ENCONTRAR-TE NUM POEMA…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “La Diseuse”. Original de minha autoria para este poema. Maio de 2019. Para ouvir o poema pela voz do autor:

“La Diseuse”. Jas. 05-2019
POEMA – “ENCONTRAR-TE NUM POEMA…”
ÀS VEZES Perco-me Em ti Quando te sonho Num poema. Ondulas Entre tristeza E doçura Nos teus dias Mais incertos, Em momentos De ventura! SE ÉS TERNA, Eu estremeço Porque enleia, O teu olhar! Olhos escuros Despontam Da luz No suave Amanhecer Quando em surdina Me dizes E partilhas Esse teu Acontecer. CONTEMPLO A tua imagem, Essa beleza Tão pura, Por instantes Muito breves... Mas logo recolho Às palavras Sedutoras De tão inocente Encanto E de tão meiga Ternura... O TEMPO Corre sempre Contra nós E eu corro Contra ele Pra que a saudade Não chegue Antes do tempo Chegar, Pois sei Que ela m’inunda, Desagua No meu rio Para logo Transbordar... VIVO SEMPRE Num intervalo De onde nos vejo Sorrir De saber - Tu imagina - Que nunca nos Cansaremos Por falta de tempo Neste efémero Viver Sob esse poder Que domina E me impede De te ter. MAS PERCO-ME No brilho intenso Dos teus olhos À procura dessa cor Que desponta Quando o sol Te ilumina. SINTO CALOR No meu peito E procuro o teu Regaço Pra que me olhes Por dentro Nos poemas Que te canto E que dizes com Fervor Como se fosse Um abraço. EU GOSTO Da doçura que te Invade Quando recusas O mundo Que te atropela Nas curvas Da tua vida... ................ Pra cantar O meu poema Porque me vês De partida... AH, COMO GOSTO De te sonhar A dizer-me Em poesia, É encanto, É prazer E é mistério... .................. É a vida Em sinfonia!

“La Diseuse”. Detalhe.
João de Almeida Santos(JAS) tematiza neste poema o jogo da sedução em sintonia com a (re)invenção dum poema pontuado por antinomias várias (sonho/realidade, tristeza/ enleio, …) e por atmosferas efémeras num tempo que corre veloz (“O TEMPO/Corre sempre/Contra nós/E eu corro/Contra ele”).
Esta poesia – a par de outras deste autor – é um mosaico com sensibilidades várias (da tristeza ao enleio, da contemplação ao encanto,…), com tonalidades sinestésicas (“Eu gosto”, “sinto calor”; “luz suave”, …) e com diálogos mudos, (quiçá consentidos e tacitamente consensualizados), com o ente amado (“Neste efémero/Viver/Sob esse poder/Que domina/E me impede/De te ter”).
Reemerge, pois, nesta poesia o tema do amor e da transitoriedade da vida (temas explorados ao longo dos séculos e sempre por explorar,…) numa visão epicurista similar à do heterónimo pessoano, Ricardo Reis. É, sempre, desafiante para o leitor de JAS sinalizar e usufruir, esteticamente, destes intertextos que resumem o escol intelectual do Poeta