Poesia-Pintura

O POETA E A DOR

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Janus”
Original de minha autoria.
Novembro de 2023.
JAS11_2023Poesia-cópia

“Janus”. JAS. 11-2023

POEMA  - "O POETA E A DOR"
O POETA É UM REFÉM
Em permanente
Toada,
Ferve-lhe o sangue
Na alma,
Dor profunda,
Delicada,
Sempre igual,
Sempre diferente,
Ele vai fingindo
Que a sente...
............
Em palavras
Desenhada.

É INTENSA 
A toada
E é forte
O que sente
Ou é uma dor
Simulada?
O poeta
Nunca mente
Pois sua fala
É cifrada.

É DOR
Que ele finge
Poeticamente
Sentir
Para melhor
A dizer,
Para melhor
Seduzir
Ou é real evasão
Do que nele
Está cavado
Como autêntica
Prisão
Ou o preço 
De um pecado?

É REAL
Ou aparente?
É profunda
Essa dor
Que ele diz
Que sempre
Sente,
Muitas vezes
Por amor?

É SENTIR
De cada dia
Ou é ferida
Congelada?
De tudo
O que ele diz
O que sente
É quase nada?

NÃO, ELE SENTE
Em cada dia
Uma ferida
Sublimada
Em forma
De poesia
Que se torna
Cicatriz
Que nunca fica
Curada.
Fica-lhe a marca
No corpo
E na alma
Desenhada.

É ESTE O SEU DESTINO,
Fingir que sente
O que sente
Em fala
Que é cifrada,
É por isso
Que ele canta
Pra sentir
Que no seu canto
É a alma
Libertada.

JAS11_2023Poesia-cópia 2

O QUE EU TE DISSE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Musa em Flor”
Original de minha autoria.
Outubro de 2023.
JASMusa2023_2

“Musa em Flor”. JAS. 10-2023

POEMA – “O QUE EU TE DISSE”

DISSE-TE NUM DIA
De profunda
Melancolia:
- Voaria contigo
Para os confins
Do tempo
Montado
Num risco
Com asas azuis
Que voasse
Para lá das nuvens,
Onde escreveria
O teu nome
Com palavras
De um poema.

DISSE-TE QUE
Teus cabelos
São moldura,
São novelos
Desfiados
Que te cobrem
Esse rosto,
Colo abaixo,
E se alongam
Até mim
Como raízes
Do meu olhar.

CORPO DE MUSA
Em flor,
Subtil geometria
Para onde converge
O meu olhar
À procura
De infinito
Nos traços
Desse teu rosto
Velado.

ALI AO LADO
Desse jardim
Onde sempre
Renasces,
Vejo casas 
Alinhadas,
Ruas
Convergentes
Ao olhar,
Cores intensas
E dispersas
(Cores quentes)
Fontes,
Água,
Fugas,
Sempre fugas,
Em levitação,
Que anulam
As crispadas
Esquinas da vida
Com a beleza
De um risco
Traçado
Ou dito
Em silêncio.

VEJO-TE NUM FIO
De água,
Boca inundada
A transbordar
Dessa torrente
Líquida
Que cai
Em silêncio
De um pincel
Que tuas mãos
Deixam deslizar
Na brancura
De uma folha 
Virgem
Que o vento
Soprou
Para uma mesa
Nua,
Apenas beijada
Por esse raio 
De luz
Que te ilumina
E acende
A imaginação
(E que tanto
Me seduz).

AH, COMO GOSTARIA
De saltar
Para dentro
Dos teus desenhos,
Deslizar pelos
Teus dedos
E voar
À procura
Do que perdi
Ou nunca
Encontrei
E sentir
Essa leveza
Densa
Que nunca tive,
Mas sempre sonhei.

VESTIR-ME DE CORES,
Alinhar-me com
Traços dispersos
Para passear 
Contigo
Nas pupilas
Dos teus olhos,
Desenhando
O teu corpo
Como se escrevesse
Um poema...
.............
Com as cores
Da tua alma
Solitária.

AH, PUDESSE EU
Pintar-te
Com palavras,
Dizer-te em cores,
Abraçar-te
Agarrado
A um risco
Que saísse
Do meu olhar,
À procura
De ti,
No céu do desejo...

EU QUERO ALCANÇAR
Essa fronteira,
Deslizando
Por teus dedos
E evadir-me
Para esse novelo
Desfiado
Que envolve,
Como moldura,
O teu rosto
E o teu olhar
Sempre em fuga
Para o infinito...

JASMusa2023_2-cópia

Deixe um comentário