PERFUME
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Perfume”. Original de minha autoria para este poema. As duas referências que gostaria de assinalar, neste poema, são as “Memórias de Adriano", da Marguerite Yourcenar (Alfragide, Leya, 2018: 72-73), e "Os Sonetos de Shakespeare" (Lisboa, Quetzal, 2016 - Soneto 54). Janeiro de 2019.

Perfume. Jas. 01-2019
POEMA – “PERFUME”
E SE UM DIA
Me perguntasse
O que é, para ti,
O amor?
Pintar
Esse teu rosto,
A retórica
Do corpo,
Celebrando-te
A cor?
OU DIZER-TE
NUM POEMA,
Retórica
Da minha alma
Que te sofre
Em dilema
Entre o silêncio
E o canto
De tão longa
Ser
Esta nossa
Despedida?
DESENHAR-TE
Como se fosses
Flor
À medida do
Desejo,
A retórica
Da cor
Que sempre,
Ao ver-te,
Festejo?
O QUE É?
O perfume de uma
Rosa,
Branca
Ou vermelha
De cor,
Que sempre
Me enche
De ti
E me perde,
Meu amor?
DESENHAR UMA
PAISAGEM
Contigo
No horizonte,
Uma brisa
Que sopra
Suavemente
Lá em cima
No meu Monte?
O QUE É PARA TI
O AMOR?
Ouvir-te
Como minha
Sinfonia
Ou sentir o teu
Silêncio,
A secreta
Melodia?
ENLAÇAR TEU CORPO
Ao meu,
Um calor
Que inebria,
Celebrar-te
Sem parar
Uma noite
E um dia
Ou projectar
No espelho
O teu corpo
Virtual,
Celebrando
Teu perfil
Como minha
Alquimia
Num estranho
Ritual?
SABES O QUE É,
MEU AMOR?
Talvez não...
..................
De tanto te
Celebrar,
Pintar,
De tanto cantar
O teu rosto,
A beleza seminal,
Numa tela,
Num ecrã
Ou no meu triste
Mural...
................
Este amor
Pode até ser
Negação...
SAI DE TI
E deixa-te ir,
Vagueia
A vida
Com alma,
Não celebres
Com tristeza
Cada tua despedida
Como se o tempo
Parasse
Para não seres
Esquecida...
SAI DE TI, SIM!
Procura
O que o mundo
Te dará
Pois essa será
A tua certa
Medida...
AMOR TALVEZ SEJA
O perfume
De uma rosa
Em gestação,
“Brando odor que
Nela habita”,
Cor intensa,
Forma bela,
Palavra que
O poema
Sempre hesita,
Mas interpela
Em versos que
Te destilam
Verdade
Quando a vida
Se resolve
Na escrita...
...................
De uma tão funda
Saudade!

Detalhe.