Poesia-Pintura

A FONTE E A NEVE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Pasárgada II”, JAS 2022.
Museu da Guarda.
* Impressão Giclée, 119x119,
em papel de algodão e verniz
Hahnemuehle, Artglass AR70.
Maio de 2024.
Jas_pasargada2021_5

“Pasárgada II”. JAS 2022. 05-2024

POEMA – “A FONTE E A NEVE”

ERA MAIO
E subia
Lentamente
A montanha
A caminho
Dessa fonte
Seminal,
Um rio
De água pura
E fria,
Torrencial,
Cristalina,
A jorrar...
..........
Uma dádiva
Divina
Pra fruir
E ofertar.

SUBITAMENTE,
 O céu
Cobriu-se
Dessa neblina
Brilhante
Que anuncia
Neve
Lá no alto
Da Montanha.
Pressentem-na
Os que a têm
Em si,
Os que ela
Sempre inspira
E acompanha,
Como eu,
Que sempre
Em mim a senti.

ATRAÍDO
Por um íman
Invisível,
Mudei de rumo
E para o topo
Subi,
Tão grande
E tão constante
Era a sede
Desse branco
Sempre frio e
Cintilante
No seio do qual
Eu cresci.

SAUDOU-ME
Lá em cima,
Vinda
Do alto do céu,
Farrapos brancos
Caíam,
Feitos de fios
De véu,
Murmúrio
Da natureza
A insinuar
De mansinho
A sua discreta
Beleza.

DAVA-ME
As boas-vindas
E continuei,
Feliz,
A subir
Até à densa
Neblina
Do céu
E à esparsa
Brancura,
Esse véu
Tecido com
Leves farrapos
De seda,
Seda branca,
Seda pura
Que a natureza 
Me deu.

E COMO GOSTEI
De me ver
Envolvido
Nessa teia
Que abraça
Com neblina
E frio,
Com o branco
Que cintila,
Branco leve,
Branco macio
Que lembra
Noites de sonho
E me sabe
A desafio...

NADA MAIS
Eu pude ver
Que um palmo
De alvura
Mesmo ali
A meus pés,
Uma intensa
Brancura
Que anuncia
O infinito
Que está ali...
............
Mas não vês.

INSPIREI FUNDO
Esse branco
E esse frio,
Bebi da densa 
Neblina
Que me envolvia
Como abrigo
E regressei
À fonte
Com neve
Na alma
E já com água 
No corpo
Levei a montanha
Comigo.

Jas_pasargada2021_5Rec

Deixe um comentário