NÃO SEI
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Folhas Caídas”.
Original de minha autoria
para este poema.
Maio de 2021.

“Folhas Caídas”. Jas. 05.2021
POEMA – “NÃO SEI”
SE ME PERGUNTARES
Por que razão
Eu te amo,
Respondo-te
Com timidez:
Eu não sei,
Mas sinto-te
Como dor
Que persiste
E que derramo
Nos poemas
Que te faço
E que sempre
Te farei.
SE ME PERGUNTARES
Pelo que dói
Neste tão estranho
Amor,
Respondo-te
O pouco
Que ainda sei:
Que sinto
Pungente dor
Esparsa
Sobre meu corpo
Como sentido
Penhor
De um rapto
Imprevisto
Que nunca há-de
Ter fim.
SE ME PERGUNTARES,
Depois,
Se sinto
A tua falta,
Respondo-te
Logo que sim,
Que tenho sempre
Saudades
Mesmo quando
Eu te tenho
Aqui bem junto
De mim.
“ - PORQUE SOU EU
A mulher
Que te merece
Atenção?”.
AH, ISSO EU SEI.
Foi o destino,
A salvação,
Um encanto
Repentino...
..............
E tudo o mais
Eu não sei
Quando te beijo
Na alma.
“- O QUE SABES
TU DE MIM,
Neste teu
Desejo ardente?”
POUCO OU NADA
Sei de ti
E sabendo
O que não sei
Não te amaria
Às cegas,
Assim tão
Intensamente...
AMAR-TE
É como beber
Tempestades,
É dor que
Não se sabe
Onde está,
É a alma
Sempre quente,
É mistério
Revelado,
É encanto
Permanente,
O reverso
Do saber,
Luz intensa
Que me cega
E também
Fascinação,
Tremor
Que nunca acaba,
Lado oculto
Da razão.
“- PRA QUE ME QUERES,
Então, meu amor?”
EU QUERO-TE
Para te querer,
Simples vontade
De ti
Como fim
Do meu viver,
Sentir saudades
Do que estou
Sempre a perder,
Olhar-te nos olhos
E ver neles
O teu mundo
E o mundo
Dentro deles,
O brilho
Embaciado
De um olhar
Onde um dia
Me revi...
...........
E se acaso
Eu souber
Por que razão
Te amei
Chorarei
Até ao fim
Porque então
Descobrirei
Que por isso
Te perdi.

“Folhas Caídas”. Detalhe.
Adorável! Amei! Extremamente sublime é tudo que sei dizer agora!
COMPLIMENTI ANCORA CARO JOAO! BELLISSIMA LA COMPOSIZIONE PIENA DI COLORI CHE REGALANO OTTIMISMO . DOLCE LA POESIA ! ABBRACCIO E BUONA DOMENICA!!! LUIGI E CLARA – CASCAIS
Transcrevo, com o meu obrigado, o comentário do meu Amigo e conterrâneo Tó Zé Dias de Almeida: “Assenta que nem uma luva, a um poeta filósofo, cultivar uma cartesiana dúvida metódica… Mas que essa dúvida seja questionada sem cessar, perguntando-se… Perguntando a quem possa, em diálogo poético intimista, ousar uma resposta, também ela inteligente e importante e… quem sabe (?) talvez (eis a permanência da metódica dúvida…) finalmente esclarecedora. Quem sabe? O poeta vai sofrendo, chorando, mas não cultiva o desespero humanista torguiano… Pelo contrário! Garrettianas “folhas caídas” pintam a dúvida e, afinal, contribuem para um hipotético e sadio “happy end”… Quem é que poderá saber? Quem? Um abraço, João”.
Obrigado, Tó Zé, pelo teu interessante comentário. Da filosofia, a dúvida metódica, aqui poeticamente recorrente, do poeta, a dor, que motiva a dúvida sem exequível resposta (acho eu), e, depois, a alegria do colorido tecido pictórico. Uma trilogia rica e artisticamente inspiradora. “Não sei”: o amor é insondável, misterioso, inexplicável, não se conhece com as armas da razão, embora permita aproximações com a plasticidade da arte, sobretudo da poesia (e do romance). É verdade, não transparece desespero, porque há adesão voluntariosa à conversão poética da dor, levitação – uma dialéctica virtuosa entre privação sofrida e levitação desejada (de que falava Italo Calvino nas “Lezioni Americane”). Uma levitação que é ajudada pelas cores do folhame, ainda que caído neste chão da fantasia cromática. Happy end? Sim, pelo menos no voo poético para a linha do horizonte, onde o ar é mais puro… e no repouso desejado sobre um arco-íris sempre suspenso sobre o vale da vida. As perguntas são recorrentes e plasticamente metódicas, pois são, mas não esperam resposta… sequer poética ou plástica. Quem me dera! Por isso, o perguntar é um sem-fim à procura das respostas que nunca chegarão, vindas desse vale do silêncio em que habitam as almas capturadas pelo insustentável peso do quotidiano ou pela rigidez da aparência moral. Mas vai chegando de outras partes da vida, como esta que, de algum modo, me deste e pela qual te fico grato.Um abraço amigo, Tó Zé.