FRAGMENTOS PARA UM DISCURSO (IX)
SOBRE A POESIA
Por João de Almeida Santos

“Folhas Caídas”. JAS. 04-2024
MUSAS NO JARDIM
NUM JARDIM ENCANTADO haverá sempre musas, para felicidade do poeta. Em que outro lugar as deveria ele encontrar? Elas são amigas das flores, das cores e dos aromas. Às vezes até se disfarçam de flor ou mesmo de aroma. E inebriam. Mas elas também são difíceis e imprevisíveis. E rápidas, como as fadas. Não é, pois, missão fácil, a do poeta, que convive com elas como se fossem amantes. Por isso, é desafiante esta relação, mas, no fim, depois de um árduo trabalho de (re)criação, muito compensadora. Até ao próximo andamento dessa interminável sinfonia de palavras.
RENÚNCIA
As musas não se deixam capturar e, portanto, os poetas não as podem ter. São amantes impossíveis. Não se deixam possuir. E se não as podem ter e nem sequer sabem se elas os escutam, que podem eles fazer? Fazem o que os poetas devem sempre fazer: cantam-nas. Eles escrevem como se elas os estejam a ler, a escutar. É a sua forma (poética) de viver. E a alma voa, porque o corpo se arrasta na vã tentativa de as alcançar. Se é que não houve renúncia, consciente, dolorosa, mas renúncia. Em certos casos, não há arrastar de pés, mas dolorosa firmeza. O Bernardo Soares diz que nobre é a renúncia. Só os fracos e vulgares são incapazes de renunciar. A renúncia é o segredo da arte. Só renunciando se pode possuir… pela arte. Longa espera, a de quem renuncia, por um encontro impossível? Sim, porque a renúncia não é o fim do desejo. É, sim, uma espera sem fim à vista. Uma espera sem esperança. Por isso falo muitas vezes do Sísifo que carrega palavras, num vai-e-vem interminável entre o vale da vida e o Parnaso. O desejo não morre com a renúncia, porque ganha outra forma e até se projecta até à posse, a única possível, pela arte. Diz o Bernardo Soares: “Tenho de escrever como cumprindo um castigo. E o maior castigo é o de saber que o que escrevo resulta inteiramente fútil, falhado e incerto”. Talvez não, a não ser perante a prova dos factos, desses com os quais não quer compromissos. O que o salva, ao poeta, é que ele tem muitas primaveras consigo e, por isso, resiste e sobrevive. A cantar. E talvez outras musas o ouçam, que não aquela para quem ele julga que canta. Julga? Sim, porque a realidade se confunde com a ficção, a vida com o sonho e o sonho com a vida. Mas sonhar é preciso. Dizia a Yourcenar que só se possui pela arte. E é verdade. E o Bernardo Soares também dizia que possuir o corpo é vulgar, como o sonho – todos possuem, todos sonham: “O que há de mais reles nos sonhos é que todos os têm”. Ele não queria tocar a realidade sequer com a ponta dos dedos. Elevar-se sobre essa posse ou sobre os sonhos é que é difícil, belo e nobre. Mas para se elevar tem de renunciar. Essa é que é essa.
PALAVRAR
O vento é amigo do poeta e leva, sim, os aromas, os sabores e as mensagens aos amantes das palavras, estejam eles onde estiverem. Sim, são as mãos do poeta e do pintor que lançam palavras e cores ao vento que passa na esperança de as porem em diálogo com a vida que, como o vento, também passa. Só que com elas passa melhor. As palavras também migram, transportando com elas beleza, cor, melodia. É por isso que das suas migrações resulta sempre um mundo mais rico, mais belo, melhor. O outro gostava de palavrar. Um palavrar bonito e pleno de sentido, como só ele sabia fazer. Eu também gosto de palavrar porque as palavras são nossas amigas… se não se deixarem capturar pela imensa logorreia que corre por aí e que as desfigura e empobrece. Tornam-se descartáveis. Se calhar é por isso que as palavras se aninham nos arbustos dos jardins para se protegerem desse sol abrasador que todos procuram para lhes aquecer a alma, sem se aperceberem de que acabarão com ela esturricada. No silêncio de um loureiro acolhedor elas sempre poderão ser encontradas por uma alma sensível que lhes dê asas e as leve para a ilha da utopia… para a sua neverland, a terra dos poetas.
ENLACE
Na verdade, a sinestesia é um enlace entre duas artes, neste caso, entre a poesia e a pintura. E “Enlace” foi o título que dei ao poema que cantou o encontro (poético) entre uma videira cardinal e um loureiro, lá no jardim. Uvas no loureiro, em pleno Verão. Um improvável enlace que acabou por acontecer e que suscitou um produtivo espanto e um estremecimento. A poesia nasce, sim, do estremecimento, mas, depois, torna-se coreografia de palavras ao ritmo de uma toada sedutora. Mas é assunto mais da alma do que do corpo, apesar do pulsar sensível da sua melodia.
CHORAM OS POETAS?
O choro poético é belo. Porque é um canto. As lágrimas são palavras derramadas em cadência melódica. Mesmo assim, paradoxalmente, o poeta diz a si próprio que não chore. Provavelmente refere-se ao momento anterior (e tão necessário) ao da levitação poética e apolínea. Talvez leia Nietzsche demais. Cito-o de “A Origem da Tragédia”: “com gestos sublimes é que ele nos mostra quanto o mundo dos sofrimentos lhe é necessário para que o indivíduo seja obrigado a criar a visão libertadora, porque só assim, abismado na contemplação da beleza, permanecerá calmo e cheio de serenidade, levado na sua frágil barca por entre as vagas do mar alto” (Lisboa, Guimarães Editores, 1972, 51). “Não chores, não, transforma o choro em canto”, poder-se-ia dizer-lhe, ao poeta. “Eleva-te ao sublime e pára de sofrer através da contemplação da beleza do teu próprio canto”. pois há sempre, lá bem no fundo de si, essa pulsão que o impele a cantar para não afundar na tristeza, para levitar em contemplação. Leveza é o que lhe dá a poesia. Uma das categorias deste milénio, de que falava o Calvino. Também lhe poderia ter dito “canta, amigo, canta…”, pois o poeta é amigo das minhas divagações sentimentais, às vezes tristes, sim. E foi mesmo assim que o representei na pintura, melancólico e um pouco enredado em si próprio.

“Perfil de um Poeta”. JAS. 04-2024
AS COISAS FINDAS MAIS QUE LINDAS FICARÃO?
Uma amiga e habitual leitora da minha poesia lembrava-me alguns versos do poema de Drummond de Andrade, “Memória”: “Amar o perdido / deixa confundido / este coração (…) / Mas as coisas findas, / muito mais que lindas, / essas ficarão”.
E julgo que era o Drummond de Andrade que dizia para o Manuel Bandeira (citado no poema a que me refiro, “Um Sonho no Poema”, de 24.03.2024, a partir de “Temas e Variações): “Teu nome é para nós, Manuel, bandeira”. E diria mesmo: “se non è vero, è ben trovato”. Junto-me, pois, a eles e digo, em poesia, também:
Coisas findas, Mas cantadas, Mais que lindas Ficarão Em poemas Ou sonhadas Muito mais Do que já são.
Há sonhos que são mesmo assim.
SONHO CANTADO
De uma rosa (num quadro meu chamado “Sonho”) sai um perfil de mulher, talvez o da musa do poeta-pintor. A cor, vermelho-púrpura intenso, diz tudo. Um belo e colorido renascer da musa na primavera que desponta. E no poema. E no sonho. E os sonhos acontecem mesmo com dimensão existencial e força expressiva. Mas, depois, é preciso convertê-los, dar-lhes forma poética e plástica. Há sonhos intensamente sensitivos que persistem fisicamente para além do sonho, que perduram como imagens nítidas ao olhar interior. Só faltará, então, cantá-los para os tornar reais. E cada canção será, depois, uma ponte que leva o sonho a muitos lugares, talvez mesmo ao lugar onde habita a musa. Uma ponte lançada sobre o mundo da sensibilidade. Sim, “la vida es sueño” e, por isso, também o sonho é vida. O poeta Calderón de la Barca tinha razão.
O PODER DO SONHO
Há sonhos que são mesmo assim: têm lá dentro fortes emoções e cores intensas. Tão fortes e tão intensas que o poeta tem de as cantar, de lhes dar vida, de as trazer cá para fora e de as partilhar. E, claro, se a musa acompanhar por dentro o canto será grande a felicidade do poeta. Cantar o sonho é vivê-lo, fazendo da vida “sueño” e do “sueño” vida, como queria o poeta. E confesso que talvez seja algo mais do que “piedosa ilusão”, porque não é assim que o poeta a sente. Simplesmente porque não pode deixar de lhe dar forma, com palavras e rítmica melodia. Imperativamente. Como exigência interior, ainda por cima sob pressão de uma intensa e viva narrativa onírica. Mesmo que, até em sonho, pressinta que irá acontecer, a esse perfume, um fim, uma rápida dissipação que já se esteja a avizinhar. É na fronteira que tudo ganha maior intensidade e sentido. Vê-se para dentro e vê-se para fora dessa linha separadora de mundos diferentes. A poesia acontece sempre em situação de fronteira, que funciona como se de um intervalo entre si e o mundo se tratasse. O sonho também está na fronteira só que com uma intensa neblina que nada permite ver com nitidez.
POETAR É SONHAR
Os sonhos acontecem e às vezes são intensos e perduram. A poesia pode dizê-los com a sua linguagem ou ela própria ser o sonho e até induzi-lo. A musa faz parte dos sonhos e a linguagem poética tem sempre algo de onírico. Subtrai-se, como o sonho, à inflexibilidade do tempo e do espaço. E tem uma linguagem codificada. E nunca mente. É como voar sem sair do mesmo lugar.
PÓLEN
Fruir poeticamente o jardim é dar asas à sensibilidade e viajar com a alma à procura de pólen, seu alimento. Como as borboletas. A poesia poliniza almas. É uma viagem interior sobre paisagens sobre as quais pousa para retirar pólen. Essas paisagens ficaram registadas na memória, pela sua intensidade, locus amoenus do poeta, porque já filtrado e aveludado pelo tempo. E a pintura ajuda, dando cor e materializando essas paisagens, onde o poeta se pode rever em viagem .
O ARBUSTO
“Tem de estar encantado o arbusto que te encanta”, dizia-me um companheiro de viagem poética. Claro que sim. E o encanto também está nos olhos de quem o observa. Sobretudo do poeta melancólico, que pede ajuda ao pintor para ver mais claro e com mais cor. Tê-lo duas vezes em frente de si. Uma das vezes já recriado pelo olhar da alma sobre a memória. Sonho? Também. É ele que o diz. Sonho multiforme. O arbusto ganha, assim, vida. Duas vezes, com este desdobramento artístico. E ganha vida o jardim, ajudado pelo intenso perfume do inebriante jasmim que incendeia o olfacto do poeta e lhe provoca poéticas alucinações. Eu nem sei se não será a embriaguez do poeta, por este perfume tão intenso, que o leva a declarar-se assim. Talvez. Mas não sei, de tão perdido ele andar nesses seus territórios da memória afectiva, acicatado pela visão do loureiro. Visões e inalações que lhe transformam o olhar. Mas, repito, não sei. Uma coisa, todavia, eu sei: isto é coisa antiga e que perdura, de tão intensa ser ou ter sido. Talvez tenha mesmo razão o Eliot: a musa visitou-o e, como dizem os brasileiros, virou poeta. Só pode, como diz o outro. Por necessidade. Para sobreviver nessa imensa carência afectiva em que passou a viver. Uma espécie de sem-abrigo existencial que adoptou a poesia como sua casa (para viver e sobreviver). Não serão os poetas como os sem-abrigo? Existencialmente desinstalados? Só não serão porque têm recursos especiais e estão sempre a construir casas (os poemas) como refúgios dos temporais existenciais que os estão sempre a fustigar quando não estão debaixo da ponte poética. Mas isso cansa. Levar permanentemente as palavras às costas lá para cima, para o Monte Parnaso, para construir os seus refúgios cansa mesmo. Mas é esse o seu destino. O destino de um ser eternamente melancólico. Ele vive em eterno retorno. O da melancolia.
A DIALÉCTICA DO SUBLIME
Ideação do amor, foi o que um Amigo me disse a propósito do poema “Talvez” (17.03.2024). A composição poética é, sim, o resultado da elaboração e da estilização de uma relação sensível com o mundo, quando ela é intensa e marcante. Nesta relação, o amor ocupa um lugar predominante. O amor expresso poeticamente reflecte uma dimensão subjectiva, que não é somente existencial, mas que também é formal, porque investida pelas categorias da arte. O Calvino falava de leveza, de rapidez ou de exactidão, por exemplo. Sim, mas a expressão poética do amor assenta na força existencial dessa pulsão estrutural que anima o ser humano, que está ligada à reprodução da própria espécie, estimulada pelo prazer que a acompanha, e que se exprime superiormente como dialéctica dos afectos. “Dádiva do céu”, sim, porque acontece como uma revelação e tem esse poder. O poder de uma revelação ou de um dom recebido, como destino. E permanece porque não tem resolução (racional) aparente, a não ser através da transfiguração poética. A levitação poética retira peso (gravidade) ao amor e, de algum modo, e por isso mesmo, liberta. E a omnipresença do amor deve-se à sua intensidade e à sua perdurabilidade, sendo esta última consolidada pela poesia. E perdura porque a poesia o subtrai aos efeitos da contingência e ao respectivo desgaste, elevando-o. A intensidade queima, mas se for convertido em palavras e melodia com poder performativo resiste e subsiste. A espécie humana encontra na dialéctica do sublime a condição da sua própria humanidade e eternidade.
OCASO
“Ocaso” é o título de um poema meu, ilustrado por um quadro (“Rasto de Luz”, aqui reproduzido) com o mar e o sol a pôr-se (25.02.2024). E alguém disse que a arte torna possível a concretização de sonhos irrealizados. De certa forma, sim. Sobretudo se se tratar de uma arte altamente performativa, como é a poesia. Trata-se do ocaso da vida, mas também de um sonho incompleto ou, ainda, de um amor que ficou pelo caminho e que no tempo foi esvaecendo. Ocaso é a lenta dissolução da fonte de energia que despertou sentimentos de grande intensidade. Esgotamento. Algo que perdeu força propulsiva. Então, é necessário dar-lhe, de novo, vida, recriá-lo, agora de forma mais estilizada, mais sofisticada, menos dionisíaca, mais apolínea. Antes que se dissipe totalmente. Enquanto for ainda possível chorá-lo, sofrê-lo. Assim, a marca, a cicatriz, fica lá, embora com menor poder emocional sobre o poeta ou mesmo como “locus amoenus”. O poema é, continua a ser, sempre uma revivescência com poder (quase) substitutivo e compensador. É neste sentido que falo quando digo que a poesia é fortemente performativa. Não substitui, mas de algum modo resolve ou, pelo menos, atenua. Neste poema acrescentei (à primeira versão publicada), na última estrofe, dois versos clarificadores. Depois de tanto tempo, apercebi-me de que era isso que lhe faltava:
(...) E O SOL Lá regressou, Mas vinha De outro lado, Sem suave Marulhar, Sem ondas Pra navegar Nesse brilho Ondulante Que um dia Me encantou A lembrar-me O teu mar, Esse ondear Cativante De quem não sei Se me amou.
Essa declarada incerteza: “De quem não sei / Se me amou”. Verbalizá-la foi como se a tivesse resolvido.
A verdade é que entre o começo e o ocaso acontece algo que permanece. Por alguma razão começou, ainda que tudo tenha um fim. O que importa é o começo. A atracção inicial, originária. Depois, é o desgaste, como tudo. A rotina que tudo consome. Mas há casos em que a intensidade já anuncia um fim rápido, quase como se não tivesse começado ou tivesse terminado antes de acontecer. Um raio que fulmina. Luz intensa que encandeia. E o incidente acontece. Depois, o silêncio. A escuridão. A noite. Tudo fica lá no mais profundo da consciência e a poesia pode lá ir à procura desse instante fulminante que ficou registado sem mediação. Como acontece com a psicanálise: com as associações livres ou com a interpretação dos sonhos. A poesia descodifica, sim, mas em código. E mais: precisa de rituais. E quando é ajudada pela pintura em sinestesia tudo parece ser mais fácil de interpretar, com a ajuda do olhar. Mas não é. Fica a beleza de que esse instante fulmíneo é a causa remota. E acontece uma momentânea libertação.
No ocaso, o sol põe-se, lá ao fundo, no horizonte, deixando um rasto de luz a iluminar a fantasia do poeta na sua revisitação onírica do passado e da musa, quando a noite chegar. O dia seguinte será outro dia e a melancolia do ocaso parece ter passado… mas não passou. Só se atenuou. A luz regressa, mas já não é a mesma.
Nessa “hora crepuscular” o poeta reconstrói-se. Sim, é a magia do poema e, neste caso, também da pintura. Lembra-lhe o ocaso de uma relação, intensa, mas em rápida diluição, como esse rasto de luz marinha e esse sol que está prestes a deixar o fio do horizonte. O brilho do sol e do mar que o inspira para articular o discurso sobre uma relação que o marcou, esse brilho ajuda-o, sim, a reconstruir-se, a recriar o tempo de uma epifania afectiva e, assim, a resolvê-la, metabolizando-a poeticamente. Sim, tratando-se de poeta, a dúvida persiste. Persistirá sempre. Mas só até ao momento em que se quiser ir mais além da certeza de que algo aconteceu, se é verdade que a poesia é sempre a resposta a um imperativo existencial. Ou seja, até ao momento em que se conclui que realmente há cicatriz. Que tem mesmo de haver. Porque houve ferida. E que foi por isso que houve poesia. Tudo isto, dito poeticamente, será sempre incerto, mas não falso.
Foi neste rasto de luz, neste caminho cintilante que o poeta reviu a sua própria experiência afectiva e a quis recriar com toda esta luminosidade, sem deixar de a comparar com a rapidez do ocaso (que se verifica em ambas as circunstâncias). “Un éclair… puis la nuit!”, dizia o Baudelaire no poema “À une Passante”, em “Les Fleurs du Mal”. Tal e qual. Impossível dizer melhor. Tudo aqui, no poema e na pintura.
NAUFRÁGIO
Na verdade, a vida é um naufrágio permanente… embora não fatal. Navegamos sempre e, às vezes, naufragamos, para aportarmos, logo, a outra ilha. A esta luz seguir-se-á inevitavelmente a noite e os sonhos… e uma nova manhã com o sol a aparecer do outro lado e a voltar a encher-nos os olhos de luz, sim, mas de uma luz diferente. Mas também é verdade que naufragar numa estrada de luz é diferente de naufragar na noite escura. De qualquer modo, haverá sempre uma ilha onde aportar, guiados pela luz. A poesia é uma ilha onde se chega depois de um naufrágio numa rota de luz, mas num mar alteroso, emocionante e perigoso. E é desta emoção que reemerge o poeta e a poesia.
Aqui há luz, a luz do sol reflectida no oceano, aquela que as palavras procuram acender no espírito de quem lê. E, por isso, julgo eu, é que o “Ocaso” sensibiliza e seduz. Bem sei que há por aqui muita melancolia. Mas também há muita luz. E que a vida vai acontecendo entre a melancolia e a luz interior que ilumina a memória do que um dia vivemos intensamente, mas que o tempo amaciou. Felizmente que há sol e até luar para nos iluminarem a alma, seja dia seja noite. Esse sol e esse luar também têm outro nome: poesia. O sol da alma. Sempre. A luz da lua, nos dias de luar e nas noites felizes dos sonhos desejados. E esses também nos acompanham. JAS@04-2024

“Rasto de Luz”. JAS 2023