EXPOSIÇÃO DE JOÃO DE ALMEIDA SANTOS
Centro Cultural de Cascais
23 de Julho - 25 de Setembro
Inauguração: 23.07, 18:00

CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO – CAPA
SINESTESIA
“LUZ NA MONTANHA” é o título desta minha Exposição. É o título de um quadro que a integra, mas é também uma alusão ao ambiente natural que me inspira na pintura e na poesia.
Em exposição estarão as 37 obras aqui reproduzidas e que foram criadas em diálogo com a poesia. Elas são, pois, parte do processo sinestésico que adoptei na experiência estética.
Com riscos e cores, procuro dar forma plástica ao discurso poético e à matéria de que se alimenta: esse fluxo torrencial de pulsões existenciais que interpelam, estimulam e desafiam o poeta. A pintura continua o discurso poético por outros meios que, depois, seguem a sua própria gramática. Trata-se de paisagens interiores, pintadas, num primeiro andamento, com palavras em registo melódico, mas, depois, recriadas e figuradas em expressão cromática quente e intensa.
Uma dialéctica que torna a experiência estética mais rica e complexa, mas ao mesmo tempo mais leve e sedutora. Fragmentos cromáticos de um originário discurso poético que o projectam para fora de si e o oferecem ao olhar no interior de uma nova gramática. Como um magnetismo que atrai a palavra e a converte em cor, propondo-a, já transfigurada, ao olhar de quem frui.
O processo sinestésico permite, depois, um novo regresso ao poema, já com a alma cheia de cor, banhando e iluminando os versos e as estrofes com o brilho cromático das pinturas. E assim se sobe a um novo patamar a partir do qual se inunda de sentido a pintura.
Na verdade, nem a pintura ilustra o poema nem o poema descreve a pintura, mas ambos dão origem a um diálogo virtuoso que se eleva dialecticamente, através da sinestesia, em planos superiores mais complexos e exigentes. A densidade do poema é convertida em leveza na pintura e a leveza da pintura é densificada pela semântica poética.
É isto que eu pretendo, independentemente da interpelação e do chamamento a que ambas as artes estão necessariamente votadas. Se ambas respondem, na sua génese, a um originário impulso dionisíaco, para o dizer com Nietzsche, elas também têm como vocação a interpelação, procurando seduzir e chamar à experiência estética os que se cruzam com elas.
No essencial, foram estas as razões que me moveram nas 37 propostas que exponho.
João de Almeida Santos