SONHAR
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Sonho”. Original de minha autoria para este poema. Versão áudio pelo autor, tendo como fundo o “Concerto de Aranjuez”, de Joaquín Rodrigo. Para ouvir o poema dito pelo autor:

“Sonho”. Jas. 05-2019
POEMA – “SONHAR”
SONHEI QUE AS PALAVRAS Se gastaram, Desfiaram, Desataram, Sobrando fios Para tecer O silêncio. SONHEI Que a tinta Perdeu a cor, Que não havia Poemas E que não era Pintor. SONHEI Que não eras tu, Que foi tudo Uma ilusão. SONHEI QUE TE PROCUREI No mundo da fantasia, Onde as flores Caminhavam, Sabiam a maresia, Tinham rostos De mulher, Mas surdos Ao que dizia. SONHEI Que não sabia Onde estás, O que fazes E o que sonhas Nas noites Do teu luar, O que vês Nesses momentos Fugazes Em que olhas Para ti. SONHEI Que já não me lês E que não ouves Poemas, Que estás tão longe Daqui... NO SONHO Fui à memória, Que também Perdeu a cor, Ficou tudo A preto e branco E sonhei, Sonhei, sim, Que te perdi... ................. Meu amor! SONHANDO, Procurei cor Num outro Lugar qualquer. Só encontrei O cinzento E por falta De vermelho Meus versos Tão desbotados Já nem iam Com o vento... “FOSTE P’RA ONDE Que eu não te vejo?” Perguntei Quando do sonho Acordei. SAÍSTE De onde estavas E agora resta O desejo De te cantar Sem palavras P’ra que ouças O silêncio Com que antes Me chamavas. JÁ NÃO ME CHEGAM SINAIS, O meu É um poço escuro, É buraco Tão profundo Que nele Eu vou caindo Como triste Vagabundo... O SOL TAMBÉM JÁ SE FOI, As sombras Tomaram conta De mim, Meus dias São sempre Iguais, Sinto um vazio Sem fim... MAS PINTO, Agora pinto, Tenho cores E tenho aromas, Tenho luz E sou feliz... AH, SIM, Mas perdi A minha Musa, A fonte D’inspiração Foi p’ra longe Com o vento E em meu triste Pensamento Só ficou A ilusão! GASTARAM-SE As palavras, Meu amor. Gastou-se tudo, Afinal. Só ficou o teu Cinzento, A tinta com que Lavras O meu peito (Sem lamento) E me afundas Nesta dor, A que canto Em surdina Para ouvires O silêncio Com que te pinto Sem cor...

“Sonho”. Detalhe.