“SOLIDÃO”
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fantasia”. Original de minha autoria. Dezembro de 2020.

“Fantasia”. Jas. 12-2020.
“Os poetas são impudentes em relação às suas vivências: exploram-nas” (Die Dichter sind gegen ihre Erlebnisse schamlos: sie beuten sie aus) "O que se faz por amor acontece sempre para além do bem e do mal" (Was aus Liebe gethan wird, geschieht immer jenseits von Gut und Böse). Nietzsche, Jenseits von Gut und Böse (Para além do bem e do mal), 1886. Sprüche und Zwischenspiele: 161. 153.
POEMA – “SOLIDÃO”
PERGUNTEI AO POETA Sobre a minha Solidão... ........ E sabes O que me disse? Que ela tem Sete véus Pra que ninguém Atravesse O sagrado Do seu halo... .................... Um oásis no deserto, Confessou. PERGUNTEI-LHE Pela dor Que me resta (E eu afago) Deste amor Que me veio Ao encontro Como amarga Dádiva do céu, Um sabor Muito intenso A algo que não É meu... E SABES O que me disse? Se já não tens Alegria Para encantar Quem tu amas Resta-te a dor, Sobra-te solidão Em humana Eternidade... .............. E uma longa Evasão Para cantar A saudade. MAS DISSE MAIS. Não a procures, Não lhe fales Nem a vejas A não ser como Poeta Nesse intervalo Da vida Que te torna Intangível Como pura Silhueta. FINGE Que não é ela (A que vês lá Da janela) O destino do teu Canto, Sobe às nuvens Pelas linhas Do seu rosto e Põe asas No seu nome, Mas finge (Como poeta) Para que não Reconheça A paixão Que te consome. E SE UM DIA Teus olhos Pousarem nela Finge outra vez, Finge que Não a vês, Que estás ali Por acaso, Como se fosse À janela, Que o destino Te levou Para fora Do seu mundo A satisfazer Um desejo Que resgate A solidão. PERGUNTEI, De novo, Ao poeta Sobre esta solidão Que cresce dentro De mim... E SABES O que me disse? Que também ele Ia nu, Viajando nas estrelas, Com asas De sete véus, Transparentes Como ar, Mergulhando no azul Para ver se A cantava, Sentado no horizonte, Tocando o infinito, Lá onde mais A amava. QUERO SER Como falou Zarathustra, (Sussurrou) Que da paixão Saia virtude, Dos demónios Nasçam anjos, Da solidão Liberdade, Que na dor Cresça alegria Cada ano E cada dia, Enquanto o poeta Viver, Enquanto a possa Cantar Com o céu Por companhia. ENCONTREI, Um dia, O poeta A caminho Das estrelas. Perguntei-lhe Sobre a minha solidão. Bateu as asas E disse: Voa da tua janela, Voa Pra junto de mim Como se fosses Pra ela Com asas De sete véus Que o azul deste Meu céu Te dará Libertação.

“Atelier”. Detalhe.