MARÇO
POEMA de João de Almeida Santos. Ilustração: "Fauno em Março" - Original de minha autoria. Oito de Março de 2020.

“Fauno em Março”. Jas. 03-2020
POEMA – “MARÇO”
GOSTO DE MARÇO, Entre o branco e As flores Que despontam Na fronteira Do tempo, Entre a neve E a primavera. GOSTO DO BOTTICELLI, Rostos e corpos Feminis, Volúpia de Transparências Sensuais. GOSTO DA PELE Acetinada Dos corpos, Dos traços E da cor Que desenham Alvura nas Três Graças... .............. E no Amor! GOSTO DO BRANCO, No alto da Montanha E das cores intensas Que interpelam, Insinuantes, O meu olhar Deslumbrado, Cá em baixo, Neste vale Por elas sempre Iluminado. GOSTO DE MARÇO, Ah, como gosto! Entrei nele Contigo, Ombro a ombro, Em contraponto Que se consumou Como silêncio Fatal, Marca de tempo Quase irreal, Face obscura Do meu rosto Entristecido. QUE O DIGAM Os astros Desalinhados... ............... Para ti colhia Flores luminosas, Crescia A inspiração Em estrofes Arrebatadas Com que sentir Fingia O que dizer Não podia. Contraponto. O outro lado Da tua melodia... MARCADO Como selo De inspiração Às avessas, Lá vou eu Por aí, Nem sei porquê (Ou por falta de ti), De braço dado Com Botticelli, Lá em cima, na Galleria, Onde quase morei, Transeunte Irreverente No incerto desafio De um dia. PROCURO-TE, SIM, Na laica oração À deusa Athena, A que trazes (Eu bem sei) No centro Do coração. SINTO-TE PERTO (É estranho, não é?), Depuro A tua imagem, Bissetriz de mil Rostos perdidos, Até se tornar Ideia precisa De corpo ausente... DEPOIS, AH, DEPOIS REINVENTO-A A cada instante, Abraço-a Com alma De amante, Pinto-a com Palavras De poeta Encantado E sonho-te Numa plácida noite Da primavera Que assoma... AO ACORDAR, No amanhecer De cada poema Verei que continuas Em mim De olhos fechados Como se fosses Memória profunda Do que nunca Aconteceu. ANDAREI Por aí (Os astros o dirão), Vagando Sobre o pólen Da beleza sensível Onde pousarei O meu inquieto Olhar À procura De alimento Para pintar O poema... ........................ E talvez o impossível! LÁ NO ALTO Te encontrarei, No fio do horizonte, Um risco, Projecção do teu Olhar A construir infinito, Onde, num adeus Sem fronteiras Nem cais de partida, Hás-de desenhar Com a alma As mil silhuetas Inacabadas... ................ Ou talvez não! MEU DEUS, Como gosto de ti... ............... Em Março!

“Fauno em Março”. Detalhe.