O ESPELHO
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Perfil de Mulher”. Original de minha autoria. Maio de 2022.

“Perfil de Mulher”. Jas. 05-2022
POEMA – O ESPELHO
“Tu prima m’inviasti verso Parnaso a ber ne le sue grotte, e prima appresso Dio m’alluminasti”. Dante Alighieri. Purgatorio. Canto XXII.
ENCONTREI-TE No Parnaso, Lá em cima, Intangível, Sem te poder Tocar A não ser com As palavras De um poema Sensível às cores Da tua alma.
E VESTI-ME Com elas, As palavras, E senti-me Quente, Afagado No meu canto Porque tu as Escutavas.
SIM, ENCONTREI-TE Lá em cima No Monte. Em ti Eu via a costa E via o mar No horizonte Com nitidez E via O meu mundo Interior Em sonhos De azul, A tua cor, Em toda a sua Nudez.
A NEBLINA Cobria-te O corpo, Como Graça de Botticelli, Pra te refrescar A alma, Morrinha Lenta e fina De palavras Húmidas Caídas Lá do alto Do meu céu De nuvens brancas... ......... Sobre ti.
EU ERA Espelho Que te devolvia Fantasia Contra a Petrificação Fatal Que espreitava Nos olhares Indiscretos Do teu círculo Vital.
MAS TU Não sabias.
SUBITAMENTE, Decidiste declinar O espelho Porque, Dizias, Começava A embaciar-te A alma.
E NÃO ERA DA NEBLINA Que te envolvia, Mas dos desenhos Que tuas mãos Esboçavam Timidamente Nesse espelho Já tão húmido De ti.
E DEIXASTE O Monte. Desceste Apressadamente, Sob os olhares Das mil górgones Que sempre Ameaçam Petrificar Os que vivem No vale. E sucumbiste. Ou talvez não...
NO MONTE, Disse De mim Para mim: De tanto te reveres No espelho, Ficou-me, de ti, O cintilante Reflexo. E sabes o que se Vê Na minha superfície Plana? Beleza. Toda a que me sobrou Quando, Em tristeza, Desceste o Monte.
MAS ESTA NÃO PETRIFICARÁ Porque ficou Guardada No meu corpo Vítreo Onde todos Se revêem Sem saber Que no reflexo Levam, gravada Em transparência, A tua imagem... ................... Embaciada.
E POR CÁ FIQUEI, Espelho do mundo, A olhar para O escuro espaço Sideral À espera que um Cometa Me alumie O caminho Para te devolver O teu reflexo Original E prosseguir A caminhada Solitária A que me votaste.
VEJO-TE NO POEMA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Ponto Cardeal”.
Original de minha autoria.
Maio de 2022.

“Ponto Cardeal”. Jas. 05-2022
POEMA – “VEJO-TE NO POEMA”
VEJO UMA ESFERA
Tingida
De cores
Que me faz
Vibrar
Os sentidos,
Mas há um
Silêncio
Frio
Que me chega
Lá de longe...
...........
Então parto
Para o poema,
Refúgio
Dos meus pecados,
Onde vivo
Como monge.
MAS TREME O CHÃO
No poema
Quando passas
Na estrofe,
Rápida como o vento
Que tudo o resto
Varreu
E em silêncio
Esvoaças
Num círculo
Que é só meu.
MEU SILÊNCIO
É composto
De palavras,
Diz muito mais
Do que quer
E se o poema
Te abriga
Nascem desenhos
Perfeitos
Do teu perfil
De mulher.
MESMO QUE TE ESCONDAS
Ou finjas
Que não és tu,
Te diluas na estrofe
Onde sempre
Fico nu,
Sinto sempre
Esse teu rasto,
Invisível
Como tu.
E TREME A TERRA
Quando passas
No desenho
Que te ofereço,
Mas não te vejo
Tremida.
O traço
Não é banal
(Como sabes),
É nele que eu
Te dou vida.
É FORTE
O meu desejo
De um encontro
Virtual,
Invocar-te
Num poema
Como musa
Ideal
E mesmo que
Os versos
Tremam
Serás sempre,
De certeza,
O meu ponto
Cardeal.
ÍCARO DO TEU SOL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Paraíso”. Original de minha autoria. Maio de 2022.

“Paraíso”. Jas. 05-2022
POEMA – “ÍCARO DO TEU SOL”
TANTA LUZ, Meu Deus! Vejo o brilho Intenso De um azul Que incendeia. É o teu céu, Esse imenso mar, O espelho Refrangente Dos meus sonhos Que dá asas Ao olhar.
O MEU É BRANCO E cintilante Para te iluminar E lá brilham Os teus olhos, Estrelas De navegar.
E QUANDO Nos sonhos Te vejo Iluminada, Divinal, Entro sempre Na porta Branca Que me leva Ao paraíso Levado por uma Fada Em quadriga Sideral.
E VOAMOS, Voamos, Deixando Para trás O meu Jardim Encantado, Os bailéus Da Casa-Mãe Desenhados A rigor, A quelha da minha Infância, Manhãs brancas, Cintilantes, De imenso E fascinante Alvor.
NOS SONHOS, (Em todos eles) Caio das nuvens Brancas Como Ícaro Do teu sol, Quase cego Dessa luz, Sobre as flores Do Jardim, O meu eterno Farol.
MAS A LUZ Reacende-me E ilumina O que me sobra De ti, Em sonhos Escritos Ou pintados A pastel, E, assim, Resisto À voragem Do tempo Com palavras Desenhadas, Fazendo da alma Pincel.
LIBERDADE
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Liberdade”.
Original de minha autoria.
24 de Abril de 2022.

“Liberdade”. Jas. 04-2022
POEMA – “LIBERDADE”
PERGUNTEI-TE,
Num dia
De sol:
“Voas comigo
Prà linha
Do horizonte?".
Deste-me a mão
E sorriste:
“Voo, sim,
Pois preciso
De ar puro
Lá bem no alto
Do Monte”.
E PARTIMOS.
Tu levaste
O arco-íris
Que tinhas
Dentro de ti
E eu as letras
Que tinha
Comigo,
Guardadas
Nesta alma
Solitária
Feita seu porto
De abrigo.
ENREDÁMOS
Todas as cores
Com linhas
De palavras
Deslaçadas,
Construímos
Asas em forma
De verso
E voámos
No céu
De um poema
Pintado todo
De azul...
ANDEI CONTIGO
Por lá
Anos a fio,
Vagueando
Ao sabor da
Inspiração,
Levados
Pela brisa
Que sopra fria
No Monte,
Mas afaga
O coração.
E COMO GOSTEI
De voar contigo,
Livres como
Pássaros
Sobre o vale
Onde te encontrei
Um dia,
Construindo
Castelos
Na areia
Com a força
Da fantasia.
É ASSIM QUE EU
Te vejo,
Tecendo a vida
Com sopro
De alma
E as cores
Do arco-íris
Pintadas
Por tua mão
Como pauta
Colorida
Dessa doce
Melodia
Da nossa bela
Canção.
FOI ASSIM
Que nos dissemos
Nesse tempo,
Livres de amarras
Que não nos deixam
Voar,
Traçando
Em arte
Um destino
Marcado
Pela vontade
De fazer
Da nossa vida
Caminho
De liberdade.

“Liberdade”. Detalhe
ESMORECER
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Teus Olhos".
Original de minha autoria.
Leitmotiv de K. Kavafis
(Poemas: "Cinzentos"
e "Dias de 1903").
Abril de 2022.

“Teus Olhos”. JAS. 04-2022
LEITMOTIV
“Ter-se-ão desfeado (...)
os olhos cinzentos;/
Ter-se-á estragado o belo rosto.
Memória minha, guarda-os
tu como eram./
E, memória, o que podes
deste meu amor,/
o que podes traz-me
de volta esta noite."
.............................
"Não voltei a encontrá-los –
esses tão depressa perdidos.../
Esses olhos poéticos,
Esse pálido/
rosto... no anoitecer da rua...
(...)
e que depois com ansiedade queria."
(Kavafis, K., Poemas e Prosas.
Lisboa: Relógio d’Água, 69-71)
POEMA – “ESMORECER”
JÁ GASTEI Todos os poemas Cantando O que nunca Te ouvi, Já me fogem As palavras E fico mais Pobre de ti. JÁ NEM SEI Se é silêncio Ou são notas Dissonantes Com que desenhas A pauta Dos melómanos Amantes. NEM PALAVRAS, Nem cores, Talvez notas Invisíveis Nessa pauta Desenhada Do silêncio Com que falas... ............. Talvez nada. AH, NEM EU Já saberei Nomear-te Na hora Da despedida, No encontro Que nunca Marcaremos Nessa baça Encruzilhada Onde sempre Te perdi Numa incerta Caminhada. PRA QUE SERVE A poesia Se não a Sentes Por dentro? Pra que serve A pintura Se não a contemplas Com alma? Pra que serve Gritar Se não ouves Com o peito? Pra que sirvo eu, Poeta-pintor, Se não te vejo Por fora, Mesmo que te pinte E te cante Por dentro? PARA NADA, A não ser Para celebrar O futuro De um passado Que logo esmoreceu Para nunca Lá chegar, Perder-se Na rotina Dos ecos Silenciosos Da alma, Enganar-se Com desencontros Inventados, Ir por aí Sem saber Pra onde vou, Desaparecendo Na montra Dos meus inúteis Passeios Pela arte Que desenterrei Das vísceras E de teus sofridos Enleios, Fazendo a minha Parte. AO MENOS DANÇO Em pas de deux Com poemas Desenhados, Enredado Nos mil fios Da fértil Fantasia De um poeta Que levita Sobre escombros De um palco Que nunca construiu Sobre as pedras Da sua poesia. É A DANÇA Da solidão, Contigo Suspensa Nos fios Da teia Em que vou Enredando A minha vida, Até tombar exausto, Ao cair do pano (E do poema)... ........... Que tarda, Sim, que tarda, Para iludir O derradeiro Momento De uma longa E interminável Despedida.

“Teus Olhos”. Detalhe
NEVE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Neve e a Primavera”. Original de minha autoria.
Abril de 2022. E uma bela canção de Milva, "Catarì", sobre Poema de Salvatore di Giacomo (Letra em napolitano e português,
no fim do Poema). Link: https://www.youtube.com/watch?v=8LOYOOPmBzI

“A Neve e a Primavera”: Jas. 04-2022
POEMA – “NEVE”
SE ME PERGUNTASSES PELA NEVE, Que te Responderia? “Tenho-a pura Na alma, Sinto-a quente Por dentro, É vida, É energia”. ENTRA A NEVE NA PRIMAVERA, Cai suave Lá do alto E alimenta-me O jardim, Rega-me fundo A alma (Sem sobressalto) E entra, suave, Em mim. DELA CONSERVO A brancura Fria Do manto Que me ilumina Por dentro, Magia do seu Encanto, Beleza Que me fascina E celebro No meu canto. E QUANDO O INVERNO Me deixa Nascem cores e Voam riscos, Expandem-se Mil perfumes No sagrado do Do meu chão, Tudo brota Para mim E em grande Profusão Na frescura Do jardim. MAS EU PERMANEÇO NA NEVE E a neve fala-me Assim: "Corpo frio, Alma quente, Banho-te Como rio Que nasce Dentro de mim Pra que a arte Germine Como uma bela Semente Que desponta No jardim". EXPLODEM OS MEUS RISCOS Em girândolas De cor, É festa Na minha aldeia, É intenso O clamor, Crepitam foguetes No ar E nós, felizes, Gritamos: “Girândolas Na nossa festa Nunca nos hão-de Faltar...” SE ME PERGUNTARES PELA NEVE Eu ouço-te A voz Cá em cima, Respiro ar Da montanha E respondo-te Em rima, Devolvo Inspiração Que da arte É a vida, Um poema Ou canção Que não é De despedida, Mas de feliz Liberdade Da palavra Proibida.

“A Neve a a Primavera”. Detalhe
A LETRA DO POEMA DE SALVATORE DI GIACOMO:
"Marzo: nu poco chiove e n’ato ppoco stracqua: torna a chiovere, schiove, ride ’o sole cu ll’acqua. Mo nu cielo celeste, mo n’aria cupa e nera: mo d’ ’o vierno ’e tempeste, mo n’aria ’e primmavera. N’auciello freddigliuso aspetta ch’esce ’o sole: ncopp’ ’o tturreno nfuso suspireno ’e vviole... Catarì!… Che buo’cchiù? Ntienneme, core mio! Marzo, tu ’o ssaie, si’ tu, e st’auciello songo io". "Março: um pouco chove e logo deixa de chover: volta a chover, pára, ri o sol com a água. Ora um céu celeste, ora um ar escuro e negro: ora tempestades d’inverno, ora um ar de primavera. Um pássaro com frio Espera que espreite o sol: na terra ensopada suspiram as violetas... Catarina! Que queres mais? Entende-me, meu amor! Março, sabes, és tu, e aquele pássaro sou eu". NOTA - "Marzo" (ou "Catarì").
“Arietta” (1898) do poeta napolitano Salvatore di Giacomo, 1860-1934, em dialecto napolitano. Ouça MILVA em: https://www.youtube.com/watch?v=lMKDSnJEadc).
POEMA PARA UM ROSTO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “O Retrato”.
Original de minha autoria
Abril de 2022

“O Retrato”. Jas. 04-2022
POEMA – “POEMA PARA UM ROSTO”
ENCONTREI-TE,
Por acaso,
Na rua
Da galeria.
Foi Athena,
Foi destino?
.............
Há muito que
Não te via.
E VI-TE
Em contraluz,
O sol batia
De frente
Como tudo
O que seduz
E que me turba
A mente.
EU JÁ NEM SEI
O teu nome
Nem se a deusa
Te mandou,
Mas as cores
Desse teu rosto
Brilham,
Brilham
Como a luz
Que um dia
Me beijou
Num incerto
Mês de Agosto.
RETOQUEI-TE
Com as cores
Com que me
Pinto,
Dei-te mais vida,
Foste musa
Do meu cantar,
Levei-te comigo
À montanha,
Fiz do teu
Corpo
Encanto do meu
Olhar.
E CANTO-TE
Nos meus poemas,
Teu olhar
É como o meu,
Tu falas-me com
O teu rosto,
Eu respondo-te
Com arte,
A que o destino
Me deu.
ÉS GIESTA
Da montanha,
Arbusto
Do meu jardim,
Olho-te
Neste lugar
Onde cresceste
Pra mim.
ÉS ÂNCORA
Da minha arte,
Nunca te hei-de
Perder,
Se eu parto
Para o monte
Volto ao
Anoitecer,
Depois durmo
Ao relento
Sob teu olhar
Demorado,
Porta aberta
Prà montanha,
Sonhar-te, ali,
A meu lado...
..........
E logo que
Amanhece
É sonho que
Me acompanha,
É sentir-me
Iluminado,
Rio de luz
Que me banha.
A MINHA MUSA
É retrato
Que encontrei
Na galeria,
Olho para ele
Como poeta
Que sou,
Cantá-lo
Dá-me alegria,
É poética
Magia,
É vida o que
Lhe dou.

“O Retrato”. Detalhe
CANTA, POETA, CANTA
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: "Perfil de um Poeta"
Originais de minha autoria
Março de 2022

“Perfil de um Poeta”. Jas. 03-2022
POEMA – “CANTA, POETA, CANTA”
“Ora al nuovo sole si affidano i nuovi germogli” Virgílio.
CANTA, POETA, CANTA Até que a musa Te ouça, Nem que a palavra Te doa E a alma Estremeça. CANTA, POETA, CANTA Que o teu poema Tem dor Que te baste, Mas tem cor Que alumia E tem sabor A cerejas, Que as dá A Primavera. SE NO CANTAR Tu quiseres Atingir o infinito, Agarra No teu pincel, Salta pra cima Dum risco, Dá-te asas De azul E voa Nesse teu céu Até que a musa Te veja, Te pinte Numa cereja E murmure O teu nome Quando se tinge De cor. CANTA, POETA, CANTA Que o teu cantar Te embala Como água Cristalina Que corre Lesta No rio Que nasce Dentro de ti. CANTA, POETA, CANTA Que contigo Cantarei A alvorada Do dia, Se chorares, Eu chorarei, Por não sentir Alegria, Se sorrires Eu pintarei As cores Do teu sorriso E para ti Dançarei Uma valsa De Strauss Às portas Do Paraíso. CANTA, POETA, CANTA, Para ti E para o mundo Que o teu cantar Enobrece Quem ouvir A tua prece, Quem sentir O teu lamento Que, de ser Já tão profundo, Não o leva Nem o vento Pois ele em ti Entardece. E SE O VENTO O levar Vai procurá-la A ela, Voa lento Sobre a rua E pousa No parapeito Da sua bela Janela. CANTA, POETA, CANTA, Que um dia Há-de ouvir, Deixa que o Tempo passe E a razão Se esclareça, Confia, pois, No porvir Sem que teu estro Esmoreça. NÃO CHORES, POETA, Não, Neste teu Entardecer, Tens arte Na tua alma, Inspiração a crescer E mesmo que ela Não ouça É um modo De a ter.
A FESTA DA MÚSICA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Doce Ciúme”. Original de minha autoria. Março de 2022.

“Doce Ciúme”. Jas. 03.2022
POEMA – A FESTA DA MÚSICA
CERTOS DIAS, Quando a música Me atrai (Irresistível Pulsão), Entro em alvoroço E até sinto Alguma dor, Doce ciúme De amor, Quase rebelião Pelo silêncio Que faz eco A meus versos Diletantes, A solitária Paixão. DOCE CIÚME Do turbilhão Interior Que seu ritmo Produz, Dos arrepios Que faz E do veludo De alma Que a música Me traz. CANTA-SE Do lado de lá, Sinto Calor intenso, Ovações, Danças Extenuantes E expressivos Sinais, Corpos Em êxtase De tão intenso Prazer Em festivos Rituais. É FESTA, SIM, E é baile, É um tremor Corporal Que me liberta A alma Deste mundo Tão banal. É LIBERDADE Em forma de Emoção, É rito, É vibração, Ondas Que me projectam No ar E transportam O meu corpo Para, feliz, Levitar. É LIBAÇÃO, Bebida Contagiante, Bebedeira Sensual, É, como apelo De amante, Um poema Corporal. MAS EU SÓ SINTO Silêncio Do lado de cá Dos meus versos, É ausência Permanente E sem recurso, Melodia Do silêncio Em poético Discurso. INTERPELO Não sei quem No poético Instante, Sabendo que Há alguém Que não ouve E que não sente Este canto Diletante. DOU COR Às minhas palavras E ponho-me Sempre a pintar Pra que as ouçam Com alma, Mas também Com o olhar. QUAL QUÊ? (Penso eu) É só fantasia A fervilhar De emoção No silêncio De um recanto Como se fosse Oração Que redime De uma vida Devorada Com paixão. SINTO CIÚME, Quase inveja, De uma festa Onde o corpo Vibra, Onde a palavra É som Que me convida A dançar E segreda Ao ouvido O que ele Traga consigo Para me arrebatar. MAS SOFRO De melancolia Do lado de cá Dos meus versos, Vejo danças, Vejo corpos Aquecidos Ao som De uma guitarra, Ouço o timbre De uma voz Que me prende Os sentidos, Ouço ecos lá Ao longe, Na memória Já perdidos... .............. E recolho-me Em solidão Para compor Com palavras Meu silêncio Pontuado Nos versos De uma canção.

“Doce Ciúme”. Detalhe
O JARDIM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Chakra”. Original de minha autoria. Março de 2022.

“Chakra”. Jas. 03-2022
POEMA – “O JARDIM”
NAQUELE DIA EU vi um estranho Enlace No jardim Onde nasci Para a arte Com que a deusa Me prendou, Uma dádiva Dos céus Ou o brilho De uma estrela Que sempre Me ilumina Nesse mágico Lugar Onde a vocação Despertou. NESSE JARDIM De mil azáleas E do meu vasto Jasmim, De perfumes E matizes Que tomam conta De mim Há cores Que brilham Em fundo De seda pura, Luxuriante Pintura e Exótica magia, Desafio Permanente A poética Ousadia. VERDE, Azul, Vermelho, Amarelo Ou lilás São cores vivas Que me vestem O olhar, Nelas vejo O arco-íris Que nasce Dentro de mim Quando me Ponho a sonhar. É ARCO-ÍRIS, É sim, O que teço Com a alma No Encantado Jardim, É quadro Que pinto Com cores E com palavras, É luz intensa, Embriaguez, Alquimia, Acre perfume De jasmim, Minha secreta Magia. PERCO-ME Nas sete cores, Vou atrás delas, Imparável Correria, Vertigem De voo livre No céu, Redentora Catarsia De quem sempre Se perdeu. SÃO CORES, São riscos, São traços, Palavras Que me procuram, É tudo E é mais Do que a luz Do meu olhar Nesta arte Que me leva Como alta Vaga do mar. REGRESSO SEMPRE Ao Jardim Onde cresci, Levo flores Impressas No corpo, São cores São quentes, São vivas, Até ardentes Em demasia, E nelas Eu me diluo Levado pelo poder Desta minha Fantasia.

“Chakra”. Detalhe
O REGRESSO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Talismã”. Original de minha autoria. Março de 2022.

“Talismã”. Jas. 03-2022
POEMA – “O REGRESSO”
DISSESTE-ME Que partias, Que o coração Em tormento Já te pulava No peito... ............. E que ficar Não podias... “TENHO DE PARTIR, Não me sinto Muito bem, É distante daqui (Bem sei), Como as memórias D’infância E o olhar De minha Mãe." “MAS OUÇO-AS
Lá longe,
Ouço bem As amigas De outrora Que fogem Das bombas Na hora, Mas lembram Hordas antigas Nas ruas do Meu país.” DISSESTE-ME,SIM, Que andavam Por lá Perdidas Na tragédia Consumada, Na procura Impotente Dessa paz Que foi Roubada. “EU GOSTO Das praias De areia branca, Gosto das praças E das ruas Do teu país, Mas é mais forte A raiz, O apelo Que o vento Me traz Do sagrado Chão natal, Poderoso Chamamento, Alvorada Marcial.” “GOSTO DA PRAIA, Oh, se gosto (Acredita), Mas já não a posso Sentir Porque me pula De dor O meu pobre Coração E me leva De regresso Às origens, Ao sagrado Do meu chão.” “JÁ NEM ADORMEÇO Ao som Das meigas ondas Do mar, O cheiro a maresia É vaga Recordação E a paz Em que vivia Eu já não
A posso ter Porque é forte O sobressalto Logo ao Amanhecer.” “ENEVOA-SE A memória, Há muito ruído No ar, Crepitam armas No solo Da minha infância, No abrigo Do meu lar.” “VOU-ME EMBORA, Vou lutar Para o meu solo Materno E se um dia, Caída No chão Sagrado E eterno, Eu não voltar Só te peço Que me cantes Em voz alta, Com alegria (A que agora
Me falta), Num poema Desenhado À beira Do nosso mar.” VAI SIM, Minha Amiga, A paz Há-de voltar E, numa tarde De verão Em tempo de Preia-mar, Sentar-me-ei Contigo n’areia Pra esse poema Cantar.

“Talismã”. Detalhe
VEM COMIGO…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Exaltação”. Original de minha autoria sobre foto (de autor
anónimo) em contraluz. (Quadro da minha colecção privada). Fevereiro de 2022.

“Exaltação”. Jas. 02-2022
POEMA – “VEM COMIGO…”
EU CANTO E pinto O meu destino, Sonhos velados, Minha vida, Meu desatino... PERDI A CHAVE Do meu futuro E só me resta A despedida, Por isso canto Com as aves, Voo mais longe E com mais cor Porque no céu Há mais azul E em meus sonhos Tens mais sabor. HÁ UM SEGREDO Não revelado, Dizê-lo Eu não podia Porque cantá-lo Era pecado E certamente Mentiria. E NÃO O DISSE, Mas eu pequei Com murmúrio Apaixonado Em poemas Inocentes Que levaram O meu canto A ouvidos Impudentes Que estão Por todo o lado. POR ISSO VOO Sempre mais longe Trepo nas cores Pra lá chegar, O céu azul Dá-me alento Para mais alto Voar E meus segredos Pôr a reparo Dos vigilantes Do meu cantar. LEVO PALAVRAS Comigo, Procuro inspiração. Levo cor, O meu abrigo, Levo musas E tudo o mais E quando parto Lá pra cima É sempre festa Neste meu cais. EU CANTO E PINTO Por tudo isto, Pra resgatar O meu pecado De exaltar Esse teu corpo, Pra projectar Em aguarela Esse enleio Do meu olhar E por te ver Na nossa rua Debruçado Na janela Com vontade De te pintar. POR ISSO EU CANTO, Por isso voo, Por isso subo Lá para o alto, Já não os vejo, Já não os ouço, E já não vivo Em sobressalto. MAS VEM COMIGO (Eu dou-te asas), No infinito Do céu azul Voamos Ao mesmo tempo E o nosso rumo Será o Sul. VÁ, VEM COMIGO, Se tu vieres Voaremos No nosso céu, Seremos livres Lá bem no alto E nossa arte Será perfeita Com tudo aquilo Que Deus nos deu.
FUGAZ ENCONTRO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Travessia”
Original de minha autoria
Fevereiro de 2022

“Travessia”. Jas. 02-2022
POEMA – “FUGAZ ENCONTRO”
ÀS VEZES
Passas
Por mim
Como vento
Intangível,
Sonho
Espectral,
Impossível,
E voas
Por entre os dedos
Dessas mãos
Com que te pintas...
VOAS, SIM.
Mas eu não sei
Se vais
Para o pontão
Deste cais
Donde sempre
Nós partimos
Para viagens
Fatais
À procura
D’infinito.
SOPRA-TE
O vento
Na alma?
Desenhas
Com ele
O teu rosto?
Ah, pareces
Triste demais
E é disso
Que eu não gosto.
NA RUA
Do desencontro
Encontrei-te
Apressada...
Fiquei feliz
De te ver,
Embora por um
Instante,
Um pouco mais
Do que nada.
FIZESTE-ME
Renascer
De vaga
Melancolia...
.......
Imagina
O que seria
Se te visse
Duas horas
Ou te tivesse
Um dia.
AH, QUE DOCE
Sensação
Sentir saudades
De ti...
..........
Prevendo
Que não virias
Mesmo assim
Eu não parti
Tão grande
Era o desejo
De te encontrar
Por ali...
E FALEI-TE
Da minha janela,
Olhei, fascinado,
Pra ti:
“Minh’amiga
Como és bela...”
...........
Nem sabes
O que senti...
MAS, NUM SÚBITO
Ímpeto,
Disse pra mim:
“Eu não canto
Esta cantiga
De te ver
Tão pouco assim.
Vou-me embora,
Pois se te
Encontro
Logo me foges,
Se te quero,
Não te procuro...
.........
Eu vivo
Num intervalo
Que mais me parece
Um muro”.
AH, SIM,
Entre ti
E os teus riscos
Eu estou
Entrincheirado,
Caminho só,
Em poemas,
Nunca passo
Deste lado.
O TERRAÇO
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Terraço” Original de minha autoria Fevereiro de 2022

“Terraço”. Jas. 02-2022
POEMA – “O TERRAÇO”
É DAQUI, Deste terraço, Ó deusa, Que te alcanço E te vejo Com a forma Intangível Do desejo. SILÊNCIO, Nuvens, Um lago, Uma luz Que rompe O escuro Da partida E acende O dourado, Elementos Que compõem O teu muro, Meu pecado. É DAQUI Que eu te sonho, Uma fresta No teu céu, Um olhar Que não tem fim... ........ É daqui Que eu te quero Sem limites No poema, Quando Com palavras Te olho E te vejo Como se fosses O fruto Daquilo que eu Mais desejo. É DAQUI Que eu não saio Quando parto Para longe, Pois é aqui Que te tenho Nas raízes Do que sou. ERA AQUI Que eu te queria Se aqui não te Tivesse, Ver-te Ao perto Sem te tocar, Beijar-te Com os olhos Numa noite De luar. VÊS, Meu amor, Como é simples Gostar de ti? A mim basta, Neste encanto, Ficar-me Docemente Aninhado Num recanto... .............. Reinventar-te Por aqui.

“Terraço”. Detalhe
TEU ROSTO ARCO-ÍRIS
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Rubor”
Original de minha autoria
Fevereiro de 2022

“Rubor”. Jas. 02-2022
POEMA – “TEU ROSTO ARCO-ÍRIS”
O TEU ROSTO
É arco-íris,
Dança, dança
Nos meus olhos,
Fascinados
Pelos teus,
É luz intensa
Que brilha
E domina
Como um deus.
É FULGOR,
É raio
Que me fulmina,
Com essas cores
Tão intensas
O meu rosto
Se acende
E de ti
Se ilumina.
HÁ CHEIRO
A maresia,
Sinto sal
Na tua boca
Que me sabe
A poesia
E, quando a digo
Em voz rouca
De tão frio
Ser o mar,
É tão quente
O meu desejo
Que eu quero
É navegar
Para ver
Se lá te vejo.
TUA BOCA
É mar profundo,
Tão azul
Como o infinito
Do céu
Onde gosto
De voar,
Se te beijo
Vou ao fundo,
Mas respiro
Lá bem dentro
Nas profundezas
Do mar.
COM TEU ROSTO
Arco-íris
Brilhas ao sol
Logo ao
Amanhecer,
Mas sempre
Caio em tristeza
Por tão pouco
Te rever.
A TRISTEZA
É saudade
Desse encontro
Tão fugaz,
Meus olhos
Perdem-se
Em ti,
Mas em ti
Encontram paz.
O TEU ROSTO
É arco-íris,
Se te vejo
É alegria sem fim,
Não vás, por isso,
Embora,
Que eu fico triste,
Na hora...
................
Espera um pouco
Por mim.

“Rubor”. Detalhe
DESPEDIDA
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração - “Rosas”
Original de minha autoria
Janeiro de 2022

“Rosas”. Jas. 01-2022
POEMA – “DESPEDIDA”
NUM CERTO DIA
(Banal)
Acordei
De um sonho
E lembrei-me
Logo de ti.
Só então eu
Pude ver
(Como no sonho)
Que o teu rosto
Perdeu brilho
E que já
Nem me sorri.
ESSE TEMPO
É passado
Que o tempo
Resolveu.
Aquele que agora
Te evoca
É outro,
Já não sou eu.
NÃO QUERO
Ver-te
Nem ouvir
A tua voz,
Entre mim
E o teu rosto
Já não encontro
Um nós.
AGORA
(E mesmo em sonho),
Teu perfil
Não me fascina
E o olhar
Já não me brilha,
Tudo em ti
Sabe a passado
E nada me diz
Do futuro,
Vejo tempo
Sem raízes
(É destino,
O meu fado?)
No qual já não
Me depuro.
VÊS COMO A VIDA
Vai direita
Por linhas tortas
Seguindo?
Vês
Como o canto
Fortalece?
Saio de ti
Lentamente
Para que o tempo
Resolva
O que num sonho
Acontece.
FICAM TÃO-SÓ
Alguns versos
A marcar
O meu passado,
Registos
Da caminhada
Que num sonho
Fui fazendo
Sem nunca te ter
A meu lado.
MAS O TEMPO
É escultor,
Lapida
As nossas vidas
Deixando apenas
Sinais
Pra que não fiquem
Perdidas.
AH, ESQUEÇO-TE,
Mas não te perco,
Perdi-te,
Mas não t’esqueço,
Lembro-te,
Mas não te quero,
Revejo-te,
Não reconheço,
É mundo
Que já partiu,
Não se pode lá voltar
A não ser com
Um poema
Para com arte
O fechar.

“Rosas”. Detalhe
DUAS HORAS
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Jardim”
Original de minha autoria
Janeiro de 2022

“Jardim”. Jas. 01-2022
POEMA – “DUAS HORAS”
OLHEI-TE NOS OLHOS,
Eram negros,
Intensos
E tão profundos...
Toquei teus cabelos
Com o olhar,
Caminhei a teu lado
Nesse jardim,
Senti o teu corpo
Bem perto de mim
A respirar
O acre perfume
Dessa ramagem
Do vasto jasmim.
INEBRIOU-ME
Esse intenso
Aroma
Do belo jasmim
E eu enredei-te
Num tão doce enleio
Que me parecia
Nunca mais ter fim.
BRILHARAM
Pra mim
Tão docemente
Duas horas inteiras
Esses teus olhos.
E neles me perdi.
ESTIVE NO CÉU
Ao lado de deus
E lá vi dois sóis
Que não eram dele
(Uma luz intensa)
Porque eram teus.
MAS O TEMPO
Correu
Depressa
Demais.
E é sempre assim.
Todos os dias
Se tornam iguais
Quando tu partes
E, em nostalgia,
Eu fico no cais.
VOLTEI A OLHAR-TE
Três horas seguidas,
Parecia verdade
Mas era ilusão
Porque tu partiste
Deixando-me só...
...............
E o que sobrou
Foi a solidão.
SUBIU A TRISTEZA
A saudade irrompeu
Colou-se-me
Ao rosto...
.............
E como doeu!
SE EU NÃO TE VEJO
Sinto
Falta de ti,
Mas se te encontro
Logo te perco
Porque o tempo
Voa
E logo te leva
Pra longe dali.
TER-TE DEMAIS
Aumenta a saudade
E quando te vais
São negras
As nuvens
Da nossa cidade.
AINDA QUE TRISTE
Sinto-me feliz
E com estas mãos
Te vou escrevendo
O que quero dizer,
Mas este meu tempo
Volta a correr
E cresce a vontade
De logo te ver
Mesmo que saiba
Que é nesse instante
Que te vou perder.
EU TENHO SAUDADES,
Saudades de ti,
Desse virar
Da nossa esquina
Na rua de sempre
Onde eu te vi,
Da nossa janela
Donde espreitámos
O que do mundo
Sobrará para nós.
EU JÁ NEM SEI
Que hei-de fazer,
Ter-te demais
É puro prazer,
Mas quando te vais
Eu fico tão triste
Que o brilho do sol
Mais me parece
Um anoitecer.
Olhei-te nos olhos,
Era já saudade
Da tua partida,
Gravei-te na alma
Pra melhor te ter
Porque já sabia
Que não regressavas
A esse lugar
Onde eu te vi
E me encantou
O brilho intenso
Desse teu olhar
Onde me perdi.
A JANELA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Janela”.
Original de minha autoria.
Janeiro de 2022.

“A Janela”. Jas. 01-2022
POEMA – “A JANELA”
NOS VIDROS
Desta janela
Se espelha
Todo o meu ser,
É neles que
Eu te revejo
Quando deixo
De te ver.
DA JANELA
Vejo o mundo
E o mundo
Vê a janela,
Debruçada
No parapeito
Olho o céu
E olho a rua
Para ver
Se passas nela.
NOS VIDROS
Desta janela
Há reflexos
Da vida,
Olho pra eles
Pensativa
Mas não me sinto
Perdida
Se puder
Falar contigo
Quando estás
De partida.
NESTES VIDROS
Da janela
Se espelha
Todo o teu ser
Quando passas
Nesta rua
E me sinto
Estremecer
Da falta que tu
Me fazes
Por ainda
Não te ter.
SE TE AFASTAS
Da janela
E vislumbro
Silhueta
Lá ao fundo,
Longe dela,
Eu sofro
Por te perder...
........
Na rua
E também nela.
VOA PRA LONGE
Essa tua
Silhueta
Que s’esgueira
Na esquina
Como se fosse
Cometa
A passar
Na minha rua,
Mas também eu
Me diluo
E me sinto
Um pouco nua
Na imagem
Transparente
Dos vidros
Desta janela
Como se fosse
Já tua.
FOSTE EMBORA
Do meu mundo
Onde eu
Te queria ter
Ao alcance
De um olhar
Para nunca
Te perder.
MAS NÃO DEIXEI
A janela,
Esperei sempre
Por ti,
Hora-a-hora,
Dia-a-dia,
Até que, por fim,
Eu te vi.
VI-TE
Da minha janela,
Desenhei-te
Com alma
E olhar
De devoção,
Pintei-te todo
A vermelho
Da cor da minha
Paixão...
...............
Mas mesmo assim
Tu partiste
Sem me dar
A tua mão.
DA JANELA
Sempre te vejo
Mesmo ausente
Da nossa rua,
Nos vidros
Fica imagem,
Perfeita
Como a tua,
Mas é sempre
Transparente
E não lhe posso
Tocar,
Guardo-a, então,
Com ternura
Em meu inocente
Olhar.
E GOSTO
Da Primavera,
Confundir-te
Com aromas
Que me chegam
À janela,
Anunciando
A chegada
Do melhor
Que sinto nela.
A JANELA
Não tem cortinas
Pra te ver
Na nossa rua,
Ver-te chegar
E partir,
Ficando um pouco
Mais nua,
Querer que
Me vejas
Assim
Tão brilhante
Como a Lua.
AH, QUANTAS VEZES
Eu desci
Da janela
Para a rua,
Olhava de baixo
Pra cima,
Mas eu nela
Não me via,
E, assim,
Não era tua.
O MEU MUNDO
É a janela,
O da rua
É o teu,
É dela que
Eu te vejo,
Na rua
Já não sou eu.
DA JANELA
Do meu mundo
Olho pra ti
Com calor,
Sem ela
Eu não te sinto,
Fica um muro,
Meu amor.
VESTIDA DE CORES
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Campainhas do Paraíso”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2022.

“Campainhas do Paraíso”. Jas. 01-2022
POEMA – “VESTIDA DE CORES”
VESTES CORES Garridas No palco Desse teu mundo Em danças De luz Como quem grita A beleza Que leva Dentro de si... ......... E seduz. COBRES-TE DE TI, Agasalhas-te A alma, Repetes,
Feliz, Em mil poses O teu rosto Em perfil... .......... E sorris. MAS QUANDO Regressas A ti É como o fim De um sonho Que levou Ao paraíso, A queda De um anjo Na rotina Do viver Convertida... ............. Em sorriso. MAS EU SIGO-TE, Vou E voo Atrás de ti Com poemas Sempre feridos Em cor viva, Por aí, Com versos Em voz Rouca De tanto Eu te dizer, Murmúrios De quem te sente, Palavras De não te ter. NÃO IMPORTA Que a fuga Para a boca De cena À procura De autor Que te cante e Que te conte Ao mundo Seja fuga De ti própria Para a luz Da ribalta, Rituais De celebração Onde a cor Nunca te falta.
EU GOSTO De te ver assim, Luminosa, Oficiante Desse rito Pagão Que celebra A arte E a liberdade Como pregão Nas ruas De uma cidade. MAS EU CONTINUO Por aqui, Na solidão Sideral da Montanha A olhar O horizonte Sem fim, Ao crepúsculo, Pagando Com poemas E rapsódias de cor O meu tributo Aos rituais Da redenção Pela arte
E por amor. AH, COMO GOSTARIA De te rever Na praia Da meia-lua, O nosso cais, No baile Da meia-noite, O brilho Da lua-cheia A acender-te A alma... .................. Mas já é tarde Demais!
PERFIL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Silhueta” Original de minha autoria. Janeiro de 2022.

“Silhueta”. Jas. 01-2022
POEMA – “PERFIL”
AS LINHAS Do teu perfil Tão singelas Ao olhar Lembram-me A tua voz Quando te ouvia Falar. POETA, Logo pintava Essa tua silhueta Com um secreto Pincel, Os traços eram Palavras Desenhadas A caneta Na brancura Do papel. PALAVRAS Leva-as O vento (Era o que eu Te dizia), Mas se ditas Sobre ti Por um poeta Gentil (E eu nunca te Mentia) Ficam gravadas Na alma Quando pinta O teu perfil. CRESCESTE Como camélia, Flor branca Nas folhagens Do Jardim, E sempre que Tu me olhas Iluminas De alvura, Brilho intenso, Cintilante Dessa imagem Que perdura Mesmo quando
Estás distante. PORQUE VIVES No Jardim Em ciclo De natureza Regressas Em cada ano Para afastar A tristeza. DEPOIS PARTES, Mas fica-me O teu perfil Que me fala Ao olhar, A ausência Já não pesa E as saudades Esmorecem Porque tenho A certeza Que um dia Vais voltar.
PARTIR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Melancolia”. Original de minha autoria. Dezembro de 2021.

“Melancolia”. Jas. 12-2021
POEMA – “PARTIR”
ESTOU SEMPRE A partir Do mesmo lugar Onde nunca estou, Por isso não sei O que te dizer Ou então segrede Para onde vou... JÁ NÃO SEI Onde estou Nem quero Partir, Não tenho Lugar De onde sair Porque nem Cheguei A ver-te Entrar Onde já Não vou. TU FOSTE Pra onde, Que eu já Não te vejo? Tenho os olhos Baços de tanto Chorar, Gastou-se O meu rosto De tanto Te olhar, Mas tu não Me vês. Sempre desencontro Na rua perdida... ............ E não somos Três! NÃO HÁ TEMPO E não há lugar Para onde Eu possa ir Porque já nem sei Como cá ficar Ou como partir. TU FOSTE Pra onde? Não sei Onde estás. Só de te sonhar Eu serei capaz, Mas perdi Teu rosto, Só há neblina Neste sonho meu, É fumo espesso Pra cá da cortina Deste teatro Que a vida me deu... ................ E esta tristeza A que me destina. NEM ASSIM POSSO Sonhar-te Porque já perdi A intensa cor Desse teu olhar Por onde Entravam As minhas Palavras Para te cantar. NÃO SEI Onde estás Nem posso Chamar, Dizer o teu nome Com delicadeza Pra te soletrar. PARTISTE DE VEZ Pra outro lugar Que não sei Dizer Nem sei Desenhar, Fogem-me As palavras, Tenteia-me a rima, Procuro cantar Mas já não consigo, Perdi o teu rasto E o teu abrigo. NEM SEI Se me ouves Lá onde Te encontras Em busca Dos sonhos Que te desenhaste Em tinta-da-china... .................. Onde te encontrei Para te cantar Com a melhor rima. MAS TU FOSTE EMBORA E a minha alma Logo entristeceu E por isso chora, Mas esse que tu Já perdeste Serei sempre eu. TU FOSTE PRA ONDE, Mulher dos meus Sonhos? Fugiste de mim , Disseste que sim, Foste na maré Revolta nas ondas Que dão vida Ao mar Onde te espraias Cada amanhecer Sem nunca parar Em todos os dias Desse teu viver. TU FOSTE PRA ONDE Na hora sombria Desse entardecer?
OLHAR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Teu Olhar”. Original de minha autoria para este poema. Dezembro de 2021.

“Teu Olhar”. Jas. 12-2021
POEMA: “OLHAR”
QUE ME DIZES, Quando olhas De través E procuras Ver em mim O que tu lês Nas marés? NO SILÊNCIO Do meu canto, Sinto poder No teu olhar, Fascinam-me Esses teus olhos Porque me sabem A mar. NÃO É AZUL Sua cor, Mas de sol Que ilumina, Olhas pra mim, Meu amor, Quando navego À bolina. ÉS SEREIA No meu mar, Vou-te ouvindo Em sinfonia De cor Com música Da minha Pauta Mas que tem O teu sabor. QUE PROCURAM Os teus olhos? Ler nos meus Desejo De navegar? Mas eu vivo Neste cais De partidas E chegadas Para contigo Embarcar... TEUS OLHOS Verdes Fascinam, A tua boca Seduz... .......... E eu, Pobre Poeta de Outono, Na mais pura Contraluz Que me acende O olhar E a teu barco Me conduz. OLHAS-ME, Então, Inquieta, Ergo-me À tua frente, É fascínio O que sinto E por isso Eu te digo Que o olhar Nunca me mente Seja de bênção Ou castigo. QUE ME DIZEM Os teus olhos?

“Teu Olhar”. Detalhe
VER
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Colibri”.
Original de minha autoria.
Dezembro de 2021.

“O Colibri”. Jas. 12-2021
POEMA – “VER”
QUANDO TE VEJO,
Vejo-te a cores,
Sinto aromas,
Provo sabores
Na fantasia
E vejo traços
E vejo riscos
E tantas fugas
Prò infinito
Nos sete céus
Dessa magia
E eu respondo
Sobre o que
Sinto
Se me perguntas...
...........
- Epifania!
AO LONGE,
O horizonte
Desses teus riscos,
Aqui ao perto
Uma ponte
Desenhada
Que me leva
Ao pé de ti
E se o rio
Transbordar
Sei que te alcanço
Voando
Num colibri.
QUANDO TE VEJO,
Eu vejo ruas
E vejo praças
E catedrais,
Vejo desenhos
Na tua mão,
Vejo vitrais
E vejo sóis
Em refracção.
VEJO O TEU ROSTO,
Vejo-te a ti,
Sentir-te perto
Era o desejo
Nesses poemas
Que escrevi,
Ver o teu céu
Azul profundo
Pra onde voa
O colibri.
VEJO MONTANHAS
E vejo cores,
Eu vejo casas
E vejo amores
Por esses vales
E esses rios
Por onde corre
O fio d’água
Com que regas
O teu jardim
Pra nele nascerem
Os meus poemas
E ter-te sempre
Perto de mim.
SINTO NO AR
O teu perfume,
Cabelos negros
A esvoaçar
E sinto o vento
Nesse teu rosto
E altas ondas
No nosso mar
Mesmo que venhas
Só ao sol-posto
Com os teus barcos
A navegar
Nessas águas
Cristalinas
Onde se perde
O meu olhar.
EU VEJO TELAS,
Os teus pincéis,
Doce pintora,
Vejo a tinta
Na tua mão,
Vejo-te a ti
Tão concentrada
Nesses desenhos
Em construção
A pintar
Um colibri.
VEJO QUADROS
E vejo letras,
Nessa pintura
Vejo sinais
Para eu ler,
Vejo-te a ti
Neste pontão
Do nosso cais
E sou feliz
De assim te ver.
Isso me basta.
Não quero mais.
EU VEJO TUDO,
Eu vejo,
Mas faz-me falta
O teu sorriso.
Nada mais quero
Como desejo
Pois é só disso
Que eu preciso.
LUZ
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Arbusto”. Original de minha autoria. Dezembro de 2021.

“O Arbusto”. Jas. 12-2021
POEMA – “LUZ”
LUZ DO CÉU, Tanta luz Descia por uma Fresta No coração Do arbusto, Raio Na escuridão Que caíra No poeta Como noite No jardim. LUZ, MAIS LUZ, Era o que sempre Pedia, Era luz que lhe Faltava Quando ela Esmorecia No seu olhar Já cansado. MAS ELA CHEGOU Sob forma de poema E desenho Esboçado, Cores quentes e Traços Ao infinito, Palavras Murmurejadas, Num movimento Sem fim Até a luz
Se apagar No arbusto Do jardim. LUZ, MAIS LUZ, Insistia o poeta Ao entardecer De um dia Quando a luz Esmoreceu E, com ela, Também ele já Se perdia. ERA VIDA Que findava, Tempo De despedida Que cedo demais Lhe chegava E obrigava À partida... E A LUZ Reavivou Nas cores E nas palavras Que lhe saíam Do peito E do fundo Da memória Pra recriar A preceito Tudo aquilo Que sobrou De uma paixão Sem glória. SÃO POEMAS Que lhe canta, São cores, São riscos Com que desenha A alma, São sons Dessas palavras Com que Escuta o seu Silêncio, É pauta de melodia Que da tristeza O resgata Como secreta Alquimia. É ASSIM QUE A luz Regressa, O arbusto Ilumina E sua alma Tempera Como harpa Em surdina. VOLTA, POIS, Ao dia em que Tudo começou, Tropeça na Luz intensa, Alumia a sua Alma E põe um fim À tristeza Dessa perda Capital, Descobrindo Nos poemas Remédio Para o seu mal.
O SILÊNCIO E A MEMÓRIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Voo da Rosa”. Original de minha autoria. Novembro de 2021.

“O Voo da Rosa”. Jas. 11-2021
"Para que tú me oigas / mis palabras / se adelgazan a veces /como las huellas de las gaviotas en las playas" Pablo Neruda
POEMA – “O SILÊNCIO E A MEMÓRIA”
NO TEU SILÊNCIO Profundo Entrevejo-te Com palavras Sufocadas, A preto E branco, Com a linguagem Do tempo Que passa Inexorável E erode A suave geometria
Dos traços Com que nos fomos Desenhando Nos dias De festa. E, AGORA, SOBREVIVO, Oblíquo, Neste intervalo Sofrido De onde Vislumbro A tua silhueta Esculpida Pelo crepúsculo De um fugaz Encontro De despedida. “VOU-ME EMBORA Pra Pasárgada”, Diria o saudoso Poeta, “Porque aqui Anoiteceu”. MAS, NÃO, Desta vez Eu não parto, Porque na memória Dos teus Mil rostos Posso ver-te a cores, Aquelas com que Te evadias Em cúmplice Caminhada À procura Do belo... .......... E em troca De nada. NESTA MEMÓRIA Acaricio-te, Em epifania, Com as mãos Invisíveis Da alma E o azul Do céu Que ainda Me sobra Como manto Transparente Da minha Fantasia. PRESSINTO-TE, Adivinho-te Em riscos que Deslizam Dos teus dedos, Dádivas Que me chegam Como brisa Do amanhecer Na praia Da meia-lua. E ESTREMEÇO Quando Te reencontro Nestas veredas Estreitas Da fantasia Com que Te vou reinventando... .............. Com insuspeita Teimosia. VISTO-ME, ENTÃO, De vermelho, Por dentro, A rigor, Solene. E pinto-me A alma Ao sabor do vento, Cubro de rosas Vermelhas O chão etéreo Por onde caminho Suavemente Com o olhar, Dou mais sabor À liberdade, Voando com Uma rosa Pra te poder Alcançar. AH, SIM, Duplico-me Neste intervalo Onde te sonho E te canto Com palavras Que te chegam Desfiguradas Pelo siroco que, No trajecto, Sopra forte Nas ásperas areias Deste deserto Que habitamos. SIM, MAS SE A BRISA Do mar Ainda me acaricia O rosto No amanhecer De cada poema Que me importam A areia
E o deserto?
RENÚNCIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Rua”. Original de minha autoria. Novembro de 2021.

“A Rua”. Jas. 11-2021
POEMA – “RENÚNCIA”
RENUNCIEI Para nunca A perder, Mas nesta Longa privação Vai declinando No tempo O que pra sempre Eu quis ter... VÊS, BERNARDO, Que destino, Que desassossego, O meu? Este que agora Te fala É outro, Já não sou eu. QUE DESENCONTRO Foi esse
Na rua
Da minha vida Desde o dia Em que a vi? Dei-lhe errados Sinais Nos momentos Cintilantes Que com ela Eu vivi? TALVEZ NEM AME Esta minha poesia Porque senti-la É como um
Doce sofrer, É um canto
De pesar
E é canto
De prazer,
É tudo Em quase nada, É melodia De fada Mesmo quando Faz doer. NO POEMA Eu até finjo, É poeta Quem o diz, E mesmo Que sinta O que digo Nunca hei-de Ser feliz. O POEMA É como a vida, Posso ouvir A sua alma Em desejos Com palavras, É um modo De a ter, É remédio Que me salva De em solidão A perder. ESTE CANTO É, pois, meu, Nem ela Mo pode Roubar E se disserem Que é seu, É verdade... ............ De enganar. O VERSO É o meu beijo Nesse rosto Que perdi, É quente Como uma chama E resiste A quem lhe diz Que o poeta Não a ama Porque desenha As palavras Com um pedaço De giz. O AMOR Em poesia É parte nobre
Do mundo, Sofrê-lo Como utopia É ir mais longe, É ir a fundo, Porque poeta Que ama Não é pobre Vagabundo,
Mas luz
Que brilha
Na chama. NÃO GOSTO Desta renúncia, Não gosto, Mas que posso Eu fazer?
Se não cantar O que sinto É certo que A vou perder.
SILÊNCIO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Som do Silêncio”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2021.

“O Som do Silêncio”. Jas. 11-2021
POEMA – “SILÊNCIO”
OUÇO O SILÊNCIO
Que me cerca,
Adentro-me
Na multidão
E ele cresce
Por dentro,
Na alma
Me cresce
E, quase, quase,
Como grito
Sufocado...
..............
Me ensurdece.
AH, É DEMAIS,
Este silêncio,
Caustica-me
A pele
Macia da
Memória,
Uma moinha
Na alma,
Silvo
De vento
Cortante
Nas janelas
Destroçadas
Da emoção.
E EU FUJO
Para o ermo,
Lá em cima,
Na montanha,
Solidão de
Eremita
Que procura
A melodia
Do nome
Silenciado,
Aquele que nunca
Ousaste
Pronunciar,
Palavra em degredo
Que só o poema
Pode resgatar.
MAS, LÁ NO ALTO
(É sempre assim),
Ouço uma harpa
Dedilhada
Por ti,
Notas musicais,
E vejo riscos
Esvoaçando
No teu azul
De Lisboa
Em direcção
Ao infinito...
VEJO-TE SAIR
Da neblina
Cintilante
Do rio
Que te veste
E sacio-me de
Palavras
Até que a inspiração
Chegue
E as componha
Em poema
Que te cante
E que te conte
Às nuvens
E ao vento
Que passa...
NOMEIO-TE
E sussurro
Uma pequena
Palavra
Que nunca ousei
Pronunciar,
Mas que ouviste
Ressoar-te
Na alma
Mil vezes,
Em mil poemas
Sufocados...
O SILÊNCIO
É a tua fala
(Bem sei),
Mas eu não sairei
Deste poema
E do ermo reparador
Até que me ouças
E soletres
Finalmente
Esse nome
Com as cores
Da tua fantasia...
FICO PRISIONEIRO
De um poema
Em construção,
Resgate
Desse nome
Perdido
Na ilha remota
Da tua memória,
Como âncora firme
Da minha própria
Salvação.
ENCONTRO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Silhueta”.
Original de minha autoria.
Novembro de 2021.

“Silhueta”. Jas. 11-2021
POEMA – “ENCONTRO”
OS ASTROS
Alinharam-se
Uma só vez,
Passados anos
E anos
De sofrida aridez
Que roubou
Tempo
À fantasia,
Luz
À vida,
Cada instante,
Lentamente,
Cada dia...
ENCONTREI-TE
Sem querer,
Astros
Ou destino,
Quero lá saber,
Se é tão bela
Esta forma
Tão singela
De te ver.
ABANDONEI-ME
Ao destino
E o acaso
Chegou.
Vi-te estranha
Em tardio
Reencontro,
Com a fita
Da memória
A rodar
Em moviola...
ERA INCERTA
A tua imagem,
O olhar
Levemente
Embaciado...
..............
Um arco-íris
Descera
Com o sol
Dessa manhã,
Dourado,
Gotículas
Brilhantes
Como lágrimas
De nostalgia
Cobriram-me
O olhar
Pra te ver
Como se fosse
Magia.
FICOU-ME
A alma cheia,
Cintilante,
A transbordar...
............
Mas o vazio
Também logo
Regressou,
Um sorriso,
Um instante,
Duas palavras
Pra enganar
O silêncio...
.........
E o ânimo
Quebrou.
VISLUMBREI-TE
A caminho do
Destino,
Raptou-me
O acaso
A incerta
Silhueta
Que não pude
Desenhar
No meu campo
De visão,
Como se fosse
Castigo
Sem ponta de
Compaixão.
E AQUI ESTOU EU
Devolvido
À solidão,
Novas saudades
De ti,
Um poema
Em gestação...
SÓ ASSIM TE SEI
Falar,
Fico incerto
Se te vejo,
Troco o passo
A cada instante,
Hesito nesse
Momento,
Finjo aquilo
Que não sinto
E, por fim,
Fico tão-só
Amante da poesia
Que me dá o que
Não tenho...
............
Uma réstia
De alegria.
OS ASTROS
ALINHARAM-SE
Pra te voltar
A perder...
...........
Dois minutos,
Um sorriso,
Pouco mais.
Este novo
Entardecer
Chegou cedo
Ao meu cais.
DESTINO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Voar no Jardim Encantado”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.

“Voar no Jardim Encantado”. Jas. 2021
POEMA – “DESTINO”
PINTO E CANTO
O meu destino,
Sonhos velados,
A minha vida,
Perdi a chave
Da tua porta
E só me resta
A despedida.
POR ISSO CANTO
Com as aves,
Voo mais longe
E com mais cor
Porque no céu
Há mais azul
E nos meus sonhos
Há menos dor.
HÁ UM SEGREDO
Não revelado,
Dizê-lo
Não deveria
Porque seria
Grave pecado
E certamente
Mentiria.
E NÃO O DISSE,
Mas eu pequei
Com murmúrio
Apaixonado
Em poemas
Tão inocentes
Como estar só
A teu lado.
POR ISSO VOO
Sempre mais alto,
Trepo nas cores
Pra lá chegar,
O céu azul
Dá-me alento
Pra meus segredos
Eu dissipar.
LEVO PALAVRAS
Comigo,
Procuro inspiração,
Levo cor,
O meu abrigo,
Levo musas
E tudo o mais
E quando parto
Lá para cima
É sempre festa
Nesse meu cais.
LEVO-TE A TI
E deste jeito
Voo sempre
Sobre o teu mar
Para que sinta
Lá bem no alto
Ar rarefeito
E assim te possa
Abraçar.
EU CANTO
E pinto
Por tudo isto,
Pra resgatar
O meu pecado
De exaltar
Esse teu rosto,
Iluminar
Em aguarela
O enleio
Do meu olhar,
Por te ver
Na nossa rua
Debruçado
Na janela
Com vontade
De te pintar.
POR ISSO CANTO,
Por isso pinto,
Por isso voo
Lá para o alto
Em liberdade,
Eu lá não vivo
Em sobressalto
Porque te sinto
Como verdade.
MAS VEM COMIGO,
Eu dou-te asas,
Prò infinito
Do céu azul,
Voamos juntos
Ao mesmo tempo
E o nosso rumo
Será o Sul.
VÁ, VEM COMIGO,
Voa mais alto,
Ah, meu amor,
Se tu vieres
Eu já não sofro
E ganho vida,
Vai-se embora
A minha dor
E já não sabe
A despedida.
VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA
A Manuel Bandeira
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Pasárgada”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.
(Primeiras versões
do poema e da pintura:
Novembro de 2018).

“Pasárgada”. Jas. 10-2021
POEMA – “VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA”
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
É outro mundo,
Irmão,
Eu não fico
Por aqui,
Falha-me
Inspiração
Porque a brisa
Do Nordeste
Ficou lá,
No Maranhão.
TENHO SAUDADES,
Manel,
Nostalgia do futuro,
Não quero
De volta
O passado,
Foi um tempo
Muito duro,
Foi um tempo
Confiscado.
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
Há tempestade
No ar,
Não quero
Ficar aqui
Porque a brisa
Do teu berço
Não passou
Do Piauí.
PRA PASÁRGADA
Quero ir,
Lá todos
Falam verdade,
Por aqui
Não ficarei,
Já me falta
Liberdade,
Lá sou amigo
Do rei,
É muito bela
A cidade.
GOSTO DE TI,
Ó poeta
Do reino
Da utopia
Em busca
Da liberdade
No país da
Poesia
Onde se canta
E se dança
Porque o ar
É do mais puro
E cheira
A maresia,
Perfume
De divindade.
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
Não gosto
D’estar aqui,
Há ruído
Que é demais,
Esta terra
Não me serve,
Eu espero-te
No cais...
..........
Navegamos
No teu barco
À procura
De mar calmo,
Céu sereno
E tudo o mais,
Viajando
No azul,
Peixes voando
No mar,
No horizonte
Uma ilha,
Mulheres lindas
A acenar...
EM PASÁRGADA
Sou feliz,
Canto e
Danço
Na madrugada
Até que o corpo
Se canse
Com alma
Apaixonada
E adormeça
No regaço
Da mulher
Que for
Amada.
POR AQUI OUÇO
Ruído,
Há armas
A crepitar,
Matam poemas
Com gritos,
Já não podemos
Cantar...
VOU CONTIGO
P’ra Pasárgada
Meu mestre
De poesia,
Cantarei os teus
Poemas
Seja noite
Ou seja dia,
Alegram-se
As nossas almas
No reino da utopia.
O POETA-PINTOR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Musa”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.

“Musa”. Jas. 10-2021
POEMA – “O POETA-PINTOR”
O POETA BRINCAVA
Com suas palavras,
Cantava-te sempre
Quando não estavas.
ERA UM POETA,
Era fingidor,
Não te desenhava,
Cantava-te
A cor.
SUAS CORES
Eram as palavras,
Fazia pincel
Da sua caneta,
O pintor riscava,
Mas a sua tinta
Já não era preta.
POR ISSO COMPROU
Um belo pincel...
.................
Pintava, pintava,
Era a granel,
E a sua tela
Deixou de ser
O velho papel.
DESCOBRIU A COR,
Que o fascinou.
Azul, vermelho
E tanto amarelo...
...............
Tudo ele pintou,
Procurando sempre
O que era belo.
ATÉ QUE O ENCONTROU
Na cor dos
Teus olhos.
Era luz da pura
Que iluminava
O novo papel
Onde desenhou
O teu fino rosto
Com o seu pincel.
DEU CORPO À COR
Com que te dizia,
As suas palavras
Tornaram-se riscos,
Mais que poesia.
PINTAVA-TE ASSIM,
Os poemas
Já não lhe chegavam,
Pintor de palavras
De cor as compunha
E versos voavam
No azul do céu...
..................
“E o que tu fazias
Faço agora eu”
(Dissera-lhe um dia)
“Porque sou poeta
Mas também pintor.
Deixaste-me só
Entregue à palavra
E eu,
Tão pobre de ti,
Pintei-me de dor.”
“MAS EU FAÇO DELA
O meu arco-íris
Pra subir ao céu
A ver se t’encontro
Atrás duma cor,
Pintando o teu rosto
Para um poema
Que vou escrever
Com este pincel
Que trago comigo
Enquanto viver."
O POETA BRINCAVA
Mas era séria
Essa brincadeira,
Perdido em palavras
Encontrou a cor
E nos seus poemas
Dela fez bandeira...
.................
Tornou-se pintor.
TARDO A ENCONTRAR-TE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Mulher,
a Janela e o Espelho”. Original de minha autoria. Outubro de 2021.
POEMA – “TARDO A ENCONTRAR-TE”
TARDO A ENCONTRAR-TE Porque não sei Como procurar-te Levado Por um poema Com as asas Do desejo... NÃO É A VONTADE, NÃO, Mas o destino a marcar Os passos que Eu darei Ou que nunca Ousarei Nesta estreita Vereda Da minha vida. E TU SABES Que não sei, Mas sabes por onde Andei E me perdi, À procura do que Não podia ter Pra preservar O que apenas Me sobrava... ............... Dentro de mim. ÀS VEZES Encontrava-te... Encontros fugazes Onde o teu brilho Cegava Por fora E me iluminava Por dentro... ............... E cantava-te E pintava-te a alma Com palavras roubadas Ao arco-íris. MAS NÃO SEI Se te hei-de querer Para nunca Te ter, Sentir saudades, Logo ao amanhecer, Do perfume
Da aurora, Quando te reencontrava Na memória fresca E matinal Dos afectos
Indefinidos De outrora, Os mais perfeitos E contidos. SIM, DEIXO-ME IR Nas mãos do destino, Bem sabes, Mas há sempre Um súbito Sobressalto Quando o real Me atropela Por dentro E tudo se torna Inóspito... MAS SE NÃO Me deixo ir Por aí, Viajo para outros Lugares, Tenho sempre De viajar À procura de mim, De um espelho onde Me veja por dentro A olhar-te Por fora, À espera do próximo Sobressalto... ................ Que nunca demora. AH, COMO ME FALTA Esse véu que te cobre Quando te quero Pintar com palavras E te vejo Nua, Com a alma a tiritar, À mercê dos sobressaltos Que te marcam Como sulcos, Cicatrizes ásperas Da vida. MAS EU PROCURO-TE Com disfarçado E tímido Olhar, Perscrutando A alma Que se aninha Em ti Para te proteger Do risco da beleza Exposta Como fractura, Aquela que os poetas Sofrem, sim,
Mas cantam Quando sentem a Liberdade Ali por perto. TALVEZ A NOITE Te sirva de véu E te cubra
As cicatrizes Da vida, Luz coada pela Penumbra Que te amacia A pele Encrespada E te devolva como Sonho Acetinado Onde reinventar-te Como mulher Desejada, Para além do bem E do mal, Para além do pecado. MAS EU NÃO SEI, Tenho medo Dos sobressaltos, De ser atropelado Na esquina de um Inocente Jogo sedutor Que te cative a Alma Já em fuga Para o infinito Que, ao longe, Se cruza Nos nossos olhares... .............. Intermitentes. TARDO A ENCONTRAR-TE No bulício dos nossos Dias, Até que no amanhecer De um poema Te volte a visitar E te diga, Com olhar Submisso: "Ah, que saudades Eu tinha de ti..." Mas talvez já seja Tarde demais.
CATEDRAL
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "A Fonte".
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.

“A Fonte”. Jas. 10-2021.
POEMA – “CATEDRAL”
VIAJEI NO TEMPO
Até à cidade,
Encontrei-te
Por ali,
Rosto sereno,
Inocente,
Como quem
Sempre sorri.
FOMOS AO TEMPLO
Da rua
Da minha vida,
À cúpula
Da catedral...
..............
Não te abracei
Nessa noite,
Era sagrado
O lugar,
Seria abraço
Fatal.
MAS FICOU-ME
O prazer
De te ter ali
A meu lado,
A sonhar-te
Nos meus braços,
Nos beijos
Que não trocámos
Numa noite
De luar,
Quando o amor
É mais intenso
E o corpo
Se desnuda
De tanto a lua
Brilhar.
FOMOS À PRAÇA
NAVONA,
Escutámos
As águas
Da "Fonte
Dos Quatro Rios"
(Essa dádiva
Do Bernini),
Íntimos,
Em sintonia,
Antevendo um futuro
Que nunca mais
Chegaria...
ATÉ QUE ME PROCURASTE
Nessa fita
Da memória,
A noite perdida
De afectos
No alto da catedral,
Corpos tensos,
Sem palavras,
Na fronteira
Do amor...
TORNOU-SE MAIS VIVO
Que nunca
O que não aconteceu
Como se fosse
Futuro
Que, afinal,
No teu passado
Ainda não se
Perdeu.
E CÁ ESTAMOS DE NOVO
À procura
Dessa noite,
Dos beijos
Que não te dei,
O passado já é
Futuro
E desse tempo
No limiar
Do sagrado
Já não sei
O que farei.
TALVEZ FAÇA UM POEMA
Para te reencontrar,
Cantar esse
Sorriso terno
De que sempre
Eu gostei,
Voar no tempo,
No espaço sideral,
Pousar de novo
Contigo,
Numa noite de luar,
Na cúpula
Da catedral...

“A Fonte”. Detalhe.
TEMPO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Oráculo".
Original de minha autoria.
Setembro de 2021.

“Oráculo”. Jas. 09-2021.
POEMA – “TEMPO”
É TEMPO DE RECOMEÇO?
Talvez seja,
Talvez não.
O que ontem
Eu já era
É o que hoje
Eu sou,
Não é tempo
De mudança
Nem tempo
De negação
Porque gosto
De cantar
Neste lugar
Onde estou.
O DESEJO
(Sempre instável)
Pediu tempo,
Rituais,
Celebração,
Mas o tempo
(Insondável)
Resistiu
Ao que a vontade
Tentou...
..............
É tempo
De recomeço
Quando o tempo
Não passou?
EM CADA MOMENTO
Da vida
Procuro
O tempo
Que antes
Eu não vivi,
Procuro
Reinventar
Tudo aquilo
Que perdi,
Num poema
Ou em pintura
Para repor
O que sou
Antes que volte
A perder-me
Nos lugares
Pra onde vou.

“Oráculo”. Detalhe.
INFORMAÇÃO AOS LEITORES
A TODOS OS AMIGOS E LEITORES QUE AQUI ACOMPANHAM A MINHA POESIA, A MINHA PINTURA, OS MEUS ARTIGOS E ENSAIOS, INFORMO:
1. Durante o mês de Agosto suspenderei a regularidade das minhas publicações. Foram vários anos sem interrupções e chegou a altura de fazer uma curta pausa de reflexão.
2. Entretanto, antecipo a capa de um Livro de Poesia de minha autoria, João de Almeida Santos, Poesia (Lisboa, Buy The Book, 2021), prestes a entrar em tipografia. O livro inclui 67 poemas, um capítulo “Sobre a Obra de Arte” e, outro, com “Diálogos com os Leitores Digitais” sobre vinte dos poemas aqui publicados, tendo alguns destes poemas ilustração no livro. Tem 438 páginas (contando com as ilustrações), capa rija, cosido, com 12 ilustrações de minha autoria reproduzidas em papel couché mate. A capa reproduz uma obra minha: “O Aurífice”, criada para o poema “Esculpir-te”.
3. Prevejo que o livro esteja disponível ainda este mês ou no início de Setembro.
4. Será uma edição limitada (150 exemplares) e só pode ser adquirido por encomenda, via WhatsApp, Messenger ou E-mail, feita ao autor.
5. É editado pelas Edições Buy The Book.
6. Aqui fica uma antevisão da Capa e do Índice.
7. Índice do livro: João De Almeida Santos, Poesia, Lisboa, Buy The Book, 2021
NOTA INTRODUTÓRIA I - SOBRE A OBRA DE ARTE II - POESIA 1 - CANTAR Sou o que sou Palavras O poema Canta, poeta, canta O poeta que se fez pintor Pintei-te Não sei se te chegam, as palavras A carta Segredo I Solidão Esculpir-te Invocação Lua O poeta e a máscara O poeta e o vendaval Elas fogem, as palavras A palavra proibida Confissões de um confinado Geometria O benfeitor 2 - TEMPO Tempo A porta do tempo A reinvenção do tempo Espelho do tempo A fronteira Na bruma da memória Março Mudam os ventos e mudam as palavras Catedral Rituais Para Leonard 3 - RAÍZES Jasmim Romã Tentação Teu corpo de cristal Casta diva Mandei podar o loureiro O pavão O jardineiro 4 - VIAGEM Viagem Liberdade 5 - MUSA Musa Cor, dá-me cor A flor de papel O meu nome Marmelada O brinco O beijo Não sei A janela À janela Certos dias Encontrei-te lá em cima, no monte Origem Segredo II Caminhos paralelos Valsa Pas de Deux Nostalgia 6 - SONHO E UTOPIA Sonhar A aguarela Quase Alma Um sonho na aldeia Vou contigo pra Pasárgada Vã utopia III - REFLEXÕES EM TORNO DOS POEMAS Diálogo com os Leitores Digitais IV - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAs
#JAS@08-2021
FLOR DE PAPEL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fleur de Papier en Vol à la recherche du Poème perdu dans un Jour d'Hiver"”. Original de minha autoria. 25 de Julho de 2021.

“Fleur de Papier en Vol à la recherche du Poème perdu dans un Jour d’Hiver”. Jas. 07-2021.
POEMA – “FLOR DE PAPEL”
NUM DIA DE INVERNO Uma flor de papel Voou Para longe, Levada pelo vento, Rajadas fortes Quebraram Os subtis Filamentos Que a ligavam À raiz de onde Nascera... ........... Seu alento. CONTINUA A VOAR, A flor de papel, Ao sabor do vento, Pousando Aqui e ali E logo voando Para outros Destinos, Num perpétuo Movimento. PERDEU AS CORES Luminosas Que exibia E a fonte D’inspiração (Sua seiva De cada dia), Borboleta Já sem pólen Para nova Gestação No jardim Da fantasia. MAS NUM DIA Quente De Verão (Eu bem sabia) Encontrei-a, Por acaso, Aninhada Num arbusto, À espera que O vento A levasse Prà ilha Da utopia. PEGUEI-A Na minha mão E levei-a Ao Jardim Do meu poeta Pintor, Nosso chão E recanto Inspirador. DEU-LHE COR, O meu poeta, Alisou suas Rugas De papel, Mostrou-lhe O horizonte Lá em cima Na Montanha Nesse dia de Verão E logo a lançou Ao vento, Ao encontro De raiz Que nutrisse Com a seiva Uma nova Floração...
A MONTANHA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Mulher”. Elaboração
de minha autoria, apud Gustav Klimt
(“Estudo de uma Jovem”, 1885).
Julho de 2021.

“Mulher”. Jas. 07-2021.
“I live not in myself, but I become / Portion of that around me; and to me, / High mountains are a feeling....” LORD BYRON Childe Harold’s Pilgrimage (1812-18). Canto III, 72 (1816).
POEMA – “A MONTANHA”
ESTOU A PERDER-TE, Meu amor, O estro Esmorece, Vai perdendo Lentamente O seu fulgor, O poema Empalidece E eu, Em poética anemia, Já sinto Um suave E sonolento Torpor. SUBI A MONTANHA Contigo E, feliz De lá chegar, Com palavras Que me deste Eu aprendi A cantar. CANTEI A TUA PARTIDA Quando desceste O vale E eu, Triste, caminhei Por veredas Sem destino A que nunca Mais voltei. PERDIDO De ti, Vagueei À procura De eco Do meu canto Derramado, Som puro E cristalino Que pra ti Foi desenhado. MAS O ECO Era silêncio Profundo Vindo do azul Quase irreal Da abóbada Celeste Na montanha Seminal. NEM SEQUER O CLARÃO De um cometa Fugaz Me visitava, Pinhal abaixo, Rumo ao horizonte Do meu inquieto Olhar. O AR RAREFEITO Da montanha Tomara conta De mim, Desfalecia A emoção De te rever, Reinventar E cantar Em surdina Perante o Silêncio Cortante Que me negava, Impenitente, O eco da Minha canção. ERA POÉTICA Anemia, Nos sentidos Desmaiados Calava A melodia, O som Era murmúrio Inaudível, Sem ponta De comoção, Alma ferida Que já nem A dor sentia De tão gasta Nesse tempo Por excesso De paixão. AGORA DESÇO Também eu Ao vale Da minha vida E regresso À triste monotonia, Sem ti, Sem corpo Imaginado, Semente De poesia. O VALE ESPERA-ME, Já tem sabor A rotina Porque sei Que não te vejo E estremeço, Que já não Sobram sinais Da rua do Desencontro, Fugas Irreais Para os teus Infinitos Nem janelas De onde te veja Passar Ou sequer imaginar Na esquina Esquecida Do nosso Contentamento. ESTOU A PERDER-TE, Não há janela Nem infinito Ou cor, Não há tempo Nem lugar, Não há poema Nem mar Que suspenda O vazio De não te poder Encontrar... ............. Eu perdi-te, Meu amor.
ARTE AO VIVO – 8
NO MEU JARDIM ENCANTADO
“O VOO DA MAGNÓLIA”, 2021
Partilho a imagem de mais um quadro já pronto para a Exposição em preparação, 90,5×115,5, em papel de algodão Hahnemuehle e com vidro de museu (70%). Este quadro pode ser adquirido, mediante comunicação de eventual interesse via E-mail, WhatsApp ou Messenger.
JAS – “O VOO DA MAGNÓLIA”, 2021
PAS DE DEUX
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Penché”.
Original de minha autoria.
Julho de 2021.

“Penché”. Jas. 07-2021.
POEMA – “PAS DE DEUX”
SOU COREÓGRAFO
Da minha alma,
Desenho-me
No espaço,
Embalado
Pela suave
Melodia do teu
Silêncio.
IMAGINO-ME,
Às vezes,
Num "Pas de Deux”
Contigo
Num palco
Em noite
De luar
Ali, na praia
Da meia-lua,
A dançar
O murmúrio
Desse mar
Com que te
Pintas
E ouves
Dentro de ti.
DANÇAMOS
Com palavras,
Enleados
Pelos fios
Dos poemas
Com que
Teimosamente
Ilumino
Os caminhos
Por onde nunca
Ousarás passar.
O SILÊNCIO
É a tua
Sinfonia,
O teu canto
De sereia,
A melodia
Que ressoa
Nesse mar
Murmurejante
De linóleo
Onde nos desenhamos
Em suave
Bailado,
Numa despedida
Que nunca
Terá fim.
GOSTO DESTA DANÇA,
Contraponto
Dos sinais
Invisíveis
Com que pontuas
A tua assinalada
Ausência,
E imagino-te
Num bailado
A solo
Com o som
Da minha poesia
Na praia
Da meia-lua,
Numa noite
De luar
E perfume
A maresia.
CANTO-TE, SIM,
Mas neste meu
Canto
Eu conto-me
Como espelho
Onde podes
Rever
O passado
Desse futuro
Que nunca
Existirá.
AGORA, SOZINHO
No linóleo,
Acendo um sol
Com as minhas mãos
E procuro
O que nunca
Encontrarei...
..........
A não ser
Sombras
De mim próprio
Gravadas
Na areia branca
Da baixa-mar.
ESTE,
O que te celebra
Em arte,
Já não sou eu,
Mas o coreógrafo
Da minha
Melancolia
O BEIJO
Poema de João De Almeida Santos.
Ilustração: "O Beijo". Original
de minha autoria para este poema.
Dia Internacional do Beijo -
- Seis de Julho, dia que celebro,
com um poema, cada ano.
Inspirado em "Lotte in Weimar"
(1939), de "Thomas Mann,
a obra que continuou "Werther"
(1774), de Goethe, e no meu
romance "Via dei Portoghesi".

“O Beijo”. Jas. 07-2021.
LEITMOTIV
“O amor é o melhor na vida, assim,
no amor, o melhor é o beijo –
Poesia do amor...”. “Beijo
é alegria, procriação é luxúria”
Thomas Mann
Inspirado também em:
“Os beijos escritos
não chegam ao destino,
mas são bebidos pelos
fantasmas ao longo
do trajecto”
Kafka
“Se para te beijar devesse,
depois, ir para o inferno,
fá-lo-ia. Assim, poderia
vangloriar-me, com os diabos,
de ter visto o paraíso
sem nunca lá ter entrado”
Shakespeare
“O primeiro beijo não é dado
com a boca, mas com os olhos”
Bernhardt
POEMA – “O BEIJO”
FOI O QUE NUNCA
Te dei
A não ser
Com o olhar,
O primeiro,
Esse beijo,
Dei-to, pois,
Sem te tocar.
E DEI-TE MAIS,
Com palavras,
Quando olhar
Já não podia,
Foste embora
Para longe
E eu, triste,
Não te via.
FORAM BEIJOS
Que sonhei
Na rotina
Dos meus dias
E desejos
Que enfrentei
Quando tu mais
Me fugias.
MAS DOU-TE BEIJOS
Escritos
Que se perdem
No caminho
E se me falta
O poema
Fico ainda mais
Sozinho.
O BEIJO
É emoção,
É razão
Descontrolada,
Se não for dado
A tempo
Pouco mais será que
Nada.
SEM BEIJO
Não há amor,
Sem amor
Perde-se o beijo,
A vida perde
Sentido
Se me faltar
O desejo
De na alma
Te beijar
Por assim te ter
Perdido.
AQUI O LANÇO
Ao vento
Pra que atinja
Como brisa
E suave melodia
Esse rosto
Que precisa
De afecto
Em poesia.
ESSE BEIJO
Que me falta,
De que nunca
Fui capaz,
Voa pra ti
Em palavras
Na sua forma
Mais pura
E desejo que,
No trajecto,
Voe, voe
A grande altura,
Que fantasmas
Não o bebam
E minha dor
Tenha cura.
MAS SEI
Dos escolhos
Da via,
Dos perigos
Que ele corre,
Capturado
Por fantasmas
É mensagem
Que me morre.
NO DIA DO BEIJO
É hora
De te cantar
Em voz alta
A poética do amor
Pra me redimir
Dessa falta
Com palavras
De poeta
Desenhadas para ti
Com mestria
De pintor.
E PORQUE O DIA
É teu
Ganha força,
Intensidade,
Mesmo que fantasmas
O bebam
É um beijo
De verdade.
ESSE BEIJO
Que não dei
Foi pecado
Original,
Hei-de sofrê-lo
Pra sempre
Como chaga
Corporal.
NÃO HÁ PALAVRAS
Que bastem
Pra repor
O que não dei,
Elas voam,
Mas não chegam
E mesmo assim
Eu tentei.
É CERTO QUE SEMPRE
O quis,
Só que nunca
To roubei,
A culpa foi desse tempo,
Dos dias em que
Te amei,
Um tempo em diferido
Sem presente
Nem futuro,
Talvez beijo
Sem sentido
Porque queria
Do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas
Do Paraíso,
Um beijo
De divindade,
Mas simples
Como um sorriso.
ESSE BEIJO
Impossível
Que não é do
Foro humano
Vou tentando
Construí-lo
Cada dia, cada ano,
Perdendo-me
Pelo caminho
Como sagrado
Em profano.

“A Ponte”. Jas. 07-2021. Detalhe.
METAMORFOSE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Ponte”. Original de minha autoria para este poema. Julho de 2021.

“A Ponte”. Jas. 07-2021.
POEMA – “METAMORFOSE”
CAMINHAS Suavemente, Tão irreal, Sobre todas As cores Que te dei. És planta De Jardim Com perfume Que eu sempre Procurei... TENS FLORES Brancas No corpo, Aquelas de que Cuidei, Alimento De meus olhos E aroma Dos poemas Que para ti Cantarei. CAMELLIA É o teu nome. Encontrei-te, Desta vez, Em profunda Solidão, Alvura Tão luminosa Que quase Te desejei Na palma Da minha mão. QUIS TRAZER-TE Para dentro Do poema, Disseste Logo que sim, O encanto De um abrigo Que é cuidado Por mim. FALEI CONTIGO, Dei-te palavras, Apontei-te O caminho Pra vencer A solidão Pois, tu, Divina brancura, Não sofrerias A dor Se viesses ao Abrigo E me desses A tua mão... CAMINHÁMOS Juntos Numa ponte Prà outra margem Da vida Com passos De liberdade Que nunca Pra nós seriam Passos de Despedida, De tristeza E de saudade. VEJO EM TI Uma mulher Deslumbrante, Recrio-te Com afeição, Pinto-te Em movimento, Quero-te livre A voar Ao sabor Da inspiração, É azul o teu Caminho, Levo-te eu Pela mão. ESSA PONTE De papel Que parece um Arco-íris Vai levar-te Ao Jardim Onde a cor É alimento, É como favo De mel, De meus olhos O sustento Quando pinto O teu rosto Com palavras... .......... A pincel. COMO VÊS, A solidão De uma flor Pode ser libertação Se a pintarmos Com palavras E lhe dermos Muita cor Com a força da Paixão.
ARTE AO VIVO – 5
No meu Jardim Encantado
“Pasárgada”, 2021
Partilho a imagem de mais um quadro já pronto para a Exposição em preparação, 108×138, em papel de algodão Hahnemuehle e com vidro de museu (70%). Este quadro pode ser adquirido, mediante comunicação de eventual interesse via E-mail, WhatsApp ou Messenger.
JAS – “PASÁRGADA”, 2021
JAS – “PASÁRGADA”, 2021
AUSÊNCIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Silêncio”. Original de minha autoria. Junho de 2021.

“Silêncio”. Jas. 06-2021.
POEMA – “AUSÊNCIA”
SINTO A TUA FALTA, Ah, eu sinto, Por isso canto e danço Até cair exausto No palco De um poema. SINTO O TEU SILÊNCIO, Que já nem Murmúrio é, Um vazio cá No fundo De que o canto É o eco E sofrido Contraponto. RECORDO, Mas já não sinto, O veludo Da tua pele E, por isso, Eu a pinto Numa folha De papel. EU NÃO OUÇO A tua melodia. Caio, pois, Sempre em silêncio Para melhor Te sentir Cá dentro Da fantasia. FAZ-ME FALTA A tua voz, Faz-me falta O teu sorriso E como já nem Me pintas O nome Eu canto-te No meu poema Pra que te possa Inventar. DA TUA FALTA Nasceu em mim Uma orquestra Para uma Sinfonia, Contraponto Do silêncio Que teimas Em desenhar Como tua melodia. NA TUA AUSÊNCIA Eu vejo corpos Que dançam Abraçados Ao sabor da Fantasia Em andamentos Sem fim, Vejo luzes, Vejo cores, Sinto aromas De mil flores Que me fazem Companhia Neste palco De um poema Inacabado Porque lhe falta Alegria. TU FALTAS-ME E eu revivo-te No canto e Na cor, Na dança E no amor... ............ Em poesia. São palavras Que lanço Ao vento, Construindo As pontes Invisíveis Desta minha Utopia. TUDO RECRIO Pra te reencontrar À distância De um poema, Cantar-te, Dançar Com as palavras, Dizer-te Em surdina Para melhor Ouvir O que nunca Me dirás. VISITO-TE, ASSIM, Das mil maneiras Com que te Procuro E te digo, Encerrado Nesta torre De marfim, Numa teia Enredado Pra melhor Te reviver Com a leveza Da arte Cá bem mais Dentro de mim.
NA BRUMA DA MEMÓRIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Magia”. Original de minha autoria. Junho de 2021.

“Magia”. Jas. 06-2021.
POEMA – “NA BRUMA DA MEMÓRIA”
QUERIA LEVAR-TE Uma rosa Branca Aos sete céus Do meu afecto, Desci fundo Na memória Onde ainda te Guardava Como se fosse Teu tecto. PROCUREI-TE Na bruma Espessa Que caía Sobre mim E quase não te Encontrei, O tempo gastara O passado, Ficou uma saudade Sem fim. PERDERA-TE O rasto E o perfil, Até teu nome Perdeu cor, Teu olhar Luzia Intermitente Numa neblina De dor. NO MEIO DA NEBLINA Esfumava-se O teu rosto De tanto eu Te perder, Era incerto O cintilar De teus olhos Na vontade De te ver. ERAS BRUMA Indefinida Nos céus onde Te quis encontrar, Mas sobraste Como imagem... .............. A que eu soube Desenhar. PERDI-TE A VOZ E a tua Melodia, Quase tudo, Meu amor... ............... Ah, mas, no fim, Não te perdia... Ficou-me de ti O sabor. PORQUE JÁ ERAS Imagem Que me sobrou Desse afecto Que por ti Sempre senti, Construção De arquitecto Para nunca Te perder Desde o dia Em que te vi. E VOLTEI. (Eu volto sempre). É desejo De te ver, Dar-te corpo Nas palavras Com que te quero Dizer Ainda que Do poema E dos céus Do meu afecto Acabe por Te perder. AGORA, DESENHO-TE Com palavras e Com cores, Com paisagens Que tenho dentro De mim, Com rostos, Com aromas E flores Deste bendito Jardim, Um passeio Com pavões, Uma delicada Utopia, Gritos de alma, Emoções... ................ Pra te recriar Com magia E contigo Caminhar No alto Da fantasia, Onde vive Essa imagem Que desejo Encontrar. VOO, POIS, Com uma rosa, Vestido como Arcanjo, Pra te ver Ali ao perto, Olhos negros, Cintilantes, Mas um pouco fugidios Ao jogo da sedução Numa noite De luar... ............ Ou talvez De perdição. É UMA ROSA De brancura Transparente Pra que sintas Lá bem alto O aroma Desta minha fantasia. Talvez assim Te encontre Envolta na neblina Que nunca se dissipou (Mas agora cristalina) Desde aquele Incerto dia Em que o nosso Olhar se cruzou.

“Magia”. Detalhe.
ARTE AO VIVO – 4
NO MEU JARDIM ENCANTADO
Partilho a imagem de mais um Quadro, dimensão 66×83, já pronto para a Exposição em preparação, em papel de algodão Hahnemuehle e vidro de museu (70%). Este quadro pode ser adquirido, mediante manifestação de interesse via E-mail, WhatsApp ou Messenger.
Título da Obra - “MARÇO” (2021)
ELAS FOGEM, AS PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Letras”. Original de minha autoria. Junho de 2021.

“Letras”. Jas. 06-2021.
POEMA – “ELAS FOGEM, AS PALAVRAS”
QUERIA FAZER-TE Um poema, Ser feliz, Sentir nele A liberdade E as palavras Endoidaram Quando te queria Cantar Invocando A saudade. FUGIRAM Numa revolta Sentida Sem conhecer A verdade, Deixando-me Só Nesta vida, À deriva, Sem dó Nem piedade. EU ESTAVA A MENTIR Sem pensar Na crueldade De as usar Como queria Só porque Tinha saudade... ESGUEIRARAM Rua fora, Cada uma Por seu lado, Espavoridas, Em fuga Deste poema Tentado. UMAS ESVOAÇAVAM No fio Do horizonte, Outras Aninhadas No passeio Desta rua E eu a tentar O versejo Enredado Num enleio Para dar vida Ao desejo. PALAVRAS em correria, Letras Perdendo forma Como fios De novelo Já desfeito De sentido Como a água Do gelo. SÃO FIOS Emaranhados, Letras Que se deslaçam E procuram Outras formas Para lá da minha Rima, Como riscos Numa tela A subir Por ela acima. QUERIA FAZER-TE UM POEMA Com palavras Desenhadas, Mas as palavras Fugiam E corriam Assustadas, Não se viam Alinhadas Nesse recanto Feliz Onde resisto À saudade. ELAS GOSTAM De cantar Quando me sentem Em dor, Elas gostam De vibrar Se me assalta A emoção, Mas se me vêem Feliz Fogem de mim, Dizem “Não”. O POEMA PASSARINHO Procura-te Pra cantar Mas quando A dor esvaece É ele que foge A voar. E HOJE É mesmo assim, Fogem todas As palavras Sem procurar Um destino, Já não consigo Agarrá-las Num poema Genuíno. NÃO SABEM Da minha dor E por isso Vão embora. Estou sem palavras, Amor, Estou muito triste, Agora.

“Letras”. Detalhe.
O POEMA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Auto-Retrato
de um Poeta”.
Original de minha autoria.
Junho de 2021.

“Auto-Retrato de um Poeta”. Jas. 06-2021.
POEMA – “O POEMA”
PARA QUE SERVE
O poema
Se ela,
Do outro lado
Da rua,
Não o vê e
Não o ouve,
Não lhe sente
O perfume?
AH, MAS EU SINTO-A
A ela
Do lado de cá
Do poema
E pinto-a
Em aguarela
Pra que veja
A minha cor,
Olho-a, pois,
Com palavras
E falo-lhe
Como pintor.
PARA QUE SERVE
O poema?
Aquece
A minha alma,
Digo tudo
O que sinto
Mesmo quando
Nos meus versos
Até parece
Que minto.
MAS NÃO ESCREVO
Pra ela
Que não a vejo
À janela
A ver passar
O poema
Na rua do
Desencontro.
O POEMA
É de quem
O possa ler,
Fruir-lhe
A melodia,
É a festa
Dos sentidos,
Da alma
A sinfonia,
É prazer
E emoção,
Só o ouve
Quem o sente,
O poema
É fremente,
Não é coisa de
Razão.
É CANTO
Em harmonia,
É pulsão
Que o sentimento
Desperta,
É sopro que me
Liberta
Das amarras
Da paixão
Porque voo
Em palavras
Ao sabor
Da emoção.
E SE A CHAMO
Ao poema
É pra ter
De volta
O meu eco,
Ouvir o som
De uma dor,
Decantá-la
Em palavras,
Convertendo-a
Em canto
Libertador
Dessa prisão
Que enleia
A que chamamos
Amor.
POR ISSO
EU SOU POETA,
Canto pra quem
Me ouve,
Não aguardo
Reacção,
Porque quando
Alguém nos deixa
Dá vida
À poesia
E asas
À solidão.
EU CANTO-ME
Nestes poemas
Pra resgatar
Minha dor
E se a poesia
Não chega,
As palavras
Não me bastam,
Pois que seja,
Sou pintor.

“Auto-Retrato de um Poeta”. Detalhe.
O POETA E A MÁSCARA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Transfiguração”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2021.

“Transfiguração”. Jas. 05-2021.
POEMA – “O POETA E A MÁSCARA”
COMPREI UMA MÁSCARA, Pu-la no rosto do Meu amado poeta E ele não a Enjeitou. Ainda por cima Me disse: “Sou eu, sou, Como nas palavras Que digo Também meu corpo Mudou”. “NÃO ESPERAVAS Ver-me assim, É grande o teu Espanto, Vá, confessa, Ganhei um corpo De rosa, Tanta cor (A que apeteça), Um rosto Dissimulado Pra me curar Desta dor Sempre que ela Apareça A pedir o meu Cuidado”. “ADOPTEI ESTA FIGURA, Apresento-me assim, As outras Nada te dizem, Com esta Olhas pra mim”. “PALHAÇO É O QUE SOU, Falo a Surdos e mudos Que não ouvem O que digo Nem me dizem O que quero Como se fosse Mendigo Do que, afinal, Nem espero”. “VALHA-ME POIS ESTA MÁSCARA. Assim,rio Desta vida, Rio de ti E de mim, Da chegada E da partida, Dos abraços, Das palavras E, enfim, Da despedida”. “SOU PALHAÇO, É o que sou, Entretenho-me A cantar E se ouvires Este meu canto Um poeta É seu autor, Por isso tu Tu não t’importes, O que diz É de certeza Para espantar Sua dor”. A MÁSCARA É o seu rosto, Colou-se-lhe Logo à pele Com a cola Do desgosto E por isso Já nem sabe Se seu rosto É o dele. COMPREI UMA MÁSCARA Vermelha No mercado Da minha vida, Ponho-lha sempre Que posso, À chegada E à partida, E se puder Não lha tiro Pra não lhe rasgar A alma Pois se o canto O liberta É a máscara Que o salva.

“Transfiguração”. Detalhe.
LA PORTA DEL TEMPO
Poesia di João de Almeida Santos. Pittura: "Trasparenza". Originale mio. Maggio 2021.

“Trasparenza”. Jas. 05-2021.
POESIA – “LA PORTA DEL TEMPO”
UN GIORNO DI PIOGGIA O di sole (Non saprei dirlo) Bussano Alla porta della mia Memoria, Bussano piano, Leggermente, Come chi ti chiama, Come chi ti dice Cosa sente. È TRASPARENTE La porta. Da li Si vede il mondo... E ti ho visto, Così, Ho visto il tuo viso Disegnato Como se fosse Un ritratto. HO VISTO LE TUE LABBRA Sensuali Tinte di porpora, Carnali, Ho visto il verde Brillante Dei tuoi occhi Quando il sole, Innamorato, Li accende E mi dà fuoco All’anima Perché sto Accanto a te, Anche io Ammaliato. NON SO SE Mi hai percepito Nel mondo magico Della mia Fantasia, Luogo di sogno E desiderio, Il mio riparo Dell’utopia. SEI ENTRATA Vibrante, Brillando Come l’arcobaleno, Scintilla Trasbordante Di colore Che arde E mi brucia... .......... D'amore. MA ANCHE TU Eri trasparente. Ti guardo E vedo in te Il cielo plumbeo E quieto Invocando Malinconia, Pace, Nell’inquietudine Del giorno, All’anima mia. ALL’IMPROVVISO Nella trasparenza Del tuo viso Irrompe il sole Dorato Tra il candore Sfumato Delle nuvole Sfuggevoli, In alto, Sulla Montagna Che sempre I miei giorni Accoglie. IL DORATO Diventa ambra E ti copre Il corpo Nudo Nell’intangibile Memoria Dove sempre Ti rivedo Quando si apre La porta Del tempo Con la chiave Del desiderio. TI GUARDO COSÌ, Un pò perso, In estasi, E provo a sfiorare Leggermente La tua pelle Di velluto Satinato... ............ Ma il sole Ti scolpiva Il viso Di luce E io rimasi Appena un riflesso Dei tuoi raggi Filtrati Che segnavano Il destino Dei miei desideri Sognati... MI SVEGLIAI Sentendo Delle dita Che bussavano Pian, piano Più in là, Alla porta Della mia camera Immaginata. Corsi ad aprirla... ......... Nessuno. Solo pura Nebbiolina Io vidi. SONO TORNATO, VELOCE, Ai colori Della mia memoria Per ritrovarti Nella magia Del mio mondo, Ma non c’eri più Neanche come riflesso Del tuo lato Più profondo... AVEVO LASCIATA APERTA La porta del tempo...

“Trasparenza”. Dettaglio.
A PORTA DO TEMPO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Transparência”. Original de minha autoria. Maio de 2021.

“Transparência”. Jas. 05-2021.
POEMA – “A PORTA DO TEMPO”
NUM DIA DE CHUVA Ou de sol (Eu já nem sei), Batem À porta da minha Memória, Batem leve, Levemente, Como quem chama Por mim, Como quem diz O que sente. É TRANSPARENTE, Essa porta. Vê-se o mundo Através dela... E eu vi-te, Assim, Vi teu rosto Desenhado Como se fosse Uma tela. VI TEUS LÁBIOS Sensuais De rubro Tingidos, Carnais, Vi o verde Brilhante De teus olhos Quando o sol Os acende, Apaixonado, E a minha alma Incendeia, Por estar ali A teu lado. NÃO SEI SE Me pressentiste No mundo Mágico Desta minha Fantasia, Lugar de sonho E desejo, Recanto De utopia. ENTRASTE NELE Vibrante, Com brilho de Arco-íris, A transbordar De tanta cor, Esse brilho Que me arde E que queima, Meu amor. MAS ERAS Transparente Também tu. Olho-te E vejo Através de ti Um céu plúmbeo E quieto A rogar Melancolia Que me pacifique A alma Na inquietação Deste dia. SUBITAMENTE, Na transparência Do teu rosto Irrompe O sol, Coado em dourado, Por entre a leveza Esfumada De nuvens brancas, Fugidias, A nascente, Lá no alto Da Montanha Que inspira Os meus dias... O DOURADO Ganha tons de Âmbar E veste-te o corpo Nu, Na intangível Memória Onde sempre Te revejo Quando se abre A porta Do tempo Com a chave do Desejo. CONTEMPLO-TE, Assim, Já um pouco Perdido, Extasiado, E quero tocar, Ao de leve, A tua pele De veludo Acetinado... ........... Mas o sol Esculpiu-te O rosto de Luz E eu já só era Um reflexo Dos teus Raios filtrados Que marcavam O destino De meus desejos Sonhados... DESPERTEI Ao som De dedos que batiam Levemente, Mais além, À porta Do meu quarto Imaginado. Corri a abri-la... ....... Ninguém. Era pura neblina O outro lado. REGRESSEI, RÁPIDO, Às cores Da minha memória Para te reencontrar Na magia Do meu mundo, Mas tu já não Estavas, Sequer como reflexo Do teu lado Mais profundo... DEIXARA ABERTA A porta do tempo...

“Transparência”. Detalhe.
A FRONTEIRA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Horizonte”. Original de minha autoria. Maio de 2021.

“Horizonte”. Jas. 05-2021.
POEMA – “A FRONTEIRA”
OLHO A MONTANHA Da porta De granito Amarelo, Com cristais, Sobre o ocre De um telhado Como se fosse Janela De um palácio Encantado Que do sonho Fosse cais. CONTEMPLO A linha do horizonte, Mas é diferente A visão. Antes, eu via futuro, Agora, vejo passado, Essa tão bela Ilusão De a ter sempre A meu lado. ENTRE PASSADO E FUTURO, É a minha Identidade, Ficou quieta À minha espera Quando dela Eu parti Ao encontro Da cidade. ELA É PORTO De abrigo E é lugar de Partida, É, pois, mais Que uma porta, É fronteira Que passamos No desafio Da vida. MAS É ETERNO Retorno, Um regresso Renovado Onde posso Renascer Quando visito A memória Do que não Quero perder, Ficando sempre A seu lado. ESTA PORTA É magia, Viajo sempre Por ela Porque é uma Janela De onde voa A fantasia. DELA ALCANCEI O mundo E o mundo veio Até mim, Ao passar por Esta porta Sinto o meu Horizonte Como fronteira Sem fim... POR ISSO REGRESSO A ela, Esse pilar Do meu ser. Quando chego, Logo amanhece, E quando estou De partida Sinto que O mundo Acontece Como a montanha Na vida.

“Horizonte”. Detalhe.
UM BRILHO NOS TEUS OLHOS…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Teus Olhos”. Original de minha autoria. Maio de 2021.

“Teus Olhos”. Jas. 05-2021.
POEMA – “UM BRILHO NOS TEUS OLHOS…”
OLHEI-TE NOS OLHOS, Eram negros, Intensos E tão profundos, Toquei teus cabelos Com o olhar, Caminhei a teu lado Nesse jardim, Senti o teu corpo Tão perto de mim A respirar O acre perfume Dessa ramagem Do belo jasmim... INEBRIOU-ME Esse intenso Aroma E eu enredei-te Num tão doce Enleio Que não tinha fim... BRILHARAM Pra mim, Tão docemente, Duas horas inteiras, Esses teus olhos... .................. E neles me perdi. ESTIVE NO CÉU Ao lado de deus E lá vi dois sóis... .................. Que não eram dele (Uma luz intensa) Porque eram teus. MAS O TEMPO Correu Depressa demais... ................... E é sempre assim. TODOS OS DIAS Se tornam iguais Quando tu partes E, em nostalgia, Eu fico no cais. VOLTEI A OLHAR-TE Três horas seguidas. Parecia verdade, Mas era ilusão Porque partiste Deixando-me só E o que sobrou Foi solidão. SUBIU A TRISTEZA, A saudade irrompeu Colou-se-me Ao rosto... .............. E como doeu! SE EU NÃO TE VEJO Sinto Falta de ti, Mas se te encontro Logo te perco Porque o tempo Voa E logo te leva Pra longe dali. TER-TE DEMAIS Aumenta a saudade E quando te vais São tristes As ruas Da nossa cidade. AINDA QUE TRISTE Eu sou feliz E com estas mãos Te vou escrevendo O que quero dizer, Mas este meu tempo Volta a correr E cresce a vontade De logo te ver Mesmo que saiba Que é nesse instante Que te vou perder. TENHO SAUDADES, Saudades de ti Desse virar Da nossa esquina, Na mesma rua Onde te vi, Dessa janela Donde espreitávamos O que do mundo Sobrava pra nós. EU JÁ NEM SEI Que hei-de fazer, Ter-te demais É puro prazer, Mas quando te vais Fico sombrio, Quase a morrer. NEM SEI QUE TE DIGA. Quando me deixas Já nem sinto a dor Tão grande a tristeza De já não te ter Pois tu partiste Mesmo sem querer, Ah, meu amor.

“Teus Olhos”. Detalhe.
NÃO SEI
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Folhas Caídas"
Original de minha autoria
para este poema.
Maio de 2021

“Folhas Caídas”. Jas. 05.2021.
POEMA – “NÃO SEI”
SE ME PERGUNTARES
Por que razão
Eu te amo,
Respondo-te
Com timidez:
Eu não sei,
Mas sinto-te
Como dor
Que persiste
E que derramo
Nos poemas
Que te faço
E que sempre
Te farei.
SE ME PERGUNTARES
Pelo que dói
Neste tão estranho
Amor,
Respondo-te
O pouco
Que ainda sei:
Que sinto
Pungente dor
Esparsa
Sobre meu corpo
Como sentido
Penhor
De um rapto
Imprevisto
Que nunca há-de
Ter fim.
SE ME PERGUNTARES,
Depois,
Se sinto
A tua falta,
Respondo-te
Logo que sim,
Que tenho sempre
Saudades
Mesmo quando
Eu te tenho
Aqui bem junto
De mim.
“ - PORQUE SOU EU
A mulher
Que te merece
Atenção?”.
AH, ISSO EU SEI.
Foi o destino,
A salvação,
Um encanto
Repentino...
..............
E tudo o mais
Eu não sei
Quando te beijo
Na alma.
“- O QUE SABES
TU DE MIM,
Neste teu
Desejo ardente?”
POUCO OU NADA
Sei de ti
E sabendo
O que não sei
Não te amaria
Às cegas,
Assim tão
Intensamente...
AMAR-TE
É como beber
Tempestades,
É dor que
Não se sabe
Onde está,
É a alma
Sempre quente,
É mistério
Revelado,
É encanto
Permanente,
O reverso
Do saber,
Luz intensa
Que me cega
E também
Fascinação,
Tremor
Que nunca acaba,
Lado oculto
Da razão.
“- PRA QUE ME QUERES,
Então, meu amor?”
EU QUERO-TE
Para te querer,
Simples vontade
De ti
Como fim
Do meu viver,
Sentir saudades
Do que estou
Sempre a perder,
Olhar-te nos olhos
E ver neles
O teu mundo
E o mundo
Dentro deles,
O brilho
Embaciado
De um olhar
Onde um dia
Me revi...
...........
E se acaso
Eu souber
Por que razão
Te amei
Chorarei
Até ao fim
Porque então
Descobrirei
Que por isso
Te perdi.

“Folhas Caídas”. Detalhe.
LIBERDADE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: "Liberdade". Original de minha autoria para este poema. Abril de 2021.

“Liberdade”. Jas. 04-2021.
POEMA – “LIBERDADE”
PERGUNTEI-TE, Num dia De sol: “Voas comigo Prà linha Do horizonte?". Deste-me a mão E sorriste: “Voo, sim, Pois preciso De ar puro Lá bem no alto Do Monte”. E PARTIMOS. Tu levaste O arco-íris Que tinhas Dentro de ti E eu as letras Que tinha Comigo, Alinhadas Nesta alma Solitária, Feita seu porto De abrigo. ENREDÁMOS Todas as cores Com linhas De palavras Deslaçadas, Construímos Asas em forma De verso E voámos No céu De um poema Pintado todo De azul... ANDEI CONTIGO Por lá Anos a fio, Vagueando Ao sabor da Inspiração, Levados Pela brisa Que sopra fria No Monte, Mas afaga O coração. E COMO GOSTEI De voar contigo, Livres como Pássaros Sobre o vale Onde te encontrei Um dia, Construindo Castelos Na areia Com a força Da fantasia. É ASSIM QUE EU Te vejo, Tecendo a vida Com sopro Na alma E as cores Do arco-íris Pintadas Por tua mão Como pautas Coloridas Dessa bela Melodia Que era a nossa Canção. FOI ASSIM Que nos dissemos Nesse tempo, Livres de amarras Que não nos deixam Voar, Cantando Em arte Um destino Marcado Pela vontade De fazer Da nossa vida Caminho De liberdade.

“Liberdade”. Detalhe.
NOVO
PINTURA 3
DUAS OBRAS de minha autoria já expostas em espaços privados (1 - 48X60, papel de algodão Hahnemuehle, gram. 300 e 2 - 33X48, Cartol., 315). Abril de 2021.
1. FANTASIA DO POETA. 2019
2. O DESEJO. 2020
NOVO
CINCO OBRAS de minha autoria
já expostas em espaços privados
(33X48, Cartol. gram. 315).
Títulos por ordem numérica de
apresentação das obras infra.
-
Dame mit Ohrring. 2018.
-
Bianco&Nero. 2020
-
Montanha Encantada. 2020.
-
Horizonte. 2018.
-
Letras. 2019.
ORIGEM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Voar no Céu de um Poema”. Original de minha autoria para este poema. Abril de 2021.

“Voar no Céu de um Poema”. Jas. 04-2021.
POEMA – “ORIGEM”
A SUA ARTE Nasceu contigo, Do mistério e do Silêncio Que te enchia a alma, A transbordar, Um inesperado Encanto Que o cativou, Para nunca Mais parar. FASCINADO Pelo teu olhar Profundo, O teu ímpeto Imparável, Fúrias Quentes, Cabelos negros Desgrenhados, À solta Sobre teu corpo Incerto, A arder... ................. Ele sentia-te, Mas não sabia Que fazer... NASCEU, ASSIM, No teu regaço, Em tormento, Aninhado Na bruma Densa E misteriosa Do encantamento. DEPOIS CRESCEU E quis a perfeição, Seduzir-te Através do vento Que te soprava Na alma, Palavras cálidas, Ritmadas À medida que te Ia perdendo No implacável Tempo Da renúncia. E TU COLHESTE A tormenta No dia-a-dia (Eu sei), Obsessão Martelante, Castigada Com palavras Repetidas E gastas À exaustão Até à fuga Para o nada, Cheia de tudo O que não tiveste, De tão sofrida E tão amada... MAS LEVASTE Contigo o poeta E muito mais, Grávida de palavras Não ditas, Olhares falhados, Imperceptíveis Sinais, Silêncios gritados, Quieta turbação, Lava oprimida No centro de um Vulcão Que te alimenta E consome Nessa tua inefável Solidão. E O POETA Capturou-te Dentro de si Para te libertar Com metódica Persistência Em poemas, Nuvens Cintilantes Que espalha No teu céu, Sobre ti, Para te refrescar A alma Incandescente. E EU, Seu confidente, Vejo-te Da minha Janela, ali, Só, A olhar O céu, As nuvens Brilhantes Do poeta, À espera Da chuva E dos trovões A troar Com raios de luz Sobre o teu Sempre inquieto Olhar... MAS UM DIA VIRÁ O tempo Do reencontro Sem clamor Nestes sofridos Poemas Onde o poeta Te reiventou Para o amor.

“Voar no Céu de um Poema”. Detalhe.
CINCO OBRAS de minha autoria expostas em espaços privados. (50X70, em papel Hahnemuehle, 300) Título das obras por ordem. No fim, 1 e 2 em sala de jantar.
-
"CRISTAIS". Jas2020
-
“S/TÍTULO”. Jas2020
-
“RUBOR”. Jas2020
-
“HÁ VIDA NO JARDIM”. Jas2020
-
“TERRAÇO”. Jas2020
MUSA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Desejo”. Original de minha autoria para este poema. Abril de 2021.

“Desejo”. Jas. 04-2021.
POEMA – “MUSA”
EU TENHO UMA MUSA Guardada No fundo Da minha memória, Perdi-lhe o rasto Ao corpo, Ficou-me dela O mistério Que me alimenta O estro Quando a saudade Me assola. SOBROU-ME Recordação, Marcas cá Dentro de mim, Desço ao fundo Da alma Mas nunca Lhe vejo O fim. E ASSIM NÃO A VISLUMBRO, Há uma certa Escuridão, Olhar de nada Me serve, Restam-me As cicatrizes E uma funda Solidão. ÀS VEZES DESENHO-LHE O corpo, Ponho-lhe cores Muito vivas, Pinto a alma Com palavras, Dou-lhe nome Que não é seu, Levo-a nos meus Poemas, Devolvo tudo O que resta Do que ela Não me deu. VALE-ME A POESIA Pra onde fujo Com ela, É como as ondas Do mar Que vejo Da minha janela. TENHO UMA MUSA Nesse mar Que não tem fim, Revolvo-me Nas suas ondas, Regresso depois Ao poema Onde sorri Para mim. NÃO IMPORTA Onde está, Musa é fonte De inspiração Desde que a tenha Na alma Esse lugar De paixão.

“Desejo”. Detalhe.
VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Pasárgada".
Original de minha autoria
para este poema.
Abril de 2021.

“Pasárgada”. Jas. 04-2021.
POEMA – “VOU CONTIGO PRA PASÁRGADA”
A Manuel Bandeira
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada,
É outro mundo,
Irmão,
Quero ir-me
Embora,
Já me falta
Inspiração
Porque a brisa
Do nordeste
Ficou lá,
No Maranhão.
NÃO TENHAS,
Manel,
Saudades,
Nostalgia do futuro,
Temos passado
Que baste
E às vezes
Até foi duro.
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada
Não quero
Ficar aqui,
Há tempestade
No ar,
A brisa
Da liberdade
Não passou
Do Piauí.
PRA PASÁRGADA
Quero ir,
Lá todos
Falam verdade,
Por aqui,
Ah,
Eu já nem sei,
Falta-me
Liberdade,
Aquela que
Conquistei.
GOSTO DE TI,
Poeta
Do reino
Da utopia,
Onde se pinta,
Canta
E dança
Ao sabor
Da poesia,
Porque o ar
É do mais puro...
..........
E cheira
A maresia.
NÃO GOSTO
D’estar aqui,
Há ruído
Que é demais,
Esta terra
Já não me serve,
Eu espero-te
No cais,
Vou contigo
No teu barco
À procura
De mar calmo,
Céu sereno
E tudo o mais,
Navegando
No azul,
Peixes voando
No mar,
No horizonte
Uma ilha,
Mulheres lindas
A acenar...
EM PASÁRGADA
Sou feliz,
Danço poemas
Ao raiar da
Madrugada
Até que o corpo
Se canse
Com alma
Apaixonada
E adormeça
No regaço
Da mulher
Que for amada.
POR AQUI OUÇO
Ruído,
Há armas
A crepitar,
Matam poemas
Com gritos,
Já nem podemos
Cantar.
VOU CONTIGO
Pra Pasárgada
No barco
Da poesia,
Lá cantarei teus
Poemas
Seja noite
Ou seja dia
E pedirei
A Athena
Que me dê
Inspiração
E me ajude
A compor
Um hino
À liberdade
Que seja
A nossa canção.

“Pasárgada”. Detalhe.
SEGREDO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Deusa das Camélias” Original de minha autoria para este poema. Março de 2021.

“Deusa das Camélias”. Jas. 03-2021.
POEMA – “SEGREDO”
VOU CONTAR-TE Um segredo: Amei-te Em poesia, Oh, se amei! As palavras eram Graves (Bem sei) Mas sempre cheias De cor, As rimas Eram suaves Em melodia Com dor, Tudo o que De ti Me sobrou... .......... Meu amor. CONTEI-TE HISTÓRIAS De desencontros E dancei Com palavras Luminosas Que inventei Para por dentro Te ver Nesse jardim De camélias Que cultivas No teu peito E que eu pinto Com desvelo Pra deste modo Te ter. CANTEI Pra te aquecer Na fria dança Do silêncio E contigo levitar, Voando, Invisíveis, Sobre ruas E sobre praças, Ao luar, Para, depois, Pela manhã, Acordar E um arco-íris Erguer Como ponte Desse vale Exuberante Onde te sonho, Neste meu Entardecer. SONHO, SIM, Alheio ao bulício, Ao indiscreto Cochichar Dos que vivem Na rotina, Dos que Não sabem Voar. AH, QUE SONHO! Não sei se Pousaram No parapeito da Tua janela As palavras Que sonhei... ................. E se alguém te Contou Que andavam Borboletas No ar, Esvoaçando, Perdidas, À procura de pólen Nos jardins Verdejantes das Nossas vidas... MAS TU PERGUNTAS, Agora, Se ainda vivem As borboletas De vida breve, Se regressam Ou já pousaram Noutro jardim, Se há pólen, Se há vento Ou pensamento Que as traga De volta Desse incerto E imprudente Confim... E EU RESPONDO Que a sua vida E destino São o brilho Deste céu Que vive Dentro de mim.

“Deusa das Camélias”. Detalhe.
CAMINHOS PARALELOS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Voo da Magnólia”. Original de minha autoria para este poema. Março de 2021.

“O Voo da Magnólia”. Jas. 03-2021.
POEMA – “CAMINHOS PARALELOS”
POR CAMINHOS Paralelos Nos seguimos Ao infinito, Pintei o meu De vermelho, Mas o teu É mais bonito. GASTEI As minhas palavras, Gastei cores, Eu já nem sei, Mas porque o silêncio É de ouro Só das palavras Cuidei. TIREI-LHES Logo o som Por saber Que te doía, O silêncio Ficou rei... ................. Até que falemos, Um dia. A ESTES SENDEIROS Cheguei Quando eu te Conheci Ao romper Da primavera. Foram-se anos, Bem sei, Desde que o Destino Me pôs Nessa rua À tua espera. AGORA SÃO Caminhos Paralelos, Nisto, naquilo, Talvez em tudo, Sei lá, Tu estás Do outro lado E eu não te vejo Por cá, Na rua Da poesia Que logo ficou Deserta Quando te Foste embora Dessa forma Inesperada... .................. Mas que o oráculo Previa, Pois a porta Estava aberta Sem fechadura, Sem nada. NO HORIZONTE Que alcanço Fica o ponto Destas linhas Paralelas, Convergimos No olhar, Mas não caminhamos Por elas Porque a vida Nos tirou Da rua Da poesia... .............. E das tuas Aguarelas.

“O Voo da Magnólia”. Detalhe.
OLÁ
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Evocação de uma Magnólia”. Original de minha autoria para este poema. Março de 2021.

“Evocação de uma Magnólia”. Jas. 03-2021.
POEMA – “OLÁ”
PEDI-TE UM DIA Num poema Que te fiz Que me dissesses Olá. Eu ficaria feliz De ouvir a tua Voz Sussurrando O meu nome Como as águas Do rio Beijam as águas Da foz. E OLÁ TU ME Disseste, Mas rápido Como o vento Que sopra Na minha alma Quando cruzo O teu olhar E me sinto Estremecer, Não por fora, Mas por dentro, Onde sou livre De amar. BALBUCIEI O teu nome Já distante Do olá Sem saber O que fazer, Se chamar-te Até mim Ou para longe Partir, Por não saber Que fazer, Por não saber-te Sorrir. MAS QUANDO VIREI O meu rosto Vi-te de novo Austera, Muito fria E distante... ............ Ignoravas O passado Que passara Nesse instante. E, DEPOIS, Tantos olás Te pedi, Tantas vezes Te chamei, Os poemas Que escrevi, Palavras Que derramei Sabendo nada De ti, Mas sofrendo Intensamente Por tudo O que já sei, Por tudo O que perdi. TALVEZ O VENTO Te chame, Talvez esta flor Te seduza, As raízes te Comovam Ou o poema Te diga Que nunca É tarde Demais E que em seu Eco Te encontre E abrace Por sinais.

“Evocação de uma Magnólia”. Detalhe de outra versão.
VIAGEM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Espanto”. Original de minha autoria para este poema. Março de 2021.

“Espanto”. Jas. 03-2021.
POEMA – “VIAGEM”
ERA UMA VEZ Uma camélia que, Num sonho, Me encantava, Uma fada Em busca Do que eu perdera No jardim Onde morava. FLOR DE ALVURA Deslumbrante Iluminou-me A vida, Nesse instante, Na procura das raízes Que sobraram De uma estranha Despedida De dias que não Voltaram. MOSTRAVA Um inocente Espanto De me ver Assim, sozinho, De repente E por encanto, Perdido Do meu caminho. E PARTIU. Levou A luz Que o seu corpo Acendia Nesse estreito Sendeiro Onde a solidão Não cabia. DEIXOU O JARDIM, Vida adentro Por caminho Original, Era um feixe De luz À procura Do que ficara Perdido Lá no fundo, Num recife De coral. MAS ENCONTROU-TE À tona, Vagueando No mar plano Da vida Sem saber Onde ficara A tua praia Perdida. E REGRESSOU Ao jardim, Triste De não te poder Resgatar Dessa vida, À deriva Em ondas De alto mar. FOI À PROCURA De cores, Queria muitas E vibrantes, E encontrou No jardim Umas luzinhas Brilhantes, Dessa luz Que não tem fim Como a que Guia os amantes. E LÁ FOI E anda ela, Umas vezes É pura luz E outras É aguarela, Sempre À procura de ti, Levada Pela corrente, Com timidez E espanto, Por aí, Até que um dia Te encontre, Talvez triste E conformada, Aninhada Num recanto De vida Desperdiçada. DAR-TE-Á As suas cores, Regressando Ao jardim Pra de novo Iluminar A minha melancolia E ser regada Por mim Nas tardes De cada dia. CAMÉLIA Encantada No poema E na pintura... ............. Assim te vou Recriando como Fada Que me cura!

“Espanto”. Detalhe.
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Último dia de Fevereiro de 2021.

“S/Título”. Jas. 02-2021.
POEMA – “MARÇO”
GOSTO DE MARÇO, Entre a neve E a primavera, O branco e E as flores, Na fronteira Uma quimera. GOSTO DO BOTTICELLI, Dos rostos E dos corpos Feminis, Volúpia de Transparências Sensuais, Primaveris. GOSTO Da pele macia, De seda e Suave cor, Gosto Dos traços Que desenham Alvura nas "Três Graças"... ............. E no Amor. GOSTO DO BRANCO Da magnólia E do branco Da Montanha, Gosto Dessa cor que Que brilha Nos meus olhos E me acompanha. GOSTO DE MARÇO. Entrei nele Contigo, No signo do Desencontro Que se repete Num longo Silêncio fatal, Marcado Contraponto Desse tempo Imprevisto De um “triste Destino”... ........... Quase irreal. PARA TI COLHIA Flores luminosas E a inspiração Crescia Em estrofes Desenhadas Com magia, Fingindo Sentir O que dizer Não podia, Fosse só Em duas horas Ou fosse Por todo um dia. NO SIGNO Do desencontro Marcado como selo Lá vou eu Por aí, Nem sei porquê (Ou por falta de ti), De braço dado Com Botticelli, Lá em cima, na Galleria, Oráculo De arte E fantasia. SINTO-TE PERTO, Ah, sinto! Depuro A tua imagem Em bissetriz De mil rostos Até se tornar Ideia De corpo ausente: Dialéctica Animada De opostos. DEPOIS REINVENTO-A A cada instante, Abraço-a Com alma De amante, Pinto com Palavras O seu perfil Ideal E fixo-a De novo Neste meu mundo Mental. AO ACORDAR, No amanhecer De cada poema, Verei que continuas Em mim, De olhos fechados, Como se fosses Sonho do que Nunca aconteceu Naqueles dias Passados. ANDAREI Por aí (Os astros o dirão), Vagando E pousando O olhar No pólen Da beleza Sensível À procura De seiva fresca Para desenhar Poemas E dar vida Ao impossível. LÁ NO ALTO Te encontrarei, Imitação Dos dias Da criação, A construir infinito, Onde, num adeus Sem fronteiras Nem cais de partida, Hás-de desenhar Com a alma As mil silhuetas Ainda inacabadas... ............... Ou talvez não! MEU DEUS, Como gosto de ti, Em Março, O mês da floração Quando a magia Renasce Para renovar A vida Com a força da Paixão.

“S/Título”. Detalhe.
COR, DÁ-ME COR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Policromia”.
Original de minha autoria
para este poema.
Fevereiro de 2021.

“Policromia”. Jas. 02-2021.
POEMA – “COR, DÁ-ME COR”
COR, DÁ-ME COR,
Fico mais perto
De ti
Se vieres
Com o vento.
Cor, dá-me cor,
Que as palavras
Coloridas
Já me sabem
A cinzento.
PALAVRAS
Nunca me faltam,
Nem vivo
Na escuridão,
Ainda consigo
Cantar-te,
Com palavras
Dar-te a mão.
TENHO-AS
Que me cheguem
Para gritar
Em vermelho
O concreto
Do teu nome,
Ver-te, assim,
Tão colorida
No vidro do meu
Espelho
Sem que a tristeza
Assome.
AH, MAS A COR
Se for intensa
E crescer
Em explosão,
Se tiver
Um contraponto
Em palavras
De paixão
Que dão ritmo
Ao azul
Dos teus sonhos
De papel...
............
É tudo
O que eu preciso
Pra t’esculpir
A cinzel.
DÁ-ME COR
Que eu sou
Sensível
Ao brilho
Do teu olhar,
Sinto-o nas
Flores que
Pinto
Quando vestes
O vermelho
Com azul
Como espelho
Ou te cobres
Com as cores
Do arco-íris
Que és.
TU ÉS COR,
Gota d’água
Suspensa
No fio
Do horizonte
Beijada por
Raios de sol
Que despontam
Lá em cima
No meu Monte.
DANÇAS COM ELA,
A cor,
E com ela
Adormeces,
Por amor.
É sopro
De liberdade
Quando a vida
É um sonho
E o poema
A verdade.
EU GOSTO DE
Te pintar
Com palavras,
Onde o azul é
Mais íntimo
E o verde
Te cobre
Como manto
De primavera,
Onde o vermelho
É pranto
Sem lágrimas
De enxugar
Nem sequer
Em amarelo
Porque me tolda
O olhar.
NA COR DAS MINHAS
Palavras
Te vejo e
Te revejo
As vezes
Que eu quiser
Pois és mais
Do que um desejo
Nos poemas
Que componho
Sobre um rosto
De mulher.
EU GOSTO
Da tua cor,
De me confundir
Com ela,
Dançá-la
Como vida
Em explosão,
Fogo de artifício
Que embriaga
Os sentidos
Como se fosse
Vulcão...
EVOCO
O poeta
Que pedia
“Mais luz!”
Já em seu leito
Fatal...
Tinha luz
Dentro de si,
Mas a cor
Já não entrava
No portal.
ERA CINZENTA
A cor
Que lhe restava
Até ao escurecer
Quando a janela
Se fechava
Ao seu desejo
De ver.
LUZ É COR,
Desperta da
Letargia,
Ressuscita
Do torpor,
É cântico,
É utopia,
Chilreio de
Passarinho
Que anuncia
Os meus voos
Aos azuis
Com que te
Pinto
E afago
Com carinho.
MAS A PALAVRA
Fascina,
É com ela
Que te canto
E leio
Na tua alma.
Na cor, tua
Roupagem,
Danço, sim,
E voo
Em liberdade,
Mas na palavra
Suspendo
O frémito
Dos meus sentidos
Para melhor
Te sonhar
Por todos os dias
Perdidos...
..............
À deriva
No teu mar.

“Policromia”. Detalhe.
CHÃO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Luz na Montanha”.
Original de minha autoria
para este poema.
Fevereiro de 2021.

“Luz na Montanha”. Jas. 02-2021.
POEMA – “CHÃO”
DESCESTE,
Não sei bem
De onde.
Cravaste raízes
Profundas
Neste meu
Sagrado chão.
AO LONGE,
Lá na montanha,
Surge, do nada,
Incandescente,
Um clarão.
São os meus olhos
Que te iluminam...
..............
Ou talvez não.
NUNCA VI
Chover do céu
Tanta luz...
.............
E no chão
Que sempre piso
Tão delicada raiz
Que cresce
Dentro de mim
E, suave,
Me conduz
Como quando
Me sorris.
ESTA LUZ
Que lá do alto
Ilumina
É magia,
É milagre,
É fogo
Que me fascina
Neste meu
Entardecer...
.............
Faz-me voar
Para ti
Apenas para
Te ver.
MAS NAS RAÍZES
Que crescem
Por dentro
E por fora
Como rendilhado
Neste meu chão
Seminal
Fica presa
A minha alma
Como se fosse
Prisão...
....................
Por pecado capital.
ELEVA-SE NELAS
A geometria
Perfeita de um
Monólito
Sideral
Para te invocar
Em ritual
De montanha
Onde possas
Renascer
Como a divindade
Da chama.
A MAGIA
Deste chão,
Despertada pela luz
Que vem lá
De cima,
Do alto,
Devolve-me
A liberdade,
Acende-me a fantasia,
Põe-me a alma
Em sobressalto
E o corpo
Em euforia...
ENTÃO, CANTO
Então, danço
Neste chão
Que é só meu,
Dou asas
À fantasia
E a fronteira é o céu.

“Luz na Montanha”. Detalhe.
“UM SONHO NA MINHA ALDEIA”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Rua do meu Jardim”. Original de minha autoria. Fevereiro de 2021.

“A Rua do meu Jardim”. Jas. 02-2021.
POEMA – “UM SONHO NA MINHA ALDEIA”
SONHEI-TE ESTA NOITE Numa rua Da minha aldeia. Não sei porquê (Os sonhos são Sempre assim), Caminhámos Lado a lado Sem dizer Uma palavra, Sem um olhar De través, Apenas Pressentimento, Cá bem no fundo De mim, Sentindo-te No que tu és. DUAS VEZES Lá estive A sentir-te Nesse tempo Diferido Dos encontros Intangíveis Que se desfazem Nas nuvens Quando o céu É proibido E os afectos Impossíveis. MAS VI-TE Com nitidez (Um pouco baça, É certo) No silêncio do meu Sonho, Em encantada Alvura A recordar Tempo antigo Quando a neve Regressava, Branca e leve Fria e pura. FOI NA RUA DO JARDIM (É assim que eu A chamo) Em frente Da minha casa, Onde me via Passar, Sendeiro da minha Vida, A caminho do futuro Sem medo Da despedida. CRUZÁMO-NOS Por pouco tempo, Como na vida real, Nem um olhar Nos trocámos, Tão fugaz foi Este sonho, Mas intenso E vital. E SE A VIDA É sonho Também os sonhos São vida, Pois senti que, Na verdade, Sonâmbula Me encontraste Na rua De uma aldeia Nunca antes Percorrida. E AQUI ESTOU A sonhar-te Outra vez Nos versos Com que te chamo, Recordando que Te vi Neste lugar Que eu amo. É SEMPRE ASSIM, Meu amor, Quanto mais tu Te esfumas Mais me cresce Esta dor... É POR ISSO Que te sonho, Pra desenhar O teu rosto Com palavras De poeta Que afunda No desgosto. MAS DE TANTO TE DIZER Acabei por Te encontrar Na terra Onde nasci, Onde a neve Derretia Quando o sol Já despontava E o manto Da saudade Logo de dor Me cobria. AGORA A NEVE És tu, Fugaz que foi A passagem No chão incerto Da vida, Como a brancura De outrora De saudades Me doía Em cada fatal Despedida. E SE EU TE Encontrar Talvez de novo Te sinta Qual cintilante Magia... .............. Terei então A certeza, Branca e leve Pura e fria, Que recriei Essa ausência Para nunca Te perder, Como a neve Da minha rua Que não há sol Que a derreta Na penumbra Da memória... ................. Que, no sonho, É como a tua.

“A Rua do meu Jardim”. Detalhe.
VÃ UTOPIA
Poema de João de Almeida Santos. À “desgarrada” com Manuel Bandeira (1886 -1968), inspirado em três poemas seus: “Desencanto”, 1912; “Versos escritos na água”, s.d.; “Renúncia”, 1906. (Obras Poéticas. 1956. Lisboa: Minerva, pp. 33, 40 e 101). Ilustração: “Cascata”. Original de minha autoria. Janeiro de 2021.

“Cascata”. Jas. 01-2021.
POEMA – “VÃ UTOPIA”
“OS POUCOS VERSOS QUE AÍ VÃO, Em lugar de outros É que os ponho. Tu que me lês, Deixo ao teu sonho Imaginar como serão.”
E OS MUITOS Que eu te dei Deixam claro O que sou. Se tu me leres Saberás que Não errei Mas que foi pouco Do muito Que agora Eu te dou.
“NELES PORÁS TUA TRISTEZA Ou bem teu júbilo, E, talvez, Lhes acharás, Tu que me lês, Alguma sombra De beleza...”
BELEZA, SIM, E algum sentido, Tristeza e dor Como castigo, Por isso eu canto O que perdi Pra que o verso Vá ter contigo Lá onde estejas, Queira o vento Ser meu amigo.
“QUEM OS OUVIU NÃO OS AMOU. Meus pobres versos Comovidos! Por isso fiquem Esquecidos Onde o mau vento Os atirou.”
NÃO OS AMOU, Mas eu bem sei Que é verdade Este amor Que aqui nasceu E que cantei Em liberdade Em versos Que o vento Leu E te levou Para matar A saudade... ........... Pudesse eu Salvar-me, assim, Do que não sou, Libertar-me Do silêncio Que me invade. OUTROS FARIA Se pudesse Para os pôr Na tua mão, Não pediria que Os sonhasses, Olhos cerrados, Mente desperta, Mas que os lesses Com afeição. AH, MANEL, Que bem me sabe Pôr minha dor Em poesia, Em palavras A emoção, No cantar Triste alegria Por ser intensa Esta paixão Mesmo que seja Vã utopia. DIZES TU Em poesia Que só a dor Te enobrece. E dizes bem, Meu bom poeta, Alma dorida Logo me aquece E com meus versos Entretece O que a paixão Já tanto afecta.
“A VIDA É VÃ COMO A SOMBRA QUE PASSA... Sofre sereno e de alma Sobranceira, Sem um grito Sequer tua desgraça. Encerra em ti Tua tristeza inteira. E pede humildemente A Deus que a faça Tua doce e constante companheira...”
POIS TENHO MEDO (Eu te confesso) Que a dor Me passe, Perca o poema Sua raiz, Essa, sim, A verdadeira (Sua matriz), E fique só Já sem palavras E caiam secas Todas as rosas Que me povoam Esta roseira. SOBRAM ESPINHOS, Ferem-me a alma, Saem meus versos E cai o sangue “Gota a gota, Do coração”, “Volúpia ardente” Já sem remédio “Eu faço versos Como quem chora” E chamo a dor A toda a hora E ela vem Por compaixão. AH, POETA, Ah, meu irmão, Tu fazes versos “Como quem morre” E eu procuro Neste meu canto A sua mão. TU, MANEL, És a bandeira E ela O meu refrão, Pra mim és verso No meu poema E ela é, Neste meu peito, Uma paixão.

“Cascata”. Detalhe.
A AGUARELA
Poema de João de Almeida Santos, inspirado no poema de Manuel Bandeira “Tema e Variações”. Ilustração: “O Retrato”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2021.

“O Retrato”. Jas. 01-2021.
POEMA – “A AGUARELA”
SONHASTE, MANEL, Que havias sonhado Estar à janela, Sonhando, a cores, Que estavas com ela. TAMBÉM EU SONHEI Que tinha sonhado E que no sonho A tinha encontrado, Passando por ela, Ali, lado a lado. MAS, QUANDO ACORDEI Do primeiro sonho, Sonhando, eu vi O seu rosto belo Numa aguarela Pintada a cores Que tinha guardado Para uma tela. SONHEI, OUTRA VEZ, No segundo sonho, Que era pintor, Mas que pintava Sempre o seu rosto A uma só cor. DIZIA, SONHANDO, Que não podia ser, Seu rosto expressivo Era arco-íris Ao amanhecer E era sorriso Para o mundo ver. MAS EU SÓ O VIA Com a minha cor, Esse rosto belo De seda tecido Que me seduzia No sonho sonhado Onde sempre a via, Ali, a meu lado. NÃO QUERIA ACORDAR Do sonho feliz E nele fiquei De olhos fechados. JÁ NÃO ACORDEI Do sonho sonhado Porque nessa cor Fiquei encerrado Com todo o meu ser... ................... Talvez por amor. NO SONHO OLHEI Para o meu espelho E logo eu vi Que essa minha cor Era o vermelho. E QUANDO ACORDEI Do primeiro sonho Voltei a sonhar Que desvanecia Nesse rosto amado E logo lhe disse, No segundo sonho, Que a tinha sonhado. DISSE-ME QUE NÃO, Que nunca me vira Sequer acordado... ................. E logo acordei Desse pesadelo Que me deixara O peito Esmagado. FOI ASSIM QUE VI Que tinha sonhado E que ela Já lá não estava, Ali, a meu lado. QUIS ADORMECER Para a encontrar Mas não consegui Sonhar que a via, Pôr os olhos nela, Chorar de alegria Porque descobri Na minha parede Aquela aguarela Que do sonho Passado Eu já conhecia: Era o rosto dela.

“O Retrato”. Detalhe.
ENCONTRAR-TE NUM POEMA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “La Diseuse”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2021.

“La Diseuse”. Jas. 01-2021.
POEMA – “ENCONTRAR-TE NUM POEMA”
ÀS VEZES Perco-me Em ti Quando te sonho No poema, Ondulas Entre tristeza E doçura Nos teus dias Mais incertos, Em momentos De ventura, Na fronteira Do dilema. SE ÉS TERNA, Eu estremeço Porque enleia, O teu olhar, Olhos castanhos Despontam No suave Amanhecer Quando em surdina, Vibrando, Partilhas Esse teu Acontecer. CONTEMPLO A tua imagem, Beleza Intermitente, Por instantes Muito breves, Mas logo regresso Ao murmúrio Sedutor, Encanto Tão inocente, E a tão meiga Ternura Que me afaga Com pudor. O TEMPO Corre sempre Contra nós E eu corro Contra ele Pra que a saudade Não chegue Antes de a partida Soar E em meu rio Desague Para logo Transbordar. VIVO No intervalo Do desejo De onde te ouço Dizer Que não há Excesso de tempo Neste efémero Viver, Destino Que te domina E me impede De te ter. MAS PERCO-ME No brilho Desses teus olhos, Bem cedo Pela matina, À procura Dessa cor Que logo assoma Bem viva Quando o sol Te ilumina. SINTO CALOR No meu peito E procuro o teu Regaço Pra que me vejas Por dentro No poema Que te canto E que ouves com Ternura Como se fosse Abraço. EU GOSTO Da doçura que te Invade Quando recusas O mundo Que te atropela Nas curvas Da tua vida Para sentires Com a alma O poema Que te deixo Quando chega A partida. AH, COMO GOSTO De te sonhar Dizer-te Em poesia... ........... É encanto, É prazer E é mistério... ......... É a vida Em sinfonia!

“La Diseuse”. Detalhe.
A CARTA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Melancolia”. Original de minha autoria. Janeiro de 2021.

“Melancolia”. Jas. 01-2021.
POEMA – “A CARTA”
DIZEM-ME Que vagueias Por aí, Incerta, À procura de ti, Sem saber Que te vais Perdendo Nas rotinas Inventadas Dos teus dias. SENSÍVEL À incerteza Do teu caminhar, Inundei-te Com rios De palavras Sedutoras, Setas falhadas Ao coração Do silêncio Que te cobre O rosto... ................. Para te resgatar. SEI QUE VIAJAS Cada vez mais Para dentro de ti, Aninhando-te Nessa melancolia Sem fundo Que sempre Me cativou. E DIZEM-ME Que quanto mais Te resguardas Na sombra De ti mesma Mais procuras Ver tudo Sem ser vista, Seguindo, Invisível, O meu rasto Desenhado Ao longe Na neblina Que se esfuma E dilui Lentamente No frio Horizonte Da Montanha Sagrada. E ATÉ O VENTO Que sopra Lá do alto Me segreda: “Curiosa de si, Abre De par em par As janelas Das tuas estrofes, Ar puro Que respira, Esse canto De sereia Que finge Não ouvir, Procurando Decifrar As tuas ondulações De alma No muro Das lamentações Poéticas”. EU SEI BEM Que te cobres Com o véu Escuro Do silêncio Para te resguardares Do olhar Indiscreto da vida Sobre ti. MAS A VIDA, Meu amor, É fugaz, O tempo passa E deixa marcas Indeléveis, Sulcos profundos Que só o futuro Desvelará Porque o passado Fica inscrito Num destino Que só conhecerás Ao virar Da esquina da Tua vida, Onde só o passado Brilhará Como futuro. AH, SIM, O reencontro Acontecerá Nesse momento, Quando eu Já só for Um sinal Impresso, A branco e negro, Uma vaga memória Escrita Perante teus olhos Húmidos De me terem Perdido Sem saber Porquê ............... Ou simplesmente Como inútil Expiação De um pecado Que nunca Aconteceu. ESTAREI LÁ, Sim, Nesse destino À tua espera Para te dar Conforto, Aninhado Nas palavras Que ainda Não sabes Declinar, As mesmas Em que vou Viajando, Invisível, Por dentro De ti À procura Da eternidade Possível, Tua e minha Salvação Da voragem Do tempo.

“Melancolia”. Detalhe.
“O PAVÃO”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Azul no Parque”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2021.

“Azul no Parque”. Jas. 01-2021.
POEMA – “O PAVÃO”
FUI AO PARQUE Do Marechal Logo ao amanhecer Num triste dia De outono Na esperança de Te ver À procura do pavão, Eram muitas As saudades, Já passara Mais de um Verão. NÃO TE ENCONTREI Por ali, Mas logo vi O pavão, Sozinho, Também triste Como eu (Ou talvez não), Pois nele Reconheci As cores vivas Desta minha Solidão. PORQUE É Tão belo O pavão? Exibe-se Altaneiro E é assim Que seduz, Enche-me A alma De cor E inunda-me De luz. AH, O PAVÃO, Esse seu Porte austero Estremece-me Na alma E gela-me De emoção Porque te chama À memória E me afunda Sem perdão. MAS SEGUI-O, Nesse dia, Parque fora No silêncio Luminoso Dum despertar De aurora. FOLHAS CAÍDAS No chão, Tapete da Natureza, Acolhiam O nostálgico Passeio Do poeta E do pavão, Num vaguear D’incerteza. NESSE JARDIM Do simbólico Encontro A beleza Despontava Em seu ritmo Natural, Passos lentos E cuidados, Pose austera, Altivez, Um singelo Ritual Que vivi Com timidez Junto ao pavão Matinal. CAMINHEI COM ELE Horas a fio, Lado a lado, Sem destino, Procurando O teu rosto Num eterno Desatino Que sempre Acaba Em desgosto. JÁ NO ALTO De um muro, Oráculo, Arte pura, Aparição... ............ Com o olhar Lhe perguntei Qual a cor Da tua alma Nos jogos De sedução. COM POSE ALTIVA, Rigor E perfeição Logo exibiu Esse azul Tão luminoso Onde sempre Se esfumam Os traços Da tua mão... ................. E logo o encanto Surgiu Com teu rosto Espelhado Nas cores vivas Do pavão.

“Azul no Parque”. Detalhe.
SEGREDO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Porta” Original de minha autoria. Dezembro de 2020.

“A Porta”. Jas. 12-2020.
POEMA – “SEGREDO”
EU PINTO E CANTO O meu destino, Sonhos velados, A minha vida, Procuro a chave Do meu futuro E não a porta Da despedida. POR ISSO CANTO Como os pássaros, Voo mais longe E com mais cor Porque no céu Há mais azul E nos meus sonhos Há menos dor. ERA SEGREDO Não revelado, Se o dissesse Não deveria Porque dizê-lo Era pecado E certamente Até mentia. E NÃO O DISSE, Mas eu pequei Com um murmúrio Apaixonado Em poemas Tão inocentes Que foram alvo De um julgado. POR ISSO VOO Sempre mais alto, Trepo nas cores Pra lá chegar, O céu azul Dá-me alento Para assim Poder voar E meus segredos Nas nuvens Brancas Em liberdade Ir dissipar. LEVO PALAVRAS Comigo, Procuro inspiração, Levo cores Para o abrigo, Alimento Da minha arte E seiva pura Desta paixão. EU CHAMO MUSAS E tudo o mais E quando parto Lá para cima É sempre festa No nosso cais. LEVO-TE A TI Em fantasia E deste jeito, Levo-te sim, Para que sinta Lá bem no alto Ar rarefeito E menos peso Nesta dor Que cai em mim. EU CANTO E PINTO Por tudo isto, Pra resgatar O meu pecado De exaltar Esse teu rosto, Iluminar Em aguarela Esse enleio Do meu olhar Por te ver Na nossa rua Debruçado Na tal janela E com vontade De te pintar. POR ISSO EU CANTO, Por isso voo Por isso subo Lá para o alto, Já não os vejo, Já não os ouço E já não vivo Em sobressalto. MAS VEM COMIGO, Eu dou-te asas No infinito, No céu azul Voamos juntos A um só tempo E o nosso rumo Será o sul. VÁ, VEM COMIGO, Voa mais alto, Ah, meu amor, Se tu vieres Eu já não sofro E vai-se embora A minha dor.

“A Porta”. Detalhe.
O POETA E O VENDAVAL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “História de uma Janela". Original de minha autoria (inspirado em fotografia da autoria de Dulce Guerreiro). Dezembro de 2020.

“História de uma Janela”. Jas. 12-2020.
POEMA – “O POETA E O VENDAVAL”
VÊS OS DESTROÇOS Desta janela, Meu amor? Foi o vendaval, O vento zangado Que passou Numa tarde Aziaga De um frio dia De inverno... ............... Uma infeliz e Rogada praga Que o levou Ao inferno. ERA A JANELA Da sua vida, Olhava-te dela Quando passavas Na rua dos seus Encantos, Dali voava Para a terra De ninguém, Tendo-te por Companhia, Indo sempre Mais além Em busca de Utopia... NELA DESENHAVA A cores De incontida paixão A tua silhueta Delicada, Teu perfil Em contraluz, Como sombra Encantada Desse rosto Que ainda O seduz. JANELA, A sua casa, Banhada Por luz intensa E flores De aromas Inebriantes, Uma eterna Primavera, Jardim Onde crescia O desejo, De ti sempre À espera, Lugar de sonhos, Berço de poesia, Porta aberta Para o mundo, Templo De alquimia. FICARAM Apenas ruínas, Um rasto De memórias quentes, Cores desbotadas, Mãos que pedem Ajuda, Silhuetas Inacabadas, Uma criança A nascer, Mulher que Espreita o futuro Em incerto Amanhecer, Estranhos pássaros Que sopram vida, Figuras Que renascem Das cortinas, Um estranho mundo Que desponta Desta janela Em ruínas. MAS O POETA Resiste, Armado de fantasia, De palavras sedutoras, Versos, estrofes, Riscos e cor, Respirando melodia... ...................... Ajudado pelo vento Redentor, Lança mãos, Num certo dia, À história Interrompida Nas ruínas Desse amor Em vendaval Para recriar O templo Que perdeu Com a arte De jogral. E VOA E continua a voar, Passa pela janela E sobe ao Monte Para cantar O que em si Lhe sobrou dela E assim a recordar.

“História de uma Janela”. Detalhe.
“SOLIDÃO”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fantasia”. Original de minha autoria. Dezembro de 2020.

“Fantasia”. Jas. 12-2020.
“Os poetas são impudentes em relação às suas vivências: exploram-nas” (Die Dichter sind gegen ihre Erlebnisse schamlos: sie beuten sie aus) "O que se faz por amor acontece sempre para além do bem e do mal" (Was aus Liebe gethan wird, geschieht immer jenseits von Gut und Böse). Nietzsche, Jenseits von Gut und Böse (Para além do bem e do mal), 1886. Sprüche und Zwischenspiele: 161. 153.
POEMA – “SOLIDÃO”
PERGUNTEI AO POETA Sobre a minha Solidão... ........ E sabes O que me disse? Que ela tem Sete véus Pra que ninguém Atravesse O sagrado Do seu halo... .................... Um oásis no deserto, Confessou. PERGUNTEI-LHE Pela dor Que me resta (E eu afago) Deste amor Que me veio Ao encontro Como amarga Dádiva do céu, Um sabor Muito intenso A algo que não É meu... E SABES O que me disse? Se já não tens Alegria Para encantar Quem tu amas Resta-te a dor, Sobra-te solidão Em humana Eternidade... .............. E uma longa Evasão Para cantar A saudade. MAS DISSE MAIS. Não a procures, Não lhe fales Nem a vejas A não ser como Poeta Nesse intervalo Da vida Que te torna Intangível Como pura Silhueta. FINGE Que não é ela (A que vês lá Da janela) O destino do teu Canto, Sobe às nuvens Pelas linhas Do seu rosto e Põe asas No seu nome, Mas finge (Como poeta) Para que não Reconheça A paixão Que te consome. E SE UM DIA Teus olhos Pousarem nela Finge outra vez, Finge que Não a vês, Que estás ali Por acaso, Como se fosse À janela, Que o destino Te levou Para fora Do seu mundo A satisfazer Um desejo Que resgate A solidão. PERGUNTEI, De novo, Ao poeta Sobre esta solidão Que cresce dentro De mim... E SABES O que me disse? Que também ele Ia nu, Viajando nas estrelas, Com asas De sete véus, Transparentes Como ar, Mergulhando no azul Para ver se A cantava, Sentado no horizonte, Tocando o infinito, Lá onde mais A amava. QUERO SER Como falou Zarathustra, (Sussurrou) Que da paixão Saia virtude, Dos demónios Nasçam anjos, Da solidão Liberdade, Que na dor Cresça alegria Cada ano E cada dia, Enquanto o poeta Viver, Enquanto a possa Cantar Com o céu Por companhia. ENCONTREI, Um dia, O poeta A caminho Das estrelas. Perguntei-lhe Sobre a minha solidão. Bateu as asas E disse: Voa da tua janela, Voa Pra junto de mim Como se fosses Pra ela Com asas De sete véus Que o azul deste Meu céu Te dará Libertação.

“Atelier”. Detalhe.
À JANELA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Outono”. Original de minha autoria para este poema. Dezembro de 2020.

“Outono”. Jas. 12-2020.
POEMA – “À JANELA”
COMO GOSTO De te ver, Tão singela, Daqui, Desta janela. DIZES, Com o olhar, “Olha, voltei!”. E eu pergunto: “É mesmo ela?” O MILAGRE Desta janela Repõe Em mim O que há muito Sobrou dela. SE A PERCO, Ela renasce E cresce, Mas logo Desaparece. É um sem fim, Lembra-se, Mas logo esquece. AH, FOI ARAGEM. Soprou tão forte Sobre o seu rosto Que lhe levou A doce voz Para o sol-posto. Perdeu o norte, Caiu silêncio, Foi sobre nós. MAS PORQUE ME DURA Este sofrer Se a encontro? É dor intensa Só de a ver, Mas não magoa E dá prazer. DA JANELA, Nesse seu jeito, Vejo-a singela, Com a ternura De quem ama E nem se cura Da chama Só de olhar E vê-la... ....... A ela. PORQUE NÃO FALAS E não me dás O teu “olá!” Mais uma vez? Vem por aqui, Passa por cá, Sem altivez, Pra te dizer O que já sabes Quando me vês... .............. E faz sofrer. “MAS EU NÃO POSSO”, Tu dizes sempre Com teu olhar: “Digo-te não. Mesmo que vá Não há perdão”. PORQUE T’ESCONDES Cada teu dia? Eu não te encontro, Perco alegria... ................. Depois regressas Pra eu te ver, Para que saiba (Tenho a certeza) Que não há modo De t’esquecer. VI-TE MIL VEZES, Sempre te disse Com o olhar: “Quero-te, sim, Mesmo que fujas Quando apareces Não é de mim, Mas de um outro Que desconheces”. PORQUE TE PERDES No meu olhar, Sempre me foges, Olhas em frente Pra não me ver E assim recordas O que tu sentes Por te querer. AH, COMO GOSTO Desta janela... Se me debruço, De vez em quando, Olho pra ela, Fico feliz Por logo a ver Mesmo que saiba Que nesse instante A vou perder.

“Outono”. Detalhe.
AZUL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Paraíso”. Original de minha autoria para este Poema. Novembro de 2020.

“Paraíso”. Jas. 11-2020.
POEMA – “AZUL”
TANTO AZUL, Meu deus, O teu céu, Esse imenso mar, É espelho Dos teus sonhos, Medida Do teu olhar. O MEU É BRANCO E cintilante Para te alumiar, Gotículas De cristal Que te acendam A alma Para melhor Te guiar. HÁ UM LEVE murmúrio De nuvens Que cobre, Como véu, O silêncio Que há muito Ouço, Insistente, Bater-me À porta Levemente, Como quem chama Por mim. E QUANDO NOS SONHOS Te vejo Vestida de azul Turquesa Entro numa porta Branca E voo, voo, A perder de vista, Até ao paraíso, Deixando para trás O jardim Inacabado, Portão aberto, Escancarado, Bailéus desenhados A rigor, A preto e branco, Onde um dia Eu te vi, Meu amor, Num estranho Enlace Que nunca mais Terá fim. NOS SONHOS, (Em todos eles) Caio das nuvens Brancas Como Ícaro Ou meteorito Incandescente E mergulho No azul Para te encontrar Num arco-íris Luminoso Onde vives Vestida de todas As cores Que povoam As cidades Invisíveis Dos poetas... É NESSE TEU AZUL Profundo e Denso Que respiro O que me sobra De ti, Nos sonhos escritos E pintados Com que te vou Soletrando, Insistente, Até cair exausto Para adormecer E me sonhar De novo No regaço Da tua alma... .............. Pintada A aguarela.
O JARDINEIRO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Alquimia”. Original de minha autoria para este poema. Novembro de 2020.

“Alquimia”. Jas. 11-2020.
POEMA – “O JARDINEIRO”
TORNEI-ME BOM Jardineiro, Troquei letras Por flores, Uma Rosa vale um Verso, A Camélia Mil amores, Um poema O universo. QUANTO VALE Amor-Perfeito? Fixo-me nele, Encantado, Meus versos Tornam-se cores E aquecem-me O peito... ................ Ponho a tristeza De lado. PALAVRAS Coloridas Amaciam-me A alma Quando ela fica Em ferida, São bálsamo Que me refresca E exalta A minha vida. POR ISSO VOU Ao jardim Cobrir-me de Mil flores, Nascem versos Para mim Com palavras Que são cores. OLHO-AS Com atenção, Fixo-as Com o olhar, Toco-as Com a mão, Fico ali A pensar No que acontece Com elas Em seu lento Germinar. NADA MAIS Quero saber, Só das cores Do meu jardim Que curam Da alma A dor, O que mais Me faz sofrer, Ver-te Tão longe, assim, Saber Que te estou A perder... MAS ESSAS FLORES Não duram, É mortal a natureza, Elas perdem-se No tempo E só me resta A saudade... ............... Vem ter comigo A tristeza. NÃO APAGAM Este triste Entardecer, Mas pego-as Com esta mão Pra suas cores Eu beber À procura de Evasão. NAS FLORES Há doce seiva, Alimento Da beleza, Nas palavras Mil perfis, Quieta, a natureza, Em cada folha Um matiz E até é bela A tristeza Quando olhas E sorris. UM SORRISO NATURAL Como pétala De flor, Uma palavra, Sinal, Pérola Que sempre brilhe No meu jardim De cristal. REGULAR É o seu tempo, Um ritmo Mais do que certo, Tudo nasce E tudo morre Sob o céu A descoberto. MAS RENASCE Sempre um dia Pra dizer “Aqui estou”, Natureza é alquimia Que me diz Pra onde vou. POR ISSO SOU Jardineiro, Com flores Aprendo sempre, Leio-te a alma No jardim, Pois natureza Não mente. TROCO LETRAS Por flores Mas às palavras Dou rima, No jardim Nascem amores Porque a beleza Aproxima.

“Alquimia”. Detalhe.
COR, DÁ-ME COR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Cor”. Original de minha autoria para este poema. Novembro de 2020.

“Cor”. Jas. 11-2020.
"Donde termina el arco iris, en tu alma o en el horizonte?" Pablo Neruda
POEMA – “COR, DÁ-ME COR”
COR, DÁ-ME COR, Fico mais perto De ti Se vieres Docemente Com o vento. Cor, dá-me cor Que as palavras Coloridas Já me sabem A cinzento. OU TALVEZ NÃO. Palavras Nunca me faltam Nem vivo Na escuridão, Ainda consigo Dizer-te E com elas Dar-te a mão. TENHO-AS Que me cheguem Para cantar Ao vivo O concreto Do teu nome, Ouvir assim O teu eco Quando a tristeza Irrompe E esta dor Me consome... AH, MAS A COR Se for intensa E nascer Por explosão, Se tiver Em contraponto Palavras De emoção Que dão ritmo Ao azul Dos teus sonhos De papel... ................. Ah, sim, é tudo O que eu preciso Pra te esculpir A cinzel. DÁ-ME COR Que eu sou Sensível À luz fulgente Do teu olhar, Vagueio nas Flores que colho Quando vestes O vermelho, A cor viva Com que brilhas No cristal Do meu espelho... ............... Ou te cobres Com o manto Do arco-íris Que és. AH, TU ÉS COR, Gota d’água Suspensa No fio Do horizonte, Iluminada De ouro Pelo sol Que já desponta Lá em cima, No meu Monte. DANÇAS COM ELA, A cor, E com ela Adormeces... .......... Por amor. É sopro Da tua alma Quando a vida Se faz sonho E lá no alto Do céu Logo te cobres De azul... MAS EU GOSTO De te pintar Com palavras, Onde o azul é Mais quente, O verde Esse teu manto E o vermelho Emoção Nos poemas que Te canto Com paixão... ............... Vibra o verso Em amarelo Dói-me o peito De amor E já treme A minha mão. É NA COR Destas palavras Que te revejo As vezes Que eu quiser Pois dou corpo Ao desejo Nos poemas Que fizer. CADA VEZ MAIS Gosto de cor, De me confundir Com ela, Dançá-la Como vida Em efusão, Fogo de artifício Que embriaga Os sentidos Como lava de Vulcão... EVOCO O Poeta-Mestre Quando pedia “Mais luz” Já no seu leito Fatal. Tinha luz Dentro de si Mas a cor Já não entrava No portal. Era cinzenta E ténue A cor Que lhe restava E logo escurecia Quando a porta Se fechava... LUZ É COR, Desperta da Letargia, Ressuscita Do torpor, Celebra vida Com magia, É canto, É alquimia, Chilreio de Passarinho Que anuncia O meu voo Aos azuis Que por lá pintas Como se fossem Meu ninho. AH, SIM! Mas eu gosto É de palavras, Foi com elas Que te vi Nas letras Que desenhei, Os rostos Que descrevi, Emoção Que não calei. E TU CABES Em quatro letras Quando teu Nome Tem sete E me sabe A Primavera No meu Jardim Encantado Onde tudo Me fascina Porque a beleza Impera E eu fico Apaixonado...

“Cor”. Detalhe.
“ENCONTREI-TE LÁ EM CIMA, NO MONTE”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração:”Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Original de minha autoria para este poema. Novembro de 2020.

“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Jas. 11-2020.
POEMA – “ENCONTREI-TE LÁ EM CIMA, NO MONTE”
“Tu prima m’inviasti / verso Parnaso a ber ne le sue grotte, / e prima appresso Dio m’alluminasti”. Dante Alighieri. Divina Commedia. Purgatorio. Canto XXII, 64-66.
PERDI-TE Porque, afinal, Nunca Te abracei, Numa praça, Numa rua, Num jardim, Em lado algum, Eu já nem sei... MAS ABRACEI-TE No Parnaso, Lá em cima, Com palavras Em forma de poema, Enredado nas Mil cores Do jardim encantado Da tua alma. VESTIDO DE COR Senti-me Afagado No meu canto, Umas vezes Um pouco triste, Outras Em sufocado Pranto Por não ter O teu corpo Junto a mim, Por não te ter A meu lado. SIM, ENCONTREI-TE No Parnaso, No Monte Da luz divina, No Monte Da branca neve, Cristalina, E, abraçado a ti, Eu vi lá do alto A costa E o mar, Vi com nitidez O meu mundo Interior E como te devo Amar, Aprender A sonhar-te Em azul, A tua cor E, lá no alto, Voar... A NEBLINA Cobria-te Para te vestir E refrescar A alma Como chuva De palavras Húmidas Caídas do meu Céu Enublado E triste. EU NÃO ERA MAIS Que um espelho Que te devolvia Fantasia Contra a Petrificação Que espreitava Nos olhares Indiscretos E volúveis Que te espreitavam Em cada dia. MAS TU NÃO ME VIAS. Em mim, Especulavas (Dizias), E eu, espelho Da tua alma, Gastava assim Os meus dias... E DE TANTO Em mim Te reveres Declinaste O espelho que Começava A embaciar-te A alma... E NÃO ERA Da neblina Que te envolvia, Mas dos desenhos Que tuas mãos Esboçavam Nesse espelho Já húmido De ti... ............ E da minha Fantasia. DESPEDISTE-TE Do Monte, Desceste Em desconforto Sob os olhares Das mil górgones Que ameaçavam Petrificar-te No caminho Para o vale... .............. E sucumbiste. Ou talvez não... JÁ SÓ, NO MONTE, Disse: "De tanto te reveres Em mim Ficou-me, de ti, O repetido reflexo. E sabes o que Brotava Quando te olhavas Na minha superfície Luminosa? Beleza, Toda a que me sobrou Quando, triste, Desceste o Monte E a tua melodia Me faltou.” MAS TEU ROSTO Não petrificará Porque ficou Guardado No meu corpo Vítreo Onde todos Se revêem Sem saber Que no reflexo Levam, gravada Em transparência, A tua imagem... ................ Embaciada. E POR CÁ FIQUEI, Espelho do mundo, A olhar para O espaço Sideral À espera Que um cometa Me alumie o caminho Para ta devolver como Teu reflexo Original...

“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Detalhe.
O POETA QUE SE FEZ PINTOR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Evocação de um Arbusto em Flor”. Original de minha autoria. Novembro de 2020.

“Evocação de um arbusto em Flor”. Jas. 11-2020.
POEMA – “O POETA QUE SE FEZ PINTOR”
O POETA BRINCAVA Com suas palavras, Cantava o amor Porque a desejava... ERA UM POETA, Era fingidor, Não a desenhava, Cantava-lhe A cor. SUAS CORES Eram palavras, Fazia pincel Da sua caneta, O poeta riscava, Mas a sua tinta Já não era preta. POR ISSO COMPROU Um belo pincel E pintava, Pintava... ............. Era a granel... .............. E a sua tela Deixou de ser O velho papel. DESCOBRIU A COR, Que o fascinou: Azul, vermelho E tanto amarelo... ................. Tudo ele pintou, Procurando sempre O que era belo. ATÉ QUE O ENCONTROU Na cor dos seus Olhos, Era luz da pura Que iluminava O novo papel Onde desenhou O seu fino rosto Com o seu pincel. DESCOBRIU AS CORES Com que a dizia, As suas palavras Tornaram-se riscos... .................... Mais que poesia. PINTAVA ASSIM E os seus poemas Já não lhe chegavam, Pintor de palavras, De cor as compunha E versos voavam No azul do céu... ................... “E o que tu fazias Faço agora eu (Dissera-lhe um dia), Porque sou poeta Mas também pintor". "DEIXASTE-ME SÓ, Entregue à palavra, E eu, Tão pobre de ti, Pintei-me de dor". "MAS EU FAÇO DELA O meu arco-íris Pra subir ao céu A ver se t’encontro Atrás duma cor Pintando o teu rosto Para um poema Que vou escrever Com todas as cores Que trago comigo Enquanto viver”. O POETA BRINCAVA Mas era séria Essa brincadeira, Perdido em palavras Encontrou a cor E nos seus poemas Dela fez bandeira...

“Evocação de um Arbusto em Flor”. Detalhe.
TEU CORPO DE CRISTAL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Reflexos” Original de minha autoria para este poema. Outubro de 2020.

“Reflexos”. Jas. 10-2020.
POEMA – “TEU CORPO DE CRISTAL”
AGORA VEJO-TE Ao perto, Despida, Cada bago Me seduz Como cristal, Refracção Da luz Que desce Sobre ti E me atinge O olhar Como raio Fatal. CEGO De tanta luz, Entrevejo-te Num clarão, Multidão De cristais Que brilham E desafiam, Vermelho rubi De todas as paixões, Espelho de Alma Deslumbrada Que vive de Ilusões. MAS ÉS ROMÃ E faço o caminho Ao invés Pra te encontrar Ao alcance Da minha mão, Poder colher-te, Fazer caminho Contigo, Do inferno À primavera, Do fogo ardente Ao vicejar Dos campos, Aos frutos Da nossa terra Onde o teu Poder impera. ÉS DEUSA, SIM, Imortal, Teu corpo É cristal Que brilha No templo de Salomão E me convida A entrar Nessa bela Catedral Guiado por Tua mão? SAÍSTE DE TI E agora és Semente Múltipla Do futuro Que há-de vir, Deusa Da fecundidade, Do amor E da paixão A celebrar No fogo Ardente Desse teu lar Onde os bagos Do teu ventre São como Lava De vulcão.

“Reflexos”. Detalhe.
TENTAÇÃO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Cristais”. Original de minha autoria para este poema. Outubro de 2020.

“Cristais”. Jas. 10-2020.
“¡Quién fuera como tú,
fruta, / todo pasión
sobre el campo!”
Final do poema de
Federico García Lorca
“Canción Oriental” (1920),
dedicado à Romã.
POEMA – “TENTAÇÃO”
INQUIETO, Como sempre, Vi-te por dentro Depois de te ter Cantado Por fora, Feliz, Mas triste, Assim... ................... Como quem chora... CONTEMPLEI Teus cristais, Vi cintilar A tua alma E logo te pintei Por dentro, Sem mais, Numa tarde Leda e calma. E CEDI À TENTAÇÃO De te oferecer Aos lábios Da minha amada, Ao compromisso Fatal, Para que ficasse Enleada E se tornasse Imortal. MAS ELA É Concha fechada, Seus cristais São ouro negro, É mistério Bem guardado, Silêncio É o seu lema Porque dizem Que é dourado. MAS PARA MIM É ROMÃ. Quando a chamo Ao meu canto E a pinto De alma cheia Floresce No meu Jardim Como em ilha Encantada Nasce o canto Da sereia. NUNCA TOCOU Teus bagos Nem os comeu Como eu queria Para a ter Eternamente Cada noite E cada dia. POR ISSO TE PROCUREI, Meu fruto De tentação... És alimento Dos deuses E de Kore A perdição. TALVEZ ME ACENDAS O estro E a vontade de rimar Pois silêncio Não é d’ouro Quando o sorriso Me falta E não a posso Cantar.

“Cristais”. Detalhe.
ROMÃ
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Outubro de 2020.

“S/Título”. Jas. 10-2020-
POEMA – “ROMÔ
ROMÃ DOS CRISTAIS Vermelhos E cristalinos Que se aninham No seu ventre, Sabor acre Como acidulados Citrinos, Meu alimento de Sempre, Que nos une... ............ Os destinos. ROMÃ DE NOME Insinuante Que alude a cidades Ausentes E ao amor Que exala Do incerto sabor Dos bagos Da perdição, O alimento De Kore, De Hades A irresistível Paixão. ROMÃ, De onde vens? Do inferno, Da Pérsia Ou de Granada? És uma maçã Com grãos, “Melograno", Em Roma Reinventada, Cor vermelha E amarela Dos jardins Da minha amada? ÉS BELA, ROMÃ. Vou levar-te Para o meu Jardim Encantado, Para junto do arbusto, Ter mil cristais Em cada fruto, Como os beijos Que te dou Nestas palavras De amor Por deuses Iluminado. PERDI-TE QUANDO Nascias Naquele outono De longínquo Passado, Mas ficou-me Aquele arbusto Que já tinha A meu lado... VOU LEVAR-TE Para ter Junto de mim O rubor Desse teu rosto, Provar de teus Bagos O doce E acidulado Gosto... COMO GOSTO DE TI, Romã de Deméter E de Hades, Da tua cor, Das faces lapidadas De teus bagos, Da fecundidade E do amor Que em ti desperta Quando afago Com as mãos A tua pele... E a emoção Mais aperta: Um intenso E envolvente calor. VEJO-TE COMO TÍMIDA Romã, Doce, Mas acidulada E, qual Kore, Dividida, Como se cada parte De ti Não quisesse A outra Pra nada. MAS ÉS ROMÃ, A minha cidade, Meu Jardim Encantado, Presente Perfumado, Fruto da Mitologia E do amor, Filha de Deméter E da poesia, Que quero sempre A meu lado.

“S/Título”. Detalhe.
“ESCULPIR-TE…”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Aurífice”. Originais (novas versões) de minha autoria. Outubro de 2020.

“O Aurífice”. Jas. 10-2020.
POEMA – “ESCULPIR-TE”
ENTRE O BRANCO E O NEGRO Quis esculpir-te A alma Na flor que, Num acaso, Encontrei Perdida No jardim Da minha vida... ATRÁS DE TI, Ou em fuga (Já nem sei), Gastara Todas as cores do Arco-íris Que tinha Guardado Dentro de mim. SOBRARA Uma marmórea Pedra negra, Espelho oracular Onde me via Escuro na alma Por falta De cores Exuberantes Que me protegessem Do frio glacial Da tua ausência Suportada Nas longas Intermitências E contrapontos De uma melodia Inacabada. SOPREI FORTE Com a alma Desnuda E a flor Pousou suavemente Na pedra lisa E brilhante Da catedral Onde te queria Celebrar Como amante, Do oráculo Vestal. ESCULPI-TE Como filigrana De ouro preto Sobre branco-pérola, Aurífice da tua Alma sedutora No coração Alvoraçado Dessa flor Onde guardei O teu nome Gravado em letras Invisíveis. DESENHEI Alvas incrustações Em filigrana Como marcas Indeléveis Da arte Que um dia Me visitou Para te cantar. E, AGORA, A olhar para O branco e o negro Desse cântico Desenhado E esculpido, Ofereço-te Este poema Sobre pintura Imaculada Onde te celebro Com arte Minimal, Na forma E na cor, Sem fronteiras, E onde Te reinvento Em fuga: Um elegante Fio branco Que esvoaça, Livre, No marmóreo céu Do teu altar. A ÂNCORA, A sul, Desliza Suavemente Sobre ti E dilui-se, Como eu, Na negra Vastidão... EVOCO-TE, ASSIM, A branco e negro Sobre a flor Que um dia Encontrei Perdida No meu Jardim Encantado Quando visitava O impossível... ............... À tua procura.

“O Aurífice”. Detalhe.
A MONTANHA ENCANTADA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Montanha Encantada”. Original de minha autoria para este poema. Setembro de 2020.

“A Montanha Encantada”. Jas. 09-2020.
POEMA: “A MONTANHA ENCANTADA”
VÊS AQUELE ANIMAL Sagrado Lá no alto Da Montanha, Meu amor? Seus olhos Fulminantes São águias Que perscrutam O horizonte E te procuram Na vastidão Destes montes Transbordantes De cor. EU SOBREVIVO ALI, Diluindo-me nas Cores exuberantes E quentes Das encostas, Sob o azul profundo Da abóbada Sideral Que me inebria Nas vertigens De cada ritual. ASSIM TE ESPERO Em cada dia... ................ E ao primeiro Voo das águias Correrei nu por Esses campos Fora Para te ver passar Ao longe (E sem demora), Subindo o maciço Até tocares o céu Com as mãos, Numa bebedeira De azul Que te fará Levitar Sobre o meu vale Mais profundo. É A MINHA MONTANHA ENCANTADA, Refúgio de eremita Que te canta E recria Com a alma Para te levar Em poética Levitação Por veredas Verdejantes E luminosas Sem destino Ou direcção... NESTA PROFUSÃO De cores intensas Que te ofereço Uma vez mais Penso-te como Imanência, Esparsa Pelas encostas Abissais Que o semideus (Que vês Lá bem no alto) Protege Com as águias Do sagrado Planalto. VÊS PARA ONDE Te levo, Meu amor? Para o Monte De Athena, O Parnaso Que habito Por tanto eu Te amar E no poema Pintar Como sufocado Grito de dor.

“A Montanha Encantada”. Detalhe.
FANTASIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Rubor". Original de minha autoria para este poema. Setembro de 2020.

“Rubor”. Jas. 09-2020.
POEMA – “FANTASIA”
O TEU ROSTO Assomou Quando a luz Branca Irrompia No meu jardim, Num insólito Entardecer, Por entre a espessa Folhagem Do vasto e belo Jasmim... ................... E logo eu me perdi Nesse doce Acontecer Que descia Sobre mim. ASSOMAVAS Como flor Em súbito espanto, Despertada Pelo mundo, Com o rosto Em rubor Quando ouviste Este meu canto Profundo... ......... Invocar O teu amor. A LUZ ERA NEVE Derramada Sobre ti No coração da Primavera E o inverno Que te cobria Essa alma Atormentada Desceu Ao meu Jardim Encantado (Minha mágica Quimera), Nessa tarde Luminosa De um branco Imaculado. E EU FIXEI-O, Esse inverno Tão tardio, Que caía Sobre ti Lá do alto Do arbusto (Tão macio) Que me protege As cores Com que te pinto E as palavras Que te canto (Como ousado desafio). AH, ERAS MESMO TU Disfarçada De Flor Que germinou No húmus Desse Jardim E assomou ao Meu olhar Para logo Sussurrar: “- Oh, este amor Não terá fim...”

“Rubor”. Detalhe.
MUDAM OS VENTOS E MUDAM AS PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Encruzilhada”. Original de minha autoria para este poema. Setembro, 2020.

“Encruzilhada”. Jas. 09-2020.
POEMA – “MUDAM OS VENTOS E MUDAM AS PALAVRAS”
“MUDAM OS VENTOS E mudam as palavras”, Assim falava o poeta. De sinais Tudo sabia, Mas de ventos, Isso não, Sobre Éolo Nada podia. MUDAM AS VONTADES E também mudam As cores, Fortalece O desejo À procura De alimento, Tudo muda, Tudo gira E também muda O vento. O QUE CONTA São os ciclos Desta vida, Os que o tempo Desenhar Pra cada nova Partida Num eterno Movimento Como as ondas Do mar. HÁ ENCRUZILHADAS E é preciso Escolher Para logo decidir Ainda que seja Do mesmo Se não pudermos Fugir. E EU ÀS VEZES DECIDO E volto a decidir, Mas encontro Sempre o mesmo E logo volto A cair... TAMBÉM NÃO HÁ Muito a fazer Porque o vento Sopra sempre Numa certa direcção Para levar As palavras... .............. Quando sopra De feição. MUDAM OS TEMPOS Muda a vontade, Muda o vento De direcção (É verdade), Mas as cores Do arco-íris Viajam sempre Comigo Mesmo que digas Que não.

“Encruzilhada”. Detalhe.
ESTÃO CANSADAS, AS PALAVRAS…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Chorar”. Original de minha autoria para este poema. Setembro de 2020.

“Chorar”. Jas. 09-2020.
POEMA – “ESTÃO CANSADAS, AS PALAVRAS…”
LUTO CONTRA O CANSAÇO De te recriar, Aqui, Neste Jardim, Numa busca De palavras E de cores Que parece Não ter fim... AS PALAVRAS AMEAÇAM Nada dizer, Braços caídos, E as cores Já desbotam Nos cenários Coloridos. POR TANTO ME ESCONDER Atrás delas, Fingindo Nada saber, Arrisco Perder-me Neste Parnaso Onde te venho Cantando, Por certo, Não por acaso. DE NADA VALE Pedir-te Um simples sinal, A ti, Que os manejas Com mestria E sageza, Ao sabor dos teus Caprichos E de uma triste Dureza. TALVEZ ANDES Distraída Com futilidades Da vida, Mas já não sei bem Quem tu és De tão antiga Ser Esta nossa Despedida. AS PALAVRAS ESTÃO Cansadas De te procurar Com o vento Sem saber Onde pousar Nesse teu mar Tão cinzento. NÃO FOSSEM AS CORES Do arco-íris A pintar o rio Da tua vida E talvez já tivesse Procurado Outra foz Onde banhar O meu estro e Dar palco A outra voz. MAS SEI Que procuraria Sempre a tua Réplica (Que nunca Encontraria) E então regresso À memória Colorida Desta minha fantasia, Povoo-me De imagens, Construo catedrais, Afundo-me na arte... ............... E, olha, Pensa bem no que Eu te digo, Pois já não sei Em que mais, Para além deste Sofrido castigo.

“Chorar”. Detalhe.
POR UM SORRISO…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Há Vida no Jardim”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Há Vida no Jardim”. Jas. 08.2020.
POEMA – “POR UM SORRISO…”
OFERECIA-TE O mundo Por um sorriso E um terno Olhar Desses olhos Negros Onde gosto De navegar. MAS É CERTO QUE Não terei, Foi promessa Para a vida, Eu bem sei. NÃO IMPORTA, Também o mundo Não é meu Para o oferecer... .................. Ah, mas dou-te As mágicas Paisagens Do meu olhar, A incandescer, Os frutos Da minha arte, Recrio-te Em ausência, Como diz a Yourcenar, E então ficas Mais bela Que tu mesma... ............... De tanto assim Te amar. DEI-TE HÁ DIAS Um talismã Pra que te guie Na vida. Fi-la eu, A alquimia, Com essas vibrantes Cores, Luz que brilha Cada dia... ............. Como em todos Os amores. SIM, EU TENHO O mundo espelhado No meu coração, Lugar de onde Te vejo À distância E à medida De uma insólita Paixão E de um intenso Desejo... ......... Profundo Como vulcão. MAS ESSE SORRISO E teu olhar Não os terei Para melhor Te amar... ................ Como eu sei. Então canto-te Para espairecer E comigo te Levar Como sempre Desejei. TENHO-TE ASSIM, Em fantasia, Este modo De te ter Cada noite em Cada dia...

“Há Vida no Jardim”. Detalhe.
“KETROF”
Pintura (Tela, 135x100, p.a.) By João de Almeida Santos PARTILHO hoje este quadro, de minha autoria, inspirado na “Quinta do Quetrofe”. A “Quinta do Quetrofe” encontra-se na vertente leste da Serra de Famalicão (Guarda), a mil metros de altitude, com uma belíssima vista para o Maciço Central.

“Ketrof”. Jas. 08-2020.
OFEREÇO-TE UM TALISMÃ…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Talismã”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Talismã”. Jas. 08-2020.
POEMA – “OFEREÇO-TE UM TALISMÃ…”
OFEREÇO-TE UM TALISMÃ, Meu símbolo Do teu encanto, Como se fosses Irmã, Aqui, neste Jardim, Aqui, neste recanto. VOA ALTO O talismã, Procura-te, (Mas não sei onde), Tem poderes E tem magia, (Que esconde), Protege o teu Caminho Em cada nova Partida, A tua cartografia, O mapa da tua Vida. VOA, SIM, O TALISMÃ, Desenhei-o Para isso, Um sopro Forte Na alma, Lado belo do Feitiço. TEM AS CORES DO Arco-íris, Ilumina o Teu rosto, As margens Da tua vida, Tudo aquilo De que gosto... ................ Ver-te sempre Protegida. BRILHA Pela matina Com teus cabelos Ao vento, Um sorriso Em teus lábios Que acende O meu olhar Quando desperto Ao relento Do sonho De te amar. É GRANDE O seu poder E forte como o Amor, Bons auspícios Para ti, Remédio De alquimista Pra curar a Minha dor. OFEREÇO-TE O talismã, Aceita-o Com alegria, Protege O teu destino, Da vida A travessia, Um caminho Genuíno, Da alma A alquimia.

“Talismã”. Detalhe.
VALSA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Timidez”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Timidez”. Jas. 08-2020.
POEMA – “VALSA”
DANÇAREI SEMPRE Contigo, Dançarei, Uma valsa (Só eu sei) Que não tem fim... ............ Mas que não Seja castigo Esta magia D'encanto Que tomou conta De mim! NÃO ME CANSO, Nesta valsa, Não me canso... ............. O corpo nada Me diz, Eu danço A vida contigo Porque és A minha fada, Da minha alma Matriz. VÊS? É uma dança Interior, Produto da fantasia, Procuro-te Onde quiser Para contigo Dançar Esta nossa Melodia... MAS ENCONTRO-TE Sempre, Austera e Imponente, Neste Jardim Encantado, Fada Em forma de Arbusto (Bem copado) Ou rutilante Flor... ............ E por isso Te dedico Uma longa E sofrida, Mas doce E desmedida, Sinfonia Ao amor.

“Timidez”. Detalhe.
ESTRANHO, NÃO É?
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Terraço”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Terraço”. Jas. 08-2020.
POEMA – “ESTRANHO, NÃO É?”
É VULGAR SONHAR-TE Em ambiente idílico, Dirás. Sim, bem sei, Tu que nada terias De romântico Mesmo que eu fosse Um rei. MAS, FOI ASSIM Que te sonhei, Aqui, onde o céu Parece um lago E as grades são, À vista Do casario Que me veste O olhar, A minha libertação, O meu tão cantado Lar. É AQUI QUE Eu te tenho, É aqui que eu Te sonho, Que te canto E te choro, É aqui que Sobrevivo Porque é aqui Que te adoro. PINTO-TE, Sabes? Pinto o lugar Onde te vejo E te quero, Onde mais Eu já te sinto... .............. E desespero... ESTRANHO, NÃO É? É um sítio Onde só vives Sob forma De arbusto E te respiro O perfume, Adormeço Ao relento, Te sonho Com as estrelas E viajo Com o vento... ............ Como lume. SINTO-TE PERTO Quando te canto (Liberto) E me aprisiono Na ideia que De ti eu tenho E onde mais Me abandono. PERCO-ME, SIM, Nestas cores, Nestas palavras, Na minha fantasia, Enquanto tu Te perdes Num silêncio Programado, Tal como eu, Nesta minha Teimosia, Meu destino E triste fado, Tão sofrida Nostalgia. MAS EU ESCREVO E pinto Para ti, Meu amor, Alimento (Com dor) Do teu futuro Quando olhares Para trás E só vires Este meu canto (Já tão maduro) Na tua vida Porque não foste Capaz De manter A ilusão Por ti sempre Prometida...

“Terraço”. Detalhe.
UM SONHO NO MEU JARDIM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Jardim Espectral”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2020.

“Jardim Espectral”. Jas. 08-2020.
POEMA – “UM SONHO NO MEU JARDIM”
NUMA TARDE QUENTE De Verão Adormeci No meu Jardim Encantado À sombra de um Loureiro E sonhei, Pensando em ti, Que era Um jardineiro... ........... Apaixonado. MAS ERA ESPECTRAL A luz Desse jardim, Era branca, Irreal, Algo estranho Para mim Neste lugar Seminal. SONHEI-TE. Nesta estranha Visão Tudo perdera Cor, Tudo era Ilusão e Voltou O que então Eu senti Naquela tarde De outono Quando Para sempre Te perdi... ........... Uma imensa Comoção. NO SONHO, Já não te vi, A memória Perdeu cor, Mas logo Te pressenti Nesse cíclico Retorno Da minha Remota dor. NÃO ERA Deste mundo Esse Jardim, Perdera O seu encanto, O perfume Já não era Do inebriante Jasmim Nem de outra Qualquer flor Que sorrisse Para mim. MAS LOGO ACORDEI Com a brisa fresca Da noite No meu Jardim Encantado E o sonho branco E pesado Logo teve O seu fim, Despertando Uma doce Nostalgia Quando o brilho Das estrelas Do mais profundo Do céu Cobriu Este meu rosto De um cintilante Véu Como se fosse magia.

“Jardim Espectral”. Detalhe.
A FLOR DE PAPEL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fleur de Papier en Vol à la Recherche du Poème Perdu dans un Jour d’Hiver”. Original de minha autoria. Julho de 2020.

“Une Fleur de Papier en Vol à la Recherche du Poème Perdu dans un Jour d’Hiver”. Jas. 07-2020.
POEMA – “A FLOR DE PAPEL”
NUM DIA DE INVERNO Uma flor de papel Voou Para longe, Levada pelo vento. Rajadas fortes Quebraram Os subtis Filamentos Que a ligavam À raiz de onde Nascera... ............. Seu alento. CONTINUA A VOAR, Essa flor de papel, Ao sabor do vento, Pousando Aqui e ali E logo voando Para outros Destinos, Em perpétuo Movimento. PERDEU AS CORES Luminosas Que exibia E a fonte D’inspiração, A seiva De cada dia, Borboleta Sem pólen Para nova Gestação No jardim Da fantasia. MAS NUM DIA Quente De Verão (Eu bem sabia) Encontrei-a Por acaso Aninhada Num arbusto, Recolhida sobre si Em profunda Solidão. PEGUEI-A Com a mão E levei-a Ao Jardim Do meu poeta Pintor... ............. Nosso chão. DEU-LHE COR, O meu poeta, Alisou as suas rugas, Mostrou-lhe O horizonte Nesse dia de Verão E logo a deitou Ao vento, Ao encontro De raiz Que nutrisse Com sua seiva Uma nova floração....

“Dans un Jour d’Hiver…”. Jas. 07.2020.
RITUAIS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Templo Inacabado”. Original de minha autoria para este poema. Julho de 2020.

” Templo Inacabado”, Jas. 07-2020
POEMA – “RITUAIS”
IMAGINEI UM TEMPLO Revestido de vitrais, Celebrar-te Com palavras Em singelos rituais. EVOCO O tempo Em que sempre Me perdia Nesse teu olhar Esquivo... ............... E os silêncios Que sobravam Como se fossem Castigo. É O QUE RESTA Como alimento Da alma, O fervilhar De memórias, Inscrições Sensoriais, Silêncio Profundo A poético Chamamento... ............... E tudo o mais... UM FUTURO IMAGINADO De voluntário Amante, Construído Nas ruínas De um passado Que não é Muito distante. SIM, O QUE RESTA É este brilho Coado, Melancólico, Cinzento, O negro De teus olhos Inquietos E teus cabelos Fartos, Ao vento... TUDO FERVILHA Na minha sofrida Memória, Delicada criação Em palavras Com história. DOU-TE, ASSIM, Nova vida E renovo-me Também eu, Falo ao mundo Comovido De um templo Que é só meu. IMAGINEI-O, O templo, Para quando Regressar Do meu Jardim Encantado, Vibrante de cores E por fora Perfumado, Mas por dentro Melancólico e Sofrido Por te ter, Nesse tempo Já passado, Dolorosamente Perdido... ......... De tanto Te ter amado.

“Templo Inacabado”. Detalhe.
DEUSA NO MEU JARDIM ENCANTADO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Sonhei-te assim, no Poema”. Original de minha autoria para este poema. Julho de 2020.

“Sonhei-te assim, no Poema”. Jas. 07-2020.
POEMA – “DEUSA NO MEU JARDIM ENCANTADO
”SONHEI-TE ASSIM, Meu amor: Uma deusa no Jardim. Não te vendo, Recrio-te Com fantasia, Olhar Deslumbrado, Alma Devotada Que persiste Fascinada Como quando No passado Eu te via. QUE SAUDADES! Não nos gastámos Porque partiste Cedo demais. Sobrou-me De ti o melhor, Quando, ao ver-te, Estremecia, Olhos negros, Inquietos, Mistério Que seduzia. FICOU-ME A VONTADE De te desvelar Lentamente À medida Do desejo, De um forte Encantamento, Renovada Inspiração, Oráculo e Devoção E silente Chamamento. ESTA NOITE Sonhei-te assim, Amanhã Eu já não sei, Os sonhos vão Lá pra longe Ou vêm pra muito Perto, Noites longas e Profundas, Quando o amanhecer É incerto. POR ISSO SONHEI-TE Hoje, Pra te contar O meu sonho Amanhã, No dia em que Mais sinto Esta minha solidão, A ausência E o silêncio A que respondo Com poética Evasão. PROCURO-TE Na fantasia, Nos poemas, Na pintura, Nos sonhos Ou no Jardim Onde te vejo Altiva Aqui bem perto De mim. E QUANDO TE OLHO Vejo o mundo A partir desse teu Rosto, Mais belo E misterioso, Mais quente, Silencioso... CRESCE A VONTADE, O estro, A poesia, Vejo o futuro Risonho, Há uma certa acalmia Neste mundo Tão rugoso. SONHEI-TE Um dia antes Do beijo Que celebro Com a minha poesia, Ano após ano, Ao encontro da raiz Onde o poeta Nasceu Para o canto Que a dor Lhe prometeu Como pura catarsia.

“Sonhei-te assim, no Poema”. Detalhe.
ENCONTRO NO JARDIM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração – “Cai a Noite no Jardim”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2020.

“Cai a Noite no Jardim”. Jas. 06-2020.
POEMA – “ENCONTRO NO JARDIM…”
CAI A NOITE No jardim E já nem sei Se amanheces Dentro de mim. Sobras-me Em incerteza Nos sonhos Breves Em que te encontro Como se fosse Eterna Esta nossa despedida, A versão já repetida De um desencontro Sem fim. MAS À NOITE O teu perfume É mais intenso No meu Jardim Encantado, O silêncio Mais profundo, Ouço mais A tua voz Cristalina Ecoar Na minha alma, Vejo o brilho De teus olhos Ausentes Acender magnólias Brancas E sinto o vermelho Das rosas Incendiar-me O corpo. MAS ANOITECE, Meu amor, Ah, como anoitece, Vai-se o sol E a vibração dos sentidos, Recomeça a viagem Para dentro de mim, Invoco-te Com a alma E trago-te Como pétala às minhas Palavras, Olho-te por dentro Quando a melancolia Toma conta de mim Neste cíclico Anoitecer. VOU AGORA A CAMINHO Da noite, Do sonho, Do imaginário Que entra sem pedir Licença E me arrasta Na corrente Onírica para um Incerto destino Onde não sei Se habitas. E O AMANHECER É sempre imprevisível, As ondas de luz que Chegam com o sol Ameaçam As cores suaves E quentes Com que te Sonho e te pinto Na minha alma Nas noites De luar. CAI A NOITE NO JARDIM E anoitece-me Na alma, Meu amor!

“Cai a Noite no Jardim”. Detalhe.
CASTA DIVA
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2020

“S/Título”. Jas. 06-2020.
POEMA – “CASTA DIVA”
SONHEI-TE Nesta noite de Verão. Eras casta. Podias ser Casta Diva. Ou não. Casta, sim, De onde nasce O meu vinho, Milagre Da natureza, Sob forma de Mulher, Mas serás Diva também Se ao poema Te trouxer. SONHO-TE Muitas vezes, Voo contigo À procura Do passado, Mas nunca eu Te sonhei Como casta Em pecado, Trepando, Pela latada, No meu Jardim Encantado. AH, A LATADA Essa sim, Que um dia Trepou por ti Pernada acima Nesse enlace Fatal Onde me nasceu A rima, O canto Que te invoca Quando me torno Jogral. AGORA SONHO-TE ASSIM, Mulher-Rufete, Crescendo Bem alto Nas terras Do meu Jardim... ................. As voltas que O mundo dá, Neste recanto Encantado Com aroma Perfumado Da ramagem do Jasmim. CRESCES-ME Na alma Sob a forma de Enlace, Mas se agora És videira E ontem eras Jasmim, Amanhã Serás arbusto Mesmo que eu O não queira Por seres diva Para mim.

“S/Título”. Detalhe.
A EROSÃO DO TEMPO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Entardece no Jardim”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2020.

“Entardece no Jardim”. Jas. 2020.
ENTARDECE NO JARDIM, Entrevejo-te Por entre folhas De um arbusto, Ao longe, Uma imagem Desfocada... ............... O sol cai No horizonte, Vejo, apenas, Um perfil Esfumado, Nuvem cinzenta Arrastada Pelo vento Para lá desta Montanha, Meu alento, Minha fada. VIRO-ME Para dentro De mim E o meu olhar Interior Confunde-se Com o teu E já nem sei Se és tu Ou se essa imagem Um pouco baça Serei eu. O TEMPO Esculpe o rosto Na memória Dos afectos E só vejo O que de ti Me sobrou, Retrato De pouca cor Composto Ao ritmo De suspiros... ............ E tanta dor. NÃO FOSSE A POESIA E restarias Nuvem no céu Entre o azul E o branco Desta minha Fantasia, Ponte espectral Entre mim E a deusa que M’ilumina Por dentro e Por fora, Um clarão irreal Que cega E me comove... ............... Como quem chora. AH, MAS O POEMA Dá-te vida, Dá-te luz E dá-te cor, Enche-te a alma De emoção, Interpela Todo o teu ser E rompe Este minha Tão sofrida Solidão. MAS EU TEMO Encontrar-te E já não saber Quem tu és Por há muito Navegar Outras ondas E marés Tão longe Desse teu mar...

“Entardece no Jardim”. Detalhe.
A REINVENÇÃO DO TEMPO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A lua desceu sobre mim”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2020.

“A lua desceu sobre mim”. Jas. 06-2020.
POEMA – “A REINVENÇÃO DO TEMPO”
FOI INESPERADA A descida Ao vale Profundo Da tua vida, Reencontro Com o destino Que os deuses Te traçaram, Numa longa Despedida. TRILHOS NOVOS, Fim do ciclo Que corroía E já tardava... .............. Porque doía. UM RÁPIDO Bater de asas Aos ventos que Sopravam e Incendiavam O teu desejo De liberdade... ............... E o tempo Da reinvenção Aconteceu Na outra metade De ti. OS CICLOS Que a vida tem... .................. De repente, Assomam Personagens Que nos habitam E aguardam Em silêncio O dobrar de uma Esquina Para tomarem Conta de nós... É A VIDA Em sobressalto, Renascida, Ventos que sopram Forte na alma, Perfume de liberdade Que docemente Embriaga, O sorriso inocente Da criança que Desperta Para dar vida Às coisas inanimadas Que nos prendem O olhar... ............. Num luminoso Amanhecer. PRESSENTI Essa viagem, A partida Do túnel Ensombrado Do tempo, Sem bagagens, Apenas o teu corpo E a vontade De trepar pelo Mundo acima Como quem Já o respira Lá no alto Da montanha. E LOGO TE DISSE: “Nasce outro Personagem Em ti Que já se manifesta À procura de autor Que lhe reescreva O destino E o ponha em cena No teatro Da tua vida...” “VEM DAÍ, VEM, Que a vida acontece No grande teatro Do mundo Onde se viaja ao sabor Do vento E da fantasia Em levitação Sobre o vale De onde se vê A vida Do lado certo Do sonho.” “E TU, QUE PAGASTE O teu tributo, Abraça a autoria E procura esse palco Onde encenar A reinvenção do Tempo Com fantasia, A que nasce Da liberdade Que ilumina O caminho, A bússola Que já te guia.” VÁ, VEM DAÍ, Há muito Caminho para andar, Há azul No horizonte E brilho No teu luar, Há sol Na madrugada, Suave brisa No ar, Há flores No teu jardim, Água fresca Pra regar, Há mais mundo Que te espera E uma vida Para amar... ............... Vem daí, vem, Meu amor, Já nem sei Como esperar!

“A lua desceu sobre mim”. Detalhe.
ETERNO RETORNO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Encontrei-te no Jardim”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020.

“Encontrei-te no Jardim”. Jas. 05-2020.
POEMA – “ETERNO RETORNO”
SE TE VEJO
Estremeço,
Se não te vejo
Caio em
Melancolia,
Assalta-me
O desejo
De voar
Contigo...
...........
Nesse dia.
EU NÃO SEI
Como se muda
O mundo
Para te ter,
Então voo
Sobre ele
Ao sabor do vento
Pra que tu
Me possas ver.
É ESTRANHO, NÃO É?
Esta moinha
Que me consome
Porque não te vejo,
Não te ouço
E nem sequer
Te procuro
Porque sei
Que a via
Da minha arte
Me levará
A esse teu lado
Mais puro.
É POR ISSO QUE
Só te espero
Na rua
Do desencontro,
No jardim
Da despedida
Que nunca parei
De regar
Com arte
E nostalgia,
Essa forma
De te amar
Cada noite
E cada dia.
É ACASO
Ou destino
Esperar-te numa
Esquina
Das tantas
Que a vida tem?
Foi dela
Que t'esgueiraste
Na densa
Neblina
Desse teu
Quotidiano
De que ficaste
Refém.
SIM, É VERDADE,
Mas se te encontro
Nessa esquina
Que me leva
Ao jardim
Eu de novo
Estremeço,
Caio em mim,
Sinto um profundo
Torpor
E adormeço,
Pondo fim
A essa dor...
AH, MAS DEPOIS
É o céu,
Sim, o céu,
A sonhar-te
Em azul profundo
E o desejo
A cumprir-se
Nas ondas
Do nosso mar
Até que a aurora
Desponte
Para ser acometido
Por nova melancolia
E desejo
De voar...

“Encontrei-te no Jardim”. Detalhe.
QUASE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Desejo”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020.

“O Desejo”. Jas. 05-2010 .
POEMA – “QUASE”
DISSE-TE UMA VEZ Que o desejo É quase tudo E o que sobra Quase nada. RESPONDESTE Que, assim, Eu nunca Sairia de mim Pra conhecer O sabor Do quase Que sempre Sobra Do desejo Consumado. SORRI E com ternura Te disse Que é na posse Que se mata O desejo Encantado... ENCOLHESTE Os ombros, Olhaste-me De revés E foste embora Dali. FIQUEI SÓ, Com o desejo Nos braços, Nostálgico E pensativo, Quando dobraste A esquina Deste nosso Desencontro, Tão curto, Mas impressivo... RECORRI À memória Daquele instante Fugaz, Revi-te a beleza Do rosto, Expressivo E tão vivaz, Alma Estampada No corpo, Essa boca Sensual... ............ E o desejo Transbordou Das margens Deste meu Mundo Tecido De fantasia Numa bola De cristal. FIXEI-ME Na tua beleza E dei asas Ao desejo, Desenhei-te Numa tela E cantei-te Num poema (As armas Do meu poder), Cobri-te Toda de cores Para nunca Te perder. E FIQUEI-ME Por ali, A sonhar-te... .............. A matutar No destino Que cedo Me cativou Por achar que O desejo É quase tudo, Mesmo quando O mundo Te abraça E devolve Tudo o que dele Te sobrou.

“O Desejo”. Detalhe.
CONFISSÕES DE UM CONFINADO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020.

“S/Título”. Jas. 05-2020.
POEMA – “CONFISSÕES DE UM CONFINADO”
ANDO PERDIDO, Por aí, Nas tardes De Primavera, À procura de mim, Neste estranho Tempo Que aviva O que perdemos Nas esquinas Da nossa vida. NÃO ME VENDO No espelho Dos outros, Já não sei Quem sou e Onde estou. Apenas suspeito. Uma vaga ideia. FALTA-ME O MUNDO Para dar conta De mim, Mas, coisa estranha, Ele entra-me Casa adentro E devolve-me O que perdi, Mais selectivo E profundo, Apenas o que é Remoto Da cidade Onde vivi. ESTRANHO MUNDO, Este, Que escolhe Por mim O que me sobrou Da voragem Do tempo... É POR ISSO Que me procuro Para saber Se o que me Bate À porta É meu Ou se a falta De mundo Me provoca Alucinações, Sonhos ou Sombras Do que nunca Aconteceu... ENTÃO PROCURO-ME No espelho Que trago comigo, Dádiva De Athena, Olho, Volto a olhar E descubro que Afinal sou eu, O esquecido Sem abrigo, Aquele que andou Por aí No bulício Da vida, Ao sabor do vento... ............. Mas contigo. E TAMBÉM SEI Que, por isso, Nesta errância, Eu não petrifiquei. AH, COMO É BOM Saber Que, afinal, O vento Me levou Para destinos Encantados Onde contigo Renasci, Quando o tempo Trazido pelo vento Que passou Na rua da Minha vida Me bateu À porta... ............ E eu abri.

“S/Título”. Detalhe.
É ASSIM QUE EU TE VEJO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Uma Mulher”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020

“Uma Mulher”. Jas. 05-2020
POEMA – “É ASSIM QUE EU TE VEJO”
DESDE SEMPRE Que te guardo No meu peito. Fixei-te melhor Naquele dia E guardei-te Na memória Profunda Quando te vi Perdida, Por encanto, A ouvir Essa nossa Melodia. UM BRILHO QUIETO Em teus olhos, Suspensa Nas nuvens, A suave paixão Maternal, Inefável, Quando as palavras Já não chegam Para te nomear Com a alma, De tão cheia De ti, A transbordar... A MINHA AUSÊNCIA Constante E tão cortante, O preço Para ser O que mais querias Que fosse, Fazia crescer Em ti O encantamento Que tinhas Contigo Desde aquele dia, Quando te nasci E tu renasceste Comigo. AQUI SEMPRE A meu lado, Este rosto Sedutor Nunca me Despertara O desejo De o cantar Para além da Memória Remota Do afecto... PALAVRAS E melodia, O olhar Penetrante Da alma, Um canto Devotado Que tocasse Em cada dia As fronteiras Intangíveis Do sagrado. FOI PRECISO Aprender Os ofícios Da arte Pra te poder Celebrar E dizer De todas as formas Que sei O que não quero Calar. E AQUI ESTOU. Esse dia Haveria de Chegar. E chegou.

“Flores do meu Jardim Encantado”.
MARMELADA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Dança da Combustão”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2020.

“A Dança da Combustão”. Jas. 05-2020.
POEMA – “MARMELADA”
COMO GOSTO Da tua marmelada, Meu amor... ........... E gosto de Chocolates, Dos que me Sabem a ti, A esse tão doce Sabor. GOSTO DA METAFÍSICA De confeitaria Porque me adoça A alma, É nela que eu te Encontro, Nesta minha Fantasia, Quando a noite Se faz calma. SOU GULOSO, Como sabes, E como é doce E macia Esta tua marmelada, Sinto-a Como alquimia, Como arte De uma fada. COMO, COMO, Sem parar, Sabe-me Sempre a ti, Ao brilho Do teu olhar, Ao perfume Do teu corpo, Onde hei-de Naufragar. NESTA TUA MARMELADA, Eu vejo-te Artesanal, Com os marmelos Nas mãos, Sabores Em harmonia, Uma receita fatal, Polpa moldada Por ti Na dança Da combustão, Cor intensa E profunda, Iguaria De convento Com teus frutos Em fusão. TALVEZ A TENHAS Criado Em tempo De quietude Ou mesmo de Solidão, Quando esvaece Esse lado Tão agreste E tão crispado Que te esconde A beleza Dos momentos De paixão... AH, A MARMELADA, A metafísica, Chocolates, Confeitaria... .............. A doçura Do teu jeito Vai ficar-me Sempre viva Como suave Suspiro Que se solta Do meu peito... ............... Por essa tua Magia...

“A Dança da Combustão”. Detalhe.
TRÊS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: "Geometria”. Original de minha autoria. Abril de 2020.

“Geometria”. Jas. 04-2020
POEMA – “TRÊS
SINTO TRÊS VEZES A tua falta Na sofrida Solidão Onde encerro O que não tenho No Monte, Oráculo Desta minha Invocação. TRÊS VEZES Eu sinto O teu silêncio, Na ausência Do teu rosto E do som Da tua voz, Do aroma Do teu corpo... ................ Minha foz. ATÉ A ALMA Escasseia... ............... Não lhe sinto Pulsação, Desmaiada Sobre mim, Inerte Nestes meus braços, Uma carícia Sem fim... TEU SILÊNCIO Cai pesado Sobre a minha Solidão, Meteorito Na alma, Inaudível Colisão. SOBRA-ME, De ti, O nome, Rasto da tua Passagem Na rua Que já foi minha, É nela que eu Te sonho E te pressinto Como deusa Nas noites Do meu luar E te canto Em poemas Onde os nomes São metáforas E sem limite O poder De nomear. EU SINTO A tua falta Três vezes De cada vez. É falta a mais, Eu bem sei, Mas o número Perfeito É o três. ABRAÇO O número Da perfeição, Desenho Triângulos Em liberdade Até que os sinta Vibrar, Instrumentos Musicais Que dão voz À minha dor Na exacta Geometria De teus breves Rituais. NELES OUÇO A tua melodia Como eco Desse nome Que no sonho Invoquei, Dou início Ao poema Para te sussurrar Baixinho A história Que sonhei.

“Geometria”. Detalhe.
ALMA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração – “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Abril de 2020.

“S/Título”. Jas. 04-2020
POEMA – “ALMA”
SE QUISESSE A tua alma Como anjo Do pecado, Que farias Do teu corpo Que eu sonho Imaculado? SE O TEU CORPO Pedisse O poeta Apaixonado Não lhe darias A alma, Tributo do teu Secreto Pecado? MAS EU QUERO A tua alma Mais do que quero O teu corpo, Do que de ti Eu mais gosto, Porque é ela Que me fala No brilho Desses teus Olhos, No veludo Do teu rosto. ÀS VEZES (Eu pressinto) Abandonas-te Ao ritmo Encantatório Das palavras Que te lanço, Da melodia que Embala, Da beleza Do meu pranto No poema Que te fala. É DIFERENTE O meu encontro Com teu rosto Tão macio, O brilho do teu Olhar... ................. Ou com sulcos Tão crispados, Espelho Da tua alma, Quando roubam O encanto Desse sorriso Esboçado De quem constrói O futuro Nas ruínas Do passado. O QUE EU Procuro em ti, É o lado Desta minha Perdição, A beleza Dos teus olhos Onde te fala A alma, Onde cresce Cada dia Uma incontida Paixão. TALVEZ O TEU SILÊNCIO, Linguagem Em forma pura, Me seduza E me cative Na fronteira De uma dor... ............... Que com poesia Se cura.

“S/Título”. Detalhe
VOAR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Pássaro de Fogo”. Original de minha autoria sobre desenho de Vera Sousa. Abril de 2020.

“Pássaro de Fogo”. Jas. 04-2020.
POEMA – “VOAR”
APETECE-ME VOAR Sobre o teu silêncio, Confinado que estou Entre paredes De um subtil E incerto afecto Que me vai capturando Pela sedução De uma ausência Insinuada... AH, MAS EU SEI Que estas paredes São do tamanho Da minha fantasia E que o voo, Livre como é, Não terminará Até que te sinta Pulsar finalmente Dentro de mim... E SEI TAMBÉM Que as minhas asas Terão sempre As cores Do arco-íris Para com elas Voar Sobre o vale da Tua vida, Montado num Pássaro de Fogo. VER-TE-EI Lá de cima Caminhar distraída, Perdida Nas encruzilhadas Que vais criando No sendeiro inóspito Da tua vida E lançar-te-ei Âncoras coloridas Que dêem mais luz À incerteza Que te vai na alma. E AGORA, Que o pintei, Já tenho um Mensageiro Que te levará, Com o vento (Ou num Inesperado E feliz reencontro De palavras), As cores Com que, docemente, Te vou pintando E as deixará No parapeito Da tua janela. MAS NÃO PRECISARÁS De abri-la De par em par Porque ele não Entrará... ............. Poderia Incendiar-te A fantasia e Engravidar-te A alma Com o fogo Que levará Consigo...

“Pássaro de Fogo”. Detalhe.
REGRESSO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Primavera”. Original de minha autoria para este poema. Abril de 2020.

“Primavera”. Jas. 04-2020
POEMA: “REGRESSO”
ESTÁS TÃO LONGE E tão perto Eu te sinto... ............. Neste tempo De fronteiras Eu sofro O teu silêncio Como espinho Cravado Da mais brava Das roseiras. MESMO ASSIM, Mesmo em dor, Regresso sempre Ao lugar Onde eu Te conheci, Ao mistério Do teu rosto, Quando por ele Me perdi... PERDI-ME,SIM, Mas encontrei O que julgava Não ter, Porque foste O espelho Onde me vi Renascer, Embora já Pressentisse Que por culpa Do destino Eu te iria Perder. AH, SE SOUBESSE Onde estás O vento Levar-me-ia Ao parapeito Da tua incerta Janela, Ver a tua Silhueta, Partilhar A solidão, Sonhar, Sentir-me Um passarinho Aninhado Docemente Na palma Da tua mão, Sem vontade De voar... MAS EU NÃO SEI Onde estás, O que fazes, Com quem andas, Se trabalhas, Se viajas, Se sonhas E fantasias, Se não ouves Ou não lês Os sinais que Eu te dou... .............. Poéticas Sinfonias Em pautas Onde transcrevo O que de ti Me ficou. OH, QUE DESTINO Me calhou, Ter-te Encontrado Um dia Para logo Te perder Nos caminhos Desta vida Que me levam A cantar Esta triste Melodia De eterna Despedida...

“Primavera”. Detalhe.
INVOCAÇÃO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Casas no meu Jardim
Encantado”. Original de minha
autoria para este poema.
Março de 2020. Veja a nota
no final do poema.

“Casas no meu Jardim Encantado”. Jas. 03-2020
POEMA – “INVOCAÇÃO”
QUE SINTAS
O pulsar
Do poema
No teu peito
Para te ter
No silêncio
De uma casa
Iluminada
Pelo brilho
Das magnólias
E da luz
Da primavera
Ao lusco-fusco
De um entardecer
...................
É o que mais
Eu desejo de ti.
SE CAÍRES EM SILÊNCIO
Profundo
Para melhor
Ouvir
O meu canto
E sentir o aroma
Das cores
Com que pinto
Para te encher
A alma
De Primavera...
...................
Ah, que feliz
Eu me sinto.
SE SENTIRES
Dentro de ti
O chamamento
Ao poema
E o ritmo do meu
Pulsar
Continuarei
A visitar
O oráculo
E a subir
À montanha
Onde a deusa
Espera
Notícias de ti.
SE O TEU SILÊNCIO
For o eco da
Minha voz,
A dança da melodia
Cantada
Em surdina
Saberei que
Abraçaste o tempo
À medida de um
Sonho
Revelado
Onde constróis
O futuro...
...............
Reinventando o
Passado.
E SE EU SENTIR
Uma suave
Tristeza
De tanta ausência
Sofrida
E uma doce
Nostalgia
Da luz
Desses teus olhos
Que m'incendeia
O olhar
Então isso
Quer dizer
Que te amo...
...........
Com a alma
A transbordar...
MAS NÃO SEI...
................
Não sei se
Tudo será
Uma cálida
Fabulação
Pr’alimentar
A sede
Insaciável
De teu corpo
Imaginado
Num poema
Em que sonhei
Ter-te, assim,
Tão intensamente
Amado...

“Casas no meu Jardim Encantado”. Detalhe.
TALVEZ MOVIDO POR ESTE POEMA,
tenho, nestes dias,
frequentado, mais do que o
habitual, as obras de Nietzsche.
Transcrevo, pois, aqui dois
aforismos (161 e 175)
tirados de “Para além
do bem e do mal", de 1886:
1. “os poetas não têm pudor
das suas aventuras; exploram-nas”
– os poetas vivem as suas
experiências íntimas como
alimento da sua fantasia;
2. “cada um ama o seu desejo
e não o objecto desse desejo” –
o que subsiste é o desejo,
tudo reside nele e é ele
que move montanhas.
Este poema remeteu-me para a
necessidade de ter
estes aforismos sempre presentes,
tal como o aforismo 153:
“o que se faz por amor está
sempre para além do bem e do mal”.
E não fosse a conversão interior
e o desenho estético das suas
pulsões naturais,
para além do bem e do mal,
a dor do poeta
seria irremediável
e talvez insuportável.
Assim, escreve, pinta
e segue em frente,
alheio ao (silencioso) ruído
exterior que ameaça
perturbá-lo.
O Nietzsche está mais perto
da arte do que
da filosofia. Sinto isso
na minha própria pele.
Eu, que não sou Zarathustra:
“Die Liebe ist die
Gefahr des Einsamsten” –
“O amor é o perigo
do mais solitário”
(“Assim falou Zarathustra”,
1883-85, III, Der Wanderer).
JAS#03-2020
BRILHAM OS TEUS OLHOS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Oráculo”. Original de minha autoria para este poema. Março de 2020.

“Oráculo”. Jas. 03-2020.
POEMA – “BRILHAM OS TEUS OLHOS”
NO ORÁCULO Há uma árvore Iluminada Nos dias de ritual... ................... Essa árvore És tu E eu a luz Que alumia Com o ceptro De cristal Do templo sagrado De Athena, Da arte A catedral. ÀS VEZES BRILHAS, Incendeias-me A alma e O estro No poema Em construção, Outras convocas A sombra E o silêncio, A árvore Entristece E também eu Me apago Em infausta Comoção. É BELA A ÁRVORE (Sem frutos), Beleza luminosa E um pouco fugidia Quando em dias De ritual Quero cantá-la Com vigor E fantasia Porque o brilho Dos teus olhos Me acende Esta paixão Como pura energia. SE NELA EU NÃO TE VEJO, Apago-me Em submissa Tristeza, Falta-me o teu Olhar, De cada poema, A luz E, do afecto, Delicada Incerteza... FLUI O TEMPO, Meu amor, Gasta-se a vida, Fogem de nós As palavras, O olhar Empalidece E esvai-se A alegria, O oráculo Não acolhe Este canto E, depois, Volta a rotina De cada dia E eu perco O teu encanto... MAS A DEUSA Aguarda-nos Impaciente E eu hesito A chamar-te Ao ritual, Tenho medo Que não ouças E perca, Do oráculo, A magia Do seu ceptro De cristal... AH, MAS EU OUÇO-TE Sempre Dentro de mim (És a minha Salvação) E convoco-te Ao poema Pr’acender Com a tua melodia A árvore Inspiradora Da minha deusa Athena Enquanto Meu canto Durar Nos dias Do ritual. NÃO TE ABANDONES TU Na perdição Da rotina, Não apagues Essa luz Que começa a Renascer Com brilho que M'ilumina, Deixa que eu Te cante E te celebre Em cada amanhecer, Te acenda A fantasia Nem que seja Num instante Duma noite Ou no acaso De um dia.

“Oráculo”. Detalhe.
RAÍZES
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Jardim Encantado”. Original de minha autoria para este poema. Março de 2020.

“Jardim Encantado”. Jas. 03-2020
POEMA – “RAÍZES”
FUI PROCURAR-TE
Ao Jardim
(Vou sempre,
Quando te quero),
És planta
Seminal,
Magnólia,
O teu nome,
Erecta
Em mil raízes,
Encantado
Pedestal.
ÉS CÁLICE
D'AFECTO,
Cativas
O meu olhar,
Pedes palavras
Sem fim,
Cânticos,
Poesia
A brotar...
REVEJO-TE
Nela, mulher,
O seu porte
(Como o teu)
É altivo,
Desafia-me
O canto
Pra que o possa
Partilhar
E assim estar
Contigo,
Seduzido,
Por encanto,
Para logo
Te amar.
UMA GRAÇA,
É o que és,
Dessas três
Que sempre
Canto,
Com poemas
E alguma
Timidez
Que dissimula
O meu pranto...
UMA GRAÇA?
Ah, sim,
A que o poema
Resgata
Do futuro
Que perdeu,
Feita
De muitas raízes,
Desenhada
Com palavras
Onde o seu mito
Cresceu
Pra que o tempo
A conserve
E lhe marque
A ventura
Que a Moira
Concedeu.
NESTE JARDIM
Renasceste,
Acendeu-se
O verde
Desses teus olhos
De luz
(Ou castanho,
Já nem sei)
No brilho
Da primavera
Que vestirá
O teu corpo
Em tempo
De sagração...
APETECE-ME
Beber-te
Na seiva
Destas raízes,
Embriagar-me
De ti,
Deste cálice
D'afecto,
Enlaçar-me
Com elas
Pra te amar
Nas origens,
No lugar onde
Nasceste,
Onde sofro de
Vertigens
Por aquilo
Que me deste...
.................
Só aí eu sei
Quem és...

“Jardim Encantado”. Detalhe.
MARÇO
POEMA de João de Almeida Santos. Ilustração: "Fauno em Março" - Original de minha autoria. Oito de Março de 2020.

“Fauno em Março”. Jas. 03-2020
POEMA – “MARÇO”
GOSTO DE MARÇO, Entre o branco e As flores Que despontam Na fronteira Do tempo, Entre a neve E a primavera. GOSTO DO BOTTICELLI, Rostos e corpos Feminis, Volúpia de Transparências Sensuais. GOSTO DA PELE Acetinada Dos corpos, Dos traços E da cor Que desenham Alvura nas Três Graças... .............. E no Amor! GOSTO DO BRANCO, No alto da Montanha E das cores intensas Que interpelam, Insinuantes, O meu olhar Deslumbrado, Cá em baixo, Neste vale Por elas sempre Iluminado. GOSTO DE MARÇO, Ah, como gosto! Entrei nele Contigo, Ombro a ombro, Em contraponto Que se consumou Como silêncio Fatal, Marca de tempo Quase irreal, Face obscura Do meu rosto Entristecido. QUE O DIGAM Os astros Desalinhados... ............... Para ti colhia Flores luminosas, Crescia A inspiração Em estrofes Arrebatadas Com que sentir Fingia O que dizer Não podia. Contraponto. O outro lado Da tua melodia... MARCADO Como selo De inspiração Às avessas, Lá vou eu Por aí, Nem sei porquê (Ou por falta de ti), De braço dado Com Botticelli, Lá em cima, na Galleria, Onde quase morei, Transeunte Irreverente No incerto desafio De um dia. PROCURO-TE, SIM, Na laica oração À deusa Athena, A que trazes (Eu bem sei) No centro Do teu coração. SINTO-TE PERTO (É estranho, não é?), Depuro A tua imagem, Bissetriz de mil Rostos perdidos, Até se tornar Ideia precisa De corpo ausente... DEPOIS, AH, DEPOIS REINVENTO-A A cada instante, Abraço-a Com alma De amante, Pinto-a com Palavras De poeta Encantado E sonho-te Numa plácida noite Da primavera Que assoma... AO ACORDAR, No amanhecer De cada poema Verei que continuas Em mim De olhos fechados Como se fosses Memória profunda Do que nunca Aconteceu. ANDAREI Por aí (Os astros o dirão), Vagando Sobre o pólen Da beleza sensível Onde pousarei O meu inquieto Olhar À procura De alimento Para pintar O poema... ........................ E talvez o impossível! LÁ NO ALTO Te encontrarei, No fio do horizonte, Um risco, Projecção do teu Olhar A construir infinito, Onde, num adeus Sem fronteiras Nem cais de partida, Hás-de desenhar Com a alma As mil silhuetas Inacabadas... ................ Ou talvez não! MEU DEUS, Como gosto de ti... ............... Em Março!

“Fauno em Março”. Detalhe.
MANDEI PODAR O LOUREIRO…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Loureiro em Flor no meu Jardim Encantado”. Original de minha autoria para este poema. Março de 2020.

“Loureiro em Flor no meu Jardim Encantado”. Jas. 03-2020
POEMA – “MANDEI PODAR O LOUREIRO…”
MANDEI PODAR O LOUREIRO
Num dia de Carnaval,
Cada ramo que caía
Doía,
Fazia mal.
ESPALHAVA-SE O AROMA
Intenso pelo Jardim,
O podador a cortar
E, ele, triste
E tão dorido,
Sempre a olhar
Para mim...
“QUE FIZ EU PARA SOFRER,
Estou sempre
À tua frente,
Porque mandaste
Podar-me,
Assim,
Tão de repente?”
“FOI PARA ME RENOVAR,
Pra ganhar
Um novo alento?
Porque não paras
De olhar,
Acalmas o sofrimento?”
“JÁ NÃO APONTO PRÒ CÉU,
Fiquei mesmo redondinho
E, tu, quando me olhas,
Ficas sempre mais sozinho,
Mais longe do meu perfume
Que deitaste a perder
Com aparente azedume
Porque não podaste
A tempo
O que havia de crescer.”
“PERDI MUITAS
Das minhas bagas,
Estavam em mim
Às centenas,
Agora ficaram chagas
E não são muito pequenas.”
“LEVOU-MAS O PODADOR
As bagas que tu perdeste,
Já não sinto o teu calor
Por tudo o que não fizeste
Mas que podias fazer
Se tivesses mais coragem...
......................
Deitaste tudo a perder
Só porque era selvagem!”
“NÃO SÃO LOUROS
De glória,
Não são...
................
Por que razão
Me deixaste,
Ferido de
Tanta paixão?
Para teres
Uma vitória
Que não merece
Perdão?”
“AGARRA-TE A MIM
Agora,
Sou teu loureiro
Em Jardim,
Se não quiseres,
Vai-te embora,
Que eu fico-me assim,
Mais pequeno,
Mas robusto,
Mais redondo
E mais belo...
...................
Serei sempre
Mais que arbusto,
Não é preciso
Dizê-lo.”
O LOUREIRO DO JARDIM
É planta seminal,
Viajo com ele
No tempo
Como se fosse imortal.
É ÁRVORE DE POESIA,
É fonte d’inspiração,
Ajuda-me a renascer
Se vacila o coração.
É UM POSTO DE VIGIA,
Cresce, cresce
Para cima,
É com ele que
Eu resisto,
Declinando-me
Em rima...
POR ISSO MANDEI
Podá-lo
Para se fortalecer.
Se o não tivesse feito
Ia mesmo esmorecer
E com ele também eu
Caía em negação...
................
Não são fáceis
Estes tempos,
Mas loureiro é canção!

“Loureiro em Flor no meu Jardim Encantado”. Detalhe
SONHEI-TE, NAQUELA NOITE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Um Sonho”. Original de minha autoria. Fevereiro de 2020

“Um Sonho”. Jas. 02.2020
POEMA – “SONHEI-TE, NAQUELA NOITE”
SONHEI-TE, MEU AMOR. Atravessava o deserto, Há muito. Nada via no horizonte. Areia, só areia No meu caminho E uma neblina quente Lá ao fundo... Nem sabia se Na longa caminhada Encontraria Um oásis Onde molhar Os lábios Já gretados De tanta aridez... MAS HOJE SONHEI-TE. Saí do deserto E reencontrei o oásis Nas pupilas dos teus Olhos. ANINHEI-ME EM TI, Sereno como nunca Estivera Desde que te conheci. Ofereci-te uma história Em papel Onde te conto, Nos conto À exaustão, Até ao limiar Do impossível, Mas com uma réstia De esperança De não ter de Regressar À torreira Do deserto. FALÁMOS DE ARTE, Imagina, Do seu poder Curativo E de como a vida Se lê E se resolve Nela. ABANDONEI-ME Nos teus braços, Perdido em quentes Memórias, E caminhámos Nem sei bem por onde Ou para onde. SONHEI-TE Esta noite, Meu amor. E, sabes? Acordei de ti Embriagado De felicidade, Uma doce tontura... AH, HABITUEI-ME A estar contigo Em sonho, A dizer-te Em poemas, A interpelar-te De longe... HABITUEI-ME Ao teu silêncio, A uma fronteira Inultrapassável A não ser Pelo vento Que te cicia os Meus murmúrios... TENHO-TE Dentro de mim E já nem sei O que seria Encontrar-te, Olhar de perto Esses teus olhos Negros e profundos, Sentir o teu perfume E naufragar No mistério Insondável Da tua vida. TALVEZ TE PERDESSE, Nesse instante, Por excesso de ti. Mas eu não quero Perder-te, Meu amor.

“Um Sonho”. Detalhe.
A PALAVRA PROIBIDA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Beija-Flor em Magnólia”. Original de minha autoria. Fevereiro de 2020.

“Beija-Flor em Magnólia”. Jas. 02-2020.
POEMA – “A PALAVRA PROIBIDA”
OS GUARDIÕES Do sagrado templo Da palavra E da cor Emitiram edital: “O amor em poesia Fica assim proibido Porque pode ser Fatal. Os versos E as estrofes Banhados A luz e cor Ficam pra sempre Banidos Da arte E do amor.” DIZ O GRANDE HONORÉ, Balzac, de apelido, Certeiro, Como poeta, Na palavra destemido, Que o Amor É poesia, É a arte Dos sentidos, É perfume Que inebria E nos faz sentir Perdidos Se não houver Guardião Que decrete, Impenitente: “Também eles São proibidos!” PROIBIDOS? Ah, esses, Não, Poesia É emoção, É enlevo Dos sentidos Que resiste Ao edital Mesmo que seja Cantado Pelo mais belo Jogral. O POEMA LEVA Aos píncaros Da mais alta Fantasia, Sobem ao monte Os sentidos Com as asas E a leveza Da arte Em poesia. MAS É DIFÍCIL Ouvir E sentir Em verso Com alegria Pois há sempre Alguém Que me rouba A brisa Dessa tua Maresia, A que respiras Bem cedo, Logo ao Amanhecer Quando ouves O meu canto Para nunca Te perder. OLHAS O MAR, Ouves As ondas Dentro de ti A cantar Com versos Que o vento Sopra Pra te poder Ciciar O que por ti Eu já sinto Nesta canção Que compus Numa noite De luar. POESIA Dos sentidos... ...................... O amor é mesmo isso, Porque, queiras Ou não queiras, Tem a força De feitiço. ENCONTRO-A Sempre em ti E mesmo que Proibidos Escrevo sempre Poemas Desde o dia Em que te vi. EXALTARAM-SE Os sentidos (Não sentiste?) E para o poema Parti Com as asas E as cores De um belo colibri... DECRETARAM Edital. Ah, que o façam, Pois, cumprir. Mas poesia É como vento Que te leva Cada dia, Sopra Tão forte Na alma Que o silêncio É alento De poeta Que com palavras Se salva. À PALAVRA PROIBIDA Sempre o poeta Resiste, É livre no seu dizer Das razões Da sua vida Quando a dor Atormenta E o sofrimento persiste...

“Beija-Flor em Magnólia”. Detalhe.
ESTAVAS À MINHA FRENTE…
Poema de João de Almeida Santos. Reproponho, com ligeiras alterações, o poema – de Gianni para Paola, personagens do meu romance “Via dei Portoghesi” (Lisboa, Parsifal, 2019) – que publiquei há quatro anos. Ilustração: “Licht, mehr Licht...” - Original de minha autoria. 14 de Fevereiro de 2020.

“Licht, mehr Licht…”. Jas. 14.02.2020
POEMA – “ESTAVAS À MINHA FRENTE…”
PASSARAM ANOS E ANOS Que nem consigo contar, Estava feliz de te ver, Ouvias-me nesse Solar A dizer o que sentia A sentir o teu olhar. COM MEUS OLHOS TE DIZIA Que o mundo ia parar Se chegássemos um dia Nem sei bem a que lugar. ESTAVAS À MINHA FRENTE E pousavas o olhar Em mim, tão docemente... ..................... Nem podia acreditar, Havia um brilho diferente A iluminar o Solar... FOI ESSE UM DIA FELIZ Luminoso para mim Vi-te com outra roupagem Como se fosses cetim, Perfume e suave aragem, Um doce embalo sem fim... LANCEI ENTÃO O OLHAR Para a torre de marfim Onde te fui projectar, Tão bela eras assim, Nesse dia, Nesse lugar, A dizer o que sentias, Dando voltas às palavras Que timidamente dizias, Medindo bem os efeitos Que tu já bem Pressentias... ESTAVAS À MINHA FRENTE, Falávamos nesse Solar E eu estava feliz, Bastava-me o teu olhar. NA MEMÓRIA DO PASSADO Já não vejo esse lugar Onde possa estar contigo, Onde te possa falar, Cumprido esse castigo De não te poder encontrar A não ser com as palavras Em que me ponho a nu, Como se vê pelo dia Em que as lanço ao vento Tão fortes de meu soprar Para ver se é com elas Que te consigo alcançar... ESTAVAS À MINHA FRENTE, Lembro-me do teu olhar No bulício desse dia, Do teu leve respirar. AGORA FOGES DE MIM. Tens medo de soçobrar? Tu és mais forte que eu Resistes ao meu olhar, Às vezes com timidez, Outras sem me enfrentar... NOS DIAS EM QUE TE VEJO Ganha alento a minha vida, Fortaleço-me a alma Suspendo a despedida, Fico sereno, em calma, Cicatriza-me a ferida. SE OLHAR PARA O FUTURO E não te vir no caminho Fica a vida sem sentido E vazio o meu destino... NÃO ESQUEÇAS QUEM, Ausente, Ouve a tua melodia E em cada instante pressente O poder dess’alquimia Que funde tudo o que sente No sentir de cada dia. E ASSIM VOU REGRESSANDO A essa torre de marfim Que vou construindo Em palavras Do que persiste em mim... ESTAVAS À MINHA FRENTE…

“Licht, mehr Licht…”. Detalhe
O MEU NOME
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Teu Corpo” - Original de minha autoria. Fevereiro de 2020.

“O Teu Corpo”. Jas. 02-2020
POEMA – “O MEU NOME”
PORQUE NÃO ME NOMEIAS, Meu amor? Nome-ar. Tão simples. Quatro letras. Devolver-me Identidade, Aquecida Nos teus lábios Pelo ar quente Que respiras... ASSIM, PERCO-ME, Não sei de mim, Fico sem espelho Onde me ver A cores E em perfil De traço fino Nos teus doces Murmúrios... ................ Que sufocas... .............. E não desvelo O destino traçado Pelos deuses No chão arenoso Do caminho Da minha vida. TORNO-ME SOMBRA De mim Quando me interpelas Sem nome-ar, Não me reconheço, Sou outro, Pronome Indefinido ou Interjeição, Ideia vaga, Incerto perfil Que se dilui Como aguarela Em folha branca Manejada Por ti à procura De uma forma Que, afinal, Não tem nome. PORQUE CATIVAS O som De quatro letras E não cantas A minha melodia Com uma palavra Só? Ah, a tua boca Logo hesita Quando a palavra Assoma À flor dos teus Lábios, Como daquela vez Em que soou Timidamente Como sussurro, Murmúrio Imperceptível, Em surdina, Na fronteira Do silêncio. O MEU NOME Desata A tua alma E ameaça Levá-la consigo A voar sobre O mundo De mãos dadas No fio do horizonte? São vertigens, Meu amor? AH, SE ASSIM FOSSE Diria O teu nome Mais do que digo Até adormecer De cansaço.... ............. Só para te Sonhar. MAS TU NÃO ME DIZES Porque me desejas Como parte de ti, Sem partilha Nem confissão? Guardas O meu nome No silêncio Do teu peito, Como se fosse Pecado dizê-lo? Sentes perigo? Que o meu nome Se torne lava Ardente, Beijo verbal Proibido Pela gramática Do amor Logo ao primeiro Sinal? E foges Para dentro De ti Com o coração Aos pulos? OH, TAMBÉM EU NÃO TE DIGO, Como chamamento, No meu poema, Onde os nomes Se dizem De outro modo, Têm som E ritmo Diferentes, São notas De uma melodia Sofrida E cifrada... MAS AS TUAS LETRAS Estão lá, Todas, Uma a uma, E a cor Dos teus cabelos Em aguarela E o cetim Da tua pele Macia Por onde deslizam Os meus olhos À procura dos teus, Negros e profundos, E essas mãos Perfumadas Filhas da arte Que te desenham A alma Com riscos E cores Que atiras Ao vento Para que eu Os agarre E lhes dê Som, Ritmo E sentido Num poema... .................. Ao entardecer... E, ASSIM, EU CANTO O teu ser, Tudo O que foste, O que és e O que serás, O que sabes e O que sentes, O que vives e O que sonhas. O que dizes No que calas... ........... Tudo, Meu amor. MAS TU DIZES, Com a ironia Do silêncio Triste Que te cativou, Que também eu Não te digo Aqui, Em arte, Mesmo quando Te canto mais Do que ouves, Te nomeio Mais do que Posso, Te pressinto Mais do que Sentes... E TU Apenas te expões Às minhas palavras, À minha música, Silencias-me Porque balbucias O meu nome Só dentro De ti, Foges ao som Encantatório Que corre Atrás de ti Para se ouvir Nos teus lábios. BEM SEI Que o teu mundo Não é o dos nomes Ou das palavras, Sequer murmurejadas, Mas o das cidades Invisíveis Na tua fuga Permanente para O infinito... E SEI QUE AÍ Me vais Silenciosamente Interpelando, Como rosto Mutante, Essa tua forma De docemente Me soletrar. NOMEIAS-ME, SIM, Meu amor, Mas à tua maneira!

“O Teu Corpo…”. Detalhe.
ESCULPIR-TE…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Bianco&Nero”. Original de minha autoria para este poema. Fevereiro de 2020.

Bianco&Nero. Jas. 02-2020
POEMA – “ESCULPIR-TE…”
ENTRE O BRANCO
E O NEGRO
Quis esculpir-te
A alma
Na flor que,
Num acaso,
Encontrei
Perdida
No jardim
Da minha vida...
ATRÁS DE TI,
Ou em fuga
(Já nem sei...),
Gastara
Todas as cores do
Arco-íris
Que tinha
Guardadas
Dentro de mim.
SOBRARA
Uma marmórea
Pedra negra,
Espelho oracular
Onde me via
Escuro na alma
Por falta
De cores
Exuberantes
Que me protegessem
Do frio glacial
Da tua ausência
Nas longas
Intermitências
E contrapontos
Da nossa melodia.
SOPREI FORTE
Com a alma
Desnuda
E a flor
Pousou suavemente
Na pedra
Lisa e brilhante
Da catedral
Onde te ia
Celebrar...
ESCULPI-TE
Como filigrana
De ouro preto
Sobre branco-pérola,
Aurífice da tua
Alma sedutora
No coração
Alvoraçado
Dessa flor
Onde guardei
O teu nome
Gravado em letras
Invisíveis.
CRIEI PARA TI
Alvas incrustações
Em filigrana
Como marcas
Indeléveis
Da arte
Que um dia
Me visitou
Para celebrar
A beleza
Do teu rosto.
E, AGORA,
A olhar para
O branco e o negro
Desse cântico
Desenhado
E esculpido
Ofereço-te
Este poema
Sobre pintura
Imaculada
Onde te celebro
Com beleza
Minimal,
Na cor
E na forma,
Sem fronteiras,
E onde
Te reinvento
Em fuga...
---------------
Um elegante
Fio branco
Que esvoaça,
Livre,
No marmóreo céu
Do teu altar.
A ÂNCORA,
A sul,
Desliza
Suavemente
Sobre ti
E dilui-se,
Como eu,
Na negra vastidão...
EVOCO-TE, ASSIM,
A branco e negro
Sobre a flor
Que um dia
Encontrei
Perdida
No meu jardim
Encantado
Quando visitava
O impossível...
.................
À tua procura...

Bianco&Nero. Detalhe.
ESTOU A PERDER-TE…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Jardim das Memórias”. Original de minha autoria, com citações de Gustav Klimt (1912). Janeiro de 2020.

“Jardim das Memórias”. Jas. 01-2020
POEMA – “ESTOU A PERDER-TE…”
ESTOU A PERDER-TE Meu amor, O estro Com que te canto Esmorece, Vai perdendo Lentamente O seu fulgor, O poema Empalidece E eu, Em poética anemia, Sinto um doce E sonolento Torpor. SUBI CONTIGO AO MONTE, Ao meu jardim Encantado, Com as cores Que tu me deste Eu aprendi a cantar Contigo sempre A meu lado. CANTEI A TUA PARTIDA Quando desceste O vale, Mas, triste e Sem destino, Por veredas Caminhei Com saudades Do jardim Que contigo Cultivei. PERDIDO DE TI, Vagueei No monte À procura De eco Do meu canto Derramado, Mas o eco Era silêncio Profundo Sob o azul Irreal Da abóbada Celeste Desse monte Seminal. UMA TRISTEZA PROFUNDA Tomou conta De mim, Desmaiou A emoção De te ver Ou inventar Com as cores Do meu jardim Porque um silêncio Cortante Sufocava, Impenitente, O eco Dessa canção... TAMBÉM EU DESCI O VALE Da minha vida E regressei À triste Monotonia Sem teu rosto Desenhado, Semente Em gestação De cada palavra Que verso No poema Em construção Nesse jardim Encantado... ESTOU A PERDER-TE, É poética Anemia, Sinto vazio No peito, O estro já escasseia E vacila A melodia... O CÂNTICO É murmúrio Inaudível De alma ferida, Sem comoção, Que nem dor Ela já sente De tão gasta Nesta vida Por excesso De paixão. O VALE ESPERA-ME, Sinto-me vazio De ti Porque Não chegam sinais Da rua do Desencontro Nem das fugas Irreais Para o teu Infinito, Janelas De onde te veja Dobrar As esquinas Esquecidas Do nosso Contentamento. ESTOU A PERDER-TE, AMOR, Não há janela, Nem cor, Não há tempo Nem lugar, Não há poema Nem mar Que suspenda O vazio De não poder Navegar Nas águas Desse teu rio... .................... Eu perdi-te, Meu amor?

“Jardim das Memórias”. Detalhe.
“EU VI UM ANJO…”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Melancolia” Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2020

“Melancolia”. Jas. 01-2020
POEMA – “EU VI UM ANJO…”
EU VI UM ANJO Cair Docemente Sobre mim Com seu rosto Imaculado Num momento D’incerteza Que parecia Não ter fim... VINHA ELE Lá de bem alto Onde eu O pressentia, Estremeci, Um sobressalto, Porque esse anjo Imaculado Em mim Não caberia. SUA LUZ Era intensa, Ofuscava-me O olhar, O seu brilho Deslumbrava E eu senti-me Cegar... MAS NÃO SEI Se era anjo... ................ Talvez fosse Uma mulher, E se não fosse Arcanjo, Ah, Não era um Rosto qualquer... POR ISSO ME FASCINOU, Porque ao vê-lo Descer Desse trono Onde reinava, Quase, quase Me cegou A luz Que o transportava... .............. E levou-me Ao Olimpo Onde a arte Lhe sobrava... FIXEI-O, ENTÃO, Num quadro De memória, Traços leves, Cores intensas Que cativam O olhar. Pintei-o Da cor da Minha paixão Para nele Desvelar Essa mulher Sensual Que me veio Cativar Nesta tão bela Prisão. DESENHEI-A Como belo Avatar Que entrou Dentro de mim Para sempre Me lembrar Que era Uma mulher... ............ E não era Querubim. MAS VI UM ANJO, Ah, eu vi, Entrar bem Dentro de mim Sob forma De mulher, Porque anjo Imaculado, Uma grandeza Infinita, Não caberia No meu pequeno Jardim. EU VI UM ANJO DESCER Neste vale Da minha vida E ele fez-me Crescer, Recomeçar A partida... ............. Para logo me Perder... E COM POEMAS Parti Em viagem Ao Olimpo Para com ele Voar Em cada palavra Que digo, Em cada verso Que sinto... ............. Mas bem sei Que me perdi...

“Melancolia”. Detalhe.
“A COR DA MEMÓRIA”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Transparência”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2020.

“Transparência”. Jas. 01-2020
POEMA – “A COR DA MEMÓRIA”
NUM DIA DE CHUVA, Bateram levemente À porta da minha Memória... ERA TRANSPARENTE, A porta. Vi que eras tu. Reconheci a tua boca, O bâton púrpura Dos teus lábios. NÃO SEI SE ME PRESSENTISTE, Não sei. A porta Era um espelho, Através dela Só se via Do lado de cá. ENTRASTE, Cheia de cor, Que a chuva Humedecera, Mas deixara Intacta. Apenas com mais Brilho... ........ O teu! TAMBÉM TU ERAS TRANSPARENTE. Olhei-te E vi, através de ti, Um céu plúmbeo... E, NA TRANSPARÊNCIA, DESPONTOU O SOL, Coado em amarelo. Havia umas nuvens Escuras A nascente, Lá no Monte... ÀS VEZES, O AMARELO Ganhava tons de Âmbar E vestia-te o corpo, Nu, Na minha intangível Memória Fotográfica. VIA COM NITIDEZ, Sereno, Esse teu belo Sorriso Cristalino, Mas, quando te quis Tocar, Ao de leve, Um vidro desceu, Vertical, Sobre nós. Era frio E húmido, Esse vidro. Separou-nos. E eu chorei! AS LÁGRIMAS Escorreram Pelo vidro. Tentaste Agarrá-las Do lado de lá E fixá-las com Todas as cores Que tinhas contigo. Ficaram apenas Algumas gotas Amarelas Nesse vidro frio, Húmido E cortante... DE REPENTE, Tornaste-te sol E eu já não era Mais do que um Reflexo dos teus Raios filtrados Por algumas Nuvens... ......... Escuras! DESPERTEI Ao som De dedos que batiam Suavemente À porta Do meu quarto. Corri a abri-la... ............... Ninguém! REGRESSEI, RÁPIDO, À minha memória Para te reencontrar, Mas tu já não Estavas, Sequer como reflexo... ................... Deixara aberta A porta do tempo...

“Transparência”. Detalhe.
TEMPO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Amanhã...”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2020.

“Amanhã…”. Jas. 01-2020
É TEMPO DE RECOMEÇO? O que ontem Eu já era É o que hoje eu sou, As festas Quiseram tempo Intenso, Mas o tempo resistiu Ao que a vontade Tentou... ................. É tempo De recomeço Quando o tempo Não passou? EM CADA MOMENTO Procuro O tempo Que, no passado, Eu, poeta, Não vivi Porque sempre Reinvento Tudo aquilo Que perdi, Num poema Ou em pintura Para saber Quem eu sou Antes de lá Me perder... ............ Nos lugares Pra onde vou... ENTRE HOJE E ONTEM Há algo Que já mudou? Acaso me libertei? A esperança regressou? Fui ao baú Das memórias E vi logo O que tu és: A imagem bem certeira Desse tempo Que passou... TUDO MUDA Amanhã, Quando, tenso, Eu passar Na curva Do teu caminho? Encontro o que antes Nunca vi? Mulher com futuro No olhar, Sempre a sorrir Para ti, A repetir com carinho Um terno E tão antigo “Olá!”, Cabelos negros Ao vento, Corpo esguio Em movimento, Removendo um passado Que nunca mais Voltará? NÃO, O SEU TEMPO É o silêncio, Já não o tenho Nas mãos, Ele corre Sem destino, É ritmo sem melodia, Caminho Da minha vida Que percorro dia-a-dia Na vertigem Do passado, Mais tristeza Que alegria Como este peso Do fado Só liberto em Poesia. TEM TEMPO, A POESIA? Talvez tenha, Eu não sei, Com ela voo No céu Sem limites Nem fronteiras, Um tempo que é Só meu. AH, SIM, O tempo da poesia É a minha salvação, Perdi-te, mas eu não queria Passado de negação. É TEMPO DE RECOMEÇO, Sopra vento de feição? Sou feliz em poesia. Não é o tempo Que salva, Mas as palavras Que digo Enquanto fores Alimento Desta minha inspiração Porque é assim Que te canto: Da dor sai alegria Que me cura Da paixão.
NÃO SEI SE TE CHEGAM
AS PALAVRAS…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Jardim das Palavras”. Original de minha autoria para este Poema. Dezembro de 2019.

“O Jardim das Palavras”. Jas. 12-2019
POEMA – “NÃO SEI SE TE CHEGAM AS PALAVRAS…”
NÃO SEI SE TE CHEGAM As palavras E, se chegam, Se te tocam. Não sei se As arrumas Nas gavetas Da rotina Ou as deitas Nos desperdícios Da vida... TALVEZ NEM CHEGUEM. Não sei. É esta a beleza Da minha invocação. Canto-te Sem saber se te Chegam as letras Com que vou desatando A sufocada Afeição Ou se o vento As leva Pra lugares De poética Virtude, Resgate Desta minha Solidão... TALVEZ NÃO INTERESSE Saber se chegam Ao destino. O que m’importa É dar forma À melancolia Do meu desejo de ti Como se fosse O primeiro dia Em que, fora do poema, Eu logo te pressenti. É POR ISSO QUE SÃO Palavras pintadas Com as cores Do meu jardim, Porque na beleza Das palavras E da cor Se cristaliza, Da vida, O amor E, da falta de ti, Se decanta A minha dor. SIM, ÉS TU Que me moves, Me inspiras E induzes perfeição. Sem ti Seria arte estranha, Simples adorno, Jogo de formas, Um canto De diversão. O POEMA É Uma forma de socorro, É magia Que invoca o teu Rosto Perdido nas Nas brumas Da memória e Coberto pelo Silêncio Do que nunca Me dirás. NADA A FAZER. Com arte Te quero seduzir E eleger. Não te chegam, As palavras? Só importa A ideia Que tenho de ti E a poesia Que decanta A minha vida Pra te ter Por companhia Nesta longa Despedida. MAS À ARTE Respondes Com o silêncio E o mistério Pra não quebrares O encanto Que faz de ti Galeria Do que em arte Eu senti Em forma de poesia. ESTRANHAS SAUDADES Virão Quando o estro Me faltar E à Torre De Montaigne Subir como refém... ............ Dela nunca Sairei Para novo Desencontro Lá para os lados De Belém...

“O Jardim das Palavras”. Detalhe.
“PRESSENTIMENTO”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Travessia”. Original de minha autoria para este poema. Dezembro, 2019.

“Travessia”. Jas. 12-2019.
POEMA – “PRESSENTIMENTO”
MAIS UMA VEZ,
Ao entardecer,
Te pressenti,
Numa rua de Lisboa.
E não te vi.
AH, ESTA LISBOA
Que amas!
Uma fria silhueta,
A travessia.
Um homem
Perdido em memórias
Que esfumam
No tempo
E deixam
A alma vazia.
DEUS EX MACHINA
Que desce sobre mim
No caos
Em que a vida
Se tornou,
Nos afectos
E na dor...
............
A invocar
As origens
Do amor.
CAÍSTE-ME
NUMA ENCRUZILHADA
Improvável
Quando vinha
Da imensa planície
Onde os deuses
Se anunciam
No horizonte...
UM SÚBITO CLARÃO,
Um sobressalto...
Estremeci.
Irrompeste,
Intempestiva,
Das brumas
Da memória...
...........
Mas apenas
Te pressenti!
APROXIMEI-ME
Do teu mundo,
Sem saber?
Foi o destino,
Adormecido
Que estava
De nunca,
Mas nunca
Te ver.
ESTRANHOS
DESENCONTROS
Que desabam
Sobre nós
Com o destino
A comandar
No labirinto
Insondável
Das nossas vidas...
SILHUETA FUGIDIA,
É o que és,
Afinal,
Porque tudo é plano,
Demasiadamente
Plano, em ti.
VI UM NÚMERO,
A única certeza
Que tenho,
A janela
De onde te vislumbrei,
Mas incerto
Como todos
Os números
Deste mundo.
Incerto, sim,
Porque tu
Não és número
Que me dê
Certezas,
Para além da dor.
És mais quatro
Do que sete,
Meu amor!
OU TALVEZ TENHA SIDO
A minha fértil
Imaginação
Já um pouco doentia
A cruzar-se contigo
Num lance de
Pura magia.
MAS NEM SEI
Se é por ali
Que tu andas,
Porque de ti
Nada sei,
Só o que me sobrou
Daquele tempo
E do tempo que criei
Para nunca te perder
Naquela história
Onde te conto
Longamente
Para em ti renascer.
QUE ESTRANHOS
Lugares de
Desencontro,
No meio da multidão!
Um instante,
Ambiente ruidoso
E improvável,
O regresso a ti,
Cada vez mais
Imaterial
Na película subtil
E transparente
Da memória...
Simulacro irreal.
AH, COMO NO FIM
Deste poema
Sofro a falta
De uns olhos verdes
A iluminarem-me a alma
De ternura,
Mas nem o sol
Se descobre
Para os acender
E me inundarem
De beleza
Da mais pura!

“Travessia”. Detalhe.
“O POETA-PINTOR”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Amanhecer”. Original de minha autoria para este poema. Dezembro de 2019.

“Amanhecer”. Jas. 12-2019.
POEMA – “O POETA-PINTOR”
O POETA BRINCAVA Com suas palavras, Cantava-te sempre Quando não estavas... ERA UM POETA, Era fingidor, Não te desenhava, Cantava-te A cor. E AS SUAS CORES Eram só poemas, Fazia pincel Da sua caneta, Enquanto poeta As letras riscava, Mas a sua tinta Já não era preta... ................ Escolheu a cor, Pintou a palavra. POR ISSO COMPROU Um belo pincel E como pintor Pintava, pintava, Era a granel E a sua tela Que ele adorava Já não era só O velho papel. DESCOBRIU A COR, Que o fascinou: Dourado, vermelho E tanto amarelo. Tudo ele pintou, Procurando sempre O que era belo. ATÉ QUE O ENCONTROU Na cor dos Teus olhos, Era luz da pura Que iluminava O novo papel Onde desenhou O teu fino rosto Com o seu pincel. DEU CORPO À COR Com que te dizia, As suas palavras Tornaram-se riscos... ...................... Mais que poesia. PINTAVA-TE ASSIM. Os poemas Já não lhe chegavam, Pintor de palavras De cor as compunha E versos voavam No azul do céu... ..................... “E o que tu fazias Faço agora eu”, Dissera-te um dia, “Porque sou poeta Mas também pintor. Deixaste-me só, Entregue à palavra E, eu, Tão pobre de ti, Pintei-me de dor". "MAS EU FAÇO DELA O meu arco-íris Pra subir ao céu A ver se t’encontro Atrás duma cor Pintando o teu rosto Para um poema Que vou escrever Com todas as cores Que trago comigo Enquanto viver”. O POETA BRINCAVA Mas era tão séria Essa brincadeira! Perdido em palavras, Encontrou a cor E nos seus poemas Dela fez bandeira.

“Amanhecer”. Detalhe.
NÃO DOBRES A ESQUINA…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Variações”. Original de minha autoria. Dezembro de 2019.

“Variações”. Jas. 12-2019
POEMA – “NÃO DOBRES A ESQUINA…”
AH, ACREDITA, Já nem sei Quantos fazes... ................ A ti conto-te E canto-te Ao minuto De tão rápido ser O dobrar da Esquina, O regresso Fatal Ao lugar De onde nunca Sais, Desde menina... UM DIA DISSE (Lembras-te?): “ - Esquece a infância, Pára e ouve O silêncio Que espreita Para te desvendar O mistério da Vida! Dir-te-á: Nunca regresses Ao sítio onde já Não estás.” MAS TU NUNCA PÁRAS, Na louca correria Para fora de ti (Os lugares do costume) Em busca do Esquecimento Reparador... E EU A OLHAR Para o tempo Quando o tempo Já é pouco E a saber que Te hei-de sempre Reinventar Com os fios Soltos Da memória... MAS O DIA Em que renovas O contrato Contigo mesma Representa (Acredita) Um recomeço Para o reencontro Com o silêncio... .................. E, uma vez mais, Ele acaba Esquecido Nos aplausos Vibrantes E calorosos Com que todos Te celebram... ............. Por fora! ACORDA, Meu amor, Porque o silêncio Quer falar-te De celebração Da alma, Da tua relação Íntima com o Mundo, Antes da queda Na rotina Dos enganos! DESPERTA, Que o passado Se escreve a partir Do futuro Que antecipas Cada ano Quando renasces A caminho da Última fronteira... PORQUE HÁ, SIM, Um derradeiro Espelho vital Onde revemos O passado Que construímos Sobre as ruínas Do presente... ............ Sabias? AH, SIM, Mesmo que não saibas, No dia da celebração O silêncio Espera-te sempre À esquina Das tuas ruínas Na mais profunda Solidão... NÃO DOBRES, Em fuga, Essa esquina. Escuta-o, nesse dia. Talvez seja A tua salvação...

Variações. Detalhe.
AS PALAVRAS SÃO OÁSIS…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Oásis”. Original de minha autoria para este poema. Dezembro de 2019.

“Oásis”. Jas. 12-2019
POEMA – “AS PALAVRAS SÃO OÁSIS…”
PORQUE NÃO TE DÁS Um pouco, Meu amor? A minha Sede de ti É tão grande Como a dor Do dia Em que, no fim, Te perdi. PENSA NO DESERTO E no oásis Que o suspende De tão longo E árido ser O caminhar Sobre areia Escaldante Na procura Infindável De te alcançar Como amante... OS MEUS LÁBIOS, Áridos de ti, Não se saciam Com uma gota De água Ou com o aflorar Da seiva Exausta Do meu caule, Gasto de tanto Te esperar... ................. Mas quando falam (O pouco que te Falam) Humedecem, Porque as palavras Pousam neles, São oásis Verdejantes No imenso deserto De um amor Em longa Despedida... E QUANDO CHEGO Ao fim, À última estrofe Do teu poema, Já sei Que tenho de retomar O arenoso caminho Do canto Em solidão... OS OÁSIS São parte do deserto Que atravessamos Na nossa vida, São bátegas Que banham A alma ressequida De tanto Clamar por uma Saída Nesse mar de areia Em que o viver Se tornou. MAS TU Nem gotículas Me dás Quando clamo Por ti Na miragem Do deserto... O QUE TALVEZ Não Saibas (Ou sabes Em demasia?) É que a vida É mais Deserto do que Oásis, Mais areia do que Gotículas Que brilham Ao sol ardente... ................. E que os lagos E as fontes Onde refrescamos A alma São pura Alucinação Que nos deixa Mais entregues Ao silêncio... ................... E à fria solidão. AH, QUE FALTA SINTO Da tua fonte A jorrar Cores vivas Sobre mim, Das bebedeiras De palavras Sobre ti, Da densa neblina No deserto A coar o sol que Me bate no peito Onde mais te sinto. IMAGINO-TE, ENTÃO, Como meu oásis, Chuva no deserto Sobre esta minha pele Seca e encrespada... ..................... Mas bem sei Que não passa de Alucinação! PORQUE HÃO-DE SER ASSIM As nossas vidas, Sem gotículas Que banhem O nosso corpo Por falta de alma Que as acolha? O QUE ME SALVA, Meu amor, É este oásis Verdejante Que construí Como palco Para te cantar Ao entardecer Da nossa melancolia...

“Oásis”. Detalhe.
PAIXÃO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Cascata”. Original de minha autoria para este poema. Reproposição (com alterações) de um poema publicado há três anos, em resposta a um soneto de Ana de Sousa (09.2016). Novembro de 2019.

“Cascata”. Jas. 11-2019
MOTE – SONETO
“Vinde cá meu tão certo Secretário”, Confirmai meu gosto de espelhar À Musa que recusa Amor notório Gritando ao Mundo o que não quero calar! De rosas, de loureiro, de jasmim De astral, de amargor, de doce fel As bagas, a folhagem, no jardim Onde abelhas obreiras fazem mel! Dizei o que tanto quero ouvir Que o que pensais, não quero, não! Escrevei que meu engenho repetir Só quero na rima, mil dores de coração. Enlace, ponto final, sem remédio é ir Do próprio veneno provar... em edição.”
POEMA – “PAIXÃO”
ESPELHO MEU, Espelho meu, Vês dor mais forte Do que a minha? Não sabes que Sem palavras Nem tu me salvas, Rainha? PROVAR FEL Em edição? Tomei-o, Nestes meus dias. Castigo Por afeição, Derramado Em poesias, Palavras ditas Em vão, Estreitas sendas Vazias... INCAPAZ De as trilhar Fui procurar Novas vias, Mas gastas As encontrei, Incertas Em seu destino... .................... Senti-me um pouco Estranho E perdi-me Do caminho... DEPOIS VIERAM Flores... ................... Tantas vezes disse "Não!"... Sempre falhei Nos amores E, agora, esta Paixão! NEM SEI O QUE Aconteceu... Um enigma, Esse seu rosto! Vi nele o que Em mim faltava, Tropecei, Fiquei exposto, Como ferida Sempre aberta Ao rubro o seu Sangrar, Uma dor que Quando aperta Põe palavras A voar... PALAVRAS De vivas cores Mais fortes que Oração Fortalecem-me a alma Resisto mais À tensão... PROVAR FEL Em edição, Em poema Amargurado? Pois seja esse O destino E se foi o meu Pecado Será sempre Desatino Sofrer assim Este fado! TEM SABOR De um remédio? Talvez tenha, Não duvido, Só alivia, Não cura, É afecto proibido, Inclinação Da mais pura Em que me sinto Perdido... JÁ NÃO A VEJO Nem ouço, É luz que nasce De mim, Se passar Eu fujo dela, Procuro-a no meu Jardim Como arbusto florido Sempre ali À minha frente... ................ De ser planta Robusta Não tem defeitos De gente, É esguia, Não é gorda, Tem mil folhas De cetim, Espera-me sempre De pé Mesmo ao lado do Jasmim! É AMOR Em provação? Se tem de ser, Pois que seja, Lanço versos por Paixão Onde quer que Ela esteja, Sai de mim esta tensão Como em cântico D’igreja Ou incenso que respiro E quando m’inunda Por dentro É pro céu Que eu me viro. PROVAR FEL Em edição? É enlace Do mais puro, Resulta duma paixão, Intensa neste poema E bela como Canção, Mas abraço Sem futuro!

“Cascata”. Detalhe.
PARA LEONARD
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração, “Mil Beijos”. Original de minha autoria para este Poema, dedicado a Leonard Cohen (1934-2016). Novembro de 2019.

“Mil Beijos”. Jas. 11-2019
POEMA – “PARA LEONARD”
OUÇO-TE Como respiro Com a alma... E como a sinto! Vejo-a dançar Na tua voz rouca E grave E, então, aninho-me No regaço da tua Melodia A observar O seu silêncio... ................ Mas estremeço Como o rio quando Entra na foz, Mar adentro... É SUAVE O REENCONTRO Com ela, Em fluxo submerso, Como as dobras Das palavras Quando se ajeitam Nas estrofes Dos meus poemas Ou os sons Quentes Na tua melodia, Vindos lá do alto Como ecos Da montanha Sagrada. OUVIR-TE, ÀS VEZES, Arrepia-me Porque na tua voz Acolhedora Sinto-a Dentro de mim A segredar-me O seu impossível E sufocado Silêncio. E, ENTÃO, DANÇO, DANÇO Com a alma Até ao fim... ..................... Que nunca mais chega! E não paro até (Já exausto) Cair em mim... OS MIL BEIJOS Que não lhe dei São, na tua melodia, Mais profundos Que as profundezas Do mar, Mais intensos Que mil abraços À superfície Do seu corpo... E ATÉ OS TEUS SORRISOS Maliciosos E os gracejos Inocentes Me levam A inventar Palavras quentes Como balões coloridos Que lanço Ao vento Que sopra Na sua alma... NÃO SOU COMO TU, Leonard, Eu esboço sozinho Tristes canções Em surdina Até às lágrimas secas Que nunca enxugam Porque não tenho Voz que chegue Para a chamar Ao poema... ................... Nem ela me ensinou A cantar, Por falta de jeito E de tempo Para amar... MAS CANTAS TU Por mim e por ela E, então, ouço-te Extasiado Como se fosses Oráculo Onde o silêncio Partilhado Se disfarça De oração Nos teus sons E na tua voz Para me enternecer Até à emoção. NÃO ME DESPEÇO, De ti, Com um abraço, Leonard! Vou continuar A ouvir-te Enquanto o silêncio Me interpelar No oráculo Da tua melodia E por ela sofrer Dessa melancolia Que nunca nos abandona, Seja noite Ou seja dia...

“Mil Beijos”. Detalhe.
NÃO ME OUVES…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Voar”. Original de minha autoria para este poema. Novembro de 2019.

“Voar”. Jas. 11-2019
O POEMA – “NÃO ME OUVES…”
NÃO ME OUVES, Perdida Que andas Nas tuas rotinas, Na vertigem De cada teu Amanhecer Como se a arte Pudesse, assim, Acontecer... NÃO HÁ CRIAÇÃO SEM LIBERDADE, Aquela que Construímos Sobre as ruínas Do nosso próprio Viver... A PROCURA DE ETERNIDADE, A chegada à galeria Dos imortais Só acontece Quando das ruínas Se eleva Um silêncio Que te fala Em surdina... ............. E nada mais! MAS GOSTAS De te pôr Fora do mundo (Eu bem sei) Observá-lo, Tomá-lo Nas tuas mãos Como brinquedo Em construção, Estética virtuosa, Minúcia de De artesão... MAS É FRÁGIL A utopia, Que o mundo só Se deixa possuir Pela dor, Pela liberdade Em ferida aberta, Por intensa Melancolia Ou vida sofrida E incerta... CAIR NO MUNDO, Tropeçar nele, Molhar as asas Da alma, Caminhando Pelas ruas da Cidade Como silhueta Em dias de Densa Neblina ou De chuva Tropical, Sem saber Pra onde ir, Perdida Em intenso Vendaval... ............ Oh, então, Gela-te A alma E sentes-te Profundamente Mortal... INUNDA-TE De chuva Por dentro E elevar-te-ás, Um dia, Para além da tua Janela De persianas Coloridas, Possuirás o mundo Com essas mãos Que afagam As cores do Arco-íris No vale Em que habitas, Depois da tempestade... A ARTE É liberdade, É subir pelas Sete cores acima E voar Para a montanha À procura Do infinito Sideral, Do tempo À medida do Desejo... AH, COMO GOSTARIA De te emprestar As minhas asas Com cicatrizes Da vida Para voares Mais alto Que o azul Do céu Onde pudesses Levitar Sobre um poema Sem risco De te perderes... .................. Mas tu não me ouves, Meu amor!

“Voar”. Detalhe.
“SOU O QUE SOU”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fantasia de Poeta”. Original de minha autoria para este poema. Novembro de 2019.

Fantasia de Poeta. Jas. 11-2019
O POEMA – “SOU O QUE SOU”
EU SOU O que sou, Poeta Pra te cantar Mesmo que tu Já não ouças O pranto da minha Voz De tantas vezes Chorar... EU SOU O que sou Porque tu és Em mim Sempre mais Do que pensas Poder ser, Uma deusa, Uma musa No jardim Que m’inspira Para de ti Renascer... BEM SEI Que hoje Me pintei De poeta Para duas vezes Te ver E duas Te encontrar Nos versos Que já clamam Por de novo Te cantar. SIM, TU ÉS Musa Dos versos Perdidos, Dos versos Cantados Neste deserto Interior Da eterna Despedida... NÃO IMPORTA O que pensem, Como te vejo Ou te canto Porque serei Sempre movido Pela força Do encanto. ENCONTREI-TE Sem procurar O destino Que te trouxe, O mesmo Que te levou... ................. Cruzámo-nos Nesse caminho E, agora, É por ele Que sempre vou. O VENTO SOPROU Forte Em nós E voámos, Voámos No céu azul Com as asas Do desejo Até cairmos Do céu Quando veio A tempestade E o vento Nos deixou... ACORDEI Numa árvore Frondosa, Olhei em redor... ...Não te vi! DESDE ENTÃO SOU O que sou, Aquele que caiu das nuvens E, sozinho, Acordou Na copa De uma árvore Onde pra sempre Ficou. POR LÁ FIQUEI, Sim, A olhar o azul Do céu Perscrutando O horizonte Para ver Se lá te via, Fosse tarde, Fosse manhã, Fosse noite Ou fosse dia. É A ÁRVORE Onde vivo, A minha casa Discreta De onde Só te vislumbro Como simples Silhueta... TORNOU-SE Meu cativeiro, Onde vivo E te procuro (Fantasia De poeta) Lá no fundo Da memória Pra me tornar Teu profeta.... CERTOS DIAS, Na memória Ganho asas E logo voo pra ti Sem sair De onde estou... ................ Perdi-te, Já não te alcanço, Já nem sei Por onde vou... TRAÇA-ME TU O caminho, Pra chegar Ao pé de ti, Tenho palavras Que cheguem, Foi com elas Que cresci E com elas Eu voei Na linha do Horizonte Quando um dia Te encontrei No sagrado Do meu Monte.

Fantasia de Poeta. Detalhe.
O TEU CORPO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração - “S/Título”- de minha autoria sobre quadro anónimo (fotografia de mulher em contraluz) da minha colecção privada. Outubro de 2019

S/Título. Jas. 10-2019
POEMA – “O TEU CORPO”
HÁ POESIA No teu corpo, Geometria Sensual Que te desenha No espaço, Como te contas Sem palavras, Contraponto Luminoso Da minha melodia... HÁ MÚSICA Em ti, Pauta De beleza Que ondula, Instável, Entre riscos E cores, Desenhando Enigmas Que só o poema Pode decifrar... TENS A ALMA Inscrita Nas formas Do teu corpo, Como eu a tenho Nas palavras Que lanço Ao vento À procura Da tua utopia... E VEJO-TE Como letra Da canção Que vou cantando Na minha subida Ao monte, Quando o vale Já não me chega E nem tu chegas, Afinal, Pois partiste Em busca Dos palcos Da tua vida... MAS EU RESPIRO-TE Ao ritmo De uma dança Com o poema Que canto, Palco de beleza Onde te enredo A alma Em teia Que prende E te liberta... PROCURO-TE Na pintura, Fixo-te Para te cantar Quando a noite Cai sobre mim E mergulho Na solidão Do silêncio Com que, De longe, Me falas. E SONHO-TE Num bailado A solo, Dançando, Dançando, Ao luar, Na praia Da meia-lua Para que eu Te volte a cantar Em poemas Ao ritmo Com que te Vais desenhando Nas telas Coloridas Do teu acontecer. E, NO FIM, ROGO-TE Que não pares O teu silencioso E longínquo Bailado Solitário Até que eu te Desenhe Em palavras Luminosas Para que nelas Te revejas Como se fossem O espelho Encantado Da tua alma... QUE FAZES Da tua vida, Meu amor?

S/Título. Detalhe.
COMO TE QUERO...
POEMA de João de Almeida Santos.
Ilustração: “SEDUÇÃO”.
Composição de minha autoria a partir
de um estudo de Gustav Klimt.
- "Dois estudos de uma jovem mulher", 1885.

“Sedução”. Jas. 10-2019
POEMA – “COMO TE QUERO…”
PEDI EMPRESTADO Ao pintor Este rosto De onde vejo A cor Velada Da tua alma... ENIGMÁTICO OLHAR Que me perscruta E fascina, Beleza etérea, Divina! OS TRAÇOS DELICADOS Que o desenham E a leveza Das vestes Que velam E desvelam O corpo De pele macia Que me cativa O desejo... .............. Seduzem-me! E FICA-ME ESTE ROSTO Solitário Na galeria poética Onde te versejo Mil vezes À procura De um amanhecer Que nunca chega... PARA TI DIRIGI O meu olhar Através de um espelho, A obra de arte, Vi leveza, Beleza intangível E ouvi silêncio Profundo Envolto Por uma densa Neblina Que nunca se dissipa! E ENTÃO RECRIEI-TE, Com a ajuda Do pintor, Tal como Te desejo, Na fronteira, Sempre no limiar Do impossível, Na distância Que o destino Nos traçou E nos compassos Do silêncio A que a deusa Nos votou. SE TE ENCONTRAR De novo Só saberei ver-te A partir Deste fino rosto, Memória de ti, Numa tela Cantada por mim. E ENTÃO REGRESSO Às tuas cores Para com elas Te desenhar De novo Com o pincel mágico Do pintor Que eu amo Em ti.

“Sedução”. Detalhe.
JASMIM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Rapsódia”. Original de minha autoria. Outubro de 2019.

“Rapsódia”. Jas. 06-2018
POEMA – “JASMIM”
FLORESCEU O JASMIM, Dele jorra Poesia, Embriaga, O aroma, Liberta-se A fantasia! DOU ÀS PALAVRAS A COR, O seu perfume Ilumina, Bate o sol Nas suas pétalas, É luz intensa Que brilha No poema que Germina... JÁ NÃO É SÓ O LOUREIRO, Agora canto O jasmim, É tão vivo O seu perfume Que se renova Em mim. INUNDO-ME DE PALAVRAS, Canto Este mundo Da cor, Subo ao céu E penso em ti, Levo comigo Essa dor... SOU ÍCARO Lá no alto E quando o sol Me bate forte Caio em mim Do meu poema E no chão Fico sem norte... PEÇO AJUDA À MONTANHA, Volto a subir Com alegria, Lá no alto Vou renascer, Regressar à À poesia... E ENCONTRO O MEU JASMIM Mesmo ao lado do Loureiro, Respiro fundo O aroma E torno-me Jardineiro! E ASSIM EU VOU VIVENDO No jardim da Minha vida Em poemas E pintura... ............. E se a dor Não tem remédio Que seja esta A cura!

“Rapsódia”. Detalhe.
ENCONTRO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Silhueta”. Original de minha autoria para este poema. Outubro, 2019.

“Silhueta”. Jas. 10-2019
POEMA – “ENCONTRO”
OS ASTROS ALINHARAM-SE Uma só vez, Passados anos De aridez Que roubou Tempo De fantasia, Luz À vida, Lentamente, Cada dia... ENCONTREI-TE Sem querer... .................. Astros ou destino, Quero lá saber... Que bela Esta forma Tão singela De te ver! ABANDONEI-ME Ao destino, Chegou o acaso, Vi-te estranha Ao olhar De tão tardio Encontro Com a fita Da memória A rolar Em moviola. ERA INCERTA A TUA IMAGEM, O olhar Embaciado, Um arco-íris Descera Com o sol Dessa manhã, Gotículas Brilhantes Como lágrimas De alegria... FICOU-ME A alma cheia, A transbordar (Ficou), Mas o vazio Também logo Regressou. Mais do mesmo, Como antes, Um desencontro Sem fim... ............... E o ânimo Quebrou. VISLUMBREI-TE Perto do meu Destino, Raptou-me O acaso A incerta silhueta Que não pude Desenhar No meu campo De visão Como se fosse Castigo Por insólita Paixão. AQUI ESTOU EU Devolvido À solidão, Novas saudades De ti, Um poema Em gestação... SÓ ASSIM EU SEI Falar, Fico incerto Se te vejo, Troco o passo A cada instante, Hesito nesse Momento, Finjo aquilo Que não sinto E, por fim, Fico tão-só Amante da poesia Que me dá o que Não tenho... ............... Uma réstia De alegria. OS ASTROS ALINHARAM-SE Pra te voltar A perder, Dois minutos, Um sorriso... ................ Chegou cedo Este novo Entardecer!

“Silhueta”. Detalhe.
ESSES OLHOS NEGROS…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Olhar”. Original de minha autoria para este poema. Setembro 2019.

“Olhar”. Jas. 09-2019
POEMA – “ESSES OLHOS NEGROS…”
DESSES OLHOS NEGROS Eu tenho Saudades, Viajo com eles Na minha memória Pra te alcançar Neste oceano Onde eu navego Entre altas vagas Sem nunca parar... E TENHO SAUDADES Por nunca te ver... .......... Quiseste Partir E logo negar O tempo exacto Para te sorrir. EU TENHO SAUDADES Saudades de ti, Quando te invoco Com estas palavras, Te digo O que sinto... .................. Que esta saudade Já não vai parar Mesmo se minto E digo em arte Que te vou Inventar. EU TENHO SAUDADES De te encontrar Naquele jardim Onde o desencontro De ser tão intenso Até parecia Nunca ter um fim... E TENHO SAUDADES Quando te escrevo Estes meus poemas Sabendo por certo Que não terá eco O que neles te digo E sempre senti. . EU TENHO SAUDADES Mas já nem eu sei Porque é que vivo Tão perto de ti E quase te sinto Quando tu respiras O ar que te sopra Como densa bruma Nesse teu jardim. EU TENHO SAUDADES, Saudades de ti, E até sei porquê Este meu sufoco... ................ Talvez porque Foges, Nem sequer nomeias O que te ressoa Se o canto Te chega E sobre ti ecoa. SEI BEM A RAZÃO Porque não te encontro Nem te dou a mão Pra que não me fujas ... ........................ Porque é em vão! COM TANTA SAUDADE Até sou feliz Em certos momentos, Tão longe de ti, Com alma Em tormento, Porque eu te amo Ao sabor do vento E da poesia Que sopram Intensos Lá do teu jardim, Mas tenho saudades Desses teus olhos Que vejo daqui Porque eles me dizem Que longe que estejas Estás perto de mim.

“Mulher com Véu”. Detalhe.
PINTEI-TE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Mulher”. Original de minha autoria para este poema. Setembro de 2019.

“Mulher”. Mas. 09-2019
POEMA – “PINTEI-TE”
PINTEI-TE
Como te vejo
Por dentro.
Gosto do Modigliani
E gosto de ti,
Dei-te este rosto
Que por dentro
Me sorri.
PINTEI-TE
Única e
Deusa,
Meu encanto,
Aura e halo,
Entre a vida
E o meu canto
Infinito
Intervalo.
PINTEI, SIM,
Para te dar
A cor
Que não queres.
É como dar-te
A vida que
Não tens
Fora de mim.
E SABES?
Gosto de ti
Assim,
Com estas cores,
Geometria
Que desliza
Para uma aguarela,
Como água
Cristalina
A brotar
Desse teu rosto...
AGORA EXPONHO-TE,
És espelho
Do poema,
Cores quentes
A ferver
Como eu
Que t’escrevo
Cartas de amor
Disfarçado
De poeta
Neste meu
Entardecer,
Quando o azul
Se faz breu.
AH, SIM,
Metade sou eu,
Metade é o poeta
Que desenha
Com palavras
E te celebra
Com as cores
De que te veste
No tempo
Da fantasia.
PINTEI-TE
E eu não queria...
...............
Mas o desejo
De te ter
À minha frente
Foi mais forte
Do que eu,
Pulsão quente,
Desejo ardente,
Olhar de frente
O teu céu.
OH, AFINAL,
Pinto-te sempre
Na tela
Da minha alma
Com palavras
Que o vento
Leva
E cores
Que se dissolvem
Neste triste
Entardecer.
E PARA QUÊ?
Para nada?
Dizes:
“- Eu quero lá
Saber!
Pinta praí
Como danado
Até que a cor
Te doa
Do teu pecado,
Escreve
E canta
Até que as mãos
Afaguem
Essa garganta
Dorida,
Olha-me
Até que a vista
se canse
De nunca me
Alcançar
Por ser visão
Proibida”.
OH, PENSANDO
Melhor
(Finalmente,
Tu dirás),
“- Pinta, canta
E olha
Porque, afinal,
Até gosto
Do que o teu
Canto me traz.
SEM TE LER
Nem te ouvir
Ou ver-te
Com memória
Atormentada
Do que nunca
Aconteceu...
...........
Eu bem sei
Como a ausência
Te doeu!”
“ - MAS PINTA,
Meu amor, pinta,
Quem to pede
Não te quer,
Mas sabe
Quanto a cor
Adoça a vida
Se perdeste
Uma mulher.”

“Mulher”. Detalhe.
COLISÃO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Meteorito”.
Original de minha autoria
para este poema. Setembro de 2019.

Meteorito. Jas. 09-2019.
“Dentro de los meteoritos y sus metales
extraños se leen
las historias de otros mundos”
(El País, 07.09.19)
POEMA – “COLISÃO”
CAÍSTE EM MIM Como meteorito, Embate espectral No meu chão, Abriste Sulco profundo No meu corpo, Mas não doeu Essa abrupta Aparição... A VELOCIDADE Cegou-me (É sempre assim), Clarão, Ondas, Vibrações Abanaram-me A alma, Raízes Estremeceram Lá mais no fundo De mim. PROCUREI-TE Nessa cratera Cavada na minha Alma E passada A tempestade Vi fragmentos De ti, Minerais Pra lapidar Como dunas Desenhadas Pelo vento Aqui bem perto Do mar. NESSA FENDA Tão profunda Encontrei Um brilho Estranho Que me pôs A levitar, Sol frio Como metal, Gelo cortante A cair Na linha Do meu olhar... NUNCA MAIS DE LÁ SAÍ... ............ E com mãos De alma pura Peguei Subitamente Em ti... .......... Escaldavas De tanto brilho Exalar E caíste-me No chão, Trémulo De tão inquieta Incerteza, Calor Fervente No peito, Mistério De uma estranha Beleza Que renasce Na cratera De um vulcão... FIZ DE TI Minha bola De cristal, Li nela A história de um Encanto Que trespassou Como raio Uma fronteira Vital. E AQUI ESTÁS Em tão sofrida Distância, Estranhos Perante nós Como quis o Meu destino E os astros Do teu chão Na fronteira Do divino. MAS NÃO PERDESTE Magia, Meteorito Em quietude, Íman Silencioso Que me atrai Suavemente Como oráculo De um destino Sempre em lenta Gestação. LEIO-ME A ALMA Na superfície Dourada De teu corpo Incandescente Qu'ilumina A emoção, Me consome E me domina Nesta tensa Relação. ÉS RASTO CÓSMICO, Atracção fatal Que me suspende A vida Pra me fazer Levitar, Tornando Meus tristes Dias Uma paisagem Lunar. AH, SIM, Mas és razão De arte Nesta vida Que inventei, Encantamento, Fonte seminal Onde bebo E me embriago D'emoção Até te ter Um momento Nas palavras De um poema De quimérica Paixão.

Meteorito. Detalhe.
“COR, MAIS COR…”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Caminhos”. Original de minha autoria para este poema. Setembro de 2019.

Caminhos. Jas. 09-2019
POEMA – “COR, MAIS COR…”
COR, DÁ-ME COR
Fico mais perto
De ti
Se vieres
Com o vento...
..............
Cor, mais cor,
Que as palavras
Coloridas
Já me sabem
A cinzento...
OU TALVEZ NÃO.
Palavras
Já não me faltam,
Não sinto
Escuridão,
Ainda consigo
Dizer-te
Em mil palavras
Pintadas,
Entregar-te
A minha alma
Na palma
Da tua mão.
TENHO-AS
Que me cheguem
Para gritar
A vermelho
O concreto
Do teu nome,
Ver, assim,
Esse teu rosto
No eco
Da minha voz
Sem que a tristeza
Assome.
AH, E A COR
Se for intensa
E crescer
Em explosão,
Se tiver
Em contraponto
Palavras
De liberdade
Soletradas
Em azul
Dos teus sonhos
De papel...
............
É tudo
O que eu desejo
Pra t’esculpir
A cinzel.
DÁ-ME COR,
Que eu sou
Sensível
Ao brilho
Do teu olhar,
Vibro na luz
Qu’irradia
Quando vestes
O vermelho
Ou te cobres
Com as cores
Do arco-íris
Que és.
VÊS COMO TE
Conheço?
Tu és cor,
Gota d’água
Suspensa
No fio
Do horizonte
Banhada por
Raios de sol
Que despontam
Lá no monte.
DANÇAS COM ELA,
A cor,
E com ela
Adormeces.
É sopro doce
Do peito,
Da vida
Exaltação,
Com luz
Coada por ti
Para um sonho
Perfeito
No reino da
Evasão.
EU GOSTO MUITO
De cor,
Confundir-me
Todo
Com ela,
Dançá-la
Como vida
Em eclosão,
Girândola
Que embriaga
Os sentidos
Como se fosse
Vulcão...
LEMBRO-ME
Bem do poeta
Que pedia
“Mais luz!”
Já em seu leito
Fatal.
Tinha luz
Dentro de si
Mas a cor
Já não entrava
Pelas frestas
Do portal.
ERA CINZENTA
A cor que lhe
Restava
Até escurecer
Quando a janela
Lentamente
Se fechava
No sol-posto
Desse seu
Entardecer.
MAS A PALAVRA
Fascina-me.
É com ela
Que te canto,
Com a cor
Danço e voo,
Na palavra
Calo
Os sentidos
Para melhor
Te sonhar
Dos dias
Em vão perdidos
Na deriva
Do teu mar!
AH, SIM,
Eu gosto
É de palavras
Porque cabes
Em quatro letras
Aninhadas
No teu nome
Que me sabe
A verde
Eterno
Nas tardes de
Primavera.

Caminhos. Detalhe.
PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Geometria de um Poema”.
Original de minha autoria.
Setembro de 2019.

“Geometria de um Poema”. Jas. 09-2019
POEMA – “PALAVRAS”
PRA QUE SERVE
Este poema,
Meu amor?
“- Para nada!”,
Dizes tu,
“- São palavras
Que usas
Pra te sentires
Menos nu”.
PALAVRAS
São como vento,
Vão,
Voltam
E mudam
D’intensidade,
Sopram forte
Ou de mansinho,
São volúveis,
Ilusão,
Vão pra sul
Ou vão pra norte
Mas cruzam
O teu destino
Mesmo que digas
Que não.
SÃO INTANGÍVEIS,
São sinais,
Podem ferir
Como espada,
Às vezes
Como silêncio,
Outras,
Pior,
Como nada...
DIZEM SEMPRE
O que sinto,
Parecendo
Não o dizer,
Às vezes
É proibido
E outras
É por não
Querer.
E se escrevo
E te minto
É por ser forte
O desejo
De um dia
Eu te ter.
ESTE POEMA
Que te envio
Escrevi-o
Com o vento,
Mas nele
Eu também minto...
..............
E o vermelho
É cinzento!
MAS É CONFISSÃO
Inocente
Que chega
Ao seu destino
Como o Sol
Vai a poente
Num poema
Cristalino.
SÃO PALAVRAS,
Meu amor,
Murmúrios
De quem te quer,
São o sonho
Do poeta
Quando a vida
Adormece
No rosto
De uma mulher.

“Geometria de um Poema”. Detalhe.
CATEDRAL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Tempo”. Original de minha autoria sobre foto de Giovanna Bellelli, em Roma. Poema inspirado no Romance “Via dei Portoghesi” (Parsifal, 2019). Agosto de 2019.

“Tempo” – Jas. 08-2019.
POEMA – “CATEDRAL”
VIAJÁMOS NO TEMPO Até à cidade. Encontrei-te Por ali. Nada mudara. Rosto sereno, Inocente, Como quem Sempre sorri. FOMOS AO TEMPLO Da rua Da minha vida, À cúpula Da catedral. Não te abracei Nessa noite, Era sagrado O lugar, Seria abraço Fatal. MAS FICOU-ME O prazer De te ter Ali ao lado, A sonhar Nesse meu leito O beijo Que não trocámos Numa noite De luar, Quando o amor É mais quente E o corpo Desnudado Por tanto a alma Brilhar. FOMOS À PRAÇA NAVONA, Escutámos As águas da fonte E os traços Do Bernini, Da beleza Horizonte, Íntimos, Em sintonia, Antevendo um futuro Que nunca mais Chegaria... ATÉ QUE ME PROCURASTE Nessa fita Da memória, A noite Perdida de afectos Na cúpula da catedral, Corpos tensos Sem palavras Na fronteira Do amor. TORNOU-SE MAIS VIVO O que não aconteceu Como se fosse Futuro Que afinal No teu passado Ainda não se Perdeu. E CÁ ESTAMOS DE NOVO À procura Dessa noite, Do beijo Que não te dei, Passado virou Futuro E do tempo Dessa Igreja Já nem sei O que farei. TALVEZ FAÇA UM POEMA Para te reencontrar, Cantar esse Sorriso De que sempre Eu gostei, Voar no tempo Em espaço sideral E em noite de luar Pousar de novo Contigo Na cúpula Da catedral....

“Tempo” – Detalhe.
“LUA”
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Ballerina”
Original de minha autoria
para este poema. Agosto de 2018

Ballerina. Jas. 08.2019
POEMA – “LUA”
DESCI À PRAIA
Da meia-lua
A ver se nela
Te via.
Era brilhante
O anoitecer,
Cheio de luz
E perfume a maresia.
ERA DA LUA-CHEIA
A luz branca
Que do céu caía,
Gente que dançava
Em dia de festa,
De som e de cor...
....................
E se divertia!
NO CLARO DE LUA
Vi um rosto
De mulher
Que não era
Estranho,
Um perfil qualquer...
ERAM NEGROS
Os seus olhos,
Boca
Rúbida e quente,
Pele macia
Em corpo ardente,
Cabelos ao vento...
VI QUE ERA ELA
A deusa do baile,
Luz branca da lua,
Espelho de mar...
....................
Logo o meu olhar
Procurou o seu
Nesse cintilante
Brilho do luar...
COM ELA DANCEI,
Saltei e cantei
Em alegria,
Vibrou o meu corpo
Com essa melodia
Que me inspirava
Numa bela praia
Em forma de lua
E me seduzia.
VI O SEU SORRISO
Em perfil na lua
Que eu desenhei,
Uma luz intensa
Me iluminou
Quando eu dançava
Essa melodia
Que pra mim soou.
CORPO DE MULHER...
.................
Eu já nem sabia
Se era ela
Ou outra qualquer
Com quem eu podia
Erguer-me à lua
Com alma despida
Neste frágil corpo
Pouco mais que nu...
E TAMBÉM A ALMA
À sua procura
Era de nudez
Um pouco ousada,
Mas, sim, era pura
Por ser nesta lua
Que adivinhava
A minha ventura...
.....................
Pouco mais que nada!
ONDE ESTÁ A LUA?
Nessa bela praia
Ou noutro lugar
Onde a possa ver
Espreitar a rua
Pra me enfeitiçar?
ESTÁ EM TODO O LADO
Onde o meu poema
For entardecer
Para desenhar
Com suas palavras
Um suave rosto
Que é mais de deusa
Do que de mulher...

Ballerina. Detalhe.
“AGUARELA”
Poema de João de Almeida Santos, inspirado no poema de Manuel Bandeira “Tema e Variações”. Ilustração: “O Retrato”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2019.

“O Retrato”. Jas. 08-2019
POEMA – “AGUARELA”
SONHASTE, MANEL, Que havias sonhado Estar à janela Sonhando, a cores, Qu’estavas com ela. TAMBÉM EU SONHEI Que tinha sonhado E que no sonho A tinha encontrado, Passando por ela, Ali, lado a lado, Mas quando acordei Do primeiro sonho, Sonhando eu vi O seu rosto belo Numa aguarela Pintada a cores Que tinha guardado Para uma tela... SONHEI, OUTRA VEZ, No segundo sonho, Que era pintor Mas que pintava Sempre o seu rosto A uma só cor. DIZIA, SONHANDO, Que não podia ser. Seu rosto expressivo Era arco-íris Ao amanhecer E era sorriso Para o mundo ver! MAS EU SÓ O VIA Com a minha cor, Esse rosto belo De seda tecido Que me seduzia No sonho sonhado Onde sempre a via Ali, a meu lado. NÃO QUERIA ACORDAR Do sonho feliz E nele fiquei De olhos fechados. JÁ NÃO ACORDEI Do sonho sonhado Porque nessa cor Fiquei encerrado Com todo o meu ser... .................. Talvez por amor. NO SONHO OLHEI Para o meu espelho E logo eu vi Que essa minha cor Era o vermelho. E QUANDO ACORDEI Do primeiro sonho Voltei a sonhar Que desvanecia Nesse rosto amado E logo lhe disse, No segundo sonho, Que a tinha sonhado. DISSE-ME QUE NÃO Que nunca me vira Sequer acordado E logo acordei Desse pesadelo. FOI ASSIM QUE VI Que tinha sonhado E que ela Já lá não estava Ali, a meu lado. QUIS ADORMECER Para a encontrar Mas não consegui Sonhar que a via, Pôr os olhos nela, Chorar d’alegria Porque descobri Na minha parede Aquela aguarela Que do sonho Passado Eu já conhecia... ..................... Era o rosto dela!

“O Retrato”. Detalhe
ELAS FOGEM, AS PALAVRAS…
Poema, em dois andamentos, de João de Almeida Santos. Ilustração: “Letras”. Original de minha autoria para este poema. Agosto de 2019.

“Letras”. Jas. 08-2019
POEMA – “ELAS FOGEM, AS PALAVRAS…”
I. QUERIA FAZER-TE UM POEMA, Sentir-te nele À vontade E as palavras Endoidaram Quando, Feliz, Lhes falei Da minha Quente Saudade. FUGIRAM Numa revolta Sentida Sem conhecer A verdade Deixando-me Só, Sem palavras, À deriva, Sem dó Nem piedade... EU ESTAVA A MENTIR Sem pensar Na crueldade De as usar Como queria Só porque Tinha saudade... ESGUEIRARAM RUA FORA, Cada uma Por seu lado, Em fugas No horizonte Deste poema Tentado... SÓ JÁ AS VIA AO LONGE, Ao fundo Da tua rua, Num ponto Do infinito Desta minha Alma nua. UMAS ESVOAÇAVAM No fio Do horizonte, Outras Aninhadas No passeio... ................... E eu a tentar O versejo Capturado No enleio Desta prisão Do desejo! PALAVRAS EM CORRERIA, Letras Perdendo forma Como fios De novelo Já desfeito De sentido Como a água Do gelo... SÂO FIOS EMARANHADOS, Letras Que se deslaçam E procuram Outras formas Para lá da minha Rima, São riscos Na tua tela A subir Por ela acima... II. QUERO FAZER-TE UM POEMA Com palavras Desenhadas, Mas elas fogem Pra longe, Correm, correm, Assustadas, Não vá mesmo Ser verdade Que as quero Alinhadas Neste recanto Feliz Onde resisto À saudade. ELAS GOSTAM DE CANTAR Esta minha Triste dor E gostam De me dizer Em intensa Emoção, Mas se me vêem Feliz Fogem de mim, Dizem “não!” O POEMA PASSARINHO Procura-te Para cantar Mas se já Não sentes nada É ele que foge A voar... E HOJE É mesmo assim Fogem todas As palavras Sem procurar Um destino, Já não consigo Agarrá-las Num poema Genuíno... NÃO SABEM Da minha dor E por isso Vão embora Estou sem palavras, Amor, Estou muito triste, Agora!

“Letras”. Detalhe.
NEBLINA…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria para este poema. Julho de 2019.

“S/Título”. Jas. 07-2019
POEMA – “NEBLINA”
OUÇO O SILÊNCIO
Que me cerca
O corpo
E a alma...
ADENTRO-ME
Na multidão
Rumorosa
E ele cresce
Sobre mim,
Ensurdece-me
Por dentro!
MAS É DEMAIS,
Caustica-me
A pele
Macia das
Recordações,
Faz-me
Zumbidos
Na alma,
Assobia
Como silvo
Do vento
Nas janelas
Da emoção,
Escuro
Em dias
De tempestade.
OUÇO
A palavra
Silêncio
Tonitruante
Dentro de mim...
HÁ TROVÕES
Silenciosos
Que me assaltam
E fujo
Para o ermo,
Lá em cima,
Solidão de
Eremita
Procurando
O silêncio
Que cobre
O nome
(Tão simples)
Que nunca
Ousaste
Pronunciar...
E O SILÊNCIO
Torna-se
Melodia,
Ouço uma harpa
Dedilhada
Por ti,
Notas musicais
Esvoaçando
No teu azul
De catedral.
VEJO-TE SAIR
Da densa neblina
Que te veste
E cubro-me de
Palavras
À procura
De autor
Que as componha
Num poema
Que te cante
E que te conte...
NOMEIO-TE
Em silêncio
E sussurro
Uma pequena
Palavra
Que nunca ousei
Dizer-te
Mas que ouviste
Ressoar-te
Na alma
Mil vezes!
O SILÊNCIO
Tomou conta de nós
E eu não sairei
Deste poema
Até que me ouças
E soletres
Finalmente
O meu nome
Com as cores
Da tua fantasia.

“Sem/Título”. Detalhe.
CANTA, POETA, CANTA!
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: "Auto-Retrato de um Poeta". Original de minha autoria. Julho de 2019.

“Auto-Retrato de um Poeta”. Jas. 07-2019
“Ora al nuovo sole si affidano i nuovi germogli” Virgílio
POEMA – “CANTA, POETA, CANTA!”
CANTA, POETA, CANTA Até que ela Te ouça, Nem que a palavra Te doa E a alma Estremeça. CANTA, POETA, CANTA Que o teu poema Tem dor Que te baste No amor E tem cor Que alumia E tem sabor A cerejas Que as dá A Primavera. SE NO CANTAR Tu quiseres Atingir o infinito Salta pra cima Dum risco, Agarra asas De azul E voa Nesse teu céu Até que ela Te veja, Te pinte Numa cereja E murmure Este teu nome Em silêncio De igreja... CANTA, POETA, CANTA Que o teu cantar É meu choro E é água Cristalina Que corre Lesta Em seu rio À procura de beleza Num infinito Adeus Beijado Pela tristeza. CANTA, POETA, CANTA Que contigo Cantarei A alvorada do dia, Chora, que eu Chorarei Se não houver Alegria, Ri, que Eu sorrirei Animado por teu Riso E para ti Dançarei Uma valsa De Strauss Às portas Do Paraíso. CANTA, POETA, CANTA Até que ela Te ouça, Não pares De chorar alto, Na montanha, No planalto, Num poema Ou num desenho, Numa cor Em aguarela, Afagado Pela dor De não a veres À janela. CANTA, POETA, CANTA, Para ti E para o mundo Que o teu cantar Enobrece Quem ouvir A tua prece, Quem sentir O teu lamento, Que de ser Já tão profundo Não o leva Nem o vento Pois em ti Ele entardece. E SE O VENTO O levar Vai procurá-la A ela, Dobra lento A esquina Pra que a vejas À janela Num dia que É de festa Sem cortinas No poema... MAS SE O VENTO Não soprar, O lamento Lá regressa Ao poeta Que o cantou Pois não era Dele o dia Mas de quem O castigou... CANTA, POETA, Canta Que um dia há-de Ouvir... ................... Deixa, pois, que o Tempo passe, Que a razão Se esclareça E confia no porvir... CHORA, POETA, Chora, Neste teu Entardecer Aqui tão perto Da arte E saudades De morrer... CHORA, POETA, Chora, Até que rompa A aurora Deste longo Anoitecer...

“Auto-Retrato de um Poeta”. Detalhe.
O BRINCO
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Brinco de pérolas e cristais”.
Original de minha autoria para este poema.
Julho de 2019.

“Brinco de pérolas e cristais”. Jas. 07-2019
POEMA – “O BRINCO”
VI-TE TRISTE
Naquele dia,
Rosto quieto,
Melancolia,
Olhar
Perdido,
Levemente
Embaciado...
NÃO SEI...
Era versátil
O teu rosto,
Bebia cores
Que se aninhavam
Na pele macia
Que a luz
Interpelava
(Cada dia)
Como pincel
Sobre tela
De veludo
(E bem se via).
TEUS OLHOS
TRISTES
Respondiam
Em metamorfoses
De brilho,
Ecos
Da natureza,
Raios de luz...
E MEUS OLHOS,
Seu espelho,
Devolviam-lhes
Cor incerta,
Reflexo
De alma
A vaguear
Pelas mil
Dobras
Da vida,
À procura
De destinos
Em gestação...
..............
Aconchego
De alma
Itinerante!
GANHARA VIDA
Esse brinco!
Desprendera-se
De um rosto
Que o pintor
Esculpira
Com as cores
Do desejo
Cristalizado
Pelo silêncio
Frio
Da tela.
ESTAVAS TRISTE
Nesse dia,
Sulcos marcados,
Peso na alma,
Sinais selados…
POUSARA EM TI
Esse brinco
Como sinal
Cravejado
De cristais,
Vindo de um longo
Silêncio,
Quase Irreal,
Agora resgatado
Com diamantes
Em mulher
Madura,
Olhar fatal...
CRISTAIS
Sobre mim...
...............
Código exposto,
Encontro
Casual,
Silêncio
Resgatado
Com brinco
Sensual
Em rosto
Pela tristeza
Toldado...
ÉRAMOS DOIS
E o brinco
De cristais
Que em ti
Renasciam
Como sinais...
QUIS DESENHAR-TE
Num poema...
........
Olhei,
Marquei,
Tracei,
Era pintor
De metáforas
Com palavras
Roubadas
Ao silêncio...
ERA OUSADA,
Bem sei,
A poética
Que te compunha
Como breve,
Mas intensa
Sinfonia...
AH, MULHER,
Como te sonhei
Nesse dia!
UM
Dois,
Três,
Regressei
De vez
À rapariga
Do brinco
Original
Em mulher
Madura
E essas pérolas
Irreais
Eram pêndulo
Do tempo
Resgatado...
............
Tic, tac,
Tic, tac,
.............
A marcar
O ritmo
De uma valsa
Lenta
Para dentro
De ti,
Um sonho
Escrito
Com as palavras
Do desejo...
A CADA COMPASSO
Era mais belo
Esse brinco,
Brilhava
Como pérola
Em coral
De águas
Profundas,
Alegoria
Seminal
Que iluminava
Tua alma triste
E o perfil
De teu corpo
Humedecido e
Abandonado
Às mãos
Livres
Do poeta...
HAVIA PÉROLAS...
.................
E acariciavam,
Ondulantes,
A sensualidade
Aveludada
De teu rosto
Sobre mim...
PENDULAR,
Esse brinco
Ecoava
No tempo
E renascia
Em ti...
...........
Tic, tac,
Tic, tac,
............
Em ritmo
Vital
E ofegante
Como se fosse
Estrofe
Oscilante
(Tic, tac)
Do breve
Poema
De tua vida!

“Brinco de pérolas e cristais”. Detalhe.
O BEIJO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração original do autor – “O BEIJO”. Dia Internacional do Beijo: 6 de Julho, o dia que celebro, com um poema, cada ano. Inspirado no Thomas Mann de “Lotte em Weimar” (1939), a obra que continuou "Werther” (1774), de Goethe (1749-1832), e no romance “Via dei Portoghesi”.

“O Beijo”. Jas. 06-07-2019
Thomas Mann: “O amor é o melhor na vida, assim, no amor, o melhor é o beijo – Poesia do amor...”. “Beijo é alegria, procriação é luxúria.” Inspirado também em: Kafka: “Os beijos escritos não chegam ao destino, mas são bebidos pelos fantasmas ao longo do trajecto.” Shakespeare: “Se para te beijar devesse, depois, ir para o inferno, fá-lo-ia. Assim, poderia vangloriar-me, com os diabos, de ter visto o paraíso sem nunca lá ter entrado.” Bernhardt: “O primeiro beijo não é dado com a boca, mas com os olhos.”
POEMA – “O BEIJO”
FOI O QUE NUNCA TE DEI A não ser com o olhar! O primeiro, esse beijo, Dei-to, pois, sem te tocar! E DEI-TE MAIS, COM PALAVRAS, Quando olhar já não podia, Foste embora, não estavas E eu, triste, não te via! FORAM BEIJOS QUE SONHEI Na rotina dos meus dias E desejos que enfrentei Quando tu mais me fugias, Mas dou-te beijos escritos Que se perdem no caminho E se me falta o poema Fico ainda mais sozinho! O BEIJO É EMOÇÃO, É razão descontrolada, Se não for dado a tempo Pouco mais será que nada! SEM BEIJO NÃO HÁ AMOR, Sem amor perde-se o beijo, A vida perde sentido Se me faltar o desejo Por te ter, assim, perdido! AQUI O LANÇO AO VENTO Pra que atinja como brisa E suave melodia Esse rosto que precisa De afecto em poesia! ESSE BEIJO QUE ME FALTA De que nunca fui capaz Voa pra ti em palavras Põe-me sereno, em paz E desejo que, no trajecto, Voe, voe em grande altura, Que fantasmas não o bebam E minha dor tenha cura. MAS SEI DOS ESCOLHOS DA VIA, Dos perigos que ele corre, Capturado por fantasmas É mensagem que me morre! NO DIA DO BEIJO É HORA De te cantar em voz alta A poética do amor Pra redimir essa falta E pôr fim à minha dor. E PORQUE O DIA É TEU Ganha força, Intensidade... ........................ Mesmo que fantasmas O bebam É um beijo de verdade! ESSE BEIJO QUE NÃO DEI Foi pecado original, Hei-de sofrê-lo pra sempre Como chaga corporal. NÃO HÁ PALAVRAS QUE BASTEM Pra repor o que não dei Elas voam, mas não chegam E mesmo assim eu tentei... É CERTO QUE SEMPRE O QUIS, Só que nunca to roubei, A culpa foi desse tempo, Dos dias em que te amei, Um tempo em diferido Sem presente nem futuro, Talvez beijo sem sentido Porque queria do mais puro, Tangendo eternidade Às portas do Paraíso, Um beijo de divindade, Mas simples Como um sorriso! ESSE BEIJO IMPOSSÍVEL Que não é do foro humano Vou tentando construí-lo Cada dia, cada ano, Perdendo-me pelo caminho Como sagrado em profano!
ARLEQUIM
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Máscara”. Original de minha autoria. Reproposição com ajustamentos no poema e na pintura. Junho de 2019.

“Máscara”. Jas. 06-2019
POEMA – “ARLEQUIM”
COMPREI UMA MÁSCARA, Pu-la no rosto do Meu amado poeta E ele não a Enjeitou. Ainda por cima Me disse: “- Sou eu, sou, Como nas palavras Que digo Também meu rosto Mudou. NÃO ESPERAVAS Ver-me assim! Vá, confessa O teu espanto! Luzinhas na minha Cabeça, Rosto tão Desfigurado, Cor, tanta cor (A que apeteça) Pra sufocar Esta dor, Sempre que ela Apareça A pedir o meu Cuidado. ADOPTEI ESTA FIGURA, Apresento-me assim, As outras Nada te dizem, Com esta Olhas pra mim! PALHAÇO É O QUE SOU, Falo a Surdos e mudos Que não ouvem O que digo Nem me dizem O que quero Como se fosse Mendigo Do que, afinal, Nem espero. VALHA-ME POIS ESTA MÁSCARA! Assim rio Desta vida, Rio de ti E de mim, Da chegada E da partida, Dos abraços, Das palavras E também da Despedida! SOU PALHAÇO, É o que sou, Entretenho-me A cantar E se ouvires Este meu canto Arlequim É seu autor, Por isso tu Não t’importes O que diz É de certeza Pra espantar Sua dor!” A MÁSCARA É o seu rosto, Colou-se-lhe Logo à pele Com a cola Do desgosto E por isso Já nem sabe Se seu rosto É o dele. COMPREI UMA MÁSCARA Luminosa No mercado Da minha vida Ponho-lha sempre Que posso, À chegada E à partida. NUNCA LHA TIRO, Ao poeta, Que rasgo a sua Alma, Pois se o canto O liberta É a máscara Que o salva!

Máscara”. Detalhe.
NOSTALGIA
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Nostalgia”. Original
de minha autoria. Poema inspirado no Romance
"Via dei Portoghesi", que será lançado na próxima
Quinta-Feira, 27 de Junho, na Sala do Arquivo
da Câmara Municipal de Lisboa, Praça do Município,
às 18:30. Junho de 2019.
Convido hoje o leitor a ler também o meu Ensaio
"A Arte, o Artista e os Outros", aqui em link:
https://joaodealmeidasantos.com/2018/08/24/ensaio-5/?fbclid=IwAR1UqXBHq-FMQBEd5hPrZYvVTpNnMYDJQ078xuo_KVL4c7-iyE2HUuaM1HQ

“Nostalgia”. Jas. 06-2019
POEMA – “NOSTALGIA”
RÁPIDA COMO O VENTO
Passou por mim
Esta palavra saudade
Numa rua do meu bairro
Sob o céu desta cidade.
GRAVEI-A
Na minha mente,
Evoquei-a
Ao crepúsculo
Com incerta
Nostalgia...
...................
Não queima tanto,
Esta palavra,
Porque a sinto
Mais fria!
COM CESÁRIO
(De quem gosto)
Dei-lhe cor,
Cantei-a
Com a pintura,
Dei-lhe vida
Num romance,
Tento tudo,
O que não posso,
Porque esta dor
Me perdura...
DA SUA COR
Vejo o mundo,
Com palavras
A recrio,
Procuro sempre
O seu rosto...
...................
E por mais longe
Qu’esteja
Eu não me sinto
Vazio.
A DOR
Desta saudade
Alimenta-me
A alma
E aquece a minha
Vida
E assim eu vou
Vivendo
Em eterna
Despedida,
Neste cais
Que não tem fim,
Em partida
Que não há,
Um adeus que não
Existe,
Porque tu
Nunca saíste
Deste meu
Lado de cá.
MAS HÁ SEMPRE
Esta saudade
A que chamo
Nostalgia,
Uma tristeza
Feliz
Que eu sinto
No labor de
Cada dia.
NÃO TE TENHO,
Mas não te perco,
Estás longe,
Perto daqui,
Não te encontro
Nem te vejo,
Mas sei que não
Te perdi...
INSPIRA-ME,
A nostalgia...
......................
Recrio-te em cada
Instante,
Sou poeta,
Sou pintor
E também sou
Arlequim,
Por isso vejo
O teu mundo
A partir dum
Camarim!
ESCULPO
Teu rosto
Com palavras
Do meu peito,
Pinto a alma
Com a cor
Da tua voz,
Voo contigo
Em sonho,
Banho a alma
No dourado do
Teu rio
Pra chegar
À tua foz.
TENHO COMIGO
PINCÉIS
E as asas
Do poeta,
Danço,
Sou arlequim,
Pinto-me nesta
Ribalta
Com as cores
Que vês
Em mim!
SEM TI
NESTA RUA
Da saudade
Sou palhaço
Em camarim
Que maquilha
O seu rosto
Num palco
Que não tem fim,
Representa
Para ti
Sem saber
Se lá estás,
A verdade
Não lh'importa,
É feliz com
O que faz!
ASSIM VIVE
O ARLEQUIM...
........................
No palco da sua vida
É só arte
O seu fazer,
As dádivas que ele
Te entrega
São um modo
De viver!

“Nostalgia”. Detalhe.
DISSERAM-ME, UM DIA…
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Inscrições na Pedra”.
Original de minha autoria para este poema.
Junho de 2019.

“Inscrições na Pedra”. Jas. 06-2019
POEMA – “DISSERAM-ME, UM DIA…”
DISSERAM-ME,
Um dia,
Que te viram
Sozinha
E melancólica,
Sentada
Numa pedra
De granito...
...Amarelo,
Luminosa de
Cristais,
À sombra
Duma figueira
E já nem sei,
Nem sei que mais...
DISSERAM-ME
Que foi
Lá em cima
No Monte
Sagrado,
Como se tivesses
Perdido
Uma parte de ti
E a chorasses
Em solidão,
Invocando a bela
Athena,
Essa deusa
Que t'inspira
E te leva
Pela mão...
DISSERAM, SIM,
E cantaram-te
A beleza triste,
A nostálgica
Melancolia
Espelhada
Em teu rosto,
Na turbação
Desse dia...
E EU, ENTRISTECIDO,
Voltei
A imaginar-te
Projectada
Em mil rostos
Desenhados
A carvão,
Em flores
De cor intensa,
Bem pintadas
A pastel,
Em planos de
Infinito
Desenhados
No papel...
E VI-TE
A vaguear
No tempo,
Nos confins
Da memória
Com olhos
De fantasia
À procura
Da beleza
Que tens inscrita
Na alma,
De tua arte
A magia.
MAS EU VI
O mundo
Desabar
Sobre ti,
Rasgar a folha
Branca e macia
Onde desenhavas
O futuro
Com mestria,
Estilhaçando
A ténue luz
Que te alumiava
De perto,
Como por encanto,
O destino...
...................
E até a tua
Serena alegria!
NÃO DESTE CONTA,
Bem sei,
Mas agora
Sentes-te um pouco
Às escuras,
O sol do Monte
Esgueirou-se
Para outras paisagens,
A poente,
E à noite
A lua-cheia
Da praia
Da meia-lua
Já só brilha
Intermitente...
NEM SEI COMO
Dizer-te,
Num poema
Ou num quadro,
Que a arte
Só vive
De liberdade,
Desnuda-nos
A alma toda
Como luz que nos
Invade!
AGARRA, ENTÃO,
O vento
Que te sopra
Dentro,
Desnuda-te
E voa nele
De novo
Em direcção ao
Infinito,
Reinventa-te
Em azul
E grita ao mundo,
Lá de cima,
A arte que levas
Dentro de ti,
Grávida
Dessa beleza
Onde, nos meus poemas,
Eu sempre, feliz,
Renasci.
AH, COMO GOSTARIA
De voar de novo
Contigo
Agarrado a palavras
Deslaçadas
Em mil fios
Coloridos,
Cansado que estou
De voar sempre
Sozinho
Para não te perder
De vez
Nesta inóspita
Esquina
Do meu caminho...
................
Mas talvez seja
Tarde demais
Para apagar
Esta melancolia
Que me corrompe
O entardecer
De cada poema
E a sua melodia...

“Inscrições na Pedra”. Detalhe.
EM CERTOS DIAS…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Beija-Flor em Magnólia Branca”. Original de minha autoria para este poema. Junho de 2019.

Beija-Flor em Magnólia Branca”. Jas. 06-2019
POEMA – “EM CERTOS DIAS…”
EM CERTOS DIAS, Teu macio rosto De veludo Alterna Entre suave doçura e Vincos marcados Como sulcos, Aspereza de Sensualidade Sustida À flor da pele Para que não Transbordes Em excesso De ti. COMO SE FOSSES DUAS MULHERES, As faces de Janus, Decidida E evasiva, Passado e futuro, Espartilho Que quase anula O teu fértil Húmus anímico Que remotamente Te inspira, Desde a raiz. MAS TU ÉS UMA SÓ, Aquela que Ficou Sentada Na soleira da tua Alma Quando, em solidão, Saíste, decidida, Para a rua Da tua vida À conquista Do mundo... ACORDA, MULHER, Vai à procura De ti Na fronteira Do teu destino, Olha o mundo Da janela, Mas sai Pela porta da tua Alma De braço dado Com o sol que Tantas vezes Te ilumina O olhar Com as cores Do arco-íris. HÁ TANTAS MAGNÓLIAS (Como tu) No meio do caminho Da tua vida Que basta olhá-las Pra que ela Te sorria. AH, NÃO SABES Quanta metafísica Há numa magnólia Branca! Fala-lhe com os teus Olhos, Acende-a com Teu sopro quente, Acaricia-a com Mãos macias E verás que ela Te apontará o caminho Do reencontro Contigo Na brancura De suas pétalas. E VERÁS TAMBÉM Que tu vives, (Como eu) Num intervalo entre ti E o mundo De onde te podes Reconhecer No regresso À tua soleira vital, Para repartires Aconchegada, Contigo no regaço. NA FRONTEIRA - Sabias? - Vemos melhor Para dentro e para fora De nós, Vemos Os demónios E os anjos... VÁ, CANTA A VIDA Com teus olhos, Demora-te um pouco Na janela sobranceira Do teu íntimo A ver passar Aquela que já Não queres ser Porque apaga O rasto do teu Acontecer... .................... E sai com o vento Pela porta do Teu destino. E VAI AO JARDIM Falar com as magnólias E come chocolates E canta E dança E grita se for preciso Até que o eco Te devolva Identidade E teus olhos Se cubram Daquele verde Que nasce nas Encostas, Nos verões Das nossas vidas, Quando o sol Já brilha no horizonte... MAS BRILHA? - Perguntarás. E eu digo-te Que sim Se o brilho Se acender também No teu inquieto Olhar!

“Beija-Flor em Magnólia Branca”. Detalhe.
AH, PASÁRGADA…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Idílio em Pasárgada”. Original de minha autoria para este poema. Um diálogo em poesia com Manuel Bandeira (“Desencanto”; “Versos escritos na água”; “Renúncia" - Manuel Bandeira, Obras Poéticas. Lisboa, Minerva, 1956, pp. 33, 40, 101). Junho de 2019.

“Idílio em Pasárgada”. Jas. 06.2019.
“POEMA: “AH, PASÁRGADA…”
“OS POUCOS VERSOS QUE AÍ VÃO, Em lugar de outros é que os ponho. Tu que me lês, deixo ao teu sonho Imaginar como serão.” (M.B.) OS MUITOS VERSOS Que te dei Transparecem No que eu sou. Se me leres Saberás Que não pequei E que é tanto O que agora Eu te dou. “NELES PORÁS TUA TRISTEZA Ou bem teu júbilo, e, talvez, Lhes acharás, tu que me lês, Alguma sombra de beleza...” BELEZA Que desenhei Sempre contigo, Mas em tristeza E tanta dor Como castigo. EU CANTO O que perdi P’ra que o verso Vá ter contigo Lá onde estejas Queira o vento Ser meu amigo Mesmo que tu Nunca me vejas. “QUEM OS OUVIU NÃO OS AMOU Meus pobres versos comovidos! Por isso fiquem esquecidos Onde o mau vento os atirou.” NÃO OS AMOU Mas foi verdade Este amor Que aqui nasceu E que cantei Em liberdade Em versos Que o vento Já me levou Dos muros Desta cidade. OUTROS FARIA Se pudesse Para os pôr Na tua mão, Não pediria que Os sonhasses, Olhos cerrados, Mas que os lesses Por afeição. AH, MANEL, Que bem me sabe Pôr a dor Em poesia, Em versos A emoção, No cantar Triste alegria De tão intensa Ser a paixão Mesmo que seja Apenas Doce utopia Ou singela Ilusão. DIZES TU, Em poesia, Que só a dor Te enobrece. É bem verdade, Meu bom poeta, Alma dorida Logo me aquece E com seus versos Entretece O que a paixão Já tanto afecta. “A VIDA É VÃ COMO A SOMBRA QUE PASSA... Sofre sereno e de alma sobranceira, Sem um grito sequer tua desgraça. ENCERRA EM TI TUA TRISTEZA INTEIRA. E pede humildemente a Deus que a faça Tua doce e constante companheira...” POIS TENHO MEDO, Ah, meu irmão, Que a dor Me passe, Perca o poema Sua raiz, Essa, sim, A verdadeira, E eu fique só Já sem palavras E caiam secas Todas as rosas Que me povoam Esta roseira. SOBRAM ESPINHOS, Ferem-me a alma E saem versos E cai o sangue “Gota a gota, Do coração”, “Volúpia ardente” Já sem remédio “Eu faço versos Como quem chora” E chamo a dor Naquela hora E ela vem Por compaixão! AH, POETA, Ah, meu irmão, Tu fazes versos “Como quem morre” E eu procuro Neste meu canto O seu perdão. TU, MANEL, És o poeta E a bandeira E ela é O meu refrão, P’ra mim és verso No meu poema E ela é, Na minha alma, Esta paixão!

“Idílio em Pasárgada”. Detalhe.
ENCONTREI-TE NESTA RUA…
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: Capa do Romance “VIA DEI PORTOGHESI”,
sobre desenho original de João de Almeida Santos, autor.
Poema inspirado neste Romance,
que estará nas livrarias e nas grandes superfícies
no próximo dia 18 de Junho.
Editora Parsifal. Lisboa. 2019.

Capa do Romance “Via dei Portoghesi”. Pintura original de JAS. 05-2019
POEMA – “ENCONTREI-TE NESTA RUA…”
ENCONTREI-TE NESTA RUA
Levemente curvada
Sob o peso da tua
Persistente
(E sedutora)
Melancolia...
UM OLHAR
Invisível
Seguia
O teu rasto,
Por incontida
Paixão,
Na rua
Do desencontro,
Dos olhares cruzados,
Incertos ou
Dissimulados,
Inundados de
Lágrimas secas
Expulsas
Pela dor
Nostálgica
E profunda
De almas
Em ferida.
MAS É A NOSSA RUA,
Não é?
Lugar vital
De tristes desacertos,
Vereda estreita,
Inacabada,
Destino
Traçado
Pelos deuses
Como castigo
Sei lá do quê,
Curva apertada
Da vida
Sobre abismo
Vertical
Que ameaça
Engolir-nos
No nada.
AH, EU SINTO
VERTIGENS
Ao passar na nossa
Rua!
Estou sempre
À beira de cair
No precipício
Quando que me
Cruzo contigo
Que seja
Apenas na
Memória deste lugar
Que me atrai
Como laço
Nunca deslaçado
Porque nunca
Cumprido.
ESTA É A RUA DO
Meu abismo,
Atracção fatal
Das margens
Dos meus dias
Para um passado
Que me devora
Inexoravelmente
O futuro,
Sem compaixão...
EU GOSTO
DESTA RUA,
Estou sempre
A celebrá-la
Com poemas,
Em exorcismos
Salvíficos
E consoladores,
Atraído
Por ela
Como se fosse
A nascente do meu
Incompleto
E melancólico
Viver...
MESMO QUANDO NÃO ESTÁS
(Nunca estás,
Eu bem sei)
Nela, tropeço
Em ti,
Seguro-me
Para não cair
Em mim
E sigo em frente
Até à esquina
Onde, contigo,
Me cruzava,
De uma certa forma,
Com o implacável
Mundo
Que nos era
Friamente hostil.
É A RUA DO DESENCONTRO
Porque foi nela
Que te encontrei,
Trocando
As voltas ao destino
E seguindo em frente,
A teu lado,
Por algum tempo,
Até que te perdi
O rasto
Numa curva
Perigosa
Desse desfiladeiro
Da tua vida
Que ameaça sugar-te
Para um vazio
Profundo...
MAS AGORA VISITO-TE
Em lugares
Imateriais
Onde te procuro
E recrio
Na esperança de
Um dia,
Inesperadamente,
Te ouvir dizer
De novo: “Olá!”...
................
E não seja
Tarde demais!

Plano da Capa do Romance.
A JANELA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Onde te vejo”. Publico hoje, em reposição, mas juntando um poema (de Dezembro de 2017) e um quadro, ambos de minha autoria, que foram executados para momentos e referentes diferentes: “A Janela” (ligeiramente retocado) e “Onde te vejo”. Este é o único poema que, até hoje, publiquei onde o sujeito poético é uma mulher. Dadas as suas características, fortemente rimáticas, não fiz versão áudio.

“Onde Te Vejo”. Jas. 03-2019
POEMA - "A JANELA"
NOS VIDROS Desta janela Se espelha Todo o meu ser, É neles que Eu te revejo Quando deixo De te ver. DA JANELA Vejo o mundo E o mundo Vê a janela, Debruçada No parapeito Olho o céu E olho a rua Para ver Se passas nela... NOS VIDROS Desta janela Há reflexos Da vida Olho p’ra eles Pensativa E não me sinto Perdida Se puder Falar contigo Quando te vir De partida... NOS VIDROS Da minha janela Se espelha Todo o teu ser Quando passas Nesta rua E me sinto Estremecer Da falta que tu Me fazes Por ainda Não te ter. SE TE AFASTAS Da janela E vislumbro Silhueta Lá ao fundo, Longe dela, Eu sofro Por te perder... .......... É uma dor Tão profunda Que logo Se me revela. VOA P’RA LONGE Essa tua Silhueta Que s’esgueira Na esquina Como se fosse Cometa A passar Na minha rua... .............. Mas também eu Me diluo E me sinto Um pouco nua Na imagem Transparente Dos vidros Desta janela Como se fosse Já tua. FOSTE EMBORA Do meu mundo Onde eu Te queria ter Ao alcance De um olhar Para nunca Te perder... MAS NÃO DEIXEI A janela, Esperei sempre Por ti, Hora-a-hora, Dia-a-dia, Até que, por fim, Eu te vi. VI-TE Da minha janela, Desenhei-te Com alma E olhar De devoção, Pintei-te todo A vermelho Na cor da minha Paixão... ................ Mas mesmo assim Tu partiste Sem me dar A tua mão. DA JANELA Sempre te vejo, Mesmo ausente Da nossa rua, Nos vidros Fica imagem, Perfeita Como a tua, Mas é sempre Transparente E não lhe posso Tocar, Guardo-a, então, Com ternura No meu inocente Olhar. E GOSTO Da primavera, Confundir-te Com aromas Que me chegam À janela, Anunciando A chegada Do melhor Que sinto nela. A JANELA Não tem cortinas P’ra te ver Na nossa rua, Ver-te chegar E partir, Ficando um pouco Mais nua, Querer que Me vejas Assim Tão brilhante Como a Lua... AH, QUANTAS VEZES Eu desci Da janela Para a rua... ............... Olhava de baixo P’ra cima, Mas eu nela Não me via, E, assim, Não era tua. O MEU MUNDO É a janela, O da rua É o teu, É dela que Eu te vejo, Na rua Já não sou eu. DA JANELA Do meu mundo Olho p’ra ti Com calor, Sem ela Eu não te sinto, Fica um muro, Meu amor!

“Onde te vejo”. Detalhe.
O BENFEITOR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Um homem das arábias”.
Original de minha autoria para este poema.
Maio de 2019.
Para ouvir a versão áudio, pelo autor,
com música de Albinoni (Adagio), por von Karajan:

“Um homem das arábias”. Jas. 05-2019
POEMA – “O BENFEITOR”
COMO TE VEJO,
Ó benfeitor,
Filho dilecto
Da tua Ilha,
Nosso Jardim!
Há mil quadros,
Rara beleza,
Espelhos do teu
Amor,
Todos pra mim,
Aqui tão perto,
À minha beira...
..................
Sinto-me rico
De tanta cor
No ouro das molduras
De madeira!
COMO TE SINTO,
Meu benfeitor,
Sempre de negro,
Artista grande
Que nem Dali,
Noites d’inverno
Onde o escuro
É a beleza
E o dinheiro
(Que foi pra ti)
O meu inferno!
VERMELHO E NEGRO,
Como Stendhal
Ou Julião
(Tens o Sarmento...),
De coração
A palpitar
(Sem um lamento).
A TUA VIDA
É um natal,
Com tantas prendas
Dos teus banqueiros...
Mas a minha
É tempestade
Com aguaceiros,
Sempre a pagar...
.................
É natural!
DA ARTE TU ÉS
O Mago,
A colecção
Vai aumentar,
Banqueiro dá,
Finge qu'empresta,
É aos milhões,
Mas logo chega
O meu castigo...
.................
É sempre assim,
Sempre a cobrar
(Põe-me mendigo)
O que pra ele
São só tostões...
EU GOSTO D’ARTE
Da que eu faço,
Sem a vender,
Nem a comprar,
Mas vou ao banco
(Vou muitas vezes),
Acerto o passo,
Eu tenho contas
Para pagar.
O MEU PAÍS
É muito culto,
Jeff Koons
Lucio Fontana,
Henri Michaux,
Mas no balcão
(Não sei porquê)
O meu banqueiro
É um sacana...
...................
Foi sempre assim,
Vem do avô!
ANSELM KIEFER,
Gerhard Richter.
Frank Stella...
É muito bom!
Pois tem de ser
Se o banqueiro
Olha pra ela,
(Prà colecção)
Fica pasmado
Com tanta arte
E dá-lhe tudo
Por gratidão!
E DUBUFFET,
Não gostas dele?
Morris Louis
Piero Manzoni
Georges Segal
Ou Chamberlain
É a beleza
Da colecção,
Perante ti...
Não percebeste?
Chegas e vês
Gostas e pagas,
És devedor...
...................
Não rogues, pois,
Crente da arte,
As tuas pragas
Ao benfeitor!
GOSTO DE TI,
Da tua arte,
Ficou humana
A nossa banca...
Mas sem milhões!
Que nos importa?
Temos beleza,
Temos amor...
E as nossas contas
Aos trambolhões...
Temos-te a ti,
Tão generoso...
..................
São os banqueiros
Os aldabrões.
MAS QUE M’IMPORTA,
Ó benfeitor,
Fizeste bem
Mais uma vez,
Pois ajudaste
Os teus banqueiros,
Tinham excesso
De liquidez.
GERALD LAING,
Alain Jacquet
Pauline Boty...
.................
Logo acertaste,
Ó benfeitor,
A liquidez
Ficou pra ti...

“Um homem das arábias…”. Detalhe.
ENCONTRAR-TE NUM POEMA…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “La Diseuse”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2019. Para ouvir o poema pela voz do autor:

“La Diseuse”. Jas. 05-2019
POEMA – “ENCONTRAR-TE NUM POEMA…”
ÀS VEZES Perco-me Em ti Quando te sonho Num poema. Ondulas Entre tristeza E doçura Nos teus dias Mais incertos, Em momentos De ventura! SE ÉS TERNA, Eu estremeço Porque enleia, O teu olhar! Olhos escuros Despontam Da luz No suave Amanhecer Quando em surdina Me dizes E partilhas Esse teu Acontecer. CONTEMPLO A tua imagem, Essa beleza Tão pura, Por instantes Muito breves... Mas logo recolho Às palavras Sedutoras De tão inocente Encanto E de tão meiga Ternura... O TEMPO Corre sempre Contra nós E eu corro Contra ele Pra que a saudade Não chegue Antes do tempo Chegar, Pois sei Que ela m’inunda, Desagua No meu rio Para logo Transbordar... VIVO SEMPRE Num intervalo De onde nos vejo Sorrir De saber - Tu imagina - Que nunca nos Cansaremos Por falta de tempo Neste efémero Viver Sob esse poder Que domina E me impede De te ter. MAS PERCO-ME No brilho intenso Dos teus olhos À procura dessa cor Que desponta Quando o sol Te ilumina. SINTO CALOR No meu peito E procuro o teu Regaço Pra que me olhes Por dentro Nos poemas Que te canto E que dizes com Fervor Como se fosse Um abraço. EU GOSTO Da doçura que te Invade Quando recusas O mundo Que te atropela Nas curvas Da tua vida... ................ Pra cantar O meu poema Porque me vês De partida... AH, COMO GOSTO De te sonhar A dizer-me Em poesia, É encanto, É prazer E é mistério... .................. É a vida Em sinfonia!

“La Diseuse”. Detalhe.
SONHAR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Sonho”. Original de minha autoria para este poema. Versão áudio pelo autor, tendo como fundo o “Concerto de Aranjuez”, de Joaquín Rodrigo. Para ouvir o poema dito pelo autor:

“Sonho”. Jas. 05-2019
POEMA – “SONHAR”
SONHEI QUE AS PALAVRAS Se gastaram, Desfiaram, Desataram, Sobrando fios Para tecer O silêncio. SONHEI