PRIMAVERA, QUASE
João de Almeida Santos
POEMA.
Ilustração: Primavera, Quase.
Original de João de Almeida Santos.
Março de 2018.
Ilustração sonora de Milva,
em napolitano, sobre uma
Arietta de Salvatore di Giacomo:
Marzo. Reproposição.
Para a tradução, veja, aqui, Março.
Para ouvir Milva:
Marzo - Milva. Arietta di Salvatore di Giacomo
Primavera, Quase
"Até nos nossos sonhos neva, mas uma única vez na vida".
Orhan Pamuk, escritor turco. Prémio Nobel da Literatura.
PRIMAVERA, QUASE
SE ME PERGUNTASSES
PELA NEVE,
O que sempre te diria?
“- Tenho-a na minha
Alma,
Sinto-a, pura,
Em cada dia.”
DELA CONSERVO
O FRIO
E a brancura
Do seu manto,
Mas sinto-a quente
Por dentro,
Mesmo que sofra,
Em pranto.
ENTRA NEVE
NA PRIMAVERA
E dá húmus
Ao jardim,
Rega fundo
A tua alma
E ao sofrimento
Põe fim.
E QUANDO
O INVERNO
Termina
Saem cores
Da tua mão,
Voam riscos,
Nascem amores,
Tudo brota
Do teu chão...
EU PERMANEÇO
NA NEVE,
Corpo frio,
Alma quente.
Se te banhar
Como rio
Germinas
Como semente,
Explodem os teus riscos
Em girândolas
De cor.
É festa
Na tua terra,
Já não é tempo
De dor!
MAS SÓ DESÇO
DA MONTANHA
Como neve
Que t'inspira
Pois da arte
É alimento,
Frio branco
Que conserva
E à alma
Dá alento.
SÓ ASSIM
EU TE VISITO,
Perdoa
A minha falta.
No alto voam
Foguetes,
Mas dentro de mim
É ribalta,
A que quero
Para ti
Pois eu não quero
Mais nada.
Que Atena
Te inspire
Com sua varinha
De Fada!
É FESTA NA TUA
TERRA,
Crepitam foguetes
No ar,
Fosse eu
O teu mordomo
Não iriam
As girândolas
Na tua festa
Parar!
BRANCA NEVE,
FRIA E HÚMIDA,
Não vê
Foguetes no ar,
Mas banha
A tua alma,
Lentamente,
Sem parar.
E SE PERGUNTAS
P'LA NEVE
Eu ouço-te
Cá em cima,
Inspiro-me na
Montanha
E respondo-te
Em rima,
Devolvo-te
Inspiração
Que da arte
É a vida,
Num poema
Em oração
Que não é
De despedida,
Mas canto,
Em comoção,
Da palavra
Proibida.