ESTRANHA ENCRUZILHADA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração – “A Rua”. Original de minha autoria. Julho de 2023.

“A Rua”. JAS (104×118, em papel de algodão e verniz Hahnemühle, 310gr, 2022)
POEMA – “ESTRANHA ENCRUZILHADA”
CRUZEI-ME COM ELA Numa esquina Da vida, Nessa rua Onde inventei Uma estranha Despedida. NÃO A VI, Como a via Da janela Sobranceira Quando passava Na rua Abraçada À beleza Como rosa Perfumada De uma viçosa Roseira. AGORA, Se eu a vi, Foi duma janela Vidrada Que me devolveu A imagem Como num espelho De fada. MAS SEGUI-LHE A silhueta, Embaciada Com o meu sopro De alma, E pensei Que não ia Por ali, No meio Da multidão, Que não a via, Por falta De nitidez Do meu campo De visão, Nessa rua paralela Onde sempre Imaginamos O que já Não vemos nela. ANÓNIMO Me assumi, Peregrino, Como a gente Que se cruza No caminho Sem se jogar O destino. MAS VERTI Lágrimas secas, Das que Não saem de nós, Não banham O nosso rosto, Dor íntima, Já sem voz Para cantar Esse rio De que ela era A foz. QUE ESTRANHA Sensação, Caminhar A seu lado, Perdido Num horizonte Que se esfuma E se dissolve Como espuma Que morre Na areia branca Da praia... ENTÃO ENCONTREI Estas palavras Escritas na água Remexida Pelo vento, Também elas Esmorecendo Na praia De um lamento Como onda Noutra rima De um poema Simulado Para dar voz Ao silêncio, Para a ter A meu lado. E OLHEI, Mas sem a ver, Imaginando-a Regressada Dos confins De uma memória Invocada Para logo Me acolher. E GOSTEI Que me visse Sem olhar (Achava eu), Pensando Que não pressentia Sequer O anónimo Que a seguia Para logo A perder. TUDO TÃO Estranho, Que até este poema Espanta Por contar O que nunca Aconteceu Com a nostalgia De quem sente O que canta... ............ Mesmo aquilo Que perdeu.
