O POETA-PINTOR
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Perfil de Musa” JAS, 2023 (63x78, pintura digital, impressão giclée em papel de algodão, 310gr, e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70, em mold. de madeira) NO DIA MUNDIA DA POESIA, 2025
POEMA – “O POETA-PINTOR”
O POETA BRINCAVA Com suas palavras, Cantava-a sempre Quando não estava... ERA UM POETA, Era fingidor, Não a desenhava, Cantava-lhe A cor. MAS AS SUAS CORES Eram só poemas, Fazia pincel Da sua caneta. Enquanto poeta, As letras riscava, Mas a sua tinta Já não era preta... ............... Escolheu a cor, Pintar a palavra. POR ISSO COMPROU Um belo pincel E como pintor Pintava, pintava, Era a granel, E a sua tela, Que ele adorava, Já não era só O velho papel. DESCOBRIU A COR, Que o fascinou, Dourado, vermelho E tanto amarelo, Tudo ele pintou, Procurando sempre O que era belo. ATÉ QUE O ENCONTROU Na cor dos Seus olhos, Era luz da pura Que iluminava O novo papel Onde desenhou O seu fino rosto Com o seu pincel. DEU CORPO À COR Com que a dizia, As suas palavras Tornaram-se linhas Desse seu perfil Que ele desenhava Com a poesia, Em versos Que eram muito Mais de mil. PINTAVA-LHE O ROSTO, Pois os seus poemas Já não lhe chegavam, Pintor de palavras De cor as compunha E versos voavam No azul do céu... ................. “O que tu fazias, Faço agora eu”, Dissera-lhe um dia. “PORQUE SOU POETA, Deixaste-me só, Entregue à palavra, E, eu, tão pobre de ti, Porque sou pintor Pra me resgatar Pintei-me de dor E subi ao céu E pus-me a voar.” FUI AO ARCO-ÍRIS A ver se te via Atrás duma cor. Pintei o teu rosto Para um poema Que hei-de escrever Com todas as cores Que trago comigo Enquanto viver”. O POETA BRINCAVA, Mas era tão séria Essa brincadeira Que, perdido Em palavras, Encontrou a cor E nos seus poemas Dela fez bandeira. Era um poeta Mas também pintor.

