DESTINO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Voar no Jardim Encantado”. Original de minha autoria. Outubro de 2021.

“Voar no Jardim Encantado”. Jas. 2021
POEMA – “DESTINO”
PINTO E CANTO O meu destino, Sonhos velados, A minha vida, Perdi a chave Da tua porta E só me resta A despedida. POR ISSO CANTO Com as aves, Voo mais longe E com mais cor Porque no céu Há mais azul E nos meus sonhos Há menos dor. HÁ UM SEGREDO Não revelado, Dizê-lo Não deveria Porque seria Grave pecado E certamente Mentiria. E NÃO O DISSE, Mas eu pequei Com murmúrio Apaixonado Em poemas Tão inocentes Como estar só A teu lado. POR ISSO VOO Sempre mais alto, Trepo nas cores Pra lá chegar, O céu azul Dá-me alento Pra meus segredos Eu dissipar. LEVO PALAVRAS Comigo, Procuro inspiração, Levo cor, O meu abrigo, Levo musas E tudo o mais E quando parto Lá para cima É sempre festa Nesse meu cais. LEVO-TE A TI E deste jeito Voo sempre Sobre o teu mar Para que sinta Lá bem no alto Ar rarefeito E assim te possa Abraçar. EU CANTO E pinto Por tudo isto, Pra resgatar O meu pecado De exaltar Esse teu rosto, Iluminar Em aguarela O enleio Do meu olhar, Por te ver Na nossa rua Debruçado Na janela Com vontade De te pintar. POR ISSO CANTO, Por isso pinto, Por isso voo Lá para o alto Em liberdade, Eu lá não vivo Em sobressalto Porque te sinto Como verdade. MAS VEM COMIGO, Eu dou-te asas, Prò infinito Do céu azul, Voamos juntos Ao mesmo tempo E o nosso rumo Será o Sul. VÁ, VEM COMIGO, Voa mais alto, Ah, meu amor, Se tu vieres Eu já não sofro E ganho vida, Vai-se embora A minha dor E já não sabe A despedida.
Sr. Prof. Como é habitual o que escreve é lindo! Li mais que vez para me deliciar. Quanto á pintura está magnífica com muita cor forte a completar o Poema. Obrigada e óptimo Domingo.
Transcrevo o comentário do meu Amigo e conterrâneo Tó Zé Dias de Almeida, que agradeço: “Evidentíssimo que o destino do poeta e porventura o teu é pintar e cantar. E se cantas como as aves, é belo o teu canto e o segredo até pode ser o de um rouxinol que, voando para o jardim encantado, sem aspas, lá encontrará um pintor que pinta melhor que o pintassilgo e em liberdade total voa mais alto que o poeta. Voará? Não sei. Nesse maravilhoso “Jardim Encantado” o pintor/poeta move-se sem qualquer constrangimento de palavras ou de cores e por isso aí ganha vida, esquece as mágoas e, assim, “Voar no Jardim Encantado” é um prazer para ti, poeta, e para mim, leitor devotado e atento…”
Sim, o rouxinol e o pintassilgo, o poeta e o pintor. Eram estas as aves que tinha em mente. Nem poderiam ser outras. O canto fascinante do rouxinol e as cores belíssimas do pintassilgo. Há ninhos no Jardim Encantado. E o poeta habita o mesmo espaço. Muitas vezes-se sente-se pássaro. E voa como eles, o rouxinol e o pintassilgo. E canta. E aninha-se, como um passarinho. Às vezes brinca com os donos dos ninhos, mas quando eles querem mesmo chegar aos ninhos afasta-se e fica a observá-los de longe, sempre com vontade de os cantar e de os pintar. Os ninhos ficam no telheiro, ali ao lado do jasmim. É um jardim com voo orgânico e com voo espiritual. Uma espécie de lar, de domus. Há lugares de repouso e inspiração, ali, por exemplo, por baixo de um loureiro frondoso. Sobretudo quando o calor aperta. De certo modo, este Jardim é o meu oráculo. Obrigado, To Zé, por este delicioso comentário. Um abraço amigo.