VENTO DO DESERTO
O Regresso da Medusa
Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “S/Título”
JAS 2025
Original de minha autoria
Novembro de 2025

"S/Título". JAS 2025
POEMA – “VENTO DO DESERTO”
IRROMPESTE
Como rosto
Esculpido
Com arte
Pelo vento
Num dia
De neblina
Um pouco frio
E cinzento.
EM TEUS CABELOS
Se reflectia
A beleza
Do teu rosto
E tu resistias
Ao vendaval
De palavras
Que o vento,
Teimosamente,
Ia soprando
Sobre ti.
UM VÉU
Cobria-te
Levemente
Como tecido
De mensagem
Cifrada
Trazida
Pelo vento,
Pelo tempo
Desenhada.
MAS TU FUGIAS
Para dentro
De ti
E esculpias
Com tuas mãos
Outra mensagem,
Pó do deserto
Sobre véu
Em filigrana.
VINHA DO DESERTO,
O vento,
E trouxe consigo
A Medusa
Para petrificar
A tua imagem?
SIM, PORQUE TU,
Sem um espelho
Na alma
E olhar
Incerto,
Ias-te
Petrificando
Como escultura
Soprada
Pelos deuses
Do deserto.
ERAM RISCOS
A três dimensões
E desafiavam
As finas letras
Que eu ia
Desenhando
A preto e branco,
Mas com cor
E luz
Por dentro,
Para melhor
Te ver
E te tocar,
Docemente,
No fio
Do horizonte,
Onde, com elas,
Se cristalizava
O meu desejo
De ti,
Como lava
Ardente.
AH, ESSE ROSTO
Que o poema
Cantará
Fustigado
Pelo vento
Do deserto
Em fuga vã
Desse lugar
De onde
Nunca sairá...
ROSTO ESCULPIDO
Por ti,
Como Medusa
De ti própria,
Sem saber
Que quanto mais
Te desenhares,
Petrificada,
Mais te suspendes
Sobre estas mãos
Que, de longe,
Te acariciam
Com palavras
E te elevam
Ao Parnaso...
..............
O que me sobra
De ti,
Inelutável
Ocaso
De tudo
O que eu senti.
