Poesia-Pintura

“ENCONTREI-TE LÁ EM CIMA, NO MONTE”

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração:”Palácio das Artes
no Monte Parnaso”.
Original de minha autoria
para este poema. Novembro de 2020.
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“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Jas. 11-2020.

POEMA – “ENCONTREI-TE LÁ EM CIMA, NO MONTE”

“Tu prima m’inviasti / 
verso Parnaso a ber ne
le sue grotte, /
e prima appresso
Dio m’alluminasti”.

Dante Alighieri. Divina Commedia.
Purgatorio.
Canto XXII, 64-66. 
PERDI-TE
Porque, afinal,
Nunca
Te abracei,
Numa praça,
Numa rua,
Num jardim,
Em lado algum,
Eu já nem sei...

MAS ABRACEI-TE
No Parnaso,
Lá em cima,
Com palavras
Em forma de poema,
Enredado nas
Mil cores
Do jardim encantado
Da tua alma.

VESTIDO DE COR
Senti-me
Afagado
No meu canto,
Umas vezes
Um pouco triste,
Outras
Em sufocado
Pranto
Por não ter
O teu corpo
Junto a mim,
Por não te ter
A meu lado.

SIM, ENCONTREI-TE
No Parnaso,
No Monte
Da luz divina,
No Monte
Da branca neve,
Cristalina,
E, abraçado a ti,
Eu vi lá do alto
A costa
E o mar,
Vi com nitidez
O meu mundo
Interior
E como te devo
Amar,
Aprender
A sonhar-te
Em azul,
A tua cor
E, lá no alto,
Voar...

A NEBLINA
Cobria-te
Para te vestir
E refrescar
A alma
Como chuva
De palavras
Húmidas
Caídas do meu
Céu
Enublado
E triste.

EU NÃO ERA MAIS
Que um espelho
Que te devolvia
Fantasia
Contra a
Petrificação
Que espreitava
Nos olhares
Indiscretos
E volúveis
Que te espreitavam
Em cada dia.

MAS TU NÃO ME VIAS.
Em mim,
Especulavas
(Dizias),
E eu, espelho
Da tua alma,
Gastava assim
Os meus dias...

E DE TANTO
Em mim
Te reveres
Declinaste
O espelho que
Começava
A embaciar-te
A alma...

E NÃO ERA
Da neblina
Que te envolvia,
Mas dos desenhos
Que tuas mãos
Esboçavam
Nesse espelho
Já húmido
De ti...
............
E da minha
Fantasia.

DESPEDISTE-TE
Do Monte,
Desceste
Em desconforto
Sob os olhares
Das mil górgones
Que ameaçavam
Petrificar-te
No caminho
Para o vale...
..............
E sucumbiste.
Ou talvez não...

JÁ SÓ, NO MONTE,
Disse:
"De tanto te reveres
Em mim
Ficou-me, de ti,
O repetido reflexo.
E sabes o que
Brotava
Quando te olhavas
Na minha superfície
Luminosa?
Beleza,
Toda a que me sobrou
Quando, triste,
Desceste o Monte
E a tua melodia
Me faltou.”

MAS TEU ROSTO
Não petrificará
Porque ficou
Guardado
No meu corpo
Vítreo
Onde todos
Se revêem
Sem saber
Que no reflexo
Levam, gravada
Em transparência,
A tua imagem...
................
Embaciada.

E POR CÁ FIQUEI,
Espelho do mundo,
 A olhar para
O espaço
Sideral
À espera
Que um cometa
Me alumie o caminho
Para ta devolver como
Teu reflexo
Original...
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“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. Detalhe.

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