METAMORFOSE
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “A Ponte”. Original de minha autoria para este poema. Julho de 2021.

“A Ponte”. Jas. 07-2021.
POEMA – “METAMORFOSE”
CAMINHAS Suavemente, Tão irreal, Sobre todas As cores Que te dei. És planta De Jardim Com perfume Que eu sempre Procurei... TENS FLORES Brancas No corpo, Aquelas de que Cuidei, Alimento De meus olhos E aroma Dos poemas Que para ti Cantarei. CAMELLIA É o teu nome. Encontrei-te, Desta vez, Em profunda Solidão, Alvura Tão luminosa Que quase Te desejei Na palma Da minha mão. QUIS TRAZER-TE Para dentro Do poema, Disseste Logo que sim, O encanto De um abrigo Que é cuidado Por mim. FALEI CONTIGO, Dei-te palavras, Apontei-te O caminho Pra vencer A solidão Pois, tu, Divina brancura, Não sofrerias A dor Se viesses ao Abrigo E me desses A tua mão... CAMINHÁMOS Juntos Numa ponte Prà outra margem Da vida Com passos De liberdade Que nunca Pra nós seriam Passos de Despedida, De tristeza Ou de saudade. VEJO EM TI Uma mulher Deslumbrante, Recrio-te Com afeição, Pinto-te Em movimento, Quero-te livre A voar Ao sabor Da inspiração, É azul o teu Caminho, Levo-te eu Pela mão. ESSA PONTE De papel Que parece um Arco-íris Vai levar-te Ao Jardim Onde a cor É alimento, É como favo De mel, De meus olhos O sustento Quando pinto O teu rosto Com palavras... .......... A pincel. COMO VÊS, A solidão De uma flor Pode ser libertação Se a pintarmos Com palavras E lhe dermos Muita cor Com a força da Paixão.
Transcrevo, sensibilizado, o comentário do meu Amigo e conterrâneo Tó Zé Dias de Almeida: “Aqui de Vila do Conde, onde estamos durante Julho, terra de grandessíssimos poetas, uns aqui nascidos, Régio, por exemplo, outros que vinham e ficaram (Antero), outro que aqui casou e vilacondense se tornou, o enorme Ruy Belo…
Mas agora, antes de mais nada, diria que gostei do teu poema de hoje. Com título adequado e chamativo as pontes são fundamentais para margens outras que se percepcionam no início do percurso para se consubstanciarem no fim em fabulosas realidades. Com Camellia caminhaste após a teres carinhosamente metido no teu poema… As inspiradas liberdades de que tu, ó poeta, te armas seja para atravessar uma ponte, seja para seduzir o coração de… uma flor que se metamorfoseia numa mulher deslumbrante. Magia absoluta que é dom de pintores e poetas… Cores e palavras… Palavras e cores para a libertação, cores e palavras que o poeta usa “com a força da / Paixão”. Bonito. Belo registo de pontes que se abrem para as margens das nossas emoções e dos nossos sentimentos”.
Gosto deste teu modo de te adentrares no poema… por dentro (passe a redundância). Aqui do nosso vale, grato, te respondo. A ponte ajudou-me a elevar a Camellia do chão, pondo-a em movimento para melhor chegar ao poema, que funciona sempre em “ballon”, como se diz em dança, resistindo à força da gravidade, nos dois sentidos, o de peso e o de importância. Lá de cima vê-se tudo melhor, não se fica prisioneiro do pequeno pormenor sem importância. O clique para este poema deu-se quando encontrei uma camélia branca em pureza absoluta no caule de uma Camellia. Sozinha. Belíssima. E veio-me à mente a ideia de solidão aliada à ideia de beleza. E essa outra ideia de que o artista e amante é um ser solitário. Juntou-se tudo e deu este trabalho sinestésico. E é verdade que a ideia de ponte capta muito daquilo que é essencial na existência. Estamos sempre a atravessá-las, a passar para as outras margens. Por isso é tão importante nunca perder as raízes para não nos perdermos numa qualquer margem da imensa ponte que é a nossa vida. Bom, mas esta margem para onde reencaminhei, como tinha de ser, a Camellia é o Jardim Encantado onde tem (temos) raízes. E assim me vou encontrando com ela, num eterno retorno, aquele que a natureza nos dá. Ela, de resto, vive numa ponte, a que está entre o inverno e a primavera. Foi lá que a encontrei. Num tempo que também é um espaço, a ponte. Um lugar de trânsito. Obrigado pelas tuas palavras. São sempre belos incentivos, os teus comentários. Um grande abraço e que tenhas, tu e a Guida, umas excelentes férias vilacondenses.