Poesia-Pintura

TIMIDEZ

 RETRATO DE UMA MUSA
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Timidez”, JAS 2023
(71x88, pintura digital, impressão 
giclée em papel de algodão, 310gr, 
e verniz Hahnemuehle, Artglass AR70,
Mold. de madeira). Março de 2025

“Timidez”, JAS 2023

POESIA – “TIMIDEZ – Retrato de uma Musa”

NUM DIA
De primavera
(Ou d'inverno,
Já nem sei),
Cruzei-me
Com a timidez
Impressa
No seu rosto
De mulher
(Disfarçada
De altivez).

PÂNICO
De luz excessiva
E pavor da melodia
Que provocava
Os sentidos
De quem nunca
A ouvia.

A VOLÚPIA
(Proibida)
Que ameaça,
Incendiada,
Uma alma
Seduzida.

CRUZEI-ME
Com o mistério,
Ali mesmo
A meu lado,
Enigma puro
De quem se sente
Seguro
Num mundo
Por demais
Sinalizado.

DEPOIS VEIO
O silêncio,
Aquele que quase
Nem eco tem;
A palavra
Vai a caminho,
Mas o eco
Já não vem.

CRUZEI-ME
Com a recusa
Do corpo,
Envolto
Nesse cinzento
Fatal,
Com fuga
Já programada
À sedução
Sensual.

CRUZEI-ME
Com ela
Num dia de
Primavera
(Ou d'inverno,
Já nem sei)
E tudo
Me fascinou:
Mistério
E timidez,
Opacidade
Do corpo
E temor da
Melodia,
O silêncio
Reiterado
Dos que não
Sabem amar
Os que estão
Sempre a seu lado
E quem neles 
Sempre confia.

MAS NO FIM,
Na primavera
(Agora sim),
Encontrei
A poesia
Para com ela
Falar,
Para a ver
Em fantasia
E até com ela
Voar...

FIZ MINHAS
As palavras
Que eram suas,
Mas que se
Recusava
A dizer,
Ouvi ecos
Do silêncio
Quando me disse
“Olá!”,
Simulando
Aquiescer.

IMAGINEI-LHE
O corpo nu
A tiritar
Do afecto
Que não sentia,
Interpretei
O silêncio
No oráculo
Seminal
E compus versos
De amor
Nos dias
De ritual.

FOI ASSIM
Que a encontrei,
Ofereci-lhe
Essa palavra
Que ela nunca
Admitia,
Dita sequer
Uma vez,
Mas eu,
Com palavras
Proibidas,
Reconstruí
O afecto
De que sempre
Ela fugia,
Por excesso
De timidez.

Deixe um comentário