O BENFEITOR
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Um Homem das Arábias”.
Original de minha autoria
para este poema. Junho de 2022.

“Um Homem das Arábias”. JAS. 06-2022
POEMA – “O BENFEITOR”
COMO TE VEJO,
Ó benfeitor,
Filho dilecto
Da tua Ilha,
Nosso Jardim.
Há mil quadros,
Rara beleza,
Espelho do teu
Amor,
Todos pra mim,
Aqui tão perto,
À minha beira.
Sinto-me rico
De tanta cor
No ouro luzente
Das molduras
De Madeira.
COMO TE SINTO,
Meu benfeitor,
Sempre de negro,
Artista grande
Que nem Dali,
Noites d’Inverno
Onde o preto
É a beleza
E o dinheiro
(Que foi pra ti)
O meu Inferno.
VERMELHO E NEGRO,
Como Stendhal
Ou Julião
(Tens o Sarmento...)
A palpitar
Do coração
(Sem um lamento).
A TUA VIDA
É um Natal,
Com tantas prendas
Dos teus banqueiros,
Mas a minha
É tempestade
Com aguaceiros,
Sempre a pagar...
..........
É natural.
DA ARTE TU ÉS
O Mago,
A colecção
Vai aumentar,
Banqueiro dá,
Finge
Qu'empresta,
É aos milhões,
Mas logo chega
O meu castigo...
..............
É sempre assim,
Sempre a cobrar
(Põe-me mendigo)
O que pra ti
São só tostões.
EU GOSTO D’ARTE
Da que eu faço,
Sem a vender
Nem a comprar,
Mas vou ao banco
(Vou muitas vezes),
Acerto o passo,
Eu tenho contas
Para pagar.
O MEU PAÍS
É muito culto,
Jeff Koons
Lucio Fontana,
Henri Michaux,
Mas no balcão
(Não sei porquê)
O meu banqueiro
É um sacana...
.................
Foi sempre assim,
Vem do avô.
ANSELM KIEFER,
Gerhard Richter,
Frank Stella...
É muito bom!
Pois tem de ser.
Se o banqueiro
Olha pra ela
(Prà colecção),
Fica pasmado
Com tanta arte
E dá-te tudo
Por gratidão.
E DUBUFFET,
Não gostas dele,
Ó fruidor?
Piero Manzoni,
George Segal,
Chamberlain,
Morris Louis...
É a beleza
Da colecção
Feita pra ti.
Não percebeste?
Chegas e vês
Gostas e pagas,
És devedor.
Não rogues, pois,
Crente da arte,
As tuas pragas
Ao benfeitor.
GOSTO DE TI,
Da tua arte,
Ficou humana
A nossa banca...
Mas sem milhões.
Que nos importa?
Temos beleza,
Temos amor,
Temos as contas
Aos trambolhões,
Temos-te a ti,
Tão generoso...
.................
São os banqueiros
Os aldabrões.
MAS QUE M’IMPORTA,
Ó benfeitor,
Fizeste bem,
Mais uma vez,
Pois ajudaste
Os teus banqueiros...
..............
Tinham excesso
De liquidez.
GERALD LAING,
Alain Jacquet
Pauline Boty...
...............
Bem acertaste,
Ó benfeitor,
A liquidez
Ficou pra ti.