“25 DE ABRIL DE 2023 NA GUARDA”
UMA NOTÍCIA E UMA REFLEXÃO
Por João de Almeida Santos

O Quadro oferecido à Freguesia da Guarda. JAS. 25-04-2023
I.
PASSEI o meu dia 25 de Abril na Cidade da Guarda, onde, durante a manhã, na Sala da Assembleia Municipal, recebi, das mãos do Senhor Presidente da Assembleia Municipal, Dr. José Relva, e na presença do Senhor Presidente da Câmara e do Senhor Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, a “Medalha de Honra do Município – Grau Ouro” e o “Título de Cidadão Honorário da Guarda”.

O momento em que recebi a Medalha de Ouro do Município e o Título de Cidadão Honorário da Guarda.
Uma enorme honra. Foi nesta Cidade que fiz os estudos secundários, no Liceu Nacional da Guarda, sendo natural de Famalicão da Serra, uma freguesia deste Concelho. E foi nesta Cidade que, durante oito anos (2005/2013), desempenhei as funções de Presidente da Assembleia Municipal da Guarda e, decorrendo da minha condição de deputado municipal, desempenhei, durante sete anos (2006/2013), as funções de Presidente eleito da Assembleia da Comunidade Intermunicipal “COMURBEIRAS”.
Depois, pelas 16:30, foi inaugurado, na Sala de Actos da Junta de Freguesia da Guarda, um quadro alusivo à Cidade da Guarda, de minha autoria, que tive o gosto de oferecer à Freguesia da Guarda no ano em que comemora o seu décimo aniversário. Ainda por cima ficará num edifício – a Sede da Junta – onde nos meus tempos de liceu me treinava diariamente, com o meu amigo Henrique Martins, para os campeonatos distritais de ping pong, em que ainda cheguei a participar. A esta minha oferta não é alheio o papel que desempenhei no processo de agregação das freguesias do Concelho da Guarda (de 55 passámos para 43 freguesias) e, por isso, na decisão de criar uma só freguesia urbana, enquanto Presidente da Comissão que levou por diante o processo, num clima de grande consenso.

Na Sala de Actos da Junta de Freguesia da Guarda, no momento da inauguração do Quadro
Um dia cheio, para mim, este, o do 49.º aniversário do 25 de Abril, esse momento mágico em que Portugal recuperou a sua liberdade, depois de 48 anos de ditadura.
Fico grato ao Município e à Freguesia da Guarda por terem tornado possível ficar deste modo simbólico associado àquela que é a minha Cidade de origem.
II.
O 25 de Abril de 1974 representou uma ruptura no nosso tempo histórico. Passámos de um regime autoritário e retrógrado, que subsistiu 48 anos (1926-1974), a uma democracia representativa aberta ao futuro e livre. Estávamos em guerra há cerca de treze anos, o interior do país desertificava-se, com a emigração clandestina (“a salto”), não havia liberdade nem desenvolvimento e sofríamos um pesado isolamento internacional. O 25 de Abril abriu o país ao futuro e ao mundo. Mas, passados 49 anos, as promessas estão a ser cumpridas? No essencial, sim. Basta comparar os dois mundos, mesmo subtraindo o natural desenvolvimento que o tempo, só por si, gera. A diferença vê-se bem se olharmos, no arco de umas dezenas de anos, para as aldeias do interior. E, todavia, a aceleração do tempo histórico está a exigir respostas que parece que o país não está a conhecer, mesmo subtraindo também os problemas internacionais que não pudemos controlar, a crise de 2008, a pandemia e, agora, esta guerra estúpida que o senhor Putin lançou contra um país independente, a Ucrânia. Sim, é necessário fazer algo para acompanharmos o ritmo acelerado da história, em todas as suas frentes, incluída a da política. E creio que o primeiro passo, talvez mesmo o mais importante, deva ser o de reconhecer humildemente o que somos e a nossa própria dimensão, sem nos enganarmos, como vai acontecendo, com um discurso sobranceiro, como se ocupássemos no mundo um lugar que de facto não ocupamos. Recomeçar a partir daquele que é o nosso lugar talvez seja verdadeiramente o que de fundamental há a fazer para conquistarmos um futuro mais sólido e avançado. A “consciência de si” é sempre o primeiro e devido passo que devemos dar para com segurança prosseguirmos na nossa própria construção. Se isto é válido para cada um de nós, também o é para os países. E, nele, verdadeiramente importante é a política, não aquela que se limita a conquistar o poder e a usá-lo para se perpetuar, mas aquela que se põe ao serviço da colectividade, com sensibilidade, determinação, saber e movida exclusivamente pela ética pública. E, por isso, a pergunta sobre as promessas cumpridas ou não cumpridas da nossa democracia, deverá ser dirigida aos seus intérpretes, estejam eles no governo ou na oposição. E, seguramente, este dia 25 de Abril será sempre o momento ideal não só para formular esta pergunta, mas também para lhe responder cabalmente sem preocupações de agradar, ou não, à opinião pública e ao eleitorado, tratando-se, como se trata, de uma questão crucial para o futuro do país. É que a “consciência de si” prescinde totalmente da retórica do convencimento e do consenso, porque se trata de um confronto directo com a verdade. E, sem verdade, a política não serve.

Detalhe do meu Quadro “Liberdade”.