LIVIDEZ
DIÁLOGO COM O PASSADO
Poema de João de Almeida Santos Ilustração: “Lividez” JAS 2025 (Variante de “La Cortigiana”, de 2023) Original de minha autoria Setembro de 2023
POEMA – “LIVIDEZ – DIÁLOGO COM O PASSADO”
ESTAVA Um pouco Lívido Esse teu rosto (Pintado), Caía tristeza Sobre ti Quando te via Ao sol-posto (A meu lado), Na rua Onde eu Te conheci. ERA TRISTE Altivez? Talvez fosse, Talvez, Porque olhavas E não me vias Quando passava A teu lado, Com a minha Timidez, Na rua Do desencontro, Já um pouco Desolado... ........ Pela tua Lividez. TUAS MÃOS, Ah, essas mãos, Desenharam-te Como pecado Em porcelana, Alma em fuga Desta vida Para um mundo Onde parecias Perdida. SENTIAS-TE Gueixa, Lá dentro De ti, Na cidade Proibida, No dia Em que perdi O que me Sobrara Dessa tua Incessante Despedida? PORQUE ESTAVA Lívido E triste O teu rosto? Não eras tu. Inventaste Esse perfil Onde te revias Na cidade Proibida Como eco Sensual Do meu remoto Desejo De te ter Na minha vida? PECADO De quem ama, Culpa Mortal Quando a divina Beleza É sensualmente Rasgada E ferida Por volúpia Carnal? COM QUE BÂTON Pintaste Essa alma Inquieta E incerta Que aflora, Intensa, Como desafio, Nessa boca Sensual? EMPUNHASTE-O, Esse bâton, Para desafiar, Certeira, Uma pulsão Que não ousas Depor E que cobres Com as cores Vivas De uma alma Em sobressalto... .............. Talvez ferida De amor? VEJO-TE, AGORA, A fumar, Lânguida, Com esse bâton Já gasto A transbordar De teus lábios Carnudos, Ao rubro, Em preguiça Abandonada, Pronta Para te dares, Não a mim, Mas sempre, Sempre, Ao olhar mágico De tuas mãos E da grafite Com que desenhas Milagres íntimos Sobre rostos Múltiplos E fugidios. ENTÃO PINTA-ME Também Com esse bâton E leva-me Contigo, Livres, Os dois, A quebrar Em mil pedaços Essa porcelana Do pecado Com a beleza Singela Desse teu Rosto doce E meigo Que acaricio Com as palavras Deste difícil Poema De reencontro Com o passado.

