“ESCULPIR-TE…”
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “O Aurífice”.
Originais (novas versões)
de minha autoria.
Outubro de 2020.

“O Aurífice”. Jas. 10-2020.
POEMA – “ESCULPIR-TE”
ENTRE O BRANCO
E O NEGRO
Quis esculpir-te
A alma
Na flor que,
Num acaso,
Encontrei
Perdida
No jardim
Da minha vida...
ATRÁS DE TI,
Ou em fuga
(Já nem sei),
Gastara
Todas as cores do
Arco-íris
Que tinha
Guardado
Dentro de mim.
SOBRARA
Uma marmórea
Pedra negra,
Espelho oracular
Onde me via
Escuro na alma
Por falta
De cores
Exuberantes
Que me protegessem
Do frio glacial
Da tua ausência
Suportada
Nas longas
Intermitências
E contrapontos
De uma melodia
Inacabada.
SOPREI FORTE
Com a alma
Desnuda
E a flor
Pousou suavemente
Na pedra lisa
E brilhante
Da catedral
Onde te queria
Celebrar
Como amante,
Do oráculo
Vestal.
ESCULPI-TE
Como filigrana
De ouro preto
Sobre branco-pérola,
Aurífice da tua
Alma sedutora
No coração
Alvoraçado
Dessa flor
Onde guardei
O teu nome
Gravado em letras
Invisíveis.
DESENHEI
Alvas incrustações
Em filigrana
Como marcas
Indeléveis
Da arte
Que um dia
Me visitou
Para te cantar.
E, AGORA,
A olhar para
O branco e o negro
Desse cântico
Desenhado
E esculpido,
Ofereço-te
Este poema
Sobre pintura
Imaculada
Onde te celebro
Com arte
Minimal,
Na forma
E na cor,
Sem fronteiras,
E onde
Te reinvento
Em fuga:
Um elegante
Fio branco
Que esvoaça,
Livre,
No marmóreo céu
Do teu altar.
A ÂNCORA,
A sul,
Desliza
Suavemente
Sobre ti
E dilui-se,
Como eu,
Na negra
Vastidão...
EVOCO-TE, ASSIM,
A branco e negro
Sobre a flor
Que um dia
Encontrei
Perdida
No meu Jardim
Encantado
Quando visitava
O impossível...
...............
À tua procura.

“O Aurífice”. Detalhe.