“A COR DA MEMÓRIA”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Transparência”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2020.

“Transparência”. Jas. 01-2020
POEMA – “A COR DA MEMÓRIA”
NUM DIA DE CHUVA, Bateram levemente À porta da minha Memória... ERA TRANSPARENTE, A porta. Vi que eras tu. Reconheci a tua boca, O bâton púrpura Dos teus lábios. NÃO SEI SE ME PRESSENTISTE, Não sei. A porta Era um espelho, Através dela Só se via Do lado de cá. ENTRASTE, Cheia de cor, Que a chuva Humedecera, Mas deixara Intacta. Apenas com mais Brilho... ........ O teu! TAMBÉM TU ERAS TRANSPARENTE. Olhei-te E vi, através de ti, Um céu plúmbeo... E, NA TRANSPARÊNCIA, DESPONTOU O SOL, Coado em amarelo. Havia umas nuvens Escuras A nascente, Lá no Monte... ÀS VEZES, O AMARELO Ganhava tons de Âmbar E vestia-te o corpo, Nu, Na minha intangível Memória Fotográfica. VIA COM NITIDEZ, Sereno, Esse teu belo Sorriso Cristalino, Mas, quando te quis Tocar, Ao de leve, Um vidro desceu, Vertical, Sobre nós. Era frio E húmido, Esse vidro. Separou-nos. E eu chorei! AS LÁGRIMAS Escorreram Pelo vidro. Tentaste Agarrá-las Do lado de lá E fixá-las com Todas as cores Que tinhas contigo. Ficaram apenas Algumas gotas Amarelas Nesse vidro frio, Húmido E cortante... DE REPENTE, Tornaste-te sol E eu já não era Mais do que um Reflexo dos teus Raios filtrados Por algumas Nuvens... ......... Escuras! DESPERTEI Ao som De dedos que batiam Suavemente À porta Do meu quarto. Corri a abri-la... ............... Ninguém! REGRESSEI, RÁPIDO, À minha memória Para te reencontrar, Mas tu já não Estavas, Sequer como reflexo... ................... Deixara aberta A porta do tempo...

“Transparência”. Detalhe.