MUSA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Desejo”. Original de minha autoria para este poema. Abril de 2021.

“Desejo”. Jas. 04-2021.
POEMA – “MUSA”
EU TENHO UMA MUSA Guardada No fundo Da minha memória, Perdi-lhe o rasto Ao corpo, Ficou-me dela O mistério Que me alimenta O estro Quando a saudade Me assola. SOBROU-ME Recordação, Marcas cá Dentro de mim, Desço ao fundo Da alma Mas nunca Lhe vejo O fim. E ASSIM NÃO A VISLUMBRO, Há uma certa Escuridão, Olhar de nada Me serve, Restam-me As cicatrizes E uma funda Solidão. ÀS VEZES DESENHO-LHE O corpo, Ponho-lhe cores Muito vivas, Pinto a alma Com palavras, Dou-lhe nome Que não é seu, Levo-a nos meus Poemas, Devolvo tudo O que resta Do que ela Não me deu. VALE-ME A POESIA Pra onde fujo Com ela, É como as ondas Do mar Que vejo Da minha janela. TENHO UMA MUSA Nesse mar Que não tem fim, Revolvo-me Nas suas ondas, Regresso depois Ao poema Onde sorri Para mim. NÃO IMPORTA Onde está, Musa é fonte De inspiração Desde que a tenha Na alma Esse lugar De paixão.

“Desejo”. Detalhe.
Transcrevo aqui, com o meu obrigado, o comentário do meu Amigo e conterrâneo Tó Zé Dias de Almeida:
“Trata bem a tua musa que musas como essa são raridades preciosas! E, além disso, se com ela fores para bom abrigo, foge e esconde-te aí, aí, onde abrigo melhor não irás encontrar… Sim, porque a Poesia a todos os que a amam sabe acolhê-los e desejar-lhes inimagináveis desígnios de íntima felicidade poética. Só a sente quem das musas é amigo e é capaz de se aventurar mar adentro em busca insistente da beleza essencial que lhe é devida. Vai poeta e que as musas, quais nereides camonianas, te acompanhem e te iluminem! Boa viagem e para ti, João, boa noite e bons sonhos poéticos e pictóricos. Um abraço”.
Sim, que melhor do que um tratamento poético em sinestesia? E, sim, eu tenho um abrigo especial no meu Jardim Encantado. A minha Ilha dos Amores, onde posso saciar a pulsão poética, embriagado com os poderosos aromas que jorram da natureza, na Primavera. Erato vive lá, em forma de arbusto e posso poetar à sombra do seu vasto folhame. Depois, as cores, a pureza das cores das magnólias, das cameleiras, dos rododendros, dos amores perfeitos, das rosas, das peóneas, sei lá, um intenso desafio a fixar em tela figuras coloridas que o meu olhar capta nos seus perfis. Íntima felicidade poética, sim, pois a poesia é fortemente performativa, consegue quase substituir-se ao real, construindo-lhe uma alternativa estética quase pulsional. Sonhar de olhos abertos e com a fantasia em ebulição. Obrigado pelas tuas belíssimas palavras, Tó Zé. Um abraço daqueles antigos.