Poesia

COMO TE QUERO...




POEMA de João de Almeida Santos.                    Gustav Klimt - Two studies to a young woman sitting on a tablenDeutsch Zwe - (MeisterDrucke-351787)

Ilustração: “SEDUÇÃO”. 

Composição de minha autoria a partir 
de um estudo de Gustav Klimt. 

- "Dois estudos de uma jovem mulher", 1885. 
JASKlimtFinal1410Fim3

“Sedução”. Jas. 10-2019

POEMA – “COMO TE QUERO…”

PEDI EMPRESTADO
Ao pintor
Este rosto
De onde vejo
A cor
Velada
Da tua alma...

ENIGMÁTICO
OLHAR
Que me perscruta
E fascina,
Beleza etérea,
Divina!

OS TRAÇOS
DELICADOS 
Que o desenham
E a leveza
Das vestes
Que velam 
E desvelam
O corpo
De pele macia
Que me cativa
O desejo...
..............
Seduzem-me!

E FICA-ME 
ESTE ROSTO
Solitário
Na galeria poética
Da minha vida
Onde te versejo
Mil vezes
À procura
De um amanhecer
Que nunca chega...

PARA TI DIRIGI
O meu olhar
Através de um espelho,
A obra de arte,
Vi leveza,
Beleza intangível
E ouvi silêncio
Profundo
Envolto
Por uma densa
Neblina
Que nunca se dissipa!

E ENTÃO RECRIEI-TE,
Com a ajuda
Do pintor,
Tal como
Te desejo,
Na fronteira,
Sempre no limiar
Do impossível,
Na distância
Que o destino
Nos traçou
E nos compassos
Do silêncio
A que a deusa
Nos votou.

SE TE ENCONTRAR
De novo
Só saberei ver-te
A partir
Deste fino rosto,
Memória de ti,
Numa tela
Cantada por mim.

E ENTÃO REGRESSO
Às tuas cores
Para com elas
Te desenhar
De novo
Com o pincel mágico
Do pintor
Que eu amo
Em ti.
JASKlimtFinal1410Fim3Rec

“Sedução”. Detalhe.

2 thoughts on “Poesia

  1. João de Almeida Santos.Transcrevo o comentário da Professora Maria Neves a este Poema: “Num significativo e intemporal ensaioQu’est-ce que c’est la littérature, publicadoem meados do século XX na revista “Les Temps Modernes”, Sartre coloca, como umdos pontos capitais da sua reflexão, a distinção entre prosa e poesia. DizSarte: «La prose se sert des mots, la poésie sert les mots». Sim, bela esta distinção, mas o poeta,para expressar o seu estro poético, também se serve da palavra como um material, talcomo o pintor com a cor e o músico com os sons. No poema em análise, o sujeitopoético, em linha com este pensamento sartriano,  convoca  efeitos linguísticos e cromáticos e faz um diálogo entre apoesia e a pintura: “PEDI EMPRESTADO/Ao pintor/Este rosto/De onde vejo/A cor/Velada/Datua alma…”. Estes e outros versos indiciam um tom confessional, pessoal ememorável, com as isotopias do silêncio e da ausência que vêm povoando a poética deJoão de Almeida Santos (JAS): “FICA-ME ESTE ROSTO/ Solitário/ Na galeria poética da minha vida/ Onde te versejo”. A simbiose entre a pintura e a poesia está plasmadanos versos transcritos bem como na sinalização dos campos semânticos (poético epictórico) que permeiam a tessitura do corpo do poema (pintor, cor, traços,desenham, tela, pincel,…). Estes levantamentos lexicais criam uma atmosfera propícia à descrição da mulher amada, caracterizada, à maneira petrarquista ecamoniana, como uma deusa inacessível e etérea. “E vi leveza,/Belezaintangível…” Se a beleza é intangível, a poesia serve, quiçá paradoxalmente,para expressar, de forma tangível, os sentimentos que perpassam a alma do poeta,num pacto de leitura com o leito”. 

    • João De Almeida Santos Sim, Professora, a poesia tem algo tangível. É por isso que eu a considero uma linguagem com força performativa, com capacidade de replicar emocionalmente a realidade. A beleza é intangível porque não se deixa capturar, nem sequer numa primeira leitura. Eu diria que a poesia serve as palavras quando as palavras são o último recurso do real. Até pela proximidade do poético à emoção. E, sim, é certo que a prosa se serve das palavras para recriar o real, num movimento que é oposto ao movimento da linguagem poética, cuja vocação é de se fundir com o real sem se deixar aprisionar por ele. Algo parecido com a simbiose. Obrigado pela sua análise. Fico-lhe, como sempre grato, pela atenção que sempre me dispensa. Um abraço.

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