ESTOU A PERDER-TE…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Jardim das Memórias”. Original de minha autoria, com citações de Gustav Klimt (1912). Janeiro de 2020.

“Jardim das Memórias”. Jas. 01-2020
POEMA – “ESTOU A PERDER-TE…”
ESTOU A PERDER-TE Meu amor, O estro Com que te canto Esmorece, Vai perdendo Lentamente O seu fulgor, O poema Empalidece E eu, Em poética anemia, Sinto um doce E sonolento Torpor. SUBI CONTIGO AO MONTE, Ao meu jardim Encantado, Com as cores Que tu me deste Eu aprendi a cantar Contigo sempre A meu lado. CANTEI A TUA PARTIDA Quando desceste O vale, Mas, triste e Sem destino, Por veredas Caminhei Com saudades Do jardim Que contigo Cultivei. PERDIDO DE TI, Vagueei No monte À procura De eco Do meu canto Derramado, Mas o eco Era silêncio Profundo Sob o azul Irreal Da abóbada Celeste Desse monte Seminal. UMA TRISTEZA PROFUNDA Tomou conta De mim, Desmaiou A emoção De te ver Ou inventar Com as cores Do meu jardim Porque um silêncio Cortante Sufocava, Impenitente, O eco Dessa canção... TAMBÉM EU DESCI O VALE Da minha vida E regressei À triste Monotonia Sem teu rosto Desenhado, Semente Em gestação De cada palavra Que verso No poema Em construção Nesse jardim Encantado... ESTOU A PERDER-TE, É poética Anemia, Sinto vazio No peito, O estro já escasseia E vacila A melodia... O CÂNTICO É murmúrio Inaudível De alma ferida, Sem comoção, Que nem dor Ela já sente De tão gasta Nesta vida Por excesso De paixão. O VALE ESPERA-ME, Sinto-me vazio De ti Porque Não chegam sinais Da rua do Desencontro Nem das fugas Irreais Para o teu Infinito, Janelas De onde te veja Dobrar As esquinas Esquecidas Do nosso Contentamento. ESTOU A PERDER-TE, AMOR, Não há janela, Nem cor, Não há tempo Nem lugar, Não há poema Nem mar Que suspenda O vazio De não poder Navegar Nas águas Desse teu rio... .................... Eu perdi-te, Meu amor?

“Jardim das Memórias”. Detalhe.