Poema de João de Almeida Santos Ilustração: Almada Negreiros - “Viento. Blanco y Negro". N.º 2.017. 21 de enero de 1931. In Pessoa. Todo arte es una forma de literatura. Catálogo. Museo Reina Sofía. Madrid, 2018, p. 262. Exposição sobre Fernando Pessoa aberta até 07 de Maio de 2018.
DESPEDIDA
“Tu prima m’inviasti verso Parnaso a ber ne le sue grotte, e prima appresso Dio m’alluminasti”. Dante Alighieri. Purgatorio. Canto XXII.
PERDI-TE Porque nunca Te encontrei. Numa rua, Numa praça, Num café. Em lado nenhum. Não sei! ENCONTREI-TE No Parnaso. Lá em cima. Intangível. Sem poder Tocar-te A não ser com Palavras. Em forma de poema. Sensível às cores Da tua alma. DE REPENTE, Vestiste-me Com elas, As palavras. E eu senti-me Quente, Afagado No meu Canto, Às vezes, Amargurado, Outras, Em pranto, Sufocado. SIM, ENCONTREI-TE No Parnaso. Lá em cima. No Monte. Através de ti Eu vi a costa, Eu vi o mar E o meu mundo Interior Com nitidez, A sonhar-te, De cada vez, Em azul... ......... A tua cor. A NEBLINA Cobria-te Para te revestir E refrescar A alma Como chuva De palavras Húmidas Caídas do meu Céu. EU NÃO ERA MAIS Do que espelho Que te devolvia Fantasia Contra a Petrificação Que espreita sempre Nos olhares Indiscretos. Mas tu não me vias. Em mim, Especulavas, Dizias... E DE TANTO TE VERES E dizeres Decidiste declinar O espelho que Começava A embaciar-te. E NÃO ERA DA NEBLINA Que te envolvia, Mas dos desenhos Que tuas mãos Esboçavam Timidamente Nesse espelho Já húmido De ti. E DESPEDISTE-TE. Do Monte. Desceste para ti Vertiginosamente, Em desconforto, Sob os olhares Das mil górgonas Que sempre ameaçam Petrificar-te. E sucumbiste. Ou talvez não... NO MONTE, O ESPELHO Disse para si: - De tanto te veres Em mim, Ficou-me, de ti, O repetido reflexo. E sabes o que Brotava Quando te olhavas Com palavras Na minha superfície? Beleza! Toda a que me sobrou Quando, triste, Desceste o Monte. MAS ESTA NÃO PETRIFICARÁ Porque ficou Guardada No meu corpo Vítreo Onde todos Se revêem Sem saber Que no reflexo Levam, gravada Em transparência, A tua imagem... ......... Embaciada. E EU POR CÁ FIQUEI, Espelho do mundo, A olhar para O escuro espaço Sideral À espera que um cometa Me alumie o caminho Para to devolver como Teu reflexo Original...
Professor, Poema Lindo!!!
Eterna DESPEDIDA… Revestida, porém, de eterna PRESENÇA… da Musa e do Autor…
Muito Obrigada:)
1 beijinho com Admiração, Fernanda
Obrigado, Fernanda! JAS
Estimado amigo João, é, sem dúvida, um poema cheio de beleza e sensibilidade, para além de uma vibrante energia devocional que parece vencer o tempo e o espaço!
Meu Caro
Só agora vi este seu comentário e, por isso, só agora o aprovei para publicação. Obrigado. Um abraço.