Poesia-Pintura

UM SONHO NA MINHA ALDEIA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: "Rua da Carreira"
JAS 2022
Original de minha autoria
Janeiro de 2025

“Rua da Carreira”. JAS 2022. Pintura digital, 68×70, impressão Giclée em papel de algodão (100% I 310gr) e verniz Hahnemuehle. Arglass AR70 em moldura de madeira.

POEMA – “UM SONHO NA MINHA ALDEIA”

SONHEI-TE
Esta noite
Numa rua
Da minha aldeia...
..............
Não sei porquê
(Os sonhos são
Sempre assim),
Caminhámos
Lado a lado
Sem dizer
Uma palavra,
Sem um olhar
De través,
Apenas
Pressentimento,
Cá bem no fundo
De mim,
Sentindo-te
Como tu és.

DUAS VEZES
Lá estive
A sentir-te
Nesse tempo
Diferido
Dos encontros
Intangíveis
Que se desfazem
Nas nuvens
Quando o céu
É proibido
Aos afectos
Impossíveis.

MAS VI-TE
Com nitidez
(Um pouco baça,
É certo)
No silêncio
Do meu sonho,
Em encantada
Alvura
A recordar
Tempo antigo
Quando a neve
Regressava,
Branca e pura,
E nela me via
Contigo.

FOI NA "RUA DA CARREIRA",
Em frente
Da minha casa,
Sendeiro da minha
Vida,
Onde me via
Passar
A caminho do futuro,
Minha porta
De partida
Onde sempre
Me procuro.

CAMINHÁMOS
Por pouco tempo,
Como na vida real,
Nem um olhar
Nos trocámos,
Tão fugaz foi
Este sonho,
Intenso,
Mas espectral.

MAS SE A VIDA
Também é sonho
E sem sonho
Pouco mais é
Do que nada,
Sonâmbulo
Me encontraste
Na rua
Da minha aldeia,
Nunca antes
Visitada.

E AQUI ESTOU EU
A sonhar-te
Outra vez
Nos versos
Com que te chamo,
Recordando que
Te vi
Neste lugar
Que eu amo.

É SEMPRE ASSIM,
Meu amor,
Quanto mais tu
Te esfumas
Na vida
Ou, então, mesmo
A sonhar,
Mais me cresce
Esta dor,
Que não consigo
Parar...
................
Procuro, então,
Combatê-la
Com armas
De sonhador,
Que me põem
A voar.

DE TANTO EU
Te sonhar
Acabei por
Te encontrar
Na terra
Onde nasci,
Onde a neve
Derretia
Quando o sol
Já despontava
E o manto
Da saudade
Logo de dor
Me cobria
Porque ela
Me faltava.

AGORA A NEVE
És tu,
Fugaz que foi
A passagem
No chão dorido
Da vida,
Como a brancura
De outrora
Que de saudades
Doía
Em cada fatal
Despedida,
Quando a dor
Mais me vestia.

MAS SE EM SONHO
De novo
Te encontrar
Talvez eu volte
A sentir
A cativante
Magia
Da neve
No teu olhar,
Como a da minha rua
Que não há sol
Que a derreta
Na penumbra
Da memória...
..............
Que no sonho
E no poema
É mesmo
Como a tua.

Deixe um comentário