Poesia-Pintura

TARDE DEMAIS

Poema de João de João de Almeida Santos
Ilustração: “S/Título”
JAS 2025
Original de minha autoria
Novembro de 2025

POEMA – “TARDE DEMAIS”

TARDO A ENCONTRAR-TE
Porque não sei
Como procurar-te
Guiado
Por um poema,
Pois não sei
Onde o vento
O levará.

NÃO É A VONTADE,
Mas o destino
A marcar
Os passos
Que eu darei
Ou que nunca
Ousarei
Nas estreitas
Veredas
Da vida.
Ah, mas isso
Eu não sei,
É certeza
Proibida.

E TU SABES
Que não sei,
Mas sabes
Por onde andei
E onde
Eu me perdi
À procura do que
Não podia ter,
Até que te encontrei,
No fim
Desse caminho
Que já nem sei
Se trilhei
Ou se o abandonei
Antes de um qualquer
Começo....
...........
Ah, isso
Também não sei.

ÀS VEZES
Encontrava-te,
Encontros fugazes,
Onde o teu brilho
Me iluminava
Por dentro
E me cegava
Por fora.

MAS NÃO SABIA
Se te queria
Para nunca
Te ter,
Sentir saudades
Do perfume
Da aurora
Quando te reencontrasse
Na memória fresca
Dos afectos
Inacabados...
..................
Os mais perfeitos,
Os mais cantados.

SIM, DEIXO-ME IR
Nas mãos
Do destino,
Mas há sempre
Um sobressalto,
Repentino,
Quando o real
Me atropela
Por dentro
E tudo se torna
Estranhamente
Inóspito.

SE NÃO ME DEIXO IR
Viajo para outros
Lugares,
Tenho sempre
De viajar
À procura de mim,
De um espelho
Onde me veja
Por dentro
A olhar-te
Por fora,
À espera do próximo
Sobressalto...
.................
Que nunca demora.

COMO ME PERTURBA
Esse véu
Que te cobre
Quando te quero
Pintar
Com palavras,
Ver-te nua,
Com a alma
A tiritar,
Despida,
À mercê dos
Tumultos
Que te marcam
Como sulcos,
Cicatrizes
Ásperas
Da vida.

MAS EU PROCURO-TE
Com olhar
Atento,
Perscrutando
A alma
Que se aninha
Em ti
Para te proteger
Do risco da beleza
Exposta
Como fractura,
Aquela que os poetas
Cantam
Quando pressentem a
Liberdade
À beira
Da ruptura.

TALVEZ A NOITE
Também te sirva
De véu
E te cubra
As cicatrizes
Da vida,
Luz coada
Pela penumbra
Que te amacia
A alma
Encrespada
E te devolva
Como sonho
Intemporal
Onde te reinventarei
Como mulher
Desejada...
..........
Para além
Do bem
E do mal.

TARDO
A encontrar-te
No bulício
Dos dias
Até que no amanhecer
De um poema
Te reencontre
E te diga
Com o olhar,
Sem mais,
O que não posso
Dizer
Com estas palavras
Já gastas...
..................
Mas talvez já seja
Tarde demais.

 

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