TEMPO
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Travessia”
JAS 2022 (93x118, em papel de algodão,
310gr, e verniz Hahnemuehle,
Artglass AR70 em mold. de madeira)
Agosto de 2025
POESIA – “TEMPO”
CHRONOS
É o tempo
Em que tudo
Esmaece,
É neblina
Que cobre
O passado,
É juiz
Do que acontece
E decide
O que merece
Nele ficar
Registado.
O TEMPO
É escultor,
O tempo
É alquimia
Extrai
O ouro
Da vida
Pra só dela
Conservar
O que ela
Potencia.
MAS TAMBÉM É
Bruma
Espessa
Que dissipa
Os perfis
Que a vida
Desenhou,
Um certo rosto
Que já não vês,
Um perfume
Que se esvai,
Uma musa
Que por ti
Num certo dia
Passou,
Mas que desse
Passado
Não sai.
INEXORÁVEL,
O tempo
Desgasta
A vontade
De visitar
O passado
Que já não
Te pode sorrir,
Que já não
Podes tocar,
Onde já não
Podes ir
E não podes
Resgatar.
E ATÉ O POEMA
Vacila
Nessa espessa
Neblina
Onde tudo
Se esbate,
Bruma
Que cobre
O caminho
Que a vida
Nos destina
Pra travar
Esse combate.
MAS SUBSISTE
A memória
Que regista
O presente
Sob forma
De passado
Projectando
No futuro
O que será
Preservado.
ENTÃO O POEMA
Resiste,
Então o poema
Canta
O desejo
De futuro
E recria
O que na vida
Aconteceu
De mais intenso
E mais puro.
É O TEMPO
Da poesia,
O tempo
Da liberdade,
Reconstrói-se
Como futuro
O que já só era
Saudade.

