POEMA PARA UM ROSTO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fascínio”, 2023. Original de minha autoria, brevemente em exposição no Museu da Guarda. Janeiro de 2024.

“Fascínio”, 2023. JAS, pintura digital, 68×88, impressão Giclée em papel de algodão (e verniz) Hahnemuehle (310gr), Artglass AR70 em moldura de madeira.
POEMA – “POEMA PARA UM ROSTO”
AH, ESSES TEUS OLHOS Exortam-me, Mas não ouço palavras, Não ouço sons E até pressinto Um impulso hesitante, Um leve espanto contido Que te suspende E mantém Nesse impasse Tão sofrido. DOCE MISTÉRIO, Sinais intensos, Os teus, Que falam Sem te dizer E capturam O olhar Até, por fim, Me perder. ESSE TEU ROSTO Intenso, Esses olhos Fascinantes Perturbam, Têm um estranho Poder Porque invocam Nome incerto, O chamam Sem o dizer. SE TE OLHO, Tu seduzes E eu fico Expectante, Suspenso Entre o calor Do desejo E o frio Do impossível, No limiar Deste meu lado Tão frágil, Deste lado Tão sensível. QUERES FALAR, Mas dos lábios Sai silêncio, Talvez suspiro Ou um leve Balbucio, Receias denunciar O que não tens Pra dizer Em contido desafio. CALASTE Com medo De perder O que nunca Agarraste Com as mãos Puras Do desejo... TEUS LÁBIOS Sussurram, Desenham palavras Sem som E suspendem O encontro Adiado, Como esse beijo Que não ousaste Inventar Com as cores Da tua alma, Esse beijo Sufocado. NOS TEUS CABELOS Enovela-se-me A alma, No teu mistério Caio tão fundo Que já nem posso Esbracejar, Agarrar-me Às paredes macias Do desejo, Por elas acima Trepar À procura Do que nunca Chegará, Forte que seja O ensejo. ESSE MISTÉRIO E esse sedutor Olhar Onde afundo As raízes Da alma Consomem-me A energia Para, em sonho, Eu contigo Navegar. VEJO-TE Fixar o vazio, Mais além Do horizonte, Melancolia Em estado puro, Valsa lenta Dentro de ti, Que balbucias A vida, Incapaz De a gritar Aos que não Querem ouvir A palavra Proibida. AH, SIM, Mas eu gosto Dessa tua solidão E viajo contigo Até ao lado mais Esconso Da tua alma Para depois o pintar Com todas As palavras Que tiver comigo, Até que um dia Me abandonem, Exaustas de tanto Clamarem Por ti, Cansadas de tão Inútil castigo.
