FLOR DE PAPEL
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Fleur de Papier en Vol à la recherche du Poème perdu dans un Jour d'Hiver"”. Original de minha autoria. 25 de Julho de 2021.

“Fleur de Papier en Vol à la recherche du Poème perdu dans un Jour d’Hiver”. Jas. 07-2021.
POEMA – “FLOR DE PAPEL”
NUM DIA DE INVERNO Uma flor de papel Voou Para longe, Levada pelo vento, Rajadas fortes Quebraram Os subtis Filamentos Que a ligavam À raiz de onde Nascera... ........... Seu alento. CONTINUA A VOAR, A flor de papel, Ao sabor do vento, Pousando Aqui e ali E logo voando Para outros Destinos, Num perpétuo Movimento. PERDEU AS CORES Luminosas Que exibia E a fonte D’inspiração (Sua seiva De cada dia), Borboleta Já sem pólen Para nova Gestação No jardim Da fantasia. MAS NUM DIA Quente De Verão (Eu bem sabia) Encontrei-a, Por acaso, Aninhada Num arbusto, À espera que O vento A levasse Prà ilha Da utopia. PEGUEI-A Na minha mão E levei-a Ao Jardim Do meu poeta Pintor, Nosso chão E recanto Inspirador. DEU-LHE COR, O meu poeta, Alisou suas Rugas De papel, Mostrou-lhe O horizonte Lá em cima Na Montanha Nesse dia de Verão E logo a lançou Ao vento, Ao encontro De raiz Que nutrisse Com a seiva Uma nova Floração...
Transcrevo, sensibilizado, o comentário do meu Amigo e conterrâneo Tó Zé Dias de Almeida: “O poema dominical do dia de São Tiago começa “Num Dia de Inverno” e curioso é que, por estas bandas vilacondenses, este Julho é outoniço. No terraço pus-me a observar as gaivotas em seus voos planados e bem organizados.
Mas a flor de papel do poema não a vi… O vento sopra forte, é vento norte… Com seu vertiginoso alento, certamente a folha continuará a voar e, como reza o poeta, “num perpétuo movimento”. Mas desilusão suprema! As luminosas cores, até essas, a flor de papel as perdeu. Mas Julho quente chegará. Irei por aí, pelos arbustos que ladeiam o areal e pode ser que também a encontre. Está sossegado, poeta, que não a envio para a ilha da utopia mas, em correio azul (é colorido…) com selo e tudo mandar-ta-ei para o teu Jardim Encantado, meu caro poeta/pintor que deste brilho a este cinzento e enevoado domingo de Vila do Conde donde segue um grande abraço.”
Obrigado, Tó Zé, pelo teu belo comentário. cheio de esperança para o poeta-pintor. Lançou-a ao vento, lançou, a flor de papel, e quem sabe se não a encontrarás. Pode acontecer a quem, como tu, frequenta o território e a comunidade da arte. Sei, isso sei, que não está na ilha da utopia, que visito regularmente. E se me chegar por correio azul, como deverá ser, pois azul é o meio e a via (e até pode, em certos casos, ser a mensagem), o destino será o Jardim Encantado para um banho de fantasia ou talvez uma nova floração ali mesmo. Acho que um dos temas a debater para se tomar decisões será o da arte e a liberdade. A fantasia não pode conhecer amarras nem comodidades. Afinal não chove sempre na alta fantasia? E não há guarda-chuvas que a parem, a chuva. É deixar chover sempre. Mesmo para uma flor de papel (é papel especial este). Só assim haverá floração. De certo, convocarei um plenário de flores para um debate sobre a arte e a criação. Não sei se ela voa com as gaivotas a norte ou mais a sul, sobre o mar, mas é provável que sim. Mas tudo depende da brisa marítima. O dia de hoje é, sim, estranho e instável. Gostaria de saber por onde anda esta “Fleur de Papier”, de saber se ela ainda está “en Vol à la recherche du Poème perdu dans en Jour d’Hiver”. Não sei. O que sei é que há uns passarinhos que a acompanham no voo. Não sei se um deles não será o do Vinicius de Moraes, amigo dos poetas (e meu amigo). O malandro do Vinicius um dia apaixonou-se e quando voou para o parapeito da sua janela, ele disse-lhe “some-te daqui”, sou feliz. A vida, vista através da poesia, é complexa e delicada, não é Tó Zé? (Nota: tinha trocado, involuntariamente, a ordem das palavras do título da pintura e já o corrigi). Um grande abraço.