LIBERDADE
Poema inédito de João de Almeida Santos, escrito para a comemoração do 25 de Abril de 2019, em Portimão, na Sociedade Vencedora Portimonense, pelo "Grupo Canto Renascido", dirigido pelo Maestro António Vinagre. Ilustração: "Liberdade". Original de minha autoria para este poema. Dito, na Sessão, por Dulce Guerreiro, com acompanhamento ao piano. Para ouvir o poema pela voz do autor e um nocturno de Chopin:

“Liberdade”. Jas. Abril de 2019
POEMA – “LIBERDADE”
PERGUNTEI-TE, Num dia De sol: “Voas comigo Pra linha Do horizonte?” Deste-me a mão E sorriste: “Voo, sim, Pois preciso De ar puro Lá bem no alto Do Monte!” E PARTIMOS. Tu levaste O arco-íris Que tinhas Dentro de ti E eu as letras Que tinha Comigo, Alinhadas Nesta alma Solitária Recolhida Em seu abrigo... ENREDÁMOS Todas as cores Com linhas De palavras Deslaçadas, Construímos Asas em forma De verso E voámos No céu De um poema Pintado todo De azul... ANDEI CONTIGO Por lá Anos a fio, Vagueando Ao sabor da Inspiração, Levados Pela brisa Que sopra fria No Monte, Mas afaga O coração. E COMO GOSTEI De voar contigo, Livres como Pássaros Sobre o vale Onde um dia Te encontrei Construindo Castelos Na areia Com força De fantasia! É ASSIM QUE EU Te vejo, Tecer a vida Com sopro Na alma E as cores Do arco-íris Pintadas Por tua mão Como pautas Coloridas De uma bela Melodia Que canto Com devoção! FOI ASSIM QUE NOS Dissemos Nesse tempo, Livres de amarras Que não nos deixam Voar, Cantando com Arte Um destino Marcado Pela vontade Pra fazer Da nossa vida Caminho De liberdade.

“Liberdade”. Detalhe.
Poema expressivo dedicado à Liberdade, uma palavra, cuja semântica é tecida em campos duais de geografias externas e internas (“Monte, voo, ar puro, livres como pássaros, E partimos, livres de amarras”). Emerge, assim, na tessitura do poema, a par de um solilóquio meditativo – sinalizado pelo título e pela significativa efeméride – uma modulação do sentir e da solidão (“alma/Solitária/Recolhida”), isotopias da poética de João de Almeida Santos. A construção encadeada dos versos – na linha do «leixa-pren» trovadoresco – aliada a um tom interpelativo, enfático e dialogante (“PERGUNTEI-TE,/Num dia/De sol”)incutem ao poema um intimismo alegre e, intimamente libertador, pela Arte. O sujeito poético, que faz uma simbiose do pintar e do poetar, desafia o leitor a procurar a inteligibilidade do(s) sentido(s) do poema e é, nesses sentidos plurais, que reside a literariedade e a intemporalidade da obra de Arte. Apreciemos, por exemplo, a metaforização e a sonoridade desta estrofe:
“ENREDÁMOS
Todas as cores
Com linhas
De palavras
Deslaçadas,
Construímos
Asas em forma
De verso
E voámos
No céu
De um poema
Pintado todo
De azul…!”
O sentido plural na 1ª pessoa (“Enredámos/ construímos/voámos”)apela, enfaticamente, a uma convivialidade desejada e sonhada, com vista a trilharem, juntos, o caminho da arte (“linhas, palavras, verso, poema, pintado” ) e o caminho da liberdade.
João de Almeida Santos. Cara Professora Maria Neves, o poema sobre a liberdade foi-me solicitado pelo Grupo Canto Renascido, de Portimão, para ser dito na sessão do 25 de Abril. Fi-lo inscrevendo-o na semântica da minha poética, de onde não me quero desviar. Poesia, amor e liberdade declinam-se em festa (mesmo quando são tristes) e foi isso que quis propor com este poema, juntamente com uma pintura alusiva ao tema. Fico grato ao GCR e, em particular, a Dulce Guerreiro pela oportunidade que me deram de construir estes trabalhos, associando-me, assim, ao dia da liberdade. E fico-lhe grato a si pela atenção que sempre me dedica e pela generosidade das suas palavras. Um abraço, neste dia um de Maio, em cujo simbolismo a Professora se inscreve sempre com delicado empenho e alegria. Obrigado, mais uma vez.