Acontece.
FICAM TÃO-SÓ
Alguns versos
A marcar
O meu passado,
Registos
Da caminhada
Que num sonho
Fui fazendo
Sem nunca te ter
A meu lado.
MAS O TEMPO
É escultor,
Lapida
As nossas vidas
Deixando apenas
Sinais
Pra que não fiquem
Perdidas.
AH, ESQUEÇO-TE,
Mas não te perco,
Perdi-te,
Mas não t’esqueço,
Lembro-te,
Mas não te quero,
Revejo-te,
Não reconheço,
É mundo
Que já partiu,
Não se pode lá voltar
A não ser com
Um poema
Para com arte
O fechar.

“Rosas”. Detalhe
DUAS HORAS
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Jardim”
Original de minha autoria
Janeiro de 2022

“Jardim”. Jas. 01-2022
POEMA – “DUAS HORAS”
OLHEI-TE NOS OLHOS,
Eram negros,
Intensos
E tão profundos...
Toquei teus cabelos
Com o olhar,
Caminhei a teu lado
Nesse jardim,
Senti o teu corpo
Bem perto de mim
A respirar
O acre perfume
Dessa ramagem
Do vasto jasmim.
INEBRIOU-ME
Esse intenso
Aroma
Do belo jasmim
E eu enredei-te
Num tão doce enleio
Que me parecia
Nunca mais ter fim.
BRILHARAM
Pra mim
Tão docemente
Duas horas inteiras
Esses teus olhos.
E neles me perdi.
ESTIVE NO CÉU
Ao lado de deus
E lá vi dois sóis
Que não eram dele
(Uma luz intensa)
Porque eram teus.
MAS O TEMPO
Correu
Depressa
Demais.
E é sempre assim.
Todos os dias
Se tornam iguais
Quando tu partes
E, em nostalgia,
Eu fico no cais.
VOLTEI A OLHAR-TE
Três horas seguidas,
Parecia verdade
Mas era ilusão
Porque tu partiste
Deixando-me só...
...............
E o que sobrou
Foi a solidão.
SUBIU A TRISTEZA
A saudade irrompeu
Colou-se-me
Ao rosto...
.............
E como doeu!
SE EU NÃO TE VEJO
Sinto
Falta de ti,
Mas se te encontro
Logo te perco
Porque o tempo
Voa
E logo te leva
Pra longe dali.
TER-TE DEMAIS
Aumenta a saudade
E quando te vais
São negras
As nuvens
Da nossa cidade.
AINDA QUE TRISTE
Sinto-me feliz
E com estas mãos
Te vou escrevendo
O que quero dizer,
Mas este meu tempo
Volta a correr
E cresce a vontade
De logo te ver
Mesmo que saiba
Que é nesse instante
Que te vou perder.
EU TENHO SAUDADES,
Saudades de ti,
Desse virar
Da nossa esquina
Na rua de sempre
Onde eu te vi,
Da nossa janela
Donde espreitámos
O que do mundo
Sobrará para nós.
EU JÁ NEM SEI
Que hei-de fazer,
Ter-te demais
É puro prazer,
Mas quando te vais
Eu fico tão triste
Que o brilho do sol
Mais me parece
Um anoitecer.
Olhei-te nos olhos,
Era já saudade
Da tua partida,
Gravei-te na alma
Pra melhor te ter
Porque já sabia
Que não regressavas
A esse lugar
Onde eu te vi
E me encantou
O brilho intenso
Desse teu olhar
Onde me perdi.
A JANELA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Janela”.
Original de minha autoria.
Janeiro de 2022.

“A Janela”. Jas. 01-2022
POEMA – “A JANELA”
NOS VIDROS
Desta janela
Se espelha
Todo o meu ser,
É neles que
Eu te revejo
Quando deixo
De te ver.
DA JANELA
Vejo o mundo
E o mundo
Vê a janela,
Debruçada
No parapeito
Olho o céu
E olho a rua
Para ver
Se passas nela.
NOS VIDROS
Desta janela
Há reflexos
Da vida,
Olho pra eles
Pensativa
Mas não me sinto
Perdida
Se puder
Falar contigo
Quando estás
De partida.
NESTES VIDROS
Da janela
Se espelha
Todo o teu ser
Quando passas
Nesta rua
E me sinto
Estremecer
Da falta que tu
Me fazes
Por ainda
Não te ter.
SE TE AFASTAS
Da janela
E vislumbro
Silhueta
Lá ao fundo,
Longe dela,
Eu sofro
Por te perder...
........
Na rua
E também nela.
VOA PRA LONGE
Essa tua
Silhueta
Que s’esgueira
Na esquina
Como se fosse
Cometa
A passar
Na minha rua,
Mas também eu
Me diluo
E me sinto
Um pouco nua
Na imagem
Transparente
Dos vidros
Desta janela
Como se fosse
Já tua.
FOSTE EMBORA
Do meu mundo
Onde eu
Te queria ter
Ao alcance
De um olhar
Para nunca
Te perder.
MAS NÃO DEIXEI
A janela,
Esperei sempre
Por ti,
Hora-a-hora,
Dia-a-dia,
Até que, por fim,
Eu te vi.
VI-TE
Da minha janela,
Desenhei-te
Com alma
E olhar
De devoção,
Pintei-te todo
A vermelho
Da cor da minha
Paixão...
...............
Mas mesmo assim
Tu partiste
Sem me dar
A tua mão.
DA JANELA
Sempre te vejo
Mesmo ausente
Da nossa rua,
Nos vidros
Fica imagem,
Perfeita
Como a tua,
Mas é sempre
Transparente
E não lhe posso
Tocar,
Guardo-a, então,
Com ternura
Em meu inocente
Olhar.
E GOSTO
Da Primavera,
Confundir-te
Com aromas
Que me chegam
À janela,
Anunciando
A chegada
Do melhor
Que sinto nela.
A JANELA
Não tem cortinas
Pra te ver
Na nossa rua,
Ver-te chegar
E partir,
Ficando um pouco
Mais nua,
Querer que
Me vejas
Assim
Tão brilhante
Como a Lua.
AH, QUANTAS VEZES
Eu desci
Da janela
Para a rua,
Olhava de baixo
Pra cima,
Mas eu nela
Não me via,
E, assim,
Não era tua.
O MEU MUNDO
É a janela,
O da rua
É o teu,
É dela que
Eu te vejo,
Na rua
Já não sou eu.
DA JANELA
Do meu mundo
Olho pra ti
Com calor,
Sem ela
Eu não te sinto,
Fica um muro,
Meu amor.
VESTIDA DE CORES
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Campainhas do Paraíso”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2022.

“Campainhas do Paraíso”. Jas. 01-2022
POEMA – “VESTIDA DE CORES”
VESTES CORES Garridas No palco Desse teu mundo Em danças De luz Como quem grita A beleza Que leva Dentro de si... ......... E seduz. COBRES-TE DE TI, Agasalhas-te A alma, Repetes,
Feliz, Em mil poses O teu rosto Em perfil... .......... E sorris. MAS QUANDO Regressas A ti É como o fim De um sonho Que levou Ao paraíso, A queda De um anjo Na rotina Do viver Convertida... ............. Em sorriso. MAS EU SIGO-TE, Vou E voo Atrás de ti Com poemas Sempre feridos Em cor viva, Por aí, Com versos Em voz Rouca De tanto Eu te dizer, Murmúrios De quem te sente, Palavras De não te ter. NÃO IMPORTA Que a fuga Para a boca De cena À procura De autor Que te cante e Que te conte Ao mundo Seja fuga De ti própria Para a luz Da ribalta, Rituais De celebração Onde a cor Nunca te falta.
EU GOSTO De te ver assim, Luminosa, Oficiante Desse rito Pagão Que celebra A arte E a liberdade Como pregão Nas ruas De uma cidade. MAS EU CONTINUO Por aqui, Na solidão Sideral da Montanha A olhar O horizonte Sem fim, Ao crepúsculo, Pagando Com poemas E rapsódias de cor O meu tributo Aos rituais Da redenção Pela arte
E por amor. AH, COMO GOSTARIA De te rever Na praia Da meia-lua, O nosso cais, No baile Da meia-noite, O brilho Da lua-cheia A acender-te A alma... .................. Mas já é tarde Demais!
PERFIL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Silhueta” Original de minha autoria. Janeiro de 2022.

“Silhueta”. Jas. 01-2022
POEMA – “PERFIL”
AS LINHAS Do teu perfil Tão singelas Ao olhar Lembram-me A tua voz Quando te ouvia Falar. POETA, Logo pintava Essa tua silhueta Com um secreto Pincel, Os traços eram Palavras Desenhadas A caneta Na brancura Do papel. PALAVRAS Leva-as O vento (Era o que eu Te dizia), Mas se ditas Sobre ti Por um poeta Gentil (E eu nunca te Mentia) Ficam gravadas Na alma Quando pinta O teu perfil. CRESCESTE Como camélia, Flor branca Nas folhagens Do Jardim, E sempre que Tu me olhas Iluminas De alvura, Brilho intenso, Cintilante Dessa imagem Que perdura Mesmo quando
Estás distante. PORQUE VIVES No Jardim Em ciclo De natureza Regressas Em cada ano Para afastar A tristeza. DEPOIS PARTES, Mas fica-me O teu perfil Que me fala Ao olhar, A ausência Já não pesa E as saudades Esmorecem Porque tenho A certeza Que um dia Vais voltar.
PARTIR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Melancolia”. Original de minha autoria. Dezembro de 2021.

“Melancolia”. Jas. 12-2021
POEMA – “PARTIR”
ESTOU SEMPRE A partir Do mesmo lugar Onde nunca estou, Por isso não sei O que te dizer Ou então segrede Para onde vou... JÁ NÃO SEI Onde estou Nem quero Partir, Não tenho Lugar De onde sair Porque nem Cheguei A ver-te Entrar Onde já Não vou. TU FOSTE Pra onde, Que eu já Não te vejo? Tenho os olhos Baços de tanto Chorar, Gastou-se O meu rosto De tanto Te olhar, Mas tu não Me vês. Sempre desencontro Na rua perdida... ............ E não somos Três! NÃO HÁ TEMPO E não há lugar Para onde Eu possa ir Porque já nem sei Como cá ficar Ou como partir. TU FOSTE Pra onde? Não sei Onde estás. Só de te sonhar Eu serei capaz, Mas perdi Teu rosto, Só há neblina Neste sonho meu, É fumo espesso Pra cá da cortina Deste teatro Que a vida me deu... ................ E esta tristeza A que me destina. NEM ASSIM POSSO Sonhar-te Porque já perdi A intensa cor Desse teu olhar Por onde Entravam As minhas Palavras Para te cantar. NÃO SEI Onde estás Nem posso Chamar, Dizer o teu nome Com delicadeza Pra te soletrar. PARTISTE DE VEZ Pra outro lugar Que não sei Dizer Nem sei Desenhar, Fogem-me As palavras, Tenteia-me a rima, Procuro cantar Mas já não consigo, Perdi o teu rasto E o teu abrigo. NEM SEI Se me ouves Lá onde Te encontras Em busca Dos sonhos Que te desenhaste Em tinta-da-china... .................. Onde te encontrei Para te cantar Com a melhor rima. MAS TU FOSTE EMBORA E a minha alma Logo entristeceu E por isso chora, Mas esse que tu Já perdeste Serei sempre eu. TU FOSTE PRA ONDE, Mulher dos meus Sonhos? Fugiste de mim , Disseste que sim, Foste na maré Revolta nas ondas Que dão vida Ao mar Onde te espraias Cada amanhecer Sem nunca parar Em todos os dias Desse teu viver. TU FOSTE PRA ONDE Na hora sombria Desse entardecer?
OLHAR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Teu Olhar”. Original de minha autoria para este poema. Dezembro de 2021.

“Teu Olhar”. Jas. 12-2021
POEMA: “OLHAR”
QUE ME DIZES, Quando olhas De través E procuras Ver em mim O que tu lês Nas marés? NO SILÊNCIO Do meu canto, Sinto poder No teu olhar, Fascinam-me Esses teus olhos Porque me sabem A mar. NÃO É AZUL Sua cor, Mas de sol Que ilumina, Olhas pra mim, Meu amor, Quando navego À bolina. ÉS SEREIA No meu mar, Vou-te ouvindo Em sinfonia De cor Com música Da minha Pauta Mas que tem O teu sabor. QUE PROCURAM Os teus olhos? Ler nos meus Desejo De navegar? Mas eu vivo Neste cais De partidas E chegadas Para contigo Embarcar... TEUS OLHOS Verdes Fascinam, A tua boca Seduz... .......... E eu, Pobre Poeta de Outono, Na mais pura Contraluz Que me acende O olhar E a teu barco Me conduz. OLHAS-ME, Então, Inquieta, Ergo-me À tua frente, É fascínio O que sinto E por isso Eu te digo Que o olhar Nunca me mente Seja de bênção Ou castigo. QUE ME DIZEM Os teus olhos?

“Teu Olhar”. Detalhe
VER
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Colibri”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2021.

“O Colibri”. Jas. 12-2021
POEMA – “VER”
QUANDO TE VEJO,
Vejo-te a cores,
Sinto aromas,
Provo sabores
Na fantasia
E vejo traços
E vejo riscos
E tantas fugas
Prò infinito
Nos sete céus
Dessa magia
E eu respondo
Sobre o que
Sinto
Se me perguntas...
...........
- Epifania!
AO LONGE,
O horizonte
Desses teus riscos,
Aqui ao perto
Uma ponte
Desenhada
Que me leva
Ao pé de ti
E se o rio
Transbordar
Sei que te alcanço
Voando
Num colibri.
QUANDO TE VEJO,
Eu vejo ruas
E vejo praças
E catedrais,
Vejo desenhos
Na tua mão,
Vejo vitrais
E vejo sóis
Em refracção.
VEJO O TEU ROSTO,
Vejo-te a ti,
Sentir-te perto
Era o desejo
Nesses poemas
Que escrevi,
Ver o teu céu
Azul profundo
Pra onde voa
O colibri.
VEJO MONTANHAS
E vejo cores,
Eu vejo casas
E vejo amores
Por esses vales
E esses rios
Por onde corre
O fio d’água
Com que regas
O teu jardim
Pra nele nascerem
Os meus poemas
E ter-te sempre
Perto de mim.
SINTO NO AR
O teu perfume,
Cabelos negros
A esvoaçar
E sinto o vento
Nesse teu rosto
E altas ondas
No nosso mar
Mesmo que venhas
Só ao sol-posto
Com os teus barcos
A navegar
Nessas águas
Cristalinas
Onde se perde
O meu olhar.
EU VEJO TELAS,
Os teus pincéis,
Doce pintora,
Vejo a tinta
Na tua mão,
Vejo-te a ti
Tão concentrada
Nesses desenhos
Em construção
A pintar
Um colibri.
VEJO QUADROS
E vejo letras,
Nessa pintura
Vejo sinais
Para eu ler,
Vejo-te a ti
Neste pontão
Do nosso cais
E sou feliz
De assim te ver.
Isso me basta.
Não quero mais.
EU VEJO TUDO,
Eu vejo,
Mas faz-me falta
O teu sorriso.
Nada mais quero
Como desejo
Pois é só disso
Que eu preciso.
LUZ
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Arbusto”. Original de minha autoria. Dezembro de 2021.

“O Arbusto”. Jas. 12-2021
POEMA – “LUZ”
LUZ DO CÉU, Tanta luz Descia por uma Fresta No coração Do arbusto, Raio Na escuridão Que caíra No poeta Como noite No jardim. LUZ, MAIS LUZ, Era o que sempre Pedia, Era luz que lhe Faltava Quando ela Esmorecia No seu olhar Já cansado. MAS ELA CHEGOU Sob forma de poema E desenho Esboçado, Cores quentes e Traços Ao infinito, Palavras Murmurejadas, Num movimento Sem fim Até a luz
Se apagar No arbusto Do jardim. LUZ, MAIS LUZ, Insistia o poeta Ao entardecer De um dia Quando a luz Esmoreceu E, com ela, Também ele já Se perdia. ERA VIDA Que findava, Tempo De despedida Que cedo demais Lhe chegava E obrigava À partida... E A LUZ Reavivou Nas cores E nas palavras Que lhe saíam Do peito E do fundo Da memória Pra recriar A preceito Tudo aquilo Que sobrou De uma paixão Sem glória. SÃO POEMAS Que lhe canta, São cores, São riscos Com que desenha A alma, São sons Dessas palavras Com que Escuta o seu Silêncio, É pauta de melodia Que da tristeza O resgata Como secreta Alquimia. É ASSIM QUE A luz Regressa, O arbusto Ilumina E sua alma Tempera Como harpa Em surdina. VOLTA, POIS, Ao dia em que Tudo começou, Tropeça na Luz intensa, Alumia a sua Alma E põe um fim À tristeza Dessa perda Capital, Descobrindo Nos poemas Remédio Para o seu mal.
O SILÊNCIO E A MEMÓRIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Voo da Rosa”. Original de minha autoria. Novembro de 2021.

“O Voo da Rosa”. Jas. 11-2021
"Para que tú me oigas / mis palabras / se adelgazan a veces /como las huellas de las gaviotas en las playas" Pablo Neruda
POEMA – “O SILÊNCIO E A MEMÓRIA”
NO TEU SILÊNCIO Profundo Entrevejo-te Com palavras Sufocadas, A preto E branco, Com a linguagem Do tempo Que passa Inexorável E erode A suave geometria
Dos traços Com que nos fomos Desenhando Nos dias De festa. E, AGORA, SOBREVIVO, Oblíquo, Neste intervalo Sofrido De onde Vislumbro A tua silhueta Esculpida Pelo crepúsculo De um fugaz Encontro De despedida. “VOU-ME EMBORA Pra Pasárgada”, Diria o saudoso Poeta, “Porque aqui Anoiteceu”. MAS, NÃO, Desta vez Eu não parto, Porque na memória Dos teus Mil rostos Posso ver-te a cores, Aquelas com que Te evadias Em cúmplice Caminhada À procura Do belo... .......... E em troca De nada. NESTA MEMÓRIA Acaricio-te, Em epifania, Com as mãos Invisíveis Da alma E o azul Do céu Que ainda Me sobra Como manto Transparente Da minha Fantasia. PRESSINTO-TE, Adivinho-te Em riscos que Deslizam Dos teus dedos, Dádivas Que me chegam Como brisa Do amanhecer Na praia Da meia-lua. E ESTREMEÇO Quando Te reencontro Nestas veredas Estreitas Da fantasia Com que Te vou reinventando... .............. Com insuspeita Teimosia. VISTO-ME, ENTÃO, De vermelho, Por dentro, A rigor, Solene. E pinto-me A alma Ao sabor do vento, Cubro de rosas Vermelhas O chão etéreo Por onde caminho Suavemente Com o olhar, Dou mais sabor À liberdade, Voando com Uma rosa Pra te poder Alcançar. AH, SIM, Duplico-me Neste intervalo Onde te sonho E te canto Com palavras Que te chegam Desfiguradas Pelo siroco que, No trajecto, Sopra forte Nas ásperas areias Deste deserto Que habitamos. SIM, MAS SE A BRISA Do mar Ainda me acaricia O rosto No amanhecer De cada poema Que me importam A areia
E o deserto?
RENÚNCIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Rua”. Original de minha autoria. Novembro de 2021.

“A Rua”. Jas. 11-2021
POEMA – “RENÚNCIA”
RENUNCIEI Para nunca A perder, Mas nesta Longa privação Vai declinando No tempo O que pra sempre Eu quis ter... VÊS, BERNARDO, Que destino, Que desassossego, O meu? Este que agora Te fala É outro, Já não sou eu. QUE DESENCONTRO Foi esse
Na rua
Da minha vida Desde o dia Em que a vi? Dei-lhe errados Sinais Nos momentos Cintilantes Que com ela Eu vivi? TALVEZ NEM AME Esta minha poesia Porque senti-la É como um
Doce sofrer, É um canto
De pesar
E é canto
De prazer,
É tudo Em quase nada, É melodia De fada Mesmo quando Faz doer. NO POEMA Eu até finjo, É poeta Quem o diz, E mesmo Que sinta O que digo Nunca hei-de Ser feliz. O POEMA É como a vida, Posso ouvir A sua alma Em desejos Com palavras, É um modo De a ter, É remédio Que me salva De em solidão A perder. ESTE CANTO É, pois, meu, Nem ela Mo pode Roubar E se disserem Que é seu, É verdade... ............ De enganar. O VERSO É o meu beijo Nesse rosto Que perdi, É quente Como uma chama E resiste A quem lhe diz Que o poeta Não a ama Porque desenha As palavras Com um pedaço De giz. O AMOR Em poesia É parte nobre
Do mundo, Sofrê-lo Como utopia É ir mais longe, É ir a fundo, Porque poeta Que ama Não é pobre Vagabundo,
Mas luz
Que brilha
Na chama. NÃO GOSTO Desta renúncia, Não gosto, Mas que posso Eu fazer?
Se não cantar O que sinto É certo que A vou perder.
SILÊNCIO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Som do Silêncio”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2021.

“O Som do Silêncio”. Jas. 11-2021
POEMA – “SILÊNCIO”
OUÇO O SILÊNCIO
Que me cerca,
Adentro-me
Na multidão
E ele cresce
Por dentro,
Na alma
Me cresce
E, quase, quase,
Como grito
Sufocado...
..............
Me ensurdece.
AH, É DEMAIS,
Este silêncio,
Caustica-me
A pele
Macia da
Memória,
Uma moinha
Na alma,
Silvo
De vento
Cortante
Nas janelas
Destroçadas
Da emoção.
E EU FUJO
Para o ermo,
Lá em cima,
Na montanha,
Solidão de
Eremita
Que procura
A melodia
Do nome
Silenciado,
Aquele que nunca
Ousaste
Pronunciar,
Palavra em degredo
Que só o poema
Pode resgatar.
MAS, LÁ NO ALTO
(É sempre assim),
Ouço uma harpa
Dedilhada
Por ti,
Notas musicais,
E vejo riscos
Esvoaçando
No teu azul
De Lisboa
Em direcção
Ao infinito...
VEJO-TE SAIR
Da neblina
Cintilante
Do rio
Que te veste
E sacio-me de
Palavras
Até que a inspiração
Chegue
E as componha
Em poema
Que te cante
E que te conte
Às nuvens
E ao vento
Que passa...
NOMEIO-TE
E sussurro
Uma pequena
Palavra
Que nunca ousei
Pronunciar,
Mas que ouviste
Ressoar-te
Na alma
Mil vezes,
Em mil poemas
Sufocados...
O SILÊNCIO
É a tua fala
(Bem sei),
Mas eu não sairei
Deste poema
E do ermo reparador
Até que me ouças
E soletres
Finalmente
Esse nome
Com as cores
Da tua fantasia...
FICO PRISIONEIRO
De um poema
Em construção,
Resgate
Desse nome
Perdido
Na ilha remota
Da tua memória,
Como âncora firme
Da minha própria
Salvação.
ENCONTRO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Silhueta”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2021.

“Silhueta”. Jas. 11-2021
POEMA – “ENCONTRO”
OS ASTROS
Alinharam-se
Uma só vez,
Passados anos
E anos
De sofrida aridez
Que roubou
Tempo
À fantasia,
Luz
À vida,
Cada instante,
Lentamente,
Cada dia...
ENCONTREI-TE
Sem querer,
Astros
Ou destino,
Quero lá saber,
Se é tão bela
Esta forma
Tão singela
De te ver.
ABANDONEI-ME
Ao destino
E o acaso
Chegou.
Vi-te estranha
Em tardio
Reencontro,
Com a fita
Da memória
A rodar
Em moviola...
ERA INCERTA
A tua imagem,
O olhar
Levemente
Embaciado...
..............
Um arco-íris
Descera
Com o sol
Dessa manhã,
Dourado,
Gotículas
Brilhantes
Como lágrimas
De nostalgia
Cobriram-me
O olhar
Pra te ver
Como se fosse
Magia.
FICOU-ME
A alma cheia,
Cintilante,
A transbordar...
............
Mas o vazio
Também logo
Regressou,
Um sorriso,
Um instante,
Duas palavras
Pra enganar
O silêncio...
.........
E o ânimo
Quebrou.
VISLUMBREI-TE
A caminho do
Destino,
Raptou-me
O acaso
A incerta
Silhueta
Que não pude
Desenhar
No meu campo
De visão,
Como se fosse
Castigo
Sem ponta de
Compaixão.
E AQUI ESTOU EU
Devolvido
À solidão,
Novas saudades
De ti,
Um poema
Em gestação...
SÓ ASSIM TE SEI
Falar,
Fico incerto
Se te vejo,
Troco o passo
A cada instante,
Hesito nesse
Momento,
Finjo aquilo
Que não sinto
E, por fim,
Fico tão-só
Amante da poesia
Que me dá o que
Não tenho...
............
Uma réstia
De alegria.
OS ASTROS
ALINHARAM-SE
Pra te voltar
A perder...
...........
Dois minutos,
Um sorriso,
Pouco mais.
Este novo
Entardecer
Chegou cedo
Ao meu cais.
DESTINO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Voar no Jardim Encantado”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.

“Voar no Jardim Encantado”. Jas. 2021
POEMA – “DESTINO”
PINTO E CANTO
O meu destino,
Sonhos velados,
A minha vida,
Perdi a chave
Da tua porta
E só me resta
A despedida.
POR ISSO CANTO
Com as aves,
Voo mais longe
E com mais cor
Porque no céu
Há mais azul
E nos meus sonhos
Há menos dor.
HÁ UM SEGREDO
Não revelado,
Dizê-lo
Não deveria
Porque seria
Grave pecado
E certamente
Mentiria.
E NÃO O DISSE,
Mas eu pequei
Com murmúrio
Apaixonado
Em poemas
Tão inocentes
Como estar só
A teu lado.
POR ISSO VOO
Sempre mais alto,
Trepo nas cores
Pra lá chegar,
O céu azul
Dá-me alento
Pra meus segredos
Eu dissipar.
LEVO PALAVRAS
Comigo,
Procuro inspiração,
Levo cor,
O meu abrigo,
Levo musas
E tudo o mais
E quando parto
Lá para cima
É sempre festa
Nesse meu cais.
LEVO-TE A TI
E deste jeito
Voo sempre
Sobre o teu mar
Para que sinta
Lá bem no alto
Ar rarefeito
E assim te possa
Abraçar.
EU CANTO
E pinto
Por tudo isto,
Pra resgatar
O meu pecado
De exaltar
Esse teu rosto,
Iluminar
Em aguarela
O enleio
Do meu olhar,
Por te ver
Na nossa rua
Debruçado
Na janela
Com vontade
De te pintar.
POR ISSO CANTO,
Por isso pinto,
Por isso voo
Lá para o alto
Em liberdade,
Eu lá não vivo
Em sobressalto
Porque te sinto
Como verdade.
MAS VEM COMIGO,
Eu dou-te asas,
Prò infinito
Do céu azul,
Voamos juntos
Ao mesmo tempo
E o nosso rumo
Será o Sul.
VÁ, VEM COMIGO,
Voa mais alto,
Ah, meu amor,
Se tu vieres
Eu já não sofro
E ganho vida,
Vai-se embora
A minha dor
E já não sabe
A despedida.
VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA
A Manuel Bandeira
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Pasárgada”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.
(Primeiras versões
do poema e da pintura:
Novembro de 2018).

“Pasárgada”. Jas. 10-2021
POEMA – “VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA”
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
É outro mundo,
Irmão,
Eu não fico
Por aqui,
Falha-me
Inspiração
Porque a brisa
Do Nordeste
Ficou lá,
No Maranhão.
TENHO SAUDADES,
Manel,
Nostalgia do futuro,
Não quero
De volta
O passado,
Foi um tempo
Muito duro,
Foi um tempo
Confiscado.
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
Há tempestade
No ar,
Não quero
Ficar aqui
Porque a brisa
Do teu berço
Não passou
Do Piauí.
PRA PASÁRGADA
Quero ir,
Lá todos
Falam verdade,
Por aqui
Não ficarei,
Já me falta
Liberdade,
Lá sou amigo
Do rei,
É muito bela
A cidade.
GOSTO DE TI,
Ó poeta
Do reino
Da utopia
Em busca
Da liberdade
No país da
Poesia
Onde se canta
E se dança
Porque o ar
É do mais puro
E cheira
A maresia,
Perfume
De divindade.
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
Não gosto
D’estar aqui,
Há ruído
Que é demais,
Esta terra
Não me serve,
Eu espero-te
No cais...
..........
Navegamos
No teu barco
À procura
De mar calmo,
Céu sereno
E tudo o mais,
Viajando
No azul,
Peixes voando
No mar,
No horizonte
Uma ilha,
Mulheres lindas
A acenar...
EM PASÁRGADA
Sou feliz,
Canto e
Danço
Na madrugada
Até que o corpo
Se canse
Com alma
Apaixonada
E adormeça
No regaço
Da mulher
Que for
Amada.
POR AQUI OUÇO
Ruído,
Há armas
A crepitar,
Matam poemas
Com gritos,
Já não podemos
Cantar...
VOU CONTIGO
P’ra Pasárgada
Meu mestre
De poesia,
Cantarei os teus
Poemas
Seja noite
Ou seja dia,
Alegram-se
As nossas almas
No reino da utopia.
O POETA-PINTOR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Musa”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.

“Musa”. Jas. 10-2021
POEMA – “O POETA-PINTOR”
O POETA BRINCAVA
Com suas palavras,
Cantava-te sempre
Quando não estavas.
ERA UM POETA,
Era fingidor,
Não te desenhava,
Cantava-te
A cor.
SUAS CORES
Eram as palavras,
Fazia pincel
Da sua caneta,
O pintor riscava,
Mas a sua tinta
Já não era preta.
POR ISSO COMPROU
Um belo pincel...
.................
Pintava, pintava,
Era a granel,
E a sua tela
Deixou de ser
O velho papel.
DESCOBRIU A COR,
Que o fascinou.
Azul, vermelho
E tanto amarelo...
...............
Tudo ele pintou,
Procurando sempre
O que era belo.
ATÉ QUE O ENCONTROU
Na cor dos
Teus olhos.
Era luz da pura
Que iluminava
O novo papel
Onde desenhou
O teu fino rosto
Com o seu pincel.
DEU CORPO À COR
Com que te dizia,
As suas palavras
Tornaram-se riscos,
Mais que poesia.
PINTAVA-TE ASSIM,
Os poemas
Já não lhe chegavam,
Pintor de palavras
De cor as compunha
E versos voavam
No azul do céu...
..................
“E o que tu fazias
Faço agora eu”
(Dissera-lhe um dia)
“Porque sou poeta
Mas também pintor.
Deixaste-me só
Entregue à palavra
E eu,
Tão pobre de ti,
Pintei-me de dor.”
“MAS EU FAÇO DELA
O meu arco-íris
Pra subir ao céu
A ver se t’encontro
Atrás duma cor,
Pintando o teu rosto
Para um poema
Que vou escrever
Com este pincel
Que trago comigo
Enquanto viver."
O POETA BRINCAVA
Mas era séria
Essa brincadeira,
Perdido em palavras
Encontrou a cor
E nos seus poemas
Dela fez bandeira...
.................
Tornou-se pintor.
TARDO A ENCONTRAR-TE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Mulher,
a Janela e o Espelho”. Original de minha autoria. Outubro de 2021.
POEMA – “TARDO A ENCONTRAR-TE”
TARDO A ENCONTRAR-TE Porque não sei Como procurar-te Levado Por um poema Com as asas Do desejo... NÃO É A VONTADE, NÃO, Mas o destino a marcar Os passos que Eu darei Ou que nunca Ousarei Nesta estreita Vereda Da minha vida. E TU SABES Que não sei, Mas sabes por onde Andei E me perdi, À procura do que Não podia ter Pra preservar O que apenas Me sobrava... ............... Dentro de mim. ÀS VEZES Encontrava-te... Encontros fugazes Onde o teu brilho Cegava Por fora E me iluminava Por dentro... ............... E cantava-te E pintava-te a alma Com palavras roubadas Ao arco-íris. MAS NÃO SEI Se te hei-de querer Para nunca Te ter, Sentir saudades, Logo ao amanhecer, Do perfume
Da aurora, Quando te reencontrava Na memória fresca E matinal Dos afectos
Indefinidos De outrora, Os mais perfeitos E contidos. SIM, DEIXO-ME IR Nas mãos do destino, Bem sabes, Mas há sempre Um súbito Sobressalto Quando o real Me atropela Por dentro E tudo se torna Inóspito... MAS SE NÃO Me deixo ir Por aí, Viajo para outros Lugares, Tenho sempre De viajar À procura de mim, De um espelho onde Me veja por dentro A olhar-te Por fora, À espera do próximo Sobressalto... ................ Que nunca demora. AH, COMO ME FALTA Esse véu que te cobre Quando te quero Pintar com palavras E te vejo Nua, Com a alma a tiritar, À mercê dos sobressaltos Que te marcam Como sulcos, Cicatrizes ásperas Da vida. MAS EU PROCURO-TE Com disfarçado E tímido Olhar, Perscrutando A alma Que se aninha Em ti Para te proteger Do risco da beleza Exposta Como fractura, Aquela que os poetas Sofrem, sim,
Mas cantam Quando sentem a Liberdade Ali por perto. TALVEZ A NOITE Te sirva de véu E te cubra
As cicatrizes Da vida, Luz coada pela Penumbra Que te amacia A pele Encrespada E te devolva como Sonho Acetinado Onde reinventar-te Como mulher Desejada, Para além do bem E do mal, Para além do pecado. MAS EU NÃO SEI, Tenho medo Dos sobressaltos, De ser atropelado Na esquina de um Inocente Jogo sedutor Que te cative a Alma Já em fuga Para o infinito Que, ao longe, Se cruza Nos nossos olhares... .............. Intermitentes. TARDO A ENCONTRAR-TE No bulício dos nossos Dias, Até que no amanhecer De um poema Te volte a visitar E te diga, Com olhar Submisso: "Ah, que saudades Eu tinha de ti..." Mas talvez já seja Tarde demais.
CATEDRAL
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "A Fonte".
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.

“A Fonte”. Jas. 10-2021.
POEMA – “CATEDRAL”
VIAJEI NO TEMPO
Até à cidade,
Encontrei-te
Por ali,
Rosto sereno,
Inocente,
Como quem
Sempre sorri.
FOMOS AO TEMPLO
Da rua
Da minha vida,
À cúpula
Da catedral...
..............
Não te abracei
Nessa noite,
Era sagrado
O lugar,
Seria abraço
Fatal.
MAS FICOU-ME
O prazer
De te ter ali
A meu lado,
A sonhar-te
Nos meus braços,
Nos beijos
Que não trocámos
Numa noite
De luar,
Quando o amor
É mais intenso
E o corpo
Se desnuda
De tanto a lua
Brilhar.
FOMOS À PRAÇA
NAVONA,
Escutámos
As águas
Da "Fonte
Dos Quatro Rios"
(Essa dádiva
Do Bernini),
Íntimos,
Em sintonia,
Antevendo um futuro
Que nunca mais
Chegaria...
ATÉ QUE ME PROCURASTE
Nessa fita
Da memória,
A noite perdida
De afectos
No alto da catedral,
Corpos tensos,
Sem palavras,
Na fronteira
Do amor...
TORNOU-SE MAIS VIVO
Que nunca
O que não aconteceu
Como se fosse
Futuro
Que, afinal,
No teu passado
Ainda não se
Perdeu.
E CÁ ESTAMOS DE NOVO
À procura
Dessa noite,
Dos beijos
Que não te dei,
O passado já é
Futuro
E desse tempo
No limiar
Do sagrado
Já não sei
O que farei.
TALVEZ FAÇA UM POEMA
Para te reencontrar,
Cantar esse
Sorriso terno
De que sempre
Eu gostei,
Voar no tempo,
No espaço sideral,
Pousar de novo
Contigo,
Numa noite de luar,
Na cúpula
Da catedral...

“A Fonte”. Detalhe.
TEMPO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Oráculo".
Original de minha autoria.
Setembro de 2021.

“Oráculo”. Jas. 09-2021.
POEMA – “TEMPO”
É TEMPO DE RECOMEÇO?
Talvez seja,
Talvez não.
O que ontem
Eu já era
É o que hoje
Eu sou,
Não é tempo
De mudança
Nem tempo
De negação
Porque gosto
De cantar
Neste lugar
Onde estou.
O DESEJO
(Sempre instável)
Pediu tempo,
Rituais,
Celebração,
Mas o tempo
(Insondável)
Resistiu
Ao que a vontade
Tentou...
..............
É tempo
De recomeço
Quando o tempo
Não passou?
EM CADA MOMENTO
Da vida
Procuro
O tempo
Que antes
Eu não vivi,
Procuro
Reinventar
Tudo aquilo
Que perdi,
Num poema
Ou em pintura
Para repor
O que sou
Antes que volte
A perder-me
Nos lugares
Pra onde vou.

“Oráculo”. Detalhe.
INFORMAÇÃO AOS LEITORES
A TODOS OS AMIGOS E LEITORES QUE AQUI ACOMPANHAM A MINHA POESIA, A MINHA PINTURA, OS MEUS ARTIGOS E ENSAIOS, INFORMO:
1. Durante o mês de Agosto suspenderei a regularidade das minhas publicações. Foram vários anos sem interrupções e chegou a altura de fazer uma curta pausa de reflexão.
2. Entretanto, antecipo a capa de um Livro de Poesia de minha autoria, João de Almeida Santos, Poesia (Lisboa, Buy The Book, 2021), prestes a entrar em tipografia. O livro inclui 67 poemas, um capítulo “Sobre a Obra de Arte” e, outro, com “Diálogos com os Leitores Digitais” sobre vinte dos poemas aqui publicados, tendo alguns destes poemas ilustração no livro. Tem 438 páginas (contando com as ilustrações), capa rija, cosido, com 12 ilustrações de minha autoria reproduzidas em papel couché mate. A capa reproduz uma obra minha: “O Aurífice”, criada para o poema “Esculpir-te”.
3. Prevejo que o livro esteja disponível ainda este mês ou no início de Setembro.
4. Será uma edição limitada (150 exemplares) e só pode ser adquirido por encomenda, via WhatsApp, Messenger ou E-mail, feita ao autor.
5. É editado pelas Edições Buy The Book.
6. Aqui fica uma antevisão da Capa e do Índice.
7. Índice do livro: João De Almeida Santos, Poesia, Lisboa, Buy The Book, 2021
NOTA INTRODUTÓRIA I - SOBRE A OBRA DE ARTE II - POESIA 1 - CANTAR Sou o que sou Palavras O poema Canta, poeta, canta O poeta que se fez pintor Pintei-te Não sei se te chegam, as palavras A carta Segredo I Solidão Esculpir-te Invocação Lua O poeta e a máscara O poeta e o vendaval Elas fogem, as palavras A palavra proibida Confissões de um confinado Geometria O benfeitor 2 - TEMPO Tempo A porta do tempo A reinvenção do tempo Espelho do tempo A fronteira Na bruma da memória Março Mudam os ventos e mudam as palavras Catedral Rituais Para Leonard 3 - RAÍZES Jasmim Romã Tentação Teu corpo de cristal Casta diva Mandei podar o loureiro O pavão O jardineiro 4 - VIAGEM Viagem Liberdade 5 - MUSA Musa Cor, dá-me cor A flor de papel O meu nome Marmelada O brinco O beijo Não sei A janela À janela Certos dias Encontrei-te lá em cima, no monte Origem Segredo II Caminhos paralelos Valsa Pas de Deux Nostalgia 6 - SONHO E UTOPIA Sonhar A aguarela Quase Alma Um sonho na aldeia Vou contigo pra Pasárgada Vã utopia III - REFLEXÕES EM TORNO DOS POEMAS Diálogo com os Leitores Digitais IV - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAs
#JAS@08-2021
FLOR DE PAPEL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fleur de Papier en Vol à la recherche du Poème perdu dans un Jour d'Hiver"”. Original de minha autoria. 25 de Julho de 2021.

“Fleur de Papier en Vol à la recherche du Poème perdu dans un Jour d’Hiver”. Jas. 07-2021.
POEMA – “FLOR DE PAPEL”
NUM DIA DE INVERNO Uma flor de papel Voou Para longe, Levada pelo vento, Rajadas fortes Quebraram Os subtis Filamentos Que a ligavam À raiz de onde Nascera... ........... Seu alento. CONTINUA A VOAR, A flor de papel, Ao sabor do vento, Pousando Aqui e ali E logo voando Para outros Destinos, Num perpétuo Movimento. PERDEU AS CORES Luminosas Que exibia E a fonte D’inspiração (Sua seiva De cada dia), Borboleta Já sem pólen Para nova Gestação No jardim Da fantasia. MAS NUM DIA Quente De Verão (Eu bem sabia) Encontrei-a, Por acaso, Aninhada Num arbusto, À espera que O vento A levasse Prà ilha Da utopia. PEGUEI-A Na minha mão E levei-a Ao Jardim Do meu poeta Pintor, Nosso chão E recanto Inspirador. DEU-LHE COR, O meu poeta, Alisou suas Rugas De papel, Mostrou-lhe O horizonte Lá em cima Na Montanha Nesse dia de Verão E logo a lançou Ao vento, Ao encontro De raiz Que nutrisse Com a seiva Uma nova Floração...
A MONTANHA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Mulher”. Elaboração
de minha autoria, apud Gustav Klimt
(“Estudo de uma Jovem”, 1885).
Julho de 2021.

“Mulher”. Jas. 07-2021.
“I live not in myself, but I become / Portion of that around me; and to me, / High mountains are a feeling....” LORD BYRON Childe Harold’s Pilgrimage (1812-18). Canto III, 72 (1816).
POEMA – “A MONTANHA”
ESTOU A PERDER-TE, Meu amor, O estro Esmorece, Vai perdendo Lentamente O seu fulgor, O poema Empalidece E eu, Em poética anemia, Já sinto Um suave E sonolento Torpor. SUBI A MONTANHA Contigo E, feliz De lá chegar, Com palavras Que me deste Eu aprendi A cantar. CANTEI A TUA PARTIDA Quando desceste O vale E eu, Triste, caminhei Por veredas Sem destino A que nunca Mais voltei. PERDIDO De ti, Vagueei À procura De eco Do meu canto Derramado, Som puro E cristalino Que pra ti Foi desenhado. MAS O ECO Era silêncio Profundo Vindo do azul Quase irreal Da abóbada Celeste Na montanha Seminal. NEM SEQUER O CLARÃO De um cometa Fugaz Me visitava, Pinhal abaixo, Rumo ao horizonte Do meu inquieto Olhar. O AR RAREFEITO Da montanha Tomara conta De mim, Desfalecia A emoção De te rever, Reinventar E cantar Em surdina Perante o Silêncio Cortante Que me negava, Impenitente, O eco da Minha canção. ERA POÉTICA Anemia, Nos sentidos Desmaiados Calava A melodia, O som Era murmúrio Inaudível, Sem ponta De comoção, Alma ferida Que já nem A dor sentia De tão gasta Nesse tempo Por excesso De paixão. AGORA DESÇO Também eu Ao vale Da minha vida E regresso À triste monotonia, Sem ti, Sem corpo Imaginado, Semente De poesia. O VALE ESPERA-ME, Já tem sabor A rotina Porque sei Que não te vejo E estremeço, Que já não Sobram sinais Da rua do Desencontro, Fugas Irreais Para os teus Infinitos Nem janelas De onde te veja Passar Ou sequer imaginar Na esquina Esquecida Do nosso Contentamento. ESTOU A PERDER-TE, Não há janela Nem infinito Ou cor, Não há tempo Nem lugar, Não há poema Nem mar Que suspenda O vazio De não te poder Encontrar... ............. Eu perdi-te, Meu amor.
ARTE AO VIVO – 8
NO MEU JARDIM ENCANTADO
“O VOO DA MAGNÓLIA”, 2021
Partilho a imagem de mais um quadro já pronto para a Exposição em preparação, 90,5×115,5, em papel de algodão Hahnemuehle e com vidro de museu (70%). Este quadro pode ser adquirido, mediante comunicação de eventual interesse via E-mail, WhatsApp ou Messenger.
JAS – “O VOO DA MAGNÓLIA”, 2021
PAS DE DEUX
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Penché”.
Original de minha autoria.
Julho de 2021.

“Penché”. Jas. 07-2021.
POEMA – “PAS DE DEUX”
SOU COREÓGRAFO
Da minha alma,
Desenho-me
No espaço,
Embalado
Pela suave
Melodia do teu
Silêncio.
IMAGINO-ME,
Às vezes,
Num "Pas de Deux”
Contigo
Num palco
Em noite
De luar
Ali, na praia
Da meia-lua,
A dançar
O murmúrio
Desse mar
Com que te
Pintas
E ouves
Dentro de ti.
DANÇAMOS
Com palavras,
Enleados
Pelos fios
Dos poemas
Com que
Teimosamente
Ilumino
Os caminhos
Por onde nunca
Ousarás passar.
O SILÊNCIO
É a tua
Sinfonia,
O teu canto
De sereia,
A melodia
Que ressoa
Nesse mar
Murmurejante
De linóleo
Onde nos desenhamos
Em suave
Bailado,
Numa despedida
Que nunca
Terá fim.
GOSTO DESTA DANÇA,
Contraponto
Dos sinais
Invisíveis
Com que pontuas
A tua assinalada
Ausência,
E imagino-te
Num bailado
A solo
Com o som
Da minha poesia
Na praia
Da meia-lua,
Numa noite
De luar
E perfume
A maresia.
CANTO-TE, SIM,
Mas neste meu
Canto
Eu conto-me
Como espelho
Onde podes
Rever
O passado
Desse futuro
Que nunca
Existirá.
AGORA, SOZINHO
No linóleo,
Acendo um sol
Com as minhas mãos
E procuro
O que nunca
Encontrarei...
..........
A não ser
Sombras
De mim próprio
Gravadas
Na areia branca
Da baixa-mar.
ESTE,
O que te celebra
Em arte,
Já não sou eu,
Mas o coreógrafo
Da minha
Melancolia
O BEIJO
Poema de João De Almeida Santos.
Ilustração: "O Beijo". Original
de minha autoria para este poema.
Dia Internacional do Beijo -
- Seis de Julho, dia que celebro,
com um poema, cada ano.
Inspirado em "Lotte in Weimar"
(1939), de "Thomas Mann,
a obra que continuou "Werther"
(1774), de Goethe, e no meu
romance "Via dei Portoghesi".

“O Beijo”. Jas. 07-2021.
LEITMOTIV
“O amor é o melhor na vida, assim,
no amor, o melhor é o beijo –
Poesia do amor...”. “Beijo
é alegria, procriação é luxúria”
Thomas Mann
Inspirado também em:
“Os beijos escritos
não chegam ao destino,
mas são bebidos pelos
fantasmas ao longo
do trajecto”
Kafka
“Se para te beijar devesse,
depois, ir para o inferno,
fá-lo-ia. Assim, poderia
vangloriar-me, com os diabos,
de ter visto o paraíso
sem nunca lá ter entrado”
Shakespeare
“O primeiro beijo não é dado
com a boca, mas com os olhos”
Bernhardt
POEMA – “O BEIJO”
FOI O QUE NUNCA
Te dei
A não ser
Com o olhar,
O primeiro,
Esse beijo,
Dei-to, pois,
Sem te tocar.
E DEI-TE MAIS,
Com palavras,
Quando olhar
Já não podia,
Foste embora
Para longe
E eu, triste,
Não te via.
FORAM BEIJOS
Que sonhei
Na rotina
Dos meus dias
E desejos
Que enfrentei
Quando tu mais
Me fugias.
MAS DOU-TE BEIJOS
Escritos
Que se perdem
No caminho
E se me falta
O poema
Fico ainda mais
Sozinho.
O BEIJO
É emoção,
É razão
Descontrolada,
Se não for dado
A tempo
Pouco mais será que
Nada.
SEM BEIJO
Não há amor,
Sem amor
Perde-se o beijo,
A vida perde
Sentido
Se me faltar
O desejo
De na alma
Te beijar
Por assim te ter
Perdido.
AQUI O LANÇO
Ao vento
Pra que atinja
Como brisa
E suave melodia
Esse rosto
Que precisa
De afecto
Em poesia.
ESSE BEIJO
Que me falta,
De que nunca
Fui capaz,
Voa pra ti
Em palavras
Na sua forma
Mais pura
E desejo que,
No trajecto,
Voe, voe
A grande altura,
Que fantasmas
Não o bebam
E minha dor
Tenha cura.
MAS SEI
Dos escolhos
Da via,
Dos perigos
Que ele corre,
Capturado
Por fantasmas
É mensagem
Que me morre.
NO DIA DO BEIJO
É hora
De te cantar
Em voz alta
A poética do amor
Pra me redimir
Dessa falta
Com palavras
De poeta
Desenhadas para ti
Com mestria
De pintor.
E PORQUE O DIA
É teu
Ganha força,
Intensidade,
Mesmo que fantasmas
O bebam
É um beijo
De verdade.
ESSE BEIJO
Que não dei
Foi pecado
Original,
Hei-de sofrê-lo
Pra sempre
Como chaga
Corporal.
NÃO HÁ PALAVRAS
Que bastem
Pra repor
O que não dei,
Elas voam,
Mas não chegam
E mesmo assim
Eu tentei.
É CERTO QUE SEMPRE
O quis,
Só que nunca
To roubei,
A culpa foi desse tempo,
Dos dias em que
Te amei,
Um tempo em diferido
Sem presente
Nem futuro,
Talvez beijo
Sem sentido
Porque queria
Do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas
Do Paraíso,
Um beijo
De divindade,
Mas simples
Como um sorriso.
ESSE BEIJO
Impossível
Que não é do
Foro humano
Vou tentando
Construí-lo
Cada dia, cada ano,
Perdendo-me
Pelo caminho
Como sagrado
Em profano.

“A Ponte”. Jas. 07-2021. Detalhe.
METAMORFOSE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Ponte”. Original de minha autoria para este poema. Julho de 2021.

“A Ponte”. Jas. 07-2021.
POEMA – “METAMORFOSE”
CAMINHAS Suavemente, Tão irreal, Sobre todas As cores Que te dei. És planta De Jardim Com perfume Que eu sempre Procurei... TENS FLORES Brancas No corpo, Aquelas de que Cuidei, Alimento De meus olhos E aroma Dos poemas Que para ti Cantarei. CAMELLIA É o teu nome. Encontrei-te, Desta vez, Em profunda Solidão, Alvura Tão luminosa Que quase Te desejei Na palma Da minha mão. QUIS TRAZER-TE Para dentro Do poema, Disseste Logo que sim, O encanto De um abrigo Que é cuidado Por mim. FALEI CONTIGO, Dei-te palavras, Apontei-te O caminho Pra vencer A solidão Pois, tu, Divina brancura, Não sofrerias A dor Se viesses ao Abrigo E me desses A tua mão... CAMINHÁMOS Juntos Numa ponte Prà outra margem Da vida Com passos De liberdade Que nunca Pra nós seriam Passos de Despedida, De tristeza E de saudade. VEJO EM TI Uma mulher Deslumbrante, Recrio-te Com afeição, Pinto-te Em movimento, Quero-te livre A voar Ao sabor Da inspiração, É azul o teu Caminho, Levo-te eu Pela mão. ESSA PONTE De papel Que parece um Arco-íris Vai levar-te Ao Jardim Onde a cor É alimento, É como favo De mel, De meus olhos O sustento Quando pinto O teu rosto Com palavras... .......... A pincel. COMO VÊS, A solidão De uma flor Pode ser libertação Se a pintarmos Com palavras E lhe dermos Muita cor Com a força da Paixão.
ARTE AO VIVO – 5
No meu Jardim Encantado
“Pasárgada”, 2021
Partilho a imagem de mais um quadro já pronto para a Exposição em preparação, 108×138, em papel de algodão Hahnemuehle e com vidro de museu (70%). Este quadro pode ser adquirido, mediante comunicação de eventual interesse via E-mail, WhatsApp ou Messenger.
JAS – “PASÁRGADA”, 2021
JAS – “PASÁRGADA”, 2021
AUSÊNCIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Silêncio”. Original de minha autoria. Junho de 2021.

“Silêncio”. Jas. 06-2021.
POEMA – “AUSÊNCIA”
SINTO A TUA FALTA, Ah, eu sinto, Por isso canto e danço Até cair exausto No palco De um poema. SINTO O TEU SILÊNCIO, Que já nem Murmúrio é, Um vazio cá No fundo De que o canto É o eco E sofrido Contraponto. RECORDO, Mas já não sinto, O veludo Da tua pele E, por isso, Eu a pinto Numa folha De papel. EU NÃO OUÇO A tua melodia. Caio, pois, Sempre em silêncio Para melhor Te sentir Cá dentro Da fantasia. FAZ-ME FALTA A tua voz, Faz-me falta O teu sorriso E como já nem Me pintas O nome Eu canto-te No meu poema Pra que te possa Inventar. DA TUA FALTA Nasceu em mim Uma orquestra Para uma Sinfonia, Contraponto Do silêncio Que teimas Em desenhar Como tua melodia. NA TUA AUSÊNCIA Eu vejo corpos Que dançam Abraçados Ao sabor da Fantasia Em andamentos Sem fim, Vejo luzes, Vejo cores, Sinto aromas De mil flores Que me fazem Companhia Neste palco De um poema Inacabado Porque lhe falta Alegria. TU FALTAS-ME E eu revivo-te No canto e Na cor, Na dança E no amor... ............ Em poesia. São palavras Que lanço Ao vento, Construindo As pontes Invisíveis Desta minha Utopia. TUDO RECRIO Pra te reencontrar À distância De um poema, Cantar-te, Dançar Com as palavras, Dizer-te Em surdina Para melhor Ouvir O que nunca Me dirás. VISITO-TE, ASSIM, Das mil maneiras Com que te Procuro E te digo, Encerrado Nesta torre De marfim, Numa teia Enredado Pra melhor Te reviver Com a leveza Da arte Cá bem mais Dentro de mim.
NA BRUMA DA MEMÓRIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Magia”. Original de minha autoria. Junho de 2021.

“Magia”. Jas. 06-2021.
POEMA – “NA BRUMA DA MEMÓRIA”
QUERIA LEVAR-TE Uma rosa Branca Aos sete céus Do meu afecto, Desci fundo Na memória Onde ainda te Guardava Como se fosse Teu tecto. PROCUREI-TE Na bruma Espessa Que caía Sobre mim E quase não te Encontrei, O tempo gastara O passado, Ficou uma saudade Sem fim. PERDERA-TE O rasto E o perfil, Até teu nome Perdeu cor, Teu olhar Luzia Intermitente Numa neblina De dor. NO MEIO DA NEBLINA Esfumava-se O teu rosto De tanto eu Te perder, Era incerto O cintilar De teus olhos Na vontade De te ver. ERAS BRUMA Indefinida Nos céus onde Te quis encontrar, Mas sobraste Como imagem... .............. A que eu soube Desenhar. PERDI-TE A VOZ E a tua Melodia, Quase tudo, Meu amor... ............... Ah, mas, no fim, Não te perdia... Ficou-me de ti O sabor. PORQUE JÁ ERAS Imagem Que me sobrou Desse afecto Que por ti Sempre senti, Construção De arquitecto Para nunca Te perder Desde o dia Em que te vi. E VOLTEI. (Eu volto sempre). É desejo De te ver, Dar-te corpo Nas palavras Com que te quero Dizer Ainda que Do poema E dos céus Do meu afecto Acabe por Te perder. AGORA, DESENHO-TE Com palavras e Com cores, Com paisagens Que tenho dentro De mim, Com rostos, Com aromas E flores Deste bendito Jardim, Um passeio Com pavões, Uma delicada Utopia, Gritos de alma, Emoções... ................ Pra te recriar Com magia E contigo Caminhar No alto Da fantasia, Onde vive Essa imagem Que desejo Encontrar. VOO, POIS, Com uma rosa, Vestido como Arcanjo, Pra te ver Ali ao perto, Olhos negros, Cintilantes, Mas um pouco fugidios Ao jogo da sedução Numa noite De luar... ............ Ou talvez De perdição. É UMA ROSA De brancura Transparente Pra que sintas Lá bem alto O aroma Desta minha fantasia. Talvez assim Te encontre Envolta na neblina Que nunca se dissipou (Mas agora cristalina) Desde aquele Incerto dia Em que o nosso Olhar se cruzou.

“Magia”. Detalhe.
ARTE AO VIVO – 4
NO MEU JARDIM ENCANTADO
Partilho a imagem de mais um Quadro, dimensão 66×83, já pronto para a Exposição em preparação, em papel de algodão Hahnemuehle e vidro de museu (70%). Este quadro pode ser adquirido, mediante manifestação de interesse via E-mail, WhatsApp ou Messenger.
Título da Obra - “MARÇO” (2021)
ELAS FOGEM, AS PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Letras”. Original de minha autoria. Junho de 2021.

“Letras”. Jas. 06-2021.
POEMA – “ELAS FOGEM, AS PALAVRAS”
QUERIA FAZER-TE Um poema, Ser feliz, Sentir nele A liberdade E as palavras Endoidaram Quando te queria Cantar Invocando A saudade. FUGIRAM Numa revolta Sentida Sem conhecer A verdade, Deixando-me Só Nesta vida, À deriva, Sem dó Nem piedade. EU ESTAVA A MENTIR Sem pensar Na crueldade De as usar Como queria Só porque Tinha saudade... ESGUEIRARAM Rua fora, Cada uma Por seu lado, Espavoridas, Em fuga Deste poema Tentado. UMAS ESVOAÇAVAM No fio Do horizonte, Outras Aninhadas No passeio Desta rua E eu a tentar O versejo Enredado Num enleio Para dar vida Ao desejo. PALAVRAS em correria, Letras Perdendo forma Como fios De novelo Já desfeito De sentido Como a água Do gelo. SÃO FIOS Emaranhados, Letras Que se deslaçam E procuram Outras formas Para lá da minha Rima, Como riscos Numa tela A subir Por ela acima. QUERIA FAZER-TE UM POEMA Com palavras Desenhadas, Mas as palavras Fugiam E corriam Assustadas, Não se viam Alinhadas Nesse recanto Feliz Onde resisto À saudade. ELAS GOSTAM De cantar Quando me sentem Em dor, Elas gostam De vibrar Se me assalta A emoção, Mas se me vêem Feliz Fogem de mim, Dizem “Não”. O POEMA PASSARINHO Procura-te Pra cantar Mas quando A dor esvaece É ele que foge A voar. E HOJE É mesmo assim, Fogem todas As palavras Sem procurar Um destino, Já não consigo Agarrá-las Num poema Genuíno. NÃO SABEM Da minha dor E por isso Vão embora. Estou sem palavras, Amor, Estou muito triste, Agora.

“Letras”. Detalhe.
O POEMA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Auto-Retrato
de um Poeta”.
Original de minha autoria.
Junho de 2021.

“Auto-Retrato de um Poeta”. Jas. 06-2021.
POEMA – “O POEMA”
PARA QUE SERVE
O poema
Se ela,
Do outro lado
Da rua,
Não o vê e
Não o ouve,
Não lhe sente
O perfume?
AH, MAS EU SINTO-A
A ela
Do lado de cá
Do poema
E pinto-a
Em aguarela
Pra que veja
A minha cor,
Olho-a, pois,
Com palavras
E falo-lhe
Como pintor.
PARA QUE SERVE
O poema?
Aquece
A minha alma,
Digo tudo
O que sinto
Mesmo quando
Nos meus versos
Até parece
Que minto.
MAS NÃO ESCREVO
Pra ela
Que não a vejo
À janela
A ver passar
O poema
Na rua do
Desencontro.
O POEMA
É de quem
O possa ler,
Fruir-lhe
A melodia,
É a festa
Dos sentidos,
Da alma
A sinfonia,
É prazer
E emoção,
Só o ouve
Quem o sente,
O poema
É fremente,
Não é coisa de
Razão.
É CANTO
Em harmonia,
É pulsão
Que o sentimento
Desperta,
É sopro que me
Liberta
Das amarras
Da paixão
Porque voo
Em palavras
Ao sabor
Da emoção.
E SE A CHAMO
Ao poema
É pra ter
De volta
O meu eco,
Ouvir o som
De uma dor,
Decantá-la
Em palavras,
Convertendo-a
Em canto
Libertador
Dessa prisão
Que enleia
A que chamamos
Amor.
POR ISSO
EU SOU POETA,
Canto pra quem
Me ouve,
Não aguardo
Reacção,
Porque quando
Alguém nos deixa
Dá vida
À poesia
E asas
À solidão.
EU CANTO-ME
Nestes poemas
Pra resgatar
Minha dor
E se a poesia
Não chega,
As palavras
Não me bastam,
Pois que seja,
Sou pintor.

“Auto-Retrato de um Poeta”. Detalhe.
O POETA E A MÁSCARA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Transfiguração”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2021.

“Transfiguração”. Jas. 05-2021.
POEMA – “O POETA E A MÁSCARA”
COMPREI UMA MÁSCARA, Pu-la no rosto do Meu amado poeta E ele não a Enjeitou. Ainda por cima Me disse: “Sou eu, sou, Como nas palavras Que digo Também meu corpo Mudou”. “NÃO ESPERAVAS Ver-me assim, É grande o teu Espanto, Vá, confessa, Ganhei um corpo De rosa, Tanta cor (A que apeteça), Um rosto Dissimulado Pra me curar Desta dor Sempre que ela Apareça A pedir o meu Cuidado”. “ADOPTEI ESTA FIGURA, Apresento-me assim, As outras Nada te dizem, Com esta Olhas pra mim”. “PALHAÇO É O QUE SOU, Falo a Surdos e mudos Que não ouvem O que digo Nem me dizem O que quero Como se fosse Mendigo Do que, afinal, Nem espero”. “VALHA-ME POIS ESTA MÁSCARA. Assim,rio Desta vida, Rio de ti E de mim, Da chegada E da partida, Dos abraços, Das palavras E, enfim, Da despedida”. “SOU PALHAÇO, É o que sou, Entretenho-me A cantar E se ouvires Este meu canto Um poeta É seu autor, Por isso tu Tu não t’importes, O que diz É de certeza Para espantar Sua dor”. A MÁSCARA É o seu rosto, Colou-se-lhe Logo à pele Com a cola Do desgosto E por isso Já nem sabe Se seu rosto É o dele. COMPREI UMA MÁSCARA Vermelha No mercado Da minha vida, Ponho-lha sempre Que posso, À chegada E à partida, E se puder Não lha tiro Pra não lhe rasgar A alma Pois se o canto O liberta É a máscara Que o salva.

“Transfiguração”. Detalhe.
LA PORTA DEL TEMPO
Poesia di João de Almeida Santos. Pittura: "Trasparenza". Originale mio. Maggio 2021.

“Trasparenza”. Jas. 05-2021.
POESIA – “LA PORTA DEL TEMPO”
UN GIORNO DI PIOGGIA O di sole (Non saprei dirlo) Bussano Alla porta della mia Memoria, Bussano piano, Leggermente, Come chi ti chiama, Come chi ti dice Cosa sente. È TRASPARENTE La porta. Da li Si vede il mondo... E ti ho visto, Così, Ho visto il tuo viso Disegnato Como se fosse Un ritratto. HO VISTO LE TUE LABBRA Sensuali Tinte di porpora, Carnali, Ho visto il verde Brillante Dei tuoi occhi Quando il sole, Innamorato, Li accende E mi dà fuoco All’anima Perché sto Accanto a te, Anche io Ammaliato. NON SO SE Mi hai percepito Nel mondo magico Della mia Fantasia, Luogo di sogno E desiderio, Il mio riparo Dell’utopia. SEI ENTRATA Vibrante, Brillando Come l’arcobaleno, Scintilla Trasbordante Di colore Che arde E mi brucia... .......... D'amore. MA ANCHE TU Eri trasparente. Ti guardo E vedo in te Il cielo plumbeo E quieto Invocando Malinconia, Pace, Nell’inquietudine Del giorno, All’anima mia. ALL’IMPROVVISO Nella trasparenza Del tuo viso Irrompe il sole Dorato Tra il candore Sfumato Delle nuvole Sfuggevoli, In alto, Sulla Montagna Che sempre I miei giorni Accoglie. IL DORATO Diventa ambra E ti copre Il corpo Nudo Nell’intangibile Memoria Dove sempre Ti rivedo Quando si apre La porta Del tempo Con la chiave Del desiderio. TI GUARDO COSÌ, Un pò perso, In estasi, E provo a sfiorare Leggermente La tua pelle Di velluto Satinato... ............ Ma il sole Ti scolpiva Il viso Di luce E io rimasi Appena un riflesso Dei tuoi raggi Filtrati Che segnavano Il destino Dei miei desideri Sognati... MI SVEGLIAI Sentendo Delle dita Che bussavano Pian, piano Più in là, Alla porta Della mia camera Immaginata. Corsi ad aprirla... ......... Nessuno. Solo pura Nebbiolina Io vidi. SONO TORNATO, VELOCE, Ai colori Della mia memoria Per ritrovarti Nella magia Del mio mondo, Ma non c’eri più Neanche come riflesso Del tuo lato Più profondo... AVEVO LASCIATA APERTA La porta del tempo...

“Trasparenza”. Dettaglio.
A PORTA DO TEMPO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Transparência”. Original de minha autoria. Maio de 2021.

“Transparência”. Jas. 05-2021.
POEMA – “A PORTA DO TEMPO”
NUM DIA DE CHUVA Ou de sol (Eu já nem sei), Batem À porta da minha Memória, Batem leve, Levemente, Como quem chama Por mim, Como quem diz O que sente. É TRANSPARENTE, Essa porta. Vê-se o mundo Através dela... E eu vi-te, Assim, Vi teu rosto Desenhado Como se fosse Uma tela. VI TEUS LÁBIOS Sensuais De rubro Tingidos, Carnais, Vi o verde Brilhante De teus olhos Quando o sol Os acende, Apaixonado, E a minha alma Incendeia, Por estar ali A teu lado. NÃO SEI SE Me pressentiste No mundo Mágico Desta minha Fantasia, Lugar de sonho E desejo, Recanto De utopia. ENTRASTE NELE Vibrante, Com brilho de Arco-íris, A transbordar De tanta cor, Esse brilho Que me arde E que queima, Meu amor. MAS ERAS Transparente Também tu. Olho-te E vejo Através de ti Um céu plúmbeo E quieto A rogar Melancolia Que me pacifique A alma Na inquietação Deste dia. SUBITAMENTE, Na transparência Do teu rosto Irrompe O sol, Coado em dourado, Por entre a leveza Esfumada De nuvens brancas, Fugidias, A nascente, Lá no alto Da Montanha Que inspira Os meus dias... O DOURADO Ganha tons de Âmbar E veste-te o corpo Nu, Na intangível Memória Onde sempre Te revejo Quando se abre A porta Do tempo Com a chave do Desejo. CONTEMPLO-TE, Assim, Já um pouco Perdido, Extasiado, E quero tocar, Ao de leve, A tua pele De veludo Acetinado... ........... Mas o sol Esculpiu-te O rosto de Luz E eu já só era Um reflexo Dos teus Raios filtrados Que marcavam O destino De meus desejos Sonhados... DESPERTEI Ao som De dedos que batiam Levemente, Mais além, À porta Do meu quarto Imaginado. Corri a abri-la... ....... Ninguém. Era pura neblina O outro lado. REGRESSEI, RÁPIDO, Às cores Da minha memória Para te reencontrar Na magia Do meu mundo, Mas tu já não Estavas, Sequer como reflexo Do teu lado Mais profundo... DEIXARA ABERTA A porta do tempo...

“Transparência”. Detalhe.
A FRONTEIRA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Horizonte”. Original de minha autoria. Maio de 2021.

“Horizonte”. Jas. 05-2021.
POEMA – “A FRONTEIRA”
OLHO A MONTANHA Da porta De granito Amarelo, Com cristais, Sobre o ocre De um telhado Como se fosse Janela De um palácio Encantado Que do sonho Fosse cais. CONTEMPLO A linha do horizonte, Mas é diferente A visão. Antes, eu via futuro, Agora, vejo passado, Essa tão bela Ilusão De a ter sempre A meu lado. ENTRE PASSADO E FUTURO, É a minha Identidade, Ficou quieta À minha espera Quando dela Eu parti Ao encontro Da cidade. ELA É PORTO De abrigo E é lugar de Partida, É, pois, mais Que uma porta, É fronteira Que passamos No desafio Da vida. MAS É ETERNO Retorno, Um regresso Renovado Onde posso Renascer Quando visito A memória Do que não Quero perder, Ficando sempre A seu lado. ESTA PORTA É magia, Viajo sempre Por ela Porque é uma Janela De onde voa A fantasia. DELA ALCANCEI O mundo E o mundo veio Até mim, Ao passar por Esta porta Sinto o meu Horizonte Como fronteira Sem fim... POR ISSO REGRESSO A ela, Esse pilar Do meu ser. Quando chego, Logo amanhece, E quando estou De partida Sinto que O mundo Acontece Como a montanha Na vida.

“Horizonte”. Detalhe.
UM BRILHO NOS TEUS OLHOS…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Teus Olhos”. Original de minha autoria. Maio de 2021.

“Teus Olhos”. Jas. 05-2021.
POEMA – “UM BRILHO NOS TEUS OLHOS…”
OLHEI-TE NOS OLHOS, Eram negros, Intensos E tão profundos, Toquei teus cabelos Com o olhar, Caminhei a teu lado Nesse jardim, Senti o teu corpo Tão perto de mim A respirar O acre perfume Dessa ramagem Do belo jasmim... INEBRIOU-ME Esse intenso Aroma E eu enredei-te Num tão doce Enleio Que não tinha fim... BRILHARAM Pra mim, Tão docemente, Duas horas inteiras, Esses teus olhos... .................. E neles me perdi. ESTIVE NO CÉU Ao lado de deus E lá vi dois sóis... .................. Que não eram dele (Uma luz intensa) Porque eram teus. MAS O TEMPO Correu Depressa demais... ................... E é sempre assim. TODOS OS DIAS Se tornam iguais Quando tu partes E, em nostalgia, Eu fico no cais. VOLTEI A OLHAR-TE Três horas seguidas. Parecia verdade, Mas era ilusão Porque partiste Deixando-me só E o que sobrou Foi solidão. SUBIU A TRISTEZA, A saudade irrompeu Colou-se-me Ao rosto... .............. E como doeu! SE EU NÃO TE VEJO Sinto Falta de ti, Mas se te encontro Logo te perco Porque o tempo Voa E logo te leva Pra longe dali. TER-TE DEMAIS Aumenta a saudade E quando te vais São tristes As ruas Da nossa cidade. AINDA QUE TRISTE Eu sou feliz E com estas mãos Te vou escrevendo O que quero dizer, Mas este meu tempo Volta a correr E cresce a vontade De logo te ver Mesmo que saiba Que é nesse instante Que te vou perder. TENHO SAUDADES, Saudades de ti Desse virar Da nossa esquina, Na mesma rua Onde te vi, Dessa janela Donde espreitávamos O que do mundo Sobrava pra nós. EU JÁ NEM SEI Que hei-de fazer, Ter-te demais É puro prazer, Mas quando te vais Fico sombrio, Quase a morrer. NEM SEI QUE TE DIGA. Quando me deixas Já nem sinto a dor Tão grande a tristeza De já não te ter Pois tu partiste Mesmo sem querer, Ah, meu amor.

“Teus Olhos”. Detalhe.
NÃO SEI
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Folhas Caídas"
Original de minha autoria
para este poema.
Maio de 2021

“Folhas Caídas”. Jas. 05.2021.
POEMA – “NÃO SEI”
SE ME PERGUNTARES
Por que razão
Eu te amo,
Respondo-te
Com timidez:
Eu não sei,
Mas sinto-te
Como dor
Que persiste
E que derramo
Nos poemas
Que te faço
E que sempre
Te farei.
SE ME PERGUNTARES
Pelo que dói
Neste tão estranho
Amor,
Respondo-te
O pouco
Que ainda sei:
Que sinto
Pungente dor
Esparsa
Sobre meu corpo
Como sentido
Penhor
De um rapto
Imprevisto
Que nunca há-de
Ter fim.
SE ME PERGUNTARES,
Depois,
Se sinto
A tua falta,
Respondo-te
Logo que sim,
Que tenho sempre
Saudades
Mesmo quando
Eu te tenho
Aqui bem junto
De mim.
“ - PORQUE SOU EU
A mulher
Que te merece
Atenção?”.
AH, ISSO EU SEI.
Foi o destino,
A salvação,
Um encanto
Repentino...
..............
E tudo o mais
Eu não sei
Quando te beijo
Na alma.
“- O QUE SABES
TU DE MIM,
Neste teu
Desejo ardente?”
POUCO OU NADA
Sei de ti
E sabendo
O que não sei
Não te amaria
Às cegas,
Assim tão
Intensamente...
AMAR-TE
É como beber
Tempestades,
É dor que
Não se sabe
Onde está,
É a alma
Sempre quente,
É mistério
Revelado,
É encanto
Permanente,
O reverso
Do saber,
Luz intensa
Que me cega
E também
Fascinação,
Tremor
Que nunca acaba,
Lado oculto
Da razão.
“- PRA QUE ME QUERES,
Então, meu amor?”
EU QUERO-TE
Para te querer,
Simples vontade
De ti
Como fim
Do meu viver,
Sentir saudades
Do que estou
Sempre a perder,
Olhar-te nos olhos
E ver neles
O teu mundo
E o mundo
Dentro deles,
O brilho
Embaciado
De um olhar
Onde um dia
Me revi...
...........
E se acaso
Eu souber
Por que razão
Te amei
Chorarei
Até ao fim
Porque então
Descobrirei
Que por isso
Te perdi.

“Folhas Caídas”. Detalhe.
LIBERDADE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: "Liberdade". Original de minha autoria para este poema. Abril de 2021.

“Liberdade”. Jas. 04-2021.
POEMA – “LIBERDADE”
PERGUNTEI-TE, Num dia De sol: “Voas comigo Prà linha Do horizonte?". Deste-me a mão E sorriste: “Voo, sim, Pois preciso De ar puro Lá bem no alto Do Monte”. E PARTIMOS. Tu levaste O arco-íris Que tinhas Dentro de ti E eu as letras Que tinha Comigo, Alinhadas Nesta alma Solitária, Feita seu porto De abrigo. ENREDÁMOS Todas as cores Com linhas De palavras Deslaçadas, Construímos Asas em forma De verso E voámos No céu De um poema Pintado todo De azul... ANDEI CONTIGO Por lá Anos a fio, Vagueando Ao sabor da Inspiração, Levados Pela brisa Que sopra fria No Monte, Mas afaga O coração. E COMO GOSTEI De voar contigo, Livres como Pássaros Sobre o vale Onde te encontrei Um dia, Construindo Castelos Na areia Com a força Da fantasia. É ASSIM QUE EU Te vejo, Tecendo a vida Com sopro Na alma E as cores Do arco-íris Pintadas Por tua mão Como pautas Coloridas Dessa bela Melodia Que era a nossa Canção. FOI ASSIM Que nos dissemos Nesse tempo, Livres de amarras Que não nos deixam Voar, Cantando Em arte Um destino Marcado Pela vontade De fazer Da nossa vida Caminho De liberdade.

“Liberdade”. Detalhe.
NOVO
PINTURA 3
DUAS OBRAS de minha autoria já expostas em espaços privados (1 - 48X60, papel de algodão Hahnemuehle, gram. 300 e 2 - 33X48, Cartol., 315). Abril de 2021.
1. FANTASIA DO POETA. 2019
2. O DESEJO. 2020
NOVO
CINCO OBRAS de minha autoria
já expostas em espaços privados
(33X48, Cartol. gram. 315).
Títulos por ordem numérica de
apresentação das obras infra.
-
Dame mit Ohrring. 2018.
-
Bianco&Nero. 2020
-
Montanha Encantada. 2020.
-
Horizonte. 2018.
-
Letras. 2019.
ORIGEM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Voar no Céu de um Poema”. Original de minha autoria para este poema. Abril de 2021.

“Voar no Céu de um Poema”. Jas. 04-2021.
POEMA – “ORIGEM”
A SUA ARTE Nasceu contigo, Do mistério e do Silêncio Que te enchia a alma, A transbordar, Um inesperado Encanto Que o cativou, Para nunca Mais parar. FASCINADO Pelo teu olhar Profundo, O teu ímpeto Imparável, Fúrias Quentes, Cabelos negros Desgrenhados, À solta Sobre teu corpo Incerto, A arder... ................. Ele sentia-te, Mas não sabia Que fazer... NASCEU, ASSIM, No teu regaço, Em tormento, Aninhado Na bruma Densa E misteriosa Do encantamento. DEPOIS CRESCEU E quis a perfeição, Seduzir-te Através do vento Que te soprava Na alma, Palavras cálidas, Ritmadas À medida que te Ia perdendo No implacável Tempo Da renúncia. E TU COLHESTE A tormenta No dia-a-dia (Eu sei), Obsessão Martelante, Castigada Com palavras Repetidas E gastas À exaustão Até à fuga Para o nada, Cheia de tudo O que não tiveste, De tão sofrida E tão amada... MAS LEVASTE Contigo o poeta E muito mais, Grávida de palavras Não ditas, Olhares falhados, Imperceptíveis Sinais, Silêncios gritados, Quieta turbação, Lava oprimida No centro de um Vulcão Que te alimenta E consome Nessa tua inefável Solidão. E O POETA Capturou-te Dentro de si Para te libertar Com metódica Persistência Em poemas, Nuvens Cintilantes Que espalha No teu céu, Sobre ti, Para te refrescar A alma Incandescente. E EU, Seu confidente, Vejo-te Da minha Janela, ali, Só, A olhar O céu, As nuvens Brilhantes Do poeta, À espera Da chuva E dos trovões A troar Com raios de luz Sobre o teu Sempre inquieto Olhar... MAS UM DIA VIRÁ O tempo Do reencontro Sem clamor Nestes sofridos Poemas Onde o poeta Te reiventou Para o amor.

“Voar no Céu de um Poema”. Detalhe.
CINCO OBRAS de minha autoria expostas em espaços privados. (50X70, em papel Hahnemuehle, 300) Título das obras por ordem. No fim, 1 e 2 em sala de jantar.
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"CRISTAIS". Jas2020
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“S/TÍTULO”. Jas2020
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“RUBOR”. Jas2020
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“HÁ VIDA NO JARDIM”. Jas2020
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“TERRAÇO”. Jas2020
MUSA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Desejo”. Original de minha autoria para este poema. Abril de 2021.

“Desejo”. Jas. 04-2021.
POEMA – “MUSA”
EU TENHO UMA MUSA Guardada No fundo Da minha memória, Perdi-lhe o rasto Ao corpo, Ficou-me dela O mistério Que me alimenta O estro Quando a saudade Me assola. SOBROU-ME Recordação, Marcas cá Dentro de mim, Desço ao fundo Da alma Mas nunca Lhe vejo O fim. E ASSIM NÃO A VISLUMBRO, Há uma certa Escuridão, Olhar de nada Me serve, Restam-me As cicatrizes E uma funda Solidão. ÀS VEZES DESENHO-LHE O corpo, Ponho-lhe cores Muito vivas, Pinto a alma Com palavras, Dou-lhe nome Que não é seu, Levo-a nos meus Poemas, Devolvo tudo O que resta Do que ela Não me deu. VALE-ME A POESIA Pra onde fujo Com ela, É como as ondas Do mar Que vejo Da minha janela. TENHO UMA MUSA Nesse mar Que não tem fim, Revolvo-me Nas suas ondas, Regresso depois Ao poema Onde sorri Para mim. NÃO IMPORTA Onde está, Musa é fonte De inspiração Desde que a tenha Na alma Esse lugar De paixão.

“Desejo”. Detalhe.
VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Pasárgada".
Original de minha autoria
para este poema.
Abril de 2021.

“Pasárgada”. Jas. 04-2021.
POEMA – “VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA”
A Manuel Bandeira
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
É outro mundo,
Irmão,
Quero ir-me
Embora,
Já me falta
Inspiração
Porque a brisa
Do nordeste
Ficou lá,
No Maranhão.
NÃO TENHAS,
Manel,
Saudades,
Nostalgia do futuro,
Temos passado
Que baste
E às vezes
Até foi duro.
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada
Não quero
Ficar aqui,
Há tempestade
No ar,
A brisa
Da liberdade
Não passou
Do Piauí.
PRA PASÁRGADA
Quero ir,
Lá todos
Falam verdade,
Por aqui,
Ah,
Eu já nem sei,
Falta-me
Liberdade,
Aquela que
Conquistei.
GOSTO DE TI,
Poeta
Do reino
Da utopia,
Onde se pinta,
Canta
E dança
Ao sabor
Da poesia,
Porque o ar
É do mais puro...
..........
E cheira
A maresia.
NÃO GOSTO
D’estar aqui,
Há ruído
Que é demais,
Esta terra
Já não me serve,
Eu espero-te
No cais,
Vou contigo
No teu barco
À procura
De mar calmo,
Céu sereno
E tudo o mais,
Navegando
No azul,
Peixes voando
No mar,
No horizonte
Uma ilha,
Mulheres lindas
A acenar...
EM PASÁRGADA
Sou feliz,
Danço poemas
Ao raiar da
Madrugada
Até que o corpo
Se canse
Com alma
Apaixonada
E adormeça
No regaço
Da mulher
Que for amada.
POR AQUI OUÇO
Ruído,
Há armas
A crepitar,
Matam poemas
Com gritos,
Já nem podemos
Cantar.
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada
No barco
Da poesia,
Lá cantarei teus
Poemas
Seja noite
Ou seja dia
E pedirei
A Athena
Que me dê
Inspiração
E me ajude
A compor
Um hino
À liberdade
Que seja
A nossa canção.

“Pasárgada”. Detalhe.
SEGREDO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Deusa das Camélias” Original de minha autoria para este poema. Março de 2021.

“Deusa das Camélias”. Jas. 03-2021.
POEMA – “SEGREDO”
VOU CONTAR-TE Um segredo: Amei-te Em poesia, Oh, se amei! As palavras eram Graves (Bem sei) Mas sempre cheias De cor, As rimas Eram suaves Em melodia Com dor, Tudo o que De ti Me sobrou... .......... Meu amor. CONTEI-TE HISTÓRIAS De desencontros E dancei Com palavras Luminosas Que inventei Para por dentro Te ver Nesse jardim De camélias Que cultivas No teu peito E que eu pinto Com desvelo Pra deste modo Te ter. CANTEI Pra te aquecer Na fria dança Do silêncio E contigo levitar, Voando, Invisíveis, Sobre ruas E sobre praças, Ao luar, Para, depois, Pela manhã, Acordar E um arco-íris Erguer Como ponte Desse vale Exuberante Onde te sonho, Neste meu Entardecer. SONHO, SIM, Alheio ao bulício, Ao indiscreto Cochichar Dos que vivem Na rotina, Dos que Não sabem Voar. AH, QUE SONHO! Não sei se Pousaram No parapeito da Tua janela As palavras Que sonhei... ................. E se alguém te Contou Que andavam Borboletas No ar, Esvoaçando, Perdidas, À procura de pólen Nos jardins Verdejantes das Nossas vidas... MAS TU PERGUNTAS, Agora, Se ainda vivem As borboletas De vida breve, Se regressam Ou já pousaram Noutro jardim, Se há pólen, Se há vento Ou pensamento Que as traga De volta Desse incerto E imprudente Confim... E EU RESPONDO Que a sua vida E destino São o brilho Deste céu Que vive Dentro de mim.

“Deusa das Camélias”. Detalhe.
CAMINHOS PARALELOS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Voo da Magnólia”. Original de minha autoria para este poema. Março de 2021.

“O Voo da Magnólia”. Jas. 03-2021.
POEMA – “CAMINHOS PARALELOS”
POR CAMINHOS Paralelos Nos seguimos Ao infinito, Pintei o meu De vermelho, Mas o teu É mais bonito. GASTEI As minhas palavras, Gastei cores, Eu já nem sei, Mas porque o silêncio É de ouro Só das palavras Cuidei. TIREI-LHES Logo o som Por saber Que te doía, O silêncio Ficou rei... ................. Até que falemos, Um dia. A ESTES SENDEIROS Cheguei Quando eu te Conheci Ao romper Da primavera. Foram-se anos, Bem sei, Desde que o Destino Me pôs Nessa rua À tua espera. AGORA SÃO Caminhos Paralelos, Nisto, naquilo, Talvez em tudo, Sei lá, Tu estás Do outro lado E eu não te vejo Por cá, Na rua Da poesia Que logo ficou Deserta Quando te Foste embora Dessa forma Inesperada... .................. Mas que o oráculo Previa, Pois a porta Estava aberta Sem fechadura, Sem nada. NO HORIZONTE Que alcanço Fica o ponto Destas linhas Paralelas, Convergimos No olhar, Mas não caminhamos Por elas Porque a vida Nos tirou Da rua Da poesia... .............. E das tuas Aguarelas.

“O Voo da Magnólia”. Detalhe.
OLÁ
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Evocação de uma Magnólia”. Original de minha autoria para este poema. Março de 2021.

“Evocação de uma Magnólia”. Jas. 03-2021.
POEMA – “OLÁ”
PEDI-TE UM DIA Num poema Que te fiz Que me dissesses Olá. Eu ficaria feliz De ouvir a tua Voz Sussurrando O meu nome Como as águas Do rio Beijam as águas Da foz. E OLÁ TU ME Disseste, Mas rápido Como o vento Que sopra Na minha alma Quando cruzo O teu olhar E me sinto Estremecer, Não por fora, Mas por dentro, Onde sou livre De amar. BALBUCIEI O teu nome Já distante Do olá Sem saber O que fazer, Se chamar-te Até mim Ou para longe Partir, Por não saber Que fazer, Por não saber-te Sorrir. MAS QUANDO VIREI O meu rosto Vi-te de novo Austera, Muito fria E distante... ............ Ignoravas O passado Que passara Nesse instante. E, DEPOIS, Tantos olás Te pedi, Tantas vezes Te chamei, Os poemas Que escrevi, Palavras Que derramei Sabendo nada De ti, Mas sofrendo Intensamente Por tudo O que já sei, Por tudo O que perdi. TALVEZ O VENTO Te chame, Talvez esta flor Te seduza, As raízes te Comovam Ou o poema Te diga Que nunca É tarde Demais E que em seu Eco Te encontre E abrace Por sinais.

“Evocação de uma Magnólia”. Detalhe de outra versão.
VIAGEM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Espanto”. Original de minha autoria para este poema. Março de 2021.

“Espanto”. Jas. 03-2021.
POEMA – “VIAGEM”
ERA UMA VEZ Uma camélia que, Num sonho, Me encantava, Uma fada Em busca Do que eu perdera No jardim Onde morava. FLOR DE ALVURA Deslumbrante Iluminou-me A vida, Nesse instante, Na procura das raízes Que sobraram De uma estranha Despedida De dias que não Voltaram. MOSTRAVA Um inocente Espanto De me ver Assim, sozinho, De repente E por encanto, Perdido Do meu caminho. E PARTIU. Levou A luz Que o seu corpo Acendia Nesse estreito Sendeiro Onde a solidão Não cabia. DEIXOU O JARDIM, Vida adentro Por caminho Original, Era um feixe De luz À procura Do que ficara Perdido Lá no fundo, Num recife De coral. MAS ENCONTROU-TE À tona, Vagueando No mar plano Da vida Sem saber Onde ficara A tua praia Perdida. E REGRESSOU Ao jardim, Triste De não te poder Resgatar Dessa vida, À deriva Em ondas De alto mar. FOI À PROCURA De cores, Queria muitas E vibrantes, E encontrou No jardim Umas luzinhas Brilhantes, Dessa luz Que não tem fim Como a que Guia os amantes. E LÁ FOI E anda ela, Umas vezes É pura luz E outras É aguarela, Sempre À procura de ti, Levada Pela corrente, Com timidez E espanto, Por aí, Até que um dia Te encontre, Talvez triste E conformada, Aninhada Num recanto De vida Desperdiçada. DAR-TE-Á As suas cores, Regressando Ao jardim Pra de novo Iluminar A minha melancolia E ser regada Por mim Nas tardes De cada dia. CAMÉLIA Encantada No poema E na pintura... ............. Assim te vou Recriando como Fada Que me cura!

“Espanto”. Detalhe.
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Último dia de Fevereiro de 2021.

“S/Título”. Jas. 02-2021.
POEMA – “MARÇO”
GOSTO DE MARÇO, Entre a neve E a primavera, O branco e E as flores, Na fronteira Uma quimera. GOSTO DO BOTTICELLI, Dos rostos E dos corpos Feminis, Volúpia de Transparências Sensuais, Primaveris. GOSTO Da pele macia, De seda e Suave cor, Gosto Dos traços Que desenham Alvura nas "Três Graças"... ............. E no Amor. GOSTO DO BRANCO Da magnólia E do branco Da Montanha, Gosto Dessa cor que Que brilha Nos meus olhos E me acompanha. GOSTO DE MARÇO. Entrei nele Contigo, No signo do Desencontro Que se repete Num longo Silêncio fatal, Marcado Contraponto Desse tempo Imprevisto De um “triste Destino”... ........... Quase irreal. PARA TI COLHIA Flores luminosas E a inspiração Crescia Em estrofes Desenhadas Com magia, Fingindo Sentir O que dizer Não podia, Fosse só Em duas horas Ou fosse Por todo um dia. NO SIGNO Do desencontro Marcado como selo Lá vou eu Por aí, Nem sei porquê (Ou por falta de ti), De braço dado Com Botticelli, Lá em cima, na Galleria, Oráculo De arte E fantasia. SINTO-TE PERTO, Ah, sinto! Depuro A tua imagem Em bissetriz De mil rostos Até se tornar Ideia De corpo ausente: Dialéctica Animada De opostos. DEPOIS REINVENTO-A A cada instante, Abraço-a Com alma De amante, Pinto com Palavras O seu perfil Ideal E fixo-a De novo Neste meu mundo Mental. AO ACORDAR, No amanhecer De cada poema, Verei que continuas Em mim, De olhos fechados, Como se fosses Sonho do que Nunca aconteceu Naqueles dias Passados. ANDAREI Por aí (Os astros o dirão), Vagando E pousando O olhar No pólen Da beleza Sensível À procura De seiva fresca Para desenhar Poemas E dar vida Ao impossível. LÁ NO ALTO Te encontrarei, Imitação Dos dias Da criação, A construir infinito, Onde, num adeus Sem fronteiras Nem cais de partida, Hás-de desenhar Com a alma As mil silhuetas Ainda inacabadas... ............... Ou talvez não! MEU DEUS, Como gosto de ti, Em Março, O mês da floração Quando a magia Renasce Para renovar A vida Com a força da Paixão.

“S/Título”. Detalhe.
COR, DÁ-ME COR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Policromia”.
Original de minha autoria
para este poema.
Fevereiro de 2021.

“Policromia”. Jas. 02-2021.
POEMA – “COR, DÁ-ME COR”
COR, DÁ-ME COR,
Fico mais perto
De ti
Se vieres
Com o vento.
Cor, dá-me cor,
Que as palavras
Coloridas
Já me sabem
A cinzento.
PALAVRAS
Nunca me faltam,
Nem vivo
Na escuridão,
Ainda consigo
Cantar-te,
Com palavras
Dar-te a mão.
TENHO-AS
Que me cheguem
Para gritar
Em vermelho
O concreto
Do teu nome,
Ver-te, assim,
Tão colorida
No vidro do meu
Espelho
Sem que a tristeza
Assome.
AH, MAS A COR
Se for intensa
E crescer
Em explosão,
Se tiver
Um contraponto
Em palavras
De paixão
Que dão ritmo
Ao azul
Dos teus sonhos
De papel...
............
É tudo
O que eu preciso
Pra t’esculpir
A cinzel.
DÁ-ME COR
Que eu sou
Sensível
Ao brilho
Do teu olhar,
Sinto-o nas
Flores que
Pinto
Quando vestes
O vermelho
Com azul
Como espelho
Ou te cobres
Com as cores
Do arco-íris
Que és.
TU ÉS COR,
Gota d’água
Suspensa
No fio
Do horizonte
Beijada por
Raios de sol
Que despontam
Lá em cima
No meu Monte.
DANÇAS COM ELA,
A cor,
E com ela
Adormeces,
Por amor.
É sopro
De liberdade
Quando a vida
É um sonho
E o poema
A verdade.
EU GOSTO DE
Te pintar
Com palavras,
Onde o azul é
Mais íntimo
E o verde
Te cobre
Como manto
De primavera,
Onde o vermelho
É pranto
Sem lágrimas
De enxugar
Nem sequer
Em amarelo
Porque me tolda
O olhar.
NA COR DAS MINHAS
Palavras
Te vejo e
Te revejo
As vezes
Que eu quiser
Pois és mais
Do que um desejo
Nos poemas
Que componho
Sobre um rosto
De mulher.
EU GOSTO
Da tua cor,
De me confundir
Com ela,
Dançá-la
Como vida
Em explosão,
Fogo de artifício
Que embriaga
Os sentidos
Como se fosse
Vulcão...
EVOCO
O poeta
Que pedia
“Mais luz!”
Já em seu leito
Fatal...
Tinha luz
Dentro de si,
Mas a cor
Já não entrava
No portal.
ERA CINZENTA
A cor
Que lhe restava
Até ao escurecer
Quando a janela
Se fechava
Ao seu desejo
De ver.
LUZ É COR,
Desperta da
Letargia,
Ressuscita
Do torpor,
É cântico,
É utopia,
Chilreio de
Passarinho
Que anuncia
Os meus voos
Aos azuis
Com que te
Pinto
E afago
Com carinho.
MAS A PALAVRA
Fascina,
É com ela
Que te canto
E leio
Na tua alma.
Na cor, tua
Roupagem,
Danço, sim,
E voo
Em liberdade,
Mas na palavra
Suspendo
O frémito
Dos meus sentidos
Para melhor
Te sonhar
Por todos os dias
Perdidos...
..............
À deriva
No teu mar.

“Policromia”. Detalhe.
CHÃO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Luz na Montanha”.
Original de minha autoria
para este poema.
Fevereiro de 2021.

“Luz na Montanha”. Jas. 02-2021.
POEMA – “CHÃO”
DESCESTE,
Não sei bem
De onde.
Cravaste raízes
Profundas
Neste meu
Sagrado chão.
AO LONGE,
Lá na montanha,
Surge, do nada,
Incandescente,
Um clarão.
São os meus olhos
Que te iluminam...
..............
Ou talvez não.
NUNCA VI
Chover do céu
Tanta luz...
.............
E no chão
Que sempre piso
Tão delicada raiz
Que cresce
Dentro de mim
E, suave,
Me conduz
Como quando
Me sorris.
ESTA LUZ
Que lá do alto
Ilumina
É magia,
É milagre,
É fogo
Que me fascina
Neste meu
Entardecer...
.............
Faz-me voar
Para ti
Apenas para
Te ver.
MAS NAS RAÍZES
Que crescem
Por dentro
E por fora
Como rendilhado
Neste meu chão
Seminal
Fica presa
A minha alma
Como se fosse
Prisão...
....................
Por pecado capital.
ELEVA-SE NELAS
A geometria
Perfeita de um
Monólito
Sideral
Para te invocar
Em ritual
De montanha
Onde possas
Renascer
Como a divindade
Da chama.
A MAGIA
Deste chão,
Despertada pela luz
Que vem lá
De cima,
Do alto,
Devolve-me
A liberdade,
Acende-me a fantasia,
Põe-me a alma
Em sobressalto
E o corpo
Em euforia...
ENTÃO, CANTO
Então, danço
Neste chão
Que é só meu,
Dou asas
À fantasia
E a fronteira é o céu.

“Luz na Montanha”. Detalhe.
“UM SONHO NA MINHA ALDEIA”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Rua do meu Jardim”. Original de minha autoria. Fevereiro de 2021.

“A Rua do meu Jardim”. Jas. 02-2021.
POEMA – “UM SONHO NA MINHA ALDEIA”
SONHEI-TE ESTA NOITE Numa rua Da minha aldeia. Não sei porquê (Os sonhos são Sempre assim), Caminhámos Lado a lado Sem dizer Uma palavra, Sem um olhar De través, Apenas Pressentimento, Cá bem no fundo De mim, Sentindo-te No que tu és. DUAS VEZES Lá estive A sentir-te Nesse tempo Diferido Dos encontros Intangíveis Que se desfazem Nas nuvens Quando o céu É proibido E os afectos Impossíveis. MAS VI-TE Com nitidez (Um pouco baça, É certo) No silêncio do meu Sonho, Em encantada Alvura A recordar Tempo antigo Quando a neve Regressava, Branca e leve Fria e pura. FOI NA RUA DO JARDIM (É assim que eu A chamo) Em frente Da minha casa, Onde me via Passar, Sendeiro da minha Vida, A caminho do futuro Sem medo Da despedida. CRUZÁMO-NOS Por pouco tempo, Como na vida real, Nem um olhar Nos trocámos, Tão fugaz foi Este sonho, Mas intenso E vital. E SE A VIDA É sonho Também os sonhos São vida, Pois senti que, Na verdade, Sonâmbula Me encontraste Na rua De uma aldeia Nunca antes Percorrida. E AQUI ESTOU A sonhar-te Outra vez Nos versos Com que te chamo, Recordando que Te vi Neste lugar Que eu amo. É SEMPRE ASSIM, Meu amor, Quanto mais tu Te esfumas Mais me cresce Esta dor... É POR ISSO Que te sonho, Pra desenhar O teu rosto Com palavras De poeta Que afunda No desgosto. MAS DE TANTO TE DIZER Acabei por Te encontrar Na terra Onde nasci, Onde a neve Derretia Quando o sol Já despontava E o manto Da saudade Logo de dor Me cobria. AGORA A NEVE És tu, Fugaz que foi A passagem No chão incerto Da vida, Como a brancura De outrora De saudades Me doía Em cada fatal Despedida. E SE EU TE Encontrar Talvez de novo Te sinta Qual cintilante Magia... .............. Terei então A certeza, Branca e leve Pura e fria, Que recriei Essa ausência Para nunca Te perder, Como a neve Da minha rua Que não há sol Que a derreta Na penumbra Da memória... ................. Que, no sonho, É como a tua.

“A Rua do meu Jardim”. Detalhe.
VÃ UTOPIA
Poema de João de Almeida Santos. À “desgarrada” com Manuel Bandeira (1886 -1968), inspirado em três poemas seus: “Desencanto”, 1912; “Versos escritos na água”, s.d.; “Renúncia”, 1906. (Obras Poéticas. 1956. Lisboa: Minerva, pp. 33, 40 e 101). Ilustração: “Cascata”. Original de minha autoria. Janeiro de 2021.

“Cascata”. Jas. 01-2021.
POEMA – “VÃ UTOPIA”
“OS POUCOS VERSOS QUE AÍ VÃO, Em lugar de outros É que os ponho. Tu que me lês, Deixo ao teu sonho Imaginar como serão.”
E OS MUITOS Que eu te dei Deixam claro O que sou. Se tu me leres Saberás que Não errei Mas que foi pouco Do muito Que agora Eu te dou.
“NELES PORÁS TUA TRISTEZA Ou bem teu júbilo, E, talvez, Lhes acharás, Tu que me lês, Alguma sombra De beleza...”
BELEZA, SIM, E algum sentido, Tristeza e dor Como castigo, Por isso eu canto O que perdi Pra que o verso Vá ter contigo Lá onde estejas, Queira o vento Ser meu amigo.
“QUEM OS OUVIU NÃO OS AMOU. Meus pobres versos Comovidos! Por isso fiquem Esquecidos Onde o mau vento Os atirou.”
NÃO OS AMOU, Mas eu bem sei Que é verdade Este amor Que aqui nasceu E que cantei Em liberdade Em versos Que o vento Leu E te levou Para matar A saudade... ........... Pudesse eu Salvar-me, assim, Do que não sou, Libertar-me Do silêncio Que me invade. OUTROS FARIA Se pudesse Para os pôr Na tua mão, Não pediria que Os sonhasses, Olhos cerrados, Mente desperta, Mas que os lesses Com afeição. AH, MANEL, Que bem me sabe Pôr minha dor Em poesia, Em palavras A emoção, No cantar Triste alegria Por ser intensa Esta paixão Mesmo que seja Vã utopia. DIZES TU Em poesia Que só a dor Te enobrece. E dizes bem, Meu bom poeta, Alma dorida Logo me aquece E com meus versos Entretece O que a paixão Já tanto afecta.
“A VIDA É VÃ COMO A SOMBRA QUE PASSA... Sofre sereno e de alma Sobranceira, Sem um grito Sequer tua desgraça. Encerra em ti Tua tristeza inteira. E pede humildemente A Deus que a faça Tua doce e constante companheira...”
POIS TENHO MEDO (Eu te confesso) Que a dor Me passe, Perca o poema Sua raiz, Essa, sim, A verdadeira (Sua matriz), E fique só Já sem palavras E caiam secas Todas as rosas Que me povoam Esta roseira. SOBRAM ESPINHOS, Ferem-me a alma, Saem meus versos E cai o sangue “Gota a gota, Do coração”, “Volúpia ardente” Já sem remédio “Eu faço versos Como quem chora” E chamo a dor A toda a hora E ela vem Por compaixão. AH, POETA, Ah, meu irmão, Tu fazes versos “Como quem morre” E eu procuro Neste meu canto A sua mão. TU, MANEL, És a bandeira E ela O meu refrão, Pra mim és verso No meu poema E ela é, Neste meu peito, Uma paixão.

“Cascata”. Detalhe.
A AGUARELA
Poema de João de Almeida Santos, inspirado no poema de Manuel Bandeira “Tema e Variações”. Ilustração: “O Retrato”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2021.

“O Retrato”. Jas. 01-2021.
POEMA – “A AGUARELA”
SONHASTE, MANEL, Que havias sonhado Estar à janela, Sonhando, a cores, Que estavas com ela. TAMBÉM EU SONHEI Que tinha sonhado E que no sonho A tinha encontrado, Passando por ela, Ali, lado a lado. MAS, QUANDO ACORDEI Do primeiro sonho, Sonhando, eu vi O seu rosto belo Numa aguarela Pintada a cores Que tinha guardado Para uma tela. SONHEI, OUTRA VEZ, No segundo sonho, Que era pintor, Mas que pintava Sempre o seu rosto A uma só cor. DIZIA, SONHANDO, Que não podia ser, Seu rosto expressivo Era arco-íris Ao amanhecer E era sorriso Para o mundo ver. MAS EU SÓ O VIA Com a minha cor, Esse rosto belo De seda tecido Que me seduzia No sonho sonhado Onde sempre a via, Ali, a meu lado. NÃO QUERIA ACORDAR Do sonho feliz E nele fiquei De olhos fechados. JÁ NÃO ACORDEI Do sonho sonhado Porque nessa cor Fiquei encerrado Com todo o meu ser... ................... Talvez por amor. NO SONHO OLHEI Para o meu espelho E logo eu vi Que essa minha cor Era o vermelho. E QUANDO ACORDEI Do primeiro sonho Voltei a sonhar Que desvanecia Nesse rosto amado E logo lhe disse, No segundo sonho, Que a tinha sonhado. DISSE-ME QUE NÃO, Que nunca me vira Sequer acordado... ................. E logo acordei Desse pesadelo Que me deixara O peito Esmagado. FOI ASSIM QUE VI Que tinha sonhado E que ela Já lá não estava, Ali, a meu lado. QUIS ADORMECER Para a encontrar Mas não consegui Sonhar que a via, Pôr os olhos nela, Chorar de alegria Porque descobri Na minha parede Aquela aguarela Que do sonho Passado Eu já conhecia: Era o rosto dela.

“O Retrato”. Detalhe.
ENCONTRAR-TE NUM POEMA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “La Diseuse”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2021.

“La Diseuse”. Jas. 01-2021.
POEMA – “ENCONTRAR-TE NUM POEMA”
ÀS VEZES Perco-me Em ti Quando te sonho No poema, Ondulas Entre tristeza E doçura Nos teus dias Mais incertos, Em momentos De ventura, Na fronteira Do dilema. SE ÉS TERNA, Eu estremeço Porque enleia, O teu olhar, Olhos castanhos Despontam No suave Amanhecer Quando em surdina, Vibrando, Partilhas Esse teu Acontecer. CONTEMPLO A tua imagem, Beleza Intermitente, Por instantes Muito breves, Mas logo regresso Ao murmúrio Sedutor, Encanto Tão inocente, E a tão meiga Ternura Que me afaga Com pudor. O TEMPO Corre sempre Contra nós E eu corro Contra ele Pra que a saudade Não chegue Antes de a partida Soar E em meu rio Desague Para logo Transbordar. VIVO No intervalo Do desejo De onde te ouço Dizer Que não há Excesso de tempo Neste efémero Viver, Destino Que te domina E me impede De te ter. MAS PERCO-ME No brilho Desses teus olhos, Bem cedo Pela matina, À procura Dessa cor Que logo assoma Bem viva Quando o sol Te ilumina. SINTO CALOR No meu peito E procuro o teu Regaço Pra que me vejas Por dentro No poema Que te canto E que ouves com Ternura Como se fosse Abraço. EU GOSTO Da doçura que te Invade Quando recusas O mundo Que te atropela Nas curvas Da tua vida Para sentires Com a alma O poema Que te deixo Quando chega A partida. AH, COMO GOSTO De te sonhar Dizer-te Em poesia... ........... É encanto, É prazer E é mistério... ......... É a vida Em sinfonia!

“La Diseuse”. Detalhe.
A CARTA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Melancolia”. Original de minha autoria. Janeiro de 2021.

“Melancolia”. Jas. 01-2021.
POEMA – “A CARTA”
DIZEM-ME Que vagueias Por aí, Incerta, À procura de ti, Sem saber Que te vais Perdendo Nas rotinas Inventadas Dos teus dias. SENSÍVEL À incerteza Do teu caminhar, Inundei-te Com rios De palavras Sedutoras, Setas falhadas Ao coração Do silêncio Que te cobre O rosto... ................. Para te resgatar. SEI QUE VIAJAS Cada vez mais Para dentro de ti, Aninhando-te Nessa melancolia Sem fundo Que sempre Me cativou. E DIZEM-ME Que quanto mais Te resguardas Na sombra De ti mesma Mais procuras Ver tudo Sem ser vista, Seguindo, Invisível, O meu rasto Desenhado Ao longe Na neblina Que se esfuma E dilui Lentamente No frio Horizonte Da Montanha Sagrada. E ATÉ O VENTO Que sopra Lá do alto Me segreda: “Curiosa de si, Abre De par em par As janelas Das tuas estrofes, Ar puro Que respira, Esse canto De sereia Que finge Não ouvir, Procurando Decifrar As tuas ondulações De alma No muro Das lamentações Poéticas”. EU SEI BEM Que te cobres Com o véu Escuro Do silêncio Para te resguardares Do olhar Indiscreto da vida Sobre ti. MAS A VIDA, Meu amor, É fugaz, O tempo passa E deixa marcas Indeléveis, Sulcos profundos Que só o futuro Desvelará Porque o passado Fica inscrito Num destino Que só conhecerás Ao virar Da esquina da Tua vida, Onde só o passado Brilhará Como futuro. AH, SIM, O reencontro Acontecerá Nesse momento, Quando eu Já só for Um sinal Impresso, A branco e negro, Uma vaga memória Escrita Perante teus olhos Húmidos De me terem Perdido Sem saber Porquê ............... Ou simplesmente Como inútil Expiação De um pecado Que nunca Aconteceu. ESTAREI LÁ, Sim, Nesse destino À tua espera Para te dar Conforto, Aninhado Nas palavras Que ainda Não sabes Declinar, As mesmas Em que vou Viajando, Invisível, Por dentro De ti À procura Da eternidade Possível, Tua e minha Salvação Da voragem Do tempo.

“Melancolia”. Detalhe.
“O PAVÃO”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Azul no Parque”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2021.

“Azul no Parque”. Jas. 01-2021.
POEMA – “O PAVÃO”
FUI AO PARQUE Do Marechal Logo ao amanhecer Num triste dia De outono Na esperança de Te ver À procura do pavão, Eram muitas As saudades, Já passara Mais de um Verão. NÃO TE ENCONTREI Por ali, Mas logo vi O pavão, Sozinho, Também triste Como eu (Ou talvez não), Pois nele Reconheci As cores vivas Desta minha Solidão. PORQUE É Tão belo O pavão? Exibe-se Altaneiro E é assim Que seduz, Enche-me A alma De cor E inunda-me De luz. AH, O PAVÃO, Esse seu Porte austero Estremece-me Na alma E gela-me De emoção Porque te chama À memória E me afunda Sem perdão. MAS SEGUI-O, Nesse dia, Parque fora No silêncio Luminoso Dum despertar De aurora. FOLHAS CAÍDAS No chão, Tapete da Natureza, Acolhiam O nostálgico Passeio Do poeta E do pavão, Num vaguear D’incerteza. NESSE JARDIM Do simbólico Encontro A beleza Despontava Em seu ritmo Natural, Passos lentos E cuidados, Pose austera, Altivez, Um singelo Ritual Que vivi Com timidez Junto ao pavão Matinal. CAMINHEI COM ELE Horas a fio, Lado a lado, Sem destino, Procurando O teu rosto Num eterno Desatino Que sempre Acaba Em desgosto. JÁ NO ALTO De um muro, Oráculo, Arte pura, Aparição... ............ Com o olhar Lhe perguntei Qual a cor Da tua alma Nos jogos De sedução. COM POSE ALTIVA, Rigor E perfeição Logo exibiu Esse azul Tão luminoso Onde sempre Se esfumam Os traços Da tua mão... ................. E logo o encanto Surgiu Com teu rosto Espelhado Nas cores vivas Do pavão.

“Azul no Parque”. Detalhe.
SEGREDO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Porta” Original de minha autoria. Dezembro de 2020.

“A Porta”. Jas. 12-2020.
POEMA – “SEGREDO”
EU PINTO E CANTO O meu destino, Sonhos velados, A minha vida, Procuro a chave Do meu futuro E não a porta Da despedida. POR ISSO CANTO Como os pássaros, Voo mais longe E com mais cor Porque no céu Há mais azul E nos meus sonhos Há menos dor. ERA SEGREDO Não revelado, Se o dissesse Não deveria Porque dizê-lo Era pecado E certamente Até mentia. E NÃO O DISSE, Mas eu pequei Com um murmúrio Apaixonado Em poemas Tão inocentes Que foram alvo De um julgado. POR ISSO VOO Sempre mais alto, Trepo nas cores Pra lá chegar, O céu azul Dá-me alento Para assim Poder voar E meus segredos Nas nuvens Brancas Em liberdade Ir dissipar. LEVO PALAVRAS Comigo, Procuro inspiração, Levo cores Para o abrigo, Alimento Da minha arte E seiva pura Desta paixão. EU CHAMO MUSAS E tudo o mais E quando parto Lá para cima É sempre festa No nosso cais. LEVO-TE A TI Em fantasia E deste jeito, Levo-te sim, Para que sinta Lá bem no alto Ar rarefeito E menos peso Nesta dor Que cai em mim. EU CANTO E PINTO Por tudo isto, Pra resgatar O meu pecado De exaltar Esse teu rosto, Iluminar Em aguarela Esse enleio Do meu olhar Por te ver Na nossa rua Debruçado Na tal janela E com vontade De te pintar. POR ISSO EU CANTO, Por isso voo Por isso subo Lá para o alto, Já não os vejo, Já não os ouço E já não vivo Em sobressalto. MAS VEM COMIGO, Eu dou-te asas No infinito, No céu azul Voamos juntos A um só tempo E o nosso rumo Será o sul. VÁ, VEM COMIGO, Voa mais alto, Ah, meu amor, Se tu vieres Eu já não sofro E vai-se embora A minha dor.

“A Porta”. Detalhe.
O POETA E O VENDAVAL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “História de uma Janela". Original de minha autoria (inspirado em fotografia da autoria de Dulce Guerreiro). Dezembro de 2020.

“História de uma Janela”. Jas. 12-2020.
POEMA – “O POETA E O VENDAVAL”
VÊS OS DESTROÇOS Desta janela, Meu amor? Foi o vendaval, O vento zangado Que passou Numa tarde Aziaga De um frio dia De inverno... ............... Uma infeliz e Rogada praga Que o levou Ao inferno. ERA A JANELA Da sua vida, Olhava-te dela Quando passavas Na rua dos seus Encantos, Dali voava Para a terra De ninguém, Tendo-te por Companhia, Indo sempre Mais além Em busca de Utopia... NELA DESENHAVA A cores De incontida paixão A tua silhueta Delicada, Teu perfil Em contraluz, Como sombra Encantada Desse rosto Que ainda O seduz. JANELA, A sua casa, Banhada Por luz intensa E flores De aromas Inebriantes, Uma eterna Primavera, Jardim Onde crescia O desejo, De ti sempre À espera, Lugar de sonhos, Berço de poesia, Porta aberta Para o mundo, Templo De alquimia. FICARAM Apenas ruínas, Um rasto De memórias quentes, Cores desbotadas, Mãos que pedem Ajuda, Silhuetas Inacabadas, Uma criança A nascer, Mulher que Espreita o futuro Em incerto Amanhecer, Estranhos pássaros Que sopram vida, Figuras Que renascem Das cortinas, Um estranho mundo Que desponta Desta janela Em ruínas. MAS O POETA Resiste, Armado de fantasia, De palavras sedutoras, Versos, estrofes, Riscos e cor, Respirando melodia... ...................... Ajudado pelo vento Redentor, Lança mãos, Num certo dia, À história Interrompida Nas ruínas Desse amor Em vendaval Para recriar O templo Que perdeu Com a arte De jogral. E VOA E continua a voar, Passa pela janela E sobe ao Monte Para cantar O que em si Lhe sobrou dela E assim a recordar.

“História de uma Janela”. Detalhe.
“SOLIDÃO”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fantasia”. Original de minha autoria. Dezembro de 2020.

“Fantasia”. Jas. 12-2020.
“Os poetas são impudentes em relação às suas vivências: exploram-nas” (Die Dichter sind gegen ihre Erlebnisse schamlos: sie beuten sie aus) "O que se faz por amor acontece sempre para além do bem e do mal" (Was aus Liebe gethan wird, geschieht immer jenseits von Gut und Böse). Nietzsche, Jenseits von Gut und Böse (Para além do bem e do mal), 1886. Sprüche und Zwischenspiele: 161. 153.
POEMA – “SOLIDÃO”
PERGUNTEI AO POETA Sobre a minha Solidão... ........ E sabes O que me disse? Que ela tem Sete véus Pra que ninguém Atravesse O sagrado Do seu halo... .................... Um oásis no deserto, Confessou. PERGUNTEI-LHE Pela dor Que me resta (E eu afago) Deste amor Que me veio Ao encontro Como amarga Dádiva do céu, Um sabor Muito intenso A algo que não É meu... E SABES O que me disse? Se já não tens Alegria Para encantar Quem tu amas Resta-te a dor, Sobra-te solidão Em humana Eternidade... .............. E uma longa Evasão Para cantar A saudade. MAS DISSE MAIS. Não a procures, Não lhe fales Nem a vejas A não ser como Poeta Nesse intervalo Da vida Que te torna Intangível Como pura Silhueta. FINGE Que não é ela (A que vês lá Da janela) O destino do teu Canto, Sobe às nuvens Pelas linhas Do seu rosto e Põe asas No seu nome, Mas finge (Como poeta) Para que não Reconheça A paixão Que te consome. E SE UM DIA Teus olhos Pousarem nela Finge outra vez, Finge que Não a vês, Que estás ali Por acaso, Como se fosse À janela, Que o destino Te levou Para fora Do seu mundo A satisfazer Um desejo Que resgate A solidão. PERGUNTEI, De novo, Ao poeta Sobre esta solidão Que cresce dentro De mim... E SABES O que me disse? Que também ele Ia nu, Viajando nas estrelas, Com asas De sete véus, Transparentes Como ar, Mergulhando no azul Para ver se A cantava, Sentado no horizonte, Tocando o infinito, Lá onde mais A amava. QUERO SER Como falou Zarathustra, (Sussurrou) Que da paixão Saia virtude, Dos demónios Nasçam anjos, Da solidão Liberdade, Que na dor Cresça alegria Cada ano E cada dia, Enquanto o poeta Viver, Enquanto a possa Cantar Com o céu Por companhia. ENCONTREI, Um dia, O poeta A caminho Das estrelas. Perguntei-lhe Sobre a minha solidão. Bateu as asas E disse: Voa da tua janela, Voa Pra junto de mim Como se fosses Pra ela Com asas De sete véus Que o azul deste Meu céu Te dará Libertação.

“Atelier”. Detalhe.
À JANELA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Outono”. Original de minha autoria para este poema. Dezembro de 2020.

“Outono”. Jas. 12-2020.
POEMA – “À JANELA”
COMO GOSTO De te ver, Tão singela, Daqui, Desta janela. DIZES, Com o olhar, “Olha, voltei!”. E eu pergunto: “É mesmo ela?” O MILAGRE Desta janela Repõe Em mim O que há muito Sobrou dela. SE A PERCO, Ela renasce E cresce, Mas logo Desaparece. É um sem fim, Lembra-se, Mas logo esquece. AH, FOI ARAGEM. Soprou tão forte Sobre o seu rosto Que lhe levou A doce voz Para o sol-posto. Perdeu o norte, Caiu silêncio, Foi sobre nós. MAS PORQUE ME DURA Este sofrer Se a encontro? É dor intensa Só de a ver, Mas não magoa E dá prazer. DA JANELA, Nesse seu jeito, Vejo-a singela, Com a ternura De quem ama E nem se cura Da chama Só de olhar E vê-la... ....... A ela. PORQUE NÃO FALAS E não me dás O teu “olá!” Mais uma vez? Vem por aqui, Passa por cá, Sem altivez, Pra te dizer O que já sabes Quando me vês... .............. E faz sofrer. “MAS EU NÃO POSSO”, Tu dizes sempre Com teu olhar: “Digo-te não. Mesmo que vá Não há perdão”. PORQUE T’ESCONDES Cada teu dia? Eu não te encontro, Perco alegria... ................. Depois regressas Pra eu te ver, Para que saiba (Tenho a certeza) Que não há modo De t’esquecer. VI-TE MIL VEZES, Sempre te disse Com o olhar: “Quero-te, sim, Mesmo que fujas Quando apareces Não é de mim, Mas de um outro Que desconheces”. PORQUE TE PERDES No meu olhar, Sempre me foges, Olhas em frente Pra não me ver E assim recordas O que tu sentes Por te querer. AH, COMO GOSTO Desta janela... Se me debruço, De vez em quando, Olho pra ela, Fico feliz Por logo a ver Mesmo que saiba Que nesse instante A vou perder.

“Outono”. Detalhe.
AZUL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Paraíso”. Original de minha autoria para este Poema. Novembro de 2020.

“Paraíso”. Jas. 11-2020.
POEMA – “AZUL”
TANTO AZUL, Meu deus, O teu céu, Esse imenso mar, É espelho Dos teus sonhos, Medida Do teu olhar. O MEU É BRANCO E cintilante Para te alumiar, Gotículas De cristal Que te acendam A alma Para melhor Te guiar. HÁ UM LEVE murmúrio De nuvens Que cobre, Como véu, O silêncio Que há muito Ouço, Insistente, Bater-me À porta Levemente, Como quem chama Por mim. E QUANDO NOS SONHOS Te vejo Vestida de azul Turquesa Entro numa porta Branca E voo, voo, A perder de vista, Até ao paraíso, Deixando para trás O jardim Inacabado, Portão aberto, Escancarado, Bailéus desenhados A rigor, A preto e branco, Onde um dia Eu te vi, Meu amor, Num estranho Enlace Que nunca mais Terá fim. NOS SONHOS, (Em todos eles) Caio das nuvens Brancas Como Ícaro Ou meteorito Incandescente E mergulho No azul Para te encontrar Num arco-íris Luminoso Onde vives Vestida de todas As cores Que povoam As cidades Invisíveis Dos poetas... É NESSE TEU AZUL Profundo e Denso Que respiro O que me sobra De ti, Nos sonhos escritos E pintados Com que te vou Soletrando, Insistente, Até cair exausto Para adormecer E me sonhar De novo No regaço Da tua alma... .............. Pintada A aguarela.
O JARDINEIRO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Alquimia”. Original de minha autoria para este poema. Novembro de 2020.

“Alquimia”. Jas. 11-2020.
POEMA – “O JARDINEIRO”
TORNEI-ME BOM Jardineiro, Troquei letras Por flores, Uma Rosa vale um Verso, A Camélia Mil amores, Um poema O universo. QUANTO VALE Amor-Perfeito? Fixo-me nele, Encantado, Meus versos Tornam-se cores E aquecem-me O peito... ................ Ponho a tristeza De lado. PALAVRAS Coloridas Amaciam-me A alma Quando ela fica Em ferida, São bálsamo Que me refresca E exalta A minha vida. POR ISSO VOU Ao jardim Cobrir-me de Mil flores, Nascem versos Para mim Com palavras Que são cores. OLHO-AS Com atenção, Fixo-as Com o olhar, Toco-as Com a mão, Fico ali A pensar No que acontece Com elas Em seu lento Germinar. NADA MAIS Quero saber, Só das cores Do meu jardim Que curam Da alma A dor, O que mais Me faz sofrer, Ver-te Tão longe, assim, Saber Que te estou A perder... MAS ESSAS FLORES Não duram, É mortal a natureza, Elas perdem-se No tempo E só me resta A saudade... ............... Vem ter comigo A tristeza. NÃO APAGAM Este triste Entardecer, Mas pego-as Com esta mão Pra suas cores Eu beber À procura de Evasão. NAS FLORES Há doce seiva, Alimento Da beleza, Nas palavras Mil perfis, Quieta, a natureza, Em cada folha Um matiz E até é bela A tristeza Quando olhas E sorris. UM SORRISO NATURAL Como pétala De flor, Uma palavra, Sinal, Pérola Que sempre brilhe No meu jardim De cristal. REGULAR É o seu tempo, Um ritmo Mais do que certo, Tudo nasce E tudo morre Sob o céu A descoberto. MAS RENASCE Sempre um dia Pra dizer “Aqui estou”, Natureza é alquimia Que me diz Pra onde vou. POR ISSO SOU Jardineiro, Com flores Aprendo sempre, Leio-te a alma No jardim, Pois natureza Não mente. TROCO LETRAS Por flores Mas às palavras Dou rima, No jardim Nascem amores Porque a beleza Aproxima.

“Alquimia”. Detalhe.
COR, DÁ-ME COR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Cor”. Original de minha autoria para este poema. Novembro de 2020.

“Cor”. Jas. 11-2020.
"Donde termina el arco iris, en tu alma o en el horizonte?" Pablo Neruda
POEMA – “COR, DÁ-ME COR”
COR, DÁ-ME COR, Fico mais perto De ti Se vieres Docemente Com o vento. Cor, dá-me cor Que as palavras Coloridas Já me sabem A cinzento. OU TALVEZ NÃO. Palavras Nunca me faltam Nem vivo Na escuridão, Ainda consigo Dizer-te E com elas Dar-te a mão. TENHO-AS Que me cheguem Para cantar Ao vivo O concreto Do teu nome, Ouvir assim O teu eco Quando a tristeza Irrompe E esta dor Me consome... AH, MAS A COR Se for intensa E nascer Por explosão, Se tiver Em contraponto Palavras De emoção Que dão ritmo Ao azul Dos teus sonhos De papel... ................. Ah, sim, é tudo O que eu preciso Pra te esculpir A cinzel. DÁ-ME COR Que eu sou Sensível À luz fulgente Do teu olhar, Vagueio nas Flores que colho Quando vestes O vermelho, A cor viva Com que brilhas No cristal Do meu espelho... ............... Ou te cobres Com o manto Do arco-íris Que és. AH, TU ÉS COR, Gota d’água Suspensa No fio Do horizonte, Iluminada De ouro Pelo sol Que já desponta Lá em cima, No meu Monte. DANÇAS COM ELA, A cor, E com ela Adormeces... .......... Por amor. É sopro Da tua alma Quando a vida Se faz sonho E lá no alto Do céu Logo te cobres De azul... MAS EU GOSTO De te pintar Com palavras, Onde o azul é Mais quente, O verde Esse teu manto E o vermelho Emoção Nos poemas que Te canto Com paixão... ............... Vibra o verso Em amarelo Dói-me o peito De amor E já treme A minha mão. É NA COR Destas palavras Que te revejo As vezes Que eu quiser Pois dou corpo Ao desejo Nos poemas Que fizer. CADA VEZ MAIS Gosto de cor, De me confundir Com ela, Dançá-la Como vida Em efusão, Fogo de artifício Que embriaga Os sentidos Como lava de Vulcão... EVOCO O Poeta-Mestre Quando pedia “Mais luz” Já no seu leito Fatal. Tinha luz Dentro de si Mas a cor Já não entrava No portal. Era cinzenta E ténue A cor Que lhe restava E logo escurecia Quando a porta Se fechava... LUZ É COR, Desperta da Letargia, Ressuscita Do torpor, Celebra vida Com magia, É canto, É alquimia, Chilreio de Passarinho Que anuncia O meu voo Aos azuis Que por lá pintas Como se fossem Meu ninho. AH, SIM! Mas eu gosto É de palavras, Foi com elas Que te vi Nas letras Que desenhei, Os rostos Que descrevi, Emoção Que não calei. E TU CABES Em quatro letras Quando teu Nome Tem sete E me sabe A Primavera No meu Jardim Encantado Onde tudo Me fascina Porque a beleza Impera E eu fico Apaixonado...

“Cor”. Detalhe.
“ENCONTREI-TE LÁ EM CIMA, NO MONTE”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração:”Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Original de minha autoria para este poema. Novembro de 2020.

“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Jas. 11-2020.
POEMA – “ENCONTREI-TE LÁ EM CIMA, NO MONTE”
“Tu prima m’inviasti / verso Parnaso a ber ne le sue grotte, / e prima appresso Dio m’alluminasti”. Dante Alighieri. Divina Commedia. Purgatorio. Canto XXII, 64-66.
PERDI-TE Porque, afinal, Nunca Te abracei, Numa praça, Numa rua, Num jardim, Em lado algum, Eu já nem sei... MAS ABRACEI-TE No Parnaso, Lá em cima, Com palavras Em forma de poema, Enredado nas Mil cores Do jardim encantado Da tua alma. VESTIDO DE COR Senti-me Afagado No meu canto, Umas vezes Um pouco triste, Outras Em sufocado Pranto Por não ter O teu corpo Junto a mim, Por não te ter A meu lado. SIM, ENCONTREI-TE No Parnaso, No Monte Da luz divina, No Monte Da branca neve, Cristalina, E, abraçado a ti, Eu vi lá do alto A costa E o mar, Vi com nitidez O meu mundo Interior E como te devo Amar, Aprender A sonhar-te Em azul, A tua cor E, lá no alto, Voar... A NEBLINA Cobria-te Para te vestir E refrescar A alma Como chuva De palavras Húmidas Caídas do meu Céu Enublado E triste. EU NÃO ERA MAIS Que um espelho Que te devolvia Fantasia Contra a Petrificação Que espreitava Nos olhares Indiscretos E volúveis Que te espreitavam Em cada dia. MAS TU NÃO ME VIAS. Em mim, Especulavas (Dizias), E eu, espelho Da tua alma, Gastava assim Os meus dias... E DE TANTO Em mim Te reveres Declinaste O espelho que Começava A embaciar-te A alma... E NÃO ERA Da neblina Que te envolvia, Mas dos desenhos Que tuas mãos Esboçavam Nesse espelho Já húmido De ti... ............ E da minha Fantasia. DESPEDISTE-TE Do Monte, Desceste Em desconforto Sob os olhares Das mil górgones Que ameaçavam Petrificar-te No caminho Para o vale... .............. E sucumbiste. Ou talvez não... JÁ SÓ, NO MONTE, Disse: "De tanto te reveres Em mim Ficou-me, de ti, O repetido reflexo. E sabes o que Brotava Quando te olhavas Na minha superfície Luminosa? Beleza, Toda a que me sobrou Quando, triste, Desceste o Monte E a tua melodia Me faltou.” MAS TEU ROSTO Não petrificará Porque ficou Guardado No meu corpo Vítreo Onde todos Se revêem Sem saber Que no reflexo Levam, gravada Em transparência, A tua imagem... ................ Embaciada. E POR CÁ FIQUEI, Espelho do mundo, A olhar para O espaço Sideral À espera Que um cometa Me alumie o caminho Para ta devolver como Teu reflexo Original...

“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Detalhe.
O POETA QUE SE FEZ PINTOR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Evocação de um Arbusto em Flor”. Original de minha autoria. Novembro de 2020.

“Evocação de um arbusto em Flor”. Jas. 11-2020.
POEMA – “O POETA QUE SE FEZ PINTOR”
O POETA BRINCAVA Com suas palavras, Cantava o amor Porque a desejava... ERA UM POETA, Era fingidor, Não a desenhava, Cantava-lhe A cor. SUAS CORES Eram palavras, Fazia pincel Da sua caneta, O poeta riscava, Mas a sua tinta Já não era preta. POR ISSO COMPROU Um belo pincel E pintava, Pintava... ............. Era a granel... .............. E a sua tela Deixou de ser O velho papel. DESCOBRIU A COR, Que o fascinou: Azul, vermelho E tanto amarelo... ................. Tudo ele pintou, Procurando sempre O que era belo. ATÉ QUE O ENCONTROU Na cor dos seus Olhos, Era luz da pura Que iluminava O novo papel Onde desenhou O seu fino rosto Com o seu pincel. DESCOBRIU AS CORES Com que a dizia, As suas palavras Tornaram-se riscos... .................... Mais que poesia. PINTAVA ASSIM E os seus poemas Já não lhe chegavam, Pintor de palavras, De cor as compunha E versos voavam No azul do céu... ................... “E o que tu fazias Faço agora eu (Dissera-lhe um dia), Porque sou poeta Mas também pintor". "DEIXASTE-ME SÓ, Entregue à palavra, E eu, Tão pobre de ti, Pintei-me de dor". "MAS EU FAÇO DELA O meu arco-íris Pra subir ao céu A ver se t’encontro Atrás duma cor Pintando o teu rosto Para um poema Que vou escrever Com todas as cores Que trago comigo Enquanto viver”. O POETA BRINCAVA Mas era séria Essa brincadeira, Perdido em palavras Encontrou a cor E nos seus poemas Dela fez bandeira...

“Evocação de um Arbusto em Flor”. Detalhe.
TEU CORPO DE CRISTAL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Reflexos” Original de minha autoria para este poema. Outubro de 2020.

“Reflexos”. Jas. 10-2020.
POEMA – “TEU CORPO DE CRISTAL”
AGORA VEJO-TE Ao perto, Despida, Cada bago Me seduz Como cristal, Refracção Da luz Que desce Sobre ti E me atinge O olhar Como raio Fatal. CEGO De tanta luz, Entrevejo-te Num clarão, Multidão De cristais Que brilham E desafiam, Vermelho rubi De todas as paixões, Espelho de Alma Deslumbrada Que vive de Ilusões. MAS ÉS ROMÃ E faço o caminho Ao invés Pra te encontrar Ao alcance Da minha mão, Poder colher-te, Fazer caminho Contigo, Do inferno À primavera, Do fogo ardente Ao vicejar Dos campos, Aos frutos Da nossa terra Onde o teu Poder impera. ÉS DEUSA, SIM, Imortal, Teu corpo É cristal Que brilha No templo de Salomão E me convida A entrar Nessa bela Catedral Guiado por Tua mão? SAÍSTE DE TI E agora és Semente Múltipla Do futuro Que há-de vir, Deusa Da fecundidade, Do amor E da paixão A celebrar No fogo Ardente Desse teu lar Onde os bagos Do teu ventre São como Lava De vulcão.

“Reflexos”. Detalhe.
TENTAÇÃO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Cristais”. Original de minha autoria para este poema. Outubro de 2020.

“Cristais”. Jas. 10-2020.
“¡Quién fuera como tú,
fruta, / todo pasión
sobre el campo!”
Final do poema de
Federico García Lorca
“Canción Oriental” (1920),
dedicado à Romã.
POEMA – “TENTAÇÃO”
INQUIETO, Como sempre, Vi-te por dentro Depois de te ter Cantado Por fora, Feliz, Mas triste, Assim... ................... Como quem chora... CONTEMPLEI Teus cristais, Vi cintilar A tua alma E logo te pintei Por dentro, Sem mais, Numa tarde Leda e calma. E CEDI À TENTAÇÃO De te oferecer Aos lábios Da minha amada, Ao compromisso Fatal, Para que ficasse Enleada E se tornasse Imortal. MAS ELA É Concha fechada, Seus cristais São ouro negro, É mistério Bem guardado, Silêncio É o seu lema Porque dizem Que é dourado. MAS PARA MIM É ROMÃ. Quando a chamo Ao meu canto E a pinto De alma cheia Floresce No meu Jardim Como em ilha Encantada Nasce o canto Da sereia. NUNCA TOCOU Teus bagos Nem os comeu Como eu queria Para a ter Eternamente Cada noite E cada dia. POR ISSO TE PROCUREI, Meu fruto De tentação... És alimento Dos deuses E de Kore A perdição. TALVEZ ME ACENDAS O estro E a vontade de rimar Pois silêncio Não é d’ouro Quando o sorriso Me falta E não a posso Cantar.

“Cristais”. Detalhe.
ROMÃ
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Outubro de 2020.

“S/Título”. Jas. 10-2020-
POEMA – “ROMÔ
ROMÃ DOS CRISTAIS Vermelhos E cristalinos Que se aninham No seu ventre, Sabor acre Como acidulados Citrinos, Meu alimento de Sempre, Que nos une... ............ Os destinos. ROMÃ DE NOME Insinuante Que alude a cidades Ausentes E ao amor Que exala Do incerto sabor Dos bagos Da perdição, O alimento De Kore, De Hades A irresistível Paixão. ROMÃ, De onde vens? Do inferno, Da Pérsia Ou de Granada? És uma maçã Com grãos, “Melograno", Em Roma Reinventada, Cor vermelha E amarela Dos jardins Da minha amada? ÉS BELA, ROMÃ. Vou levar-te Para o meu Jardim Encantado, Para junto do arbusto, Ter mil cristais Em cada fruto, Como os beijos Que te dou Nestas palavras De amor Por deuses Iluminado. PERDI-TE QUANDO Nascias Naquele outono De longínquo Passado, Mas ficou-me Aquele arbusto Que já tinha A meu lado... VOU LEVAR-TE Para ter Junto de mim O rubor Desse teu rosto, Provar de teus Bagos O doce E acidulado Gosto... COMO GOSTO DE TI, Romã de Deméter E de Hades, Da tua cor, Das faces lapidadas De teus bagos, Da fecundidade E do amor Que em ti desperta Quando afago Com as mãos A tua pele... E a emoção Mais aperta: Um intenso E envolvente calor. VEJO-TE COMO TÍMIDA Romã, Doce, Mas acidulada E, qual Kore, Dividida, Como se cada parte De ti Não quisesse A outra Pra nada. MAS ÉS ROMÃ, A minha cidade, Meu Jardim Encantado, Presente Perfumado, Fruto da Mitologia E do amor, Filha de Deméter E da poesia, Que quero sempre A meu lado.

“S/Título”. Detalhe.
“ESCULPIR-TE…”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Aurífice”. Originais (novas versões) de minha autoria. Outubro de 2020.

“O Aurífice”. Jas. 10-2020.
POEMA – “ESCULPIR-TE”
ENTRE O BRANCO E O NEGRO Quis esculpir-te A alma Na flor que, Num acaso, Encontrei Perdida No jardim Da minha vida... ATRÁS DE TI, Ou em fuga (Já nem sei), Gastara Todas as cores do Arco-íris Que tinha Guardado Dentro de mim. SOBRARA Uma marmórea Pedra negra, Espelho oracular Onde me via Escuro na alma Por falta De cores Exuberantes Que me protegessem Do frio glacial Da tua ausência Suportada Nas longas Intermitências E contrapontos De uma melodia Inacabada. SOPREI FORTE Com a alma Desnuda E a flor Pousou suavemente Na pedra lisa E brilhante Da catedral Onde te queria Celebrar Como amante, Do oráculo Vestal. ESCULPI-TE Como filigrana De ouro preto Sobre branco-pérola, Aurífice da tua Alma sedutora No coração Alvoraçado Dessa flor Onde guardei O teu nome Gravado em letras Invisíveis. DESENHEI Alvas incrustações Em filigrana Como marcas Indeléveis Da arte Que um dia Me visitou Para te cantar. E, AGORA, A olhar para O branco e o negro Desse cântico Desenhado E esculpido, Ofereço-te Este poema Sobre pintura Imaculada Onde te celebro Com arte Minimal, Na forma E na cor, Sem fronteiras, E onde Te reinvento Em fuga: Um elegante Fio branco Que esvoaça, Livre, No marmóreo céu Do teu altar. A ÂNCORA, A sul, Desliza Suavemente Sobre ti E dilui-se, Como eu, Na negra Vastidão... EVOCO-TE, ASSIM, A branco e negro Sobre a flor Que um dia Encontrei Perdida No meu Jardim Encantado Quando visitava O impossível... ............... À tua procura.

“O Aurífice”. Detalhe.
A MONTANHA ENCANTADA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Montanha Encantada”. Original de minha autoria para este poema. Setembro de 2020.

“A Montanha Encantada”. Jas. 09-2020.
POEMA: “A MONTANHA ENCANTADA”
VÊS AQUELE ANIMAL Sagrado Lá no alto Da Montanha, Meu amor? Seus olhos Fulminantes São águias Que perscrutam O horizonte E te procuram Na vastidão Destes montes Transbordantes De cor. EU SOBREVIVO ALI, Diluindo-me nas Cores exuberantes E quentes Das encostas, Sob o azul profundo Da abóbada Sideral Que me inebria Nas vertigens De cada ritual. ASSIM TE ESPERO Em cada dia... ................ E ao primeiro Voo das águias Correrei nu por Esses campos Fora Para te ver passar Ao longe (E sem demora), Subindo o maciço Até tocares o céu Com as mãos, Numa bebedeira De azul Que te fará Levitar Sobre o meu vale Mais profundo. É A MINHA MONTANHA ENCANTADA, Refúgio de eremita Que te canta E recria Com a alma Para te levar Em poética Levitação Por veredas Verdejantes E luminosas Sem destino Ou direcção... NESTA PROFUSÃO De cores intensas Que te ofereço Uma vez mais Penso-te como Imanência, Esparsa Pelas encostas Abissais Que o semideus (Que vês Lá bem no alto) Protege Com as águias Do sagrado Planalto. VÊS PARA ONDE Te levo, Meu amor? Para o Monte De Athena, O Parnaso Que habito Por tanto eu Te amar E no poema Pintar Como sufocado Grito de dor.

“A Montanha Encantada”. Detalhe.
FANTASIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Rubor". Original de minha autoria para este poema. Setembro de 2020.

“Rubor”. Jas. 09-2020.
POEMA – “FANTASIA”
O TEU ROSTO Assomou Quando a luz Branca Irrompia No meu jardim, Num insólito Entardecer, Por entre a espessa Folhagem Do vasto e belo Jasmim... ................... E logo eu me perdi Nesse doce Acontecer Que descia Sobre mim. ASSOMAVAS Como flor Em súbito espanto, Despertada Pelo mundo, Com o rosto Em rubor Quando ouviste Este meu canto Profundo... ......... Invocar O teu amor. A LUZ ERA NEVE Derramada Sobre ti No coração da Primavera E o inverno Que te cobria Essa alma Atormentada Desceu Ao meu Jardim Encantado (Minha mágica Quimera), Nessa tarde Luminosa De um branco Imaculado. E EU FIXEI-O, Esse inverno Tão tardio, Que caía Sobre ti Lá do alto Do arbusto (Tão macio) Que me protege As cores Com que te pinto E as palavras Que te canto (Como ousado desafio). AH, ERAS MESMO TU Disfarçada De Flor Que germinou No húmus Desse Jardim E assomou ao Meu olhar Para logo Sussurrar: “- Oh, este amor Não terá fim...”

“Rubor”. Detalhe.
MUDAM OS VENTOS E MUDAM AS PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Encruzilhada”. Original de minha autoria para este poema. Setembro, 2020.

“Encruzilhada”. Jas. 09-2020.
POEMA – “MUDAM OS VENTOS E MUDAM AS PALAVRAS”
“MUDAM OS VENTOS E mudam as palavras”, Assim falava o poeta. De sinais Tudo sabia, Mas de ventos, Isso não, Sobre Éolo Nada podia. MUDAM AS VONTADES E também mudam As cores, Fortalece O desejo À procura De alimento, Tudo muda, Tudo gira E também muda O vento. O QUE CONTA São os ciclos Desta vida, Os que o tempo Desenhar Pra cada nova Partida Num eterno Movimento Como as ondas Do mar. HÁ ENCRUZILHADAS E é preciso Escolher Para logo decidir Ainda que seja Do mesmo Se não pudermos Fugir. E EU ÀS VEZES DECIDO E volto a decidir, Mas encontro Sempre o mesmo E logo volto A cair... TAMBÉM NÃO HÁ Muito a fazer Porque o vento Sopra sempre Numa certa direcção Para levar As palavras... .............. Quando sopra De feição. MUDAM OS TEMPOS Muda a vontade, Muda o vento De direcção (É verdade), Mas as cores Do arco-íris Viajam sempre Comigo Mesmo que digas Que não.

“Encruzilhada”. Detalhe.
ESTÃO CANSADAS, AS PALAVRAS…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Chorar”. Original de minha autoria para este poema. Setembro de 2020.

“Chorar”. Jas. 09-2020.
POEMA – “ESTÃO CANSADAS, AS PALAVRAS…”
LUTO CONTRA O CANSAÇO De te recriar, Aqui, Neste Jardim, Numa busca De palavras E de cores Que parece Não ter fim... AS PALAVRAS AMEAÇAM Nada dizer, Braços caídos, E as cores Já desbotam Nos cenários Coloridos. POR TANTO ME ESCONDER Atrás delas, Fingindo Nada saber, Arrisco Perder-me Neste Parnaso Onde te venho Cantando, Por certo, Não por acaso. DE NADA VALE Pedir-te Um simples sinal, A ti, Que os manejas Com mestria E sageza, Ao sabor dos teus Caprichos E de uma triste Dureza. TALVEZ ANDES Distraída Com futilidades Da vida, Mas já não sei bem Quem tu és De tão antiga Ser Esta nossa Despedida. AS PALAVRAS ESTÃO Cansadas De te procurar Com o vento Sem saber Onde pousar Nesse teu mar Tão cinzento. NÃO FOSSEM AS CORES Do arco-íris A pintar o rio Da tua vida E talvez já tivesse Procurado Outra foz Onde banhar O meu estro e Dar palco A outra voz. MAS SEI Que procuraria Sempre a tua Réplica (Que nunca Encontraria) E então regresso À memória Colorida Desta minha fantasia, Povoo-me De imagens, Construo catedrais, Afundo-me na arte... ............... E, olha, Pensa bem no que Eu te digo, Pois já não sei Em que mais, Para além deste Sofrido castigo.

“Chorar”. Detalhe.
POR UM SORRISO…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Há Vida no Jardim”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Há Vida no Jardim”. Jas. 08.2020.
POEMA – “POR UM SORRISO…”
OFERECIA-TE O mundo Por um sorriso E um terno Olhar Desses olhos Negros Onde gosto De navegar. MAS É CERTO QUE Não terei, Foi promessa Para a vida, Eu bem sei. NÃO IMPORTA, Também o mundo Não é meu Para o oferecer... .................. Ah, mas dou-te As mágicas Paisagens Do meu olhar, A incandescer, Os frutos Da minha arte, Recrio-te Em ausência, Como diz a Yourcenar, E então ficas Mais bela Que tu mesma... ............... De tanto assim Te amar. DEI-TE HÁ DIAS Um talismã Pra que te guie Na vida. Fi-la eu, A alquimia, Com essas vibrantes Cores, Luz que brilha Cada dia... ............. Como em todos Os amores. SIM, EU TENHO O mundo espelhado No meu coração, Lugar de onde Te vejo À distância E à medida De uma insólita Paixão E de um intenso Desejo... ......... Profundo Como vulcão. MAS ESSE SORRISO E teu olhar Não os terei Para melhor Te amar... ................ Como eu sei. Então canto-te Para espairecer E comigo te Levar Como sempre Desejei. TENHO-TE ASSIM, Em fantasia, Este modo De te ter Cada noite em Cada dia...

“Há Vida no Jardim”. Detalhe.
“KETROF”
Pintura (Tela, 135x100, p.a.) By João de Almeida Santos PARTILHO hoje este quadro, de minha autoria, inspirado na “Quinta do Quetrofe”. A “Quinta do Quetrofe” encontra-se na vertente leste da Serra de Famalicão (Guarda), a mil metros de altitude, com uma belíssima vista para o Maciço Central.

“Ketrof”. Jas. 08-2020.
OFEREÇO-TE UM TALISMÃ…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Talismã”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Talismã”. Jas. 08-2020.
POEMA – “OFEREÇO-TE UM TALISMÃ…”
OFEREÇO-TE UM TALISMÃ, Meu símbolo Do teu encanto, Como se fosses Irmã, Aqui, neste Jardim, Aqui, neste recanto. VOA ALTO O talismã, Procura-te, (Mas não sei onde), Tem poderes E tem magia, (Que esconde), Protege o teu Caminho Em cada nova Partida, A tua cartografia, O mapa da tua Vida. VOA, SIM, O TALISMÃ, Desenhei-o Para isso, Um sopro Forte Na alma, Lado belo do Feitiço. TEM AS CORES DO Arco-íris, Ilumina o Teu rosto, As margens Da tua vida, Tudo aquilo De que gosto... ................ Ver-te sempre Protegida. BRILHA Pela matina Com teus cabelos Ao vento, Um sorriso Em teus lábios Que acende O meu olhar Quando desperto Ao relento Do sonho De te amar. É GRANDE O seu poder E forte como o Amor, Bons auspícios Para ti, Remédio De alquimista Pra curar a Minha dor. OFEREÇO-TE O talismã, Aceita-o Com alegria, Protege O teu destino, Da vida A travessia, Um caminho Genuíno, Da alma A alquimia.

“Talismã”. Detalhe.
VALSA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Timidez”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Timidez”. Jas. 08-2020.
POEMA – “VALSA”
DANÇAREI SEMPRE Contigo, Dançarei, Uma valsa (Só eu sei) Que não tem fim... ............ Mas que não Seja castigo Esta magia D'encanto Que tomou conta De mim! NÃO ME CANSO, Nesta valsa, Não me canso... ............. O corpo nada Me diz, Eu danço A vida contigo Porque és A minha fada, Da minha alma Matriz. VÊS? É uma dança Interior, Produto da fantasia, Procuro-te Onde quiser Para contigo Dançar Esta nossa Melodia... MAS ENCONTRO-TE Sempre, Austera e Imponente, Neste Jardim Encantado, Fada Em forma de Arbusto (Bem copado) Ou rutilante Flor... ............ E por isso Te dedico Uma longa E sofrida, Mas doce E desmedida, Sinfonia Ao amor.

“Timidez”. Detalhe.
ESTRANHO, NÃO É?
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Terraço”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Terraço”. Jas. 08-2020.
POEMA – “ESTRANHO, NÃO É?”
É VULGAR SONHAR-TE Em ambiente idílico, Dirás. Sim, bem sei, Tu que nada terias De romântico Mesmo que eu fosse Um rei. MAS, FOI ASSIM Que te sonhei, Aqui, onde o céu Parece um lago E as grades são, À vista Do casario Que me veste O olhar, A minha libertação, O meu tão cantado Lar. É AQUI QUE Eu te tenho, É aqui que eu Te sonho, Que te canto E te choro, É aqui que Sobrevivo Porque é aqui Que te adoro. PINTO-TE, Sabes? Pinto o lugar Onde te vejo E te quero, Onde mais Eu já te sinto... .............. E desespero... ESTRANHO, NÃO É? É um sítio Onde só vives Sob forma De arbusto E te respiro O perfume, Adormeço Ao relento, Te sonho Com as estrelas E viajo Com o vento... ............ Como lume. SINTO-TE PERTO Quando te canto (Liberto) E me aprisiono Na ideia que De ti eu tenho E onde mais Me abandono. PERCO-ME, SIM, Nestas cores, Nestas palavras, Na minha fantasia, Enquanto tu Te perdes Num silêncio Programado, Tal como eu, Nesta minha Teimosia, Meu destino E triste fado, Tão sofrida Nostalgia. MAS EU ESCREVO E pinto Para ti, Meu amor, Alimento (Com dor) Do teu futuro Quando olhares Para trás E só vires Este meu canto (Já tão maduro) Na tua vida Porque não foste Capaz De manter A ilusão Por ti sempre Prometida...

“Terraço”. Detalhe.
UM SONHO NO MEU JARDIM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Jardim Espectral”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Jardim Espectral”. Jas. 08-2020.
POEMA – “UM SONHO NO MEU JARDIM”
NUMA TARDE QUENTE De Verão Adormeci No meu Jardim Encantado À sombra de um Loureiro E sonhei, Pensando em ti, Que era Um jardineiro... ........... Apaixonado. MAS ERA ESPECTRAL A luz Desse jardim, Era branca, Irreal, Algo estranho Para mim Neste lugar Seminal. SONHEI-TE. Nesta estranha Visão Tudo perdera Cor, Tudo era Ilusão e Voltou O que então Eu senti Naquela tarde De outono Quando Para sempre Te perdi... ........... Uma imensa Comoção. NO SONHO, Já não te vi, A memória Perdeu cor, Mas logo Te pressenti Nesse cíclico Retorno Da minha Remota dor. NÃO ERA Deste mundo Esse Jardim, Perdera O seu encanto, O perfume Já não era Do inebriante Jasmim Nem de outra Qualquer flor Que sorrisse Para mim. MAS LOGO ACORDEI Com a brisa fresca Da noite No meu Jardim Encantado E o sonho branco E pesado Logo teve O seu fim, Despertando Uma doce Nostalgia Quando o brilho Das estrelas Do mais profundo Do céu Cobriu Este meu rosto De um cintilante Véu Como se fosse magia.

“Jardim Espectral”. Detalhe.
A FLOR DE PAPEL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fleur de Papier en Vol à la Recherche du Poème Perdu dans un Jour d’Hiver”. Original de minha autoria. Julho de 2020.

“Une Fleur de Papier en Vol à la Recherche du Poème Perdu dans un Jour d’Hiver”. Jas. 07-2020.
POEMA – “A FLOR DE PAPEL”
NUM DIA DE INVERNO Uma flor de papel Voou Para longe, Levada pelo vento. Rajadas fortes Quebraram Os subtis Filamentos Que a ligavam À raiz de onde Nascera... ............. Seu alento. CONTINUA A VOAR, Essa flor de papel, Ao sabor do vento, Pousando Aqui e ali E logo voando Para outros Destinos, Em perpétuo Movimento. PERDEU AS CORES Luminosas Que exibia E a fonte D’inspiração, A seiva De cada dia, Borboleta Sem pólen Para nova Gestação No jardim Da fantasia. MAS NUM DIA Quente De Verão (Eu bem sabia) Encontrei-a Por acaso Aninhada Num arbusto, Recolhida sobre si Em profunda Solidão. PEGUEI-A Com a mão E levei-a Ao Jardim Do meu poeta Pintor... ............. Nosso chão. DEU-LHE COR, O meu poeta, Alisou as suas rugas, Mostrou-lhe O horizonte Nesse dia de Verão E logo a deitou Ao vento, Ao encontro De raiz Que nutrisse Com sua seiva Uma nova floração....

“Dans un Jour d’Hiver…”. Jas. 07.2020.
RITUAIS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Templo Inacabado”. Original de minha autoria para este poema. Julho de 2020.

” Templo Inacabado”, Jas. 07-2020
POEMA – “RITUAIS”
IMAGINEI UM TEMPLO Revestido de vitrais, Celebrar-te Com palavras Em singelos rituais. EVOCO O tempo Em que sempre Me perdia Nesse teu olhar Esquivo... ............... E os silêncios Que sobravam Como se fossem Castigo. É O QUE RESTA Como alimento Da alma, O fervilhar De memórias, Inscrições Sensoriais, Silêncio Profundo A poético Chamamento... ............... E tudo o mais... UM FUTURO IMAGINADO De voluntário Amante, Construído Nas ruínas De um passado Que não é Muito distante. SIM, O QUE RESTA É este brilho Coado, Melancólico, Cinzento, O negro De teus olhos Inquietos E teus cabelos Fartos, Ao vento... TUDO FERVILHA Na minha sofrida Memória, Delicada criação Em palavras Com história. DOU-TE, ASSIM, Nova vida E renovo-me Também eu, Falo ao mundo Comovido De um templo Que é só meu. IMAGINEI-O, O templo, Para quando Regressar Do meu Jardim Encantado, Vibrante de cores E por fora Perfumado, Mas por dentro Melancólico e Sofrido Por te ter, Nesse tempo Já passado, Dolorosamente Perdido... ......... De tanto Te ter amado.

“Templo Inacabado”. Detalhe.
DEUSA NO MEU JARDIM ENCANTADO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Sonhei-te assim, no Poema”. Original de minha autoria para este poema. Julho de 2020.

“Sonhei-te assim, no Poema”. Jas. 07-2020.
POEMA – “DEUSA NO MEU JARDIM ENCANTADO
”SONHEI-TE ASSIM, Meu amor: Uma deusa no Jardim. Não te vendo, Recrio-te Com fantasia, Olhar Deslumbrado, Alma Devotada Que persiste Fascinada Como quando No passado Eu te via. QUE SAUDADES! Não nos gastámos Porque partiste Cedo demais. Sobrou-me De ti o melhor, Quando, ao ver-te, Estremecia, Olhos negros, Inquietos, Mistério Que seduzia. FICOU-ME A VONTADE De te desvelar Lentamente À medida Do desejo, De um forte Encantamento, Renovada Inspiração, Oráculo e Devoção E silente Chamamento. ESTA NOITE Sonhei-te assim, Amanhã Eu já não sei, Os sonhos vão Lá pra longe Ou vêm pra muito Perto, Noites longas e Profundas, Quando o amanhecer É incerto. POR ISSO SONHEI-TE Hoje, Pra te contar O meu sonho Amanhã, No dia em que Mais sinto Esta minha solidão, A ausência E o silêncio A que respondo Com poética Evasão. PROCURO-TE Na fantasia, Nos poemas, Na pintura, Nos sonhos Ou no Jardim Onde te vejo Altiva Aqui bem perto De mim. E QUANDO TE OLHO Vejo o mundo A partir desse teu Rosto, Mais belo E misterioso, Mais quente, Silencioso... CRESCE A VONTADE, O estro, A poesia, Vejo o futuro Risonho, Há uma certa acalmia Neste mundo Tão rugoso. SONHEI-TE Um dia antes Do beijo Que celebro Com a minha poesia, Ano após ano, Ao encontro da raiz Onde o poeta Nasceu Para o canto Que a dor Lhe prometeu Como pura catarsia.

“Sonhei-te assim, no Poema”. Detalhe.
ENCONTRO NO JARDIM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração – “Cai a Noite no Jardim”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2020.

“Cai a Noite no Jardim”. Jas. 06-2020.
POEMA – “ENCONTRO NO JARDIM…”
CAI A NOITE No jardim E já nem sei Se amanheces Dentro de mim. Sobras-me Em incerteza Nos sonhos Breves Em que te encontro Como se fosse Eterna Esta nossa despedida, A versão já repetida De um desencontro Sem fim. MAS À NOITE O teu perfume É mais intenso No meu Jardim Encantado, O silêncio Mais profundo, Ouço mais A tua voz Cristalina Ecoar Na minha alma, Vejo o brilho De teus olhos Ausentes Acender magnólias Brancas E sinto o vermelho Das rosas Incendiar-me O corpo. MAS ANOITECE, Meu amor, Ah, como anoitece, Vai-se o sol E a vibração dos sentidos, Recomeça a viagem Para dentro de mim, Invoco-te Com a alma E trago-te Como pétala às minhas Palavras, Olho-te por dentro Quando a melancolia Toma conta de mim Neste cíclico Anoitecer. VOU AGORA A CAMINHO Da noite, Do sonho, Do imaginário Que entra sem pedir Licença E me arrasta Na corrente Onírica para um Incerto destino Onde não sei Se habitas. E O AMANHECER É sempre imprevisível, As ondas de luz que Chegam com o sol Ameaçam As cores suaves E quentes Com que te Sonho e te pinto Na minha alma Nas noites De luar. CAI A NOITE NO JARDIM E anoitece-me Na alma, Meu amor!

“Cai a Noite no Jardim”. Detalhe.
CASTA DIVA
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2020

“S/Título”. Jas. 06-2020.
POEMA – “CASTA DIVA”
SONHEI-TE Nesta noite de Verão. Eras casta. Podias ser Casta Diva. Ou não. Casta, sim, De onde nasce O meu vinho, Milagre Da natureza, Sob forma de Mulher, Mas serás Diva também Se ao poema Te trouxer. SONHO-TE Muitas vezes, Voo contigo À procura Do passado, Mas nunca eu Te sonhei Como casta Em pecado, Trepando, Pela latada, No meu Jardim Encantado. AH, A LATADA Essa sim, Que um dia Trepou por ti Pernada acima Nesse enlace Fatal Onde me nasceu A rima, O canto Que te invoca Quando me torno Jogral. AGORA SONHO-TE ASSIM, Mulher-Rufete, Crescendo Bem alto Nas terras Do meu Jardim... ................. As voltas que O mundo dá, Neste recanto Encantado Com aroma Perfumado Da ramagem do Jasmim. CRESCES-ME Na alma Sob a forma de Enlace, Mas se agora És videira E ontem eras Jasmim, Amanhã Serás arbusto Mesmo que eu O não queira Por seres diva Para mim.

“S/Título”. Detalhe.
A EROSÃO DO TEMPO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Entardece no Jardim”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2020.

“Entardece no Jardim”. Jas. 2020.
ENTARDECE NO JARDIM, Entrevejo-te Por entre folhas De um arbusto, Ao longe, Uma imagem Desfocada... ............... O sol cai No horizonte, Vejo, apenas, Um perfil Esfumado, Nuvem cinzenta Arrastada Pelo vento Para lá desta Montanha, Meu alento, Minha fada. VIRO-ME Para dentro De mim E o meu olhar Interior Confunde-se Com o teu E já nem sei Se és tu Ou se essa imagem Um pouco baça Serei eu. O TEMPO Esculpe o rosto Na memória Dos afectos E só vejo O que de ti Me sobrou, Retrato De pouca cor Composto Ao ritmo De suspiros... ............ E tanta dor. NÃO FOSSE A POESIA E restarias Nuvem no céu Entre o azul E o branco Desta minha Fantasia, Ponte espectral Entre mim E a deusa que M’ilumina Por dentro e Por fora, Um clarão irreal Que cega E me comove... ............... Como quem chora. AH, MAS O POEMA Dá-te vida, Dá-te luz E dá-te cor, Enche-te a alma De emoção, Interpela Todo o teu ser E rompe Este minha Tão sofrida Solidão. MAS EU TEMO Encontrar-te E já não saber Quem tu és Por há muito Navegar Outras ondas E marés Tão longe Desse teu mar...

“Entardece no Jardim”. Detalhe.
A REINVENÇÃO DO TEMPO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A lua desceu sobre mim”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2020.

“A lua desceu sobre mim”. Jas. 06-2020.
POEMA – “A REINVENÇÃO DO TEMPO”
FOI INESPERADA A descida Ao vale Profundo Da tua vida, Reencontro Com o destino Que os deuses Te traçaram, Numa longa Despedida. TRILHOS NOVOS, Fim do ciclo Que corroía E já tardava... .............. Porque doía. UM RÁPIDO Bater de asas Aos ventos que Sopravam e Incendiavam O teu desejo De liberdade... ............... E o tempo Da reinvenção Aconteceu Na outra metade De ti. OS CICLOS Que a vida tem... .................. De repente, Assomam Personagens Que nos habitam E aguardam Em silêncio O dobrar de uma Esquina Para tomarem Conta de nós... É A VIDA Em sobressalto, Renascida, Ventos que sopram Forte na alma, Perfume de liberdade Que docemente Embriaga, O sorriso inocente Da criança que Desperta Para dar vida Às coisas inanimadas Que nos prendem O olhar... ............. Num luminoso Amanhecer. PRESSENTI Essa viagem, A partida Do túnel Ensombrado Do tempo, Sem bagagens, Apenas o teu corpo E a vontade De trepar pelo Mundo acima Como quem Já o respira Lá no alto Da montanha. E LOGO TE DISSE: “Nasce outro Personagem Em ti Que já se manifesta À procura de autor Que lhe reescreva O destino E o ponha em cena No teatro Da tua vida...” “VEM DAÍ, VEM, Que a vida acontece No grande teatro Do mundo Onde se viaja ao sabor Do vento E da fantasia Em levitação Sobre o vale De onde se vê A vida Do lado certo Do sonho.” “E TU, QUE PAGASTE O teu tributo, Abraça a autoria E procura esse palco Onde encenar A reinvenção do Tempo Com fantasia, A que nasce Da liberdade Que ilumina O caminho, A bússola Que já te guia.” VÁ, VEM DAÍ, Há muito Caminho para andar, Há azul No horizonte E brilho No teu luar, Há sol Na madrugada, Suave brisa No ar, Há flores No teu jardim, Água fresca Pra regar, Há mais mundo Que te espera E uma vida Para amar... ............... Vem daí, vem, Meu amor, Já nem sei Como esperar!

“A lua desceu sobre mim”. Detalhe.
ETERNO RETORNO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Encontrei-te no Jardim”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020.

“Encontrei-te no Jardim”. Jas. 05-2020.
POEMA – “ETERNO RETORNO”
SE TE VEJO
Estremeço,
Se não te vejo
Caio em
Melancolia,
Assalta-me
O desejo
De voar
Contigo...
...........
Nesse dia.
EU NÃO SEI
Como se muda
O mundo
Para te ter,
Então voo
Sobre ele
Ao sabor do vento
Pra que tu
Me possas ver.
É ESTRANHO, NÃO É?
Esta moinha
Que me consome
Porque não te vejo,
Não te ouço
E nem sequer
Te procuro
Porque sei
Que a via
Da minha arte
Me levará
A esse teu lado
Mais puro.
É POR ISSO QUE
Só te espero
Na rua
Do desencontro,
No jardim
Da despedida
Que nunca parei
De regar
Com arte
E nostalgia,
Essa forma
De te amar
Cada noite
E cada dia.
É ACASO
Ou destino
Esperar-te numa
Esquina
Das tantas
Que a vida tem?
Foi dela
Que t'esgueiraste
Na densa
Neblina
Desse teu
Quotidiano
De que ficaste
Refém.
SIM, É VERDADE,
Mas se te encontro
Nessa esquina
Que me leva
Ao jardim
Eu de novo
Estremeço,
Caio em mim,
Sinto um profundo
Torpor
E adormeço,
Pondo fim
A essa dor...
AH, MAS DEPOIS
É o céu,
Sim, o céu,
A sonhar-te
Em azul profundo
E o desejo
A cumprir-se
Nas ondas
Do nosso mar
Até que a aurora
Desponte
Para ser acometido
Por nova melancolia
E desejo
De voar...

“Encontrei-te no Jardim”. Detalhe.
QUASE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Desejo”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020.

“O Desejo”. Jas. 05-2010 .
POEMA – “QUASE”
DISSE-TE UMA VEZ Que o desejo É quase tudo E o que sobra Quase nada. RESPONDESTE Que, assim, Eu nunca Sairia de mim Pra conhecer O sabor Do quase Que sempre Sobra Do desejo Consumado. SORRI E com ternura Te disse Que é na posse Que se mata O desejo Encantado... ENCOLHESTE Os ombros, Olhaste-me De revés E foste embora Dali. FIQUEI SÓ, Com o desejo Nos braços, Nostálgico E pensativo, Quando dobraste A esquina Deste nosso Desencontro, Tão curto, Mas impressivo... RECORRI À memória Daquele instante Fugaz, Revi-te a beleza Do rosto, Expressivo E tão vivaz, Alma Estampada No corpo, Essa boca Sensual... ............ E o desejo Transbordou Das margens Deste meu Mundo Tecido De fantasia Numa bola De cristal. FIXEI-ME Na tua beleza E dei asas Ao desejo, Desenhei-te Numa tela E cantei-te Num poema (As armas Do meu poder), Cobri-te Toda de cores Para nunca Te perder. E FIQUEI-ME Por ali, A sonhar-te... .............. A matutar No destino Que cedo Me cativou Por achar que O desejo É quase tudo, Mesmo quando O mundo Te abraça E devolve Tudo o que dele Te sobrou.

“O Desejo”. Detalhe.
CONFISSÕES DE UM CONFINADO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020.

“S/Título”. Jas. 05-2020.
POEMA – “CONFISSÕES DE UM CONFINADO”
ANDO PERDIDO, Por aí, Nas tardes De Primavera, À procura de mim, Neste estranho Tempo Que aviva O que perdemos Nas esquinas Da nossa vida. NÃO ME VENDO No espelho Dos outros, Já não sei Quem sou e Onde estou. Apenas suspeito. Uma vaga ideia. FALTA-ME O MUNDO Para dar conta De mim, Mas, coisa estranha, Ele entra-me Casa adentro E devolve-me O que perdi, Mais selectivo E profundo, Apenas o que é Remoto Da cidade Onde vivi. ESTRANHO MUNDO, Este, Que escolhe Por mim O que me sobrou Da voragem Do tempo... É POR ISSO Que me procuro Para saber Se o que me Bate À porta É meu Ou se a falta De mundo Me provoca Alucinações, Sonhos ou Sombras Do que nunca Aconteceu... ENTÃO PROCURO-ME No espelho Que trago comigo, Dádiva De Athena, Olho, Volto a olhar E descubro que Afinal sou eu, O esquecido Sem abrigo, Aquele que andou Por aí No bulício Da vida, Ao sabor do vento... ............. Mas contigo. E TAMBÉM SEI Que, por isso, Nesta errância, Eu não petrifiquei. AH, COMO É BOM Saber Que, afinal, O vento Me levou Para destinos Encantados Onde contigo Renasci, Quando o tempo Trazido pelo vento Que passou Na rua da Minha vida Me bateu À porta... ............ E eu abri.

“S/Título”. Detalhe.
É ASSIM QUE EU TE VEJO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Uma Mulher”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020

“Uma Mulher”. Jas. 05-2020
POEMA – “É ASSIM QUE EU TE VEJO”
DESDE SEMPRE Que te guardo No meu peito. Fixei-te melhor Naquele dia E guardei-te Na memória Profunda Quando te vi Perdida, Por encanto, A ouvir Essa nossa Melodia. UM BRILHO QUIETO Em teus olhos, Suspensa Nas nuvens, A suave paixão Maternal, Inefável, Quando as palavras Já não chegam Para te nomear Com a alma, De tão cheia De ti, A transbordar... A MINHA AUSÊNCIA Constante E tão cortante, O preço Para ser O que mais querias Que fosse, Fazia crescer Em ti O encantamento Que tinhas Contigo Desde aquele dia, Quando te nasci E tu renasceste Comigo. AQUI SEMPRE A meu lado, Este rosto Sedutor Nunca me Despertara O desejo De o cantar Para além da Memória Remota Do afecto... PALAVRAS E melodia, O olhar Penetrante Da alma, Um canto Devotado Que tocasse Em cada dia As fronteiras Intangíveis Do sagrado. FOI PRECISO Aprender Os ofícios Da arte Pra te poder Celebrar E dizer De todas as formas Que sei O que não quero Calar. E AQUI ESTOU. Esse dia Haveria de Chegar. E chegou.

“Flores do meu Jardim Encantado”.
MARMELADA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Dança da Combustão”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020.

“A Dança da Combustão”. Jas. 05-2020.
POEMA – “MARMELADA”
COMO GOSTO Da tua marmelada, Meu amor... ........... E gosto de Chocolates, Dos que me Sabem a ti, A esse tão doce Sabor. GOSTO DA METAFÍSICA De confeitaria Porque me adoça A alma, É nela que eu te Encontro, Nesta minha Fantasia, Quando a noite Se faz calma. SOU GULOSO, Como sabes, E como é doce E macia Esta tua marmelada, Sinto-a Como alquimia, Como arte De uma fada. COMO, COMO, Sem parar, Sabe-me Sempre a ti, Ao brilho Do teu olhar, Ao perfume Do teu corpo, Onde hei-de Naufragar. NESTA TUA MARMELADA, Eu vejo-te Artesanal, Com os marmelos Nas mãos, Sabores Em harmonia, Uma receita fatal, Polpa moldada Por ti Na dança Da combustão, Cor intensa E profunda, Iguaria De convento Com teus frutos Em fusão. TALVEZ A TENHAS Criado Em tempo De quietude Ou mesmo de Solidão, Quando esvaece Esse lado Tão agreste E tão crispado Que te esconde A beleza Dos momentos De paixão... AH, A MARMELADA, A metafísica, Chocolates, Confeitaria... .............. A doçura Do teu jeito Vai ficar-me Sempre viva Como suave Suspiro Que se solta Do meu peito... ............... Por essa tua Magia...

“A Dança da Combustão”. Detalhe.
TRÊS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: "Geometria”. Original de minha autoria. Abril de 2020.

“Geometria”. Jas. 04-2020
POEMA – “TRÊS
SINTO TRÊS VEZES A tua falta Na sofrida Solidão Onde encerro O que não tenho No Monte, Oráculo Desta minha Invocação. TRÊS VEZES Eu sinto O teu silêncio, Na ausência Do teu rosto E do som Da tua voz, Do aroma Do teu corpo... ................ Minha foz. ATÉ A ALMA Escasseia... ............... Não lhe sinto Pulsação, Desmaiada Sobre mim, Inerte Nestes meus braços, Uma carícia Sem fim... TEU SILÊNCIO Cai pesado Sobre a minha Solidão, Meteorito Na alma, Inaudível Colisão. SOBRA-ME, De ti, O nome, Rasto da tua Passagem Na rua Que já foi minha, É nela que eu Te sonho E te pressinto Como deusa Nas noites Do meu luar E te canto Em poemas Onde os nomes São metáforas E sem limite O poder De nomear. EU SINTO A tua falta Três vezes De cada vez. É falta a mais, Eu bem sei, Mas o número Perfeito É o três. ABRAÇO O número Da perfeição, Desenho Triângulos Em liberdade Até que os sinta Vibrar, Instrumentos Musicais Que dão voz À minha dor Na exacta Geometria De teus breves Rituais. NELES OUÇO A tua melodia Como eco Desse nome Que no sonho Invoquei, Dou início Ao poema Para te sussurrar Baixinho A história Que sonhei.

“Geometria”. Detalhe.
ALMA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração – “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Abril de 2020.

“S/Título”. Jas. 04-2020
POEMA – “ALMA”
SE QUISESSE A tua alma Como anjo Do pecado, Que farias Do teu corpo Que eu sonho Imaculado? SE O TEU CORPO Pedisse O poeta Apaixonado Não lhe darias A alma, Tributo do teu Secreto Pecado? MAS EU QUERO A tua alma Mais do que quero O teu corpo, Do que de ti Eu mais gosto, Porque é ela Que me fala No brilho Desses teus Olhos, No veludo Do teu rosto. ÀS VEZES (Eu pressinto) Abandonas-te Ao ritmo Encantatório Das palavras Que te lanço, Da melodia que Embala, Da beleza Do meu pranto No poema Que te fala. É DIFERENTE O meu encontro Com teu rosto Tão macio, O brilho do teu Olhar... ................. Ou com sulcos Tão crispados, Espelho Da tua alma, Quando roubam O encanto Desse sorriso Esboçado De quem constrói O futuro Nas ruínas Do passado. O QUE EU Procuro em ti, É o lado Desta minha Perdição, A beleza Dos teus olhos Onde te fala A alma, Onde cresce Cada dia Uma incontida Paixão. TALVEZ O TEU SILÊNCIO, Linguagem Em forma pura, Me seduza E me cative Na fronteira De uma dor... ............... Que com poesia Se cura.

“S/Título”. Detalhe
VOAR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Pássaro de Fogo”. Original de minha autoria sobre desenho de Vera Sousa. Abril de 2020.
