O MEU NOME
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Teu Corpo” - Original de minha autoria. Fevereiro de 2020.

“O Teu Corpo”. Jas. 02-2020
POEMA – “O MEU NOME”
PORQUE NÃO ME NOMEIAS, Meu amor? Nome-ar. Tão simples. Quatro letras. Devolver-me Identidade, Aquecida Nos teus lábios Pelo ar quente Que respiras... ASSIM, PERCO-ME, Não sei de mim, Fico sem espelho Onde me ver A cores E em perfil De traço fino Nos teus doces Murmúrios... ................ Que sufocas... .............. E não desvelo O destino traçado Pelos deuses No chão arenoso Do caminho Da minha vida. TORNO-ME SOMBRA De mim Quando me interpelas Sem nome-ar, Não me reconheço, Sou outro, Pronome Indefinido ou Interjeição, Ideia vaga, Incerto perfil Que se dilui Como aguarela Em folha branca Manejada Por ti à procura De uma forma Que, afinal, Não tem nome. PORQUE CATIVAS O som De quatro letras E não cantas A minha melodia Com uma palavra Só? Ah, a tua boca Logo hesita Quando a palavra Assoma À flor dos teus Lábios, Como daquela vez Em que soou Timidamente Como sussurro, Murmúrio Imperceptível, Em surdina, Na fronteira Do silêncio. O MEU NOME Desata A tua alma E ameaça Levá-la consigo A voar sobre O mundo De mãos dadas No fio do horizonte? São vertigens, Meu amor? AH, SE ASSIM FOSSE Diria O teu nome Mais do que digo Até adormecer De cansaço.... ............. Só para te Sonhar. MAS TU NÃO ME DIZES Porque me desejas Como parte de ti, Sem partilha Nem confissão? Guardas O meu nome No silêncio Do teu peito, Como se fosse Pecado dizê-lo? Sentes perigo? Que o meu nome Se torne lava Ardente, Beijo verbal Proibido Pela gramática Do amor Logo ao primeiro Sinal? E foges Para dentro De ti Com o coração Aos pulos? OH, TAMBÉM EU NÃO TE DIGO, Como chamamento, No meu poema, Onde os nomes Se dizem De outro modo, Têm som E ritmo Diferentes, São notas De uma melodia Sofrida E cifrada... MAS AS TUAS LETRAS Estão lá, Todas, Uma a uma, E a cor Dos teus cabelos Em aguarela E o cetim Da tua pele Macia Por onde deslizam Os meus olhos À procura dos teus, Negros e profundos, E essas mãos Perfumadas Filhas da arte Que te desenham A alma Com riscos E cores Que atiras Ao vento Para que eu Os agarre E lhes dê Som, Ritmo E sentido Num poema... .................. Ao entardecer... E, ASSIM, EU CANTO O teu ser, Tudo O que foste, O que és e O que serás, O que sabes e O que sentes, O que vives e O que sonhas. O que dizes No que calas... ........... Tudo, Meu amor. MAS TU DIZES, Com a ironia Do silêncio Triste Que te cativou, Que também eu Não te digo Aqui, Em arte, Mesmo quando Te canto mais Do que ouves, Te nomeio Mais do que Posso, Te pressinto Mais do que Sentes... E TU Apenas te expões Às minhas palavras, À minha música, Silencias-me Porque balbucias O meu nome Só dentro De ti, Foges ao som Encantatório Que corre Atrás de ti Para se ouvir Nos teus lábios. BEM SEI Que o teu mundo Não é o dos nomes Ou das palavras, Sequer murmurejadas, Mas o das cidades Invisíveis Na tua fuga Permanente para O infinito... E SEI QUE AÍ Me vais Silenciosamente Interpelando, Como rosto Mutante, Essa tua forma De docemente Me soletrar. NOMEIAS-ME, SIM, Meu amor, Mas à tua maneira!

“O Teu Corpo”. Detalhe.
Bonitos e com grande sensualidade.