SILÊNCIO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Som do Silêncio”, JAS 2023,72x82, em papel de algodão (100%-310gr) e verniz Hahnemuehle; Artglass AR70, em moldura de madeira. Poema e Pintura em exposição no Museu da Guarda até 07.04. Março de 2024.

“O Som do Silêncio”. JAS 2023, 72×82, em papel de algodão (100%-310gr) e verniz Hahnemuehle; Artglass AR70, em moldura de madeira.
POEMA – “SILÊNCIO”
OUÇO A VOZ Do silêncio Que me cerca, Adentro-me Na multidão E ele cresce Por dentro, Na alma Me cresce E, quase, quase, Como grito Sufocado... .................... Me ensurdece. AH, É DEMAIS, Este silêncio, Esta voz inaudível Caustica-me A pele macia Da memória Dos afectos, Uma moinha Na alma, Silvo De vento Cortante Nas janelas Destroçadas Da emoção. E EU FUJO Para o ermo, Lá em cima, Na montanha, À procura Da solidão de Eremita Em busca Da melodia Do nome Silenciado, Aquele que nunca Ousaste Pronunciar, Palavra em degredo, Nome castigado Que só o poema Pode resgatar. LÁ NO ALTO (É sempre assim), Ouço uma harpa Dedilhada Por ti, Notas musicais Que me fazem Estremecer E vejo riscos Coloridos Esvoaçando No teu azul De Lisboa Em direcção Ao infinito... VEJO-TE SAIR Da neblina Cintilante Do rio Que te veste A alma E sacio-me de Palavras Soltas, Em turbilhão, Até que a inspiração Chegue E as componha Num poema De redenção Que te cante E que te conte Às nuvens E ao vento Que passa... NOMEIO-TE E sussurro Uma pequena Palavra Que nunca ousei Pronunciar, Mas que ouviste Ressoar-te Na alma Mil vezes, Em mil poemas Sufocados. O SILÊNCIO É a tua fala (Bem sei), Mas eu não sairei Deste poema E do ermo reparador Até que me ouças E soletres Finalmente Esse nome Com as cores Da tua fantasia, As cores vivas Da emoção. FICO PRISIONEIRO De um poema Em construção Até ao resgate Desse nome Perdido E silenciado Na ilha remota Da tua memória, Âncora firme Da minha própria Salvação.
