ESTRANHA ENCRUZILHADA…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração – “A Rua”. Original do autor. Agosto de 2018.
"A Rua". Jas. 08/2018
POEMA - "ESTRANHA ENCRUZILHADA..."
CRUZEI-ME CONTIGO Numa esquina Da vida Nesta rua Onde reinventei Uma estranha Despedida! NÃO TE VI Como te via Da janela Sobranceira Quando passavas Na rua Abraçada À beleza, Teu perfeito Avatar Numa nova Encruzilhada Que o tempo Quis desenhar... SE TE VI, Mas eu não sei, Foi duma janela Vidrada Que me devolveu A imagem Como espelho De uma fada Onde te fui Visitar! MESMO ASSIM ESTREMECI... Pressenti-te Sem te ver, Fugidio Ao olhar Indiscreto De um acaso Tecido pelo Destino... AH! DEPOIS SEGUI Com a alma Essa tua silhueta Embaciada... Pensei Que não ia Por ali No meio Da multidão, Que não te via Por falta De nitidez Do meu campo De visão, Que não te reconhecia Nessa rua paralela Onde todos Nos cruzamos, Indiferentes Ao que já Nem vemos nela! ANÓNIMO Me assumi Como essa gente Comum Que se cruza No caminho Sem jogar O seu destino... SENTI TRISTEZA Profunda, A alma Petrificada Com lágrimas secas, Das que Não saem de nós, Não banham O nosso rosto, Dor íntima, Dor atroz Cravada no peito Lá bem fundo, Perdida, Já sem voz Nem a melodia Com que cantava O rio De que tu eras A foz. QUE ESTRANHA Sensação! Caminhando Lado a lado, Perdidos Num horizonte Que se esfuma Até nos engolir Como espuma Que se desfaz Na areia branca Da praia... ATÉ QUE CHEGUEI A estas palavras Escritas na água Remexida pelo vento, Também elas Esmorecendo Na praia De um lamento Porque sigo Outras ondas Noutras rimas Em poemas errados Ou simulados Para dar voz Ao poeta triste... MAS GOSTEI De olhar Sem te ver, Apenas imaginando Que eras tu, Regressada dos confins Da minha memória... E GOSTEI Que me visses Sem me olhar, Pensando Que nem sequer Me pressentias, A mim, Esse anónimo Que te seguia Para logo Te perder... TUDO TÃO ONDULANTE, Tão dolorosamente Normal, Estranhamente Banal... ...................... Que até este poema Espanta Por cantar O que nunca Aconteceu! QUE EXERCÍCIO Foi este? Crueldade De um destino Apenas imaginado? Indiferença fatal Que se torna Irreversível Como ferida Que não cura E dor Que dissolve Como espuma, No poema, As palavras Com que ainda Te digo? AFINAL, QUE TE FIZ, Meu amor, Para te perder Assim, Ao entardecer, Numa encruzilhada Da rua Que reinventei Para te cantar Como melodia Para quem já Não me ouve?