ALMA!
Poema a dois. Ana de Sousa
e João de Almeida Santos.
Ilustração de João de Almeida Santos.
"Deusa no Jardim". 28.01.2018.
“ - PROPÍCIA,
DESPERTA A MANHÃ,
Desperta o dia.
A Montanha distante
É tua.
Exageradamente fria.
Está escrito
Numa Estrela
Em matriz
Gravada
A cinzel!”
SIM, FRIA,
É A MONTANHA
Onde nascemos
Para o Destino
No granito
Das nossas vidas!
O CALOR
Habita
Outras paisagens
Mais a sul,
Onde nasce
A poesia
Para aquecer,
Com flocos
De palavras,
A minha alma
Granítica
E vadia...
“- FATAL CAMINHO
De linhas paralelas.
Até os sonhos
Da mulher to dizem:
‘ - A solidão eterna
Não ouvida.
Ferida antiga,
Aberta e repetida’.”
SOLIDÃO ETERNA...
É longo
O caminho
Dos que amam
No deserto
Como gelo
Na noite,
A fria lua
Iluminando a alma
Nua
Em desespero,
Tendo areia
E vento
Como tempero...
“- PORÉM, O GELO
É QUENTE.
Mente.
Com a mentira sobrevive
O engano.
Da louca mansidão
Se afastam
Os sentidos
Do paladar
Do tacto.”
SIM, É QUENTE,
Porque não mente
E é cortante,
Faz brotar
Sangue
Em veias
Flutuante
Que escorre
Sobre pele,
Mesmo distante,
Tal a força
Da paixão
Na memória
Escaldante...
“ - DE FACTO, PERDURA
A audição, o olhar.
O cheiro raro
De um perfume
Caro.
Negrume
De eclipse!
Qual elipse?
E o símbolo
Do infinito
Ata-lhe
O petrificado coração.
Reflecte um brilho
Inigualável o diamante
Inscrito
Na sua neve
Branca.
Flecte
Os joelhos.
Sabe ainda rezar...
Fá-lo
Em poesia
Confessando-se
Às palavras
Que se diz,
Em permanente
Melancolia...”
ELIPSE E INFINITO
Sabem de longe
A não ouvido
Grito de beleza
Sacrificial
Ou gemido
Sussurrado
E esquecido
Lá longe.
Alma ferida
Que o seu altar
Colorido
Não acolhe
Nessa distância
Desmedida
De uma fuga
Inesperada
E depois
Insistentemente
Ressentida
No eco do silêncio!
Oh! como é duro
Vê-la perdida
No meio da floresta
Desordenada
De cores,
Esbracejando
No seu irresistível
Ímpeto,
Em girândolas
Ou estilhaços de
Poderosa fantasia
Em perigo
De autofagia
Cromática,
À procura do
Do tempo perdido
Em sendeiro
De floresta...
“ - MAS O SILÊNCIO
De Deus
É um consolo.
Mudança de estações,
Tempo
Insondável!
Milhares de vezes
Levanta voo a águia.
Seu destino
É voar.
O da fiandeira,
Fiar.”
VOA, VOA
A águia
Com seus riscos,
Mas ele,
Que não é
Fiandeiro,
Fica-se
Pelas palavras
Como ciscos
No seu olhar
Perturbado,
Sem cor
Abandonado,
Procurando,
Parado,
Voar
Com outras asas
Que encontra
Em si,
Sem saber
Para onde
Viajar,
Perdido o infinito
Que lhe roubaram
Dessas mãos
Tão generosas
De palavras
E cores...
“ - SUAS IRMÃS,
AS PARCAS,
Riem
Do destino
Dessa mortal voadora.
Resta-lhe ficar
Soror da Seda
Presa em seu casulo
Do mais alto céu,
Olhando de
Longe
Tudo o que a vida
Lhe não deu.”
MORTAL VOADORA
Que me liberta
Da Moira
Que ao fim,
Inflexível,
Me conduz,
Sem sair
Desse silêncio
Que tanto
Me seduz...
.........
Alma pura
Que me trouxe
Tanta, mas tanta
Luz,
Em plena vida
De poeta
Que resiste
Com a Sorte
À neblina
Que aflora
E espreita
A cada esquina...
“QUE CINZENTO
E AZULADO,
Porém, é o céu
E o poente quente
Que cai
Alaranjado e vermelho,
Como a nuvem
Passou o sonho,
Seu espelho...
............
Ah, a doçura
Das palavras
Amargas!”
SIM, AMARGAS
Como o gelo
Quente
Que não mente
E não derrete
Ao sol,
No poente,
Quando o verso
Declina
No horizonte marinho
Ali a seu lado...
Porque à vida
E ao poema
Sempre
Reconduzem,
Sim,
As palavras,
Mesmo sem cor!
PROPÍCIA, DESPERTA
A manhã,
Sem ti,
Meu amor!
É um poema diferente daqueles que o poeta tem partilhado. Surpreendentemente, melhor! Uma teia de palavras entrelaçadas que nos transmite um musicalidade poética de excelência! A imagem é magnificamente bela! Continuarei a seguir fielmente os escritos do autor através deste blog. Esteticamente muito bonito. Sucesso!