VENTO DO DESERTO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “S/Título”. Original de minha autoria. Novembro de 2022.

“S/Título”. Jas. 11-2022
POEMA – “VENTO DO DESERTO”
IRROMPESTE No meu poema Como Rosto Esculpido Em pedra lisa, Num dia De encruzilhada Entre o que foi E o que será. TEU ROSTO Marmóreo Resiste, Impenitente, Ao vendaval De palavras Que o vento, Insistente, Vai soprando Sobre ti. SCIROCCO, Vento espesso, Areia Quente Vinda de longe, De um deserto De palavras Que não tem Fim... MAS É MACIO O turbante Que te cobre Suavemente Como tecido De mensagem Cifrada De quem te chama E te sente Como deusa Ou como fada. E TU ESCULPES Com tuas mãos Essa mensagem Que pousou Levemente Sobre ti, Pó do deserto, Palavras Sem oásis À vista, Aridez, Areia fina Vinda do céu... SAIU UM GÉNIO Da lamparina E o vento Trouxe consigo A Medusa Para te petrificar? É, SIM, AREIA FINA A que te marca O perfil Neste longo Poema Que, eu, Do lado de cá De onde o vento Sopra, Vou construindo Dentro de mim, Com estas letras (Os meus riscos De areia), Iluminado Pelos mil espelhos Do caleidoscópio Onde observo O teu luminoso, E lento Entardecer. MAS OS TEUS São riscos A três dimensões E assim te afago De longe Com estas mãos De poeta triste Em busca De um rosto Que dê forma Ao desejo. TALVEZ SEJAS Pedra esculpida, Medusa De ti própria, Sem saber Que quanto mais Te desenhares Com areia fina Do deserto Mais poderás Subir Ao Olimpo E levitar Sobre estas mãos Que, de longe, Vão acariciando Com palavras Esse teu rosto De pedra, Em busca De redenção.