RIO DE PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Cascata”. Original de minha autoria. Novembro de 2022.

“Cascata”. JAS. 11-2022
POEMA – “RIO DE PALAVRAS”
NO MEU JARDIM De cristal Fluía, Torrencial, Entre Rosas (Em “arabesque”), Magnólias, Camélias E um Arbusto (Que tu me deste), Um Rio De Palavras Para uma foz Onde nunca haveria De chegar (Nem sequer Com um de nós). METÁFORAS Líquidas, Revoltas, Corriam Vertiginosas Em seu leito Até embaterem Em feixes de riscos, Ilhas de cores, Traços dispersos, Fugas, Amores (Ditos em versos, A meu jeito). E TRANSBORDARAM Do leito Para as margens, Espraiando-se Em liberdade E sem destino, Atraídas Pelo perfume Difuso E subtil De novas cores Que se desprendiam, Intensas, Do pincel de seda Com que esboçavas Um novo leito Por onde o rio Correr, Suavemente, Como murmúrio Líquido De palavras Inventadas Num qualquer Alvorecer... MAS O PERFUME Foi levado Pelo vento Que te soprava Forte Na alma Para incertas Paragens Onde cantar Eu não podia. AH, COMO É FLUIDA A vida E imprevista A despedida De um rio Que sai de nós, A vagar, À procura De foz Onde possa E onde queira Suavemente Chegar. MAS NO MEU JARDIM De cristal Flui ainda, Intenso, Esse rio, Com seu caudal De palavras, À procura De leito macio Por onde possa Livremente Navegar E de suaves Margens Inundadas De cores vivas, Luminosas, Para onde Transbordar. O MEU RIO De palavras Corre de novo, Corre sim, Pra foz incerta, Sem parar, Pois errante Na neblina Da vida É teu próprio Caminhar.