TEU CORPO NUMA CATEDRAL DE PALAVRAS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Luz”. Inspirado em Man Ray: "Electricité: Salle de Bains", 1931. Original de minha autoria. Março de 2023.

“Luz”. JAS. 03-2023
POEMA – “TEU CORPO NUMA CATEDRAL DE PALAVRAS”
VEJO-TE Desenhada A sépia, Nua, Numa catedral De palavras E ecoa Sobre mim, Entre altas Colunas Argênteas, O silêncio De uma poética Do pleno E do vazio Que me interpela Como metáfora. TEU ROSTO Esculpido Por sons Inaudíveis É a imagem Perfeita Para o oráculo De Athena, A deusa Que, em ti, Inspira A melancolia De meus poéticos Murmúrios. UMA DESCARGA Intensa De riscos E de luz Caiu sobre ti (Lembras-te do Man Ray?), Estampando-te Numa folha Nua, Onde expôs Esse teu corpo Aos ecos Do silêncio Para que o ouça Com a alma. SÃO RAIOS DE LUZ, São palavras Ou serão Os fantasmas De Kafka Que acariciam Com sofreguidão Esse corpo Que já saiu De ti E se perde, Levado Por eles, Levitando Sobre um caminho Que trilha, Sem saber, Ao sabor Do vento E de incerto Destino. E EU A VÊ-LO Levitar Para lugar Nenhum E a segui-lo (Não sei porquê) Com este rasto De palavras, Ponte Sobre um imenso Vazio Que une O desejo E o impossível. NÃO OUVES A minha Voz Interior Que responde Aos ecos Do teu silêncio E te chama? Não vês Que te procuro Sempre, Derramando Riscos E palavras Sobre um destino A que nunca Chegaremos? NÃO! BEM SEI Que não vês, Bem sei Que não ouves, Talvez porque Os fantasmas Bebem Os meus murmúrios Escritos Ao longo Do trajecto. Se visses E ouvisses Eu não estaria Aqui À procura Da sublime Redenção. Sem pecado.