VESTIDA DE CORES
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Exaltação da Luz”
Original de minha autoria
para este poema. Abril de 2019.
Para ouvir o poema pela voz do autor:

“Exaltação da Luz”. Jas. 04-2019
POEMA – “VESTIDA DE CORES”
VESTES CORES Garridas Em elegantes Danças De luz No palco Do mundo Como quem grita A beleza que leva Dentro de si. COBRES-TE DE TI, Agasalhas-te A alma, Repetes Em mil poses O teu rosto, Em perfil... DIZES-TE Em arte, Com aura, Única, Corpo luminoso Sempre a voar Para lugares onde Te confundes com O que te é Estranho Num subtil Jogo de Espelhos e Aparições Fugazes Onde te mostras Feliz. MAS QUANDO Regressas Às origens É como o fim De um sonho Que te levou Ao paraíso... ................ A queda De um anjo Na rotina do viver! E PARTES DE NOVO, À procura de ti Noutros lugares, Em catedrais Onde o eco do Silêncio Bate mais forte E o brilho do teu Olhar Se reflecte Nos vitrais Translúcidos Da divina luz Que julgas Interpelar... DOCE ILUSÃO A dos vitrais que Constróis Sobre ti Atravessados Por raios de luz Que te fascinam E seduzem Como hipnose Da arte sublime Que te transportará Em levitação Ao oráculo Da divina Atena... ................... Para a apoteose Final! MAS EU SIGO-TE, Vou E voo Atrás de ti Com os meus poemas Sempre feridos De cores vivas, Ao rubro, Com versos Em voz Rouca De tanto te dizer Ao longe, Na melodia triste Feita de Murmúrios Por não te alcançar... ..................... Sequer com palavras! NÃO IMPORTA Que a fuga Para a boca de cena À procura de autor Que te conte Ao mundo Seja fuga De ti própria Para a luz Da ribalta, Holofotes Que iluminem A penumbra Onde, persistente, Vestes A tua imaginação Para a exibir Nas festas coloridas E luminosas Da arte, Em rituais De celebração... GOSTO De te ver assim, Luminosa, Oficiante Desse rito pagão Que celebra A arte E a liberdade Que traz consigo Como pregão A convocar para Um hino à vida, Sem amarras! MAS EU CONTINUO Por aqui, Na solidão Sideral da Montanha A olhar O horizonte Sem fim E o céu plúmbeo, Pagando Com um poema E uma exuberante Rapsódia de cores O meu tributo Ao ritual Onde te celebras! AH, COMO GOSTARIA De te rever Na praia Da meia-lua, No baile Da meia-noite, Em diálogo Silencioso Com um luar Brilhante De lua cheia Que te iluminasse A alma!

“Exaltação da Luz”. Detalhe.
Não tenho palavras para descrever tamanha beleza que vai dentro do Poeta…
João De Almeida Santos Transcrevo e belíssima análise do poema pela Professora MARIA NEVES: “Belo texto poético de João de Almeida Santos (JAS). É uma coreografia de cores, de palavras, de imagens e de movimento. Uma poesia visual, luminosa e cénica. Que mergulha o leitor na interioridade discursiva, saudosa, silenciosa e solitária do sujeito poético que se compraz – num jogo lúdico, idílico e artístico – a escrever poemas à mulher amada, sempre distante e divinizada (intertexto petrarquista que se tornou isotópico na poética de JAS). Estamos perante um sujeito poético hiperconsciente da imagética da arte poética quer na concepção da arte poética de Boileau (1636-1711) quer na sua desconstrução semiótica contemporânea (“MAS EU CONTINUO/Por aqui (…) Pagando/ Com um poema/E uma exuberante/Rapsódia de cores/O meu tributo/Ao ritual/Onde te celebras!”). É neste jogo semiótico e impactante que o Poeta se enleia e enleia o leitor. Se o poema arranca com um tom alegre (“Vestes /garridas/em elegantes/danças/de luz”), porém, esse júbilo inicial vai-se esvanecendo, gradualmente, na tessitura semântica do poema para culminar na solidão contemplativa: (“MAS EU CONTINUO/Por aqui,/ Na solidão/Sideral da/Montanha”).
Este poema – como tantos outros de JAS e como tantos outros de outros Poetas – configura, a meu ver, a arte poética como uma forma que transcende e ritualiza o sentido da finitude da condição humana!
Referência
Boileau, N. ( 2012). A arte poética. S. Paulo: Perspetivas (1ª ed. 1674).”
João De Almeida Santos. Cara Professora Maria Neves, obrigado por esta belíssima análise do meu poema. Nem sei que lhe dizer, mais uma vez. Na verdade, a sua análise enriquece muito o próprio poema e enriquece-me a mim, que aprendo sempre, motivando-me também. Desta vez fico-me em silêncio discursivo para que o leitor possa reflectir sobre a sua análise sem interferências. Um abraço.