PAS DE DEUX
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Penché”.
Original de minha autoria.
Julho de 2021.

“Penché”. Jas. 07-2021.
POEMA – “PAS DE DEUX”
SOU COREÓGRAFO
Da minha alma,
Desenho-me
No espaço,
Embalado
Pela suave
Melodia do teu
Silêncio.
IMAGINO-ME,
Às vezes,
Num "Pas de Deux”
Contigo
Num palco
Em noite
De luar
Ali, na praia
Da meia-lua,
A dançar
O murmúrio
Desse mar
Com que te
Pintas
E ouves
Dentro de ti.
DANÇAMOS
Com palavras,
Enleados
Pelos fios
Dos poemas
Com que
Teimosamente
Ilumino
Os caminhos
Por onde nunca
Ousarás passar.
O SILÊNCIO
É a tua
Sinfonia,
O teu canto
De sereia,
A melodia
Que ressoa
Nesse mar
Murmurejante
De linóleo
Onde nos desenhamos
Em suave
Bailado,
Numa despedida
Que nunca
Terá fim.
GOSTO DESTA DANÇA,
Contraponto
Dos sinais
Invisíveis
Com que pontuas
A tua assinalada
Ausência,
E imagino-te
Num bailado
A solo
Com o som
Da minha poesia
Na praia
Da meia-lua,
Numa noite
De luar
E perfume
A maresia.
CANTO-TE, SIM,
Mas neste meu
Canto
Eu conto-me
Como espelho
Onde podes
Rever
O passado
Desse futuro
Que nunca
Existirá.
AGORA, SOZINHO
No linóleo,
Acendo um sol
Com as minhas mãos
E procuro
O que nunca
Encontrarei...
..........
A não ser
Sombras
De mim próprio
Gravadas
Na areia branca
Da baixa-mar.
ESTE,
O que te celebra
Em arte,
Já não sou eu,
Mas o coreógrafo
Da minha
Melancolia
Inspiração!
Parabéns ao Pintor
Abraço ao Poeta!
Transcrevo, sensibilizado, o comentário do meu Amigo e conterrâneo Tó Zé Dias de Almeida: “Coreógrafo da sua melancolia, a outrem canta, mas principalmente conta-se como espelho. Uma perspectiva especular assim se manifesta num bailado a solo!
O leitor também gosta desta dança porque ambos dançamos com palavras e ambos nos sentimos enleados pelos fios do poema ou, generalizando, ambos nos sentimos enleados pelos fios dos POEMAS…
Belíssimo cenário para este enleio, indiscutivelmente a praia o assume e… O mar o resume. Perfeita harmonia. Perfeita coreografia. Perfeitíssima digo eu e o realce de “Pas de Deux” reforça-se no doce murmúrio do mar. Também por isso o silêncio pode consubstanciar uma apropriada sinfonia. Assim, a estrofe final é o magnífico e nostálgico remate /resultado de um desencontro melancólico e quase quase fatal. Isto digo eu, daqui, à beira mar plantado nas bordas da agradável e poética Vila do Conde.
Um abraço amigo”.
Um poema em prosa… por dentro do poema. Gosto. É como ver confirmada esta poética “especulação” sobre a melancolia coreografada, em “pas de deux” ou a solo. A cenografia alude àquela que eu chamo a praia da meia-lua e que teimo em identificar com a do quadro da Paula Rego, “O Baile”. Gosto da dança em linóleo que evoque e invoque o espelho líquido do mar em serena ondulação e suave murmurejar. Torna o bailado mais íntimo e sensual. Esta praia está aqui a meu lado, convocando-me em permanência a visitá-la. É o contraponto da montanha, na música que anima os meus poemas. Como se o murmurejar do mar nesse linóleo fosse o som de um silêncio que para mim soa como uma sinfonia. É aqui que o bailado se inscreve, nesta sinfonia. E neste palco. E no mar. Obrigado por esta tua fina viagem por dentro do poema e um abraço amigo, aqui da praia da meia-lua que quase posso abraçar com o olhar.