A VISITA
Poema de João de Almeida Santos em nove andamentos. Ilustração: “A Musa e o Jardim”. Original de minha autoria. Julho de 2024.

“A Musa e o Jardim”. JAS. 07-2024
LEITMOTIV
“Ah, que inefável pureza! Que candura imaculada!... Dir-se-ia que a Natureza Nasceu esta madrugada!...” Guerra Junqueiro, “Idílio” (A Musa em Férias)
Musa, desce do alto da montanha Onde aspiraste o aroma da poesia, E deixa ao eco dos sagrados ermos A última harmonia. (...) Desce. Virá um dia em que mais bela, Mais alegre, mais cheia de harmonias, Voltes a procurar a voz cadente Dos teus primeiros dias. Machado de Assis, “Última Folha” (Crisálidas)
POEMA – “A VISITA”
I.
FUI VISITAR O jardim Num quente dia De Verão Às voltas Com a memória, Nem sei bem Por que razão...
II.
E QUE VEJO No jardim Quando acabo De chegar? Vejo loureiro, Vejo jasmim, Vejo mil cores Fabulosas, Camélias Brancas E rosas, Explosão De alegria, Um bailado De aromas Num jardim Em euforia.
III.
AH, MAS À SOMBRA Do loureiro O insólito Acontece: Rosas trepam, Dão-lhe cheiro, Já nem loureiro Parece. IMITAM O velho enlace Da videira Cardinal E provocam-me A rima A cada passo Que dão Na subida Lá pra cima, Para o alto Do arbusto, Onde rosas Lá não chegam Nem sequer A muito custo.
IV.
O ESTRO Já é escasso, Foi-se a musa, Não a sinto, Procuro-a, Mas troco O passo, Fica difícil O verso, Impossível O abraço. NEM O JARDIM Já me salva Da funda Melancolia, Vou tentando E não consigo Já ver nele O que eu via.
V.
E SE VOLTAREM Aromas, Mas faltar A minha musa, Mesmo assim Há poesia? Aromas Atraem musas E o poeta Não sabia?
VI.
AH, ENTÃO Agora Que sinto Aromas Renascendo No jardim Talvez a musa Regresse Como aroma De jasmim E talvez ela Desperte Os versos Que eu conservo No mais Íntimo de mim.
VII.
O LOUREIRO Já tem rosas, A musa já Regressou E o estro Do poeta É fonte Que não secou.
VIII.
VIVA A ARTE, Viva o poeta E os aromas Do jardim, Viva a musa Que regressa Com poemas Para mim. VIVA EU E viva ela Quer a veja No jardim Ou a veja Da janela, O estro Já regressou, Rejubila O poeta Graças ao Regresso Dela E ao que dela Lhe sobrou.
IX.
ASSIM RETOMA O canto E a vontade De cantar, As musas São sedutoras E o poeta Tenta ser Mas quando As musas O deixam Já não sabe Que fazer, Por isso vai Ao jardim À procura De aromas Em busca D’inspiração Porque sabe Que os aromas São das musas A mais forte Sedução.
