“O teu nome…”

"O TEU NOME..."
Poema de João de Almeida Santos
para um Rosto (inédito) de Filipa Antunes
(Desenho a caneta pigment liner 0.1 e aguarela,
em 15 de Novembro de 2017).
Filipa_OteuNome19.11.2017

Rosto, de Filipa Antunes (2017)

PORQUE NÃO
ME NOMEIAS,
Meu amor?
Nome-ar...
Tão simples.
Quatro letras!
Devolver-me
Identidade,
Aquecida 
Nos teus lábios
Pelo ar quente
Que respiras...

VÊS, COMO LEIO
NO TEU SILÊNCIO,
Nas tuas pausas,
Contraponto
Da bela melodia
Que eu canto
Para ti
Em cada dia? 

MAS, ASSIM, 
PERCO-ME,
Não sei de mim,
Fico sem espelho 
Onde me ver 
A cores
E em perfil
De traço fino
Nos doces
Murmúrios
Que sufocas...
.............
E não desvelo
O incerto destino
Traçado 
Pelos deuses!

TORNO-ME SOMBRA
De mim mesmo
Quando 
Me interpelas
Sem nomear!

NÃO ME SINTO EU,
Sou outro,
Um pronome 
Indefinido
Ou interjeição,
Ideia vaga, 
Incerto perfil 
Que se dilui
Como aguarela
Em folha branca
Manejada
Por ti à procura
De uma forma
Que, afinal, 
Não tem nome...

PORQUE CATIVAS
O som 
De quatro letras
E não cantas 
A minha melodia
Com uma palavra 
Só?
A tua boca
Hesita
Quando ela 
Timidamente
Aflora 
E esboça
Um sorriso
À flor dos teus
Lábios?

O MEU NOME
Desata
A tua alma
E ameaça 
Levá-la consigo
A voar sobre
O mundo
De mãos dadas
No fio do horizonte?
São vertigens,
Meu amor?

AH!, SE ASSIM FOSSE
Diria 
O teu nome
Mais do que digo
Até adormecer
De cansaço
Só para te
Sonhar!

NÃO TE TENDO,
DIGO-TE
Em cada momento,
Desperto
Ou em sonho,
Para te ter
Nos meus lábios
Húmidos,
Beijando-te
Com todas as
Palavras
Que disserem
As cores 
Que guardas
No cofre
Escondido
Da tua alma...

MAS TU NÃO 
ME DIZES
Porque me desejas
Como parte de ti
Sem partilha?
Guardas 
O meu nome
No silêncio
Do teu peito,
Como se fosse
Pecado dizê-lo?
Sentes perigo?
Que o meu nome
Se torne lava
Ardente? 
Beijo verbal
Proibido
Pela gramática
Do amor
Logo ao primeiro
Sinal?
E foges
Para dentro 
De ti
Com o coração 
Aos pulos?

SIM, TAMBÉM EU 
NÃO TE DIGO
Como chamamento
No meu poema,
Onde os nomes 
Se dizem 
De outro modo,
Têm som 
E ritmo
Diferentes,
São notas 
De uma melodia
Sofrida 
E cifrada...
..................
Mas as tuas letras 
Estão lá, 
Todas, 
Uma a uma,
E a cor 
Dos teus cabelos
Em aguarela...
E o cetim 
Da tua pele
Macia 
Por onde deslizam 
Os meus olhos
À procura dos teus,
Negros e profundos...
............
E essas mãos
Perfumadas
Filhas da arte
Que te desenham
A alma
Com riscos
E cores
Que atiras 
Ao vento
Para que eu
Os agarre
E lhes dê 
Som,
Ritmo
E sentido
Num poema...
.............
Ao entardecer...

E, ASSIM,
CANTO
O teu ser,
Tudo
O que és 
E o que serás...
O que sabes 
E o que sentes...
O que vives 
E o que sonhas...
O que dizes
No que calas...
.... 
Tudo,
Meu amor!

DIZES, sim,
Com ironia 
Triste, 
Que também eu
Não te digo
Aqui,
Em arte,
Mesmo quando
Te canto mais
Do que ouves,
Te nomeio
Mais do que
Posso,
Te pressinto
Mais do que
Sentes...

MAS TU, NÃO!
Apenas te expões
Às minhas palavras,
À minha música
E silencias-me
Porque balbucias 
O meu nome
Só dentro
De ti
Para não ficares
Agarrada
A ele,
A um som 
Encantatório
Que corre, corre
Atrás de ti
Para se ouvir
Nos teus lábios...

COMO DAQUELA VEZ
Em que soou
Timidamente
Como sussurro, 
Murmúrio 
Imperceptível,
Em surdina,
Na fronteira do silêncio...

MAS BEM SEI
Que o teu mundo
Não é o dos nomes 
Ou das palavras, 
Sequer murmurejadas,
Mas o dos riscos, 
E das cores...
..........
Sei que aí
Me vais 
Interpelando,
Insistente,
Como rosto
Mutante, 
Essa tua forma 
De docemente
Me soletrar!

NOMEIAS-ME, SIM, 
Meu amor,
Mas à tua maneira!

 

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