O SILÊNCIO E O TEMPO
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Renascer”. Original de minha autoria. Agosto de 2023.

“Renascer”. JAS. 08-2023
POEMA – “O SILÊNCIO E O TEMPO”
O QUE, É, AFINAL, O silêncio? É nada, Por ausência Da palavra, Do corpo e do olhar Na memória E no espaço Onde não têm Lugar? É INDIFERENÇA? É castigo Ressentido? É a alma Em negação Do que lhe foi Proibido? É retiro Ideal Ou o nada Em gestação Com a perda De sentido? O que é ele Afinal? É UM NADA Que tudo Te quer dizer, Uma mensagem Cifrada Que te convida A sofrer? COMO TODAS As mensagens, O silêncio É sofrido Quando for Interpretado, Mas se não Acontecer Será somente Vivido Como pura Negação, Como acto Fracassado. EXPRESSÃO Pelo silêncio, O que quer isso Dizer? Que alguém Já não existe, Que nada há A fazer Quando a ausência Persiste? IR EM FRENTE Sem passado Como tempo Não vivido, Ver na vida O pecado Que é preciso Esquecer Para não ficar Refém De um falhado Acontecer? DIGAS SIM Ou digas não Ficou tudo lá Gravado Pois foi tempo Partilhado, Um tempo De comunhão, Ainda que Fracassado Quando alguém Ficou cansado E decidiu Dizer não. MAS O MEU (Quero que saibas) Vou buscá-lo Com palavras, Entrego-me À poesia Para o levar Ao futuro, Aos que sentem Nesta arte O tempo Da utopia, Onde o passado É mais puro. NÃO O ENJEITO, Portanto, Não pratico Exorcismo Que avive A negação, Ficando assim Como está, Um tempo Sem solução... O TEMPO É escultor Do que houve No passado, Mas também ele É moldado Por desejo E vontade De o sentir Recriado Como dom De liberdade. NÃO SE CONSTRÓI Uma vida Com silêncio Ressentido, Mas com palavras Que acolham O tempo Que já se foi, Pra que seja Revivido E deste modo Fruído Quando ele Já menos dói.
